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149 Unidade I Vetores 1 Situando a Temática O propósito desta unidade temática é o de introduzir a nomenclatura que será utilizada no decorrer deste curso. A título de revisão e para que fi- que mais próximo do curso atual, apresentaremos as definições básicas da álgebra de vetores. Entretanto, remetemos os alunos ao curso de Cálculo Ve- torial e Geometria Analítica contido no segundo volume do curso de Licen- ciatura em Matemática a Distância. 2 Problematizando a Temática A necessidade de uma entidade matemática que possa representar determinadas grandezas físicas é clara para todos nós. Basta compararmos. Grandezas como temperatura, massa ou volume, podem ser especificadas com um único número. Quando alguém diz que “está fazendo 40° C”, já sa- bemos que está bastante quente. Não é preciso qualquer informação adicio- nal. Entretanto grandezas como força, deslocamento ou velocidade, e outras que veremos ao longo deste curso, não podem ser descritas por meio de um único número. Para que a velocidade de uma partícula fique bem definida nós devemos especificar o quão rápido esta partícula está se deslocando, qual a direção do seu movimento – se horizontal ou vertical, por exemplo – e o sentido do movimento; para a esquerda ou para a direita? As grandezas que podem ser especificadas com um único número são chamadas de grandezas escalares enquanto que aquelas onde precisamos informar o seu “tamanho” (módulo), a direção e o sentido, para que a grandeza fique devidamente defi- nida, são chamadas de grandezas vetoriais. A entidade matemática capaz de carregar as três informações que são necessárias para descrever uma grandeza vetorial é chamada de vetor. É este objeto que nós estudaremos nesta unidade. 3 Vetor Como visto na disciplina Cálculo Vetorial, um vetor é um objeto matemático que será representado, geometricamente, por um segmento de reta orientado e estará definido pelo seu módulo (norma), direção e senti- do. Nos textos os vetores são representados por uma letra (ou um outro sím- bolo) em negrito, como r, ou com uma seta em cima, como r →. Neste curso, ficaremos com a segunda representação, ou seja, o símbolo com a seta. Quando escrevemos um símbolo, que representa uma grandeza vetorial, sem a seta em cima, é porque estamos nos referindo à intensidade da grandeza que ele representa. Portanto, se a → é uma grandeza vetorial, então a = | a → |. Em física é mais usual representarmos o módulo de um vetor com uma barra de cada lado ao invés de duas como em álgebra linear. Assim, | a → | = || a → ||. 150 4 Vetor Deslocamento Como dissemos, um vetor é uma entidade matemática que tem um módulo, uma direção e um sentido. Os vetores serão representados por um segmento de reta orientado. A grandeza vetorial mais simples é o desloca- mento que corresponde a uma mudança de posição de um objeto. Um vetor que representa um deslocamento será chamado de vetor deslocamento. As- sim, quando uma partícula vai da posição A para a posição B , diremos que ela sofreu um deslocamento de A para B e representaremos este des- locamento por uma seta que aponta de A para B . Na Fig. 1.1a as setas A para B e de C para D têm mesmo módulo, direção e sentido, então elas representam vetores deslocamentos idênticos. Na Fig. 1.1b as curvas I, II, e III representam trajetórias diferentes para o deslocamento da partícula A pa- ra B . Vemos então que o vetor deslocamento não nos diz nada a respeito da trajetória seguida pela partícula. O vetor deslocamento representa a mudança de posição de uma partícula de A para B . A definição de vetor deslocamento dada aqui será usada até o final deste cur- so. 5 Soma Geométrica, Produto Por um Escalar e Subtração No decorrer deste curso usaremos a seguinte nomenclatura: chama- remos de Δ r →AB o vetor deslocamento que representa a mudança de posição de uma partícula quando ela vai da posição A para a posição B . Assim, um vetor deslocamento qualquer será representado por Δ r →. Na Fig. 1.2a representamos dois deslocamentos seguidos de uma partícula. Primeiro ela vai de A para B e em seguida de B para C . As curvas tracejadas representam possíveis trajetórias. Os vetores deslocamen- tos correspondentes são Δ r →AB e Δ r → BC, respectivamente. O deslocamento resultante (soma vetorial) destes dois deslocamentos é o vetor Δ r →AC. A SOMA GEOMÉTRICA de dois vetores é feita com o mesmo esquema que utilizamos para fazer a soma geométrica de dois deslocamentos, mesmo que eles representem outras grandezas físicas. Assim, dois vetores quaisquer a → e b → serão somados, geometricamente, conforme mostrado na Fig. 1.2c. Quando fazemos o PRODUTO DE UM VETOR POR UM ESCALAR (qualquer número real) λ, o vetor resultante terá a mesma direção e o mesmo sentido que o vetor original, mas seu módulo (tamanho) ficará multiplicado por λ. Se λ for um número negativo, então o vetor resultante terá a mesma direção mas terá o sentido contrário ao do vetor original, Fig. 1.3a. Quando multiplicamos um vetor a → por –1, o vetor resultante terá a mesma direção, o mesmo módulo mas terá sentido contrário ao do vetor a →. O vetor – a → é o negativo do vetor a →, Fig. 1.3b. É claro que a → + (– a → ) = 0. Aqui, 0 (zero) representa o vetor nulo. Um vetor nulo tem módulo igual a 151 zero e, portanto, não tem direção e nem sentido. Não é necessário colocar a seta em cima do zero. Basta entender que se trata de um vetor nulo. Veremos as consequências mais adiante. A SUBTRAÇÃO de dois vetores é realizada utilizando a soma com o negativo do vetor, Fig. 1.4. Assim, fazemos )( baba −+=− . (1.1) 6 Vetores Unitários Um VETOR UNITÁRIO é um vetor que tem módulo exatamente igual a 1 e aponta numa dada direção. Ele não tem dimensão e nem unidade. O único propósito do vetor unitário é apontar, i.e., definir uma direção e um sentido. Os vetores unitários que apontam nos sentidos positivos dos eixos x, y e z, como na Fig. 1.5, são chamados de i^, j ^ e k^ . Aqui, usamos o chapéu ^ no lu- gar da seta para diferenciar os vetores unitários dos outros vetores. 7 Soma Algébrica Somar vetores geometricamente pode ser cansativo ou nem ser pos- sível. Uma forma mais prática e direta de somar vetores é por meio da álge- bra. Chamaremos esta técnica de SOMA ALGÉBRICA. Para tanto, nós teremos que representar os vetores em um sistema de coordenadas. A Fig. 1.6 mostra o vetor a → em um sistema de coordenadas com o eixo z saindo do papel. As projeções do vetor a → nos eixos x, y e z são cha- madas componentes do vetor. Um vetor qualquer será escrito genericamente como: k̂ĵî zyx aaaa ++= (1.2) Em particular, o vetor da figura está contido no plano x,y (duas di- mensões), com ax = 3 e ay = 4 e pode ser escrito em termos dos vetores unitá- rios como: a → = 3 i^ + 4 j ^. 8 Produto Escalar e Produto Vetorial Na álgebra de vetores nós definimos, ainda, duas operações entre ve- tores que são chamadas de produto. A primeira delas, o PRODUTO ESCALAR, é uma operação entre dois vetores cujo resultado é um escalar. O produto esca- lar é representado por um ponto ( . ) e é definido como: )cos(θbaba =⋅ , (1.3) onde a = || a → || = módulo do vetor a → e b = || b → || = módulo do vetor b → . É im- portante notar, também, que o produto escalar é comutativo, ou seja, a →. b → = b → . a →. 152 Problema Resolvido 1.1 (a) A partir da definição, calcule o produto escalar entre os vetores unitários do sistema de coordenadas da Fig. 1.5. (b) Usando o resultado do item (a), calcule o produto escalar entre dois veto- res a → e b → . SOLUÇÃO: Na solução devemos lembrar que os vetores unitários formam um ângulo de 90º uns com os outros (são ortogonais entre si) e que qualquer ve- tor forma um ângulo nulo consigo mesmo. Assim, (a) O produto escalar entre os vetores unitários fica: 1111)0cos(||ˆ||||ˆ||ˆˆ =××=⋅=⋅ iiii 1111)0cos(||ˆ||||ˆ||ˆˆ=××=⋅=⋅ jjjj 1111)0cos(||ˆ||||ˆ||ˆˆ =××=⋅=⋅ kkkk 0011)90cos(||ˆ||||ˆ||ˆˆˆˆ =××=°⋅=⋅=⋅ jiijji 0011)90cos(||ˆ||||ˆ||ˆˆˆˆ =××=°⋅=⋅=⋅ kiikki 0011)90cos(||ˆ||||ˆ||ˆˆˆˆ =××=°⋅=⋅=⋅ kjjkkj (b) Com o resultado do item (a) calculamos: 100 010 001 )ˆˆ()ˆˆ()ˆˆ( )ˆˆ()ˆˆ()ˆˆ( )ˆˆ()ˆˆ()ˆˆ( )ˆˆˆ()ˆˆˆ( === === === ⋅+⋅+⋅+ ⋅+⋅+⋅+ ⋅+⋅+⋅= ++⋅++=⋅ kkbajkbaikba kjbajjbaijba kibajibaiiba kbjbibkajaiaba zzyzxz zyyyxy zxyxxx zyxzyx Assim, scomponente das termosemescalar produto zzyyxx babababa ++=⋅ (1.4) O produto vetorial é uma operação entre dois vetores cujo resultado é um terceiro vetor, perpendicular ao plano definido pelos dois vetores en- volvidos no produto. O produto vetorial é representado pelo sinal de multi- plicação ( × ) e é definido por: ⎪ ⎪ ⎪ ⎭ ⎪ ⎪ ⎪ ⎬ ⎫ θ=× (Fig.1.8). direita mão da regra pela dado é sentido O) .e vetorespelos definido plano aolar perpendicu é resultante vetor do direçãoA ) )(sen|||| é resultante vetor do módulo O) iii ba ii baba i (1.5) Problema Resolvido 1.2 A partir da definição (1.5), calcule o produto vetorial entre os vetores unitá- rios do sistema de coordenadas da Fig. 1.5. 153 SOLUÇÃO O produto vetorial entre os vetores unitários fica: 0 )0(sen||ˆ||||ˆ||||ˆˆ|| =××=× iiii 0 )0(sen||ˆ||||ˆ||||ˆˆ|| =××=× jjjj 0 )0(sen||ˆ||||ˆ||||ˆˆ|| =××=× kkkk Portanto, o produto vetorial de um vetor unitário por ele mesmo é nulo. Ali- ás, o produto vetorial de qualquer vetor por si mesmo é nulo. E mais... 1 )90(sen||ˆ||||ˆ||||ˆˆ|| =°××=× jiji Assim, o resultado do produto vetorial i^ × j ^ é um vetor que tem módulo i- gual a 1, é perpendicular ao plano x,y e está saindo do papel. Quem tem estas propriedades é o vetor k^. Então, k̂ˆˆ e k̂ˆˆ −=×=× ijji (1.6) O mesmo acontece com os produtos vetoriais i^ × k^ e j ^ × k^. 1 )90(sen||ˆ||||ˆ||||ˆˆ|| =°××=× kiki O resultado do produto vetorial i^ × k^ é um vetor que tem módulo igual a 1, é perpendicular ao plano x,z e aponta para baixo. Este á o vetor – j ^. Assim, ĵˆk̂ e ˆk̂ˆ =×−=× iji (1.7) E 1 )90(sen||ˆ||||ˆ||||ˆˆ|| =°××=× kjkj O resultado do produto vetorial j ^ × k^ é um vetor que tem módulo igual a 1, é perpendicular ao plano y,z e aponta para a direita. Este á o vetor i^. Assim, ijkij ˆˆˆ e ˆk̂ˆ −=×=× (1.8) Problema Resolvido 1.3 Usando o resultado do acima, calcule o produto vetorial entre dois vetores a → e b → quaisquer, em termos de suas componentes. SOLUÇÃO O produto vetorial entre dois vetores a → e b → é calculado como: 0ˆ ˆ0ˆ ˆˆ0 )ˆˆ()ˆˆ()ˆˆ( )ˆˆ()ˆˆ()ˆˆ( )ˆˆ()ˆˆ()ˆˆ( )ˆˆˆ()ˆˆˆ( =−== ==−= −=== ×+×+×+ ×+×+×+ ×+×+×= ++×++=× kkbajkbaikba kjbajjbaijba kibajibaiiba kbjbibkajaiaba zz i yz j xz i zyyy k xy j zx k yxxx zyxzyx Portanto, kbabajbabaibababa zyyxxzzxyzzy ˆ)(ˆ)(ˆ)( −+−−−=× (1.9) 154 Mostre que o resultado acima é equivalente a: ⎟⎟ ⎟ ⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎜ ⎜ ⎝ ⎛ =× zyx zyx bbb aaa kji ba ˆˆˆ det 9 Problemas Prob. 1.1 O vetor a → possui um módulo igual a 5,0 m e está dirigido para o leste. O vetor b → possui um módulo igual a 4,0 m e está numa direção de 35° para o noroeste a partir do norte. Quais são (a) o módulo e (b) a direção de a → + b → ? Quais são (c) o módulo e (d) a direção de a → – b → ? (e) Desenhe um diagrama vetorial para cada combinação. Prob. 1.2 Dois vetores são dados por: a → = (4 m) i^ + (3 m) j^ + (1 m) k^ e b → = (5 m) i^ + (– 2,0 m) j^. Na notação de vetor unitário, encontre (a) a → + b → , (b) a → – b → e (c) um terceiro vetor c → tal que a → – b → + c → = 0. Prob. 1.3 São dados dois vetores: a → = (4 m) i^ + (3 m) j^ e b → = (6 m) i^ + (8 m) j^. Quais são (a) o módulo e (b) o ângulo (relativo a j^) de a → ? Quais são (c) o módulo e (d) o ângulo de b → ? Quais são (e) o módulo e (f) o ângulo de a → + b → ; (g) o módulo e (h) o ângulo de b → – a → ; (i) o módulo e (j) o angulo de a → – b → ? (k) Qual é o ângulo entre as direções de b → – a → e a → – b → ? Prob. 1.4 Cada um dos três vetores a → , b → e c → possui um módulo igual a 50 m e pertence ao plano x,y. Suas direções relativas ao sentido positivo do eixo x são 30°, 195° e 315°, respectivamente. Quais são (a) o módulo e (b) o ângulo do vetor a → + b → + c → e (c) o módulo e (d) o ângulo de a → – b → + c → ? Quais são (e) o módulo e (f) o ângulo de um quarto vetor d → tal que a → + b → – ( c → + d → d) = 0? Prob. 1.5 Dois vetores com módulos iguais a a e b fazem um ângulo θ entre si quando fazemos coincidir as suas caudas. Prove, tomando as componentes ao longo de dois eixos perpendiculares, que θ++= cos222 abbar fornece o módulo da soma r → dos dois vetores. 155 Unidade II Cinemática 1. Situando a Temática No estudo dos movimentos dos corpos precisamos entender o como um corpo se movimenta e porque um corpo se movimenta. O como e o por- que dos movimentos dos corpos compõem a mecânica; a mais antiga das ci- ências físicas. A CINEMÁTICA é a parte da mecânica que descreve os movimentos dos corpos. As trajetórias, as velocidades e as acelerações dos objetos. Este será nosso objetivo para esta unidade. 2. Problematizando a Temática O universo está em movimento. Todas as coisas que estão no univer- so estão em movimento. Mesmo as coisas aparentemente em repouso, como seu computador, estão em movimento com a Terra ao redor do Sol; com a órbita do Sol ao redor do centro da Via Láctea; da via Láctea em relação às outras galáxias. Então, o estudo dos movimentos dos corpos tem que fazer parte das ciências físicas. Quando um ônibus espacial é enviado à Lua, precisamos descrever, antecipadamente, a posição do ônibus a cada instante (descrever sua trajetó- ria), sua velocidade a cada instante e sua aceleração a cada instante. Isto é a CINEMÁTICA. Estes são os conceitos que desenvolveremos nesta unidade. Entretanto, nesta unidade os objetos em estudo terão seus movimen- tos limitados às translações. Isto significa que todos os corpos serão tratados como partículas; como se todas as forças estivessem atuando num único pon- to. Nós falaremos de partículas, corpos e objetos indiscriminadamente, mas tendo em mente, sempre, que eles se comportam como partículas. Sem rota- ção. É preciso não confundir movimento de rotação com trajetória circular. A Terra tem um movimento de translação na sua órbita quase circular em torno do Sol e um movimento de rotação em torno de seu eixo. Os movimen- tos de rotação serão estudados nas unidades VI e VII. 3. Vetor Posição e Vetor Deslocamento VETOR POSIÇÃO O vetor r → que localiza uma partícula no espaço tridimensional em relação a um sistema de coordenadas é chamado de VETOR POSIÇÃO. Nada mais justo que chamar de vetor posição o vetor que dá a posição da partícu- la. O vetor r → será escrito como: kĵi zyxr ++= (2.1) onde x, y e z são as projeções do vetor r →. 156 Se a partícula estiver em movimento, então sua posição estará vari- ando com o tempo e, consequentemente, também o vetor posição estará vari- ando com o tempo. Um vetor posição que varia com o tempo r →(t) (Fig. 2.1) será escrito, até o fim desta disciplina, como: k)(i)(i)()( tztytxtr ++= (2.2) Isto significa que as coordenadas x(t), y(t) e z(t) estão variando com o tempo. VETOR DESLOCAMENTO Como vimos na unidade anterior, o VETOR DESLOCAMENTO é o vetor que repre- senta a mudança de posição do corpo durante um intervalo de tempo Δt. As- sim, se um corpo estiver na posição A no instante t (início do intervalo de tempo) e na posição B no instante t + Δt (final do intervalo de tempo), en- tão o seu deslocamento será dado por: )()( trttr rrr ABAB −Δ+= −=Δ (2.3) Se olharmos para a definição do vetor deslocamentoEq.2.2, podemos escre- ver o vetor deslocamento em termos das componentes do vetor como kji ]k)(i)(i)([ ]k)(j)(i)([ zyx tztytx ttzttyttxrAB Δ+Δ+Δ= ++− Δ++Δ++Δ+=Δ (2.4) A Fig. 2.2 mostra um vetor deslocamento em duas dimensões. O vetor des- locamento resulta em jij)(i)( ABABABABAB yxyyxxr Δ+Δ=−+−=Δ (2.5) Quando estivermos tratando de problemas em uma única dimensão, o vetor deslocamento terá apenas uma componente diferente de zero; x(t), y(t) ou z(t). 4. Velocidade Média e Velocidade Instantânea VELOCIDADE MÉDIA O conceito de velocidade média é mais matemático que intuitivo. Não tem muito a ver com as nossas observações do dia-a-dia. Vejamos. Na Fig. 2.2 a partícula vai de A para B num intervalo de tempo Δt. A velocidade média, v→ — , da partícula neste intervalo de tempo é definida por (escalar) tempode intervalo (vetor) todeslocamenvetor = Δ Δ = t rv (2.6) Na definição acima, o vetor deslocamento Δ r → é sempre o vetor ,que vai da posição que a partícula ocupa no início do intervalo de tempo (posi- ção inicial) até a posição que a partícula ocupa no final do intervalo de tem- po (posição final), como na Eq. 2.2. Assim, Δ r → = r →final – r → inicial. 157 Note que a velocidade média é um vetor e a barra, que está sobre o vetor, indica o valor médio. Utilizando a Eq. 2.4 obtemos kji t z t y t xv Δ Δ + Δ Δ + Δ Δ = (2.7) Suponhamos que você saia de sua casa, vá até a padaria, compre um pão e volte para casa. O vetor deslocamento total correspondente ao trajeto casa → padaria → casa é nulo, já que o vetor posição no final do intervalo de tempo é igual ao vetor posição do início do intervalo de tempo. Olhando para a definição acima, concluímos que a sua velocidade média no trajeto ida e volta é nula. Não importa o quão rápido você tenha ido e voltado. VELOCIDADE INSTANTÂNEA Velocidade é sempre um deslocamento por unidade de tempo. A ve- locidade instantânea é aquela medida num intervalo de tempo infinitesimal. É claro que num intervalo de tempo infinitesimal o deslocamento também será infinitesimal. A velocidade instantânea é definida como: dt trd t trttr t rtv t t )()()(lim lim)( 0 0 = Δ −Δ+ = Δ Δ = →Δ →Δ (2.8) Lembrando da definição do vetor posição, escrevemos: kjik)(j)(i)()( zyx vvvdt tzd dt tyd dt txdtv ++=++= (2.9a) Atenção: As componentes vx, vy, e vz do vetor velocidade ficam: ( ) ( ) ( ); ;x y z d x t d y t d z tv v v dt dt dt = = = (2.9b) O vETOR velocidade instantânea é a derivada do vetor posição. Como o vetor posição localiza a partícula a cada instante, então ele dá a trajetória da partícula. Desta forma, por ser a derivada, a velocidade instantânea é sempre tangente à curva descrita pela partícula. 5. Velocidade Escalar e Velocidade Escalar Média VELOCIDADE ESCALAR A velocidade escalar é o módulo da velocidade instantânea. É a ve- locidade sem direção e sem o sentido. É a velocidade marcada no velocíme- tro do automóvel. Apenas olhando para o velocímetro nós não sabemos se estamos indo ou voltando. Dá para saber apenas se estamos indo rápido ou devagar. Portanto, ainstantâne e velocidadda módulo||)(|| == tvv (2.10) 158 VELOCIDADE ESCALAR MÉDIA A velocidade escalar média é a que estamos acostumados no dia a dia. É a distância total percorrida, num dado intervalo de tempo. Não impor- ta o que aconteceu pelo caminho. Ela é definida como: (escalar) tempode intervalo (escalar) percorrido espaço .. =Δ Δ = t Sv me (2.11) 6. Aceleração Média e Aceleração Instantânea A aceleração de uma partícula mede a taxa de variação de sua velo- cidade com o tempo. Assim, quando a velocidade de uma partícula varia, di- zemos que ela está sendo acelerada. Se a velocidade de uma partícula sofre uma variação Δ v → num inter- valo de tempo Δt, definimos aceleração média como: t va Δ Δ = (2.12a) Note que a aceleração média é um vetor constante. É constante por- que é um valor médio. O vetor velocidade tem componentes vx, vy e vz, como na Eq 2.9b. Assim, analogamente ao que fizemos para a velocidade média, Eq 2.7, encontramos kji t v t v t v a zyx Δ Δ + Δ Δ + Δ Δ = (2.12b) ACELERAÇÃO INSTANTÂNEA A aceleração instantânea mede a variação da velocidade de uma par- tícula num intervalo de tempo infinitesimal: dt vd t tvttv t vta t t = Δ −Δ+ = Δ Δ = →Δ →Δ )()(lim lim)( 0 0 (2.13) Utilizando a Eq. 2.9, encontramos: k̂ĵîk̂ )( ĵ )( î )( )( zyx zyx aaa dt tvd dt tvd dt tvd ta ++=++= (2.14) Atenção: As componentes ax, ay e az do vetor aceleração, são dt tvd a dt tvd a dt tvd a zz y y x x )( ; )( ; )( === (2.15) A aceleração instantânea é um vetor que pode depender do tempo e da posição. Ou seja, podemos nos deparar com um problema onde a → = a →(x, y, z, t). Nos nossos problemas, abordaremos os casos especiais em uma e duas dimensões, com acelerações constantes. Resolveremos também o pro- blema do movimento circular. 159 7. Movimento Em Uma Dimensão Com Aceleração Constante MOVIMENTO RETILÍNEO O movimento restrito a uma única dimensão, movimento retilíneo. Por exemplo, o de um carro que anda com velocidade constante em uma pis- ta reta e plana, ou o de um corpo que cai em queda livre partindo do repouso, ou o de um bloco preso a uma mola que oscila sobre uma mesa plana e assim por diante. Os três exemplos acima correspondem a movimentos em uma di- mensão, i.e., retilíneos, mas com características diferentes. ♦ O carro, andando com uma velocidade que não varia — velocida- de constante —, caracteriza um movimento retilíneo uniforme (MRU) na horizontal. Um movimento sem aceleração, ou com aceleração nula. ♦ O corpo caindo em queda livre caracteriza um movimento retilí- neo na vertical. Desta vez, como ele está sujeito a uma aceleração constante (da gravidade), o movimento será uniformemente vari- ado. ♦ O bloco que oscila está sujeito à força de uma mola que varia com a posição. Então a aceleração também variará com a posição. Neste caso nós teremos um movimento ainda linear, mas com a- celeração variável. Mais complicado que os anteriores. Consideremos um corpo que se movimenta na direção horizontal com aceleração, a →, constante (Fig. 2.3c). É preciso que o vetor aceleração seja constante para que o movimento se- ja retilíneo; a → = constante. Vamos escolher a direção horizontal para colocar o nosso eixo x. Assim, as acelerações nas direções y e z serão nulas. Da Eq. 2.15 encontra- mos: constante )( == x x a dt tvd onde ax é a aceleração na direção x. Integrando a relação acima, encontra- mos: constante)( +===⇒= ∫∫ tadtadtavdtatvd xxxxxx . Assim, a velocidade do corpo será uma função linear do tempo, Fig.2.3b: 0x x xv v a t= + (2.16) Onde v0x é a velocidade do corpo no instante t = 0. A posição x em função do tempo é obtida a partir da Eq. 2.9b: 160 )()( tv dt txd x= Integrando a Eq.2.16 encontramos: constante )()()( 2 2 1 0 0 ++= +==⇒= ∫∫ tatv dttavdtvtxdtvtxd xx xxxx Finalmente. 2 2 1 00)( tatvxtx xx ++= (2.17) A Eq 2.17 é chamada de equação horária da partícula. A Fig. 2.3a mostra o gráfico de x(t). Observe que fazendo t = 0 na Eq. 2.17, obtemos x = x0 que é a posição inicial da partícula. A Fig. 2.3c mostra o gráfico da aceleração (constante) de uma partí- cula em função do tempo. Note que quando a aceleração é constante, a acele- ração média é igual à aceleração instantânea. A velocidade é mostrada na Fig. 2.3b. Como a velocidade varia linearmente com o tempo, então a velo- cidade média entre dois instantes t1 e t2, é igual a média das velocidades; 2 21 vvv += (2.18) Podemos combinar as Eqs, 2.16 e 2.17 para eliminar o tempo e ob- termos a relação: xavv Δ+= 220 2 (2.19) A Eq. 2.18 pode ser utilizada entre dois instantes tinicial e tfinal. As velocidades v e v0 correspondem aos instantes final e inicial,respectivamente. Problema Resolvido 2.1 O motorista de um carro, viajando por uma rodovia a 108 km/h (30 m/s), freia ao avistar um obstáculo a 200 m na sua frente. Ele bate no obstáculo 10 s depois de acionar os freios. (a) Qual a desaceleração do automóvel, suposta constante? (b) Qual a velocidade do carro ao atingir o obstáculo? SOLUÇÃO: Vamos supor que o movimento aconteça ao longo do sentido po- sitivo do eixo do x. Vamos considerar, também, ti = 0 o instante quando o motorista começa a frear e tf.= 10 s o instante que ele bate no obstáculo. Sa- bemos que x(tf = 0) = 0 e x(t = 10s) = 200 m. Então, da Eq. 2.17, temos: (a) 22 1 00)( ffxf tatvxtx ++= Então, 2 22 2 1 /2 / 50 3002001010300200 sm smaa −= − =⇒+×+= O sinal de menos indica que a aceleração é contrária ao sentido do movi- mento, i.e., é um movimento uniformemente desacelerado. (b) Da Eq. 2.16, que dá a velocidade em função do tempo, temos: sm smvtavtvv ffxfxf /10 /]10)2(30[)( 0 = ⋅−+=⇒+== 161 Apenas para conferir vamos fazer: mm t vv xtvx f 20010 2 1030 2 1 =⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ × + = Δ + =Δ⇒Δ⋅=Δ Problema Resolvido 2.2 Um automóvel, que está parado no sinal de trânsito, parte assim que o sinal fica verde com uma aceleração de 2 m/s2. Nesse mesmo instante um cami- nhão viajando com velocidade constante de 10 m/s ultrapassa o automóvel. (a) A que distância, contando a partir do semáforo, o automóvel ultrapassará o caminhão? (b) Qual será a velocidade do automóvel neste instante? SOLUÇÃO: Vamos supor, novamente, que o movimento aconteça ao longo do sentido positivo do eixo do x. Vamos considerar, também, x0 = 0 e ti = 0 o instante que o semáforo fica verde. Neste exemplo nós temos o movimento uniforme do caminhão (velocidade constante) e o movimento uniformemente acelerado do automóvel (acelera- ção constante). A Fig. 2.4a mostra que os dois veículos têm a mesma posi- ção x em dois instantes diferentes; em x = 0 e no instante de ultrapassagem. As equações horárias são: (a) 2 2 1 0 ,00 0 )( e )( tatvxtx tvxtx autautaut camcam ++= += = Quando eles estiverem na mesma posição xcam(tu) = xaut(tu), onde tu é o ins- tante de ultrapassagem. Assim, 22 1 0 ,0 0 0 0 0 uautuautucam tatvxtvx ++=+ === Resolvendo para tu, encontramos: ss a v ttatv aut cam uuautucam 102 10222 2 1 = × ==⇒= Substituindo em qualquer uma das duas equações horárias obtemos: mtvtxtx ucamucamuaut 100)()( === (b) A velocidade do automóvel neste instante será: ( ) smstavtv uautautuaut /201020)( ,0 =×+=+= 8. Aceleração de Queda Livre Quando deixamos um objeto cair verticalmente, observamos que ele é acelerado. Desprezando a resistência do ar, verificamos que esta aceleração é aproximadamente constante nas proximidades da superfície da Terra. Veri- 162 ficamos também que todos os corpos caem com a mesma aceleração em um mesmo ponto da superfície, independentemente da sua massa, tamanho ou forma. Este movimento é chamado de queda livre e esta aceleração, constan- te, é chamada de aceleração de queda livre, Fig 2.5. A aceleração de queda livre tem origem no campo gravitacional da Terra. É a aceleração da gravi- dade, g →, cujo módulo é aproximadamente igual a 9,8 m/s2, próximo da su- perfície da Terra. As equações que encontramos para um movimento com aceleração constante na horizontal, eixo x, são válidas para o movimento de queda livre nas proximidades da Terra. Aqui, o movimento acontece ao longo do eixo y. Assim. 2 )( )( 21 0 2 2 1 00 yy y yy y vv v tgvtv tgtvyty + = −= −+= (2.20) Vale também, no intervalo de tempo entre ti e tf , instantes inicial e final, podemos escrever: y ifyiyf yygvv Δ −−= )(222 (2.21) Problema Resolvido 2.3 Um balão está “estacionado” sobre um lago quando o piloto do balão decide soltar os lastros para subir, Fig. 2.6. O lastro é largado de uma altura de 4,9 m acima da superfície do lago e cai verticalmente, sem perceber a resistência do ar. Entretanto, ao penetrar na água ele afunda com velocidade constante devido à resistência da água. O lastro atinge o fundo do lago 5 s após ter sido solto do balão. (a) Qual a profundidade do lago? (b) Qual a velocidade mé- dia do lastro desde A até C ? (c) Se a água fosse retirada, qual deveria ser a velocidade inicial (na vertical) do lastro para que ele chegasse ao fundo do lago vazio nos mesmos 5 s? (a) Desta vez o movimento acontece na vertical, na direção do eixo y. Fa- remos yC = 0 ss g yy ttgtvyy B 1 8,9 9,42 )(2 BA2 B2 1 B 0 oyAB = × = − =⇒−+= = Neste instante a velocidade da pedra é: smsmvtgvv B /8,9/)18,90(By 0yBy −=×−=⇒−= O sinal negativo indica que a velocidade tem sentido contrário ao sentido positivo do eixo do y. Afundando com esta velocidade (constante) de B até C, durante um intervalo de tempo ΔtBC = Δttotal – ΔtAB = 4s, a lastro percorre uma distância dada por: 163 mm tvyytvyy 2,39)48,9( BCByCBBCByBC =×−−= Δ−=−⇒Δ+= Portanto o lago tem uma profundidade de 39,2 m. (b) O vetor velocidade média, definida na Eq. 2.6, é dado por j t yy j t y t rv ˆˆ AC AC AC AC Δ − = Δ Δ = Δ Δ = jsmjsmv ˆ)/82,8(ˆ/ 5 1,440 −=⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ −= O módulo do vetor velocidade média é 8,82 m/s. (c) A velocidade inicial do lastro é obtida a partir da equação horária: 2voo2 1 vooAyAC tgtvyy −+= Como queremos que o lastro demore os mesmos 5,0 s para chegar ao fundo, obtemos: sm smtg t yy v /68,15 /]58,9 5 )1,440([ )( 2 1 voo2 1 voo AC Ay = ×+ +− =+ − = 9. Movimento em Duas Dimensões Nas duas últimas seções estudamos movimentos em uma dimensão; numa reta. Agora, estudaremos dois movimentos, diferentes, que acontecem no plano: Movimento de um Projétil e o Movimento Circular. 9.1 Projéteis Chamaremos de projétil um corpo que é lançado, de alguma forma, com uma componente de velocidade na horizontal. Embora o movimento do projétil seja um movimento de queda livre, uma vez que ele está sujeito ape- nas à ação da gravidade, ele acontece no plano quando visto do referencial Terra. Daí a diferença. O vetor posição da Eq. 2.2, que localiza a partícula no plano, fica: ĵ)(î)()( tytxtr += (2.22) As acelerações ao longo dos eixos x e y são 2/8,9e0 smgaa yx −=−== Como as duas componentes do vetor aceleração são constantes, o ve- tor aceleração é constante. É preciso que o vetor seja constante, e não apenas o seu módulo, para que tenhamos um movimento uniformemente variado. Ao estudar o movimento do corpo no plano, nós podemos trabalhar com as componentes x(t) e y(t) do vetor posição, separadamente. Assim, a 164 partir das Eqs. (2.17) e (2.20), encontramos as equações horárias para o mo- vimento do projétil ao longo das direções x e y, como: ⎩ ⎨ ⎧ = += ⇒++= 0 )( )( 0022 1 00 x x xx a tvxtx tatvxtx (2.23) e ⎪⎩ ⎪ ⎨ ⎧ −= −+= ⇒++= ga tgtvyty tatvyty y y yy 2 2 1 002 2 1 00 )( )( (2.24) Ou seja, a equação horária x(t) na direção x é aquela que corresponde a um movimento retilíneo e uniforme com ax = 0 e vx = constante e a equação ho- rária y(t) na direção y é aquela que corresponde a um movimento retilíneo uniformemente variado com ay = constante = – g. A Fig. 2.7 mostra a trajetória de um projétil lançado a partir do solo com uma velocidade inicial v →0, que forma um ângulo θ 0 com a horizontal. Em termos das componentes o vetor v →0 é escrito como: ĵsenîcos 00 0000 yx vv vvv θ+θ= (2.25) A TRAJETÓRIA Apenas para facilitar os cálculos (sem perda de generalidade), vamos colocar a origem do nosso sistema de coordenadas no ponto de lançamento do projétil, ou seja, x0 = 0 e y0 = 0. Da Eq. 2.23 temos: xv xt 0 = . Substituindo em (2.24) obtemos a equação da trajetória, y(x), 2 22 0 2 2 00 0 cos2 tan 1 2 1)( x v gx x v gx v v ty xx y θ −θ= −= (2.26) que é a equação de uma parábola. O sinal negativo no termo quadráticoindi- ca que é uma parábola com a “boca” voltada para baixo. O ALCANCE Chamamos de alcance a distância total, R, que o projétil percorre na direção x (horizontalmente), independente do ponto de lançamento. Esta dis- tância é sempre dada por: voox tvR 0= (2.27) Onde tvoo é o tempo que o projétil fica no ar. Quer dizer, a distância percorrida pelo projétil na direção horizontal é igual à velocidade do projétil na direção x — velocidade constante — vezes o tempo de duração do movi- mento. Em particular, para um projétil lançado nas condições da Fig. 2.7, o tempo de vôo é calculado fazendo y(tvoo) = yfinal = 0. Então. 0)( 22 1 0 2 2 1 0 0 0 0 =−⇒−+= == voovooyvoovooyvoo gttvgttvyty 165 Portanto, g v t yvoo 02= . Assim, o alcance fica )(2sen cossen22 20 2 000 θ= θθ == g v g v g vv R xy (2.28) Vemos então que o alcance de um projétil, cuja posição final está no mesmo nível que sua posição inicial ( yfinal = yinicial ), será máximo quando θ = 45º. O resultado )(2sen 2 0 θ= g v R é válido, apenas, para lançamentos onde yfinal = yinicial. O resultado que vale sempre é o da Eq. (2.27). Problema Resolvido 2.4 Você arremessa uma bola em direcão a uma parede com uma velocidade de 25 m/s fazendo um ângulo de 37° acima da horizontal (Fig. 2.8). A parede está a 20 m do ponto de lançamento da bola. (a) A que distância acima do ponto de lançamento a bola bate na parede? (b) Quais são as componentes horizontal e vertical da sua velocidade quando ela bate na parede? (c) Quando ela bate, ela já passou do ponto mais alto da sua trajetória? (use g = 10 m/s2, cos 37° = 0,8 ) SOLUÇÃO: (a) Chamaremos de tf o instante (final) quando a bola bate na parede. Preci- saremos saber este instante para calcularmos a posição final y(tf). O tempo de vôo da bola é igual ao tempo que a bola gasta para percorrer 20 m na ho- rizontal com um velocidade vox = vocos(θ) = 20 m/s: s1s 20 20f ffof == − =⇒+= ox o ox v xxttvxx Então, a posição yf da bola será: m 10 m]1101)6,025(0[ )( 2 2 1 2 f2 1 foff = ×−××+= −+== tgtvytyy oy (b) As componentes de v →f são: m/s20oxfx == vv m/s5m/s)11015(foyfy =×−=−= gtvv (c) Como a componente y da velocidade final é positiva, então concluímos que a bola ainda está subindo. Logo a bola ainda não passou pelo máximo. 166 Problema Resolvido 2.5 Quando o projétil da Fig. 2.9, lançado da posição A no solo, passa pela po- sição B a 15 m de altura, sua velocidade é v →B = (8 m/s)i ^ + (10 m/s)j ^. (a) Determine o vetor velocidade v →A no instante do lançamento. (b) Quanto tempo o projétil permanece no ar (tempo de vôo) até atingir o solo no mes- mo nível? (c) Qual a altura máxima atingida pelo projétil? (d) Determine o vetor velocidade média v→ — CD desde o instante que o projétil passa pelo ponto de altura máxima até o instante que ele atinge o solo. SOLUÇÃO: (a) O projétil está a 15 m do solo em dois instantes diferentes: na subida e na descida. Entretanto, como a componente y da velocidade v→B é positiva, con- cluímos que o projétil ainda está subindo. Desta forma, podemos calcular a componente vAy usando a Eq. 2.21. m/s20 m/s15102100 )(2)(2 222 = ××+= −+=⇒−−= ABByAyABAyBy yygvvyygvv Desta forma, v →A = (8 m/s) j ∧ + (20 m/s) j∧. (b) Como o projétil atinge o solo no mesmo nível em que foi lançado, a componente y da velocidade final será igual à componente y inicial, com sentido contrário (vDy = – vAy). Então, yyvooyy vvtgvv ADAD com −=−= s4 2 Portanto, A == g v t yvoo (c) A altura máxima alcançada pelo projétil é yC. Neste instante a componen- te y da velocidade é nula. Assim temos: m 20 2g )(2 2 A CAC 2 A 2 C ==⇒−−= y yy v yyygvv (d) A velocidade média v→ — CD é dada por: j)m20(i)m16(j Hi 2 R i)m32(iiRcom C vooAxCD +=+= === Δ − = r tvr t rr v D CD Finalmente, j)m/s10(i)m/s8( s2 j)m20(i)m16( CD −= − =v 167 9.2 Movimento Circular Outro exemplo de movimento que acontece no plano é o de uma par- tícula que descreve uma trajetória circular como aquela mostrada na Fig. 2.10. Nós vamos considerar nesta seção apenas os movimentos circulares u- niformes, i.e., aqueles onde o módulo da velocidade permanece constante. POSIÇÃO ANGULAR A Fig. 2.11 mostra uma partícula descrevendo uma trajetória circu- lar. Vamos considerar que a velocidade da partícula tenha de módulo cons- tante. Para localizarmos a partícula no círculo, precisamos conhecer apenas o ângulo θ. Como o ângulo está mudando a medida que a partícula se deslo- ca, nós precisamos conhecer θ(t). Esta é a posição angular da partícula. Como na geometria, ângulos no sentido anti-horário serão positivos e ângu- los no sentido horário serão negativos. DESLOCAMENTO ANGULAR Quando a partícula “gira” de A para B num intervalo de tempo Δt, o ângulo muda de θA para θB. Isto corresponde a um deslocamento angular ΔθΑΒ = θB − θA. VELOCIDADE ANGULAR MÉDIA E VELOCIDADE INSTANTÂNEA A velocidade angular média é definida como = Δ θ−θ = Δ θΔ =ω tt inicialfinal (2.29) onde θfinal é a posição angular no final do intervalo de tempo e θinicial é a po- sição angular no início do intervalo de tempo. A velocidade angular instantânea é a velocidade medida quando o intervalo de tempo tende a zero. Assim, dt td t tttt t )()()(lim)( 0 θ = Δ θ−Δ+θ =ω →Δ Nesta seção nós trataremos de problemas onde a velocidade angular é constante, então ω− = ω. Assim, escolhendo a posição inicial θ0 = 0 o deslo- camento angular da partícula θ(t) é escrito como tt ω=θ )( (2.31) ACELERAÇÃO RADIAL Da Fig. 2.11 vemos que o vetor posição r →(t) é escrito, em termos das componentes como ĵ)(senî)cos(ĵ)(î)()( θ+θ=+= RRtytxtr onde R é o raio da órbita. Com a Eq. 2.31, escrevemos ĵ)sen (î)cos()( tRtRtr ω+ω= (2.32) 168 Derivando a Eq. 2.32 em relação ao tempo, encontramos a velocida- de v →(t), ĵ)cos(î)sen ()()( tRtR dt trd tv ωω+ωω−== Derivando, agora, a Eq. 2.33 em relação ao tempo, encontramos a aceleração a →(t) do movimento; [ ] rjRiR jRiR dt tvdta r 22 22 ˆ)tsen(ˆ)tcos( ˆ)tsen(ˆ)tcos()()( ω−=ω+ωω−= ωω−+ωω−== (2.33) Portanto, no movimento circular uniforme a aceleração é um vetor que tem a mesma direção do vetor r →(t), mas tem o sentido contrário ao do vetor r →(t). Ou seja, a aceleração é um vetor que tem a direção radial e apon- ta para o centro. Por esse motivo (apontar para o centro) esta aceleração re- cebe o nome de aceleração centrípeta. O módulo da componente radial da aceleração (componente centrí- peta) é Rraradial 22 |||| ω=ω= . (2.34) Note que o módulo da aceleração radial é constante quando a velocidade an- gular é constante. Quando a velocidade angular não é constante, então é porque a par- tícula está sendo acelerada (ou desacelerada). Nestes casos, além da compo- nente radial a aceleração da partícula tem uma componente tangente à traje- tória (perpendicular ao raio) como mostra a Fig. 2.10. Ainda assim, em qual- quer instante a aceleração radial está relacionada com a velocidade angular como na Eq. 2.34. VELOCIDADE ANGULAR E VELOCIDADE LINEAR A Fig. 2.12 mostra o deslocamento de uma partícula num intervalo de tempo Δt. A partícula se desloca de A para B ao longo do arco de cir- cunferência Δs. O vetor deslocamento está representado pelo vetor Δ r →. O espaço percorrido pela partícula está relacionado com o deslocamento angu- lar por: θΔ=Δ Rs Quando o intervalo de tempo tende a zero, os deslocamentos ficam infinite- simais. Assim, θ== ⎪ ⎩ ⎪ ⎨ ⎧ ⇒ θ→θΔ →Δ →Δ ⇒→Δ dRdsdr d dss drr t 0 Então encontramos as relações: ω=⇒θ= Rv dt dR dt dr (2.35) 169 Substituindo 2.35 em 2.34, encontramos: R va 2 radial = (2.36) Esta relação vale instantaneamente, não importando se é um movi- mento circular uniforme ou não. Por enquanto nós abordaremos apenas o movimento circularcom ve- locidade constante. Ao abordarmos o tema rotações, aí escreveremos uma relação equivalente à Eq. 2.35 para a aceleração angular. Problema Resolvido 2.6 Um astronauta é colocado para girar em uma centrífuga horizontal com um raio de 5 m. (a) Qual o módulo da sua velocidade escalar se a aceleração centrípeta (radial) possui um módulo de 7 g? (b) Quantas rotações por minuto são necessárias para produzir esta aceleração? (c) Qual é o período do movimento? (a) A Eq. 2.35b relaciona a aceleração radial e a velocidade escalar. Então m/s5,18m/s8,975radial ≅××== aRv (b) Da Eq. 2.35a, podemos encontrar a velocidade angular: rad/s7,3rad/s 5 5,18 ===ω R v (c) O período do movimento é s7,1s 7,3 14,322 ≅ × = ω π =T 10. Problemas Prob 2.1 Você dirige na rodovia interestadual de João Pessoa até Natal, metade do tempo a 55 km/h e a outra metade a 90 km/h. No caminho de volta você viaja metade da distância a 55 km/h e a outra metade a 90 km/h. Qual a sua velocidade escalar média (a) de João Pessoa até Natal, (b) de Natal voltando para San António, e (c) para a viagem completa? (d) Qual a sua velocidade média para a viagem completa? (e) Faça um esboço de x contra t para (a), supondo que o movimento é todo no sentido positivo de x. Indique como a velocidade média pode ser determinada no esboço. Prob 2.2 Quando um trem de passageiros de alta velocidade trafegando a 161 km/h faz uma curva, o maquinista fica chocado ao ver que uma locomotiva entrou incorretamente no trilho saindo de um ramal e está a uma distância D = 676 m à frente. A locomotiva está se movendo a 29,0 km/h. O maquinista do trem-bala aciona os freios imediatamente, (a) Qual deve ser o módulo da desaceleração constante resultante mínima para se evitar uma colisão? (b) Suponha que o maqui- nista esteja em x = 0 quando, em t = 0, ele consegue avistar a locomotiva. Faça um esboço das curvas x(t) representando a locomotiva e o trem de alta velocidade para as situações nas quais se evita uma colisão por pouco e quando ela não consegue ser evitada. 170 Prob 2.3 Deixa-se cair (do repouso) uma pedra do alto de um edifício de 60 m de altura. A que distância acima do chão estará a pedra l ,2 s antes de ela atingir o chão? Prob 2.4 Uma bola de golfe é tacada ao nível do solo. A velocidade da bola de golfe em função do lempo é mostrada na Fig. 2.13, onde t = 0 no instante em que a bola é tacada, (a) Que distância a bola de golfe percorre na horizontal antes de voltar ao nível do solo? (b) Qual é a altura máxima acima do nível do solo que a bola alcança? Prob 2.5 Dois segundos após ser projetado do nível do chão, um projétil se deslocou 40 m na horizontal e 53 m na vertical acima do seu ponto de lançamento. Quais são as componentes (a) horizontal e (b) vertical da velocidade inicial do projétil? (c) No instante em que o projélil alcança a sua altura máxima acima do nível do solo, qual a distância percorrida na horizontal a partir do ponto de lançamento? Prob 2.6 Uma bola de futebol é chutada do chão com uma velocidade inicial de 19,5 m/s fazendo um ângulo de 45° para cima. Naquele instante, um jogador a uma distância de 55 m na direção do chute começa a correr para receber a bola. Qual deve ser a sua velocidade escalar média para que ele chegue na bola imediatamente antes dela bater no chão? Despreze a resistência do ar. Prob 2.7 Uma roda-gigante possui um raio de 15 m e completa cinco voltas em tomo do seu eixo horizontal por minuto, (a) Qual é o período do movimento? Qual é a aceleração centrípeta de um passageiro no (b) ponto mais alto e (c) ponto mais baixo, supondo que o passageiro esteja em um raio de 15 m? Prob 2.8 O trem-bala francês conhecido como TGV (Train à Grande Vitesse) possui uma velocidade média programada de 216 km/h. (a) Se o trem faz uma curva àquela velocidade e o módulo da aceleração que os passageiros sentem deve ser limitado a 0,050g (g = aceleração (a gravidade), qual é o menor raio de curvatura admissível para os trilhos? (b) A que velocidade o trem deve fazer uma curva com um raio de l km para que esteja no limite da aceleração? 171 Unidade III Dinâmica 1. Situando a Temática Todas as coisas no universo estão interagindo, direta ou indiretamen- te, umas com as outras. Acreditamos que existam apenas quatro tipos de in- terações fundamentais na natureza: interação fraca, interação forte, intera- ção eletromagnética e interação gravitacional. Chamamos de força o resul- tado de uma interação entre duas partículas; força fraca, força forte (força nuclear), força eletromagnética e força gravitacional. São estas forças da natureza que colocam o universo em movimento. A parte da mecânica que estuda o que acontece com uma partícula quando uma força atua sobre ela é chamada de DINÂMICA. Faremos isso nesta unidade. 2. Problematizando a Temática O que faz com que a velocidade de uma partícula mude, são as for- ças que atuam sobre ela. Na seção II.4, vimos que quando a velocidade de uma partícula está mudando, é porque ela está sendo acelerada. Ou seja, as partículas são aceleradas pelas forças. Nós queremos saber como as partícu- las são aceleradas. Nesta disciplina, nós estudaremos problemas do dia-a-dia; proble- mas envolvendo forças simples, na maioria das vezes constantes, sem nos preocuparmos com suas origens. Nem poderíamos fazer diferente. O estudo das interações que citamos na seção anterior é algo bastante complicado. Muito além, mesmo, dos nossos propósitos. 3. Força Dissemos acima que força é o resultado da interação entre dois cor- pos. De que maneira nós trataremos esta nova grandeza; como um escalar ou como um vetor? Se você pudesse jogar duas “bombas” de calor num corpo, uma pela direita e outra pela esquerda, o corpo ficaria duas vezes mais quente. Entre- tanto se você empurrar um corpo com uma força pela direita e outra, de mesma intensidade, pela esquerda, ele não se moverá duas vezes mais rápi- do. O corpo não sai do lugar. Isto nos diz que forças se somam como veto- res. As forças se comportam como vetores. A força é um vetor. Para caracte- rizarmos uma força completamente, é preciso especificar sua intensidade (módulo), sua direção e o sentido da força. Em sua obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica (Latim: “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”), publicada em 5 de julho de 1687, Sir Isaac Newton (Woolsthorpe, 4 de janeiro de 1643 — Londres, 31 de março de 1727) apresentou ao mundo a lei da gravitação e 172 as três leis de Newton que fundamentaram a MECÂNICA CLÁSSICA. Newton foi considerado pela ‘Royal Society’ como o cientista que causou maior impacto na história da ciência. De fato se pensarmos que estudamos corpos que são grandes o bastante para dispensarmos a mecânica quântica, nem muito rápidos e nem muito imensos para não precisarmos da teoria da relatividade, então eles serão tratados de acordo com as leis da mecânica clássica. Com as leis de Newton. Dá para ir à Lua com basa nas leis publicadas em 1643! 4. Primeira Lei de Newton LEI DA INÉRCIA Ainda é comum a ideia de que é necessário uma força para manter um corpo em movimento. De fato, se nos basearmos nas observações do dia- a-dia, isto é bastante razoável. Basta olharmos para um objeto se deslocando sobre um piso e constatamos que ele termina parando. Assim, poderíamos concluir, como se pensava antes de Newton, que é preciso uma força para manter o corpo em movimento. Na verdade o que acontece é justamente o contrário. O corpo para porque existem forças atuando sobre ele que fazem com que ele pare. Se eliminarmos todas as forças atuando sobre o corpo, ele continuará deslizando indefinidamente. Primeira Lei de Newton: Se a soma das forças que atuam sobre uma par- tícula é nula, então a velocidade (o vetor) da partícula não se altera; ou seja, a partícula não será acelerada. 5. SegundaLei de Newton A segunda lei de Newton relaciona a força resultante sobre uma par- tícula com sua massa e sua aceleração, de uma forma simples e objetiva: Segunda Lei de Newton: A força resultante sobre uma partícula é igual ao produto de sua massa por sua aceleração. Matematicamente, escrevemos (Fig. 3.1). 2ª Lei de Newton: amFres = (3.1) A segunda lei de Newton é usada para definir uma unidade de força. No SI (MKS) a unidade de força é o Newton (N). Definimos: Uma força de intensidade igual a 1 N é capaz de conferir uma aceleração de intensidade de 1 m/s2 a uma massa de 1 kg; )/1).(1(1 2smkgN = É preciso ter cuidado com esta forma de enunciado para a segunda lei de Newton. Este resultado vale para partículas e corpos com massa cons- tante. Na seção V veremos o enunciado original em termos do momento li- 173 near. Por enquanto lembramos apenas que a massa não pode variar; como acontece com as partículas. 6. Terceira Lei de Newton Talvez a mais contundente das três, a terceira lei diz: Terceira Lei de Newton: A toda ação (uma força) corresponde uma rea- ção (outra força) de mesma intensidade (módulo), mesma direção e sentido contrário. A terceira lei nos diz que, no universo, as forças sempre aparecem aos pares. Isto faz sentido, já que estamos definindo força a partir das intera- ções e nas interações sempre há uma “troca” de partículas. Nas interações e- letromagnéticas as partículas “trocam” fótons (partículas de luz), nas intera- ções fortes as partículas “trocam” gluons, nas interações fracas as partículas “trocam” bósons W e Z e nas interações gravitacionais talvez as massas “troquem” grávitons. Talvez, porque o gráviton ainda não foi detectado. Es- tas partículas trocadas são chamadas de mediadores ou paríiculas transportadoras de força. 7. Atração Gravitacional — Peso É de Newton a primeira teoria da gravitação. Esse Newton era bom mesmo, não?! Ele entendeu como os planetas giram em torno do Sol, postu- lou a existência de uma força de atração gravitacional — resultado da in- teração gravitacional entre as massas — e calculou que eles descrevem ór- bitas elípticas em torno do sol. De acordo com Newton, o módulo da força de atração gravitacional entre duas massas, M1 e M2, separadas por uma dis- tância r, Fig. 3.2a, é dado por: 2 21 r MM GF = (atração gravitacional) (3.2) onde G = 6,67 × 10 –11 m3/s2 ⋅ kg é a constante de gravitação universal. A Fig. 3.2b mostra um corpo em três posições diferentes. Observe que a força é radial e o seu módulo varia com a distância ao centro da Terra. Se MT é a massa da Terra e m a massa do corpo, então o módulo F da força será: ⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛== 22 r M Gm r Mm GF TT (3.3) Comparando este resultado com a segunda lei, Eq. 3.1, encontramos: gmF = (3.4) onde gravidade da aceleração2 == r M Gg T (3.5) 174 Esta é a força de atração que aparece numa interação gravitacional. A Eq. 3.4 dá a força de atração gravitacional que a Terra exerce sobre todos os corpos. Esta força é usualmente chamada de peso. Os detalhes destes cálculos e os limites da validade da teoria de Newton serão vistos disciplina Física Geral 2. Por enquanto abordaremos problemas envolvendo massas nas proximidades da Terra. O fato de estarmos próximos da Terra leva a duas simplificações: i) O módulo da aceleração da gravidade pode ser considerado constan- te. Ele varia pouco de um ponto para outro na superfície da Terra. ii) Próximos da Terra, nós não percebemos a sua curvatura e então po- demos considerar o vetor g → como um vetor “vertical”. É claro que um vetor “vertical” no equador é diferente de um vetor “vertical” no pólo. 8. Forças de Contato FORÇA NORMAL Quando um corpo está apoiado sobre uma superfície, Fig.3.3, com- primindo-a, a superfície reage com uma força de mesmo módulo, mesma di- reção e sentido contrário; como prevê a terceira lei de Newton. As forças deste par ação e reação são perpendiculares à superfície de contato e, por is- so, a força que a superfície exerce sobre o corpo é chamada de força per- pendicular ou força normal. Força Normal: Quando um corpo comprime uma superfície, ela empurra o corpo com uma força N → que é normal à superfície. As forças que atuam na caixa: F → gc = força de atração gravitacional da Terra sobre a caixa. N → c = componente normal (sobre a caixa) da força de contato entre a caixa e a mesa. As forças que atuam na mesa: F → cm = – N → c = componente normal (sobre a mesa) da força de conta- to entre a caixa e a mesa. F → gc = força de atração gravitacional da Terra sobre a mesa. N → c = componente normal (sobre a mesa) da força de contato entre a mesa e o solo. Note que, Fig. 3.4a e 3.4b, uma das forças de um par ação–reação está num corpo e a outra está no outro corpo. Se não fosse assim, todas as coisas estariam em repouso. Na Fig. 3.4 temos um único par ação–reação: N → c e F → cm. 175 Problema Resolvido 3.1 Uma caixa de 10 kg é colocada sobre uma balança que está dentro de um e- levador. O elevador parte do térreo acelera a uma taxa de 2 m/s2 e ao parar no 10º andar ele desacelera com mesma taxa de 2 m/s2. Determine o peso da caixa e a leitura da balança (a) quando o elevador está parado, (b) quando o elevador está partindo do térreo e (c) quando o elevador está parando no 10º andar. SOLUÇÃO: A primeira coisa a ser compreendida é que a balança “marca” a força que a caixa faz sobre ela; esta será a leitura da balança. Agora, a força que a cai- xa faz sobre a balança tem mesmo módulo, mesma direção e sentido contrá- rio à força que a balança faz sobre a caixa. Ação e reação. A Fig, 3.7 mostra um diagrama das forças que atuam na caixa. A componente normal (só tem ela) da força de contato é, justamente, a força que a balança faz sobre a cai- xa. Desta forma, nós precisamos, apenas, determinar o valor da normal para cada caso. Da 2ª lei de Newton temos: amPN =+ Atenção: A soma é feita sempre com o sinal de “mais”. É na subtração que aparece o sinal de “menos”. Não importa para onde o vetor aponta. As- sim, quando a lei de Newton diz que “a soma das forças é igual a massa vezes aceleração”, nós devemos que fazer a soma vetorial de todas as for- ças que atuam no corpo. Os vetores da relação (3.9) são escritos como: ĵ e ĵ , ĵ aaPPNN ±=−== Lembre que N = | N → | e P = | P → |. O sinal “ ± “ no vetor aceleração correspon- de ao movimento acelerado na saída retardado na chegada, respectivamente. Assim, (a) O peso da caixa é a força que a Terra faz sobre a caixa e vale: P = mg = 98 N Quando o elevador está parado, a = 0. Então a Eq 3.9 fica: N − P = 0 ⇒ N = P = 98 N que é a leitura da balança. Portanto a balança marcará 98 N. (b) O peso da caixa continua sendo a força que a Terra faz sobre a caixa e vale: P = mg = 98 N Quando o elevador está partindo do térreo, a aceleração é para cima Fig. 3.5a. Assim, amPNamPN =−⇒=− ĵ ĵ)( É assim que o sinal de menos aparece. Usando os valores do problema, en- contramos: N118N)28,9(10)( =+×=+= += agm amgmN 176 Portanto a balança marcará 118 N . (c) O peso da caixa é sempre a força que a Terra faz sobre a caixa: P = mg = 98 N Quando o elevador está parando no 10o andar, a aceleração é para baixo Fig. 3.5b. Então, amPNamPN −=−⇒−=− ĵ ĵ)( Vetores que têm o mesmo sentido aparecem com o mesmo sinal na equação. É o que acontece, agora, com os vetores peso e aceleração. Usando os valo- res do problema, encontramos: N78N)28,9(10)( =−×=−= −= agm amgmN Portanto a balança marcará 78 N . FORÇA DE ATRITO Quando o corpo apoiado sobre uma superfície está deslizando sobre esta superfície ou “tentando” deslizar sobre ela, aparecerá uma força opon- do-se ao movimento ou à tentativa de movimento. Esta força é chamada de força de atrito e é sempreparalela à superfície de contato. Na realidade, o que existe é uma única força de contato que aparece no contato entre duas superfícies. Esta força é, essencialmente, a soma veto- rial de todas as interações elétricas entre os átomos das duas superfícies. Os átomos não conseguem separar força normal e força de atrito. Eles não são tão espertos assim. Os átomos interagem e a soma vetorial destas interações é que resulta numa força de contato e que nós separamos numa componente perpendicular à superfície (força normal) e numa componente paralela à superfície (força de atrito). Se não houver um movimento relativo, ou tendência de movimento relativo, entre as duas superfícies, então a componente paralela da força de contato (força de atrito) será nula. Lembre-se: é ela que se opõe ao movi- mento. COMPONENTE PERPENDICULAR E COMPONENTE PARALELA Consideremos uma caixa sobre uma mesa como na Fig. 3.3a. Neste momento, duas forças atuam sobre a caixa: a força de atração gravitacional (peso) e a força que a mesa exerce sobre caixa perpendicularmente à super- fície (normal). Atenção: Estas forças não formam um par ação e reação. A reação ao pe- so está no centro da Terra; a Terra puxa a caixa e a caixa puxa a Terra. A reação à normal está na mesa; a caixa empurra a mesa e a mesa empurra a caixa. Tendo em mente a 3ª lei de Newton (Σ F = m.a) vemos que a caixa não se moverá. Observamos, experimentalmente, que ao empurrarmos a cai- xa com uma força F → crescente (Fig.3.6a), ela não se moverá no inicio. Então 177 deve existir uma força de mesmo módulo, direção e sentido contrário à força F → aplicada para que a soma dê zero. A Fig. 3.6b mostra um diagrama para estas forças. A partir de um certo valor de F a caixa entrará em movimento. Vamos entender cada caso. i) Enquanto não há movimento, ou tendência ao movimento, a força de contato tem apenas a componente normal. A componente paralela (for- ça de atrito) é nula. ii) Quando começamos empurrar a caixa, surge uma componente paralela de força que se opõe ao movimento. Esta é a força de atrito estática. Estática porque ainda não existe movimento relativo entre as superfícies. iii) À medida que a força aplicada aumenta, a força de atrito estática tam- bém aumenta, de forma que a caixa não se move. Entretanto, constata- mos, empiricamente, que a força de atrito estática não cresce indefini- damente. Uma hora a caixa se desloca! Você certamente já viveu esta experiência. iv) A força aplicada superou o limite da força de atrito estática e a caixa en- trou em movimento. Agora, a componente paralela da força de contato é chamada de força de atrito dinâmica (ou cinética). Porque existe mo- vimento relativo entre as duas superfícies. Constatamos também, sempre experimentalmente, que a componen- te paralela da força de contato (atrito) é proporcional à componente perpen- dicular da força de contato (normal) Fig.3.7. NNfatrito μ=∝ (3.6) A constante de proporcionalidade, μ, é chamada de coeficiente de atrito. Quando não existe movimento relativo entre as superfícies, chama- remos de coeficiente de atrito estático (μ e). Neste caso, máxima) estática atrito de (força estática) atrito de (força e máx e ee Nf Nf μ= μ≤ (3.7) Quando existe movimento relativo entre as superfícies, chamaremos de coeficiente de atrito dinâmico (ou cinético, μ d); Nf dd μ= (força de atrito dinâmica) (3.8) Note que as Eqs. 3.7 explicitam o fato de haver um valor máximo para a for- ça de atrito estática. Quando as superfícies estão suficientemente polidas, podemos con- siderar a força de atrito desprezível, ou μe = 0 e μd = 0. Nestes casos, a força de contato terá apenas a componente normal e o movimento não será retar- dado pelo atrito. 178 Atenção: Nem pense em colocar setas na relação (3.6). As componentes normal e de atrito, da força de contato (Fig. 3.7), são ortogonais entre si e, portanto, são linearmente independentes! Não dá para escrever uma relação de proporcionalidade na forma vetorial. Apenas os módulos são proporcio- nais. Problema Resolvido 3.2 Uma caixa de 10 kg é empurrada numa superfície plana por uma força que forma um ângulo de 37° com a horizontal como mostra a Fig. 3.8. Os coefi- cientes de atrito estático e cinético entre a caixa e a superfície são 0,5 e 0,2 respectivamente. (a) Faça um diagrama das forças que atuam na caixa. (b) Determine os valores da força de atrito e da aceleração para F = 40 N? (c) Determine os valores da força de atrito e da aceleração para F = 200 N? (use g = 10 m/s2 e sen 37° = 0,6) Solução: (a) Ao lado, o diagrama (esquema) das forças que atuam na caixa. Elas são: F → = força aplicada. N → = componente normal da força de contato. P → = força gravitacional (peso) fa = componente paralela da força de contato. (força de atrito) A 2ª lei de Newton para as componentes x e y ficam: direção x: Fcosθ – fa = ma (1) direção y: N – P – Fsenθ = 0 (2) (b) Primeiramente, precisamos saber se haverá movimento. Ou seja, preci- samos saber se a caixa será arrastada ou não, para sabermos se a força de a- trito será estática ou dinâmica. Para tanto, vamos comparar a componente x da força aplicada, Fx = Fcos(θ), com o máximo que o atrito consegue segu- rar, i.e., com a força de atrito de estática máxima. Então: Fx = Fcosθ = 40×0,8 = 32 N Da relação (2), temos N = P + Fsenθ = (10 kg × 10 m/s2) + (40 × 0,6 N) = 124 N e f emáx = μe N = 0,5 × 124 N = 62 N Portanto, como Fx (= 32 N) < f emáx (= 62 N), não haverá movimento. Assim, concluímos: a = 0 e de (1), fa = fe =Fx = 32 N. (c) Mudando a força aplicada, devemos determinar novamente se haverá movimento. O diagrama de forças é o mesmo e, consequentemente, as equa- ções de movimento (1) e (2) continuam as mesmas. A componente Fx agora vale: 179 Fx = Fcosθ = 200×0,8 N = 160 N Da relação (2), temos N = P + Fsenθ = (10 kg × 10 m/s2) + (200 × 0,6 N) = 220 N e f emáx = μe N = 0,5 × 220 N = 110 N Portanto, como Fx (= 160 N) > f emáx (= 110 N), haverá movimento. Assim concluímos: fa = fd = μe N = 0,2 × 220 N = 44 N e, da relação (1), a = Fcosθ – fd m = 0,8 × 200 N – 44 N 10 kg = 11,6 m/s 2 Problema Resolvido 3.3 Um aeromodelo de 1,6 kg, voando com velocidade constante de 10 m/s, des- creve um círculo horizontal a uma altura de 15 m do solo preso por um cabo de 25 m. O aeromodelo voa com as asas na horizontal de forma que a força de sustentação (empuxo) atua verticalmente sobre o aeromodelo. (a) Faça um diagrama das forças que atuam sobre o avião quando ele passa por A. (b) Determine a tensão no cabo que prende o aeromodelo. (c) Determine a força de sustentação que atua sobre o aeromodelo. (use g = 10 m/s2) SOLUÇÃO: (a) O diagrama mostra as forças quando o aeromodelo passa por A. E → = Empuxo P → = Peso T → = Tensão (b) A única força que tem uma componente no plano x,y é a tensão. Esta componente da tensão tem a direção radial e assim, R vmamTT RadialRadial 2 sen ==θ= com m 2022 =−= HLR . Portanto, N10N 8,020 106,1 sen 22 = × ×= θ = R vmT . (c) A equação de movimento (2ª lei de Newton) na direção z fica: E – P – Ty = 0 ⇒ E = P + Tcos θ = 16 N + (10 × 0.6) N Portanto E = 22 N. Problema Resolvido 3.4 Um avião está voando em um círculo horizontal com uma velocidade de 720 km/h (Fig. 3.10). Se as asas estão inclinadas 37° sobre a horizontal e supon- 180 do-se que a força de “sustentação aerodinâmica” seja perpendicular à super- fície das asas: (a) Faça um diagrama das forças que atuam sobre o avião. (b) Determine o raio do círculo descrito pelo avião. (use g = 10 m/s2 e sen 37º = 0,6) SOLUÇÃO: (a) A 2a Lei de Newton em termos das componentes dos vetores fica: No plano x,y )1( sen 2 radialradial R vmEamE =θ⇒= Na direção z )2(θcos0 mgEPEz =⇒=− (b) Fazendo (1) ÷ (2)obtemos: m sm sm g vR gR v 5330 /10 )/200( θtan θtan 4 32 222 ≅ × ==⇒= 9. Problemas Propostos Prob. 3.1 Três astronautas, impulsionados por mochilas a jato, empurram e guiam um asteróide de 120 kg em direção a uma plataforma de processamento, exercendo as forças mostradas na Fig. 3.11. Qual é a aceleração do asteróide (a) na notação de vetor unitário e como (b) um módulo e (c) uma direção? Prob. 3.2 Uma garota de 40 kg e um trenó de 8,4 kg estão sobre o gelo sem atrito de um lago congelado, a uma distância de 15 m um do outro mas unidos por uma corda de massa desprezível. A garota exerce uma força horizontal de 5,2 N sobre a corda. (a) Qual é a aceleração do trenó? (b) Qual é a aceleração da garota? (c) A que distância da posição inicial da garota eles se encontram? Prob. 3.3 Dois blocos estão em contato sobre uma mesa sem atrito. Uma força horizontal é aplicada ao bloco maior, como mostrado na Fig. 3.12. (a) Se mt = 2,3 kg, m2 = 1,2 kg e F = 3,2 N, ache o módulo da força entre os dois blocos, (b) Mostre que se uma força de mesmo módulo F for aplicada ao bloco menor mas no sentido contrário, o módulo da força entre os blocos será 2, l N, que não é o mesmo valor calculado em (a), (c) Explique a diferença. Prob. 3.4 Um trabalhador arrasta um caixote pelo piso de uma fábrica puxando uma corda presa ao caixote (Fig. 3.13). O trabalhador exerce uma força de 450 N sobre a corda, que está inclinada de 37° em relação à horizontal, e o piso exerce uma força horizontal de 125 N que se opõe ao movimento. Calcule o módulo da aceleração do caixote se (a) a sua massa for de 310 kg e (b) o seu peso for de 310 N (use sen 37º = 0,6). Prob. 3.5 Um piloto de 60 kg com sua motocicleta acelera a 3 m/s2 para subir uma ladeira inclinada 10° acima da horizontal, (a) Qual é o módulo da força resultante agindo sobre o motoqueiro? (b) Qual é o módulo da força que a motocicleta exerce sobre o motoqueiro? Prob. 3.6 Na Fig. 3.14, uma caixa de lápis de 1 kg sobre um plano inclinado de 30° sem atrito está ligada a uma caixa de canetas de 3 kg sobre uma superfície horizontal sem atrito. A roldana não possui atrito nem massa, (a) Se o módulo de F for 2,3 N, qual é a tração no fio de ligação? (b) Qual é o maior valor que o módulo de F pode ter sem que o fio de ligação fique frouxo? 181 Prob. 3.7 Um balão de ar quente de massa M está descendo na direção vertical com aceleração para baixo de módulo a. Quanto de massa (lastro) deve ser jogada fora para dar ao balão uma aceleração para cima de módulo a (mesmo módulo, mas no sentido contrário)? Suponha que a força para cima do ar (a sustentação) não se altera por causa da redução na massa. Prob. 3.8 Uma força horizontal F de módulo igual a 12 N empurra um bloco que pesa 5 N contra uma parede vertical (Fig. 3.15). O coeficiente de atrito estático entre a parede e o bloco é de 0,60, e o coeficiente de atrito cinético é de 0,40. Suponha que o bloco não esteja se movendo inicialmente, (a) O bloco irá se mover? (b) Qual é a força da parede sobre o bloco, na notação de vetor unitário? Prob. 3.9 Os blocos A e B da Fig. 3.16 pesam 44 N e 22 N, respectivamente, (a) Determine o peso mínimo do bloco C para impedir que o bloco A deslize se μ e, entre o bloco A e a mesa for de 0,20. (b) O bloco C é removido subitamente de cima do bloco A. Qual será a aceleração do bloco A se μ d entre A e a mesa for de 0,15? Prob. 3.10 Um bloco de 3,5 kg é puxado sobre uma superfície horizontal por unia força F de intensidade igual a 15 N que faz um ângulo θ = 37º acima da horizontal. O coeficiente de atrito cinético entre o bloco e o piso é de 0,2. Calcule a intensidade (a) da força de atrito que o piso exerce sobre o bloco e (b) a aceleração do bloco. (use sen 37º = 0,6) Prob. 3.11 O corpo A da Fig. 3.17 pesa 100 N e o corpo B, 30 N. Os coeficientes de atrito entre A e a rampa são μ e = 0,5 e μ d = 0,25. O ângulo θ é igual a 37°. Encontre a aceleração de A (a) se A estiver inicialmente em repouso, (b) se A estiver inicialmente se movendo para cima da rampa e (c) se A estiver inicialmente se movendo para baixo da rampa. (use sen 37º = 0,6) Prob. 3.12 Na Fig. 3.17, dois blocos estão ligados por um fio que passa por uma polia. A massa do bloco A é igual a 10 kg e o coeficiente de atrito cinético entre A e a rampa é de 0,20.0 ângulo B de inclinação da rampa é igual a 30°. O bloco A desliza para baixo da rampa com velocidade constante. Qual é a massa do bloco B? Prob. 3.13 Os dois blocos (com m = 2 kg e M = 10 kg) mostrados na Fig. 3.18 não estão presos um ao outro. O coeficiente de atrito estático entre os blocos é μe = 0,4, mas a superfície embaixo do bloco maior é lisa. Qual é a menor intensidade da força horizontal F necessária para evitar que o bloco menor escorregue para baixo do bloco maior? Prob. 3.14 Na Fig. 3.19, uma caixa de formigas fêmeas (massa total m1 =1,5kg) e uma caixa de formigas machos (massa total m2 = 3 kg) descem um plano inclinado, ligadas por uma haste de massa desprezível paralela ao plano. O ângulo da rampa é θ = 30º. O coeficiente de atrito cinético entre a caixa de formigas fêmeas e o plano é μ1 = 0,2; o coeficiente entre a caixa de formigas machos e o plano é μ2 = 0,1. Calcule (a) a tração na haste e (b) a aceleração comum às duas caixas, (c) Como as respostas para (a) e (b) mudariam se a caixa das formigas machos estivesse atrás da caixa de formigas fêmeas? Prob. 3.15 Como mostrado na Fig. 3.20, uma bola de 2kg está ligada, por dois fios de massa desprezível, a uma haste vertical que está girando. Os fios estão ligados à haste e estão esticados. A tração no fio de cima é de 50. (a) Desenhe o diagrama de corpo livre para a bola. (b) Qual é a tração no fio de baixo? (c) Qual é a força resultante sobre a bola e (d) qual a velocidade da bola? 182 Unidade IV Trabalho e Energia 1. Situando a Temática Vimos que a partir das leis de Newton podemos estudar o movimen- to de qualquer objeto, que não seja nem quântico e nem relativístico. No en- tanto, alguns problemas de mecânica podem ser resolvidos mais facilmente, em alguns casos unicamente, utilizando a energia do sistema. Assim, nesta seção nós introduziremos o conceito de energia e estabeleceremos alguns re- sultados para a solução de problemas em mecânica. 2. Problematizando a Temática Nossa primeira dificuldade é justamente encontrar uma definição “fechada” para a energia. Certamente você já ouviu falar de “muitas energi- as”; energia elétrica, energia nuclear, energia térmica, etc. Entretanto, como seria a definição técnica que contemple todas estas coisas simultaneamente. Por causa destas dificuldades, vamos nos concentrar no ponto de vista da di- nâmica. A energia aparece de muitas formas diferentes, e por isso o conceito de energia de um sistema se torna muito amplo e difícil de precisar. Tecni- camente, a energia é uma grandeza escalar que está associada a uma dada configuração do sistema. Quando o sistema evolui de uma configuração para outra, sua energia muda. Como ponto de partida, podemos pensar que a e- nergia é um número que está associado a uma configuração possível para um sistema composto de um ou mais objetos. Desta forma, quando uma força atua sobre o sistema fazendo com que ele seja acelerado, o número (energia) associado ao sistema muda. É essa variação que nos ajudará no estudo de alguns problemas que têm soluções complicadas quando tratados apenas com as leis de Newton. Neste capítulo vamos nos ater a uma única forma de energia: energia mecânica. 3. Energia Cinética A energia cinética é a energia associada ao movimento de um cor- po. Quando um objeto de massa m se move com velocidade v→, dizemos que ele possui uma energia cinética, K, definida como: 2 2 1 mvK = (energia cinética) (4.1) onde v = | v → |. Desta forma, quanto maior for a velocidade do corpo e/ou sua massa, maior será a sua energia cinética. Devemosnotar que a energia ciné- tica de um objeto não tem um valor absoluto, uma vez que ela depende da velocidade e a velocidade depende do referencial. Desta forma, um corpo 183 pode ter energia cinética nula quando medida no sistema de referência S e assumir um outro valor qualquer no referencial S´. Entretanto, isto não será um obstáculo para a solução dos nossos problemas pois nós estaremos inte- ressados nas variações da energia do sistema quando este evolui de uma con- figuração A para uma configuração B. No SI, qualquer forma de energia será medida em joules (J) . Assim, a partir da Eq. (7.1) definimos: 22111 smkgJjoule /⋅== Como exemplo, um automóvel de 1000 kg (1 tonelada) viajando a 30 m/s (108 km/h) terá uma energia cinética de 1000 kg × (30 m/s)2 = 9 × 105 J. 4. Trabalho Realizado Por Uma Força O conceito de trabalho realizado por uma força está, de muitas ma- neiras, ligado a ações do dia-a-dia, como levantar um objeto ou arrastar um móvel. Fisicamente falando, quando um agente externo aplica uma força so- bre um sistema ele promove uma transferência de energia para o sistema. Chamaremos essa transferência de energia de trabalho. Diremos então que este agente, ou esta força, realizou um trabalho sobre o sistema. Matemati- camente, o trabalho realizado por uma força F → que atua sobre uma partícula durante um intervalo de tempo dt é definido como: rdFdW ⋅= (trabalho realizado por uma força) (4.2) onde d r → = r →(t + dt) – r →(t) é o deslocamento da partícula no intervalo de tempo dt (Fig. 4.1) e dW é o trabalho infinitesimal realizado pela força du- rante esse intervalo de tempo infinitesimal. Quando uma força F → atua sobre um corpo durante um intervalo de tempo macroscópico Δt = tfinal – tinicial e a partícula se desloca desde uma po- sição inicial A determinada pelo vetor posição rA → , até uma posição final B, determinada pelo vetor posição rB → , então o trabalho deverá ser calculado co- mo uma soma das infinitas contribuições da Eq. (4.2), ao longo da trajetória. ∫ ⋅=→ B A r r F BA rdFW )( (4.3) Como trabalho realizado por uma força corresponde à transferência de algum tipo de energia de um sistema para outro, ele será medido em uni- dades de energia que no SI é o joule (J). 5. Trabalho Realizado Por Uma Força Constante Quando a força que atua sobre o corpo é constante, então a integral em (3.2) pode ser resolvida facilmente como: 184 dF rFrrF rdFrdFW BABA r r r r F BA B A B A ⋅= Δ⋅=−⋅= ⋅=⋅= → → ∫∫ )( )( (4.4) onde d → é o vetor deslocamento do objeto da posição A para a posição B. EXEMPLO DE FORÇA CONSTANTE: PESO Vamos considerar como exemplo a força gravitacional exercida pela Terra sobre outras massas. Próximo da superfície a força gravitacional, ou peso, pode ser considerada constante. Nestas condições o trabalho realizado pelo peso sobre um corpo de massa m que vai de uma posição A até uma po- sição B, por uma trajetória qualquer (Fig. 4.2), será dado por: ( ) ( ) AB AB y y r r r r F BA ymg yymgdymg kdzjdyidxjmg rdPW B A B A B A Δ−= −−=−= ++⋅−= ⋅= ∫ ∫ ∫→ )( )( ou AB ABABAB ABAB r r r r F BA ymg kzjyixjmg rPrrP rdP rdPW B A B A Δ−= Δ+Δ+Δ⋅−= Δ⋅−=−⋅= ⋅= ⋅= ∫ ∫→ )()( )( )( Este resultado é exatamente o mesmo que: AB ABABAB BA F BA ymg kzjyixjmg dPrPW Δ−= Δ+Δ+Δ⋅−= ⋅=Δ⋅= →→ )(()( )( (4.5) Problema Resolvido 4.1 Um bloco de 10 kg, sustentado por uma força horizontal de 50 N (Fig. 4.3), desce desde A até B com velocidade constante de 2 m/s. (a) Qual o trabalho realizado pela força F no trecho AB? (b) Qual o trabalho realizado pelo peso no trecho AB? (c) Qual o trabalho total realizado pela força de atrito no tre- cho AB? (d) Qual o valor da força de atrito dinâmica? (Use g = 10 m/s2) 185 SOLUÇÃO: Como as forças são constantes, calcularemos os trabalhos fazen- do, simplesmente, o produto da força pelo deslocamento. Assim, (a) O trabalho realizado pela força F → é dado por: J0002)(cos)m50(N)50( )180(cos )(cos|||| AB ABAB (F) AB −=θ××−= θ−°×Δ×= φ×Δ×=Δ⋅= rF rFrFW (b) O trabalho realizado pela força P → é dado por: J0003)(sen)m50(N)100( )90(cos )(cos|||| AB ABAB (P) AB =θ××−= θ−°×Δ×= β×Δ×=Δ⋅= rP rPrPW (c) O trabalho realizado pela força de atrito fd → será obtido a partir do teorema do Trabalho-Energia: AB (fat) AB (P) AB (F) AB total AB KWWWW Δ=++= Como o bloco se desloca com velocidade constante, a variação da energia cinética é nula. Então, J0001 0 (P)AB (F) AB (fat) AB (fat) AB (P) AB (F) AB −= −−=⇒=++ WWWWWW O trabalho realizado pela força de atrito é escrito como: )180(cosABdABd (fat) AB ×Δ×=Δ⋅= rfrfW N20 m50 )J0001( AB (fat) AB d = − −= Δ −=⇒ r W f 6. Trabalho Realizado Por Uma Força Variável Nem sempre as forças que atuam num sistema são constantes. No mundo real, as forças resultantes que atuam sobre os sistemas físicos rara- mente são constantes. Elas podem variar com o tempo e com a posição, F → = F → (x,y,z,t). Neste primeiro curso de física, as forças que variam com o tempo não serão abordadas. Consideraremos apenas as forças que variam com a po- sição. O exemplo mais simples de força variável é o de uma força que varia linearmente em uma única direção. Uma força deste tipo é a força elástica de uma mola que satisfaz a lei de Hook, ou seja F → = – k x i → onde x é o deslo- camento em relação à posição de equilíbrio e k é a constante elástica da mola (Fig. 4.4). O sinal negativo indica que a força tem sentido contrário àquela 186 da deformação x. Forças que se opõem às deformações são chamadas de for- ças restauradoras. Queremos calcular o trabalho realizado pela força elástica da mola sobre um bloco de massa m que vai da posição de equilíbrio xA = 0 até uma posição xB qualquer. Além da força da mola, outras forças atuam sobre o bloco. Neste exemplo em particular devemos ter ao menos uma força de con- tato entre o bloco e a superfície. Então, da Eq. 4.3 podemos calcular o traba- lho realizado pela força F → m exercida pela mola; 2 0 22 )( 2 1)( 2 1 )()( BAB x x x x x x m F BA xkxxkkxdx kdzjdyidxikxrdFW B A B A B A m −=−−=−= ++⋅−=⋅= = → ∫ ∫∫ Assim ao distendermos ou comprimirmos uma mola em uma distân- cia x, em relação à sua posição de equilíbrio, o trabalho realizado pela força elástica da mola será: 2 2 1 kxW −= (4.6) O sinal negativo indica que a mola se opõe às deformações. 7. Teorema do Trabalho Energia Calcularemos a seguir o trabalho realizado pela força resultante so- bre uma partícula. zyx I B A z I B A y I B A x B A zyx B A dzFdyFdxF kdzjdyidxkFjFiFrdFW ∫∫∫ ∫∫ ++= ++⋅++=⋅= )()( Resolveremos estas integrais separadamente. Como F → representa a força resultante, nós usamos a Eq. 3.1 (2ª lei) para escrever, F → = m a →, onde a → é a aceleração resultante. Assim, dx dvmv dt dx dx dvm dt dvmmaF xxxxxx ==== . Assim, a primeira integral fica: 22 2 1 2 1 AxBx v v xx B A x xx mvmvdvmvdxdx dvmvI Bx Ax −=== ∫∫ Analogamente, as integrais Iy e Iz serão dadas por 22 2 1 2 1 AyBy v v yy B A y yy mvmvdvmvdydy dv mvI By Ay −=== ∫∫ e 187 22 2 1 2 1 AzBz v vz zz B A z zz mvmvdvmvdzdz dvmvI Bz −=== ∫∫ Somando as três integrais obtemos: AB ABAB v AzAyAx v BzByBxzyx AB total K KKmvmv vvvmvvvmIIIW AB Δ= −=+= ++−++=++= 22 222222 2 1 2 1 )( 2 1)( 2 1 22 (4.7) O resultado acima nos diz que o trabalho total realizado sobre um sistema que evolui de uma configuração A para uma configuração B é igual à variação da energia cinética do sistema. É preciso que fique claro que tra- balho da força resultante é igual ao trabalho da soma de todas as forças e, portanto, é igual a soma dos trabalhos realizados por todas as forças: AB n ABAB r r n r r r r r r n r r teresul AB total
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