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TENÍASE E CISTICERCOSE

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TENÍASE E CISTICERCOSE
· Aspectos Gerais
Vermes platelmintos pertencentes à classe Cestoda:
- Corpo segmentado e achatado dorsoventralmente
- Órgãos de adesão na extremidade anterior ventosas
- Hermafroditas cada verme possui um aparelho reprodutor feminino e um masculino
- Não possuem aparelho digestório absorvem nutrientes a partir de seu tegumento
· Família Taenidae
Taenia solium:
- HD homem
- HI suínos
Taenia saginata:
- HD homem
- HI bovinhos
 Há também outras espécies que podem acometer o homem de forma acidental:
1. T. hydatigena: HD – cães/HI – roedores
2. T. ovis: HD – canídeos/HI – ovinos
3. T.crassiceps: HD – canídeos/HI – roedores
4. T. multiceps: HD – canídeos/HI – ovinos
· Complexo Teníase-Cisticercose
Doenças diferentes causadas pela mesma espécie (Taenia solium) porém em diferentes fases do ciclo de vida formas adultas e larvares
Tenia saginata teníase
Teníase:
É uma alteração causa pela presença do verme adulto da Taenia solium ou Taenia saginata no intestino delgado do hospedeiro definitivo (humanos).
- Verme adulto
- No intestino delgado do homem ocorre a reprodução sexuada desses vermes homem como hospedeiro definitivo
Cisticercose:
Presença da larva (denominada como canjiquinha) nos tecidos de hospedeiros intermediários.
- Larvas do parasito cisticerco
- Homem é hospedeiro intermediário
- Tecido subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral e ocular
OBS: cisticerco dos suínos origina o verme adulto nos humanos
· Epidemiologia
As tênias são encontradas em todas as partes do mundo em que a população tem o hábito de comer carne de porco ou de boi, crua ou malcozida.
T. saginata:
- 77 milhões de infectados (cosmopolita)
- 2 milhões na América do Sul
- Lugares comuns: África, região do Mediterrâneo, Ásia, América do Sul e América Central
T. solium:
- Cosmopolita rara em comunidades islâmicas (não comem carne suína)
- 2,5 milhões de infectados
- Lugares comuns: América Latina, África e Ásia poucos focos na Europa
Cisticercose:
- Condições sanitárias e higiene pessoal
- Endêmica em áreas rurais da América Latina, África e Ásia
- 30 a 50 milhões de pessoas infectadas
- Neurocisticercose: 50 mil mortes/ano
· Morfologia
Adultos: 
- Apresentam corpo achatado dorsoventralmente em forma de fita, dividido em escólex (cabeça), colo (pescoço) e estróbilo (corpo).
- Cor esbranquiçada
- 4 a 12 metros
- São hermafroditas
- Extremidade anterior: 
1. Escólex: região onde se encontra as 4 ventosas formadas de tecido muscular (órgão de fixação à mucosa do intestino delgado)
2. Colo: porção mais delgada do corpo onde se encontram as células do parênquima que estão em intensa atividade de multiplicação (zona de crescimento e formação das proglotes)
3. Estróbilo: inicia-se após o colo, permite o reconhecimento de órgãos internos ou da segmentação do estróbilo corpo segmentado em proglotes
As proglotes possuem individualidade reprodutiva e alimentar:
· Proglotes jovens: mais curtas e apresentam o início do desenvolvimento dos órgãos genitais fenômeno conhecido por protandria
· Proglotes maduras: possuem os órgãos reprodutores completos fecundação
· Proglotes grávidas: são mais cumpridas e sofrem o processo de involução dos órgãos genitais internamente enquanto o útero contendo ovos do parasito vão se ramificando cada vez mais.
Proglote grávida da Taenia solium:
- Quadrangular
- 12 pares de ramificações do tipo dendrítico
- 80 mil ovos
Proglote grávida de Taenia saginata:
- Retangular
- 26 ramificações do tipo dicotômico
- 160 mil ovos
OBS: as proglotes sofrem apólise, ou seja, desprendem-se do estróbilo.
Apólise em T. solium: eliminados passivamente, de 3 a 6 anéis unidos.
Apólise em T. saginata: proglotes destacam-se separadamente, sendo eliminadas uma a uma.
Diferenças entre Taenia solium e Taenia saginata:
Ovos: 
- Morfologicamente iguais
- 30 mm de diâmetro
- Esféricos
- Possui embrióforo casca protetora (quitina) que confere resistência ao ambiente
- Interior: embrião (oncosfera) 3 pares de acúleos e membrana dupla
- Ovo com coloração acastanhada
Cisticerco: Larvas de tênias
A parede do cisticerco é composta por 3 membranas:
· Cuticular (externa)
· Celular (intermediária)
· Reticular (interna)
Estágios da larva em tecido humano:
· Estágio vesicular:
- Cisticerco apresenta membrana vesicular delgada e transparente, líquido vesicular incolor e escólex normal
- Larva pode permanecer ativa por tempo indeterminado ou iniciar processo degenerativo a partir da resposta imunológica do hospedeiro
· Estágio coloidal: líquido vesicular turvo (gel esbranquiçado) e escólex em degeneração alcalina
· Estágio granular: membrana espessa, gel vesicular apresenta deposição de cálcio e o escólex é uma estrutura mineralizada de aspecto granular
· Estágio granular calcificado: o cisticerco apresenta-se calcificado e de tamanho reduzido.
Cisticerco de T. solium:
- Vesícula translúcida com líquido claro
- Escólex com 4 ventosas, rostelo e colo
Cisticerco de T. saginata:
- Vesícula translúcida com líquido claro
- Escólex com 4 ventosas e colo ausência de rostelo
· Habitat
- Tanto a T. solium quanto a T. saginata, na fase adulta ou reprodutiva, vivem no intestino delgado humano.
- O cisticerco da T. solium é encontrado em tecidos subcutâneos, muscular, cardíaco cerebral e ocular de suínos e acidentalmente em humanos.
· Ciclo de Vida
Os humanos parasitados eliminam as proglotes grávidas cheias de ovos no meio externo, e neste meio as proglotes se rompem liberando os ovos no ambiente. Um hospedeiro intermediário próprio (suínos para T.solium e bovinos para T. saginata) ingere os ovos e, no estômago o embrióforo (casca do ovo) sofre a ação da pepsina, que atua sobre as substâncias dos blocos de quitina. No intestino, as oncosferas sofrem a ação dos sais biliares e assim, são ativadas e liberadas do embrióforo. Após sua liberação, a oncosfera penetrará com o auxílio dos acúleos e, após adaptarem-se às condições fisiológicas do hospedeiro irão penetrar as vênulas, atingindo a circulação venosa e linfática mesentéricos. Na corrente sanguínea, a oncosfera irá ser transportada para órgãos e tecidos até atingirem seu local de implantação por bloqueio capilar, assim atravessarão a parede dos vasos se instalando em tecidos circunvizinhos.
Após instaladas, as oncosferas desenvolvem-se em cisticercos (larvas) em qualquer tecido mole (pele, músculos esqueléticos e cardíacos, olhos, cérebro) e, no interior dos tecidos perdem os acúleos e, cada oncosfera transforma-se em um pequeno cisticerco delgado e translúcido. A infecção humana irá ocorrer por meio da ingestão de carne crua ou malcozida de porco ou boi infectado e, no organismo humano, o cisticerco ingerido sofrerá a ação do suco gástrico, envaginando-se e fixando-se através do escólex na mucosa do intestino delgado, onde transforma-se em uma tênia adulta. Cerca de 3 meses após a ingestão do cisticerco, inicia-se a eliminação das proglotes grávidas no ambiente. 
Durante o parasitismo, várias proglotes grávidas se desprendem diariamente do estróbilo, três a seis de cada vez em T. solium e oito a nove (individualmente) em T. saginata. O colo, produzindo novas proglotes, mantém o parasito em crescimento constante.
Teníase:
O ciclo se inicia quando o homem ingere carne crua ou mal cozida contaminada contendo cisticerco, este sofrerá ação do ácido clorídrico e passará por um processo de evaginação. A escólex da tênia irá se ligar na mucosa do intestino delgado e a partir daí, haverá o crescimento e a formação do verme adulto. O verme adulto aos poucos irá liberar nas fezes, as proglotes grávidas que contém os ovos das tênias, e no solo, esses ovos poderão contaminar a água, hortaliças, frutas e pastos. Quando há a ingestão desses ovos pelos hospedeiros intermediários, há consequentemente a sua infecção, fechando assim o ciclo da teníase.
Cisticercose:
Quando o homem ingere alimentos ou água contaminada pelos ovos dos vermes, ele desenvolverá a cisticercose. Os ovos irão liberar os cisticercos (larvas) que penetrarão a partir da parede do intestino delgadona circulação sanguínea, uma vez na circulação sanguínea podem se alojar em diversos órgãos e tecidos (ocular, muscular e nervoso).
· Aspectos do Ciclo Biológico
No hospedeiro intermediário:
- Estômago: pepsina digere a quitina da casca do ovo
- Intestino: sais biliares promovem a ativação e liberação das oncosferas (embrião dos ovos)
- Invasão das veias: transporte por órgãos e tecidos
- Oncosfera: cisticerco (tecido mole muscular, ocular e nervoso)
No hospedeiro definitivo:
- Estômago: cisticerco evagina-se (ação do suco gástrico)
- Intestino Delgado: fixação e transformação em tênia adulta
· Transmissão
Teníase:
O hospedeiro definitivo (humano) infecta-se ao ingerir carne suína ou bovina, crua ou malcozida, infectada pelo cisticerco de cada espécie de Taenia.
Cisticercose:
O hospedeiro definitivo (humano) infecta-se ingerindo acidentalmente ovos de T. solium que foram eliminados nas fezes de portadores de teníase.
 Mecanismos possíveis de infecção humana:
· Auto-infecção externa:
Ocorre em portadores de T. solium quando eliminam proglotes e ovos de sua própria tênia, levando-os à boca pelas mãos contaminadas ou pela coprofagia (condições precárias de higiene).
· Auto-infecção interna:
Pode ocorrer durante vômitos ou movimentos retroperistálticos do intestino, possibilitando presença de proglotes grávidas ou ovos de T. solium no estômago e, após a ação do suco gástrico e posterior ativação das oncosferas voltariam ao intestino delgado, desenvolvendo um ciclo auto-infectante.
· Heteroinfecção:
Ocorre quando os humanos ingerem alimentos ou água contaminados com os ovos da T. solium disseminados no ambiente através das dejeções de outro paciente.
· Imunologia
A resposta imunológica celular de pacientes com cisticercose vem sendo pesquisada por vários autores necessitando, porém, de maiores estudos.
- Aumentos significativos de linfócitos T e B e níveis de eosinófilos aumentados no sangue e no líquido cefalorraquidiano (LCR).
- Antígenos de cisticerco induzem o aumento da concentração das imunoglobulinas IgG, IgM, IgE, IgA e IgD no soro de indivíduos com neurocisticercose.
· Patogenia e Sintomatologia
Teníase
- Fenômenos tóxicos alérgicos (alergias): verme elimina substâncias/antígenos que acionam a resposta imune alérgica.
- Hemorragias: fixação e destruição do epitélio intestinal devido às ventosas.
- Inflamação envolvida nas lesões.
- Assintomática
- Tonturas, apetite excessivo, vômitos 
- Dor abdominal: ‘’dor de fome’’
- Perda de peso, náuseas e astenia (fraqueza)
- Constipação ou diarréia (alternados)
- Prurido anal (Taenia saginata)
- Casos raros: apendicite ou obstrução intestinal (provocada pelo estróbilo)
Cisticercose
Grande variedade de manifestações e graves alterações nos tecidos.
- Muscular ou subcutânea: assintomática/pouca alteração cisticercos instalados desenvolvem reação local, formando uma membrana adventícia fibrosa.
· Quando numerosos cisticercos se instalam em músculos esqueléticos, podem provocar: dor, fadiga ou cãibras.
· No tecido subcutâneo, o cisticerco é palpável em geral indolor.
- Coração: palpitações e ruídos anormais (arritmias) ou dispnéia (cisticercos nas válvulas).
- Globo ocular: cisticerco alcança o globo ocular através dos vasos da coróide, instalando-se na retina podendo gerar deslocamento ou perfuração da retina, atingindo o humor vítreo.
· Perda parcial ou total de visão reação inflamatória exsudativa formada contra o cisticerco que promoverão opacificação do humor vítreo (catarata), sinequias posteriores da íris e uveítes.
- Parenquimatosos: os cisticercos parenquimatosos podem ser responsáveis por processos compressivos, irritativos, vasculares e obstrutivos.
- Sistema Nervoso Central: formas mais graves da doença
As localizações mais frequentes dos cisticercos do SNC são leptomeninge e córtex (substância cinzenta).
· Ação mecânica do cisticerco lesão
· Processos inflamatórios (início de degeneração da larva) pode provocar encefalite focal, edema dos tecidos adjacentes, vasculite, ruptura da barreira hematoencefálica surgindo reações a distância.
Manifestações clínicas mais frequentes:
· Epilepsia (crises epilépticas)
· Síndrome da hipertensão intracraniana
· Formação de fibroses, granulomas e calcificações
· Cefaléia
· Meningite cisticercótica
· Distúrbios psíquicos
· Diagnóstico
Parasitológico:
É feito pela pesquisa de proglotes e, mais raramente, de ovos de tênia nas fezes pelos métodos rotineiros ou pelo método da fita gomada.
· Para o diagnóstico específico, há necessidade de se fazer a tamização lavagem em peneira fina de todo o bolo fecal, recolher as proglotes existentes e identificá-las pela morfologia da ramificação uterina.
A detecção de antígenos de ovos da Taenia sp. nas fezes melhorou sobremaneira o diagnóstico de teníase.
Clínico:
Tem como base aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais relatos como procedência do paciente, criação inadequada de suínos, hábitos higiênicos, serviço de saneamento básico, qualidade da água utilizada para beber e irrigar hortaliças, ingestão de carne de porco malcozida.
Laboratorial:
Pesquisa do parasito, através de observações anatomopatológicas das biópsias, necropsias e cirurgias. O cisticerco pode ser identificado por meio direto pelo exame oftalmoscópico de fundo de olho ou ainda pela presença de nódulos subcutâneos no exame físico.
Imunológico:
Teste imunoenzimático (ELISA) é recomendado devido a melhora na qualidade e preparo de antígenos.
Atualmente a técnica de EITB (Imunoblot ou Enzyme-Linked Immunoelectrotransfer Blot) é considerada a melhor para o diagnóstico da cisticercose em decorrência da alta sensibilidade e especificidade produzindo altos valores preditivos positivos sendo útil em estudos epidemiológicos.
Neuroimagens:
O diagnóstico através do RX é limitado pois só evidencia cisticercos calcificados anos após a infecção.
O diagnóstico através da tomografia computadorizada (TC) e a ressonância nuclear magnética (RNM) do cérebro foi um grande avanço para a neurocisticercose informações quanto à localização, ao número, à fase de desenvolvimento e à involução dos cisticercos.
· Tratamento
Teníase
As drogas mais recomendadas para o tratamento da teníase por Taenia solium ou por Taenia saginata são a niclosamida ou o praziquantel.
Niclosamida atua no sistema nervoso da tênia, levando a sua imobilização e facilitando sua eliminação com as fezes.
· 4 comprimidos: 2 em 2 com intervalo de uma hora pela manhã, 1 hora após a ingestão dos últimos comprimidos, o paciente deverá ingerir duas colheres de leite de magnésio para facilitar a eliminação das tênias inteiras.
Praziquantel quatro comprimidos de 150mg cada (5-10mg/kg) dose única.
· O praziquantel não deve ser empregado para o tratamento da teníase em pacientes com as duas formas da doença, ou seja, a teníase e a cisticercose. Neste caso, é recomendado o tratamento separado e específico para cada uma das formas clínicas.
Albendazol (adultos e crianças)
Neurocisticercose
Albendazol Esta droga é metabolizada no fígado, produzindo o produto ativo, sulfoxi de albendazol, que atua sobre o cisticerco.
Com o propósito de atenuar a reação inflamatória observada durante o tratamento, recomenda-se a associação de Dexametasona.
· Administrado por 8 dias (10-15mg/kg)
· Para a maioria é aconselhada a prescrição de anti-helmínticos específicos e drogas sintomáticas, como anticonvulsivantes e corticosteroides e, se necessário, a cirurgia.
· Profilaxia
- Impedir acesso bovino/suíno às fezes humanas
- Saneamento básico
- Tratamento em massa em áreas endêmicas
- Educação em saúde
- Cozimento adequado de carnes
- Congelamento da carne a 15ºC por 6 dias
- Inspeção das carcaças nos abatedouros
- Lavar alimentos