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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DISCIPLINA: GEOGRAFIA URBANA E DOS SERVIÇOS PROFª ALEXSANDRA MARIA VIEIRA MUNIZ DUPLA DE TRABALHO: Alana Sales Neco Joana Malheiros Carlos ESTUDO DIRIGIDO 1. Comente como se desenvolveram os estudos de Geografia Urbana segundo David Clark. Segundo David Clark, os trabalhos desenvolvidos na área da Geografia Urbana “foram extremamente descritivos” (p. 23) e limitavam-se a descrição da aparência física a partir da subjetividade do estudioso. No início do século XX, Hassert e Blanchard dirigiram seus estudos à análise “do sítio e da situação das cidades” (p. 25), abordagem também presente na obra Urban Geography de Taylor (1949). Dickinson também foi outro estudioso que valorizou bastante a questão do sítio e da situação. Segundo ele, eram as questões primordiais do Geografia Urbana. A abordagem do meio urbano pelos aspectos físicos limita os seus estudos, deixando de lado os aspectos históricos e sociais. No período entre-guerras emergiram duas vertentes dos estudos de Geografia Urbana, uma focando na morfologia a partir de suas construções como um reflexo direto “de sua origem, crescimento e função” (p. 26). A outra, tinha “um enfoque na escala interurbana das cidades e suas regiões. Para Dickinson (1948), o povoamento urbano em geral tem uma relação bidirecional com seus arredores, que ultrapassa os seus limites políticos.” (p.26). esta segunda abordagem teve uma considerável importância. O método dedutivo passou a ser utilizado no intuito de obter respostas aos questionamentos sobre a localização urbana e áreas de serviço em substituição ao método indutivo, o que foi considerado por Davies (1972) como uma “revolução conceitual.” Durante os anos 60 (século XX) a elaboração de modelos a partir da utilização do método dedutivo foi amplamente usada nos estudos da Geografia Urbana através de dois campos diferentes: “estudos da localização de cidades e estudos da estrutura social e espacial interna das cidades.” (p. 29) Um trabalho muito importante publicado na área foi Central Places in Southern Germany (1933), “que propiciou ampla base teórica para a análise locacional em Geografia Urbana [...] Ela demonstrou que princípios e relações fundamentais determinam a distribuição das cidades, e que esses fatores podem ser modelizados de maneira a se atingir explicações teóricas gerais de localização urbana.” (p. 29) Na década de 1970 desenvolveram-se paralelamente os estudos interurbanos e intraurbanos. O primeiro busca estudar a interação e a interdependência entre os conjuntos de cidades como um todo em vez de um centro urbano em particular. O segundo, aborda os padrões de habitação das cidades, uma inovação da Escola de Ecologia Humana de Chicago. Ainda na década de 70, na perspectiva de Herbert e Jonhston (1978), identificam-se duas influências. “A primeira é a abordagem comportamental e se interessa pelas maneiras como os indivíduos percebem e tomam decisões a respeito da cidade. A segunda é a abordagem da economia política, que pretende explicar os processos urbanos e considerar os problemas urbanos por referência a ideologias políticas alternativas.” (p.31) Esta última se divide em duas áreas de específicas de estudo. Uma com interesse na análise dos conflitos entre grupos e o papel desempenhado pelos setores dominantes que exercem poder e influência na estrutura das cidades. E a segunda com forte influência da obra marxista, aponta para a argumentação de as injustiças sociais “são aspectos inerentes das sociedades organizadas sobre a base capitalista, e que as mudanças na estrutura urbana somente podem ser alcançadas através da eliminação da propriedade privada e, em particular, dos direitos de monopólio da terra.” (Harvey, 1973) 2.Conforme David Clark ,Ana Fani e Roberto Lobato diferencie: Urbano: O urbano segundo Carlos (1994), transcende à ideias de cidade [..] produzindo através das aspirações e necessidades de classes [..] sendo uma obra histórica que se produz continuamente a partir da contradição inerente à sociedade. Cidade: A cidade se apresenta com uma realização humana, uma criação que vai se constituir ao longo do processo histórico (Carlos,1994). Ou seja, seu entendimento varia de acordo com as mudanças do meio social, histórico e econômico. Espaço Urbano: O espaço urbano para Corrêa (2000), entende-se por um complexo conjunto de usos de terra [...] simultaneamente fragmentado e articulado. 3.Quem produz o espaço urbano? Corrêa (2000), compreende que o espaço urbano se faz construir com a influência de alguns agentes que segundo o mesmo transformam o espaço urbano, denominado-os de agentes produtores do espaço urbano. Corrêa (2000), constitui esses agentes como: a) proprietários dos meios de produção sendo eles, grandes proprietários de indústrias e das grandes empresas, b) proprietários fundiários compreendido pelos indivíduos que obtêm maior renda fundiária de propriedades, c) promotores imobiliários que são, agentes que realizam total ou parcialmente nas operações de incorporação, financiamento, estudo técnico, construção ou produção física de imóveis) e comercialização ou transformação do capital-mercado em capital-dinheiro) e d)Estado participando na produção do espaço com o investimento do capital público na produção dos espaços, regulamentação do solo, impostos, pesquisas, etc… Ele também considera as classes excluídas como agente que modelam o espaço urbano, logo as mesmas com suas construções aglomeradas, ocupadas e/ou apropriadas, tende a modificar a paisagem urbana, principalmente na criação de favelas. 4. Qual a forma de atuação (estratégias e ações) de cada um dos agentes produtores do espaço urbano? De acordo com Corrêa (2000), os proprietários dos meios de produção (industriais e grandes empresas de comércio) são “grandes consumidores de espaço” (p.13), necessitam de terrenos grandes e baratos logo, a especulação fundiária não é atraente para eles, uma vez que o alto preço da terra eleva os custos de expansão. Atinge também “os salários da força de trabalho: gera-se assim uma pressão dos trabalhadores visando salários mais elevados, os quais incidirão sobre a taxa de lucro das grandes empresas, reduzindo-a.” (p.14) Por estas razões também há conflitos entre os proprietários dos meios de produção e os proprietários fundiários, pois estes retém a terra para diminuir a oferta e elevar os preços aumentando a renda da terra. Para solucionar os conflitos os empresários pressionam o Estado para que realize desapropriações nas terras de interesse e a instalação de infra-estrutura necessária ao modo de produção inclusive, habitações populares nos locais próximos às grandes empresas. O interesse dos proprietários fundiários é na conversão da terra rural em terra urbana, pois esta tem maior valor. Para obter a valorização da terra rural os proprietários exercem pressão junto aos governos, principalmente as prefeituras “visando interferir o processo de definição das leis de uso do solo e do zoneamento urbano.” (p. 16). Os mais poderosos buscam obter uma valorização maior através dos investimentos públicos em infra-estrutura. Outra estratégia adotada pelos proprietários refere-se ao uso residencial, pode ser a urbanização de status ou a urbanização popular dependendo da localização e da presença ou não de amenidades (mar, áreas verdes, etc). A urbanização de status se dá pela valorização de uma área periférica, mas com a presença de amenidades e com o valor agregado investimento em infra-estrutura que pode público ou do próprio proprietário. acrescenta-se a isto as campanhas publicitárias dando bastante ênfase às qualidades da área, “ao mesmo tempo que o preço da terra sobe constantemente” (p. 18), mudando a condição do bairro de periférico para bairro de status. Um exemplo disto é a Aldeota, que “num passado mais ou menos distante” (p. 18), foi uma periferia urbana. Uma outra estratégia adotada pelosproprietários fundiários em áreas sem amenidades e segregadas sócio e espacialmente, é lotear os terrenos como forma de obter renda da terra. “As habitações serão construídas pelo sistema de autoconstrução ou pelo Estado, que aí implanta enormes e monótonos conjuntos habitacionais.” (p. 19) Entre os promotores imobiliários não há interesse em produzir habitações populares. Isto se deve aos baixos salários da grande parcela da população frente ao alto custo de se produzir imóveis com fins capitalistas, ou seja, não há rentabilidade, exceto quando: “a) [...] são superlotadas por várias famílias ou por várias pessoas solteiras que alugam um imóvel ou um cômodo; b) [...] se a qualidade da construção for péssima, com o seu custo reduzido ao mínimo [...] c) [...] quando verifica-se enorme escassez de habitações, elevando os preços a níveis insuportáveis.” (p. 21-22) A prioridade dos promotores imobiliários é produzir casas de luxo para satisfazer ao público com condições financeiras de adquiri-las e, quando este mercado se encontra saturado, busca então a ajuda do Estado para a produção de habitações populares. O poder público neste último caso, atua concedendo “créditos para os promotores imobiliários, facilidades para desapropriação de terras e créditos para os futuros moradores.” (p. 22) A ação dos promotores imobiliários resulta resulta em espaço urbano altamente desigual, “criando e reforçando a segregação residencial que caracteriza a cidade capitalista.” (p.23-24) O Estado (neste caso, o capitalista) também atua como um dos agentes produtores do espaço, podendo assumir múltiplos papéis. Ele tanto pode ser consumidor de espaço, como proprietário fundiário, promotor imobiliário e, ao mesmo tempo, ser o regulador do uso do solo “e alvo dos chamados movimentos sociais urbanos.” (p. 24) O Estado pode atuar nas três esferas de governo, ou seja, federal, estadual e municipal. Porém, esta ação é mais evidente no âmbito municipal, uma vez que a legislação brasileira concede amplos poderes às prefeituras sobre o espaço urbano. Os governos atuam também na segregação residencial das cidades através do valor do imposto predial e territorial urbano (IPTU) diferenciado, o que reflete no preço dos terrenos e dos imóveis, gerando assim uma divisão social. Fato que também é evidenciado pela instalação diferenciada de equipamentos de consumo coletivo no espaço urbano. Através da renovação urbana, o Estado capitalista consegue atender a vários interesses ao mesmo tempo. Retira os moradores pobres das áreas próximas ao centro da cidade, abrindo espaço para os promotores imobiliários realizarem seus negócios nestas terras altamente valorizadas por conta da localização. Além disso, atende ao interesse também das empreiteiras, construindo e ampliando vias, que por sua vez impulsiona a indústria de “meios de transporte, entre eles aqueles de uso individual.” (p. 28) Na sociedade capitalista, que é dividida em classes, o acesso à moradia é extremamente desigual, onde uma “parcela enorme da população não tem acesso, quer dizer, não possui renda para pagar o aluguel de uma habitação decente e, muito menos, comprar um imóvel.” (p. 29). Assim, resta aos grupos sociais excluídos, habitar densamente os cortiços próximos ao centro das cidades, os conjuntos habitacionais, os loteamentos com casas autoconstruídas (normalmente distantes do centro), favelas ou ainda morar nas ruas. Porém, é nas favelas”que os grupos sociais excluídos tornam-se, efetivamente, agentes modeladores, produzindo seu próprio espaço, na maioria dos casos independentemente e a despeito dos outros agentes.” (p. 30). A localização das favelas visa atender de imediato dois problemas: moradia e o acesso ao local de trabalho. Isto pode ser observado na cidade do Rio de Janeiro, onde cada favela tem uma certa proximidade com algum mercado de trabalho. A favela pode evoluir para um bairro popular sendo urbanizada lentamente, em parte pela ação dos próprios moradores (que melhoram suas casas e implantam pequenos negócios) e pela ação do Estado, atendendo às reivindicações da população ou para fins eleitoreiros. 5. Disserte sobre a origem das cidades, os elementos necessários para a sua constituição e quais as diferenças entre as cidades antigas, medievais e modernas. Segundo Carlos (1994), a cidade nasce da necessidade de se organizar um dado espaço no sentido de integrá-lo e aumentar sua independência [...] Com isso, Carlos concebe em seus texto sobre a “Cidade: Uma perspectiva histórica”, compreendendo a origem das mesmas em torno de 5.000 a.C em povoamento na Ásia e que tinha direta influência dos recursos naturais como aproximação de rios e mares, com isso se compreende as cidades antigas como os primeiros povoamentos existentes e tinham a finalidade de escoar a produção do campo na qual sobressaia a produção agrícola manual. Entendo que, ao longo do tempo as formas e funções da cidade se modificou com base nos processos históricos econômicos e sociais de cada época, como isso, compreende-se no regime econômico do feudalismo, que marca o processo da constituição das cidades no tempo medieval, a mesma possuiu um caráter comercial a fim de escoamento da produção do campo, entendido através de Sjoberg apud Carlos (1994), que começou-se a se pensar em uma organização social, devido ao avanço agrícolas existente naquele tempo, como na mudança no arar da terra as funções antes produzidas braçalmente, eram produzidas por máquinas e animais, com isso havia-se um grande excedente agrícola e era necessario pessoas para colheita, armazenamento e distribuição, logo, o homem passou não mais depender exclusivamente da terra. Como consequência de um modo de produção diverso, surge uma nova estrutura de classe social, onde a terra passa a ser sinônimo de riqueza, sendo ela dividida em, nobreza, igreja, ordens religiosas e os lavradores. Logo com o declínio do feudo a economia auto-suficiente passa a ser uma economia monetária, a produção não visa apenas a expansão mais o fator circulação, ou seja, havia que produzir e a mercadoria teria que circular. Com a mecanização do trabalho agrícola, a cidade obtém um teor tanto comercial quanto de moradia, marcada pelo surgimento do capitalismo dando moldes a cidades modernas. Nesse momento se percebe uma ida das pessoas do campo para a cidade, pois os camponeses que antes sobreviviam da produção auto-suficiente, mas passou a ter rendimento de outras formas como a de comercialização dos bens produzidos no campo, logo, a vinda das pessoas do campo pra cidade propiciou um aumento espacial da cidade e de centros industriais, comerciais, vilas, etc… moldando o espaço da cidade para o que conhecendo hoje. É notório perceber a influência da economia ou melhor da estruturação econômica presente em cada estágio da história e da construção da cidade e do espaço urbano, nisso se vislumbra a influência da produção comercial que nitidamente reestruturou a cidade além das necessidades sociais tanto na vista de donos de indústria e terras, quanto de lavradores e assalariados, assim concordando com a autora que a cidade nasce da necessidade por uma organização espacial e de integração e assim vemos a participação dos denominados por Corrêa (2000) de agentes produtores do espaço urbano estando concomitantemente ativos durante todo o processo de estruturação da cidade, visto suas diferentes concepções pela história. Assim concordando também com Carlos (1994), que a cidade é reflexo da passagem histórica e social.
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