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Hipertensão Intracraniana Caroline Leão Objetivo 01: Morfofisiologia dos ventrículos, produção e drenagem do líquor. Anatomia O sistema ventricular é composto por um par de elementos telencefálicos chamados de ventrículos laterais, subdivididos em corpo, corno anterior ou frontal, corno posterior ou occipital e corno inferior ou temporal. O trígono colateral (região trigonal) é a região da bifurcação entre os cornos inferior e posterior . Os ventrículos laterais são separados por duas lâminas delgadas de tecido nervoso chamadas de septo pelúcido, estendido entre o corpo caloso e o fórnix. Os ventrículos laterais comunicam-se com o terceiro ventrículo (diencefálico) através dos forames de Monro (interventriculares). A relação entre o terceiro e o quarto ventrículos (infratentorial) faz-se por meio do aqueduto cerebral de Sylvius (mesencefálico). O quarto ventrículo tem forma losangular, situando-se entre a ponte e o bulbo ventralmente e o cerebelo dorsalmente. Comunica-se com o espaço subaracnóideo por meio de duas aberturas laterais (forames de Luschka) e uma abertura mediana (forame de Magendie), continuando-se caudalmente com o canal central da medula. O teto do quarto ventrículo é dividido em duas metades. A metade cranial é constituída por uma lâmina de substância branca, o véu medular superior, que se estende entre os dois pedúnculos cerebelares superiores. Na constituição da metade caudal, temos o véu medular inferior, parte do nódulo do cerebelo e a tela coróide do quarto ventrículo. O assoalho do quarto ventrículo é formado pela porção aberta do bulbo e pela parte dorsal da ponte. O terceiro ventrículo é ímpar, mediano e apresenta evaginações de sua luz, originando os recessos do infundíbulo, o óptico, o pineal e o suprapineal. O epêndima é o revestimento interno das cavidades do neuroeixo (canal central da medula e ventrículos encefálicos) e provém da camada ependimária do tubo neural primitivo. O epêndima, quando justaposto à pia-máter em determinadas partes dos ventrículos, constitui a tela coroide e plexos coroides. Esses plexos coroides são responsáveis por grande parte da produção de LCR, respondendo por aproximadamente 30% do total. A mielinização dos plexos coroides é fisiológica e frequentemente vista em TC ou mesmo na radiografia simples de crânio. Líquido cerebroespinal O líquido cerebrospinal (LCS) é um líquido claro e incolor, formado principalmente por água, que protege o encéfalo e a medula espinal de lesões químicas e físicas. Ele também transporta pequenas quantidades de oxigênio, glicose e outras substâncias importantes do encéfalo para os neurônios e a neuróglia. O LCS circula continuamente pelas cavidades encefálicas e medulares e ao redor do encéfalo e da medula espinal no espaço subaracnóideo (espaço situado entre a Aracnoidemáter e a piamáter). Seu volume total em um adulto situa-se entre 80 e 150 m ℓ. O LCS contém pequenas quantidades de glicose, proteínas, ácido láctico, ureia, cátions (Na+, K+, Ca2+ e Mg2+) e ânions (Cl– e HCO3–); ele também contém alguns leucócitos. Formação do LCS nos ventrículos A maior parte do LCS é produzida pelos plexos corióideos, redes de capilares localizadas nas paredes dos ventrículo. Células ependimárias, ligadas entre si por junções oclusivas, recobrem os capilares dos plexos corióideos. Substâncias selecionadas (principalmente água) do plasma sanguíneo, filtradas dos capilares, são secretadas pelas células ependimárias para produzir o líquido cerebrospinal. Esta capacidade secretória é bidirecional e responsável pela produção contínua de LCS e pelo transporte de metabólitos do tecido encefálico de volta para o sangue. Devido às junções oclusivas entre as células ependimárias, as substâncias que entram no LCS pelos capilares corióideos não passam entre estas células; em vez disso, elas devem passar pelas células ependimárias. Esta barreira hematoliquórica permite a entrada de algumas substâncias no LCS, mas exclui outras, protegendo o encéfalo e a medula espinal de substâncias sanguíneas potencialmente nocivas. Ao contrário da barreira hematencefálica, formada principalmente por junções oclusivas das células endoteliais dos capilares encefálicos, a barreira hematoliquórica é composta pelas junções oclusivas das células ependimárias. Circulação do LCS O LCS formado nos plexos corioideos de cada ventrículo lateral passa para o terceiro ventrículo por meio de duas aberturas estreitas e ovais, os forames interventriculares. Mais LCS é introduzido pelo plexo corioideo do teto do terceiro ventrículo. O líquido cerebrospinal então flui pelo aqueduto do mesencéfalo (aqueduto de Silvio), em direção ao quarto ventrículo. O plexo corióideo do quarto ventrículo contribui com mais líquido cerebrospinal, que entra no espaço subaracnóideo por meio de três aberturas no teto do quarto ventrículo: uma única abertura mediana e duas aberturas laterais, uma em cada lado. Na sequência, o LCS circula no canal central da medula espinal e no espaço subaracnóideo que circunda a superfície do encéfalo e da medula espinal. O LCS é gradualmente reabsorvido para o sangue por meio das vilosidades aracnóideas, extensões digitiformes da aracnoidemáter que se projetam para os seios venosos durais, principalmente para o seio sagital superior. (Um agrupamento de vilosidades aracnóideas é chamado de granulação aracnóidea.) Normalmente, o LCS é reabsorvido tão rapidamente quanto é produzido pelos plexos corióideos, a uma taxa de 20 mℓ/h (480 mℓ/dia). Como as taxas de produção e de reabsorção se equivalem, a pressão liquórica geralmente é constante. Pela mesma razão, o volume do LCS permanece constante. Objetivo 02: Síndrome hipertensiva intracraniana Introdução A síndrome de hipertensão intracraniana constitui-se do conjunto de sinais e sintomas decorrentes da quebra da relação volume/pressão intracraniana – na ineficiência dos mecanismos compensatórios - entre a massa encefálica e o crânio. Os principais sinais e sintomas associados ao aumento da pressão intracraniana (PIC) correspondem à cefaleia, náuseas, vômitos e letargia, podendo ocorrer sintomas focais devido a lesões ocasionando síndromes de herniação. O sucesso no manejo fundamenta-se, portanto, no reconhecimento precoce da hipertensão intracraniana e na reversão da sua causa subjacente. Causas Em síntese, as principais causas do aumento da pressão intracraniana podem ser divididas em: Lesões expansivas cerebrais, hemorragia, abscesso, toxoplasmose, tumor. Trauma crânio-encefálico. Encefalopatia metabólica (ex: insuficiência hepática aguda, hiponatremia aguda). Meningoencefalites e encefalites. Hidrocefalia hiperbárica. Trombose do seio sagital superior. Hipertensão intracraniana (HIC) idiopática (ex: pseudotumor cerebri). Fisiopatologia Um aumento da produção, obstrução do fluxo ou déficit de absorção do LCR acarretam aumento de volume no espaço intracraniano e consequente aumento da PIC. O LCR está em contato íntimo com o parênquima nervoso e com a circulação sanguínea e obedece às leis de Pascal. Segundo estas, a pressão do LCR deve ser a mesma quando medida nas cavidades ventriculares, na cisterna magna ou no fundo-de-saco lombar. O aumento da pressão do LCR do espaço subaracnóideo espinal, constatado na mudança da posição horizontal para ortostática, é explicado pelo fato de o crânio ser um recipiente imperfeitamente fechado, permitindo que parte da pressão atmosférica atue no espaço intracraniano através dos vasos sanguíneos. A PIC, em condições normais, varia de 50 a 200 mm de água ou até 15 mm de mercúrio, sendo toleráveis até 20 mm de mercúrio, e é anormal somente acima desse valor. A monitoração da pressão intracraniana demonstra uma linha basal superposta por variações rítmicas secundárias às atividades cardíaca e respiratória, alterações de amplitudee periodicidade desses componentes podem ser um dos sinais precoces de falência do sistema de autorregulação cerebral e de início do aumento da PIC. Na ausência de qualquer patologia, a linha de base da PIC, assim como seus componentes pulsáteis, permanece inalterada a despeito de vários distúrbios transitórios. Esses mecanismos mantêm constante a PIC uma vez que não ocorre acúmulo de LCR ou aumento do volume intracraniano. Entretanto, diversas patologias como hematomas, tumores, hidrocefalia, edema ou inchaço cerebral acarretam alteração do volume intracraniano e consequente aumento da PIC. Circulação sanguínea encefálica O metabolismo encefálico depende, fundamentalmente, de oxigênio e glicose. Utilizando métodos para medir o fluxo sanguíneo encefálico (FSE) nota-se que o encéfalo, representando 2% do peso corporal, consome aproximadamente 20 a 22% do oxigénio do organismo, necessitando um fluxo sanguíneo que corresponda a 15% do rendimento cardíaco. Portanto, o encéfalo necessita de fluxo sanguíneo elevado e constante. O FSE é igual à diferença entre a pressão de perfusão encefálica (PPE) e a resistência vascular encefálica (RVE). A PPE pode ser definida como a diferença entre a pressão arterial (PA) no nível das artérias carótidas internas e vertebrais ao atravessarem a dura-máter, e a pressão no nível das jugulares. Na prática, para simplificar, considera-se a PPE igual à PA sistémica. A RVE pode ser considerada como diretamente proporcional à extensão do leito vascular e inversamente proporcional à quarta potência do raio dos vasos. Como, na prática, a extensão do leito vascular é invariável, as alterações no diâmetro do vaso desempenham importante papel na RVE. A autorregularão pode ser definida como o mecanismo pelo qual o FSE se mantém constante, apesar de variações na PPE. A autorregulação age pelo diâmetro dos vasos, que é controlado por mecanismos miogênicos e controle químico. O aumento da pressão intravascular causa vasoconstrição e a queda provoca vasodilatação. Dessa maneira, o aumento da pressão intravascular leva à vasoconstrição, assim como à queda do metabolismo com baixa concentração de PaCO,. Aumentos da PaCO, ou quedas na PAM promovem vasodilatação dos vasos intracranianos. A perda destes mecanismos de autorregulação faz com que o fluxo sanguíneo cerebral passe a variar de forma linear de acordo com o aumento da PA. Controle miogênico Em linhas gerais, o aumento da demanda metabólica do encéfalo aumenta o fluxo cerebral sanguíneo. A hipótese metabólica prevê que várias moléculas vasoativas funcionariam como mediadores entre a atividade neuronal de uma certa região e o controle do fluxo sanguíneo locorregional. São elas: gás carbônico, hidrogênio, oxigênio, adenosina e nucleotídios de adenina, potássio e cálcio. A função exata de cada uma delas no acoplamento entre a atividade metabólica do neurônio e o fluxo sanguíneo cerebral ainda não está totalmente elucidada. Controle metabólico A teoria do mecanismo miogênico sugere que o músculo liso do vaso cerebral responde às variações da pressão transmural. Aparentemente, o mecanismo é uma resposta intrínseca do músculo liso arteriolar à alteração do gradiente de pressão transmural, ou seja, quanto maior a pressão intravascular na luz do vaso causando estiramento da musculatura lisa do vaso, tanto maior é a vasoconstrição reflexa (efeito Bayliss). A rapidez da resposta da autorregulação ou a resposta completa em 15 a 30 s favorece a hipótese da teoria miogênica. Controle neural do calibre dos vasos A microvasculatura é ricamente inervada por terminações nervosas advindas de vários centros de projeção difusa do tronco cerebral com os respectivos neurotransmissores, serotonina, norepinefrina e histamina. Os vasos sanguíneos extracerebrais são inervados pelos sistemas nervosos neurovegetativo periférico, simpático e parassimpático. A hipótese da existência de uma inervação encefálica intrínseca parece ser viável, pois recentemente se tem descoberto regiões do encéfalo que podem regular o fluxo sanguíneo locorregional encefálico, como o núcleo fastigial do cerebelo, o núcleo do trato solitário, locus ceruleus, a área subtalâmica vasomotora, o núcleo dorsal da rafe mesencefálica e os núcleos hipotalâmicos histaminérgicos. Relação volume-pressão A relação entre o volume intracraniano e a PIC não é, entretanto, linear. Descrita por Ryder ct ai., a curva de relação volume-pressão é hiperbólica. Durante a primeira porção plana da curva, aumentos do volume acometem minimamente a PIC devido aos mecanismos compensatórios do LCR e sistema circulatório, denominados período de compensação espacial. A medida que o volume aumenta, a alteração da pressão se torna progressivamente maior devido à perda da complacência (período de descompensação espacial). Quando o novo volume acrescentado é maior do que o do líquido deslocado, há o aumento da PIC. Admite-se que o novo volume possa ocupar 8 a 10% do espaço intracraniano, sem que haja aumento da PIC. A partir dai, entretanto, uma diferença de apenas 1% entre o novo volume acrescentado e o do liquido deslocado já é suficiente para alterar a PIC. Neste momento, pequenos volumes geram grande aumento da PIC. Acima de 50 mmHg a PIC aproxima-se da PAM, e a curva apresenta padrão plano novamente, de forma a curva apresentar forma sigmoide. Quando certo volume é acrescido ao conteúdo normal da cavidade intracraniana há, de início, a diminuição do espaço subaracnóideo periencefálico e, em seguida, a redução das cavidades ventriculares por diminuição do LCR. Ulteriormente diminui o volume sanguíneo e, finalmente, há redução do volume do parênquima nervoso por compressão e atrofia. Nas crianças que ainda apresentam fontanelas abertas e suturas não soldadas, a elasticidade do crânio permite que o aumento do conteúdo seja compensado pelo aumento de diâmetro. O tempo constitui elemento importante nesse mecanismo de compensação. O aumento lento do conteúdo intracraniano permite o deslocamento gradual, progressivo, de grande quantidade de liquido do interior. Entretanto, o aumento rápido do conteúdo intracraniano impede a adequada utilização desses mecanismos compensatórios acarretando o desequilíbrio precoce da relação volume/ pressão intracraniana, podendo, nessas circunstâncias, ocorrer aumento da PIC com volumes bem menores, se comparados aos acréscimos lentos. A falência dos mecanismos compensatórios acaba por provocar o aumento da pressão intracraniana com graves consequências patológicas. A pressão de perfusão cerebral (PPC) depende da diferença pressórica entre a PAM e a PIC. A medida que a pressão intracraniana aumenta, a PPC diminui, e uma vez esgotados os limites de autorregulação o fluxo sanguíneo cerebral começa a diminuir, ocasionando baixa oferta de oxigênio e nutrientes ao parênquima encefálico. A isquemia tecidual acaba por gerar edema citotóxico, o qual contribui para o aumento da PIC, gerando um círculo vicioso e mortal se a terapêutica adequada não for tomada. Curva volume/pressão descrevendo as três fases de complacência do sistema. A fase A mostra complacência normal, ou seja, com grande adição de volume não há repercussão na pressão intracraniana e esse pequeno aumento logo se compensa. Na fase B, a adição de volume traz elevação de pressão, estando a complacência reduzida. A fase C descreve ausência de complacência, ou seja, pequenos aumentos de volume causam grandes elevações da pressão intracraniana. Quadro clínico Os principais sinais e sintomas decorrentes da HIC são cefaleia, vómitos e papiledema. Vômitos ditos em jato, sem náusea concomitante, são especialmente sugestivos de aumento da pressão intracraniana. Paralisia de nervos cranianos pode ocorrer de forma variada, em especial paresia do VI nervo uni ou bilateral devido à pressão direta sobre seus núcleos localizados no troncocerebral. A cefaleia, isoladamente, é o primeiro sintoma de HIC cm 20% dos pacientes com tumores intracranianos e surge cm 70% dos mesmos durante a evolução da doença. A dor pode ser generalizada ou localizada e, nesta última circunstância, em apenas 30% o local da dor coincide com a situação do processo responsável pelo HIC, é de caráter progressivo e mais intensa durante à noite, o que é explicado pela vasodilatação secundária à retenção de C01 no parénquima nervoso durante o sono. Doenças que levam a grande aumento da PIC, sem desviar estruturas, como pseudotumor cerebral, podem não ser acompanhadas por cefaleia. Esta manifestação clínica da HIC decorre não do aumento da PIC, mas sim da dilatação e da tração das grandes artérias e veias, compressão e distensão de nervos cranianos ( trigêmio, vago e glossofaringeo) e dura-máter por eles inervadas. Os vômitos constituem a queixa inicial em 10% dos pacientes com HlC e ocorrem em 70% dos mesmos durante o curso da doença, surgindo com maior frequência pela manhã, ao despertar. O vômito decorrente do aumento da PIC devido ao acúmulo de C0 durante o sono alivia a cefaleia pela diminuição do edema cerebral que se segue à hiperventilação provocada pelo ato de vomitar. Os vômitos podem ou não ser precedidos por náuseas; nesta última possibilidade são denominado vômito em jato ou vômito cerebral; ele é explosivo e ocorre em apenas 20% dos pacientes com HIC que apresentam vômitos. Em crianças, os vômitos, principalmente os matinais, podem preceder em muito o aparecimento de outros sintomas e sinais de HIC, sendo confundidos frequentemente como secundários a perturbações do aparelho digestivo. Os vômitos decorrem do aumento da PIC ou do deslocamento e da torção do tronco encefálico. O edema das papilas ópticas, embora bastante objetivo e especifico, tem a sensibilidade prejudicada devido ao fato de ser examinador-dependente e não sendo observado nas HIC agudas antes das primeiras 24 horas. Dessa forma, o diagnóstico de HIC em pacientes com clinica sugestiva e sem papiledema não pode ser descartado. Edema das papilas é resultante da compressão da veia central da retina pelo LCR contido no espaço subaracnóideo que envolve os nervos ópticos. A ausência do pulso venoso, o primeiro indício, já indica o aumento da PIC; entretanto, como a ausência do pulso venoso pode ser constatada em condições normais, a presença afasta a possibilidade de HIC, mas a ausência tem menor valor diagnóstico. Não há uma relação direta entre o edema de papila e a acuidade visual, mas, sem dúvida, quando há papiledema e a HIC não é convenientemente diagnosticada e tratada, ele caminha para a atrofia secundária de papila e cegueira. As queixas de cegueira transitória cm pacientes com edema de papila sugerem cegueira iminente. Um processo expansivo pode comprimir diretamente o nervo ou o quiasma óptico, levando à atrofia primária da papila e cegueira, sem que haja edema de papila ou HIC. As alterações da personalidade como primeira manifestação de HIC são mais frequentes do que o comumente referido e geralmente são valorizadas ou reconhecidas somente após o aparecimento dos outros sinais e sintomas. Constituem 20% das manifestações iniciais da HIC e se caracterizam por fatigabilidade, apatia, irritabilidade, desatenção, indiferença, diminuição da espontaneidade e instabilidade emocional, sendo mais frequentes nas neoplasias cerebrais. Com a evolução da HIC surgem períodos de sonolência, rebaixamento progressivo do nível de consciência e coma. Nas crianças com suturas ainda não soldadas, o aumento da PIC pode ser compensado, temporariamente, pela disjunção progressiva das suturas. Além do aumento do perímetro craniano, constata-se congestão das veias do couro cabeludo. Um sinal característico da HIC em crianças é o "som de pote rachado" obtido à percussão do crânio. Em pacientes com HIC submetidos a registro continuo da PIC são apontadas elevações da PA concomitantemente ao aparecimento de ondas em platô. A elevação da PA aumenta o FSE e secundariamente o volume sanguíneo encefálico, agravando a HIC. Simultaneamente ao aparecimento das ondas em platô ocorrem também alterações do pulso e do ritmo respiratório. Harvey Cushing, famoso neurocirurgião americano, demonstrou experimentalmente que a PA se eleva quando a PIC atinge níveis próximos ou superiores aos da PA. Ele afirmou que o propósito da elevação da PA é o de restaurar o FSE aos centros vitais bulbares. Observou também irregularidades no ritmo respiratório e bradicardia. Esses sinais, elevação da PA, bradicardia e arritmia respiratória, constituem a tríade de Cushing. A resposta de Cushing é secundária à isquemia global do SNC ou de pressão sobre o tronco encefálico. O envolvimento dos nervos cranianos é frequente na HIC e nem sempre tem valor de localização. O nervo abducente é o mais frequentemente lesado (75%), enquanto o nervo oculomotor (20%) e o troclear (5%) são menos afetados. Um segundo mecanismo de lesão secundária à HIC se deve à geração de gradientes de pressão entre duas regiões do encéfalo. Estes gradientes pressóricos podem causar o deslocamento regional do parênquima encefálico para regiões não anatômicas, fato denominado herniação cerebral. As herniações mais comuns são: transtentorial uncal ou central, subfalcina, transforaminal e transtentorial ascendente ou herniações cerebelares. A síndrome central é caracterizada por acometimento progressivo de estruturas cm um sentido craniocaudal. Sintomas diencefálicos são registrados inicialmente, levando a alterações do comportamento e perda de consciência, acompanhada por disfunção respiratória denominada Cheyne-Stokes. As pupilas tornam-se mióticas e hiporresponsivas à luz. Com envolvimento progressivo do mesencéfalo, as pupilas tornam-se médias e fixas, sem reflexo fotomotor, a respiração torna-se taquipneica e podem ocorrer posturas patológicas bilaterais de descerebração. O acometimento da ponte leva a extremidades flácidas com reflexo cutâneo plantar cm extensão bilateralmente. Segue-se o acometimento medular com respiração lenta e irregular (apneica), precedendo a morte encefálica. A síndrome uncal por outro lado cursa inicialmente com dilatação pupilar ipsilateral, a qual se torna hiporresponsiva à luz, seguida por dilatação completa e oftalmoplegia (acometimento do Ili nervo craniano). A compressão do mesencéfalo leva à alteração do nível de consciência, seguida por paresia e postura de descerebração contralateral. A evolução do quadro passa a acometer o mesencéfalo contralateral com evolução final semelhante à herniação central. A hérnia supracalosa (subfalcina) é o resultado da herniação do giro cíngulo sob a borda livre da foice cerebral e surge nos processos expansivos frontais e parietais. Essa hérnia desloca as artérias pericalosas além da linha mediana e comprime o teto do terceiro ventrículo, determinando discreta faixa de necrose do giro cíngulo. Déficits motores e sensitivos contralaterais, principalmente em membros inferiores, podem ocorrer na vigência de hemiações subfalcinas por compressão direta sobre o parênquima cerebral ou devido à compressão da artéria cerebral anterior. As hérnias cerebelares podem se dirigir para cima, insinuando-se no buraco de Paccbioni ou, mais frequentemente, para baixo através do forame magno. A hérnia cerebelar superior ocorre quando há aumento da PIC no compartimento infratentorial e pressão relativamente menor na fossa supratentorial. A hérnia cerebelar superior comprime o mesencéfalo diminuindo a luz do aqueduto de Sylvius, o que leva à retenção de LCR acima desse nível. A hérnia cerebelar inferior, tonsilar ou amigdaliana, resulta da insinuação das tonsilas cerebelares no buraco occipital comprimindo o bulbo. Ela é mais grave do que as hérnias transtentoriais e cerebelares superiores, acompanha-se de obstrução do trânsitodo LCR no nível do quarto ventrículo e seu quadro clinico caracteriza-se por parada cardiorrespiratória súbita.
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