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www.esab.edu.br Administração Financeira e Orçamentária II CURSO DE ADMINISTRAÇÃO Administração Financeira e Orçamentária II Vila Velha (ES) 2015 Escola Superior Aberta do Brasil Diretor Geral Nildo Ferreira Diretora Acadêmica Ignêz Martins Pimenta Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância Ignêz Martins Pimenta Coordenadora do Curso de Administração EAD Giuliana Bronzoni Liberato Coordenador do Curso de Pedagogia EAD Custodio Jovencio Coordenador do Curso de Sistemas de Informação EAD David Gomes Barboza Produção do Material Didático-Pedagógico Escola Superior Aberta do Brasil Design Educacional Bruno Franco Design Gráfico Bruno Franco Diagramação Gabriel Felipe Equipe Acadêmica da ESAB Coordenadores dos Cursos Docentes dos Cursos Copyright © Todos os direitos desta obra são da Escola Superior Aberta do Brasil. www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840 Coqueiral de Itaparica - Vila Velha, ES CEP 29102-040 Apresentação Caro estudante, Seja bem-vindo à disciplina Administração Financeira e Orçamentária II. Esta ca- deira apresenta conceitos fundamentais de finanças e do mercado de capitais. Tais conceitos embasam as decisões de pessoas, firmas e governos na definição de seus investimentos. Primeiro, apresenta-se um breve histórico da área. Em seguida, explana-se o con- ceito fundamental da relação entre risco e retorno de um ativo, para então entrar em temas como diversificação de carteiras, custo de capital, estrutura de capital e o modelo básico de apreçamento de ativos, o CAPM. Objetivo Introduzir conceitos fundamentais de finanças, que subsidiam a tomada de decisões financeiras e que são usados nos modelos de avaliação de investimentos. Habilidades e competências • Definir risco e compreender a relação existente entre risco e retorno de um ativo. • Calcular o risco e o retorno de carteiras de ativos. • Compreender como a diversificação de ativos minimiza o risco. • Compreender como a informação é incorporada aos preços dos ativos. • Estimar o custo de capital da firma. Entender o custo de capital como um custo de oportunidade. • Compreender o modelo básico de apreçamento de ativos: o beta do CAPM. • Entender as implicações de diferentes estruturas de capital e os custos e benefícios da alavancagem financeira. Ementa Histórias do Mercado de Capitais. Risco e Retornos. Carteira de Ativos. Diversificação de Carteiras. Eficiência de Mercado. Custo de Capital. Custo Médio Ponderado de Capital. Variabilidade dos Retornos. Beta. Alavancagem Financeira. Sumário 1. Um breve histórico do mercado de capitais .....................................................................7 2. Mercados emergentes e Brasil.......................................................................................11 3. Onde entra a Administração Financeira? ......................................................................15 4. O que é risco? ...............................................................................................................19 5. Uma revisão de estatística ............................................................................................22 6. Um conceito novo: regressão linear ...............................................................................26 7. Os componentes do risco ...............................................................................................31 8. Mini-caso resolvido .......................................................................................................36 9. A fronteira de média-variância ......................................................................................39 10. O CAPM .........................................................................................................................45 11. Calculando o beta do CAPM ..........................................................................................48 12. Mini-caso resolvido ......................................................................................................52 13. CAPM: Prós, contras e alternativas ................................................................................55 14. Eficiência de mercado ...................................................................................................61 15. Exuberância irracional ...................................................................................................67 16. O custo de capital ..........................................................................................................72 17. O custo de capital de terceiros .......................................................................................76 18. Fontes de capital de terceiros ........................................................................................79 19. Fontes de capital próprio ...............................................................................................85 20. Estimando o custo do capital próprio ............................................................................89 21. O Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) ................................................................93 22. O beta alavancado.........................................................................................................99 23. Mini-caso resolvido .....................................................................................................102 24. O início das teorias de estrutura de capital ..................................................................106 25. As modernas teorias de estrutura de capital ...............................................................112 26. Endividamento e risco .................................................................................................117 27. Remunerando os sócios: política de dividendos ..........................................................121 28. Calculando o retorno para o acionista .........................................................................126 29. Definindo a política de dividendos ..............................................................................131 30. Governança Corporativa e Finanças .............................................................................135 Glossário ............................................................................................................................141 Referências ........................................................................................................................144 www.esab.edu.br 7 1 Um breve histórico do mercado de capitais Objetivo Apresentar as origens do mercado de capitais e contextualizar o ambiente atual. Os Estados Unidos da América (EUA) continuam tendo os maiores e mais importantes mercados de ações e de dívida do mundo. Isso, mesmo depois de ser o epicentro da crise do mercado imobiliário de 2008, que contaminou todo o mercado financeiro e levou o mundo a uma recessão generalizada, não vista desde a crise de 1929. A figura a seguir mostra que os EUA representavam 48% do mercado de ações mundial ao fim de 2013. Por essa relevância, iniciamos a discussão por esse país, para em seguida citar alguns outros importantes mercados, e finalizar no Brasil. Figura 1: Tamanhos relativos dos mercados de ações ao redor do mundo no fim de 2013 Fonte: Credit Suisse Global Investments Returns Yearbook 2014 www.esab.edu.br 8 Figura 2: Retornos reais acumulados nos EUA entre 1900 e 2013 Fonte: Credit Suisse Global Investments Returns Yearbook 2014 Traduzindo, o gráfico mostra o que aconteceria se você tivesse investido US$1 em Jan/1900. Se o investimento tivesse sido em ações (equities), você teria US$1.248 em Out/2014, ou seja, um ganho real (já descontada a inflação) de 124.800%, ou 6,5% ao ano. Já se você tivesse investido em títulos de curto prazo do Tesouro Americano (bills), você teria somente US$2,70, ou seja, teria se protegido da inflação e ganho muito pouco (0,9% a.a.).Já o ganho em títulos de dívida de firmas americanas (bonds) é um meio-termo: você teria US$8,20 (já descontando a inflação), ou 1,9% a.a. www.esab.edu.br 9 Saiba mais Este exemplo demonstra muito bem o poder dos juros compostos. Você já se perguntou por que os juros são compostos, e não simples? Imagine que você invista R$100 na poupança. Por simplicidade, admita que a poupança renda 1% a.m. Ao fim do primeiro mês você teria R$101, certo? Se os juros fossem simples, ao fim do segundo mês você teria R$102 (mais 1% sobre os R$100 originais). Porém, você faz o seguinte cálculo: “eu posso sacar os R$101 e reinvestir em poupança, ou deixar os R$100 originais rendendo os juros simples”. Como você é um investidor, e deseja maximizar seu ganho, você saca os R$101 e reinveste. Agora, ao fim do segundo mês, você tem R$102,10 ao invés de R$102. Pode não parecer muita diferença, mas em 10 anos você teria R$220 no regime de juros simples e R$330,04 no regime de juros compostos. Dessa forma, os juros compostos somente simplificam a vida dos investidores. Se por alguma razão, todos os juros fossem simples, todos os investidores simplesmente sacariam e reinvestiriam seu dinheiro constantemente. O Banco Central disponibiliza ferramentas que permitem o cálculo, corrigindo por índices de juros ou de inflação, ou mesmo por taxas informadas por você. Experimente acessar http://www.bcb.gov. br/?CALCULOSINDCOT O gráfico também demonstra um fato que será explorado aqui: a volatilidade dos retornos. Note como mesmo os chamados ativos de renda fixa apresentam alguma variabilidade em seus ganhos! Isso decorre da incerteza inerente aos mercados de capitais. Porém, mesmo enfrentando grandes crises como o Crash da Bolsa de 1929, o Choque do Petróleo dos anos 1970, o estouro da Bolha Ponto-Com de 2000, e o recente Crash do Mercado Imobiliário de 2008, o mercado de renda variável americano apresenta um ganho real invejável no longo prazo. Porém, será que os EUA são um caso à parte? http://www.bcb.gov.br/?CALCULOSINDCOT http://www.bcb.gov.br/?CALCULOSINDCOT www.esab.edu.br 10 Um resumo dos mercados de capitais do mundo desenvolvido No restante do mundo desenvolvido, o comportamento é semelhante. Observamos na figura a seguir os ganhos anualizados, em termos reais, de alguns países selecionados. Note como os ganhos no mercado de ações, em azul, superam o crescimento do PIB real per capita, em vermelho, na grande maioria dos países. Países como África do Sul e Austrália mostram ganhos anualizados ainda maiores do que os dos EUA! Figura 3: Ganhos anualizados dos mercados de ações vs. crescimento do PIB de diversas economias desenvolvidas entre 1900 e 2013 Fonte: Credit Suisse Global Investments Returns Yearbook 2014 www.esab.edu.br 11 2 Mercados emergentes e Brasil Objetivo Apresentar uma visão geral dos mercados de capitais de países emergentes, em especial do Brasil Até o momento, praticamente só discutimos mercados desenvolvidos. Mas como tem sido a evolução dos mercados em desenvolvimento? No gráfico a seguir, cada país é classificado como desenvolvido ou emergente naquele ano. Por exemplo, o Japão passou a ser considerado desenvolvido em 1967. É fácil ver que houve um grande distanciamento entre os países desenvolvidos (linha azul) e os emergentes (linha vermelha) principalmente no período da Segunda Guerra Mundial. Porém, essa diferença vem diminuindo. Figura 4: Retornos de mercados desenvolvidos e emergentes, 1900 a 2013 Fonte: Credit Suisse Global Investments Returns Yearbook 2014 Apesar da posição dominante da economia dos EUA, os mercados emergentes vêm aumentando sua representatividade. Até recentemente, a bola da vez eram os BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O acrônimo foi inventado pelo economista britânico Jim O’Neill em 2001, que segundo ele, tinham a perspectiva de desbancar o G7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo) como poderes econômicos. www.esab.edu.br 12 Mais recentemente, começou-se a falar no MINT (México, Indonésia, Nigéria, e Turquia). A mudança de foco deu-se após o relativo fracasso dos BRICS, em entregar suas “promessas”. Em especial, as economias brasileira e russa vêm enfrentando sérias dificuldades desde 2010, enquanto mesmo a China dá sinais de que está em processo de soft landing, ou seja, lentamente desaquecendo seu mercado. Mesmo com a economia abalada, em boa parte devido a escolhas equivocadas do governo federal, a partir de 2008, o Brasil continua sendo um importante mercado emergente. O mercado de capitais brasileiro Infelizmente, o período de análise brasileiro não é tão longo. Devido à falta de dados, só é possível retroagir até as décadas de 1970 ou 1960. O gráfico a seguir mostra o retorno acumulado real, ou seja, deflacionado pelo IGP-DI, entre janeiro de 1974 e outubro de 2014. É o equivalente a investir R$1 em janeiro de 1974 e deixá-lo ou aplicado no Índice Bovespa ou rendendo à taxa Selic, a taxa básica de juros brasileira. Figura 5: Retorno acumulado no mercado de capitais brasileiro www.esab.edu.br 13 O primeiro fato que se destaca é que, ao contrário das economias desenvolvidas, não há uma separação clara entre os rendimentos no mercado de ações e no de títulos de dívida. Claro, há períodos de descolamento, mas a cada crise, o rendimento da Bolsa cai e se aproxima do rendimento da Renda Fixa. Interessante notar que durante boa parte do período hiperinflacionário, ambos rendimentos estiveram abaixo da inflação, por isso o gráfico transita abaixo do um, no eixo vertical. A partir do Plano Real, em meados de 1994, a moeda se estabiliza, e ambos os mercados passam a mostrar ganhos reais (acima da inflação). Saiba mais Você se lembra do período hiperinflacionário brasileiro? Se você nasceu após meados dos anos 1980, provavelmente não. Uma série de choques e escolhas erradas durante as décadas de 1970 e 1980 levaram a um aumento inflacionário, que se agravou a partir de meados de 1980. Esse processo levou a índices recordes, como o IGP-DI de 81,32% de março de 1990. Isso mesmo, quase 100% de inflação em um mês! Nessa época, havia uma indexação geral da economia, muitas transações feitas em dólar americano, e discrepâncias inacreditáveis nos preços. Os supermercados substituíam as etiquetas dos produtos da noite para o dia, já que não havia código de barras. Esse processo só foi estancado pelo Plano Real, desenhando e iniciado no governo Itamar Franco, sob a batuta do então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e sua equipe de economistas vindos, em sua maioria, da PUC-RJ. O Plano incluiu uma renegociação da dívida externa, a arrumação e limpeza das contas públicas, retirando milhares de esqueletos contábeis dos armários, e um duro ajuste fiscal. Por que as crises seriam tão severas no Brasil, a ponto de “zerar” os ganhos da Bolsa em relação aos juros? Parte da resposta está na volatilidade (ou variabilidade) dos ganhos. Por ser um mercado emergente, a economia é mais arriscada, e portanto, os retornos variam mais. Assim, da mesma forma que a Bolsa brasileira pode disparar em relação à Bolsa americana, por exemplo, ela também pode afundar mais profunda e rapidamente que a Bolsa de um mercado desenvolvido. Outra parte da resposta está na taxa de juros, que é alta, mesmo quando www.esab.edu.br 14 comparada com outros países da América Latina ou emergentes, como os BRICS. Vários fatores entram na explicação dessa taxa de juros, como histórico de caloteiro (moratória da dívida dos anos 1980), histórico de confisco de investimentos (bloqueio da poupança nos anos 1990) e desajuste fiscal (governo gasta mais do que arrecada). Porém, as razões – e o grau de importância de cada uma delas – não são consenso, e são tema de debate de macroeconomistas brasileiros. O declínio mais recente deve-se, em boa parte, à desconfiança dos investidores quanto à política econômica do governo federal. Desde 2012 vem-se colocando em práticaa chamada “Nova Matriz Econômica”, tema de acalorados debates entre economistas brasileiros. De cunho intervencionista, a política implementada começou a dar sinais de fadiga já no final de 2013. Economistas das escolas ortodoxas alegam ser uma repetição da política econômica fracassada do governo militar, com a criação de empresas “campeãs” nacionais, pesados subsídios fiscais e via BNDES para setores escolhidos, controle da taxa de câmbio, juros artificialmente baixos, e uso das estatais e empresas de economia mista para implementar políticas de Estado, além de manobras contábeis para mascarar o não-atingimento de metas fiscais. Como veremos neste curso, essa desconfiança afeta diretamente os preços dos ativos, exatamente como mostra o gráfico da Figura 5. No caso, há uma maior incerteza quanto aos ganhos das empresas, ou seja, o mercado passa a exigir um retorno maior pelo risco percebido aumentado, o que diminui o preço dos papéis. Também há um outro efeito, que tem a ver com o estado geral da economia. Com um cenário recessivo para os próximos anos, o ganho esperado das empresas também diminui, o que por tabela leva a uma queda dos preços. Assim, o mercado brasileiro de ações está sofrendo um grande desconto, pela expectativa de ganhos menores e mais arriscados. Daí a importância da confiança na economia! Pense bem, você investiria num negócio, se tivesse expectativa de perda? Mas como quantificar essa expectativa? Como estimar se haverá ganho ou perda? Esses são alguns dos papéis da disciplina de Finanças. www.esab.edu.br 15 3 Onde entra a Administração Financeira? Objetivo Compreender o mix de produtos. Vimos um breve histórico do mercado financeiro ao redor do mundo. Porém, como que essa realidade se conecta com este curso? Veremos que os mercados de ações e de dívida somente existem pela necessidade de financiamento das firmas. Veremos que existem técnicas para quantificar os riscos e os retornos esperados, e por consequência, para colocar preço nos ativos. Também estudaremos métodos para escolher e estimar os custos das diversas fontes de financiamento, além de suas implicações para as firmas. Ao fim e ao cabo, a Administração Financeira visa a maximizar o lucro das empresas. Ela vem contribuir com dois objetivos chave do negócio: criar riqueza (ou agregar valor), e usar a riqueza (ou ativos) de modo que a firma atinja os seus objetivos econômicos da melhor forma possível. Grosso modo, a firma pode ser vista como na figura a seguir: Figura 6: Uma abstração da firma Os investidores aportam dinheiro (1), para que sejam feitos os investimentos em atividades produtivas (2). Essas atividades geram fluxos de caixa (3), que podem ter dois destinos: podem ser reinvestidos na própria firma (4), ou devolvidos aos investidores (5). O último passo www.esab.edu.br 16 nada mais é do que a remuneração do capital investido em (1). Como veremos neste curso, o retorno do investimento (1) é incerto. Essa incerteza faz com que os investidores exijam uma remuneração por esse risco de talvez não ter o ganho esperado, ou até mesmo perder o capital investido. Quanto maior esse risco, maior deve ser a remuneração (5). Também há a questão do valor do dinheiro no tempo, já que (5) pode se realizar somente anos após o aporte de (1). A remuneração pode ser feita de diversos modos, dependendo de como o capital foi investido. Se foi um empréstimo, essa remuneração são os juros pagos aos credores, como bancos e compradores de debêntures. Se foi uma integralização de capital (patrimônio líquido), a remuneração são os dividendos recebidos pelos sócios ou acionistas. Nada mais justo. Ou você emprestaria seu dinheiro ao vizinho, sem saber se irá recebê-lo de volta, sem cobrar juros? Dica Já falamos um pouco dos juros compostos. Porém, você já parou para pensar de onde vêm os juros? Quando há risco no investimento, talvez seja mais clara a existência de juros: o investidor simplesmente deseja remuneração pela probabilidade de ter um retorno menor que o esperado, até mesmo negativo. E quando não há risco? Existem investimentos considerados livres de risco, como os títulos de dívida do governo, que rendem juros. Vários desses instrumentos financeiros contam com garantias do Fundo Garantidor de Crédito (poupança, CDB, LCI, LCA), e podem ser considerados sem risco até o limite de cobertura. Os modelos microeconômicos mostram que a taxa de juros surge, naturalmente, a partir de um “fator de impaciência”. A intuição é bem simples: você prefere receber R$100 agora, ou daqui a um ano (com certeza)? Mesmo admitindo uma inflação de zero, é melhor ter R$100 disponíveis agora do que daqui a um ano, não é mesmo? Daí vem o conceito de valor do dinheiro no tempo, que é afetado pela taxa de juros, a encarnação financeira da impaciência. www.esab.edu.br 17 A Administração Financeira basicamente trata de gerenciar os fluxos (1), (2), (4), e (5). O fluxo (3) é gerado pela operação, embora possa e deva ter acompanhamento da área financeira também. No caso, cabe ao administrador financeiro: • Decidir quais investimentos serão feitos, ou seja, onde deve ser colocado o fluxo (2). A escolha deve levar em conta os objetivos da firma e a restrição dos recursos disponíveis em (1); • Decidir como a firma se financiará, ou seja, como ela decide captar dinheiro para seus investimentos (ou projetos), escolhendo entre as opções oferecidas por (1) e (4). No caso, deve-se levar em conta os custos e implicações de cada fonte de financiamento; • Decidir qual será a remuneração dos investidores (5). No caso de pagamento de juros não há muita margem para manobra, a não ser uma renegociação com credores ou até mesmo o calote (também chamado de default). Já o pagamento de dividendos depende muito da atividade da firma. Quando há muitas oportunidades de investimento, a tendência é que a firma pague poucos dividendos. Por exemplo, a Microsoft já ficou vários anos sem pagar dividendos, pois acreditava que suas oportunidades de investimento eram boas o suficiente para direcionar tudo para (4) e nada para (5). Já empresas do setor elétrico e siderúrgicas, já consolidadas, geralmente pagam dividendos generosos; • Gerenciar o risco de (1) e (5), ou seja, decidir como se financiar ou quanto dinheiro devolver aos investidores levando-se em conta o nível de risco financeiro aceito pela firma. Falhas em se gerenciar o risco dos fluxos financeiros podem levar a resultados catastróficos. Um exemplo atual no Brasil é a Petrobras. A firma endividou- se enormemente e emitiu ações (capital próprio) visando ao financiamento dos projetos do pré-sal. Isso fez-se necessário porque o governo federal modificou a Lei do Petróleo e passou a exigir o regime de partilha para esses campos, obrigando a participação da Petrobras em sua exploração. Porém, dois fatos ocorreram desde então: • 1. O governo federal decidiu subsidiar o preço da gasolina usando o caixa da Petrobras, que foi obrigada a comprar gasolina no exterior com um preço superior ao que vendia no mercado interno, pois o Brasil não é autossuficiente em combustível. www.esab.edu.br 18 Assim, reservas para eventualidades e caixa para investimentos foram desviados para outros fins. • 2. O preço do petróleo vem despencando, desde que novas tecnologias de fraqueamento hidráulico e de extração de óleo de areias betuminosas revolucionaram a indústria de petróleo dos EUA e do Canadá. Como a OPEP decidiu não baixar sua produção, a Rússia vem exportando gás natural a níveis recordes devido ao embargo comercial depois da invasão da Ucrânia, e a economia mundial – em especial a China – diminuiu seu apetite por energia, o preço do petróleo vem caindo (alta oferta e baixa demanda), o que pode tornar a exploração do pré-sal inviável economicamente. Assim, o cenário atual é de um alto endividamento, pouco caixa, e investimentos em curso que estão se tornando pouco rentáveis ou mesmo inviáveis. Boa parte daexplicação para essa situação tão crítica está na má administração financeira da empresa, sem falar nos fortes indícios de corrupção que estão disparando investigações e ações judiciais no Brasil e no exterior. Em suma, a missão do administrador financeiro é criar valor nas atividades de investimento, financiamento, e gestão de liquidez da firma. De forma geral, o objetivo dessas escolhas é maximizar o valor presente da firma, ou seja, maximizar o valor para os sócios (acionistas). O valor presente da firma nada mais é que o valor presente de todos os fluxos de caixas, atuais ou futuros, ajustados pelo tempo e pelo risco. Assim, o administrador financeiro deve decidir se investe num ativo real (projeto), ou se investe no mercado financeiro. Em ambos os casos é feito um investimento hoje, com a esperança de se receber fluxos de caixa futuros. Por consequência, existe um trade-off entre investir-se em projetos ou no mercado financeiro. A intuição é simples: você investiria num projeto que rende menos que o mercado financeiro, sendo que os dois possuem fluxos de caixa e perfis de risco semelhantes? Aí entra o conceito de custo de oportunidade do capital, que nada mais é do que o retorno oferecido por investimentos equivalentes, em termos de tempo e de risco, no mercado financeiro. Para um projeto ser atrativo, ele deve ao menos igualar esse custo de oportunidade, ou seja, render no mínimo o mesmo que o ativo financeiro. Porém, como estimar o risco e o custo de oportunidade? É o que veremos nas unidades a seguir. www.esab.edu.br 19 4 O que é risco? Objetivo Introduzir conceito e medida para o risco de um ativo Em termos financeiros, como podemos definir risco? Quando dizemos que um investimento é arriscado, na verdade estamos dizendo que não sabemos ao certo qual retorno teremos com ele. Como já comentamos, existem investimentos que são considerados livres de risco. O exemplo mais próximo do cidadão comum é a poupança. Ela garante um rendimento fixado em lei, e os depósitos tem garantia até R$250 mil do Fundo Garantidor de Crédito, caso o banco quebre. Assim, você já sabe com certeza qual será o rendimento da poupança, mesmo que ela tenha componentes variáveis (TR e Selic). A poupança pode ser classificada como um investimento de renda fixa pós-fixada, ou seja, o cálculo da taxa de rendimento é fixado, contratualmente, porém a taxa efetiva só é conhecida posteriormente, pois depende da TR e da Selic. Saiba Mais TR e Selic são somente duas das taxas referenciais de juros da economia brasileira. A primeira é a Taxa Referencial. Seu cálculo é feito pelo Banco Central do Brasil (BC) e é relativamente complexo, dependendo das taxas de CDB emitidos no mercado. O CDB (Certificado de Depósito Bancário) é um título de dívida emitido pelos bancos. Já a Selic é a taxa de juros básica brasileira. Seu nome significa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, e na verdade é um sistema de custódia dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, ou seja, os títulos da dívida federal. Porém, esse sistema empresta seu nome à taxa referencial desses títulos, que é definida nas reuniões do COPOM (Comitê de Política Monetária) do BC. Existem outras taxas consideradas referenciais, como a TBF (Taxa Básica Financeira) e a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). Cada uma tem um racional por trás e, por consequência, aplicações diferentes. www.esab.edu.br 20 Agora, imagine um investimento em uma ação. Uma ação representa a menor fração do capital próprio de uma sociedade anônima, mais conhecida por SA. As SAs podem ter suas ações negociadas em bolsa de valores ou não. As empresas com ações negociadas em bolsa de valores são chamadas de abertas ou listadas. As demais são ditas fechadas. O preço de uma ação nada mais é do que a expectativa do desempenho da empresa em termos financeiros. Assim, quando se espera que a empresa terá um bom desempenho futuro, o preço da ação é alto. Caso contrário, seu preço é baixo. Em lugar algum está determinado um rendimento ou desempenho mínimo. Ações são consideradas um investimento de renda variável, justamente por essa razão. Também é fácil perceber que há mais risco envolvido: a taxa não está definida de antemão, como num título de renda fixa. Embora a intuição seja direta, fica a pergunta: como medir esse risco? Quantificando o risco Já temos uma noção de que o risco tem a ver com a variabilidade dos retornos. Quanto mais variável esse retorno, mais risco atribuímos a um investimento. Em termos mais formais, podemos dizer que o retorno de um ativo (ou investimento) é uma variável aleatória. Essa variável pode ser caracterizada por dois conjuntos de informação: todos os resultados possíveis (ou realizações), mais a probabilidade de ocorrência de cada resultado (ou estado). Isso soa familiar? Sim, já que você já estudou isso em Estatística & Probabilidade! Imagine o cenário a seguir. Você tem três ativos. Todos possuem um retorno esperado (ou médio) de 10%. Porém, a probabilidade de ocorrência de cada resultado é bem diferente, dada no gráfico a seguir. O eixo X (horizontal) representa todos os resultados possíveis, e Y (vertical) a probabilidade de cada resultado. O primeiro ativo (A) tem retorno certo de 10%, ou seja, risco zero. Ele não está visível no gráfico, porque é simplesmente uma linha sobre o eixo Y, que se estende de zero até um, ou seja, ele tem probabilidade de 100% de oferecer um retorno de 10%. Já a linha azul representa o segundo ativo (B), que tem um retorno médio (esperado) de 10%. Isso quer dizer que se multiplicarmos o valor do eixo X pelo valor do eixo Y de cada ponto da linha azul, e somarmos os resultados, teremos 10%. A linha vermelha representa o terceiro ativo (C), que também tem um retorno médio (esperado) de 10%. Porém, essa linha é mais achatada. Você sabe o que isso quer dizer? www.esab.edu.br 21 Figura 7: Distribuição dos retornos dos ativos A, B e C Pensemos juntos: (A) é o retorno certo, e tem a “curva” mais fechada possível, ou seja, é uma linha sobre Y. (B) tem retorno arriscado intermediário. Já (C) tem o retorno mais arriscado, e tem a curva mais aberta de todas. Ou seja, quanto mais aberta a curva, mais arriscado o ativo! Em outras palavras, quanto mais achatada a curva, maior a probabilidade do retorno ficar mais longe do esperado (ou da média) de 10%. Por isso, as caudas vão ficando mais “pesadas” à medida que o risco aumenta. Estatisticamente, essas curvas podem ser resumidas na tabela a seguir. ATIVO MÉDIA DO RETORNO DESVIO PADRÃO DO RETORNO A 10% 0% B 10% 10% C 10% 20% O desvio-padrão pode ser nossa medida do risco? Afinal, ele mede quão “espalhadas” estão as possíveis realizações. Quanto mais “espalhadas”, maior o desvio, e por consequência, maior o risco. Faz sentido, certo? Tanto faz sentido que o desvio-padrão é a medida de risco comumente usada em Finanças. Ela mede o que chamamos de volatilidade dos retornos dos ativos. Ativos mais arriscados são mais voláteis. Porém, você se lembra como calcular o desvio-padrão? www.esab.edu.br 22 5 Uma revisão de estatística Objetivo Revisar conteúdo de estatística necessário para o desenvolvimento do restante da disciplina Façamos uma pausa no conteúdo de Finanças e voltemos um pouco no tempo. Temos que nos lembrar como calcular essas estatísticas para poder continuar com nosso curso, pois vamos lidar com variáveis aleatórias a todo tempo. Então, comecemos pelo começo e relembremos o que seria a média. Calculando a média A média de uma variável aleatória também é conhecida como esperança matemática ou valor esperado. Se a variável aleatória é representada por X, então sua média é representada por X=E[X]. O “xis barra” é um símbolo comumente usado para representar a média amostral, pois a média populacional é µ (letra grega mi), muitas vezes desconhecida. X é uma estimativa de µ, pois a partir de uma amostra você está estimando a média da população. Normalmente quando as pessoasdizem “média”, referem-se à média aritmética. Porém, a esperança (vamos chamar a nossa média de esperança, para não gerar ambiguidade) pode ser a média aritmética, mas via de regra é a média ponderada. Por que isso? Simplesmente porque a probabilidade de cada estado (ou realização) geralmente é diferente da outra. Se todas as probabilidades fossem iguais, a esperança seria igual à média aritmética. Em termos mais formais: ~ ~_ __ www.esab.edu.br 23 Traduzindo, a esperança de X é o somatório da probabilidade de cada estado pi multiplicada pelo valor de cada estado xi. Se todas as probabilidades fossem iguais, todos os pi seriam iguais a 1⁄n, e teríamos a velha conhecida média aritmética, que seria o somatório de todos os valores possíveis dividido por n. Calculando o desvio-padrão Já vimos que o desvio-padrão mede o quão “espalhados” estão os valores possíveis em relação à média. Então, um primeiro impulso poderia ser fazer o desvio-padrão igual ao somatório do valor menos a média. Formalmente: Você consegue notar algum problema neste candidato a desvio-padrão? Como os valores xi estão espalhados ao redor da média o somatório dá... Zero! Experimente fazer com uma amostra bem simples: 1, 2, 3, 4. A média aritmética é 2,5. Calcule a definição de desvio-padrão que temos e você terá zero: 0,25•(1-2,5)+0,25•(2-2,5)+0,25•(3-2,5)+0,25•(4- 2,5)=0,25•(-1,5)+0,25•(-0,5)+0,25•0,5+0,25•1,5-0. Não é muito útil, certo? O problema é que os números menores que a média geram diferenças negativas, que anulam as diferenças positivas dos números maiores que a média. Você vê uma saída? E se transformarmos as diferenças negativas em positivas? Assim, seria sempre um somatório de números positivos, e nosso desvio-padrão seria diferente de zero. Existem várias formas de se fazer isso. O grande ponto é que cada forma tem propriedades estatísticas diferentes, que podem ser “boas” ou “ruins”, dependendo do caso. Não vamos entrar em detalhes, mas os estatísticos chegaram à conclusão que elevar ao quadrado tem as propriedades estatísticas mais desejáveis. Com isso, temos a chamada variância, que é a média do quadrado das diferenças. Em termos matemáticos: ~ www.esab.edu.br 24 Resolvemos um problema, mas criamos outro. Agora, está tudo ao quadrado! Se o retorno está em %, então a variância do retorno está em %2. Difícil dizer o quer seria “porcento ao quadrado”, né? Se a variável estivesse em R$, a variância estaria em “reais ao quadrado”. E agora, como fazemos? O mais intuitivo parece ser tirar a raiz quadrada, certo? Assim, deixamos de ter um número elevado ao quadrado, e temos algo que podemos interpretar mais facilmente. Pronto, chegamos à definição de desvio-padrão: Medidas de variação conjunta Ainda precisamos de mais duas definições: o que seria covariância e o que seria correlação. Ambas são medidas da variação conjunta de duas variáveis aleatórias, e vamos precisar delas quando formos estudar carteias de investimentos. Por exemplo, há uma correlação positiva entre altura e peso: quanto mais alta a pessoa, maior tende a ser seu peso. Já entre velocidade do carro e o consumo de combustível há uma correlação negativa, já que velocidades mais altas estão relacionadas a maior gasto de gasolina. A covariância é similar à variância, só que ao invés de elevar ao quadrado, é a multiplicação da diferença de cada variável para sua média. Então, se temos duas variáveis aleatórias X e Y, sua covariância é: Porém, a covariância tem o mesmo problema da variância: os valores estão ao quadrado! Só que diferentemente do desvio-padrão, não tiramos a raiz. Neste caso, dividimos a covariância pela multiplicação do desvio- padrão de cada variável aleatória: ~ ~ www.esab.edu.br 25 Isso assegura que a correlação esteja sempre no intervalo [-1; 1], e é uma medida sem unidade. Por exemplo, se a Cov está em %2, dividimos por %•%, e a unidade de medida some. Um valor de -1 é chamado de correlação negativa perfeita. Quer dizer que as variáveis variam em conjunto perfeitamente em sentidos contrários (se uma aumenta, a outra diminui na mesma proporção, sempre). Já o valor de +1 é uma correlação positiva perfeita, e 0 indica que não há correlação. Os valores intermediários implicam uma correlação menos que perfeita, o que quer dizer que as direções e proporções das variações não são constantes para cada par (xi,yi). Usando MS Excel Calculadoras científicas e financeiras geralmente possuem funções estatísticas. É mais fácil ainda usando um software de planilha de cálculo, como o Excel. A tabela a seguir lista as funções mais importantes. Estatística Excel 2003, 2007 Excel 2013 Média =média(v1; v2; ...; vN) =média(v1; v2; ...; vN) Variância populacional =varp(v1; v2; ...; vN) =var.p(v1; v2; ...; vN) Variância amostral =var(v1; v2; ...; vN) =var.a(v1; v2; ...; vN) Desvio-padrão pop. =desvpadp(v1; v2; ...; vN) =desvpad.p(v1; v2; ...; vN) Desvio-padrão amost. =desvpad(v1; v2; ...; vN) =desvpad.a(v1; v2; ...; vN) Covariância pop. =covar(série1; série2) =covariação.p(série1; série2) Covariância amost. =covariação.s(série1; série2) Correlação =correl(série1; série2) =correl(série1; série2) Qual o problema de usar as funções já prontas do Excel? Você consegue apontá-lo? Uma pista: em algum momento você informou os pesos? Não. Assim, essas funções somente fazem o cálculo, se todas as possibilidades (estados) tiverem os mesmos pesos. Daí a importância de saber o conceito do cálculo, para contornar as limitações das funções já prontas. www.esab.edu.br 26 6 Um conceito novo: regressão linear Objetivo Introduzir o conceito de regressão linear, necessário para entender a estimação do beta do CAPM. A regressão linear é um método que permite estimar a relação entre uma variável dependente Y e uma ou mais variáveis independentes X. Parece com a correlação, certo? De certa forma mede também uma correlação, mas é um instrumento mais poderoso. Você notou o termo “uma ou mais”? Isso mesmo, você pode testar a ligação entre uma variável com várias outras ao mesmo tempo. Por exemplo, anteriormente comentamos da correlação entre peso e altura, certo? Agora, podemos encontrar a relação entre o peso e diversas variáveis. Por exemplo, podemos dizer que o peso de uma pessoa depende da altura e da circunferência da cintura e da circunferência da coxa. Faz sentido, não? Pessoas mais “largas” têm mais volume, e por consequência, devem ser mais pesadas. Uma equação de regressão linear tem o seguinte formato: O índice i quer dizer i-ésima observação. Assim como na correlação, precisamos de várias observações para calcular nossa estimativa. O beta zero é a constante, e os beta n são os coeficientes de cada variável x. No nosso exemplo, se o estudo tem 100 pessoas, i varia de 1 a 100. O y é o peso da pessoa, x1 é a altura, x2 é a circunferência de cintura, e x3, a circunferência da coxa. Por fim o épsilon (a letra que parece um E pequeno) é o erro, ou seja, a parte de y que os xn não explicam. Atenção! Neste caso xn não é “x elevado a n”, mas sim, “x índice n”, ou n-ésimo x. www.esab.edu.br 27 Dica Você já se perguntou de onde saem os parâmetros que os médicos usam em diagnósticos, como o Índice de Massa Corporal (IMC)? Para quem não sabe, o IMC indica se a pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. Para isso, basta dividir o peso (em kg) pelo quadrado da altura (em m). Aí você compara esse número com as faixas definidas, e define se você está “bem” ou não. Essas faixas saem de estudos que usam técnicas como a de regressão linear: os pesquisadores pegam uma amostra de pessoas, definem o que querem estudar e com os resultados, constroem ferramentas como o IMC. O mesmo vale para outras coisas, como os limites do índice de glicose e do índice de colesterol. A regressão linear também pode ser usada em inúmeros campos tão diversos como biologia, controle de qualidade e educação. A regressão linear que usaremos aqui será asimples, ou seja, só com a variável independente x1. Mais à frente veremos uma técnica de apreçamento de ativos que se chama CAPM, que usa a regressão linear como base. Mas como funciona a tal regressão linear? A intuição é simples: se temos uma variável dependente Y e somente uma independente X, a regressão nada mais faz do que minimizar a distância entre a reta estimada e os pontos observados. Se houver mais de uma variável independente X, a intuição é a mesma, só que ao invés de uma reta teremos um hiperplano num espaço N-dimensional. Parece complicado, mas não é. Só que é mais simples visualizar uma reta, que um hiperplano. Então, no nosso exemplo de peso e altura, podemos ter algo como o gráfico a seguir. Figura 8: Exemplo de regressão linear simples usando o Excel www.esab.edu.br 28 Vamos estudar esse gráfico. Cada ponto azul representa uma pessoa. Um pesquisador tomou duas medidas da pessoa, sua altura e seu peso. No eixo horizontal X, temos a altura da pessoa, em centímetros. No eixo vertical Y, temos seu peso em quilogramas. A linha pontilhada que vemos entre os pontos é a reta da regressão linear: ela é a reta que minimiza a distância vertical entre a reta e os pontos azuis. A distância pode ser positiva (o ponto está acima da reta) ou negativa (o ponto está abaixo da reta). A técnica minimiza a soma dos quadrados de todas as distâncias (já vimos esse truque antes!), e por isso a chamamos de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO, ou OLS na sigla em inglês). Note também que há uma equação no gráfico: y=1.1269x-109.8. Essa a equação é a estimativa da regressão linear simples desenhada no gráfico, e os números são chamados de coeficientes. Para cada altura em cm (x), a equação dá um resultado (y), gerando a linha pontilhada que vemos. Neste caso específico, a estimativa diz que cada centímetro adicional de altura resulta em 1,1269kg a mais no peso. A parte não explicada (a distância vertical entre a reta e o ponto) é o chamado erro, que é o épsilon que vemos na equação (7). Mais formalmente, o coeficiente de x é dado por: O R2 (chamado de R-quadrado) mede qual percentual da variação está sendo explicada pela equação, no caso, por volta de 54,9%. Embora seja um indicador do quanto está sendo “levado em conta” e do quanto está sendo “deixado de fora”, um R-quadrado alto ou baixo, por si só, não quer dizer muita coisa. O R-quadrado típico depende muito da área e do que se está medindo. Em algumas áreas de finanças, R-quadrados baixos como 5% são considerados normais, enquanto em outros tipos de estudo são esperados R-quadrados bem maiores. Mais importante que o R-quadrado em si é verificar se o coeficiente estimado é significativo ou não. Lembre-se de que apesar do software prover um número, na verdade é um número acompanhado de uma distribuição estatística! Ou seja, o coeficiente apresenta uma variabilidade. Assim como podemos fazer um teste de diferença de www.esab.edu.br 29 médias, no caso de regressões geralmente estamos interessados em saber se os coeficientes são estatisticamente diferentes de zero. Infelizmente o Excel padrão não provê esse tipo de estatística, quando pedimos a linha de tendência. Pacotes mais avançados como o Stata, o SAS ou o R geram testes de significância estatística automaticamente. Porém, mesmo no Excel é possível gerar os testes mais básico, usando-se as ferramentas da Análise de Dados para rodar a regressão, ao invés de simplesmente pedir a equação num gráfico de dispersão. Na tabela a seguir, vemos uma parte dos resultados gerados na Análise de Dados com os mesmos dados usados na Figura 8. Note que os coeficientes são idênticos: -109.8 para o intercepto, ou constante, e 1,13 (arredondado para duas casas decimais) para o coeficiente da altura (x). As colunas seguintes não vemos no gráfico. O erro padrão é o mesmo que vimos na unidade anterior, e dá uma medida da dispersão do coeficiente. O erro permite que calculemos a estatística t. Ela é idêntica à estatística Z de uma distribuição normal, só que ao invés de usar uma distribuição normal, a t usa uma distribuição t de Student. São distribuições similares, porém a t possui as caudas mais “pesadas”. Essa estatística t permite calcular o valor-p, que nada mais é que a área da cauda restante após o t encontrado. Grossamente falando, o valor-p mede a chance de que o coeficiente seja igual a zero, isto é, de que seja irrelevante. Em ambos os casos o valor-p é muito próximo de zero. No arredondamento aparece como zero, mas são valores da ordem de 10-6 e 10-13, respectivamente. Isso significa que os coeficientes são estatisticamente significativos a 1%, pois o p-valor é menor que 0,01. Outros níveis comuns são 5% (p-valor menor ou igual a 0,05) e 10% (p-valor menor ou igual a 0,1). Por fim, o Excel estima o intervalo com 95% de confiança, mostrando o limite inferior e o limite superior da variação do coeficiente. Em nenhum dos casos o intervalo contém o zero, pois os coeficientes são significativos a 1%, ou seja, mesmo num intervalo com 99% de confiança ele não contém o zero. www.esab.edu.br 30 No CAPM estaremos interessados no coeficiente de x, que vai ter um nome especial nesse caso: beta, também conhecido como beta do CAPM. Chega de estatística, voltemos para Finanças.. www.esab.edu.br 31 7 Os componentes do risco Objetivo Mostrar que o risco do ativo pode ser decomposto em dois componentes: o risco sistemático e o risco idiossincrático Já vimos que uma medida do risco é a variabilidade dos retornos dos ativos. Também vimos que essa variabilidade pode ser medida pelo desvio-padrão, que acabamos de revisar. Além disso, o risco pode ser decomposto em vários componentes, a saber: • Risco sistemático, ou não-diversificável • Risco não-sistemático, ou diversificável, ou único, ou idiossincrático O risco sistemático é comum a vários ativos. Como o nome diz, é devido ao “sistema”. Como logo veremos, esse risco não pode ser diversificado. Em outras palavras, ele é inerente ao sistema financeiro e não pode ser eliminado. Já o risco não-sistemático é específico de um ativo, por isso também chamado de único ou idiossincrático. Esse risco pode ser eliminado por meio da diversificação, por isso ele também é conhecido por diversificável. Você tem alguma ideia de como essa “mágica” de fazer um risco sumir pode ser feita? Diversificando riscos Uma pista de como diversificar os riscos está nos nomes. O risco diversificável é único daquele ativo. Se juntarmos um outro ativo, o que será que ocorre? Os dois riscos vão simplesmente se somar, ou vão se anular, mesmo que parcialmente? Quem é bom de Estatística a esse ponto já tem uma noção do que vai ocorrer. Sim, se juntarmos diversos ativos seus riscos não-sistemáticos podem ser eliminados, desde que se cumpra com uma condição... www.esab.edu.br 32 Quando juntamos mais de um ativo chamamos de carteira, ou portfólio. A carteira seria um ativo com características equivalentes a todos os ativos contidos nela. Por exemplo, se eu tenho dinheiro em conta corrente, CDB, e ações, eu posso medir as características de cada tipo de ativo e calcular as características da minha carteira, como retorno esperado e risco. Assim, se o investidor possui uma carteira ao invés de um ativo, tanto o retorno quanto o risco são da carteira. Aqui, uma coisa interessante ocorre quanto ao risco: além da variância de cada ativo individual, a covariância entre os ativos passa a importar! Mais formalmente, temos: Traduzindo em miúdos: se a carteira tem dois ativos, X e Y, com pesos a e b, respectivamente, a variância da carteira é a soma das variâncias de X e de Y, ponderada pelos pesos ao quadrado, mais a covariância entre X e Y. É fácil ver que se a covariância for negativa, a variância da carteira cai. Porém, a condição é mais simples ainda. A tabela a seguir exemplifica isso. Estranho, não é mesmo? O desvio-padrão da carteira é mais baixo que o desvio individual de todos os ativosda carteira! Se você desconfia do resultado, faça o cálculo por você mesmo: Var (cart)=0,42•0,0196+0,62•0, 0121+2•0,4•0,6•0,0074=0,0110. Para chegar no desvio de 10,51%, basta tirar a raiz quadrada, como já vimos. Se você fizer a média ponderada do desvio, que seria simplesmente somar as variâncias levando em conta os pesos, vai chegar a 12,2%. Mas como pode ser? Uma resposta pode estar na correlação. Lembra que comentamos que variância e covariância são difíceis de interpretar numericamente? Por isso temos o desvio-padrão e a correlação! www.esab.edu.br 33 A correlação entre X e Y é Corr(X,Y)=0,0074/(0,14•0,11)=0,48, que é menor que 1. Ou seja, temos uma correlação positiva menos que perfeita. O que isso quer dizer? Quer dizer que os retornos de X e Y variam conjuntamente em boa medida, porém não de forma perfeita. Intuitivamente, como um não acompanha a variação do outro perfeitamente, quando juntamos os dois, essas diferenças entre as variações amortecem a variabilidade. Assim, a carteira consegue ser menos arriscada que os ativos que contém, desde que a correlação seja menor do que 1! Mesmo que a correlação fosse muito alta, como 0,9, ainda assim a carteira teria um desvio dos retornos de 11,89%, mais baixo que os 12,2% da simples ponderação dos desvios. Faça os cálculos por você mesmo e comprove. E o retorno esperado? Como que isso foi calculado? Simples, basta fazer a média ponderada dos retornos! Faça o cálculo: 40% de 10% mais 60% de 8%. Mais formalmente, o retorno esperado de uma carteira com dois ativos X e Y, cada um com peso a e b, respectivamente, é: Carteira: um exemplo Considere uma carteira com 70% de Embraer (EMBR3) e 30% de Itaú (ITUB4). O desvio-padrão de EMBR3 é 12,75%, e de ITUB4 é 14,74%. A covariância é 0,0073. O retorno esperado de EMBR3 para os próximos 12 meses é de 13,75%, e para ITUB4, de 16,22%. Calcule o retorno esperado e o risco da carteira. O retorno esperado da carteira é simplesmente a média ponderada dos retornos de cada ativo. No caso, 0,7•13,75%+0,3•16,22%=14,49% O risco da carteira é o desvio-padrão da carteira. No caso, temos que levar em conta as variâncias de cada ativo, mais a covariância entre eles. Assim, temos: www.esab.edu.br 34 Estendendo para carteiras com vários ativos Vimos até agora como funcionam carteiras de somente dois ativos. Porém, geralmente carteiras possuem vários ativos. Felizmente, as mesmas ideias das carteiras simples de dois ativos podem ser transportadas para carteiras mais complexas. Tudo o que precisamos é de saber o peso de cada ativo, a variância de cada ativo, e todas as covariâncias de cada par possível de ativos! Você deve estar imaginando que a conta começa a ficar extensa. Afinal, para três ativos X, Y e Z temos as combinações (X, Y), (X, Z) e (Y, Z). Lembre-se que a covariância de (X,Y) é a igual à covariância de (Y,X). Se forem quatro ativos X, Y, Z, K, já teremos (X, Y), (X, Z), (X, K), (Y, Z), (Y, K), e (Z, K). E por aí vai... Agora, pense o seguinte: quanto mais ativos eu coloco na carteira, menor tem que ser o peso relativo de cada um, certo? Pense na divisão mais simples, na qual todos ativos tem pesos iguais. Com dois ativos, cada um tem 50%. Com três, 33,3333...%. Com quatro, 25%. Com cinco, 20%... Em suma, o peso de cada ativo é 1/N, sendo N o número total de ativos. Se N for muito grande, 1/N caminha em direção a zero. Por exemplo, para N = 1 milhão, 1/N = 0,0000001. Para N igual a infinito, 1/N = 0. Ora, se cada peso se aproxima mais de zero, cada vez que incluo um ativo, a contribuição da variância de cada ativo também se aproxima de zero! Não vamos entrar na parte matemática aqui, mas usando essa intuição, no fim as variâncias somem e o que sobra é a covariância média entre todos os ativos. O que isso quer dizer em termos práticos? Ora, que há um limite inferior de risco da carteira, que não pode ser eliminado pela diversificação. Encontramos o risco não-diversificável que mencionamos no início da unidade! Eliminamos os riscos diversificáveis (ou únicos, ou idiossincráticos), que são as variâncias dos retornos de cada ativo isolado, e ficamos somente com o risco trazido pela covariância média entre os retornos de todos os ativos. Esse risco que “sobrou” também é chamado de risco de mercado, ou sistemático, e é a média da covariância de todos os ativos arriscados da economia. É o que mostra o gráfico a seguir. No eixo horizontal (x), está o número de ativos na carteira. No eixo vertical (y), está o risco da carteira. O retângulo azul mostra o limite inferior de www.esab.edu.br 35 risco, que é a média de todas as covariâncias, e a linha vermelha mostra como o risco diversificável vai sendo eliminado à medida que ativos são adicionados à carteira. Figura 9: Diversificação de riscos www.esab.edu.br 36 8 Mini-caso resolvido Objetivo Exemplificar conceitos chave sobre risco e mostrar uso das ferramentas estatísticas Vamos tomar os retornos de duas empresas de varejo, a Renner e a Magazine Luiza. A tabela a seguir detalha seus retornos anuais. Qual das duas tem uma média de retorno maior? Vamos calcular primeiro o da Renner e, em seguida, o do Magazine Luiza: Podemos ver claramente que nesses cinco anos o Magazine Luiza apresentou uma média de retornos que é praticamente o dobro do da Renner. Porém, aparentemente, o Magazine Luiza também é mais arriscado. Observe que os retornos parecem ter variações maiores. Podemos medir isso. Vamos calcular a variância dos retornos de cada um. Lembre-se de que a variância é a média das distâncias entre os pontos e a média ao quadrado. www.esab.edu.br 37 Como suspeitávamos, a variância do Magazine Luiza é maior que a da Renner. Isso significa que as ações da Renner são menos arriscadas. Em troca do maior risco, o Magazine está oferecendo um retorno maior, como já vimos. Um problema da variância é que é uma medida ao quadrado. No nosso caso, é %2, que é difícil de interpretar. Para isso, existe o desvio-padrão, que nada mais é que a raiz quadrada da variância. A raiz quadrada é o que se chama transformação monotônica em matemática. Traduzindo, ela não vai mudar a ordem dos resultados. Portanto, podemos de antemão afirmar que o desvio do Magazine Luiza vai ser maior que o desvio da Renner. Agora sim, podemos afirmar que o desvio-padrão da Renner é de 7,94%, e o do Magazine Luiza, de 19,98%. Além dessas medidas de média e desvio (risco), podemos calcular qual o nível de variação conjunta dos retornos das firmas. Para isso, vamos lançar mão da covariância, que é a média entre a multiplicação das distâncias. Esse número não quer dizer muita coisa, verdade? O fato dele ser positivo somente indica que há uma relação positiva entre as variáveis, ou seja, de forma geral, quando uma está acima da média, a outra também está. Para termos uma ideia melhor do quão forte é essa relação, lançamos mão de uma medida normalizada. Ela se chama correlação e, matematicamente, só pode estar entre -1 e +1. Como a correlação está muito próxima de 1, podemos afirmar que a relação entre as duas é fortemente positiva, ou seja, elas tendem a variar conjuntamente. Se a correlação fosse próxima de zero, poderíamos afirmar que a relação é fraca, ou não existente. Já se estivesse próxima www.esab.edu.br 38 de -1, poderíamos afirmar que é fortemente negativa, ou seja, variam de forma contrária. Apesar dessa alta correlação, podemos montar uma carteira com esses dois papéis. Digamos que queremos algo que dê um retorno esperado de 8% a.a. Para encontrar os pesos de tal carteira, temos que resolver: Temos um problema aqui: somente uma equação e duas incógnitas, o que impossibilita uma solução única. Porém, nós sabemos que os pesos w tem que somar 1. Então podemos reescrever a equação assim: Sabemos, então, que a carteira deve possuir 55,5556% de Renner, e 44,4444% de Magazine Luiza para que tenha um retorno esperado de 8%. Com esses pesos, podemos calcular o risco da carteira.Portanto, nossa carteira tem um retorno esperado de 8% (faça os cálculos para confirmar que os pesos estão corretos) e um risco total de 13%. www.esab.edu.br 39 9 A fronteira de média-variância Objetivo Mostrar o conceito da uma fronteira eficiente, que minimiza o risco dado um retorno ou vice-versa (maximiza o retorno dado um risco) Vimos que podemos montar carteiras com vários ativos, e que com um número suficiente de ativos, conseguimos praticamente eliminar o risco não-sistemático. Há mais uma característica das carteiras, que provavelmente passou despercebida: ao variar os pesos dos ativos, variamos o retorno esperado da carteira, e também o risco da carteira. Só que as dois não variam da mesma forma. Como vimos, o retorno varia linearmente, pois é a média ponderada dos retornos dos ativos. Já o risco, não: os pesos são elevados ao quadrado, e ainda há a covariância com os pesos multiplicados entre si. Esse jogo interessante entre risco e média gera uma pergunta interessante: para um retorno, eu consigo encontrar uma combinação de pesos que me dê o mínimo risco? Ou o equivalente: para um dado risco, eu consigo encontrar uma combinação de pesos que me dê o máximo retorno? A resposta é sim. Essa ideia foi apresentada pela primeira vez por Harry Markowitz em 1952, no Journal of Finance. Por isso a fronteira de média variância também é chamada de fronteira eficiente ou fronteira de Markowitz. É possível modelar matematicamente esse problema, que se chama problema de otimização, ou seja, destina-se a encontrar o ponto ótimo. Isso quer dizer que o modelo matemático vai buscar o risco mínimo (se fixarmos um retorno) ou o retorno máximo (se fixarmos um risco). Esse modelo nada mais é do que uma derivada: a derivada de primeira ordem nos dá as condições de primeira ordem, e fornece os pesos ótimos. A derivada de segunda ordem nos dá as condições de segunda ordem, que indica se a solução é um máximo ou um mínimo. Também é possível resolver este problema numericamente usando o Solver do MS Excel. Basta montar o problema, com os requisitos e restrições, que ele usa técnicas de cálculo numérico para achar os pesos ótimos. www.esab.edu.br 40 Um exemplo usando o Solver do MS Excel O primeiro passo é montar o problema. A planilha a seguir mostra um exemplo fixando o retorno e achando os pesos, que minimizam o risco. Você deve informar todos os dados dos ativos, ou seja, seu retorno esperado, e seu risco (desvio-padrão). Em seguida, você deve montar fórmulas que calculem o retorno e o risco da carteira, de acordo com os pesos. Mas atenção: os pesos definitivos serão calculados pelo Excel! Você pode deixá-los em branco ou informar pesos quaisquer, só para ver se a fórmula está funcionando. Você também deve montar as restrições: um campo com uma fórmula somando todos os pesos, e um campo calculando o retorno desejado. Figura 10: Montando o problema: calculando o somatório dos pesos, e o retorno e o risco da carteira Em seguida, você clica em Solver. A janela a seguir vai abrir. Você informa a célula D8 como objetivo, e diz que é um Mínimo, pois você fixou o retorno e quer o mínimo risco, cuja fórmula de cálculo está exatamente em D8. A seguir, você diz para o Excel que ele deve mudar os valores nas células F2:F4, que é onde estão os pesos do nosso exemplo. Finalmente, você informa as restrições: D6 (que tem a fórmula do somatório dos pesos) deve ser igual a 1, e D7 (que tem a fórmula do retorno da carteira) deve ser igual a D10 (o retorno desejado que você informou). Pronto, basta clicar em “Solve”. www.esab.edu.br 41 Figura 11: Informando ao Solver os parâmetros, dizendo que queremos minimizar risco O Excel roda internamente o algoritmo de otimização GRC Nonlinear que você escolheu, e preenche os pesos. Note na figura a seguir os pesos calculados. Note que as restrições foram cumpridas: D6 é igual a 1 (com um pequeno erro de arredondamento), D7 é igual a 12% (o retorno que fixamos), e D8 é 13,91% (o mínimo risco possível com esses ativos e o retorno de 12%). Note que a carteira tem o mesmo retorno esperando do Ativo 1 (12%), mas tem um risco menor (13,91% vs. 15%). Figura 12: Resultado da otimização do Solver, definindo os pesos dos ativos da carteira www.esab.edu.br 42 Poderíamos repetir esse exemplo para vários níveis de retorno entre 7% e 13%. Como o retorno da carteira é somente a média ponderada dos retornos, em princípio, ficamos restritos a essa faixa. Para cada nível de retorno, teríamos, claro, um nível de risco diferente e também pesos diferentes. É possível colocar estes pontos num gráfico, no qual o eixo horizontal (x) é o retorno da carteira, e o eixo vertical (y) é o risco da carteira.’ A fronteira Fazendo esse procedimento, teríamos algo como o gráfico a seguir. Os pontos azuis são os ativos disponíveis. A linha vermelha representa o máximo retorno para cada nível de risco (ou o mínimo risco para cada nível de retorno). Por ser o resultado de uma otimização, a linha vermelha também é conhecida por fronteira eficiente: com esses ativos, nunca conseguiremos uma combinação mais eficiente (com menor risco ou maior retorno). O nome fronteira de média-variância decorre das estatísticas: no eixo vertical (y), temos o retorno esperado, que é uma média ponderada, e no eixo horizontal (x), temos o desvio-padrão, que nada mais é que a raiz da variância. Ela também é chamada de fronteira eficiente ou fronteira de Markowitz, em homenagem a seu criador. Essa curva é obtida somente com ativos arriscados, pois todos os pontos azuis possuem desvios maiores do que zero. E se colocarmos um ativo livre de risco, o que obtemos? Figura 13: Um exemplo de fronteira de média-variância (ou eficiente) www.esab.edu.br 43 Quando adicionamos um ativo livre de risco (por exemplo, um título do Tesouro Nacional), traçamos uma linha entre o nível do retorno do ativo livre de risco e a fronteira de ativos arriscados, de modo que a linha tangencie (toque em um só ponto) a fronteira arriscada. No exemplo da figura a seguir, colocamos um ativo livre de risco que rende 0,05% a.d. A linha laranja sai de 0,05% a.d. e tangencia a linha vermelha. A intuição é simples: podemos combinar o ativo livre de risco com a carteira tangente, e caminhar toda a linha laranja somente variando os pesos de cada um. A linha laranja se estende para além do ponto de tangência (ponto no qual 100% está na carteira tangente, e 0% no ativo arriscado) porque assume-se que você pode vender ativo livre de risco para comprar carteira tangente (ou seja, atribuir um peso negativo ao ativo livre de risco e um peso maior do que 100% à carteira), ou seja, é uma estratégia de alavancagem: você toma emprestado à taxa livre de risco para comprar mais da carteira tangente. A parte de baixo da linha laranja sai com o mesmo ângulo em relação à horizontal que é a parte de cima, só que para baixo. Não entraremos em detalhes neste curso, basta saber que a parte de baixo serve para fazer o que se denomina hedge (uma estratégia de proteção contra variações dos ativos): fica-se vendido em ativos arriscados (peso negativo) e comprado no ativo livre de risco (peso maior que 100%). Figura 14: Fronteira de média-variância (ou eficiente) com ativo livre de risco www.esab.edu.br 44 Por mais interessante que isso possa ser, você deve estar se perguntando: qual a serventia disso? Uma é que essa carteira ótima representa a melhor combinação entre o que os investidores desejam e o que podem obter. No caso, os investidores desejam maximizar retornos minimizando risco, que é o que acabamos de fazer. A outra é que a fronteira de média- variância é o ponto inicial do CAPM (Capital Assets Pricing Model, ou Modelo de Apreçamento de Ativos de Capital), nosso próximo assunto. www.esab.edu.br 45 10 O CAPM Objetivo Conceituar o modelo de apreçamento de ativos de capital (CAPM) O CAPM, ou Capital Assets Pricing Model, é um modelo de apreçamento de ativos de capital.Sua história remonta a meados da década de 1960. Dois trabalhos criaram, em conjunto, o CAPM. O primeiro foi o de Sharpe em 1964, no Journal of Finance, um dos periódicos científicos de Finanças mais respeitados do mundo. O segundo foi o de Lintner em 1965, que saiu no The Review of Economics & Statistics, outro periódico de renome. O CAPM é o primeiro, mais famoso, e até o momento, o mais amplamente utilizado modelo de apreçamento de ativos. Sua grande sacada é ligar o excesso de retorno de um ativo (ou o quanto ele rende além do ativo livre de risco) a um retorno de mercado. Mais formalmente, o CAPM é definido pela equação a seguir: Traduzindo, ela diz que o excesso de retorno do ativo i (o retorno esperado do ativo i menos o retorno do ativo livre de risco f) é igual ao beta do ativo i, vezes a diferença entre o retorno esperado de mercado e o retorno do ativo livre de risco. Note que o retorno do ativo livre de risco não é uma esperança: como ele é livre de risco, o retorno é certo. Já os demais são retornos esperados, pois eles são incertos. Esse beta é a ligação mencionada anteriormente, e também é conhecido por beta do CAPM. É ele que dá uma medida de quão arriscado o ativo é, em relação ao retorno de mercado: beta menor do que um significa ativo menos arriscado que o mercado, beta igual a um significa ativo com risco igual ao de mercado, e beta maior do que um significa ativo com risco maior que o de mercado. Consequentemente, o retorno do ativo vai www.esab.edu.br 46 ser menor, igual, ou maior que o retorno de mercado, para compensar pelo risco. É importante notar que essa remuneração pelo risco contempla somente o risco sistemático. Ou seja, o risco idiossincrático (ou não-sistemático) não entra no preço do ativo! Olhe a figura a seguir. Imagine que os pontos azuis sejam todos os ativos arriscados da economia. Temos ativos (pontos azuis), que tem o mesmo retorno esperado que a carteira eficiente com o mesmo nível de retorno (na mesma altura), apesar de serem mais arriscados. Isso ocorre, porque somente o risco sistemático (representado pelo risco da linha vermelha) está sendo remunerado. A distância horizontal entre a linha vermelha e o ponto azul (linha amarela) é risco não-sistemático, ou seja, único do ativo. E por que esse risco não entra no preço do ativo? A intuição é simples: como esse risco pode ser diversificado (eliminado) pelo investidor, o mercado não coloca preço nele! Figura 15: Separando risco sistemático e não sistemático. A linha amarela representa o risco não-sistemático www.esab.edu.br 47 E o que seria o tal retorno de mercado? Já demos uma pista no parágrafo anterior: “todos os ativos arriscados da economia”. Isso mesmo, a carteira de mercado é aquela que contém todos os ativos arriscados negociados no mercado. É por isso que ela contém somente risco sistemático, ou seja, que não pode ser eliminado por diversificação. O motivo é simples: não existem mais ativos fora dela para aumentar a diversificação! O retorno esperado dessa carteira é o retorno de mercado. A Carteira de Mercado na prática O conceito da carteira de mercado é simples: basta juntar todos os ativos arriscados da economia, calcular os pesos de cada ativo, e calcular o retorno esperado do portfólio. Porém, pensando melhor, é uma tarefa virtualmente impossível capturar variações nos preços de todos os ativos arriscados. Isso porque esses ativos podem ser financeiros, como ações e títulos de dívida, ou ativos reais, como imóveis e negócios. Apesar do conceito ser simples, não é possível segui-lo à risca. Então, como fazer? Temos que pensar numa forma de reunir uma quantidade razoável de ativos e que tenham preços relativamente fáceis de serem medidos, ou seja, os ativos devem possuir liquidez e preços públicos. Você consegue pensar num ativo assim? Que tal ações de empresas abertas (listadas em bolsa de valores)? Afinal, elas têm preços definidos a cada segundo, e esses preços são de conhecimento público. Bom, pelo menos a maioria das ações. Algumas são tão ilíquidas, que podem ficar dias sem serem negociadas. Uma boa solução é adotar um índice de ações. Um índice de ações é simplesmente uma carteira teórica de várias ações, formada de acordo com regras bem definidas. Por exemplo, o Índice Bovespa (ou Ibovespa) é calculado pela BM&FBovespa, a bolsa de valores de São Paulo, há décadas. Essa carteira reúne os papéis mais representativos negociados no Brasil. De fato, é o que se faz na prática: a carteira de mercado é aproximada por um índice de ações. No caso brasileiro, via de regra, usa- se o Ibovespa. Em cada país escolhe-se um índice, pois representa vários dos ativos arriscados daquela economia. Por exemplo, podemos usar o S&P 500 nos EUA, o DAX na Alemanha, o ASX 200 na Austrália ou o Nikkei 225 no Japão. www.esab.edu.br 48 11 Calculando o beta do CAPM Objetivo Demonstrar como obter o beta do CAPM a partir de dados históricos, usando regressão linear. Neste ponto, já temos os preços do ativo cujo risco queremos avaliar, e os preços da carteira de mercado. Calcular o retorno é fácil, basta dividir o preço de “hoje” pelo preço de “ontem” e subtrair um: Então, se você comprou um ativo por R$10 mês passado, e neste mês ele custa R$11, você pode realizar um ganho de 11/10-1 = 0,1 = 10%. Porém, ainda falta um elemento. Você sabe dizer qual? Olhe novamente a equação (10). Já temos o retorno do ativo Ri, o retorno de mercado Rm, o beta queremos calcular... Falta o Rf, certo? Este é o retorno do ativo livre de risco. Existem vários ativos considerados livres de risco numa economia, porém normalmente considera-se que os títulos de dívida do governo sejam livres de risco. Isso porque, para que esses títulos não sejam honrados, é preciso que o governo do país quebre, ou seja, não tenha mais dinheiro para honrar suas dívidas. No Brasil, temos os títulos do Tesouro Nacional, cuja taxa básica é a Selic. Então, podemos usar a taxa Selic como nosso R. Agora, já temos tudo o que precisamos para calcular o beta. Mas como que isso funciona? Você pega um determinado mês, substitui os valores, e acha o beta? O problema óbvio disso é que o beta calculado assim iria variar de mês para mês. Note bem que, na equação (10), há o operador E[•], ou seja, esperança matemática. Lembre-se de que estamos falando de variáveis aleatórias, pois os retornos tanto do ativo, quanto da carteira de mercado são incertos. Então, pegamos as médias? Bom, quase www.esab.edu.br 49 isso. Lembre-se da nossa revisão de estatística. Lá, dissemos que iríamos usar regressão linear para estimar o beta do CAPM! Assim, precisamos de vários pontos de dados para estimar o beta, ou seja, dados históricos. Com base nesses dados históricos, vamos estimar quão forte é a relação entre os retornos de mercado e os retornos do ativo. Mais formalmente, transformamos a equação do CAPM em uma equação de regressão: Você notou alguma diferença? Sim, o operador E[•] sumiu. Mas agora temos o sobrescrito t, indicado que a relação vale para cada tempo t da amostra. Também surgiu o termo épsilon, a letra grega que parece um E. É o termo de erro. Digamos que as observações sejam mensais, e que tenhamos 3 anos de histórico. Então, teríamos 36 pontos de dados para estimar o beta, algo como o exemplo abaixo: O método de mínimos quadrados vai buscar o beta, que minimize o somatório de todos os épsilons ao quadrado! Esse beta nada mais é que o beta do CAPM. Em termos matemáticos: Traduzindo: o beta é a covariância entre os retornos do ativo i e o retorno de mercado, dividida pela variância dos retornos de mercado! www.esab.edu.br 50 CAPM: interpretando o beta Outra forma de ver o beta é como um prêmio pelo risco. Note que beta multiplica a diferença entre o retorno esperado de mercado e o retorno livre de risco. Essa diferença nada mais é que um prêmio pago pelo risco de investir no mercado (incerto), ao invés de comprar títulos do governo(certo). Como o beta multiplica essa diferença, podemos dizer que o retorno esperado do ativo i é o retorno do ativo livre de risco, mais beta vezes o prêmio por unidade de risco (a diferença entre mercado e ativo livre de risco). Dito dessa forma, podemos analisar o que significa beta maior do que um, menor do que um, e igual a um. Beta maior do que um significa que o ativo está pagando mais prêmio de risco que a carteira de mercado, portanto, esse ativo é mais arriscado que a carteira de mercado! Já beta menor do que um quer dizer o contrário, que o ativo é menos arriscado que a carteira de mercado. Já beta igual a um só pode ser um ativo tão arriscado, quanto a carteira de mercado, certo? Outra característica interessante é ver como que a equação (12) de regressão do CAPM separa o que chamamos de riscos sistemáticos e não sistemáticos (ou idiossincráticos). Note que o beta associa os retornos do ativo com os retornos de mercado, portanto, com o risco sistemático (aquele que a diversificação não elimina!). Assim, o beta está colocando um preço na quantidade de risco sistemático, que o ativo i carrega! Já o risco não sistemático está indo para o termo de erro, ou épsilon: esse é o risco idiossincrático do ativo, que pode ser eliminado via diversificação. Consistente com a afirmação anterior de que o risco idiossincrático não entra no preço, também no CAPM, ele não influencia no beta. Portanto, o CAPM não coloca preço na quantidade de risco idiossincrático que o ativo i carrega. O beta da carteira Até o momento nos preocupamos em estimar o beta de um ativo individual. Vimos que estimar o desvio-padrão de uma carteira pode ser desafiador, pela quantidade de covariâncias que devemos calcular. www.esab.edu.br 51 No caso do CAPM, é bem mais fácil e direto. O beta da carteira é simplesmente a média ponderada dos betas de cada ativo da carteira! Assim, se uma carteira tem três ativos, (A) com beta=1,2 e peso 30%, (B) com beta = 0,8 e peso 30%, e (C) com beta = -0,2 e peso 40%, o beta da carteira é 0,68. Experimente fazer o cálculo e confira o resultado. Assim, se adicionamos ativos com beta maior que o da carteira, aumentamos o beta da nova carteira. Analogamente, se adicionamos ativos com beta menor que o da carteira, diminuímos o beta da nova carteira. www.esab.edu.br 52 12 Mini-caso resolvido Objetivo Exemplificar conceitos-chave da fronteira de média-variância e do CAPM. A seguir temos uma tabela com a matriz de variância-covariância entre os retornos de dois ativos, 1 e 2, e a carteira de mercado. A matriz de var-covar é uma forma prática de mostrar as relações estatísticas entre muitas variáveis. Na diagonal principal, temos a variância, que nada mais é que a covariância da variável com ela mesma. Fora das diagonais temos as covariâncias. Note que Cov(1,2) = Cov(2,1), como era de se esperar, ou seja, os triângulos superior e inferior são idênticos. Primeiro vamos nos ater a encontrar a carteira de menor variância usando, somente os ativos 1 e 2. Comentamos que é um problema de maximização de retorno, dado um nível de risco, ou de minimização de risco, dado um nível de retorno. Mostramos como é possível fazer isso no Excel, usando o Solver. Vamos ver agora como fazer isso, usando cálculo. Nosso exemplo vai ser um pouco mais simples, só com dois ativos. Não vamos fixar um retorno ou uma variância. Num problema com mais de dois ativos, isso nos obrigaria a colocar restrições nas equações, e precisaríamos de usar o multiplicador de Lagrange para resolver o problema. Aqui temos somente dois ativos, e se fixássemos um retorno www.esab.edu.br 53 teríamos que resolver o mesmo problema, que já vimos na UNIDADE 8. Ao invés disso, vamos simplesmente encontrar a carteira de mínima variância. Em outras palavras, queremos: Do cálculo, sabemos que para funções bem comportadas basta derivar e igualar a zero para encontrar a chamada condição de primeira ordem (CPO). Essa condição irá nos dar em qual ponto o valor da equação é mínimo. Estritamente falando, também teríamos que fazer a condição de segunda ordem (CSO) para verificar a concavidade e nos certificar de que achamos um mínimo e não um máximo, mas como já sabemos se tratar de um mínimo, vamos pular esse passo aqui. Portanto, derivando a variância da carteira em relação ao peso do ativo 1, temos a CPO a seguir. Isolando o peso do ativo 1, temos o peso que minimiza a variância da carteira: Substituindo esses pesos na fórmula da variância da carteira, temos que seu risco (desvio-padrão) é 27,69%, que é menor que o risco do ativo 1 (41,23%) e do ativo 2 (31,62%). Certifique-se de que os valores estão corretos, repetindo os passos que já vimos na UNIDADE 8. Tente com outros pesos e verifique que você não consegue uma carteira com risco menor. Com os dados da tabela também conseguimos calcular os betas dos ativos 1 e 2 em relação à carteira de mercado. Basta aplicar a definição de beta: www.esab.edu.br 54 Claro, o beta da carteira de mercado é 1, pois seria a divisão de 0,05 por 0,05. Com os dados do retorno esperado de mercado E[RM] = 18% e da taxa livre de risco for Rf = 11%, podemos calcular o retorno esperado dos ativos 1 e 2: Podemos calcular também o beta da carteira de mínima variância, assim como seu retorno esperado. Lembre-se de que o beta da carteira é a média ponderada dos betas dos ativos. Portanto: Note que é o mesmo retorno esperado que obtemos fazendo a média ponderada dos retornos esperados, de acordo com o CAPM! Como o beta da carteira é menor do que um, quer dizer que esperamos que seja menos arriscada que o mercado, e portanto, possui um retorno esperado abaixo do retorno esperado da carteira de mercado. Uma diferença entre o risco medido pelo desvio padrão e o risco medido pelo beta é o tipo de risco medido. No primeiro caso, é uma medida do risco total. No segundo caso, é uma medida somente do risco sistemático. Note que o risco total da carteira é menor que os riscos de cada ativo individual. Porém, o beta da carteira está entre os betas do ativo 1 e do ativo 2. Isso ocorre porque a diversificação eliminou parte do risco não-sistemático, de modo que o risco total da carteira consegue ser menor que a dos ativos individuais. A correlação entre os ativos 1 e 2 é baixa, de 0,23 aproximadamente (calcule para conferir o valor!). Já o beta filtra totalmente o risco não-sistemático. Como não há como eliminar mais risco não-sistemático, o beta da carteira está entre os betas dos ativos. www.esab.edu.br 55 13 CAPM: Prós, contras e alternativas Objetivo Discutir deficiências do CAPM e apresentar modelos alternativos para apreçamento de ativos. O CAPM parece ser um modelo realmente atrativo para estimar o retorno esperado de um ativo. Ou em outras palavras, estimar quão arriscado é esse ativo. É um modelo relativamente simples e intuitivo, que deriva da moderna teoria de carteiras. Ele separa explicitamente o risco sistemático do não-sistemático e, como vimos, é relativamente fácil de implementar. Porém, como qualquer modelo, ele possui deficiências. Talvez a mais aparente seja definir a carteira de mercado, e medir seu preço. Comentamos que fazemos uma aproximação, usando um índice de ações. Porém, por mais que seja abrangente o índice de ações, por definição ele está longe de ser uma carteira de mercado ideal. Como o nome diz, ele só cobre ações. Talvez essa seja a grande crítica ao CAPM: é muito difícil identificar a carteira de mercado! Outra coisa que pesa contra o CAPM é que a evidência empírica não é conclusiva. O que isso quer dizer? Quer dizer que os pesquisadores da área não chegaram a um consenso, ou seja, suas opiniões possuem divergências sérias sobre a validade prática do CAPM. Vários estudos apontam que a implementação do CAPM na prática é falha, deixando de fora fatores importantes na determinação do retorno dos ativos. Vamos a eles. Modelo de três faores de Fama & French Ao longo das décadas
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