Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Graziela Benevides | 5º Semestre - Medicina Hipertensão Intracraniana (Propedêutica Clínica) ➢ INTRODUÇÃO: - Pressão intracraniana (PIC) é aquela encontrada no interior da caixa craniana, tendo como referência a pressão atmosférica; - A PIC tem uma variação fisiológica de 5 a 15 mmHg e reflete a relação entre o conteúdo da caixa craniana (cérebro, líquido cefalorraquidiano e sangue) e o volume do crânio, que pode ser considerado constante (Doutrina de Monrie-Kellie); - A alteração do volume de um desses conteúdos pode causar hipertensão intracraniana (HIC); - Pressão de Perfusão Cerebral (PPC) = PAM – PIC; ➢ FISIOPATOLOGIA: - O líquido cefalorraquidiano (LCR) constitui 10% do volume intracraniano e seu volume e todo o sistema nervoso é de aproximadamente 150ml, dos quais 20-30ml estão no interior dos ventrículos e o restante nos espaços subaracnoides intracraniano e raquidiano; - O compartimento craniano é preenchido por LCR, sangue arterial e venoso e parênquima cerebral; - O forame de Pacchioni (fenda tentorial) comunica as fossas supra e infratentorial; - O tecido encefálico ocupa 87% do volume intracraniano; - LCR das cisternas, ventrículos e espaço subaracnóideo preenchem 9% e os outros 4% são de sangue; - Obstruções no fluxo, aumento de produção ou déficit de absorção do LCR causam aumento do seu volume no espaço intracraniano e consequentemente o aumento da PIC; - Quando certo volume é acrescido ao conteúdo normal da cavidade intracraniana, há uma diminuição do espaço subaracnóideo periencefálico e em seguida redução das cavidades ventriculares por diminuição do LCR; > Por último, reduz o volume sanguíneo e finalmente ocorre redução do volume do parênquima nervoso por compressão e atrofia; > Em crianças, a elasticidade do crânio se torna possível que o aumento do seu conteúdo seja compensado pelo aumento do seu diâmetro; > O aumento lento do conteúdo intracraniano possibilita o deslocamento gradual e progressivo de grande quantidade de líquido do seu interior; - Doutrina de Monro-Kellie: > Primeiro mecanismo de compensação; > Aumento de volume intracraniano começa a diminuir do volume de sangue venoso e do volume de líquor; > Quando há um aumento em um dos compartimentos, há uma compensação inicial a partir dos dois; - LCR obedece às leis de Pascal: a pressão do LCR deve ser a mesma quando medida nas cavidades ventriculares, na cisterna magna ou no fundo de saco lombar; - Curva de Langfitt: Graziela Benevides | 5º Semestre - Medicina > Curva de complacência; > Ocorre uma autorregulação quando ocorre aumento da PIC; > Fase I e II: alta complacência e baixa elastância; > Fase III: transição; > Fase IV: baixa complacência e alta elastância; ➢ CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA ENCEFÁLICA: - O fluxo sanguíneo encefálico (FSE) = pressão de perfusão encefálica (PPE) – resistência vascular encefálica (RVE); - PPE = PA sistêmica; - PPE = PAM – PIC; - RVE é inversamente proporcional à quarta potência do raio dos vasos; - Quando há queda da PPE abaixo de 50mmHg, ocorre queda no FSE; - Á medida que a PIC aumenta, a PPE diminui, e uma vez esgotados os limites de autorregulação, o FSE começa a diminuir, ocasionado baixa oferta de oxigênio e nutrientes ao parênquima encefálico; - A autorregulação age através do diâmetro dos vasos (mecanismos miogênicos e controle químico): > Tenta-se manter um FSE constante mesmo diante de flutuações da PAM; - O aumento da pressão intravascular leva à vasoconstrição assim como à queda do metabolismo, com baixa concentração de PCO2 no tecido perivascular; - Aumentos da PCO2 ou da PAM levam a vasodilatação dos vasos intracranianos; ➢ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: - Cefaleias (pulsátil e atrás dos olhos) em mais de 90% dos indivíduos, cerca de 90% dos quais são obesos; - Alterações visuais; - Vômitos em jato; - Distúrbios psíquicos; - Paresia do VI nervo craniano; - A cefaleia ocorre pelo aumento da pressão e por distensão da dura-máter, dos vasos e dos nervos cranianos, que são estruturas que tem terminações nervosas sensitivas; geralmente, é mais frequente no período da manhã e acorda o paciente durante a noite; - Os vômitos são devidos ao aumento da pressão e a irradiação do assoalho do 4º ventrículo; - É importante o exame do fundo do olho para detectar o papiledema; - O HIC pode determinar outros sinais e sintomas que resultam das herniações do tecido cerebral e do deslocamento cefalocaudal do tronco cerebral, geralmente causados por lesões expansivas supratentoriais. Essa sintomatologia caracteriza o quadro de descompensação da HIC; - Com a evolução da HIC, surgem períodos de sonolência, rebaixamento progressivo do nível de consciência e coma; - Sinal característico da HIC em crianças = “som de pote rachado”. - A elevação da PA aumenta o FSE e secundariamente o volume sanguíneo encefálico, agravando a HIC; - A PA se eleva quando a PIC atinge níveis próximos ou superiores aos da PA: restaurar o FSE nos centros vitais bulbares; - Tríade de Cushing: elevação da PA, bradicardia e arritmia respiratória; - Nervos mais afetados: abducente, oculomotor e troclear; - Midríase: compressão do III nervo; - Bradicardia; - Bradipneia / respiração irregular; - Alterações de consciência: fatigabilidade, apatia, irritabilidade, desatenção, indiferença, diminuição da espontaneidade e instabilidade emocional; ➢ HERNIAÇÕES CEREBRAIS: - Mais comuns: transtentorial uncal ou central, subfalcina, transforaminal e transtentorial ascendente ou herniações cerebelares; 1) Síndrome Central (herniação central): - Acometimento progressivo de estruturas no sentido craniocaudal; - Sintomas iniciais diencefálicos, levando a alterações do comportamento e respiração de cheyne-stokes. - Pupilas mióticas e hiporresponsivas; - Envolvimento Mesencefálico: pupilas médias e fixas, sem reflexo fotomotor, taquipneia, postura de descerebrarão; - Envolvimento pontino: extremidades flácidas com sinal de Babinski bilateral; - Envolvimento medular: respiração lenta e irregular, precedendo morte encefálica; 2) Síndrome Uncal: - Deslocamento do uncus e da porção medial do giro parahipocampal através da incisura da tenda do cerebelo; Graziela Benevides | 5º Semestre - Medicina - Midríase ipsilateral com hiporresponsividade, seguida de dilatação completa e oftalmoplegia (III nervo acometido); - Pode ocorrer compressão da ACP e do mesencéfalo; 3) Hérnia Supracalosa (subfalcina): - Resultado da herniação do giro do cíngulo sob a borda livre da foice cerebral, e surge nos processos expansivos frontais e parietais; - Desloca as artérias pericalosas além da linha mediana e comprime o teto dos ventrículos laterais, determinando discreta faixa de necrose no giro do cíngulo; - Ocorrem déficits motores e sensitivos contralaterais, sobretudo em MMII, devido compressão direta sobre o parênquima ou compressão da ACA; 4) Hérnias Cerebelares: - Podem se dirigir para cima pelo forame de Pacchioni, ou mais frequente para baixo pelo forame magno; - Hérnia cerebelar superior comprime o mesencéfalo diminuindo a luz do aqueduto de Sylvius, levando à retenção de LCR acima desse nível; - Hérnia cerebelar inferior resulta da insinuação das tonsilas cerebelares pelo forame magno, comprimindo o bulbo. É mais grave do que as hérnias transtentoriais e cerebelares superiores pois pode causar PCR súbita por isquemia de estruturas da formação reticular do bulbo; ➢ DIAGNÓSTICO: - Feito pela presença de sinais e sintomas, tais como papiledema; - Introdução de cateter com transdutor de pressão nos sistemas ventriculares, subdurais ou intraparenquimatosos; - A RM é necessária para excluir causas secundárias e aumento da pressão intracraniana; - A venografia por TC ou RM é necessária para excluir trombose de seio venoso; - A PL deve ser realizada,a menos que os pacientes tenham contraindicação como uma lesão expansiva intracraniana, e a pressão do LCR deve ser medida; - O diagnóstico pode ser feito se a pressão está elevada (LCR > 250 mmHg H2O) e se o próprio líquido é normal no que se refere ao nível de proteínas, de glicose e de contagem de células; - Campos visuais devem ser examinados formalmente devido a acuidade visual não ser afetada até tardiamente na evolução do distúrbio; Fundo de olho normal Papiledema ➢ CAUSAS DA HIC: 1) Encéfalo: - Tumores; - Abcesso central, toxoplasmose; - Meningites e encefalites; - Encefalopatia metabólica (ex: insuficiência hepática, hiponatremia); - Edema cerebral; Graziela Benevides | 5º Semestre - Medicina 2) Sangue: - Hematomas (extradural, subdural, intraparenquimatoso); - Trombose de seios venoso; 3) Líquor: - Meningites; - Hidrocefalia; - Pseudomotor cerebral: causa não totalmente esclarecida; possível elevação na pressão venosa intracraniana; risco: mulheres em idade fértil, acima do peso, uso de medicamentos (tetraciclina, vitamina A); ➢ TRATAMENTO: - Remoção da causa base; - Quando há lesão definida o tratamento mais adequado é remover; 1) Medidas Gerais: - Posição em decúbito dorsal e com a cabeça elevada a 30° melhora a drenagem venosa, a reabsorção liquórica e a ventilação; - A flexão ou rotação da cabeça diminui o fluxo na jugular e aumenta a pressão intracraniana; - Colocação correta de sondas e coletores, identificação de doenças associadas (fraturas e doenças abdominais) são importantes para aliviar a dor. - A desobstrução de vias aéreas deve ser de curta duração e repetida, se necessário, e pode ser precedida de uma hiperventilação com o objetivo de limitar a HIC durante esse período. - Os distúrbios hidroeletrolíticos podem agravar a HIC, principalmente a hiponatremia, portanto a hidratação sempre deve ser feita, procurando a manutenção da homeostase. - Se a respiração espontânea do paciente não é suficiente para manter a PO2 acima de 60-70 mmHg e a PCO2 arterial entre 30-40 mmHg, a ventilação mecânica deve ser instalada. - A avaliação geral do paciente e a correção de possíveis distúrbios devem ser feitos antes de medidas específicas. 2) Medidas Específicas; - Inibição da produção de líquido cefalorraquidiano; - Pode ser efetuada, empregando-se corticosteroides e inibidores da anidrase carbônica, como a acetazolamida; - Dexatometasona age, interferindo nos mecanismos de troca da membrana celular no plexo coróideo, inibindo a função secretória das células epiteliais. - Drogas que inibem a ação da anidrase carbônica, impedindo a hidratação do CO2, como a acetazolamida e a metazolamida, reduzem a formação de LCR a partir do CO2 produzido metabolicamente. - Associando-se a dexametasona à acetazolamida, consegue-se uma redução de até 30% da produção liquórica, que pode ser útil no tratamento da HIC. Graziela Benevides | 5º Semestre - Medicina 3) Drenagem de LCR; - A remoção de LCR através da drenagem ventricular é um excelente procedimento para a redução da PIC aumentada, embora essa redução seja de curta duração. - Em pacientes com TCE, sua utilização prática está prejudicada, porque os ventrículos, geralmente, estão diminuídos de tamanho devido ao edema cerebral, ou estão deslocados da sua posição normal por lesões expansivas intracranianas. - A drenagem liquórica pode ser definitiva nos casos de hidrocefalia, através da instalação de um sistema de derivação, geralmente, ventrículoperitoneal. 4) Hiperventilação; - O efeito da hiperventilação sobre a PIC manifesta- se rapidamente (inicia em trinta (30) segundos eestabiliza-se em cinco minutos) e a duração é de algumas horas. - Devido ao seu mecanismo de ação, esse efeito é mais intenso nos casos em que o cérebro está “apertado”, na presença de inchaço cerebral. - A hiperventilação está indicada, quando é necessária uma redução aguda na PIC. 5) Diuréticos; 6) Glicocorticoides; - Provocam a redução da PIC através de mecanismos não totalmente esclarecidos. - Um dos seus efeitos é a estabilização das membranas celulares, restabelecendo o mecanismo de transporte ativo e permitindo a correção dos distúrbios que propiciam a formação e/ou aumento do edema cerebral, especialmente o vasogênico. - Outros efeitos observados são a redução na produção de LCR e possível melhora da função neurológica, independentemente da melhora do edema cerebral. 7) Barbitóricos; 8) Solução salina hipertônica; 9) Hipotermia; - A hipotermia tem o efeito de diminuir a pressão intracraniana, do fluxo sanguíneo cerebral e do consumo de O2 pelo cérebro. - A aplicação dessa metodologia foi abandonada devido às complicações clínicas, principalmente infecciosas, oriundas da baixa temperatura.
Compartilhar