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Ava���ção Ps����ógi�� O que é avaliação psicológica - métodos, técnicas e testes (Hutz, Bandeira e Trentini) É um processo que tem por objetivo reduzir hipóteses, ou diagnósticos, sobre uma pessoa ou um grupo - funcionamento intelectual, características da personalidade, aptidão para desempenhar uma ou um conjunto de tarefas. A testagem psicológica é parte da avaliação psicológica. Não se deve iniciar um procedimento, com pessoas ou grupos, em nenhuma área da psicologia sem um diagnóstico ou uma avaliação inicial dessas pessoa ou grupo - é preciso avaliar os resultados. Teste psicológico É um instrumento que avalia construtos que não podem ser observados diretamente. Urbina (2014,p.2) diz que o teste psicológico é um “... procedimento sistemático para coletar amostras de comportamento relevantes para o funcionamento cognitivo, afetivo ou interpessoal e para pontuar e avaliar essas amostras de acordo com normas”. Um teste psicológico deve permitir que o resultado obtido por uma pessoa possa ser, de alguma forma, contextualizado. Uma avaliação psicológica levaria a respostas - não seria feita apenas com testes. Os manuais de testes normalmente apresentam tabelas com normas para o instrumento. É importante verificar os participantes da amostra de normalização - uso de normas válidas de um grupo para outro pode levar a erro; nem sempre as distribuições de construtos psicológicos são normais. Ponto de corte - a partir de que escore diremos que o candidato está apto? Ou o que a pessoa tem alta probabilidade de ter um transtorno específico? - são imprescindíveis, sempre implicarão algum erro de falso-positivo e falso-negativo, não há como eliminar a falha. Validade e fidedignidade - uma margem de erro estará sempre presente Testes são fundamentais no processo de avaliação psicológica. São instrumentos objetivos que obtemos dos testes - a avaliação psicológica envolve um conjunto de métodos e técnicas, e os testes são uma parte (não exclusiva) desse processo. - Entrevista Pode ser feita com diferentes finalidades e com vários objetivos.É um procedimento complexo que requer treinamento especializado. Podem ser estruturadas, semiestruturadas ou informais. As primeiras seguem um roteiro muito preciso - uma lista de perguntas a seguir com o objetivo de colher dados específicos que permitam gerar hipóteses diagnósticas ou produzir comparações entre todas as pessoas entrevistadas. Semiestruturadas - tem um roteiro e um conjunto básico de questões, mas o entrevistador não fica totalmente preso a esse roteiro - há alguns tópicos que devem ser abordados ao longo da entrevista. Informais - não têm um roteiro preestabelecido, ele ouve o entrevistado e faz perguntas ou observações - o entrevistador tem possibilidade de descobrir novas informações ou de explorar um tópico de forma mais aprofundada. Como decidir qual tipo usar? Essa decisão depende do objetivo da entrevista e do próprio entrevistador. Para uma entrevista inicial geralmente são usadas entrevistas não estruturadas. Entrevistas de seleção de pessoal tendem a ser estruturadas ou semiestruturadas; entrevistas clínicas ou de acompanhamento podem variar dependendo do objetivo. Entrevista é um processo de interação verbal, é importante observar atentamente o entrevistado - gestos, expressão facial, tom de voz, silêncios e hesitações podem trazer informações importantes. - Observação É um método que gera muitas informações em maior ou menor escala. Questões básicas sobre mensuração Escores produzidos por instrumentos psicométricos favorecem o teste empírico de hipóteses e a avaliação da plausibilidade de modelos teóricos explicativos - explicações teóricas dos fenômenos devem poder ser contrastadas com a realidade. O uso de métodos quantitativos pode ajudar pesquisadores a obter respostas a questões centrais de modo a aprofundar o conhecimento. Avaliação da efetividade de intervenções - é de interesse de psicólogos e da sociedade saber quais intervenções são mais efetivas para o tratamento de condições psicológicas ou psiquiátricas específicas - são necessárias investigações empíricas, avaliação quantitativa de variáveis psicológicas. Os resultados de uma testagem psicológica, geralmente, produzem escores que localizam um indivíduo em relação a seu grupo de referência. A quantificação facilita a reprodutibilidade em pesquisa - uma medida nunca tem como alvo um objeto, e sim uma propriedade de um objeto. - Teoria clássica dos testes O foco da TCT é nos escores observados produzidos pelos instrumentos psicométricos e em quanto erro de medida eles apresentam - escores produzidos pelos testes geralmente contêm erros. O experimento mental que fundamenta a TCT é o de que o escore verdadeiro seria a média para os escores de um indivíduo, caso fosse possível que ele respondesse ao instrumento infinitas vezes, todas elas sem lembrar de ter respondido antes. O foco da TCT é, então, estimar o erro contido nos escores observados, a fim de conhecer melhor o escore verdadeiro - fidedignidade ou confiabilidade. A fidedignidade determina o quanto da variância ou variabilidade nos escores observados X é devida aos escore verdadeiro t, e não ao erro aleatório - quando igual a 1,00 é maximamente fidedigno. Na TCT a fidedignidade é medida por coeficiente cujos valores situam-se entre 0 e 1, sendo aceitos como desejáveis valores acima de 0,70. A ideia de usar o coeficiente alfa é saber o quanto ele é consistente em se aproximar do escore verdadeiro do indivíduo, o que nos dá uma estimativa do erro de medida ocorrido - o coeficiente tem sido, tradicionalmente, utilizado para avaliar a consistência interna de dados coletados transversalmente. Desvantagens são os pressupostos improváveis assumidos pelas técnicas da TCT - paralelismo: se fossem feitas infinitas aplicações de um teste, os itens apresentariam médias e desvios-padrão idênticos, além das mesmas correlações com critérios externos, não há um teste legítimo do modelo. - Escalas de medida Quatro níveis de mensuração: 1. nominal - aplica-se quando o uso do número torna possível apenas distinguir os indivíduos. 2. ordinal - adiciona significado à representação numérica. 3. intervalar e razão - aplicam-se quando há, além da ordem, intervalos regulares entre os valores. Cada tipo de escala apresenta possibilidades em termos de operações empíricas e análises estatísticas. Qualquer nível de mensuração admite sempre todas as operações e tipos de análises dos níveis inferiores, mas não o contrário. Conceitualização de psicodiagnóstico na atualidade Psicodiagnóstico é mais comum quando, durante o seu desenvolvimento, o profissional se vale de testes psicológicos para coletar informações sobre o consultante. Nas avaliações em que esses testes não são empregados ou inexistem para os objetivos do exame, outros termos se destacam, como avaliação clínica, avaliação psicológica, entrevistas preliminares, diagnóstico psicológico. O que diferencia a avaliação clínica feita por psicólogos que nomeiam sua prática de “psicodiagnóstico” daqueles que não a chamam assim é, apenas, o uso de testes psicológicos - o uso ou não de testes depende do psicólogo e de seu pensamento clínico em relação a cada paciente. A definição de “avaliação psicológica” do CFP engloba qualquer atividade, com ou sem uso de testes: - A avaliação psicológica é compreendida como um amplo processo de investigação no qual se conhece o avaliado e sua demanda, com o intuito de programar a tomada de decisão mais apropriada do psicólogo - coleta e interpretação de dados. - A avaliação psicológica é um processo amplo que envolve a integração de informações provenientes de diversas fontes - testes, entrevistas, observações e análise de documentos. A testagem psicológica pode ser considerada um processo diferente, cuja principal fonte de informação são os testes psicológicos de diferentes tipos. Psicodiagnóstico - uma modalidade de avaliação psicológica, sem a especificação da necessidade ou não do uso de teste; o conceito éassociado ao uso de algum instrumento psicológico, mais especificamente testes que avaliam as capacidades cognitivas, e sugeriram que os profissionais que encaminham seus pacientes não sabem ao certo a nomenclatura que deve ser utilizada, usando “psicodiagnóstico”, “avaliação diagnóstica”, “psicoavaliação”, “testagem”, conforme o tipo de interesse. Não é o uso ou não de testes, ou de determinados tipos de testes, que configura a realização de um psicodiagnóstico, uma vez que, em alguns casos, o psicólogo abrirá mão do uso de testes. O psicodiagnóstico é um procedimento científico de investigação e intervenção clínica, limitado no tempo, que emprega técnicas e/ou testes com o propósito de avaliar uma ou mais características psicológicas, visando um diagnóstico psicológico (descritivo e/ou dinâmico), construído à luz de uma orientação teórico que subsidia a compreensão da situação avaliada, gerando uma ou mais indicações terapêuticas e encaminhamentos - pressupõe a adoção de um ponto de vista científico sobre o fenômeno avaliado. É perigoso considerar as práticas avaliativas apenas em sua dimensão investigativa, excluindo os aspectos interventivos e terapêuticos que lhe são inerentes. Barbieri (2008) entende que um psicodiagnóstico isento de intervenções pode trazer ao paciente muitos malefícios - pode resultar em uma experiência terapêutica negativa. Entende-se que usar o termo psicodiagnóstico apenas para as situações em que os testes psicológicos são utilizados com a intenção de tornar mais objetiva a avaliação parece estar em consonância com a visão positivista. O psicodiagnóstico abrange qualquer tipo de avaliação psicológica de caráter clínico que se apoie em uma teoria psicológica de base e que adote uma ou mais técnicas - observação, entrevista, testes projetivos, testes psicométricos. Não é sugerido a adoção do termo para situações avaliativas em contextos jurídicos ou organizacionais, uma vez que, nessas situações, estão presentes outras variáveis geralmente não encontradas no contexto clínico - não é limitado, em todos os casos, a uma avaliação de sinais e sintomas, tendo como resultado apenas um diagnóstico nosológico, o que se aproximaria muito de uma avaliação psiquiátrica. O termo é reservado para descrever um procedimento complexo, interventivo, baseado na coleta de múltiplas informações, que possibilite a elaboração de uma hipótese diagnóstica alicerçada em uma compreensão teórica. O processo de conhecer em avaliação psicológica (avaliação e medidas psicológicas produção do conhecimento e da intervenção profissional) - Processo de conhecer fenômenos ou processos psicológicos - Tendência de naturalização do conhecimento psicológico. - Pressuposto de que o trabalho profissional do psicólogo é um trabalho científico - conduta de trabalho. - Os fenômenos psicológicos nem sempre se mostram inteligíveis. A necessidade de explicar as condutas dos indivíduos em diferentes situações cria a possibilidade de estruturar modelos de investigação dos processos psicológicos subjacentes à natureza da própria conduta. Quatro elementos essenciais à configuração de esquema definidor da avaliação psicológica: o objeto do estudo, o campo teórico, o objetivo visado e o método É em torno do objetivo visado, o campo da prática, que se delineia a atividade profissional, integrada a necessidade de proceder a compreensão do objeto de estudo por meio das condições teórico-metodológicas geradas nesse processo, isto é, construídas pelos próprios motivadores de ato de querer conhecer. A necessidade de responder às demandas sociais e às possibilidades de avaliação e previsão da conduta dos indivíduos, a partir da leitura de suas condições de existência e de sua ação individual ou coletiva. O conhecimento produzido pela avaliação psicológica presume a possibilidade de enriquecimento da nossa percepção sobre os problemas individuais. O conhecimento obtido pela avaliação psicológica é um conhecimento orientado pelas teorias psicológicas - as teorias são sistemas conceituais que podem nos ajudar a encontrar a inteligibilidade dos fenômenos presentes no diagnóstico psicológico, entendendo e interpretando, articulando e organizando, sintetizando e universalizando nossa experiência - linguagem científica. A avaliação psicológica resulta de uma avaliação objetiva. Realidade intuída - se oferece imediatamente à percepção. Realidade instruída - identificada a partir de um modelo que, como uma “rede” é aplicada pelo especialista sobre os eventos de forma a poder revelar alguma inteligibilidade, lógica ou possibilidade de sentido sobre a realidade psicológica humana. O sentido das respostas está na organização da rede de significados do qual pertencem outros sujeitos, com percepção e atribuição de significados semelhantes ou bastante diferenciados. A síntese de um psicodiagnóstico espelha a sensibilidade do intérprete - a habilidade em retratar o sujeito humano desempenha um papel vital. Cinco aspectos básicos de discussão sobre a necessidade de problematizar o campo da avaliação psicológica como área de conhecimento da psicologia - pressupostos básicos. a. Os fenômenos psicológicos devem ser percebidos de forma concreta - exigem habilidades do conhecer. b. O conhecimento psicológico, produzido na avaliação psicológica, deve se organizar em torno de duas exigências metodológicas: 1. positividade - capacidade de descrever os fenômenos psicológicos, que ocorrem nos sujeitos, mas que fazem parte de um sistema de condicionantes e determinações. 2. inteligibilidade - demonstre o significado das condutas na situação em torno dos quais elas se estruturam, de que forma elas são reguladas pela percepção e vivenciadas enquanto afetos. c. Necessitamos superar as relações de determinação entre os fenômenos psicológicos pelas relações entre as variáveis ou fenômenos presentes na situação-problema a ser investigada ou avaliada - algo indesejável pertence ao sujeito (diagnóstico do sujeito) e não às características do fenômeno que ocorrem nos sujeitos (sujeito do diagnóstico). d. O campo de atuação do psicólogo deve se orientar pelo objeto de trabalho da psicologia: 1. atender e superar necessidade e problemas humanos. 2. aperfeiçoar a ciência psicológica, proporcionando saltos de qualidade na construção do conhecimento. e. O conhecimento acerca dos fenômenos psicológicos só se torna acessível se se transforma em conduta social e profissional dos psicólogos. Os profissionais da avaliação psicológica tendem a problematizar a situação em torno de dois níveis morais: 1. reguladores de conflitos entre o conhecimento oriundo das técnicas e das teorias de suporte e a complexidade dos eventos psicológicos percebidos na prática. 2. necessidade de preservar o sigilo e a guarda de informações acerca da intimidade dos indivíduos - atuação tipicamente reprodutivista dos avaliadores psicológicos. Observação e medida de fenômenos psicológicos (Avaliação psicológica: conceito, método e instrumentos) A necessidade de explicar as condutas dos indivíduos criou a possibilidade de estruturar modelos de investigação sobre as características e as dimensões dos processos psicológicos subjacentes à natureza das condutas. Avaliação psicológica - descrever e explicar fenômenos ou processos psicológicos por meio da atribuição de valor ou medida às suas propriedades. Querer superar necessidades humanas ou desafios em termos de adaptação ao ambiente, de superação de problemas ou de redução de danos à saúde. Conhecer é um processo de ambientação, gradual e permanente. O processo de querer conhecer é concomitante ao processo de intervir. O processo de conhecer implica mobilizar-se frente às circunstâncias, intervindo nelas exatamente para poder conhecer. Um processo de avaliação psicológica depende da atitude orientada para a compreensão do que se quer avaliar, da habilidade do avaliador em escolher estratégias e procedimentos específicos às necessidades oriundas das demandas por avaliação. Um dos principais entravespara o psicólogo é organizar os instrumentos e os procedimentos necessários à compreensão dos fenômenos psicológicos. Organizar é optar por um método, uma estratégia que define de que maneira o profissional irá relacionar o que se quer conhecer com o que está disponível no âmbito técnico-científico para ser utilizado. Avaliação psicológica: conceito, método e modalidades Avaliação psicológica - um corpo de conhecimentos orientados metodologicamente para explicação e resolução de problemas humanos em matéria de psicologia. Quatro elementos básicos: 1. objeto de estudo - são os fenômenos e processos psicológicos. 2. objetivo - estimar o valor ou qualidade dos fenômenos psicológicos - pressupostos básicos do que denomina avaliar: a. descrever e interpretar o percebido pelas pessoas. b. caracterizar as variações dos aspectos observados (ocorrência, frequência, intensidade). c. estimar valores representativos dessas descrições e variações. 1. campo teórico - são as teorias psicológicas, construções teóricas, geralmente sistematizadas na forma de conceitos amplos ou específicos, que servem para explicar fenômenos e processos psicológicos não observáveis diretamente. 2. métodos - clínico e experimental. O experimental é o mais utilizado pelos pesquisadores que trabalham na perspectiva de construir instrumentos de medida ou explicar o objeto de conhecimento. Três recursos metodológicos são fundamentais: a. a observação do comportamento. b. o inquérito c. a mensuração. A avaliação psicológica é um processo científico, fundamentado teórica e metodologicamente em teorias psicológicas, que busca estimar o valor ou qualidades de fenômenos psicológicos nas condições de vida das pessoas. Avaliação psicológica “stricto sensu” - realizada no âmbito da produção de conhecimento, construção e aperfeiçoamento de métodos e instrumentos psicológicos. Processos de investigação psicológica cuja finalidade é produzir conhecimento sobre fenômenos ou constructos psicológicos, geralmente realizados por meio de pesquisa básica ou aplicada, em instituições universitárias - comunicação científica publicada em periódicos, anais ou livros. “Lato sensu” ou profissional - realizada no âmbito da intervenção profissional, é definida como o conjunto de procedimentos planejados e orientados por demanda oriunda da sociedade; examinar características psicológicas relevantes por meio de técnicas e instrumentos psicológicos específicos, fundamentar juízo especializado ou, ainda, produzir um diagnóstico - um produto do exercício profissional, elaboração de um informe psicológico - exame psicológico, exame psicotécnico, psicodiagnóstico, diagnóstico psicológico, perícia psicológica. Exame psicológico define pontualmente um procedimento de verificar as condições psicológicas das pessoas por meio de instrumentos psicológicos - quando se quer verificar determinadas características psicológicas para uma demanda já especificada com data, local e horário previamente marcados. Exame psicotécnico - designa a atividade de avaliação realizada pelos psicólogos que atuam no sistema de trânsito com o objetivo de verificar as condições psicológicas mínimas para dirigir. Psicodiagnóstico - designa avaliações psicológicas realizadas em contexto clínico configurado, na maioria dos casos, com início e fim previstos a curto e médio prazo, e que tem por finalidade realizar o diagnóstico psicológico, em face de hipóteses clínicas de morbidez ou sofrimento psicológico; utilizado para iniciar ou encaminhar processos psicoterapêuticos. Diagnóstico psicológico - é o resultado de um processo de avaliação psicológica que tem por finalidade extrair um juízo crítico por parte do psicólogo das condições psicológicas das pessoas sob avaliação - de um diagnóstico pode-se inferir um prognóstico. Perícia psicológica - é uma modalidade de avaliação psicológica cujas características principais são o fato de serem demandadas judicialmente e de necessariamente fornecer um laudo psicológico; responde às solicitações do judiciário e sua função básica é fornecer subsídios que contribuam na decisão judicial. Avaliação psicológica é uma modalidade científica, desenvolvida por psicólogos, para especificar o que se conhece ou o que se pretende conhecer acerca das condições subjetivas das pessoas e suas expressões públicas. A avaliação de fenômenos psicológicos encontra-se respaldada nos pressupostos da teoria da medida - avaliar, nesse sentido, é atribuir valores ao que se quer conhecer, a fim de identificar e caracterizar o que pode ser definido como apropriadamente psicológico na experiência das pessoas. Critérios científicos da avaliação psicológica São três critérios científicos: 1. medida 2. instrumento 3. processo de avaliação - A medida Pressuposto geral da teoria da medida de que avaliar um fenômeno é comparar suas características com a de outro objeto de conhecimento e, como tal, a mensuração é o meio de representação dessa comparação. Medir é comparar uma grandeza com a outra, da mesma natureza, tomando-a como padrão. Mensuração é o conjunto de operações que tem por objetivo determinar o valor de uma grandeza, isto é, o atributo de um objeto que pode ser qualitativamente distinguido e quantitativamente determinado. As medidas psicológicas são consideradas formas de acesso indireto aos fenômenos psicológicos, por meio de seus atributos e variações - medir ansiedade é, antes de tudo, identificar o que define ansiedade, quais são os elementos constituintes que a difere de outros fenômenos fisiológicos e psicológicos; o que se mede são as variações desses atributos, com base em um nível de mensuração (escala) previamente definido. Pressupostos dos axiomas da medida: 1. axioma da identidade - define que o conceito de que algo é igual a si mesmo e somente a ele é idêntico, e que se distingue de todas as outras coisas por suas características. 2. axioma da ordem - preconiza que os números não somente são distintos entre si, mas que esta diferença é expressa também em termos da quantidade, da grandeza e da magnitude. 3. axioma da aditividade - postula que os números podem ser somados de modo a permitir que de dois números a operação resulte num terceiro número e que este seja exatamente a soma das grandeza dos dois números anteriores somados. Mensurar fenômenos psicológicos é um meio empírico para exprimir conceitos operacionalizados como atributos passíveis de medida. Quanto mais axiomas forem representados no processo da medida, mais úteis se tornam para a representação e a descrição da realidade empírica. - O instrumento Um instrumento pode ser considerado como qualquer artefato que tem a função de estender a ação humana ao meio, no sentido de superar limitações ou ampliar o potencial humano - são meios de observação, com a finalidade de maximizar, tornar mais eficaz a obtenção de dados sobre o que se quer conhecer; são recursos materiais de coleta de dados sobre o que se quer avaliar. Em processos de avaliação psicológica, os testes são instrumentos objetivos e padronizados de investigação do comportamento, que informam sobre a organização normal dos comportamentos desencadeados pelos testes ou de suas perturbações em condições patológicas - avaliar e quantificar comportamentos observáveis, através de técnicas e metodologias específicas, embasadas cientificamente em construtos teóricos que norteiam a análise de seus resultados. Cada teste tem uma descrição metodológica específica, com a finalidade de controlar e excluir quaisquer variáveis que venham a interferir no processo e nos resultados, para que se obtenha um resultado preciso das reais condições do avaliando - devem ter a qualidade de sua ação verificada através de procedimentos metodológicos, que assegurem sua eficácia e eficiência. Quatro condições são necessárias para garantir a sua qualidade: 1. a elaboração e análise dos itens - são elaboradas e avaliadas as questões individuais (itens) de um teste; preparação dos itens para a representação do comportamento. É necessáriopoder representar no item todas as possíveis variações que o atributo medido possa assumir, sob pena de não contemplar a diversidade das respostas. Na análise dos itens, a compreensão de leitura e resposta do item, sua capacidade de avaliar um determinado atributo, a eficácia da avaliação das questões e a capacidade dos itens em abarcarem todas as possíveis manifestações comportamentais de fenômeno em questão, são investigadas. 2. estudos da validade - validade lógica e empírica, cuja distinção está respaldada na avaliação das respostas dos sujeitos É necessário identificar se a medida efetuada pelo instrumento pode ser considerada como consistente e não passível de sofrer modificações alheias à manifestação do comportamento, o que leva ao passo seguinte. 3. da precisão - verificar a consistência das respostas obtidas pelos sujeitos no teste. 4. de padronização - estabelecimento de normas para a utilização do teste - constituição do instrumento; elaboração da forma de aplicação do teste; classificação dos resultados obtidos pelos respondentes - qual é a mais indicada e como se pode obtê-la. - O processo de avaliação O processo de avaliação tem três dimensões: 1. observacional 2. inquiridora 3. representativa Método de investigação de aspectos ou propriedades psicológicas, baseado em axiomas teóricos. Na dimensão observacional, a manifestação pública da conduta expressa o mais imediato dos meios para emitir uma apreciação da ação e reação do avaliando - cabe ao avaliador, ao observar, registrar e categorizar as manifestações verbais e não verbais de forma a apoiar a interpretação de seus respectivos significados. A dimensão inquiridora representa a possibilidade de verificação dos processos subjetivos expressos no desempenho do processo de avaliação e mediados pela autopercepção do avaliando. As manifestações verbais e não verbais no processo diagnóstico estabelecido entre avaliador e avaliando são vias fundamentais de orientação da inquirição - é realizada de duas formas: a verbal escrita - quando se lança mão de questionários, inventários; verbal oral - quando se utiliza a entrevista psicológica, anamnese. A dimensão representativa expressa a possibilidade de considerar no processo de avaliação a medida de fenômenos psicológicos correlatos ao que se pretende mensurar - utilizar estrategicamente instrumentos psicológicos validados e padronizados para aferir os aspectos pretendidos. Os instrumentos psicológicos são construídos com a finalidade de representar ações, reações, condutas, expressões de afeto ou habilidades, do ponto de vista da sua ocorrência e previsibilidade - verificar a expressão da atividade psicológica antes mesmo de sua emergência. Avaliação psicológica é um método de investigação do comportamento humano e dos processos maturacionais e funcionais a ele associados. Há diferentes formas de avaliação psicológica. Há, nos processos de avaliação, demandas específicas, procedimentos com regras e situações bem definidas e um código operacional que informa sobre o que está sendo avaliado, de tal forma que se permita chegar a conclusões objetivas ao entendimento de outros psicólogos - representar, nos resultados e conclusões, hipóteses, indicadores e conhecimentos sobre a realidade sob exame; o profissional necessita não somente compreender o papel dos recursos técnicos e instrumentais, mas especialmente estar atualizado sobre os achados teóricos resultantes da mensuração de fenômenos psicológicos que estão sob investigação. O objetivo da avaliação psicológica pode cobrir diferentes aspectos de investigação de processos subjetivos e seus correlatos comportamentais. O processo de avaliação psicológica é iniciado por uma demanda que se refere a toda consulta de um cliente que necessita de avaliação psicológica para fins específicos. Para especificar a demanda é necessário ter uma compreensão do problema (inteligibilidade), que é resultado do grau de instrução científica do avaliador sobre o objeto da avaliação. O método corresponde ao conjunto de procedimentos, técnicas e instrumentos a serem organizados para produzir evidências sobre o que se quer investigar. Parte seguinte deste processo é a elaboração de um diagnóstico e o correspondente prognóstico, se for o caso. O resultado disso tudo é a elaboração da comunicação dos resultados da avaliação psicológica, realizada por meio dos informes psicológicos. Perícia psicológica forense A perícia judicial Perícia - destreza, habilidade, douto, versado, hábil, experimentado, prático, erudito, capaz. Perícia é o “exame de situações ou fatos relacionados a coisas e pessoas praticado por especialista na matéria que lhe é submetida com o objetivo de elucidar determinados aspectos técnicos” - são utilizados conhecimentos científicos para explicitar as causas de um fato. Na área judicial, a perícia é considerada um meio de prova realizada por um especialista. Perícia como forma de elucidar o problema - o que caracteriza a perícia é sua requisição formal. O objeto de investigação da perícia judicial passa a ser a elucidação de situações e fatos controversos, decorrentes de conflitos de interesses em relação a um direito pleiteado, ou mesmo anteriores a estes, por ação do Ministério Público que busca a apuração de responsabilidades por atos ilícitos. A perícia, como meio de prova, não se constitui em uma verdade soberana. O resultado do trabalho pericial precisa ser apresentado por meio de um laudo técnico sucinto, mas com seus achados descritos com precisão e analisados de forma a fundamentar cada conclusão. - Regulamentação legal da perícia judicial As determinações legais sobre a realização dos procedimentos periciais encontram-se explicitadas em duas grandes áreas jurisdicionais: a cível e a criminal. Na área cível, a perícia judicial está regulamentada pelo Código de Processo Civil de 1973 (CPC, lei n. 5.869/73) - encontram-se dispositivos tanto em relação à atividade do perito quanto da prova pericial propriamente dita. Na área criminal, há determinações importantes para a prática da perícia em saúde mental junto ao Código de Processo Penal, capítulo VIII - da insanidade mental do acusado e no Título V - da execução das medidas de segurança; código penal de 1940 e lei de execução penal de 1984. - Da legitimação do perito No Código de Processo Civil encontram-se as determinações que especificam quem pode exercer as atividades de perito - ART. 145. Pode-se dizer que todos aqueles psicólogos que se encontram devidamente regulamentados junto a seu órgão de classe e que possuem capacidade técnica para responder às questões formuladas em juízo sobre a matéria de psicologia, estarão aptos a assumir o papel de peritos. Não há, aqui, nenhuma especificação quanto à necessidade de formação específica na área forense. Conforme o art.146 (CPC), o perito terá o prazo máximo de 5 (cinco) dias para apresentar sua justificativa e poder se eximir de seu compromisso. As situações de impedimento a que o perito está sujeito são as mesmas apresentadas aos juízes no art.134. É importante ressaltar que a falta de conhecimento técnico também pode ser motivo de escusa por parte do profissional. Na área das perícias criminais, as determinações quanto aos peritos e os procedimentos necessários à construção da prova ficam definidos pelo Código de Processo Penal - neste código fica estabelecida a necessidade de que a perícia oficial seja realizada por dois peritos que atuem de forma concomitante, sem a menção da figura do assistente técnico; os impedimentos são citados a interdição de direitos (art. 69, I e IV) Apesar de o psicólogo, por lei, não poder assumir a responsabilidade da realização de tal perícia, esse profissional tem sido requisitado, com frequência, para a realização de avaliações psicológicas como complementação de perícias psiquiátricas. - Da prova pericial Capítulo VI, do Título VIII, seção VII, trata da prova pericial (art.420 a 439) - a perícia fica definida como um “exame, vistoria ou avaliação”. O juiz, aonomear o perito, deve, de imediato, estabelecer o prazo de entrega do laudo, que deve ser respeitado. O não-cumprimento dos prazos previstos pode acarretar a substituição do perito e punição através de multa e denúncia junto ao órgão de classe. Brandimiller (1996), a perícia judicial difere dos demais tipos de perícias por três características. 1. a perícia é realizada sob a ordem do juiz, que tem o poder de deferir ou indeferir a prova pericial, além de determiná-la por sua própria iniciativa. 2. tem a participação das partes (autor e réu) em sua produção, as quais podem impugnar a nomeação de perito, orientar a prova através de quesitos, acompanhar as diligências realizadas, questionar o laudo do perito e formular quesitos complementares para elucidá-lo. 3. esse tipo de perícia tem por objetivo o convencimento do juiz, que pode solicitar o comparecimento do perito em juízo para novos esclarecimentos ou determinar a realização de nova perícia se achar que a matéria não foi suficientemente esclarecida. A necessidade de informar às partes a data e o local da perícia, sem referir-se, especificamente, às atividades do assistente técnico durante o processo de avaliação pericial. No caso de ser determinada nova perícia, esta deverá ter por objetivo “os mesmos fatos sobre o que recaiu a primeira e destina-se a corrigir a eventual omissão ou inexatidão dos resultados a que esta conduziu” (art.438, CPC). Silva (2003) afirma que, na área da Psicologia, a segunda perícia tem sido justificada pela primeira não oferecer conclusões suficientes para auxiliar o juiz em sua decisão - quando a deficiência repete-se na avaliação seguinte, é muito provável que as falhas encontram-se mais nas circunstâncias dos fatos do que na qualificação técnica do primeiro perito. Perícia é um meio especial de prova, que pode se valer de diferentes fontes para obter as informações que se fizerem necessárias. O art.429 (CPC) prevê que, para o desempenho de sua função, o perito e o assistente técnico podem, entre outras atividades, ouvir testemunhas, obter informações, solicitar documentos que se encontram em poder da parte ou em repartições públicas. - O papel do perito oficial e do assistente técnico Código de Processo Civil de 1973 e Lei 8.455/1992. Em 1946, pelo decreto-lei 8.570, estabelecia-se um sistema de tríplice perícia - e, se não houvesse consenso, cada parte poderia indicar seu perito, e, na divergência de seus lados o juiz poderia determinar um terceiro, denominado de “perito desempatador” - tendiam a realizar seus trabalhos voltados à defesa de seus clientes (e não como auxiliares do juiz), resultando na frequente nomeação desse terceiro perito. A partir de 1973 a perícia passou a ser realizada por um perito nomeado pelo juiz e de exclusiva confiança deste, ainda que as partes pudessem arguir suspeição de sua parcialidade e requererem sua substituição - no momento da nomeação do perito (Art.421), fica aberto o prazo de 5 (cinco) dias para que as partes possam indicar seus assistentes técnicos e apresentar quesitos. O perito elabora seu laudo e o apresenta no prazo estipulado pelo juiz, cabendo aos assistentes técnicos realizarem seus pareceres críticos a respeito deste trabalho em até 10 dias após a entrega do laudo (art.433, CPC). A partir da lei 8.455/1992, com o objetivo de distinguir de forma mais evidente o trabalho do perito oficial, como auxiliar do juiz, e do assistente técnico, como de confiança das partes litigantes. Com esta mudança passou-se a instituir o laudo pericial único, elaborado pelo perito de confiança do juiz, cabendo aos assistentes técnicos o trabalho de comentá-lo, através da exposição de suas divergências e concordâncias, em um parecer crítico - o perito deve realizar seu trabalho de forma independente, enquanto que cabe ao assistente técnico a atividade posterior de crítica ao laudo. O contexto do trabalho pericial A relação entre Psicologia e Direito Urra (2002) afirma que a Psicologia e o Direito partem do indivíduo como sujeito único, responsável por seus atos e condutas e com capacidade para modificá-los. Melton e colaboradores (1997) ressaltam a importância do psicólogo ser treinado para trabalhar no contexto forense, de modo a compreender melhor certas premissas jurídicas que não teriam correspondência na ciência psicológica (por exemplo, a noção de livre arbítrio). Independente da formação dos profissionais, a possibilidade maior ou menor de colaboração entre os representantes de cada área de estudo também é determinada pela estrutura de poder judiciário existente em cada país, fator que pode intensificar ou amenizar conflitos. Estudos ressaltam dois pontos controversos entre a Psicologia e o Direito, são eles a concepção de homem e a natureza dos fatos abordados. Na primeira questão encontra-se a controvérsia do livre arbítrio versus determinismo - o Direito utiliza-se do pressuposto de que o homem é livre por natureza, podendo decidir sobre suas ações. Só é possível aplicar-se uma pena a um sujeito que poderia, a princípio, ter tido a opção de realizar ou não sua conduta ilícita. Assim, a ajuda solicitada à ciência psicológica geralmente diz respeito a esclarecimentos quanto à presença de fatores psicopatológicos que pudessem impedir o sujeito de avaliar e controlar sua conduta. A Psicologia está dirigida para a explicação ou previsão dos fatores que determinam o comportamento - está em sua essência definir os determinismos da conduta - determinam ser a conduta o resultado da história pessoal de punições e recompensas que explicam o comportamento por determinismos intrapsíquicos, não se poderia identificar qualquer tipo de comportamento que fosse considerado “voluntário” - compreensão de motivação e liberdade. Os dados encontrados nas avaliações realizadas devem ser fornecidos aos agentes jurídicos de forma a que façam sentido e que possam ser analisados dentro de um esquema legal. Lösel (1992) diz que, em função das diferenças paradigmáticas, muitos termos psicológicos podem ser mal-interpretados pela área jurídica. Direito e Psicologia possuem culturas diferenciadas, nas quais termos idênticos podem ter significados diferentes. Natureza dos fatos - como cada disciplina constrói a noção do que é um “fato”. A ciência psicológica trata os fatos com o pressuposto da probabilidade, enquanto a lei, por suas decisões irrevogáveis, necessita trabalhar com “nível de certeza”. Muitos psicólogos são pressionados a expor seus achados com níveis de certeza. Para Melton e colaboradores (1997), a ética obrigaria os psicólogos a serem explícitos quanto aos níveis de certeza obtidos em seus achados, mesmo que seus trabalhos perdessem peso, como prova, nos tribunais. O trabalho dos psicólogos, na área da Psicologia Forense, deveria ser sempre dirigido no sentido de preocupar-se em aumentar o grau de certeza de suas hipóteses mediante pesquisas empíricas, e de sensibilizar os juristas quanto aos problemas básicos de predição e flexibilidade da conduta humana. Na Psicologia, a produção dos dados científicos geralmente surge da comparação de grupos quanto à determinada variável. Isto faz com que, ao aplicarem-se estes achados a um sujeito especial (indivíduo), surjam dificuldades para afirmar se as variáveis vão se manifestar perfeitamente iguais ao estudo que baseou a conclusão sobre os achados. O peso das variáveis para determinar um fato pode variar, resultando novamente, em compreensão probabilística. Psicologia - pluralismo; Direito - uniformidade. A multiplicidade de teorias e perspectivas que caracterizam a própria psicologia, resultante da complexidade de seus objetos de pesquisa, não é compreendida pelo Direito, que possui como objetivo intrínseco a uniformidade e a evitação da desigualdade. A Psicologia, como ciência, busca a descrição, explicação, compreensão e predição da conduta humana, através de estudos empíricos, enquanto o Direito tem por fim último a busca da “justiça” - seja para seu cliente especificamente ou, no sentido mais amplo, de proteçãoà sociedade. Esta diferença ressalta dois tipos de problemas: 1. O tipo de propósito faz com que cada uma das áreas de conhecimento utilize-se de métodos de abordagem diferenciados para a compreensão e demonstração dos fenômenos estudados. A ciência psicológica utiliza-se da lógica formal. Para o Direito, a necessidade de garantir um resultado mais justo, faz com que os agentes jurídicos utilizem diferentes discursos lógicos, de forma a elaborar uma demonstração dos fatos que ele ao convencimento ou à persuasão da vontade para a tomada de decisão por parte de um auditório qualificado. Aos agentes jurídicos não basta apresentar a “verdade” dos fatos, pois necessitam chegar à “justiça”. Assim, nos procedimentos utilizados, procuram mostrar apenas as evidências que lhes são favoráveis, muitas vezes distorcendo os dados levantados pelos agentes de saúde. 2. À função social de cada disciplina. Lösel (1992) - as determinações das normas jurídicas possuem uma justaposição de objetivos: a compreensão da culpa, a prevenção social e a proteção da ordem pública. Por isso, utiliza-se uma abordagem normativa, com prescrições que podem se tornar problemáticas frente ao enfoque empírico da Psicologia. O perito deve oferecer, com seu trabalho, um conhecimento especializado, técnico, que ajudará a compreender as evidências existentes no processo. Em relação ao relatório final do perito, as conclusões devem ser oferecidas considerando sua probabilidade, sua possibilidade de generalização e de interferência. - Características do contexto da avaliação psicológica forense Caires (2003) salienta que a transposição direta do modelo clínico para atender indagações judiciais pode levar tanto a erros essenciais, em relação a futuras decisões dos magistrados, como, também levantar descrédito quanto ao alcance do que é informado. Para exercer o papel do psicólogo na área forense é fundamental que o profissional tenha estabelecido as distinções do seu trabalho daquele exercido pelo terapeuta na clínica. É importante que o psicólogo compreenda as especificidades de seu papel e de seu relacionamento com o periciado, agindo de modo mais independente na solução de impasses que surgem com frequência. - Objetivo da avaliação forense A avaliação forense, frequentemente, dirige-se a eventos definidos de forma mais restrita ou a interações de natureza não-clínica. O objetivo final da avaliação será, sempre, através da compreensão psicológica do caso, responder a uma questão legal expressa pelo juiz ou por outro agente jurídico. O agente jurídico, ao solicitar a avaliação, pergunta sobre determinada capacidade da pessoa, prevista pelas normas legais, para responder a demandas específicas relacionadas a situações da vida real, como manter os cuidados com o filho, responder por atos da vida civil ou desenvolver atividades laborativas remuneradas. O diagnóstico e a necessidade de tratamento psicológico, que podem ser elementos importantes para a compreensão do caso, não são a resposta final do trabalho. Mesmo na perícia de dano psíquico, o foco deve se restringir à verificação da presença e da intensidade dos sintomas emocionais com a determinação do nexo de causalidade - não há necessidade de abandonar totalmente a preocupação com aquele que é objeto da perícia; o importante é não transformar o processo de avaliação forense em um contexto terapêutico. Críticas aos peritos psicológicos forenses referem-se a três categorias básicas: 1. ignorância ou irrelevância 2. intromissão na matéria legal 3. insuficiência ou incredibilidade das informações prestadas. No primeiro caso, o perito justificaria suas conclusões por um critério legal errado. A incapacidade em determinada competência não pode justificar a incapacidade para outra. No caso da intromissão, haveria, por parte do técnico, uma tentativa de impor teorias psicológicas para reformular construtos jurídicos, “psicologizando” as normas legais. No caso da insuficiência ou incredibilidade das informações, o perito deixaria de oferecer evidências suficientes quanto às suas conclusões. A quantidade e qualidade da informação são fundamentais para evitar tais problemas. - A relação com o periciado Uma questão inicial, que se expõe ao psicólogo, é saber quem é seu cliente. Ainda que seu trabalho esteja centrado na avaliação de determinado sujeito,esta relação encontra-se intermediada pela solicitação de um agente jurídico. A determinação da avaliação pelo agente jurídico, também faz com que os periciados da avaliação forense diferenciam-se daqueles que buscam voluntariamente um tratamento de saúde mental - as pessoas “passam” por uma avaliação forense, pois não a fariam se não tivessem uma questão legal para resolver. Nesse processo de investigação, o examinador não só ocupa um espaço mais distante do periciado, como também necessita questioná-lo com mais frequência e de modo mais incisivo quanto às informações dúbias ou inconsistentes. Com isso, a percepção que o periciado tem de examinador nem sempre é de alguém que está num papel de ajuda. O psicólogo forense busca o esclarecimento de questões propostas pela situação de litígio judicial. - deve procurar manter uma atitude de maior afastamento, ser mais objetivo e procurar manter sua neutralidade; uma postura mais crítica na avaliação forense não trará, necessariamente, prejuízos emocionais ao periciado, considerando que a busca da relação é do tipo avaliativo e não-sustentado pela aliança terapêutica do tratamento clínico - importância de evitar-se a iatrogenia, e que os psicólogos forenses podem estar seguros das práticas que exercem e dos serviços que oferecem, evitando que se produzam danos nas pessoas avaliadas. - Características da metodologia A repercussão mais imediatista desse tipo de relação é a preocupação que o psicólogo deve ter com a validade das informações que recebe. No contexto forense, em função da natureza coercitiva e da importância final do resultado do trabalho, os periciados são incentivados a distorcer a verdade. Ainda que a distorção inconsciente da informação seja uma ameaça à validade, em todos os contextos de avaliação, a ameaça da distorção consciente e intencional é substancialmente maior no contexto forense. A resistência frente à avaliação forense é determinada por, pelo menos, uma das seguintes razões: o periciado pode estar temeroso quanto ao resultado final ou desejoso do resultado da avaliação e pode se sentir ressentido pela intromissão em sua autonomia. A precisão da informação passa a ser uma questão fundamental para a garantia da qualidade do relatório final. É importante para o avaliador forense conhecer a perspectiva da própria mãe frente à criança, mas será de fundamental relevância para suas conclusões conhecer as condutas concretas dessa mãe no cotidiano, por meio de outras fontes de informação - é característica da avaliação forense que a coleta de dados não se restrinja ao discurso do periciado, mas a todas as fontes consideradas relevantes. Grisso (1999) sugere que o psicólogo deve dar preferência a procedimentos padronizados, mesmo que não sejam “testes”. Greenberg e Schuman (1997), outra característica importante é que as entrevistas, na avaliação forense, devem ser mais estruturadas do que na clínica, e o examinador deve exercer um papel mais ativo na organização das mesmas. Na avaliação forense, uma variedade de fatores, incluindo a pauta do foro e os limites dos recursos, pode reduzir as oportunidades para o contato com o periciado - essa redução do tempo repercute diretamente numa coerção ao fechamento do caso e na diminuição da possibilidade de reconsiderar as formulações feitas. Ao mesmo tempo, enfatiza-se a precisão da conclusão quanto à finalidade das disposições legais, pois o resultado da avaliação torna-se um produto e passa a fazer parte dos registros do caso jurídico - a prática demonstra a necessidade de salientarem-se os limites da avaliação quanto ao período em que ela se realizou e aos dados que foram coletados. - Formação técnica dopsicólogo forense Basta que o psicólogo esteja devidamente regulamentado pelo Conselho Regional de Psicologia do qual faz parte. Apesar das limitações quanto aos recursos existentes, é importante que o psicólogo saiba que, quando for atuar na área da Psicologia Forense, precisa buscar conhecimentos tanto da área psicológica que está investigando (família, abuso sexual, periculosidade), como também do sistema jurídico em que vai operar; deve conhecer as jurisdições e instâncias com as quais se relaciona,a legislação vigente relacionada ao seu objeto de estudo e as normas estabelecidas quanto à sua atividade. - Ética e perícia psicológica A realização da perícia psicológica exige, igualmente, o respeito a estes princípios, de modo que a atividade em questão traga apenas benefícios aos seus usuários. “O respeito à dignidade e integridade do ser humano”. Cabe ao psicólogo buscar a promoção do bem-estar do indivíduo e da comunidade. O código traz algumas recomendações quanto às relações com a justiça: Art. 17 - O psicólogo colocará seu conhecimento à disposição da justiça, no sentido de promover e aprofundar uma maior compreensão entre a lei e o agir humano, entre a liberdade e as instituições judiciais. Art. 18 - O psicólogo se escusará de funcionar em perícia que escape à sua competência profissional. Art. 19 - Nas perícias, o psicólogo agirá com absoluta isenção, limitando-se à exposição do que tiver conhecimento através de seu trabalho e não ultrapassando, nos laudos, o limite das informações necessárias à tomada de decisão. Art. 20 - É vedado ao psicólogo: a) ser perito de pessoa por ele atendida ou em atendimento; b) funcionar em perícia em que, por motivo de impedimento ou suspeição, ele contrarie a legislação pertinente; c) valer-se do cargo que exerce, de laços de parentesco ou amizade com autoridade administrativa ou judiciária para pleitear ser perito. Ao ficar definido que o psicólogo deve colocar-se à disposição da justiça seu conhecimento, amplia-se a noção da repercussão de seus achados em determinada avaliação, extrapolando-se, muitas vezes, o sujeito avaliado. Ávila Espada (1986) salienta que, em avaliações forenses, o cliente do psicólogo será tanto o sujeito periciado quanto o sistema mais amplo da sociedade. Assim, as repercussões de seus achados não podem se restringir ao primeiro, mas, sempre que necessário, contemplar esses dois universos. Outro aspecto salientado por diversos autores diz respeito à importância de o psicólogo avaliar os limites de sua competência e de suas técnicas - essa competência está relacionada ao tipo de perícia que deve realizar e ao conhecimento das características operacionais do sistema jurídico em que vai atuar. No artigo 19, o psicólogo é orientado a se manter dentro dos limites de seu próprio conhecimento, com isenção em relação às partes envolvidas - cabe ao técnico respeitar os níveis de probabilidade a respeito da previsão do comportamento, além de evitar direcionar seus achados para o favorecimento de uma das partes; importância de que sejam bem-avaliados os dados que constarão no laudo, pois a seleção dos mesmos pode indicar a presença de motivações subjacentes. Uma situação pouco discutida diz respeito à repercussão dos casos hediondos na estrutura emocional dos peritos, com efeito desestabilizador. Nesses momentos, é imprescindível a reflexão crítica, tanto para manter-se restrito ao papel de técnico quanto para perscrutar e conhecer os limites internos diante da demanda judicial. Art. 23 parágrafo 1 - Nos casos de perícia, o psicólogo tomará todas as precauções , a fim de que só venha a relatar o que seja devido e necessário ao esclarecimento do caso. Parágrafo 2 - O psicólogo, quando solicitado pelo examinado, está obrigado a fornecer a este as informações que foram encaminhadas ao solicitante e orientá-lo em função dos resultados obtidos. Para Ávila Espada (1986), o ideal seria que existisse o mesmo nível de confidencialidade entre os contextos clínicos e forense ou, entre os contextos voluntários e não-voluntários. No entanto, o propósito da avaliação forense já coloca limitações quanto à possibilidade de se manter o sigilo - à medida que tem como função trazer aos autos uma realidade relacionada aos problemas emocionais associados à questão jurídica. Neste caso, uma forma de manterem-se os procedimentos éticos é o estabelecimento prévio de um contrato, em que os níveis desta confidencialidade sejam bem esclarecidos. A preocupação básica de todo psicólogo quanto à impossibilidade de manter os níveis de confidencialidade existentes dentro da relação terapêutica é amenizada, pois, estando o periciado ciente dessa limitação, pode decidir livremente sobre as informações que deseja passar ao avaliador. Nenhum tipo de manipulação deve ser feito para se obter maior número de dados, sob o risco de incorrer-se em procedimentos antiéticos. Sobre os dados que devem constar no laudo fica estabelecida a orientação dada pelo primeiro parágrafo do artigo 23 do código de ética dos psicólogos. As informações relatadas devem seguir o princípio da pertinência, constando apenas os dados relevantes para a matéria legal. Cunha (1993) entende, de maneira geral, que a devolução é de responsabilidade de quem encaminhou o processo - o psicólogo forense teria a obrigação de comunicar diretamente a seus periciados as informações colhidas na avaliação sobre seus aspectos psicológicos. A prática sugere que seria de bom senso o psicólogo colocar-se à disposição do periciado para esclarecimento de dúvidas, em relação ao laudo, depois de o mesmo tornar-se público em audiência com o juiz. Deve-se tomar cuidado para não criar uma via de comunicação independente ao processo judicial, quando, então o psicólogo deixaria seu papel de assessor dos agentes jurídicos para assumir a coordenação do próprio processo. Melton e colaboradores (1997) propuseram alguns passos que deveriam ser observados nas diferentes etapas da perícia: 1. Pré-avaliação: clarificar determinações ambíguas ou excessivamente genéricas, certificar-se de que o periciado foi informado de sua avaliação por seu advogado, avaliar a própria competência para realizar a avaliação, avaliar os conflitos de interesses envolvidos na questão, estabelecer a forma de pagamento, negar-se a tomar ciência de informações que foram obtidas de maneira ilegal e que poriam em risco a validade do laudo. 2. Durante a avaliação clínica: informar ao periciado todas as questões legais envolvidas no processo de avaliação e os limites de confidencialidade, esclarecê-lo sobre os papéis estabelecidos na avaliação, solicitar a participação do periciado na avaliação, respeitar sua privacidade dentro dos limites possíveis da perícia (manter a investigação clínica dentro dos limites da questão legal, orientá-lo à impropriedade de revelações não pertinentes ao caso). 3. Pós-avaliação: a relevância dos dados para a questão jurídica deve orientar o relatório (evitar detalhes que possam embaraçar o periciado ou pôr em risco seus direitos, evitar conclusões valorativas que são pertinentes aos agentes jurídicos), informar ao periciado se existirem fatores de risco (principalmente no caso de crianças e adolescentes).
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