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CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE INATO | Carvalho, G.V.S. Células inatas: os policiais comedores de rosquinha Em um cenário de assalto ao banco, os policiais que comem rosquinha são os primeiros a chegar: isolam a área, bloqueiam saídas e tentam resolver o problema o mais rápido possível. Porém, ao passo que não conseguem dominar a situação é necessário que uma força mais especializada e treinada para essa cena atue para controlar a situação pesquisando o perfil e a ficha criminal daqueles assaltantes, a planta do lugar, rotas de fuga e etc. Este exemplo é muito semelhante ao que ocorre no organismo, os policiais são o sistema inato que também responde a tudo, rapidamente, mas de maneira inespecífica e com pouca diversidade. Quando não é possível que o sistema inato controle a situação, o protagonismo cabe a força mais especializada, o sistema adaptativo, que atua com especificidade e de maneira mais elaborada, porém, mais tardia. Não gerar memória, ser inespecífico e atuar prontamente, além de iniciar o processo inflamatório são características do sistema imune inato e, portanto, das células imunes que compõem este sistema. As células do sistema imune inato podem ser agrupadas de duas formas: as que irão atuar destruindo os patógenos/toxinas e as células de suporte que ativam o sistema de defesa convocando células que destroem o antígeno (moléculas estranhas ao corpo como os patógenos e toxinas). Os fagócitos são células especializadas nesse combate direto: neutrófilos, monócitos (no tecido) ou macrófagos (no sangue) e células dendríticas. A atuação dessas células será fagocitando os antígenos (ou seja, englobando o antígeno com partes projetadas da sua membrana levando-o para dentro da célula fagocitária e o destruindo com enzimas) e liberando enzimas e citocinas. Além dos fagócitos, existem células de origem linfóide, mesmo assim pertencentes ao SI inato, relacionadas a destruição não fagocitária do patógeno como as células Natural Killer (NK) e os linfócitos T gama-delta e outras relacionadas a sinalização do sistema como linfócitos B1 e linfócitos B da zona marginal. As funções principais dos fagócitos serão listadas a seguir: 1. Neutrófilos: São fagócitos que atuam destruindo patógenos em geral extracelulares, como algumas bactérias. Podem ser chamados de granulócitos por ter uma grande quantidade de grânulos recheados de enzimas (lisozimas) que destrói o invasor. Sua morfologia possui três lobos e seu mecanismo de ação possui três vias básicas: fagocitose dos patógenos, degranulação de lisozimas sobre os patógenos e o mecanismo de NETs (projeção do material genético do neutrófilo sobre o patógeno com objetivo de o imobilizar). 2. Monócitos/macrófagos: São fagócitos mononucleares classificados em dois diferentes grupos: M1 e M2. Os monócitos M1 são células pró-inflamatórias (liberam IFN-alfa) que destroem tumores (supressão tumoral) e fagocitam bactérias, além disso, apresentam os antígenos para os linfócitos T. Monócitos M2, por sua vez, possuem caráter anti-inflamatório a partir da produção da citocina IL10 que atenua a ação do sistema imune, além disso, está relacionado ao reparo celular, angiogênese e pode favorecer o aparecimento de tumores (promoção tumoral). Em outras palavras, M1 e M2 são antagônicos e complementares, enquanto o primeiro destrói bactérias e células tumorais, o segundo reconstrói tecidos e pode influenciar o aparecimento de tumores. 3. Células dendríticas: São os fagócitos mais eficientes na função convencional de célula apresentadora de antígenos (APC). Além disso, também possuem uma forma não convencional que é a de plasmocitóide a qual reconhecem os patógenos e liberam IFN-alfa e IFN-beta. Estes interferons "escondem" as proteínas que servem como sítio para invasão dos patógenos às células e assim evitam a invasão celular. Em outras palavras, os receptores que serviriam como porta de entrada para o patógeno entrar nas células-alvo e se replicar são temporariamente desativados por ação das citocinas. As características da célula NK e do linfócito T gama-delta serão descritas a seguir: CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE INATO | Carvalho, G.V.S. 1. Natural Killer (NK): As células NK são componentes mononucleares do sangue que têm origem na medula óssea e de um progenitor linfóide. São uma importante linha de defesa inespecífica, reconhecendo e lisando células infectadas por vírus, bactérias e protozoários, bem como células tumorais. As NKs lisam células infectadas e tumorais e secretam citocinas pró-inflamatórias, principalmente IFN-γ. A citólise mediada pelas NKs ocorre pela ação das enzimas perforinas, que criam poros na membrana das células-alvo, e granzimas, que penetram nas células, desencadeando morte celular por apoptose. 2. Linfócito T gama-delta (LTγδ): Células da primeira linha de defesa do corpo (função sentinela) estão presentes na mucosas e pele do organismo. O mecanismo de ação da célula é citotóxico (igual ao LT CD8 do SI adaptativo), com liberação de citocinas e apresentando antígenos (APC). Diferente do linfócito alfa-beta (SI adaptativo), o LTγδ reconhece antígenos sem a necessidade da molécula MHC, mas, ainda assim, possuem memória imune. A célula γδ é controversa por apresentar características imunes inatas e adaptativas. Além do linfócito T gama-delta e da célula NK, existem outras duas células de origem linfóide que participam da resposta inata: linfócito B1 e linfócito B da zona marginal (MZ-B). Apesar de serem linfócitos a participação destes no SI inato ocorre por dois motivos: os anticorpos que são originados (IgM) não geram memória, pois em geral reagem a açúcar e lipídeo, ao passo que anticorpos adaptativos geram memória imunológica pois reconhecem antígenos proteicos. Ambas as células, LB1 e MZ-B, atuam como sentinelas de sítios anatômicos específicos como a cavidade peritoneal/cavidade pleural e zona periférica do baço, respectivamente. Juntos, compõem as chamadas respostas de memória natural, pois geram rapidamente células efetoras nos estágios iniciais da resposta imune. Os linfócitos B1 e da zona marginal serão caracterizados a seguir: 1. Linfócitos B1: Possuem receptores CD5 e IgM e são responsáveis pela maior parte da produção de IgM natural. São linfócitos capazes de reconhecer antígenos polissacarídeos e lipídicos diretamente. Além disso, os LB1 parecem representar a primeira linha de defesa contra infecções sistêmicas por vírus e bactérias. Produzem anticorpos poli reativos e de baixa afinidade, importantes para remoção de células envelhecidas e/ou que sofreram estresse celular e proteção contra o desenvolvimento de doenças autoimunes. 2. Linfócitos da zona marginal: Linfócitos que possuem especificidade importante tanto para remoção de restos celulares e de antígenos bacterianos e virais. Além disso, possuem receptores para IgM e sintetizam anticorpos IgM a partir do reconhecimento de antígenos polissacarídeos e lipídicos. São populações especializadas de linfócitos B (LB) da região periférica ou marginal do baço (sinusoide esplênico). Neste sítio estão localizados também os macrófagos da zona marginal que junto aos linfócitos da zona marginal (MZ-B) representam a primeira linha de defesa rápida, contra antígenos particulados da corrente sanguínea. Outras células importantes que ajudam no suporte do sistema imune, como mastócitos, basófilos e eosinófilos são granulócitos relacionados com o suporte da inflamação. Esse trio de células desempenha funções similares sendo os eosinófilos e mastócitos os mais relevantes, pois os basófilos são leucócitos raros e sua atividade complementa a ação das outras duas células. Além disso, os mastócitos, diferente dos basófilos e eosinófilos, estão presentes no tecido e não no sangue. As funções das três células serão pontuadas a seguir: 1. Mastócitos: Granulócitos teciduais presentes na pele e mucosa (normalmente perivasculares) relacionados a ativação de mediadores para inflamação aguda pelo reconhecimento de IgE (principal gatinho) e outros desencadeadores de resposta como fatores físicose citocinas. Após o reconhecimento do antígeno ocorre a ativação da reação de hipersensibilidade que resulta na degranulação e liberação de mediadores que atraem fagócitos, aumentam a permeabilidade dos vasos, secreção de CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE INATO | Carvalho, G.V.S. muco, entre outros. O principal mediador é a histamina, a qual atua na vasodilatação sanguínea. 2. Eosinófilos: Granulócitos presentes no sangue e mucosas respiratória, urinária e gastrointestinal envolvidos normalmente com processos alérgicos, asma e resposta a parasitas helmínticos. Seu mecanismo de ação é executado através da ação de enzimas líticas que estão armazenadas nos seus grânulos. As células circulam em baixa quantidade no sangue e respondem ao anticorpo IgE. Assim, ao encontrar um parasita ou alérgeno marcado por IgE, ocorre o reconhecimento, a fixação do receptor do eosinófilo ao anticorpo que está aderido ao antígeno e a degranulação de enzimas proteolíticas junto a outros mediadores. 3. Basófilo: São granulócitos presentes no sangue periférico. Embora não estejam normalmente presentes nos tecidos, podem ser recrutados para sítios inflamatórios, em conjunto com eosinófilos. A função dos basófilos é similar e complementar a dos eosinófilos e mastócitos. Além da resposta celular, o sistema inato possui barreiras epiteliais e outros mecanismos de defesa que contribuem de modo significativo no combate às infecções. Entre essas barreiras, podem ser citadas os tratos respiratórios, gastrointestinais e genitais. O muco, cílios, o pH do ambiente, a saliva, além da microbiota são componentes que auxiliam para evitar que patógenos invadam o organismo.
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