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Hipófise e Hipopituitarismo


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Maria Clara Fernandes - MEDICINA 
DEFINIÇÃO DE HIPÓFISE: 
 
A hipófise, por muitos anos, foi considerada a 
glândula endócrina mestra, pois ela é 
responsável por secretar vários hormônios que 
controlam a atividade de outras glândulas. 
Porém, hoje já se sabe que a hipófise é 
controlada por uma espécie de “mestre”, que é 
o hipotálamo. 
As células do hipotálamo são responsáveis por 
sintetizar cerca de nove hormônios diferentes, 
enquanto a hipófise secreta sete. 
Juntos, esses hormônios desempenham funções 
importantes na regulação de quase todos os 
aspectos relacionados ao crescimento, 
desenvolvimento, metabolismo e homeostasia. 
ANATOMIA DA HIPÓFISE: 
A hipófise é uma glândula em forma de ervilha 
com cerca de 1,5cm de diâmetro e se localiza 
na fossa hipofisal da sela turca do esfenoide. 
 
A hipófise se fixa no hipotálamo através de um 
pedículo chamado de infundíbulo e se divide em 
adeno-hipófise e neuro-hipófise. 
ADENOHIPÓFISE: 
A adenohipófise representa cerca de 75% do 
peso total da glândula e é formada por tecido 
epitelial. 
Nos indivíduos adultos, a adenohipófise ainda se 
subdivide em duas partes: uma distal (maior) e 
uma tuberal (que forma uma bainha ao redor 
do infundíbulo. 
Histologicamente, a adenohipófise é revestida 
por uma capsula de tecido conjuntivo e fibras 
reticulares. 
A parte distal é formada por cordões e ilhas 
de células epiteliais cuboides ou poligonais, que 
são responsáveis pela produção de hormônios. 
Os hormônios produzidos pelas células 
secretoras são armazenados em grânulos de 
secreção. 
Essa parte distal secreta diversos hormônios, 
fatores de crescimento e citocinas. 
 
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NEUROHIPÓFISE: 
A neurohipófise é composta por tecido neural 
e também se subdivide em duas partes: uma 
parte nervosa e o infundíbulo. 
A neurohipófise não contém células secretoras 
e apresenta um tipo específico de célula glial 
muito ramificada, que é chamada de pituícito. 
SISTEMA PORTA HIPOFISÁRIO: 
Os hormônios hipotalâmicos que liberam ou 
inibem hormônios da adenohipófise chegam a 
essa região por meio do sistema porta. 
No sistema porta, o sangue flui de uma rede de 
capilares para uma veia porta e, em seguida, 
para uma segunda rede de capilares, para só 
depois retornar ao coração. 
Já no sistema porta hipofisário, o sangue flui 
dos capilares no hipotálamo para a veia porta 
que direcionam o fluxo de sangue para os 
capilares da adenohipófise. 
 
As artérias hipofisárias superiores levam sangue 
para o hipotálamo e, na junção da eminência 
mediana do hipotálamo e do infundíbulo, essas 
artérias se dividem em uma rede capilar, 
chamada de plexo primário do sistema porta 
hipofisário. 
Na região acima do quiasma óptico existem 
grupos de neurônios especializados 
(neurossecretores), que sintetizam os 
hormônios hipotalâmicos liberadores e inibidores 
e os envolvem em vesículas que alcançam os 
terminais axônicos. 
Após isso, os hormônios se difundem para o 
plexo primário e depois para o secundário. 
SECREÇÃO PELA ADENOHIPÓFISE: 
 
A secreção de hormônios pela adenohipófise 
pode ocorrer através de células 
neurossecretoras no hipotálamo, que secretam 
5 hormônios liberadores (estimulam a secreção 
na adenohipófise) e 2 hormônios inibidores 
(suprimem a secreção de hormônios na 
adenohipófise). 
Outra forma de realizar essa secreção é 
através do feedback negativo, com a liberação 
de hormônios pelas glândulas-alvo, diminuindo a 
secreção de três tipos de células da 
adenohipófise. 
Nas alças de retroalimentação negativa, a 
atividade secretora dos tireotrofos, 
gonadotrofos e corticotrofos diminui quando 
os níveis sanguíneos dos hormônios das suas 
glândulas-alvo se elevam. 
 
 
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HORMÔNIO DO CRESCIMENTO: 
 
O hormônio do crescimento (GH) é o hormônio 
mais abundante da adenohipófise e sua principal 
função é promover a síntese e a secreção de 
pequenos hormônios proteicos, chamados de 
fatores de crescimento insulinosímiles ou 
somatomedinas. 
 
O GH atua estimulando o crescimento e a 
multiplicação das células através da captação 
de aminoácidos e aceleração da síntese 
proteica, isso gera aumento da taxa de 
crescimento do esqueleto e, na fase adulta, 
mantem a massa muscular e óssea, além de 
promover a cicatrização de lesões. 
O GH também tem função de intensificar a 
lipólise no tecido adiposo e influenciar o 
metabolismo de carboidratos pela redução da 
captação de glicose. 
HORMÔNIO TIREOESTIMULANTE: 
O FSH é estimulado pela liberação de 
gonadotrofina (GnRH) no hipotálamo. 
Ele atua no desenvolvimento dos folículos 
ovarianos nas mulheres, na secreção de 
estrógeno e na produção de espermatozoides 
nos homens. 
 
HORMÔNIO LUTEINIZANTE: 
O LH em mulheres tem a função de 
desencadear a ovulação, estimulando a 
formação do corpo lúteo e a secreção de 
progesterona, que é controlada pelo GnRH. 
HORMÔNIO PROLACTINA: 
A prolactina ou PRL tem a função de iniciar e 
manter a produção do leite materno nas 
glândulas mamárias. 
 
HORM. ADRENOCORTICOTRÓFICO: 
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O hormônio adrenocorticotrófico ou ACTH é 
responsável pelo controle da produção e 
secreção do cortisol pelo córtex das glândulas 
suprarrenais. 
HORM. MELANÓCITO-ESTIMULANTE: 
O hormônio melanócito-estimulante ou MSH 
tem sua eficácia na atividade cerebral. 
HORMÔNIOS DA NEUROHIPÓFISE: 
A neurohipófise, apesar de não sintetizar 
hormônios, ela é responsável por armazenar e 
liberar dois hormônios: a ocitocina e o 
antidiurético (ADH). 
Na neurohipófise ocorre a liberação da 
ocitocina e do ADH nos corpos das células 
neurossecretoras, que são envolvidas em 
vesículas secretoras que se movimentam por 
transporte axônico rápido até os terminais 
axônicos na neurohipófise, onde são 
armazenados até que ocorram os impulsos 
nervosos. 
OCITOCINA: 
A ocitocina é um hormônio que atua em dois 
tecidos-alvo: o útero e as mamas. 
Durante o parto, ocorre o alongamento do colo 
do útero para estimular a liberação de 
ocitocina, que intensifica a contração das 
células musculares lisas da parede uterina. 
 
 
Após o parto, a ocitocina é responsável por 
estimular a liberação do leite materno. 
HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO (ADH): 
 
O hormônio antidiurético ou ADH é responsável 
pela diminuição da produção de urina e da 
perda de água pela sudorese. 
Além disso, ele também causa a constrição das 
arteríolas e possui efeito sobre a pressão 
arterial. 
 
DEFINIÇÃO DE HIPOPITUITARISMO: 
O hipopituitarismo consiste na diminuição da 
secreção de hormônios hipofisário, podendo 
causar doenças do hipotálamo ou da hipófise. 
A hipofunção da adenohipófise ocorre quando 
cerca de 75% do parênquima é perdido ou se 
encontra ausente. 
Essa hipofunção pode ser congênita ou pode 
resultar de uma variedade de anomalias 
adquiridas, que são intrínsecas à hipófise. 
 
 
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EPIDEMIOLOGIA: 
Estima-se que a prevalência do hipopituitarismo 
na população é entre 300 e 455 casos por 
milhão de habitantes. 
A deficiência do hormônio do crescimento está 
presente em cerca de 45% dos pacientes que 
apresentam deficiência hipofisária isolada. 
FATORES DE RISCO: 
A maioria dos casos de hipopituitarismo surge 
a partir de processos destrutivos envolvendo 
diretamente a adenohipófise. 
Os principais fatores de risco relacionados ao 
hipopituitarismo são os traumas na região da 
cabeça, cirurgias, radioterapia, infecções e 
causas genéticas. 
ETIOPATOGENIA: 
A etiopatogenia do hipopituitarismo pode incluir 
diversos fatores. 
No caso de tumores e outras lesões em massa, 
os adenomas hipofisários, tumores de sela, 
malignidades primárias, metastáticas e cistos 
causam dano por exercerem pressão nas 
células hipofisárias. 
As lesões cerebrais traumáticas e hemorragias 
subaracnoides estão sempre entre as causas 
mais comuns. 
As cirurgias da hipófise e a exposição à 
radiação podem causar o hipopituitarismo pois 
a excisão cirúrgica de um adenomapode se 
estender para a hipófise não adenomatosa, e 
a radioterapia da hipófise pode danificar a 
hipófise não adenomatosa. 
A apoplexia da hipófise ocorre quando há uma 
hemorragia súbita na hipófise (frequentemente 
um adenoma hipofisário), causando fortes 
dores de cabeça, diplopia, colapso 
cardiovascular, perda de consciência e até 
morte súbita. 
A necrose isquêmica da hipófise, também 
conhecida como necrose pós-parto da 
adenohipófise, é a forma mais comum de 
necrose isquêmica. 
Durante a gravidez a hipófise dobra de 
tamanho, mas o suprimento sanguíneo não 
acompanha (anoxia). 
Os cistos da fenda de Rathke são cistos 
revestidos por epitélio cuboide ciliado com 
células caliciformes, que acumulam fluido 
proteináceo e se expandem comprometendo a 
glândula. 
A síndrome da sela vazia consiste na destruição 
de parte ou de toda a hipófise. 
A tipo 1 é a sela vazia primária com defeito no 
diafragma da sela, que permite que a 
aracnoide e o líquor herniem para dentro da 
sela, expandindo e comprimindo a hipófise. 
A tipo 2 é a sela vazia secundária, que 
apresenta uma massa (adenoma hipofisário) e 
expande a sela e comprime a hipófise. 
As lesões hipotalâmicas causam interferência 
na entrega de fatores que liberam os 
hormônios hipofisários. 
Os distúrbios inflamatórios e as infecções, 
como a sarcoidose e a meningite tuberculosa, 
podem envolver o hipotálamo e causar 
deficiência dos hormônios da adenohipófise e 
diabetes insípido. 
Os distúrbios genéticos envolvem deficiência 
congênita dos fatores de transcrição 
requeridos para o funcionamento normal da 
glândula. 
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Os distúrbios congênitos são a síndrome de 
Kallman, síndrome de Bardet-Bieldl e a síndrome 
de Prader Willi. 
SÍNDROME DE KALLMAN: 
A síndrome de Kallman resulta síntese 
defeituosa do hormônio de liberação das 
gonadotrofinas (GnRH) do hipotálamo e está 
associada à anosmia ou hiposmia, devido ao 
comprometimento do bulbo olfatório. 
 
Ela pode estar associada à cegueira para 
cores, atrofia óptica, surdez neural, fenda 
palatina, anormalidades renais, criptorquidismo 
e anormalidades neurológicas. 
Os defeitos no gene KAL ligado ao X 
comprometem a migração embrionária dos 
neurônios de GnRH. 
A transmissão dessa síndrome ocorre por um 
conjunto de genes autossômicos dominantes e 
recessivos. 
 
Essa deficiência de GnRH impede a progressão 
até a puberdade, causando puberdade tardia 
nos homens, com características hipogonadais 
como o micropênis. 
 
 
 
Nas mulheres se apresentam com amenorreia 
e falha no desenvolvimento sexual secundário. 
SÍNDROME DE BARDET-BIEDL: 
A síndrome de Bardet-Biedl se caracteriza pela 
deficiência mental, por anormalidades renais, 
obesidade, hexadactilia, braquidactilia pu 
sindactilia. 
 
SÍNDROME DE PRADER-WILL: 
A síndrome de Prader-Will resulta da deleção 
das cópias paternas do gene SNRPN, através 
do mecanismo de imprinting do gene NECDIN. 
Ela está associada ao hipogonadismo, a 
hiperfagia-obesidade, hipotonia muscular 
crônica, deficiência mental e diabetes mellitus. 
 
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Nessa síndrome também ocorrem múltiplos 
defeitos no crânio, olhos, orelhas, mãos e pés. 
 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: 
O início da insuficiência hipofisária costuma ser 
gradual e a evolução de hipopituitarismo 
progressivo ocorre com uma perda inicial de 
secreção de GH e gonadotrofina, seguida por 
uma deficiência de TSH, ACTH e PRL. 
Os sintomas relacionados à deficiência de GH 
são a diminuição da sensação de bem-estar, 
uma redução da massa muscular e aumento da 
massa adiposa. 
 
A deficiência de LH e FSH causam amenorreia 
nas mulheres e a redução da libido ou disfunção 
erétil nos homens. 
A deficiência de TSH também pode causar 
intolerância ao frio, pele seca, enfraquecimento 
mental, bradicardia, obstipação (prisão de 
ventre), rouquidão e anemia. 
 
 
 
A deficiência de PRL causa a incapacidade de 
lactação no período após o parto. 
 
Já a deficiência de ACTH causa a insuficiência 
adrenocortical, fraqueza, náuseas e vômitos, 
anorexia, perda de peso, febre e hipotensão. 
Os pacientes que apresentam insuficiência 
hipofisária geralmente se apresentam com 
peso acima do normal, com pele bastante fina, 
pálida e lisa, com rugas finas. 
Em casos mais graves também pode acontecer 
a hipotensão postural, bradicardia, redução da 
forca muscular e retardamento dos reflexos 
tendíneos profundos. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
“Bogliolo Patologia” de Geraldo Brasileiro Filho, 
2016. 
“Endocrinologia de Harrison”, 3ª	edição. 
Ëndocrinologia” de Greespan, 9ª edição. 
“Porth Fisiopatologia” de Sheila C. Grossman e 
colaboradores, 2016.