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Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] METÁFORAS ORGANIZACIONAIS COMO INDICADORAS DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA Maria Aparecida Assunção1 ________________________________________________________________________ RESUMO: O objetivo deste trabalho é estudar as metáforas como formas de pensar e observar a organização. Este artigo é um ensaio e explora os diversos tipos de metáforas. PALAVRAS-CHAVE: metáforas, informação. INTRODUÇÃO Metáforas nos ajudam a construir modelos mentais. Os modelos mentais representam sobre o artefato ao qual interagimos, onde permitimos um conhecimento de objeto concreto, familiar e experiências anteriores para nos dar estrutura a conceitos mais abstratos. Lakoff e Johnson (1980) descrevem metáforas como entendimento e experimentação de uma coisa em termos de outra. Erickson (1990) define metáfora como um emaranhado invisível de termos e associações que é subjacente à maneira como falamos e pensamos sobre um conceito. O termo "metáfora" é tradicionalmente associado ao uso de linguagem. A metáfora é tão constante em nossa fala e pensamento que se torna "invisível". Quando queremos veicular um conceito abstrato de uma forma mais familiar e acessível, frequentemente usamos expressões metafóricas. Por exemplo, tendemos a falar sobre o "tempo", que é um conceito muito abstrato, em termos de "dinheiro": economizamos, gastamos, perdemos tempo, emprestamos nosso tempo a algo ou alguém... (Lakoff & Johnson, 1980). Podemos, ainda, citar como exemplos de metáforas na nossa linguagem 1 Maria Aparecida Assunção é Mestre em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais, Professora e Coordenadora do Curso de Secretariado da Faculdade Processus. [1] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] cotidiana: “podre de rico”, “morreu de rir”. Nossa linguagem como um todo está repleta desses tipos de abstrações metafóricas. Expressamos o entendimento de ideias por meio de representantes concretos dessas ideias. Bruner(1960) considera as metáforas um mecanismo de sustentação para o aprendizado, pois possibilita que as informações previamente aprendidas tornem-se aplicáveis as novas situações. A evolução do foco no uso das metáforas foi evoluída na motivação inicial como facilitadora do aprendizado para incluir a facilidade de uso. As metáforas ajudam o usuário a interagir com sistemas computacionais, quando pessoas usando o processador de texto pela primeira vez, veem similaridade com a máquina de escrever, pois ambos têm elementos em comum: um teclado, varra de espaço, tecla de retorno. Ambos têm, também, relações em comum: somente um caractere pode ser teclado por vez, ao pressionar-se uma tecla, o caractere correspondente aparece em um meio visível (ERICKSON 1960). Erickson (1990) propõe o uso de metáforas em design por meio de um processo baseado nas seguintes etapas: (1) entender a funcionalidade do sistema a ser criado; (2) como nenhuma metáfora consegue modelar todos os aspectos da funcionalidade de um sistema, deve-se identificar as partes mais difíceis para o usuário; (3) metáforas que “suportem” o modelo requerido, devem ser geradas e avaliadas. Madsen (1994) sugere fases e suas respectivas diretrizes para o design baseado em metáforas: Fase (1) – geração de metáforas: Observar como os usuários entendem seus sistemas computacionais.Construir sobre metáforas já existentes.Usar artefatos predecessores como metáforas.Notar metáforas já implícitas na descrição do problema.Procurar eventos do mundo real que exibam aspectos chave. Fase (2) - avaliação de metáforas candidatas ao design: Escolher uma metáfora com uma estrutura rica.Avaliar a aplicabilidade da estrutura.Escolher uma metáfora adequada à audiência.Escolher metáforas com significado literal bem entendido.Escolher metáforas com uma distância conceitual entre a fonte e o significado metafórico.Ter pelo menos um conceito como "ponte" entre o significado literal e o metafórico.Não necessariamente incorporar a metáfora no design final. [2] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] Fase (3) - desenvolvimento do sistema propriamente dito: Elaborar o conceito principal.Procurar novos significados para o conceito.Reestruturar a nova percepção da realidade.Elaborar suposições tornando explícito o que a metáfora esconde e o que ela salienta .Contar a estória da metáfora, falando do domínio alvo como se ele fosse o domínio fonte.Identificar as partes não usadas da metáfora.Gerar situações de conflitos. Em pesquisa mais recente, as metáforas são concebidas como mapeamentos entre domínios que possibilitam ao usuário usar conhecimento e experiências específicos de um domínio familiar, para entender e se comportar em situações que são novas. Nesse processo, além do uso de representações emprestadas de domínio familiar, vários autores sugerem que a concepção do design baseado em metáforas deva incorporar também o contexto de uso de tais representações, resultando em influências maiores no design de sistemas. A metáfora do tiro ao alvo no Jogo do Alvo é usada como metáfora para visualização de conceitos de Controle Estatístico de Processo (CEP). A disposição dos tiros no alvo representa visualmente a distribuição de medidas de determinada peça, em relação a um valor nominal almejado (o centro do alvo). O alvo é uma metáfora já implícita na descrição do problema, uma vez que o objetivo no processo de manufatura é conseguir produzir peças cuja medida seja o mais próxima possível do valor nominal (o centro). Além de possuir um significado literal bem entendido, a estrutura da metáfora serve para representar condições de estabilidade do processo, pela distribuição dos tiros no alvo. O processo de inteligência competitiva (IC.) é de extrema importância para as organizações que necessitam ser competitivas frente ao mercado consumidor, quer seja regional, nacional ou internacional. A IC. ocorre em ambientes organizacionais e, portanto, recebe influência constante de fatores internos e externos. Inicialmente é importante explicar o entendimento sobre o termo ‘organização’, que nesse contexto se apresenta através de uma concepção sistêmica, ou seja, a organização como uma totalidade integrada através de diferentes níveis de relações. Sua natureza é dinâmica e suas estruturas não são rígidas, mas sim flexíveis embora [3] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] estáveis, bem como resultam das interações e interdependência de suas partes (CAPRA, 1982, p.260-61). A inteligência competitiva é o processo que investiga o ambiente onde a empresa está inserida, com o propósito de descobrir oportunidades e reduzir os riscos, bem como diagnostica o ambiente interno organizacional, visando o estabelecimento de estratégias de ação a curto, médio e longo prazo. A inteligência competitiva é entendida como processo organizacional e é fundamental à organização sob vários aspectos, como, por exemplo, para as pessoas desenvolverem suas atividades profissionais, para as unidades de trabalho planejarem suas ações táticas e operacionais, para os setores estratégicos definirem suas estratégias de ação, visando o mercado, acompetitividade e a globalização. Além disso, é perceptível as necessidades informacionais, em diferentes níveis de complexidade, da organização como um todo e que são supridas através do processo de IC. Outra questão importante é a conceituação de dados, informação e conhecimento, que são insumo para o processo de IC. Nesse sentido, adotam-se os conceitos apresentados por Davenport e Prusak; para os autores dados são simples observações sobre o estado do mundo, são facilmente estruturados, obtidos por máquinas, frequentemente quantificados e facilmente transferidos; informação são dados dotados de relevância e propósito, requer unidade de análise, exige consenso em relação ao significado e necessariamente exige a mediação humana; conhecimento é a informação valiosa da mente humana, inclui reflexão, síntese e contexto, além disso é de difícil estruturação, transferência e captura em máquinas, bem como é frequentemente tácito (1998, p.18). Conhecer os diferentes ambientes organizacionais também é fundamental para compreender o processo de I.C. nas organizações. Explica-se que as organizações são formadas por três diferentes ambientes: o primeiro está ligado ao próprio organograma, isto é, as inter-relações entre as diferentes unidades de trabalho como diretorias, gerências, divisões, departamentos, setores, seções etc. (fluxos formais); o segundo está relacionado à estrutura de recursos humanos, isto é, as relações entre pessoas das diferentes unidades de trabalho (fluxos informais) e, o terceiro e último, é composto pela estrutura informacional propriamente dita, ou seja, a geração de dados, informação e conhecimento pelos dois ambientes anteriores (VALENTIM, 2002b). [4] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] O processo de inteligência competitiva gerencia esses fluxos informacionais, quer formais ou informais, através de várias ações integradas e, desenvolvidas, objetivando criar uma cultura organizacional voltada a I. C., como exemplo, pode-se citar a prospecção e monitoramento, a seleção e a filtragem, o tratamento e a agregação de valor, a disseminação e a transferência, a geração e o uso de dados, a informação e o conhecimento, ou seja, o ativo informacional e intelectual da organização. Conforme mencionado anteriormente, os fluxos informacionais, quer formais ou informais, ocorrem tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo à organização, e as ações integradas mencionadas no parágrafo anterior devem ser realizadas nos dois ambientes. Também é necessário conceituar os termos 'gestão da informação', 'gestão do conhecimento' e 'inteligência competitiva'. A gestão da informação tem como foco o negócio da organização e sua ação é restrita aos fluxos formais; a gestão do conhecimento tem como foco o capital intelectual e sua ação é restrita aos fluxos informais; finalizando, a inteligência competitiva tem o foco nas estratégias da organização e sua ação não é restrita a um dos fluxos, isto é, ela trabalha com os dois fluxos informacionais, formais e informais (VALENTIM, 2002b). Percebe-se claramente a relação estreita existente entre a gestão da informação, gestão do conhecimento e a inteligência competitiva. No entanto, a complexidade das ações despendidas é diferente, uma vez que a gestão da informação trabalha no âmbito do conhecimento explícito, a gestão do conhecimento trabalha no âmbito do conhecimento tácito, e a inteligência competitiva trabalha com ambos além de se caracterizar como um processo, sua maior complexidade está no fato de estabelecer relações e interconexões entre as duas formas de gestão. Além disso, existem diferentes naturezas informacionais, quais sejam: estruturadas, estruturáveis e não estruturadas. Os dados, informações e conhecimento estruturados são aqueles acessados dentro ou fora da organização e podem ser entendidos como aqueles que estão sistematizados, organizados e disponíveis para acesso; os dados, informações e conhecimento estruturáveis são aqueles produzidos pelos diversos setores da organização, porém sem sistematização, organização e não estão disponíveis para acesso; os dados, as informações e o conhecimento não estruturados são aqueles produzidos externamente à organização, porém sem filtragem e tratamento (VALENTIM, 2002b). [5] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] O processo de IC, portanto, é de fundamental importância para que as organizações sintam-se capazes de atuarem no mundo globalizado, de forma a proporcionar à região na qual estão inseridas maior desenvolvimento econômico e social. Nesse sentido, dados, informação e conhecimento, conforme já mencionado anteriormente, são matérias-primas para o processo de inteligência competitiva. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Metáfora Metáfora é o emprego de palavra fora do seu sentido normal (Morgan, 1986), por efeito de analogia (comparação). Segundo Morgan (1986, pg. 16), "usar uma metáfora implica em um modo de pensar e uma forma de ver que permeia a maneira pela qual entendemos nosso mundo em geral". (sic) Vistas como alegorias ou figuras de linguagem, metáforas podem aparentar serem não mais que simples ferramentas literárias ou linguísticas, contudo existe mais sobre elas que isso. Elas são os resultados de um processo cognitivo que está em uso constante - o processo em que o significado literal de uma frase ou palavra é aplicado a um novo contexto, no sentido figurativo (Grant e Oswick, 1996). Metáfora é, acima de tudo, um modo de pensar (Mangham, 1996). Organizações são fenômenos complexos e paradoxais que podem ser entendidos de muitas formas diferentes (Morgan, 1986), usando diferentes metáforas, os administradores são capazes de planejar organizações de formas não pensadas como possíveis anteriormente. Uma organização pode ser vista como uma máquina, um organismo, um cérebro, uma cultura, um sistema político, uma prisão psíquica, um fluxo e uma transformação ou um instrumento de dominação (Morgan, 1986). Essas questões possuem certa semelhança com o antigo conto hindu a respeito dos seis cegos e o elefante (Mintzberg, 2000): Eram seis homens do Hindustão, inclinados para aprender muito, que foram ver o elefante (embora todos fossem cegos) que cada um por sua observação poderia satisfazer a sua mente. [6] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] O primeiro aproximou-se do elefante e aconteceu de chocar-se contra seu amplo e forte lado. Imediatamente começou a gritar: "Deus me abençoe, mas o elefante é semelhante a um muro!". O segundo pegou na presa e gritou: "Oh! O que temos aqui, tão redondo, liso, pontiagudo? Para mim isso é muito claro. Essa maravilha de elefante é muito semelhante a uma lança!". O terceiro aproximou-se do animal e aconteceu de pegar a sinuosa tromba com suas mãos. Assim falou em alta voz: "Vejo" disse ele, o elefante é muito parecido com uma cobra! O quarto esticou a mão, ansioso e apalpou em torno do joelho. Com o que este maravilhoso animal se parece é muito fácil, disse ele: "está bem claro que o elefante é muito semelhante a uma árvore!". O quinto por acaso tocou a orelha e disse: "Até um cego podedizer com o que ele se parece: Negue quem puder, essa maravilha de elefante é muito parecido com um leque!". O sexto mal havia começado a apalpar o animal. Pegou na cauda que balançava e veio a seu alcance. "Vejo", disse ele, "o elefante é muito semelhante a uma corda!". E assim esses homens do Hindustão discutiram por muito tempo. Cada um com sua opinião, excessivamente rígida e forte. Embora cada um estivesse, em parte, certo, todos estavam errados. O movimento do elefante teria provavelmente destruído todas as considerações anteriores e, quando se examina o destino dos seis cegos, isto é feito através do privilégio da visão. Por outro lado, diferentes ideias a respeito da organização originam- se do fato de que, iguais aos cegos, tocam-se diferentes aspectos do mesmo animal; além disso, as diferentes dimensões envolvidas estarão sempre interligadas (Morgan, 1986). Uma metáfora bastante simples é a analogia ao átomo. Os átomos são entidades pequenas que podem ser combinadas e recombinadas (Haliday e Resnick, 1996), formando entidades maiores. Essa metáfora amplia o entendimento do modelo, o que deixa os pesquisadores mais confortáveis à ideia, pois os átomos não podem ser combinados indiscriminadamente. Não é fácil combinar os átomos, que só podem ser harmonizados em determinadas estruturas, dependendo de sua conformação interna. [7] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] Exemplos da metáfora do átomo são abundantes, como as organizações de comando e controle clássicas, o exército e a igreja, a infalibilidade Papal é o núcleo da Igreja Católica Apostólica Romana (Drucker, 1988). Peter Drucker (1988) descreveu a organização baseada em informação, em que a tecnologia da informação demanda mudança nas corporações multinacionais. Gerrit Broekstra (1996) argumenta que se podem distinguir três estágios da evolução organizacional, e que estão conectados com ciclos econômicos (Schumpeter, 1939). Estes representam a emergência da organização funcional, divisional e em rede. Simplificando, para efeito de clareza no raciocínio, é possível distinguir entre três diferentes paradigmas de mudança organizacional mecanicista, orgânico e evolucionário (Quadro 1). É valioso notar que as três formas organizacionais não são mutuamente excludentes, representando ampliados níveis de complexidade (Quadro 1). PARADIGMA PENSAMENTO SISTÊMICO METÁFORA ORDENADO POR MEIO DE FORMA ORGANIZACIONAL Mecanicista fechado máquina força (eficiência) funcional Orgânico (equilíbrio) aberto organismo aptidão (eficácia) divisional e unidades de negócio Evolucionário (auto- organização) complexo rede navegação (flutuação) rede (hierarquia, unidades autônomas e rede de relacionamentos) Quadro 1: paradigmas de mudança organizacional Fonte: adaptado de Broekstra (1996) Segundo Evert Gummesson (1999), as organizações devem evoluir para estruturas cada vez mais flexíveis em torno dos processos essenciais que elas devem desempenhar. Às estruturas funcionais e inovadoras e à estrutura matricial, segue-se a estrutura em rede (Benkler, 2002; sustentada pelo(s) nó(s) representado(s) pela(s) competência(s) essencial(is) da organização (Hamel e Prahalad, 1995). Granovetter (2000) escreveu que o átomo é o ícone do século XX. O ícone do século XXI é a rede, que não possui centro, órbita. Qualquer rede possui dois ingredientes: nós e conexões. A Internet não é uma rede per se, mas uma rede de redes que se baseia em padrões comuns permitindo máquinas que processam informação digitalmente "inter-operar". Precisamente, padrões da Internet possibilitam a [8] http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1807-17752009000200008&script=sci_arttext#q1%23q1 http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1807-17752009000200008&script=sci_arttext#q1%23q1 Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] interconexão totalmente descentralizada de redes de computadores (Brousseau e Curien, 2001). O paradigma mecanicista é o mais antigo, enraizado pela visão de mundo materialista/reducionista do século XIX, e tem no autor Frederick Taylor seu mais conhecido proponente. A emergência da organização funcional e da organização divisional foi descrita pelo historiador Alfred Chandler, o desenvolvimento de tecnologias e infra-estruturas (ferrovias e telégrafo), e nos anos de 1920 o pioneirismo de Alfred Sloan na GM. Em 1950, foi publicado um artigo de um dos fundadores do movimento dos sistemas, Ludwig von Bertalanffy, representando o início da análise organizacional sob o paradigma orgânico. Segundo Gerrit Broekstra (1996), o modelo sistêmico conecta um conjunto de processos organizacionais chave como o empreendedor, tecnológico, administrativo e o processo de recursos humanos com a cultura de sistemas. Contudo, o ambiente era dado como uma entidade concreta na qual a organização deveria se adaptar. A competição global e as mudanças tecnológicas (TIC) provocaram a emergência de formas organizacionais mais flexíveis na forma de redes, por exemplo, a rede diferenciada da estrutura da Philips (Nohria e Ghoshal, 1997). As metáforas baseadas em informação influenciam a arquitetura da cadeia produtiva de alta tecnologia, por exemplo, software, telefonia, mídia (Jacobides e Winter, 2005; Grant e Oswick, 1996; Brousseau e Curien, 2007). As metáforas facilitam a cognição, a troca de informações entre empreendedores, organizações, acionistas e clientes, como um plano de referência, ou um modo de pensar. O ambiente cultural da Geração Google não é um renascimento da cultura Grega e Romana, muito menos o iluminismo de Voltaire, o ambiente cultural seria baseado no universo dos quadrinhos. A forma de ver não é a Casa Grande e a Senzala, de Gilberto Freyre, não é a Casa e a Rua, de Roberto DaMatta, é uma forma de organização da produção da firma do século 21 Este trabalho baseia-se na economia das organizações, nas contribuições de Oliver Williamson e Ronald Coase. A busca de uma metáfora para as configurações organizacionais em rede, o debate sobre rede de ciência, por exemplo, representa uma agenda de pesquisa sobre redes e inovação e como a metáfora da rede poderia esclarecer a operacionalização nas organizações. [9] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] 2.1.1. Metáforas Quânticas Existem muitas analogias quânticas com o nosso processo de pensamento. Tanto Daiv Bohm como um outro físico chamado Roger Penrose, especularam se tantas analogias não poderiam implicar alguma conexão física entre o domínio quântico e a consciência humana. Como o nosso processo de pensamento se acostumou pela linearidade mecanicista, há coisas que não são explicáveis. O cérebro não funciona de forma linear e sequencial. Como os bilhões de neurônios se interconectam no nosso cérebro, dão origem à consciência ou à experiência do “eu”. Em termos mecanicistas não há explicações para isso. A realidade é toda interconectada, de um modo indivisível. O papel do cérebro poderia ser de alguma forma processar a informação que nos chega dessa rede exterior, mas aonde essa especulação iria nos levar? - O que não é especulação é a natureza interconectada.Assim, poderíamos dizer o quântico é a criação da realidade através da nosso participação ativa, o que também vale para o mundo das organizações que permanece não criado até que nós interajamos com ele. Enquanto não me engajo com ele, não posso saber como ele é. Isso por um lado. Por outro, a forma quântica de ver a natureza diz também que quanto mais determinado estiver o sistema num aspecto, menos determinado ele estará no aspecto complementar. Fixar um aspecto significa que outro terá de estar completamente livre. Partícula e onda, a mecânica da realidade profunda do mundo é quântica. Assim, entendemos que a organização é uma entidade que tem aspectos quânticos. Em diferentes contextos, as coisas podem oscilar entre atributos “partícula” e atributos “onda”. A verdade da realidade quântica é ambígua. Ela nos obriga conviver com a possibilidade de outras possibilidades, mas toda essa incerteza pode ser altamente prática, geradora de resultados, altamente criativa. Ao observamos a vida das organizações, percebemos que elas, nos dois contextos, podem se caracterizar ambíguas, mas não conseguimos enxergar assim. Somos mecanicistas, único ponto de vista. Não sabemos conviver com a ambiguidade. A ideia de [10] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] que é possível obter resultados fora do contexto do “isso ou aquilo”, nos incomoda. Uma afirmação ou é verdadeira ou é falsa. Um curso de ação ou é bom ou é mau. Nada de nuance ou paradoxo. Multiplicidade e variedade não cabem nesse modelo. Interconexões não são nada no modelo máquina e são tudo no modelo quântico. O modelo máquina nos leva ao confronto e ao conflito, à disputa, pela supremacia da maneira certa de ver e fazer. O contexto quântico é oposto de tudo isso. Nele não há lugar para fórmulas ou checklists. Nós criamos a realidade. O universo é participativo. É a lógica do diálogo que tem de ser promovida não por qualquer motivo generoso, mas por puro pragmatismo organizacional mesmo. Uma das características da learning organization é a de ser um organismo que aprende coletivamente. Construindo a realidade coletivamente. Esse é o nosso papel, como o do band leader da metáfora do jazz. [...] o talento improvisador de cada músico, tocando a sua música, do seu jeito, de uma maneira que ninguém pode direcionar, integra-se num todo unificado. Os músicos estão numa sintonia absoluta. Alguma coisa que os une organicamente. Zohar crê que a metáfora quântica seja mais que metáfora. Ela crê que a consciência humana seja “[...] realmente quantum-mecânica e que a mecânica dessa consciência quântica confira literalmente às nossas mentes, aos nossos “eus”, às nossas relações sociais, tanto um aspecto partícula como um aspecto onda”. Entendendo o aspecto partícula é o individual, a característica determinada, no espaço e no tempo, existentes como entidades separadas, que se relacionam com outras entidades separadas. O aspecto onda é o que tem como características o indeterminado e a potencialidade para evoluir em infinitas direções. É o conjunto de possibilidades e potenciais infinitos. 2.1.2 Metáfora de rede Ressalta-se que a metáfora da rede deve se preocupar com questões governança e sustentabilidade (Kelly, 2003). Segundo Vinton Cerf (2007), um dos efeitos mais importantes da web é dar às pessoas mais condições de cobrar responsabilidade de empresas, governos e outros atores sociais. [11] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] Certamente, redes de informação aberta estão alterando o ecossistema cultural e influenciando a geração Google (Johnson, 1999, 2002, 2005, 2008; Weinberger, 2002; Dibbel, 2002). Aqui se parte da metáfora do cérebro, em direção à metáfora da rede. O argumento é que a metáfora da rede reflete e transmite o espírito do tempo. A metáfora da rede também captura o senso de organização na Sociedade em Rede (Castells, 1999). O caráter transformacional da Internet (Atarix Microsoft x Google), a rede global de computadores (Cisco, Oracle, EMC), seu método de comunicação, e seu desenho organizacional (amazon.com, Nintendo, Oracle), representam o principal exemplo da metáfora da rede (Brousseau, Curien, 2007) e, consequentemente, influencia a geração Google e o modo de produção em rede (blogger, myspace, facebook, orkut, twitter). 2.1.3. Metáfora de Cérebro: a cibernética "É possível que, usando o cérebro como uma metáfora para a organização, seja viável desenvolver a habilidade para realizar o processo de organização de maneira que promova a ação flexível e criativa" (Morgan, 1986). O cérebro pode ser entendido como um sistema de processamento de informações, organizações como cérebros processadores de informação, afinal, processamento de informações, tomada de decisão e planejamento organizacional é o enfoque da tomada de decisão, enfoque à compreensão organizacional iniciado por autores como Herbert Simon e James March. Simon argumentou que organizações nunca podem ser perfeitamente racionais, elas podem chegar somente a limitadas formas de racionalidade. Organizações podem ser vistas como cérebros na era do paradoxo (Handy, 1994), considerando a transição de organizações baseada em comando e controle para organizações baseadas em informações (Drucker, 1986), na qual colaboradores são capazes de questionar e possuem consciência. A metáfora do cérebro observa organizações capazes de aprender a aprender e organizações vistas como sistemas holográficos (Morgan, 1986). Esse argumento fundamenta-se na obra do autor Herbert Simon (forma de pensar), vencedor do prêmio Nobel de economia, que elaborou o conceito de racionalidade limitada e a teoria da tomada de decisões nas organizações administrativas (Simon, 1965). A organização vista como uma força-tarefa representa a evolução do pensamento do Simon para o do autor [12] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] Peter Drucker (forma de observar). Os exemplos de organizações dadas por Drucker (1986) ainda são emblemáticos: • Orquestra (Bertero, 2001); • Hospital (Prêmio Nacional de Gestão em Saúde); Podem-se ressaltar as seguintes forças e limitações da metáfora do cérebro (Morgan, 1986): • Aprendizagem organizacional • Auto-organização • Facilitar o aprender a aprender • Escolha de limites e restrições • Ir além da racionalidade limitada • A evolução da tecnologia da informação facilita novos estilos organizacionais • Realidades de poder e controle • Suposições e crenças existentes 2.2. Física Quântica Nóbrega (1996), em Busca da Empresa Quântica, faz uma analogia entre o mundo da ciência e o mundo dos negócios relatando que o padrão comum que emergiu entre empresas excelentes de vários setores de atividades, incluía muitas coisas interessantes, por exemplo, elas sabiam conviver com paradoxos do tipo uma grande inclinação para o novo, para a experimentação, para a tentativa livre de novas ideias e ao mesmo tempo uma valorização absoluta de valores ligados à tradição e à identidade da própria empresa. A valorização das pessoas na empresa como algo muito além da conotação burocrática, isto é, a ligação entre o humano e o profissional, sempre articulada de uma maneiraque se revelava muito concreta da na vida de todos ligados à empresa, aos funcionários e aos clientes. Nóbrega cita que seu fascínio de lidar com a complexidade no mundo empresarial, e sugerir mudanças de linguagem teve uma influência grande na sua decisão de experimentar uma carreira no mundo dos negócios depois de uma carreira dedicada à Física. Cita que os acontecimentos em Física mostraram que o que [13] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] sabemos da realidade está refletido nos símbolos que usamos para descrevê-la e nas linguagens das quais esses símbolos fazem parte. Num artigo na Harvard Business Review em 1991, ele mostra a complexidade do mundo hoje em contraposição à simplicidade da época em que as visões tradicionais da concepção de Marketing para a empresa que atua no mercado mais agitado e competitivo que existe, citando que a concepção quântica do mundo poderá nos ajudar a obter insights sobre a crise que as organizações enfrentam. No seu artigo ele dizia: “Segundo a Física Quântica, as coisas são diferentes no nível micro. A luz é o exemplo clássico. Submetida a certos experimentos, a luz se comporta como uma onda, movendo-se de forma semelhantes às ondas do mar. Em outros testes, contudo, ela se comporta como partícula. Movendo-se como um feixe de bolinhas. Os cientistas se perguntam então se a luz é onda ou partícula? Quando é uma e quando é outra? [...] A natureza dos consumidores é como a luz. Como ela, o cliente é mais que uma coisa ao mesmo tempo. Às vezes, comporta-se como parte de um grupo, encaixando-se em classificações psicográficas e sociais, Outras vezes libera-se, tornando-se um iconoclasta. Criam e rompem padrões. Os mercados estão sujeitos a leis semelhantes às da Física Quântica.” Um businessman se apoia nas analogias do mundo da Física para propor linguagens novas e assim criar realidades novas de mercado. Linguagens novas baseadas em metáforas quânticas. Parece, então, que realmente o mundo dos negócios precisam de empresas quânticas, pois, se a Física está revelando a primazia das relationships , as ideias sobre administração estão mudando aos poucos. A maneira de ver as organizações estão se reconfigurando para que as relações passam a ser o centro de tudo. A visão de gerenciar as coisas separando-as em partes, engajamo-nos em planejamentos complexos, métodos melhores para continuar a perceber o mundo objetivamente. Isso tudo vem da visão newtoniana das coisas, que é a base a partir da qual as organizações são desenhadas e gerenciadas e a parir da qual as pesquisas são realizadas em todas as áreas das ciências sociais. [14] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] Intencionalmente ou não, adotamos a visão de mundo que vem das ciências naturais. Continuamos a nos apoiar na ciência para criar e gerenciar organizações, para fazer pesquisa e formular hipóteses sobre desenho organizacional, planejamento, economia, mudanças de processos..., então, deveríamos nos apoiar na ciência de hoje. Na Física Quântica, interconexões invisíveis entre coisas que a princípio julgam-se separadas são a base de tudo. Nela, toda a realidade que emerge e passa a poder ser observada vem das relações. Na verdade, a Física Quântica não é uma teoria para descrever o mundo natural? Pensava-se que fosse, mas à medida que o tempo passou ela foi se revelando muito mais que isso. Segundo Nóbrega (1996), ela é “a mais bem sucedida concepção da mente humana para lidar com a realidade. Ela é o framework dentro do qual tudo em Física se encaixa.”. E continua a explanar seu pensamento sobre a Física Quântica dizendo que “vivemos no universo quântico, pois a estrelas, átomos e a própria vida como fenômeno, e talvez, como se especula há muitos anos, talvez a própria consciência humana.” A Física Quântica surgiu como consequência direta da habilidade incrível de um certo grupo de físicos, num momento histórico particular, de conseguir articular uma proposta de solução para os problemas de vanguarda na época. Como? Através da linguagem, através da matemática, que constitui um domínio todo particular de linguagem, um universo próprio. Matemática, nos diz Murray Gell-Mann, é a linguagem que nos permite estudar rigorosamente mundos hipotéticos. A matemática é tão rigorosa que nem sempre se presta a interpretações. Ela funciona, mas nem sempre é verbazível. A lógica se encarrega de dar-lhe consistência, mas não nos autoriza a interpretá-la. Não nos permite traduzir com palavras o que ela significa. A poderosa visão da Física Quântica vem sendo usada com absoluto sucesso desde 1920. Mas é preciso ser claro que a visão quântica é demonstradamente bem sucedida apenas na Física. Fora dela, tentativas de formulações ainda estão muito longe de gerar qualquer coisa que tenha o consenso que ela conseguiu em Física. O que existem são tentativas e especulações. De qualquer forma, não há nada que possa se comparar com a Física Quântica em termos de resultado no mundo real. Todo o sucesso da Física no século XX, com suas aplicações práticas que vão do reator nuclear ao [15] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] microprocessador, do laser às tecnologias digitais, não existiriam sem a base quântica de entendimento. Assim, é natural que quando a complexidade chega ao mundo dos negócios, a saída é se apoiar no paradigma quântico para tentar algo. Mas como seria uma empresa que se utiliza do paradigma quântico? A essência da formulação quântica está contida numa construção matemática. A função de onda. Há outras maneiras de se formular a realidade quântica, pois a Física permite uma maior liberdade de expressão. Na década de 1950, apareceu a formulação chamada de os many worlds (muitos mundos). É a interpretação de que a realidade que nossa consciência experimenta é apenas uma de muitas realidades que coexistem. Cada possibilidade para cada evento no qual nos engajamos acontece em um universo diferente, por exemplo, se jogo uma moeda e vejo que apareceu cara, existirá outro universo em que terá aparecido coroa. Há infinitos universos paralelos formando ramificações. Em cada um se atualiza uma realidade. Existem coisas intransigentes sobre essa visão, mas o que no momento interessa, é a versão “função de onda” – a mais popular, e a primeira a gerar resultados. O que a função de onda quer nos demonstrar é uma construção matemática que contém todas as informações sobre aquele objeto que ela representa. Tudo tem uma função de onda. Ela contém toda a informação sobre as possibilidades ou potenciais daquilo que estou considerando. A função de onda representa diversas possibilidades. Ela não nos diz o que a coisa é. Ela contém dento de si tudo o que a coisa pode ser. Não diz nada sobre atualidade, só sobre potencialidades. Ao observarmos a coisa é que a quantidade de potenciais que a função de onda representa se atualiza numa realidade única. Partícula ou onda. Dizemos então que a função de onda colapsou. Uma das muitas realidades que ela contém emergiu. Portanto, a mais importante e mais perturbadora consequência da visão quântica da realidade é esta: ela é ambígua, não definida, até o momento em que, interagindo com a realidade que ela representa, faço com que ela tome uma posição. 1.3. Teoria de Redes Sociais [16] Revista Processus de Estudosde Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] A ideia, os conceitos a as aplicações de redes não são novos (Cândido e Abreu, 2000), e diversas áreas de conhecimento, como a antropologia, a psicologia, e a biologia, possuem visões particulares do fenômeno. A perspectiva da rede é baseada na economia dos custos de transação, a rede não é o mercado, nem é uma hierarquia, seria uma forma alternativa de organização da produção (Williamson, 1985). Contudo, o entendimento sobre o fenômeno das redes é muito pequeno. O estudo da economia da informação, cultura e conhecimento é recente (Williamson, 1985, 1994; Hayek, 1945; Stiglitz, 1999). Os autores Benkler (2006) e Eric Beinhocker (2006) escreveram dois livros sobre a economia interconectada da informação que contribuem para o debate acadêmico. Sabe-se que as organizações são de fato estruturadas pelo organograma oficial e estão distantes da economia interconectada da informação (Beinhocker, 2006; Benkler, 2002). Outros autores, Walter Powell, Mark Granovetter, Harrison White se preocupam com uma visão sociológica do fenômeno das redes, particularmente com trabalho sobre redes sociais. Por outro lado, um terceiro grupo de autores (Barabasi 2002, Buchanan 2002, WATTS 2003), identifica um interesse interdisciplinar na análise e modelagem das redes, o que o autor Duncan Watts (2004) denomina ciência das redes. Contudo, usando as palavras de Oliver Williamson, redes não são mercados, nem hierarquias. Por outro lado, uma das características estruturais da era da informação e das telecomunicações é a crescente importância das redes interorganizacionais como forma de articular recursos produtivos e tecnológicos, em contraposição à lógica da integração vertical (Grandori, 1999; Perez, 2002; Harrison, 2005; Williamson, 1985). Alguns pesquisadores de estratégia começaram a considerar como as organizações desenvolvem capacidades externamente, por meio de laços interorganizacionais (Grandori, 1999), participando de redes de alianças, troca de conhecimento, e habilidades (McEvily 2005). A rede de laços interorganizacionais que as organizações desenvolvem para aprender capacidades, não é apenas uma questão de contatos com seus pares, mas relacionamentos críticos com diferentes stakeholders, fornecedores, consumidores e complementadores (Harrison, 2006). Por exemplo, para a construção do iPod, a empresa Apple especificou o conceito do produto e administrou internamente apenas três competências: canais, marca e sourcing innovation, e articulou uma rede interorganizacional de alianças, para hardware, software, plataforma , e conteúdo. [17] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] Portanto, as alianças se tornaram o modo ordinário e necessário de desenvolver a indústria, forçando mudanças no comportamento das firmas (Grandori, 1999). Isso ocorre porque as empresas não conseguem mais reunir individualmente a capacitação tecnológica e os ativos necessários para promover a integração vertical, diante de um quadro de maior complexidade tecnológica e aceleração do ciclo de vida dos produtos (Tigre, 1998; Grandori, 1999). Em resumo, a direção estratégica é definida pelo ambiente externo, profundamente influenciada pela rede formal, e não pode ser uma decisão de uma firma isolada (Beinhocker, 2006). Existem diversas visões de rede, redes humanas, mídia, tecnologia, matemática, engenharia, geografia, economia e política, assim como existem diversas visões da virtualidade (Barret 1999). As redes humanas possuem três principais correntes: redes de negócio, redes de empreendedores e redes sociais (Granovetter, 1973; MySpace; Orkut; Facebook). Por outro lado, a mídia possui redes de comunicação (Rede Globo), rede de rádio, rede de televisão; a tecnologia possui a rede digital (Tanenbaum, 2006), a rede elétrica (interconexão de resistores, indutores e capacitores), a rede de computadores (Tanenbaum, 2005), rede de telecomunicações (Yacoub, 2001),redes de telefonia móvel (Vivo, Claro ou Tim) e rede de transmissão e distribuição de energia. A ótica matemática é representada pela teoria dos grafos a engenharia pelas redes neurais (Bishop, 2006), a geografia é representada pela rede transnacional (Kobrin, 2007), a economia pelo efeito de rede (Shapiro e Varian, 2000). Certamente redes de informação aberta estão alterando o ecossistema cultural e influenciando a geração Google (Johnson, 1999, 2002, 2005, 2008; Weinberger, 2002; Dibbel, 2002). Aqui se parte da metáfora do cérebro, em direção à metáfora da rede. O argumento é que a metáfora da rede reflete e transmite o espírito do tempo. A metáfora da rede também captura o senso de organização na Sociedade em Rede (Castells, 1999). No ambiente hipercompetitivo em rede, o Super-Homem destronou Dionísio (Lipovetsky, 2008; Wiggins e Ruefli, 2005; Hax e Wilde II, 2001); o ethos do desempenho, qualidade de vida, e a atmosfera na empresa são elementos da organização em rede. A sociedade em rede se conecta no ambiente de mídia digital. A demanda de consumo pelos serviços baseados em Internet é forte. A filosofia do marketing moderno [18] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] foi influenciada pelas redes eletrônicas, e também demanda transparência e prestação de contas com os stakeholders. 2.4. Inteligência Competitiva O conceito de inteligência competitiva vem sendo estudado desde 1960 sob a abordagem de diversos autores. É um processo informacional proativo que conduz à melhor tomada de decisão, seja ela estratégica ou operacional. É um processo sistemático que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir antecipadamente, bem como proteger o conhecimento gerado. Esse processo informacional é composto pelas etapas de coleta e busca ética de dados, informes e informações formais e informais (tanto do macroambiente como do ambiente competitivo e interno da empresa), análise de forma filtrada e integrada e respectiva disseminação. O processo de Inteligência Competitiva tem sua origem nos métodos utilizados pelos órgãos de Inteligência governamentais, que visavam basicamente identificar e avaliar informações ligadas à Defesa Nacional. Essas ferramentas foram adaptadas à realidade empresarial e à nova ordem mundial, sendo incorporadas a esse processo informacional as técnicas utilizadas: (1) pela Ciência da Informação, principalmente no que diz respeito ao gerenciamento de informações formais; (2) pela Tecnologia da Informação, dando ênfase as suas ferramentas de gerenciamento de redes e informações e às ferramentas de mineração de dados; e (3) pela Administração, representada por suas áreas de estratégia, marketing e gestão. Inteligência Competitiva é um componente crucial da emergente economia do conhecimento. Ao analisar os passos de seus concorrentes, esta metodologia permite que empresas antecipem futuras direções e tendências do mercado, ao invés de meramente reagir a elas. Uma prova disso é a edição online da Revista Time pós- ataques terroristas de 11 de setembro, em que os principais executivos de companhias no mundo todo, afirmaram que estão demandando melhores informações, não apenas sobre riscos à segurança, mas principalmente sobre as ameaças sobre as vantagens competitivas de suas empresas. [19] Revista Processus de Estudos de Gestão,Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] Inteligência Competitiva é um programa sistemático e ético para coleta, análise e gerenciamento de informações externas que podem afetar os planos, decisões e operações de sua empresa. Explicado de outra maneira, IC é o processo de aprimoramento de competitividade no mercado por meio de um mais amplo entendimento - e, mesmo assim, inequivocamente ético - dos competidores de uma empresa e do ambiente competitivo. Especificamente, IC caracteriza-se pela coleta e análise legais de informações a respeito das capacidades, vulnerabilidades e intenções de competidores no mundo dos negócios. Tanto coleta como análise são conduzidas com o uso de bancos de dados e outras "fontes abertas" e por meio da investigação ética. Os associados da SCIP - Society of Competitive Intelligence Professionals, atuam em IC para pequenas e grandes empresas, oferecendo às suas direções alertas de mudanças na paisagem competitiva. Inteligência competitiva é um "conjunto de capacidades próprias mobilizadas por uma entidade lucrativa, destinadas a assegurar o acesso, capturar, interpretar e preparar conhecimento e informação com alto valor agregado para apoiar a tomada de decisão requerida pelo desenho e execução de sua estratégia competitiva" (Cubillo, 1997, p.261). Inteligência competitiva é uma forma proativa de captar e organizar informações relevantes sobre o comportamento da concorrência, mas também dos clientes e do mercado como um todo, analisando tendências e cenários, e permitindo um melhor processo de tomada de decisão no curto e longo prazo. O objetivo da inteligência competitiva é ampliar as condições de competitividade de uma empresa, reorientando seu modelo de negócios, suas metas, seus planejamentos etc. Através dela, os fragmentos de informação oriundos de diferentes fontes são trabalhados de maneira estratégica permitindo antecipar-se às tendências de mercado, propiciando a evolução do nosso negócio em comparação com nossos concorrentes. Com a utilização da inteligência competitiva, temos reais condições de detectar e avaliar ameaças e oportunidades (SWOT) e definir qual será nossa estratégia competitiva. As conclusões obtidas através deste processo permitem à empresa saber se ela de fato continua competitiva e se existe sustentabilidade para o seu modelo de negócios. Dentro de uma era de competitividade baseada em conhecimento e inovação, a [20] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] inteligência competitiva permite que as empresas possam efetivamente exercer a proatividade, ao invés de esperar para reagir aos fatos, o que acontece com frequência no mundo dos negócios. Muitas empresas obtêm informações sobre seus clientes e concorrentes de maneira informal, por meio da imprensa, da conversação com seus clientes, clientes da concorrência, representantes etc. Essa prática é reativa, pois essas empresas só tomam conhecimento dos fatos relevantes quando eles já estão em andamento ou já aconteceram. A inteligência competitiva se dedica a um modelo preditivo de administração, procura prever e antecipar-se aos movimentos da concorrência, além de oportunizar as condições oferecidas pelas tendências e cenários observados. No contexto, em que as organizações passam a se preocupar mais com o que acontece em seu ambiente externo, especificamente com os seus concorrentes, surge a atividade de Inteligência Competitiva (IC), uma evolução dos estudos sobre monitoramento ambiental iniciado por Aguilar (1967), como tentativa de apontar um caminho para esse processo de se transformar a informação do concorrente em recurso estratégico. A justificativa está baseada na premissa de que a gestão das organizações no contexto da sociedade da informação necessita desenvolver processos para monitorar continuamente os seus concorrentes: “Monitoramento contínuo dos competidores, dos usuários, dos fornecedores e de outras forças industriais devem tornar-se uma parte integrante do processo de gestão estratégica das organizações” (TARAPANOFF, 2001, p. 45). Segundo Fuld (1995), a evolução da IC tem crescido desde a década de 80, com incremento gradativo das tecnologias de informação. A indicação desta evolução pode ser demonstrada pelo rápido crescimento do número de membros em associações da área, esforços governamentais de diversos países no sentido de desenvolver programas de IC, o crescimento do número de cursos e o aumento do número de profissionais dedicados a IC em todo o mundo (MILLER; PRESCOTT 2002). Além disso, houve um crescimento do interesse de acadêmicos e pesquisadores sobre o tema, considerando a evolução das publicações de artigos científicos, capítulos de livros e livros dedicados a IC (DISHMAN; FLEISHER; KNIP 2003). A IC está relacionada com a gestão do conhecimento nas organizações na medida em que estudar os seus competidores e manter continuamente o foco [21] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] externo auxiliam o processo de aprendizagem organizacional. Segundo Moresi (2000), a transformação de conhecimento em inteligência ocorre por meio de síntese da experiência e, muito além do que qualquer sistema de análise de informação, necessita de habilidades humanas. A transformação de conhecimento em inteligência é realizada por meio de síntese, o que é uma habilidade puramente humana, baseada em experiência e intuição, e vai muito além da capacidade de qualquer sistema especialista ou de inteligência artificial. Síntese simplesmente não pode ser reduzida a procedimentos ou regras, por estes não considerarem o complexo (MORESI, 2000, p.120). Existe uma relação intrínseca entre Gestão de Conhecimento e Inteligência Competitiva. Davenport e Prusak (1998) apesar de reconhecerem que o conhecimento em ação pode ser tratado como outra categoria, preferem monitoramento ambiental iniciado por Aguilar (1967), como tentativa de apontar um caminho para esse processo de se transformar a informação do concorrente em recurso estratégico. A justificativa está baseada na premissa de que a gestão das organizações no contexto da sociedade da informação necessita desenvolver processos para monitorar continuamente os seus concorrentes: “Monitoramento contínuo dos competidores, dos usuários, dos fornecedores e de outras forças industriais devem tornar-se uma parte integrante do processo de gestão estratégica das organizações” (TARAPANOFF, 2001, p. 45). Enquanto que a gestão do conhecimento tem por preocupação maior tornar os recursos do conhecimento existentes no âmbito de uma organização acionáveis, estando muitos deles armazenados em formas digitais, a inteligência competitiva se concentra em capturar recursos que são tanto internos quanto externos (MILLER; PRESCOTT, 2002, p.187). Para Kahaner (1996), a IC é definida como um programa organizacional, sistemático, para busca e análise de informação sobre as atividades da concorrência e as tendências do setor específico e do mercado em geral, com o propósito de ajudar a organização a atingir objetivos e metas. Para Castells (2005), a IC é um conceito relativamente novo, que tem como objetivoa busca da boa informação do entorno externo da organização, convertendo-a em um produto inteligente para a tomada de decisão. A IC também pode ser definida como o processo que transforma dados e informações em conhecimento estratégico (TYSON, 1998). [22] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] A Society of Competitive Intelligence Professionals (SCIP) associação dos profissionais de inteligência, fundada em 1986 e com mais de 7200 membros, também oferece uma definição de IC: “IC é um processo sistemático e ético para buscar, analisar e gerenciar informação externa que pode afetar os planos, decisões e operação da empresa” (SCIP, 2007). Para Taranapoff (2001), a IC é mais do que uma simples ferramenta útil na gestão da informação, pois ela compreende uma nova síntese teórica no tratamento da informação para a tomada de decisão, uma metodologia que permite o monitoramento informacional da ambiência que, quando sistematizado e analisado, pode apoiar a tomada de decisão. A Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC) define IC como: [...] um processo informacional proativo que conduz à melhor tomada de decisão, seja estratégica ou operacional [...] Visa descobrir as forças que afetam os negócios, reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir antecipadamente, bem como proteger o conhecimento gerado (ABRAIC, 2007). A concepção de IC parte da premissa de que a informação é algo material e que, através de um processo organizacional sistematizado, pode transformar dados brutos em inteligência competitiva nas organizações. Nessa perspectiva, os autores de IC determinam estágios e separam dados, informação e inteligência. Segundo Fuld (1995), dado é um registro a respeito de um determinado evento, são “pedaços” espalhados de conhecimento; informação é um conjunto de dados com determinado significado, uma combinação dessas partes de conhecimento; já a inteligência é a informação devidamente filtrada, destilada e analisada que pode apoiar a tomada de decisões. REFERÊNCIAS Aguilar, Francis J. (1967). Scanning the business environment. New York, NY: Macmillan Co. Arthur, W.B.( 1996, Julho - Agosto) Increasing Returns and the New World of Business. Harvard Business Review. 74 (4), 100-9. ________ . (1999). Complexity and Economy. Science. [23] Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV – Número 09 – JAN –MAR – 2013 – ISSN: 2178-2008 – Maria Aparecida Assunção [2013] Barabási, A. (2003). Linked. How everything is connecetd with everything else and what it means for business, science and everyday life. Plume. Barabasi, A, & Albert, R. (1999). 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