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Objetivos OBJETIVO 1: Revisar a morfofisiologia do eixo hipotálamo-hipófise OBJETIVO 2: Compreender a etiologia, fisiopatologia e manifestações clínicas do hipo e hiperpituitarismo MORFOFISIOLOGIA DO EIXO HIPOTÁLAMO HIPÓFISE: A glândula hipófise possui o tamanho de um grão de feijão e se projeto do encéfalo para baixo, repousando em uma cavidade óssea protetora. Quem conecta a hipófise ao encéfalo é o infundíbulo. A hipófise é dividida em: 1) Adeno-hipófise: comumente chamada de hipófise anterior, secreta seis hormônios: hormônio do crescimento (GH), hormônio luteinizante (LH), hormônio folículo-estimulante (FSH), hormônio tireoestimulante (TSH), adrenocorticotrofina (ACTH) e prolactina (PRL) 2) Neuro-hipófise: também chamada de hipófise posterior; libera dois hormônio (ADH e ocitocina) A liberação dos neuro-hormônios pelos neurônios hipotalâmicos ocorre de maneira diferente entre a neuro hipófise e a adeno-hipófise. Na neuro-hipófise os neuro-hormônios são produzidos e armazenados nos corpos celulares e por meio de vesículas são transportadas ao longo dos axônios e enfim armazenadas na neuro-hipófise. Enquanto na adeno-hipófise, os neuro-hormônios são transportados através do sistema porta. Sistema Porta-Hipofisário: Hipopituitarismo e Hiperpituitarismo Para evitar a diluição dos hormônios diretamente no sangue, tem-se o sistema porta composto por dois grupos de capilares conectados em série. Esse arranjo permite que um pequeno número de neurônios secretores do hipotálamo controle adeno-hipófise. Hormônios da Adeno-hipófise: Controlam inúmeras funções vitais, como por exemplo o crescimento, metabolismo e reprodução, logo, ela é chamada de glândula mestra do organismo. Dentre os hormônios, temos 6 diferentes tipos: • Hormônio do Crescimento (GH): afeta o metabolismo de diversas formas, principalmente pelo crescimento de todos os tecidos, visto que sua ação interventiva na formação proteica, multiplicação celular e diferenciação celular além de estimular a produção hormonal pelo fígado • Hormônio Luteinizante (LH): age nos ovários promovendo o rompimento dos folículos e auxilia na produção da testosterona, hormônio sexual masculino • Hormônio folículo-estimulante (FSH): age nos ovários, estimulando o crescimento dos folículos ovarianos • Hormônio tireoestimulante (TSH): controla a síntese e secreção hormonal da tireoide • Adenocorticotrofina (ACTH): atua em certas células do córtex renal, estimulando a liberação de ADH (hormônio antidiurético) • Prolactina: atua na produção e secreção do leite As alças de retroalimentação do eixo hipotálamo-hipófise: As vias de atuação dos hormônios (tróficos) da adeno-hipófise dependem de três centros integradores: hipotálamo, adeno-hipófise e alvo endócrino do hormônio hipofisário (glândulas). A retroalimentação dessas vias segue um padrão diferente, de modo em que ao invés de haver uma retroalimentação negativa, os próprios hormônios são o sinal de retroalimentação. A forma dominante de retroalimentação é a negativa de alça longa, em que o hormônio secretado pela glândula endócrina periférica retroalimenta a via, inibindo a secreção dos hormônios hipotalâmicos e adeno-hipofisários. A grande exceção desse tipo de retroalimentação são os hormônios ovarianos como estrogênio e progesterona, na qual a retroalimentação varia entre positiva e negativa. Já na retroalimentação negativa de alça curta, o hormônio da hipófise envia sinais para o hipotálamo, diminuindo assim a secreção hormonal hipotalâmica. Nessa caso, se enquadram prolactina, GH e ACTH. Hipopituitarismo: ETIOLOGIA: Etiologias Hereditárias: • Síndromes genéticas (Sindrome de Kallman, síndrome de Prader-Willi e Síndrome de Laurence-Moon- Bield); ambas resultando em deficiência de FSH e LH • Mutações em genes de receptores específicos (receptor GHRH, CRH, GnRH, TSH, receptor de leptina, receptor de kisspeptina – KISS1R) • Anomalias estruturais (aplasia hipofisária, hipoplasia hipofisária, massas no SNC – Encefalocele) • Defeitos em fatores de transcrição (Ptx2, PROP1, POU1F1, HESX1, entre outros) • Mutações em genes hormonais (GH-1, GH bioinativo, FSH-b, LH-b, POMC, entre outros) Etiologias Adquiridas: • Tumorais Hipotalâmicas: adenoma hipofisário com invasão suprasselar (mais comum, relacionado a diabetes insipidus central), craniofaringioma (2º mais comum, acometendo principalmente crianças) • Tumorais Hipofisárias: microadenoma (<10mm; causa mais comum, podem ser funcionantes (75%) ou não funcionantes (25%)); macroadenoma (>10mm; funcionante ou não também); metástases (de mama são as mais comuns), tumores peri-hipofisários (meningiomas e gliomas) • Infiltrativas/Inflamatórias: hipofisite linfocítica, hemocromatose, sarcoidose, histiocitose X, hipofisite granulomatosa, anticorpos contrafatores de transcrição, imunoterapia • Infecciosa: tuberculose, Pneumocystis jirovecii, toxoplasmose, infecções virais (citomegalovírus) ou fúngicas (histoplasmose, aspergilose), síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), abscesso hipofisário, neurocisticercose, sífilis, meningite aguda em adultos (viral ou bacteriana) • Traumáticas: Ressecção cirúrgica, lesão por irradiação, traumatismo cranioencefálico • Doenças vasculares (isquêmicas ou hemorrágicas): necrose hipofisária pós-parto (síndrome de Sheehan), apoplexia hipofisária, hipotensão arterial, anoxia perinatal, vasculites, acidente vascular cerebral isquêmico, aneurismas, crise falcêmica, síndrome dos anticorpos antifosfolipídeos, picada de serpente • Imunológica: hipofisite linfocítica, hipofisite por IgG4, hipofisite por uso de inibidores anti-CTLA4 (ipilimumabe) • Sela Vazia: Uma sela vazia parcial ou aparentemente total é um achado incidental frequente na RM, podendo estar associado à hipertensão intracraniana. • Iatrogênica: pode ser decorrente de alguma cirurgia, efeito radioativo, entre outros • Funcional/metabólico: hemocromatose, amiloidose, doença crítica, desnutrição SÍNDROME DE PRADER-WILLI: É uma anomalia neurogenética, congênita e multisistemica que afeta principalmente o hipotálamo; os sintomas são hiperfagia, obesidade, hipertensão, apneia do sono e diabetes SÍNDROME DE KALLMANN: É uma doença genética congénita, definida pela deficiência isolada de gonadotrofinas; é caracterizada por um defeito isolado na secreção de GnRH e causada por um defeito na migração dos neurônios que produzem esse hormônio e dos neurônios que formam os nervos olfatórios SÍNDROME DE LAURENCE-MOON-BIELD/BARDET-BIEDL: É uma síndrome autossômica recessiva rara, em que as características principais são: retinopatia pigmentar, obesidade, polidactilia, dificuldades de aprendizado além de diversos graus de deficiência intelectual, anomalias renais e hipogonadismo. SÍNDROME DE SHEEHAN (NECROSE HIPOFISÁRIA PUERPERAL): Trata-se de hipopituitarismo pós-parto secundário à necrose hipofisária decorrente de hipotensão ou choque por causa de hemorragia maciça durante ou após o parto FISIOPATOLOGIA: A hipopituitarismo ocorre quando há deficiência hormonal da hipófise, que pode ter diversas causas, sendo elas hereditárias ou adquiridas. O dano a hipófise vai resultar em perda sequencial dos hormônios da hipófise anterior Com a perda respectiva desses hormônios, pode-se ter como resultado doenças secundárias ocasionadas justamente pela supressão hormonal, as quais irão originar sintomas característicos. A ordem sequencial de perca dos hormônios hipofisários pode ser memorizada pelo acrostico “GLFTAP”: 1. GH (primeiro hormônio a ter sua produção interrompida, em crianças causa baixa estatura e em adultos pode acometer a síntese muscular) 2. LH (causa deficiência dos hormônios sexuais como hipogonadismo, síndrome de Kallman) 3. FSH (causa infertilidade e é o terceiro a ter sua produção interrompida, causa a mesma síndrome acima) 4. TSH (causa hipotireoidismosecundário) 5. ACTH (causa insuficiência suprarrenal secundária) 6. Prolactina (último a ter a secreção interrompida Incapacidade de produzir leite = hipoprolactinemia) Se não tratado adequadamente, o hipopituitarismo resulta em elevada morbimortalidade. O quadro clínico e as complicações dependem da etiologia, do tipo da gravidade e da insuficiência hormonal MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Sintomas de massa tumoral (região selar ou parasselar): cefaleia, compressão de quiasma óptico com perdas de campos visuais (temporais), compressão dos pares cranianos II, IV e VI (diplopia, ptose palpebral e estrabismo) e, raramente, ramos do trigêmeo com dor facial • Insuficiência adrenal secundária (deficiência de hormônio adrenocorticotrófico [ACTH] e cortisol): A) Crônica: fadiga, adinamia, perda ponderal, anorexia, sonolência, hipotensão postural, hipoglicemia de jejum, perda de força muscular, náuseas; mulheres podem ter perda de pelos pubianos e axilares por redução dos androgênios adrenais. Anemia normo/normo. Pode ser confundida com síndrome consumptiva B) Aguda ou crônica agudizada: hipotensão arterial, eosinofilia, linfocitose, hiponatremia, náuseas, vômito, dor abdominal. Mais rara na insuficiência secundária que na primária, por preservação do sistema renina-angiotensina • Hipotireoidismo secundário (deficiência de hormônio tireoestimulante [TSH] e hormônios tireoidianos): pele seca, descamativa, voz arrastada, intolerância ao frio, déficit cognitivo, alopecia, obstipação, sonolência, edema generalizado, bradicardia e anemia (macrocítica) • Insuficiência gonadal secundária (deficiência de gonadotrofinas FSH/LH): redução da libido, perda de força e massa muscular, infertilidade, osteoporose, dispareunia. Em mulheres, oligoamenorreia (menstruação pouco frequente); em homens, hipo ou azoospermia, redução de pelos faciais e pubianos; em adolescentes, atraso puberal • Deficiência de hormônio de crescimento (GH): obesidade visceral, fadiga, diminuição da atenção e memória, dislipidemia, redução da capacidade ao exercício. Em crianças: diminuição na velocidade de crescimento, baixa estatura proporcionada, implantação anômala dos dentes, micropênis, hipoglicemia, lipodistrofia abdominal, hipotrofia muscular • Deficiência de ADH: hipopituitarismo associado à deficiência desse hormônio é raro sugere causas infiltrativas, autoimunes e metástases para a região selar. • Deficiência de Prolactina: incapacidade de amamentação pela cessação do leite materno TABELA RESUMINDO AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Hiperpituitarismo: ETIOLOGIA: O hiperpituitarismo surge da secreção excessiva de hormônios tróficos. Ele resulta, mais frequentemente, de um adenoma da hipófise anterior, mas também pode ser causado por outras lesões hipofisárias e extra- hipofisárias. FISIOPATOLOGIA: Foram identificadas diversas anormalidades genéticas associadas aos adenomas hipofisários. Os adenomas hipofisários são caracterizados pelo aumento proliferativo de células adenohipofisárias produtoras de hormônios tróficos, sendo eles (GH, FSH, LH, TSH, ACTH e Prolactina) Os adenomas podem ser caracterizados como microadenomas (<10mm) ou macroadenomas (>10mm), além de serem divididos em: • Adenomas não secretores: aproximadamente 40% de todos os adenomas hipofisários • Adenomas secretores: aproximadamente 60% de todos os adenomas hipofisários Há evidências de que o hiperpituitarismo esteja relacionado a 2 mecanismos: 1. Anormalidades na proteína G: a proteína G é uma célula sinalizadora de hormônios, quando há deficiência nela, ela pode ficar inativada, resultando em superprodução de hormônios ou diminuição da produção dos mesmo. 2. Fatores cancerígenos: multiplicação celular anormal MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Prolactinoma: Neoplasia benigna da hipófise secretora de PRL Os sintomas são divididos em duas categorias: 1) Hiperprolactinemia: • Hipogonadismo, galactorreia, infertilidade, redução da libido • Disfunção erétil, irregularidade menstrual (amenorreia) 2) Efeitos de Massa Tumoral: • Alterações do campo visual, estrabismo, cefaleia, hipopituitarismo Acromegalia e Gigantismo: Ocorre pelo excesso de GH e proteína IGF-1 • Crescimento anormal de pés, mãos, nariz, mas ela pode gerar complicações como diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca Já o gigantismo é uma doença genética rara, que afeta tanto crianças como adultos, sendo caracterizada pelo crescimento anormal de diversas partes do corpo, entre elas: mãos, pés, pernas, queixo, além de cartilagens e partes moles do corpo. Síndrome de Cushing: Ocorre pelo excesso de produção de ACTH • Excesso de gordura corporal na parte superior das costas e rosto principalmente (face em lua), irregularidade menstrual ou disfunção erétil. Síndrome de Nelson: A síndrome de Nelson é uma entidade clínica que se desenvolve após adrenalectomia bilateral para tratamento de Doença de Cushing e se caracteriza por quadro de hiperpigmentação cutânea, níveis elevados de ACTH plasmático e crescimento de tumor hipofisário pré-existente • hiperpigmentação cutânea, níveis elevados de ACTH plasmático e crescimento de tumor hipofisário pré-existente Referências: • KUMAR, Vinay. Robbins Patologia Básica. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2018. E-book. ISBN 9788595151895. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595151895/. Acesso em: 15 fev. 2023. • VILAR, Lúcio. Endocrinologia Clínica. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788527737180. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527737180/. Acesso em: 15 fev. 2023. • PORTO, Celmo C.; PORTO, Arnaldo L. Clínica Médica na Prática Diária. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2022. E-book. ISBN 9788527738903. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527738903/. Acesso em: 15 fev. 2023. • Hipopituitarismo - Teng-Teng Chung , PhD, FRCP e John P. Monson , MD, FRCP, FRCPI - https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK278989/#neuroendo-hypopituit.REFERENCES • TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Grupo GEN, 2016. • GOLDMAN, Lee; SCHAFER, Andrew I. Goldman-Cecil Medicina. Grupo GEN, 2022. • Almeida et al..HIPOPITUITARISMO DE DIAGNÓSTICO TARDIO E SUAS POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES: relato de caso e revisão de literatura. Vol.37,n.2,pp.56-65 (Dez 2021 – Fev 2022) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research – BJSCR. Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr • NORRIS, Tommie L. 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