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Psicologia Social II - Psicologia Social e Escola (Aula 8)

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PSICOLOGIA SOCIAL II 
Aula 8: Psicologia Social e Escola 
• A relação da psicologia social e a escola nos possibilita diversas discussões, como: os tipos de intervenções que a psicologia pode fazer, as 
causas do fracasso escolar, o conceito de família desestruturada e a compreensão do que significa o psicólogo atuar como técnico de 
educação. Através da discussão desses elementos, poderemos compreender como a psicologia social contribui para uma prática de 
psicologia em processos educacionais alinhada com o código de ética da profissão, numa perspectiva de transformação social no sentido 
da melhoria da qualidade de vida. 
 
Objetivos 
• Diferenciar a atuação do psicólogo como técnico de atuação 
crítica no campo da educação; 
• Identificar críticas às noções de fracasso escolar e família 
desestruturada a partir da psicologia escolar. 
Fábula: O Garoto Que Sumia 
• No texto de Baptista (2001), chamado A fábula do garoto que quanto mais falava sumia sem deixar vestígios: cidade, cotidiano e poder, 
conhecemos a história do fracasso escolar de um menino negro, morador de favela. Os olhares apresentados são o da escola, da 
psicóloga do posto de saúde e da família dele. O menino, ao longo de toda a história, não é escutado nem visto... ele realmente “sumia 
sem deixar vestígios”. A mãe conta sua história triste e suas dificuldades econômicas para criar os filhos. Fala também sobre sua jornada 
exaustiva de trabalho em casa de família e sobre o fato de o pai dele ter ido embora. 
• Após esses relatos, consultas e testes psicológicos são feitos e um diagnóstico é dado. Assim, a história do menino passa a ser contada 
pela ciência. 
• Ao final da fábula, apresenta-se uma reviravolta: a psicóloga estava esperando o sinal abrir quando o menino veio vender tangerinas. Ela 
comprou, mas, preocupada com a abertura do sinal, não percebeu que a dificuldade com a matemática e a apatia apresentada na escola 
não estavam presentes ali. A criança era ágil e fazia cálculos matemáticos com presteza, o que foi ignorado pela psicóloga, que partiu logo 
após a abertura do sinal. 
• Esse breve resumo do texto será importante porque poderemos articular inúmeros dos aspectos contidos nele para discutir o tema 
“psicologia social e escola”, a saber: tipos de intervenções, fracasso escolar, família desestruturada e a atuação do psicólogo enquanto 
técnico de educação. 
Tipo de Intervenção do Psicólogo Escolar 
• A história da atuação do psicólogo nas escolas é identificada como aliada aos interesses de grupos dominantes. (VIANA, 2016) 
• Teorias psicológicas com orientação de trabalho a partir de uma subjetividade do indivíduo produziram práticas que ocorriam no sentido 
de responsabilizá-lo pelos seus desajustamentos. 
• O saber psicológico foi exercido, e por vezes ainda é, promovendo uma normalização dos alunos, corrigindo problemas na criança. 
• A psicologia contribuiu para legitimar a identificação dos problemas de escolarização no aluno ou na família, portanto, para a manutenção 
da ordem social vigente. 
• É muito comum pensar o psicólogo na escola como um profissional para atuar com “crianças problemas”, muito desatentas, bagunceiras, 
fora dos padrões impostos. 
• Logo, o que se percebe é que, de acordo com o senso comum, a intervenção que o psicólogo faz na escola é do tipo preventiva-curativa. 
Isto significa dizer que ao psicólogo cabe diagnosticar, corrigir e prevenir distúrbios. 
Atenção - Contudo, a perspectiva da psicologia social é bem diferente, posto que ela defende que as situações educacionais devem ser 
entendidas em toda a sua complexidade. Ou seja, devemos analisar, de maneira crítica, os aspectos sociais, econômicos, históricos e políticos 
de todas as situações em que atuaremos dentro do contexto escolar. 
• No caso da história presente no texto A fábula do garoto que quanto mais falava, sumia sem deixar vestígios, como não se questionar 
sobre o significado que a escola tinha para aquela criança? Tomando como viés de análise a perspectiva sociocrítica, a vida da criança 
seria pensada de uma maneira muito mais ampla, dando luz não somente às carências, mas também às suas potencialidades. Fariam 
parte dessa análise também as relações de poder que existem dentro da escola. Zanella (1998) diz que a atuação do psicólogo na escola 
deve se dar nas relações sociais que existem nesse ambiente. Assim, devemos pensar na forma – já naturalizada – de interação entre 
alunos e professores. Ela pode ser diferente? Atravessada por outras formas de agir? 
• Um exemplo de pensar novas maneiras para educarmos as crianças é a Escola da Ponte (2019), que fica na cidade de Porto, em Portugal. 
Ela surge nos anos 1970 a partir de uma inquietação dos professores: Por que damos boas aulas e ainda assim há alunos que não 
aprendem? A partir dessa pergunta, começou a se estruturar toda uma nova cultura profissional, que deu origem a essa escola. 
• A escola estruturou-se em torno de práticas educativas buscando afastar-se do modelo tradicional. Com uma organização baseada em 
projetos e na equipe, tem como referência a interação entre os seus membros. 
• O modo de trabalho exige a participação dos alunos, objetivando que esta participação se dê em conjunto com os orientadores 
educacionais. Neste modelo (ESCOLA DA PONTE, 2019), não existem salas de aula, como no modo tradicional. Os espaços de 
aprendizagem têm diversos recursos, como livros, dicionários, internet, vídeos, entendidos como diversas fontes de conhecimento. 
Comentário - Essa maneira de pensar a educação vai ao encontro do que Paulo Freire (2005) chama de educação libertadora. Ela é 
problematizadora e conscientizadora, e os alunos são entendidos como investigadores. O diálogo entre alunos e professores é constante. 
 
Ensino Tradicional: Educação Bancária 
• De outro modo, Freire (2005) denominava o ensino tradicional de educação bancária, na qual o professor tem o saber e aos alunos cabe 
apenas receber, passivamente. O autor diz que esse tipo de educação serve para a dominação, para a opressão. Consideremos todas 
essas pontuações sobre a educação, levando em conta o princípio fundamental número II do código de ética do psicólogo, que diz que: O 
psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de 
quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. CFP, 2005, p. 7 
• Não é difícil saber quais tipos de relações o psicólogo deve trabalhar dentro do ambiente escolar, não é mesmo? 
 
Fracasso Escolar 
• Zanella (1998) afirma que a psicologia contribuiu, de maneira significativa, para a compreensão do que é fracasso escolar, visto que 
reduzia problemas sociais a psiquiátricos. Com isso, nossa profissão trabalhava no sentido de manter uma ordem social vigente sem 
colaborar para uma transformação social, pois a diferença era vista como erro ou defeito. Asbahr e Lopes (2006, p. 55) corroboram esse 
ponto de vista e dizem que a psicologia, junto com a pedagogia, estruturaram... “[...] a ideia de que a responsabilidade pelo fracasso 
escolar e social se encontra no indivíduo, em sua família ou em sua raça”. 
Comentário - Essa forma clássica de pensar o fracasso escolar está muito clara no texto de Baptista (2001), que vimos no início dessa aula. A 
pobreza, a cor de pele, a favela e a família monoparental foram o suficiente para embasar o diagnóstico que a psicóloga elaborou. 
• As palavras que são ditas por um profissional de saúde têm efeitos que podem acompanhar a pessoa pelo resto da vida e, por isso, cabe a 
nós ter um zelo ao diagnosticar cada um desses sujeitos. 
 
Família Desestruturada – O Que É? 
• O que seria uma família desestruturada? Na realidade, a pergunta deveria ser: o que é uma família estruturada? O modelo de família que 
se considera ideal é o burguês, baseado em mãe-pai-prole. Sendo assim, as diversas famílias que se organizam somente com mãe e prole 
– como é o caso da famíliado garoto que quanto mais falava sumia – são patologizadas, já que são consideradas distantes do ideal 
saudável e esperado de núcleo familiar. 
Comentário - Quando refletimos sobre o fracasso escolar, é fundamental pensarmos sobre esse conceito de família desestruturada. Ribeiro e 
Andrade (2006) pontuam que em escolas públicas é recorrente o discurso de culpabilização da família pelo fracasso da criança na escola. 
• A psicologia, profissão que tem como responsabilidade analisar “crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e 
cultural”, (CFP, 2005, p. 7) tem a obrigação de produzir conhecimento teórico que não reforce a opressão, mas sim que promova saúde e 
liberdade. Portanto, no lugar de utilizar o termo “família desestruturada”, devemos avaliar qual realidade queremos analisar. Se 
queremos comunicar que uma criança vivencia maus-tratos, é mais adequado tratar com conceitos que expliquem esta realidade, em vez 
de recorrer ao termo “desestruturada”. Afinal, a crise que cada família vivencia também tem condicionantes comp lexos. 
 
Psicólogo Como Técnico de Educação 
• O texto de Baptista (2005, p. 201) diz, ao se referir à professora do menino, que: Até mesmo a professora do “menor”, também 
desbotada, foi orientada a se reciclar, a estar atenta às carências de seus alunos, atendendo desta forma às exigências da educação 
especial. A professora, desbotada após o diagnóstico que a responsabilizava pela incompetência educacional, falava, falava, falava, 
confessando os frutos do seu fracasso. Nesse trecho, é pertinente a pergunta: Foi orientada a se reciclar por quem? 
• Essa pergunta nos remete à divisão social do trabalho - DST de que Coimbra (1990) nos fala. Segundo a autora, a DST tinha como função 
controlar, fiscalizar e disciplinar os trabalhadores, e quem assumia essa função fiscalizadora era o profissional técnico. Dentro do 
ambiente escolar, o psicólogo assumia essa função de técnico. 
• O ambiente de trabalho na escola, a partir da Lei nº 5.692/1971 – que tinha como objetivo modernizar a educação –, passou a ser 
organizado com definições de planejamento para o profissional técnico e de execução para o professor. Esta divisão produziu um lugar de 
“não saber” para o professor, sendo o técnico o detentor do saber sobre a educação. Percebe-se, dessa forma, que o trabalho do 
professor é desvalorizado, e o do psicólogo, hipervalorizado. Ao se tornar um técnico na escola, o psicólogo assume a função de controle. 
Além disso, outra consequência dessa organização do trabalho é que retira dos demais profissionais o reconhecimento de serem 
corresponsáveis por todo o processo educativo. Assim, a postura crítica é necessária para fazer com que diferentes – e igualmente 
legítimos – saberes fluam, contribuindo para a construção de um ambiente escolar mais respeitoso com todos que ali estão. 
• Como deve atuar, então, o psicólogo na escola? Talvez a principal contribuição da psicologia na escola seja o redimensionamento das 
relações sociais. 
• É necessário refletir criticamente sobre a relação entre escola e alunos, escola e família, mas também a relação entre psicologia e escola, 
psicologia e profissionais da educação. Trabalhar as relações escolares é condição primordial para um bom trabalho do psicólogo escolar. 
Assim, podemos chegar mais próximo da ideia de aprendizado de Martin-Baró (1997, p. 15), que diz que aprender: “[...] não é somente 
elaborar e reforçar uma sequência de estímulos e respostas, mas sobretudo estruturar uma forma de relação da pessoa com seu meio, 
configurar um mundo onde o indivíduo ocupa um lugar e materializa seus interesses”.

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