Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIDADE I - FORMAÇÃO HISTÓRICA DA EPIDEMIOLOGIA TÓPICO I – O QUE É A EPIDEMIOLOGIA? A palavra Epidemiologia vem do grego e é formada pelos 3 radicais: “epi” – em cima de, sobre; “demós”- povo e “logos”- estudo. Portanto, trata-se da ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva. A epidemiologia, na atualidade, constitui-se na principal ciência da informação em saúde. É considerada a ciência básica da Saúde Coletiva. TÓPICO 2- PORQUE ESTUDAR A EPIDEMIOLOGIA? O conhecimento tanto acerca do surgimento das doenças, bem como do seu comportamento sobre as populações, permite-nos dirigir os cuidados adequados para aquela situação específica. Sendo assim, a epidemiologia serve para propor medidas específicas de prevenção, controle e erradicação dessas doenças que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações em saúde. Esses conhecimentos favorecem o aumento da qualidade e da expectativa de vida das populações. TÓPICO 3- A HISTÓRIA DA EPIDEMIOLOGIA Hipócrates – Séc. V a.C. – Grécia Antiga - Desassociou o processo saúde-doença da ideia de punições divinas e passou a associar às mudanças que ocorriam no ambiente em que o indivíduo está inserido. John Graunt – Séc. XVII - Analisou a regularidade entre as proporções das taxas de nascimento e mortalidade entre indivíduos do sexo masculino. James Lind – Séc. XVIII - Produziu o primeiro ensaio clínico da história da medicina. Selecionou 12 marinheiros com escorbuto, analisou os aspectos da doença e a resposta de cada grupo à terapia de maior efeito de tratamento. Pierre Louis – Séc. XVIII - Produziu um estudo, utilizando-se do método epidemiológico, para investigar clínicas e doenças. Estudou, em especial, a eficácia do uso do método de sangria no tratamento de tuberculose e febre tifoide na época. Louis Villermé – Séc. XVIII - Pesquisou o impacto da pobreza e das condições de trabalho na vida das pessoas. William Farr – Séc. XIX - Fez o primeiro controle sistemático do registro de óbitos. Semmelweis – Séc. XIX - Foi quem identificou que a lavagem das mãos dos cirurgiões acarretava na diminuição da mortalidade em gestantes puérperas. Edwar Jenner – Séc. XIX - Pai da imunologia- Desenvolveu a vacina da varíola, primeira imunização ativa da sociedade. John Snow – Séc. XIX - PAI DA EPIDEMIOLOGIA MODERNA - - Mapeou a cidade de Londres e a distribuição de suas bombas hídricas durante o surto de cólera no século XIX, verificando as áreas que detinham as bombas com o maior número de infecções. Identificando, assim, a ligação entre a contaminação da água e os respectivos casos de cólera e a sua relação com a taxa de óbitos dessa doença. TÓPICO 4- A CLÍNICA X EPIDEMIOLOGIA A clínica VS A epidemiologia TÓPICO 5- A HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA (HND) A história natural de uma doença é uma descrição, ou seja, algo que possui uma evolução, do processo de adoecimento de um indivíduo até sua cura ou morte. Trata-se de um estudo que acaba sendo um instrumento necessário, pois aponta quais métodos podem ser utilizados na prevenção e no controle. Nessa tarefa, podemos dizer que a visão de unicausalidade da doença é desconsiderada, pois para a história natural da doença existem vários fatores na causa de uma doença, ou seja, sua origem e determinação é multicausal. Entendendo isso, os cuidados em atenção primária, devem visar todos os aspectos envolvidos na causa da doença, na hora de montar estratégias de prevenção e promoção à saúde. Nesse sentido, Leavell e Clark, em 1976, desenvolveram um modelo de história natural das doenças, o qual é o mais utilizado até hoje. O modelo de Leavell e Clark Nesse modelo, nós podemos associar as manifestações das doenças aos níveis de atenção/prevenção que devem se atentar aos cuidados. A história natural da doença, segundo esses autores, irá compreender 2 períodos: - Período pré-patogênico: Período no qual a doença não está instalada ainda, mas é onde ocorre a interação entre o ambiente, o agente e o hospedeiro. Neste período, há a ocorrência de diversos estímulos que vão levar ao desenvolvimento da doença. Nesse sentido, deverão ser tomar medidas preventivas que busquem evitar o desenvolvimento da doença. Como atividades de promoção à saúde e proteção específica contra aquele agente causador. O nível de atenção utilizado nessa fase é o de prevenção primária. - Período Patogênico Acontece a partir do momento em que a doença já está instalada no indivíduo e começa a seguir seu curso. Nesse sentido, deverão ser tomar medidas preventivas que busquem evitar o agravamento da doença. De modo que, durante cada estágio da doença, dever receber os cuidados adequados, conforme vamos ver aqui. Os níveis de atenção utilizados nessa fase são os de prevenção secundária e terciária. No nível de atenção secundária: nós temos, como cuidados, o diagnóstico precoce e tratamento imediato, bem como as medidas para a limitação de danos. Isso pode ser feito, na fase pré-clínica das doenças, de modo a conseguirmos detectá-la, sem a necessidade do aparecimento de sintomas. Já no nível de atenção terciário, nós temos os cuidados relacionados à reabilitação do indivíduo. Em função de possíveis danos ou defeitos desenvolvidos durante o curso da doença. Isso ocorre, geralmente, na fase clínica da doença, quando há a aparência de sintomas, e aí podemos percebê-la, não mais de maneira precoce. UNIDADE II- TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA TÓPICO 1- O CONCEITO DE TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA A transição demográfica é um conceito que descreve dinâmica populacional ao longo da evolução histórica das sociedades humanas. Ela ocorre, principalmente, por meio da relação entre nascimentos, óbitos, fluxos de imigração e emigração; No entanto, no que tange aos estudos epidemiológicos, a transição demográfica também deve levar em conta, além dos fatores supracitados, os avanços da medicina, a urbanização, o desenvolvimento de novas tecnologias, entre outros fatores determinantes na sociedade. TÓPICO 2- OS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE (DSS) Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. O modelo de Dahlgren e Whitehead inclui os DSS dispostos em diferentes camadas, desde uma camada mais próxima dos determinantes individuais até uma camada distal, onde se situam os macrodeterminantes. Como se pode ver na figura, os indivíduos estão na base do modelo, com suas características individuais de idade, sexo e fatores genéticos que, evidentemente, exercem influência sobre seu potencial e suas condições de saúde. A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias e de apoio, cuja maior ou menor riqueza expressa o nível de coesão social que é de fundamental importância para a saúde da sociedade como um todo. No próximo nível estão representados os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação, indicando que as pessoas em desvantagem social correm um risco diferenciado, criado por condições habitacionais mais humildes, exposiçãoa condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços. Finalmente, no último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade e que possuem grande influência sobre as demais camadas. TÓPICO 4- O QUE CAUSOU A TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA? As mudanças sociais, econômicas, políticas e científicas iniciadas no século XIX, com auge no século XX (as chamadas Revoluções Industriais). O que acarretou em saúde: - Diminuição das taxas de mortalidade, principalmente da mortalidade infantil; - Aumento da expectativa de vida; - Mudanças na composição das principais causas de morte; - Progressiva redução das doenças infecciosas; - Diminuição dos casos de desnutrição e dos problemas relacionados ao parto; - Principais causas de mortalidade agora: doenças cardiovasculares e neoplasias. TÓPICO 5- A DINÂMICA POPULACIONAL Antes de começarmos a falar sobre as fases de transição demográfica, é importante nos atentarmos a alguns conceitos importantes sobre dinâmica populacional. DINÂMICA POPULACIONAL: Estudo da variação do número de indivíduos de determinada população. POPULAÇÃO: Conjunto de pessoas que residem em determinado território que pode estar constituído em uma cidade, um estado, um país ou mesmo o planeta como um todo. TAXA DE FECUNDIDADE: Relação entre o número de crianças com idade igual ou menor a 5 anos de idade pelo número de mulheres em idade fértil de uma determinada população. TAXA DE NATALIDADE: Índice obtido a partir de duas variáveis: a população de determinado período e a quantidade de nascimentos registrados naquele mesmo período. TAXA DE MORTALIDADE: É o número de óbitos em uma população. TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL: Relação entre o número de crianças, com faixa etária até 12 meses, que vieram a falecer, sobre a relação de crianças vivas com até 12 meses. TAXA DE IMIGRAÇÃO: Número de indivíduos que chegam em uma determinada população, em um determinado território. TAXA DE EMIGRAÇÃO: Número de indivíduos que deixam de viver em um determinado território, pertencente a uma determinada população. DENSIDADE POPULACIONAL (POPULAÇÃO RELATIVA): É a relação entre o número de indivíduos de população e a área do território que eles ocupam. POPULAÇÃO ABSOLUTA: Número total de habitantes que vive em uma determinada área. TÓPICO 6- OS ESTÁGIOS DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Em geral, todas as populações, independentemente do estágio em que se encontram, tendem ao fenômeno de envelhecimento populacional, no qual as taxas de fecundidade e de mortalidade tendem a diminuir concomitantemente. Afinal, quais são esses estágios da transição demográfica? 1- Estágio Primitivo ou Pré-industrial 2- Estágio Intermediário de divergência de coeficientes 3- Estágio Intermediário de convergência de coeficientes 4- Estágio Moderno ou Pós-transição TÓPICO 7- A TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA Entende-se por transição epidemiológica as mudanças ocorridas no tempo nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com as transições demográficas. O desenvolvimento industrial, tecnológico e da assistência médica são alguns fatores que influenciam na transição epidemiológica. Estágios da Transição Epidemiológica: - Estágio 1: Altas taxas de mortalidade e fecundidade, com predominância de doenças infecto-parasitárias, desnutrição, crescimento populacional lento e baixa expectativa de vida. Período caracterizado por pandemias e fome. - Estágio 2: Desaparecimento das pandemias, diminuição da mortalidade e da fecundidade em geral. - Estágio 3: Doenças causadas pelo homem, crônicas e degenerativas, com baixas mortalidade e fecundidade. - Estágio 4: Diminuição de mortalidade por doenças cardiovasculares, com aparecimento de doenças emergentes. UNIDADE III- DISTRIBUIÇÃO DAS DOENÇAS NO TEMPO E ESPAÇO Baseia-se na evolução descrita pela história natural da doença. E, em especial, na relação multicausal entre a doença em si e os múltiplos fatores que se relacionam com ela, podendo ser fatores biológicos, psicológicos ou sociais, por exemplo. Para entendermos como se categorizam a distribuição da doença no tempo e no espaço, primeiramente, faz-se importante que compreendamos os conceitos de epidemiologia descritiva e epidemiologia analítica. TÓPICO I- EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA X EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA A epidemiologia descritiva examina os atributos (dados) das doenças ou eventos na população e observa sua distribuição, bem como as suas características. - Se utiliza das perguntas: O QUE: Tipo de evento estudado; QUEM: Quais pessoas adoeceram (Variáveis relativas ao indivíduo, como idade, estado civil e hábitos alimentares); ONDE: Em que local ocorreu o evento (Variáveis relativa ao lugar, como cidade, estado ou país, podendo categorizar como uma pandemia, endemia, epidemia ou surto); QUANDO: Em que época ocorreu o evento (Variáveis relativas ao tempo, permitindo avaliar a evolução da doença ao longo do tempo). - É ela quem associa pessoas, lugar e tempo em um mesmo evento. - Antecede a epidemiologia analítica. A epidemiologia analítica visa compreender a causalidade das doenças, bem como o seu percurso e agravamento. Para isso, ela testa hipóteses sobre a causa e o agravo, estudando como a exposição se associa com a doença ou evento. - Se utiliza das perguntas: COMO: Forma de transmissão PORQUE: Fatores de risco Sendo assim, compreendendo o que cada um desses ramos da epidemiologia estuda, podemos perceber que, como em qualquer ciência, para facilitar a compreensão e levar ao entendimento comum, a epidemiologia precisa estabelecer padrões e conceitos. Dentre eles, estão as categorizações das doenças no tempo e no espaço, que servem para entender os mecanismos de evolução das doenças e tentar promover medidas de contenção mais efetivas para elas. TÓPICO 2- O CONCEITO DO ICEBERG Muito embora essa categorização do que observamos e estudamos seja essencial na hora da formulação de teorias e hipóteses importantes, vale a pena lembrar que nem tudo pode ser estudado. Inúmeras vezes, grande parte dos casos ficam abaixo do horizonte clínico (início dos sintomas) e, portanto, não podem ser identificados com fundamento em sinais e sintomas, essa situação pode ser entendida como conceito de “iceberg”. Quanto maior for a proporção de casos inaparentes, maiores serão as dificuldades de conhecer a cadeia do processo infeccioso e assim, identificar as principais causas da manutenção da transmissão da doença na comunidade, uma vez que os casos conhecidos representam somente o topo do iceberg. TÓPICO 3- A DISTRIBUIÇÃO DAS DOENÇAS NO ESPAÇO E TEMPO - Análise e Distribuição Temporal A distribuição temporal das doenças pode obedecer a um padrão, como, por exemplo, a dengue no verão e as pneumonias no inverno. Esses padrões de variação podem ocorrer a partir de tendências de longo prazo ou de variações periódicas. Sua avaliação serve para avaliar possíveis intervenções. Aplicações da distribuição temporal: - Tendência Secular ou Histórica: - Análise das mudanças na frequência de uma doença por um longo período de tempo. - Comum ao observado nos estudos da transição epidemiológica: declínio da morbimortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e aumento nas taxas de morbidade e mortalidade por doenças crônico-degenerativas. - Exemplo de tendência secular:- Variações cíclicas: - Flutuações na incidência de uma doença ocorrida em um período maior que um ano. - Exemplo: após epidemias de sarampo, o número de casos cai pela diminuição de susceptíveis e volta a subir depois pelo nascimento de crianças susceptíveis. - Variações sazonais: - Variações na incidência de uma doença conforme as estações do ano. - Doenças infecciosas, mortalidade por causas específicas, acidentes de trabalho, acidentes ofídicos. -Variação depende de radiações solares, temperatura, umidade, precipitação, poluentes no ar, etc. - Exemplo: - Variação Atípica: - Nesse tipo de variação, não é possível vislumbrar alguma coerência ou alguma lei geral de variação. - Análise e Distribuição espacial Estudo quantitativo da distribuição das doenças ou serviços de saúde com referenciamento geográfico. Serve para identificar padrões espaciais de morbidade e mortalidade e os fatores associados a esses padrões. Consiste em 3 etapas: - 1: Visualização; - 2: Análise exploratória de dados; - 3: Modelagem. Aplicações da distribuição espacial: - Endemia - Presença usual de uma doença, dentro dos limites esperados, em uma determinada região geográfica, por um período de tempo ilimitado. - Exemplo: Malária na região Amazônica Chagas em MG Esquistossomose no NE Dengue no Brasil - Epidemia - Elevação brusca, temporária e significantemente acima do esperado da incidência de uma determinada doença, em determinado período de tempo e espaço geográfico. - Exemplo: Casos de malária em SP Poliomielite no RJ - Surto - Ocorrência epidêmica onde todos os casos estão relacionados entre si, atingindo área geográfica pequena e limitada, como vilas, bairros, ou população institucionalizada, como colégios, quarteis, asilos. - Exemplo: Surto de diarreia em creche Surto de intoxicação alimentar em quartel - Pandemia - Processo epidêmico caracterizado por uma ampla distribuição espacial da doença, atingindo diversas nações ou continentes. - Exemplo: Pandemia por covid-19 UNIDADE IV: INDICADORES DE SAÚDE Uma das grandes dificuldades do profissional de saúde é medir o padrão de vida, ou nível de vida, da população com a qual trabalha. Essa questão tem sido muito estudada internacionalmente, pela necessidade de comparar níveis de vida entre diferentes países, ou num mesmo país numa série temporal. A Organização Mundial da Saúde formou, nos anos 50, um Comitê para definir os métodos mais satisfatórios para definir e avaliar o nível de vida. Na impossibilidade de construir um índice único, o Comitê sugeriu que fossem considerados separadamente 12 componentes passíveis de quantificação: 1. Saúde, incluindo condições demográficas 2. Alimentos e nutrição 3. Educação, incluindo alfabetização e ensino técnico 4. Condições de trabalho 5. Situação de emprego 6. Consumo e economia gerais 7. Transporte 8. Moradia, incluindo saneamento e instalações domésticas 9. Vestuário 10. Recreação 11. Segurança social 12. Liberdade humana Como pode ser observado nessa lista, existem inúmeros indicadores de qualidade de vida, dentre eles, estão os indicadores de saúde, incluindo condições demográficas, que são os que nós iremos estudar aqui. TÓPICO 1- O QUE SÃO OS INDICADORES DE SAÚDE? “Indicador” é, em geral, usado para medir aspectos não sujeitos à observação direta: saúde, normalidade, felicidade... Portanto, podemos definir Indicadores de Saúde como instrumentos utilizados para medir uma realidade, como parâmetro norteador, instrumento de gerenciamento, avaliação e planejamento das ações na saúde, de modo a permitir mudanças nos processos e resultados. O indicador de saúde deve revelar a situação de saúde de um indivíduo ou de uma população, avaliando aspectos como as condições de vida e o desempenho do sistema de saúde daquela determinada população, por exemplo. Isso se dá a partir da avaliação de frequências absolutas ou de frequências relativas, compostas por numerador e denominador. TÓPICO 2- QUAIS SÃO OS INDICADORES DE SAÚDE? As principais modalidades de indicadores de saúde são: -Mortalidade / sobrevivência -Morbidade / gravidade / incapacidade -Nutrição / crescimento e desenvolvimento -Aspectos demográficos -Condições socioeconômicas -Saúde ambiental -Serviços de saúde 1- Mortalidade: - Foi o primeiro indicador usado. - É fácil de operar: a morte é clara e objetivamente definida e cada óbito tem de ser registrado (nem sempre – ainda há cemitérios clandestinos em muitos pequenos municípios e especialmente óbitos de recém-nascidos deixam de ser registrados). - Porém, a morte é o último evento do processo saúde/doença e reflete imperfeitamente o processo. - Agravos/danos de baixa letalidade (dermatologia, oftalmologia, doença mental) são mal representados nas estatísticas de mortalidade. - Somente uma pequena parcela da população morre a cada ano (em geral, menos de 1%). Ao se estudar, por exemplo, a saúde escolar, morrem pouquíssimas crianças matriculadas na rede escolar. -Mudanças nas taxas ao longo do tempo são em geral muito pequenas e a mortalidade é pouco útil nas avaliações de curto e médio prazo. 2- Morbidade - É um conhecimento essencial, que permite: Inferir os riscos de adoecer a que as pessoas estão sujeitas, obter indicações para investigações de seus fatores determinantes, a escolha de ações adequadas e conhecer mudanças numa situação de saúde no curto prazo (febre amarela no RJ). - Fontes de dados: - Registros clínicos: Alcançam somente os dois últimos ou no máximo os 3 últimos eventos da cadeia. São o caminho mais fácil para conhecer a saúde da população: resumos de altas hospitalares, registros de consultas externas, arquivos de dados de doentes: prontuários, protocolos, atestados, laudos, notificações compulsórias, resultados de exames. 3- Indicadores nutricionais - As diferentes medidas de avaliação podem ser agrupadas em: · Avaliação indireta do estado nutricional: mortalidade de crianças de 1 a 4 anos - mortalidade infantil - mortalidade infantil tardia - renda per capita - disponibilidade de alimentos · Avaliação direta do estado nutricional: avaliações dietéticas (inquéritos dietéticos e cálculo de consumo de nutrientes) - avaliações clínicas (antropometria: peso, comprimento/estatura, perímetro cefálico, pregas cutâneas, IMC) - avaliações laboratoriais (metabolismo do ferro, vitaminas lipossolúveis ou de acumulação) 4- Indicadores demográficos - Além da mortalidade, as grandes variáveis demográficas são a natalidade, a fecundidade e as migrações. Os indicadores mais usados são a esperança de vida ao nascer, fecundidade, natalidade, a estrutura etária e a distribuição por sexo da população. - A simples divisão da população nas faixas etárias zero a 14 anos (pop. jovem); 15 a 64 anos (pop. economicamente ativa) e 65 anos e mais (pop. idosa) serve de base para inferir o nível de vida: predomínio da população jovem sobre a idosa indica piores condições de vida e de saúde. Já o predomínio da população idosa sobre a jovem ocorre em populações de melhor nível de vida e saúde. - Permite também estimar demandas: no primeiro caso, por serviços de saúde materno-infantil, pré-natal, saúde da criança, unidades do ensino fundamental, ao passo que, no segundo caso, a expectativa é uma maior demanda por serviços de atenção cardiovascular, hospitalizações, medicamentos de uso contínuo, etc. 5- Indicadores Ambientais - Condições de moradia e do peridomicílio são estreitamente ligadas com o nível socioeconômico da população. Isso tambémse aplica em relação à cobertura e qualidade do saneamento básico (abastecimento de água, coleta de esgotos, de lixo e destinação das águas pluviais). - É muito usada como indicador de saúde a proporção da população que dispõe de um sistema adequado de água, esgoto e lixo. 6- Indicadores relativos aos serviços de saúde - São muitos os indicadores relativos ao que ocorre na assistência à saúde. Eles podem ser agrupados em indicadores de insumos, de processo e de impacto. - Indicadores de insumo: - Recursos humanos e materiais: número de médicos, dentistas, enfermeiros, leitos gerais, leitos de UTI, em geral por mil habitantes. Leitos de UTI neonatal por mil nascimentos. - Recursos financeiros: gastos com saúde no Brasil. - Em geral calculam-se os gastos como porcentagem do PIB ou dividindo os gastos per capita. A maioria dos países do terceiro mundo (Brasil inclusive) gasta menos de 5% do PIB com saúde. - Indicadores de processo: Referem-se a detalhes do processo que conduz à manutenção da saúde ou à recuperação da doença. Exemplo: proporção de gestantes que fazem pré-natal, proporção de gestantes com 6 consultas e mais na gravidez, proporção de gestantes inscritas no primeiro trimestre. - Indicadores de impacto (ou de resultado): Muitas das ações e serviços de saúde têm validade intrínseca, indiscutível, porém cada vez mais os planejadores e gestores buscam evidências de quais benefícios decorrem dos investimentos no setor. É muito difícil distinguir e controlar o impacto dos serviços de saúde na melhoria das condições de saúde. Nos anos 80 e 90, a grande diminuição da mortalidade infantil, com ênfase nas mortes causadas pelas gastroenterites, deveu-se principalmente ao aumento da cobertura de saneamento básico, e, neste, acesso à água tratada de boa qualidade (e, portanto, fatores externos ao setor saúde). Ainda hoje, o efeito da disponibilização de água tratada sobre a mortalidade infantil pode ser visto nos estados menos desenvolvidos da Região Nordeste. TÓPICO 3- COMO OS INDICADORES DE SAÚDE PODEM SER EXPRESSOS? Coeficiente ou taxa: é a relação entre o número de casos de um evento e uma determinada população, num dado local e época. É a medida que informa quanto ao “risco” de ocorrência de um evento. Exemplo: número de óbitos por leptospirose no Rio de Janeiro, em relação às pessoas que residiam nessa cidade em cada ano; nº trabalhadores intoxicados por determinada substância em relação aos trabalhadores de determinada indústria. Proporção: é a relação entre frequências atribuídas de determinado evento, sendo que no numerador é registrada a frequência absoluta do evento que constitui subconjunto daquele contido no denominador que é de caráter mais abrangente. Exemplo: número de óbitos por doenças cardiovasculares em relação ao número de óbitos em geral. Razão: medida de frequência de um grupo de eventos relativa à frequência de outro grupo de eventos. É um tipo de fração em que pelo menos, parte dos elementos do numerador não está contida no denominador, ou seja, o numerador não é um subconjunto do denominador. Exemplo: razão entre o número de óbitos por doença meningocócica e o número de óbitos por meningite tuberculosa. Razão entre o número de casos de AIDS no sexo masculino e o número de casos de AIDS no sexo feminino. UNIDADE V- MEDIDAS DE FREQUÊNCIA E ASSOCIAÇÃO DE DOENÇAS Como já referido anteriormente, grande parte do trabalho da epidemiologia se relaciona ao estudo da ocorrência de doenças. Para isso, existem medidas de frequência e associação, que nos permitem avaliar o perfil de ocorrência daquele determinado evento. TÓPICO 1: MEDIDAS DE FREQUÊNCIA OU OCORRÊNCIA Tratam-se das medidas de prevalência e incidência. São dadas na forma de proporção matemática e são expressas sob a forma de porcentagem. Incidência: A incidência diz respeito à frequência com que surgem novos casos de uma doença num intervalo de tempo, como se fosse um “filme” sobre a ocorrência da doença, no qual cada quadro pode conter um novo caso ou novos casos. É, assim, uma medida dinâmica. E é usada, principalmente, nos estudos de coorte. Prevalência: Já a prevalência se refere ao número de casos existentes de uma doença em um dado momento; é uma “fotografia” sobre a sua ocorrência, sendo assim uma medida estática. Os casos existentes são daqueles que adoeceram em algum momento do passado, somados aos casos novos dos que ainda estão vivos e doentes. TÓPICO 2- ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS Na epidemiologia, os estudos se dividem em estudos experimentais e estudos observacionais. Nos estudos experimentais, o investigador intervém e controla as variáveis, de forma randomizada. E eles permitem estabelecer uma relação de causalidade. E os estudos observacionais, por sua vez, se dividem em estudos descritivos ou analíticos, já citados anteriormente neste resumo. Eles tentam simular as condições e resultados de um estudo experimental, são aqueles onde não há controle dos fatores sob estudo. E eles não permitem estabelecer causalidade, nunca são isentos de vieses. - FOCO NOS ESTUDOS OBSERVACIONAIS: Os estudos observacionais mais utilizados em epidemiologia são: os Estudos Transversais ou Seccionais e os Estudos de Coorte e Caso-Controle (que são estudos longitudinais). Não vamos nos atentar ao Estudo de Caso-Controle aqui, porque não cai na prova (rs), mas ele funciona de forma bem semelhante ao Estudo de Coorte. Estudos Transversais ou Seccionais: - É um estudo epidemiológico que se caracteriza pela observação direta da população em estudo, em UMA ÚNICA OPORTUNIDADE. - Utiliza-se da medida de prevalência. De modo que, calcula-se a prevalência de um evento, sobre uma determinada população em um determinado ponto no tempo. - PROBLEMA: Esse tipo de estudo não prevê relação temporal/ de causalidade. Estudos de Coorte: - No Estudo de Coorte, parte-se, a princípio, do fator de exposição que queremos avaliar (variável independente). Enquanto no Estudo Caso-Controle, parte-se do fator adoecimento (variável dependente). - Diferentemente do que ocorre nos estudos transversais, no Estudo de Coorte, há o acompanhamento dos indivíduos ao longo de um período. - Utiliza-se da medida de incidência. De modo que observa o número de casos novos ao longo de um período de tempo. - Pode ser um Estudo prospectivo ou retrospectivo. - PROBLEMA: É um tipo de estudo caro e demanda muito tempo para a obtenção dos resultados, podendo haver perda de follow-up. TÓPICO 3- MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO E MEDIDAS DE RISCO As medidas de associação baseadas em razões (RR e OR) fornecem dados sobre a força da associação entre o fator em estudo e o desfecho, permitindo que se faça um julgamento sobre uma relação de causalidade. Medidas de Associação em Coortes: - Na observação analítica do Estudo de Coortes, podemos estabelecer as seguintes medidas de associação: 1- Risco Relativo: - O risco relativo (RR) é uma medida da força da associação entre um fator de risco e o desfecho em um estudo epidemiológico. - É definido como sendo a razão entre a incidência entre indivíduos expostos pela incidência entre os não-expostos. Legenda: D: Doentes ND: Não Doentes E: Expostos NE: Não Expostos 2- Risco Atribuível ou Absoluto - O RA mede o excesso da ocorrência de desfecho entre os expostos em comparação com os não-expostos. - É uma diferença de incidências. - Mostra o quanto uma doença pode ser evitada se eliminarmos a exposição. Expressando o excesso de risco atribuívelà exposição. - Dessa forma, nós temos o Risco Atribuível (RA), que mede o excesso comparando as incidências nos expostos e nos não expostos; e o Risco Atribuível Total ou Populacional (RAt), que mede o excesso comparando as incidências na população total e nos não expostos. Medidas de Associação em Caso-Controle: 1- Odds Ratio (Razão de Chance): - É análogo ao Risco Relativo. - No caso controle não podemos usar risco relativo pois partimos do pressuposto de ter ou não ter a doença e não do risco de exposição. - Essa medida de associação estima a chance de ocorrência de uma doença, ou seja, estima o risco relativo. UNIDADE VI- SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE A epidemiologia se utiliza de uma ampla variedade de ferramentas para compreender o processo saúde-doença de uma população, desde modelos para representar os seus aspectos etiológicos, a indicadores de morbidade e mortalidade, até potentes sistemas de informação em saúde, softwares e aplicações da informática, da matemática e da estatística para análise e processamento de dados de saúde. Veremos alguns exemplos dessas ferramentas nesse módulo do resumo: Os Sistemas de Informação. De acordo com a OMS, o Sistema de Informação em Saúde é um mecanismo de coleta, processamento, análise e transmissão da informação necessária para se planejar, organizar, operar e avaliar os serviços de saúde. No Brasil os SIS integram o SUS. A influência dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS): - Os SIS, como podemos ver no esquema abaixo, têm grande impacto em diversas áreas relacionadas à saúde, em especial, aquelas ligadas à gestão, prevenção/promoção de saúde. - A sua história está intimamente associada a 2 grandes fatores: 1- Movimentos que marcaram a história da saúde pública desde o início do século XX, em especial, a consolidação do SUS. 2- O surgimento da Era da Informação ou Era Digital, com a invenção dos microprocessadores. TÓPICO 1- OS PRINCIPAIS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE Ao Departamento de Informática do SUS (DATASUS) é atribuída a responsabilidade de coletar, processar e disseminar informações sobre saúde. Estes são os principais SIS ligados ao Ministério da Saúde: Ao analisar as informações disponíveis, devemos nos lembrar que, por trás destes dados, existem alguns fatores que podem corroborar na elaboração de dados vazios ou incorretos/insuficientes, prejudicando, assim, a qualidade da informação: TÓPICO 2- PRINCIPAIS FONTES DE INFORMAÇÕES E DE SISTEMA DE SAÚDE NACIONAL ]]
Compartilhar