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Obstetrícia Anna Victória T17 1 INTRODUÇÃO Objetivos da assistência pré-natal: • Manter a saúde das mulheres durante a gestação e o aleitamento materno • Ensinar a elas os cuidados a serem dispensados às crianças • Permitir o acesso ao parto vaginal • Dar à luz filho sadio. PRIMEIRA CONSULTA • Definir a condição de saúde da mãe e do feto (comorbidades, doenças pregressas, hábitos) • Estimar a idade gestacional (DUM/ultrassom precoce – do primeiro trimestre 12-13 semanas); • Planejar o acompanhamento pré-natal – definir a frequência das consultas e número de ultrassonografias; • Realizar a rotina da consulta pré-natal (“exame físico completo”, peso materno, pressão arterial, medir altura uterina, ausculta dos batimentos cardíacos fetais, dinâmica uterina e avaliar a necessidade de exame vaginal) – realizar o exame vaginal se a pct tiver queixa de líquido/lesão/sangue • Acompanhamento de baixo risco: • Até 32 semanas – mensal • 32 – 36 semanas - quinzenal • A partir de 36 semanas – semanal ANAMNESE Informações demográficas e pessoais: • Nome, idade (pct com 15 anos, pct com mais de 35 anos, ambas são gravidezes de alto risco – uma por ser precoce e a outra por ser tardia), etnia, estado civil, profissão, religião (testemunha de jeová não aceita transfusão sanguínea, pct com placenta prévia, acretismo placentário, tem alto risco de hemorragia), naturalidade e procedência (algumas regiões são endêmicas para algumas doenças) Antecedentes clínicos pessoais e familiares: • Hipertensão, endocrinopatias, anemias, cardiopatias, pneumopatias, colagenoses, oncológicos (tanto dela quanto dos parentes de 1º grau) → Podemos perguntar se a pct tem algum problema de saúde, se ela toma alguma medicação, se faz acompanhamento, se tem hipertensão e/ou diabetes (fator de risco) Antecedentes ginecológicos e menstruais: • Menarca, características dos ciclos menstruais (regulares ou irregulares – se for irregular não pode usar a DUM para calcular a idade gestacional), tratamentos clínicos e cirúrgicos, contraceptivos e último exame citopatológico. História obstétrica atual e pregressa: • Primeiro começa pela história obstétrica atual • Idade gestacional ➢ DUM e confirmada por ultrassom de primeiro trimestre ➢ Calcular pela DUM, somando-se os dias até a data atual e dividindo por 7; • Data provável do parto (40 semanas) ➢ A partir da DUM, pela regra de Naegele: adiciona-se 7 dias ao primeiro dia da última menstruação e subtraem-se 3 meses do mês ➢ Exemplo: DUM 02/06/2020 ➢ DPP: 09/03/201 Antecedentes obstétricos: • Número de gestações, via de parto, idade gestacional do parto, peso do recém-nascido, intercorrências clínicas e obstétricas; • Abortamento (espontâneo/ intencional e se foi curetagem/ AMIU (aspiração manual intrauterina) / conduta expectante ou se foi gestação ectópica (fora do útero) e a conduta 2 iaparotomia/ salpingectomia/ expectante/ medicamentosa); • Gestação molar (tipo e se houve necessidade de QT) – gestação que em vez de evoluir normalmente ocorre como se fosse uma degeneração da placenta e aquela placenta começa a se multiplicar, aumentar (pode evoluir para ca) • Determinar paridade: número de gestações com mais de 20 semanas. ➢ Exemplo: paciente teve um aborto com 16 semanas, uma gestação gemelar (parto vaginal), um óbito fetal (morreu dentro da barriga) de 25 semanas e uma gestação atual; ➢ Quantas vezes ela engravidou/ qual o número de gestações? 4. Quantos partos ela teve? 2 partos (gestação dos gêmeos e o óbito fetal) e 1 aborto → G4P2A1 // G4P2NA1 (1 gemelar) ➢ Exemplo: paciente teve 3 partos vaginais, 1 parto cesariano e 1 aborto com 19 semanas ➢ G5P4A1 // G5P3n1cA1 Obs: Aborto é aquela gestação que foi interrompida até 20-22 semanas e o peso do feto menor do que 500g; Informações e riscos psicossociais: • Violência doméstica, reconhecer marcas de abusos, como hematomas e lesões incomuns, sinais de depressão, absenteísmo, início tardio no pré-natal; • Gestação desejada/programada, ambiente familiar, saúde mental; EXAME FÍSICO • Primeira consulta (exame físico geral): pressão arterial, inspeção geral da pele, verificação de mucosas, temperatura, peso, estatura, calcular o IMC, ausculta cardíaca e respiratória, exame de extremidades; • Exame Obstétrico: • Exames de genitais e mamas ➢ inspeção, exame especular (perda vaginal de sangue, líquido, corrimento) e toque vaginal (contração) - caso seja necessário, só se a pct tiver alguma queixa; ➢ Avaliar possíveis DST’S (avaliar presença de lesões, verrugas – avaliar quando a pct tiver queixas!) • Altura de fundo uterino (AFU) → esse exame não é feito nas primeiras consultas, pois o útero ainda é um órgão pélvico, ainda vai estar abaixo da sínfise púbica, então, até mais ou menos 9-12 semanas o útero ainda vai estar atrás da sínfise púbica. A altura de fundo começa a ser avaliada quando o útero está aproximadamente acima da sínfise púbica e é mais importante quando está na cicatriz umbilical, onde vai permitir avaliar o crescimento, evolução da gestação; • Ausculta dos batimentos cardiofetais ➢ Sonar Doppler – a partir de 9 a 12 semanas; adiposidade atrapalha! ➢ Estetoscópio de Pinard – a partir de 16 semanas; EXAMES LABORATORIAIS Solicitar na primeira consulta: • Tipo sanguíneo e fator Rh; • Hemograma completo • Glicemia de jejum; • Sorologias para rubéola e toxoplasmose; • Sorologias para hepatite B e C, sífilis (VDRL) e HIV; • Hormônio estimulante da tireoide (TSH); • Urina I e Urocultura; • Colpocitologia oncótica; • Parasitológico de fezes em três amostrais (não realizado na prática); • Ultrassonografia obstétrica. Mensalmente: • Coombs indireto (gestantes Rh negativo) – exame para avaliar se a pct não está sensibilizada, toda gestante que for Rh negativo pelo risco do bebê ser Rh positivo tem que fazer esse exame todo mês; • Sorologia para toxoplasmose em gestantes com IgM e IgG negativas; (solicitar, pois, caso a pct tenha na gravidez é tratável) 3 Entre 24 e 28 semanas de gestação: • Teste de Tolerância Oral à Glicose de 75g (TOTG 75g); - 92/180/153; solicitar para todas as pcts que tiveram a primeira glicemia de jejum normal no pré-natal; • Ecocardiografia fetal em pacientes com indicação (risco de má-formação); não tem indicação para todas as pcts, só aquelas que tem risco de má-formação: diabéticas, história de má-formação familiar etc. No terceiro trimestre: • Sorologia para Sífilis, HIV e hemograma, urocultura, glicemia de jejum e solicitar sorologias para hepatites em pacientes com fatores de risco; • Pesquisa de colonização vaginal e perianal por Streptococcus agalactiae entre 35 e 37 semanas → causa sepse neonatal → é importante detectar, pois se a pct tiver essa bactéria o bebê vai ter chance de desenvolver essa infecção depois que ele nascer, se a pct for positiva inicia o tratamento com antibiótico durante o parto. NUTRIÇÃO Algumas restrições alimentares... • Peixes, cafeína, carnes cruas, frutas e vegetais não lavadas e produtos não pasteurizados; • Cavala, tubarão, peixe-espada, crustáceos, salmão, atum, bacalhau (alta exposição ao metilmercúrio); Vitaminas e suplementos • Sulfato ferroso 300mg/dia a partir da 16ª semana; • Ácido fólico 400mg/dia, iniciando 3 meses antes da gestação até os 2 primeiros meses; PRINCIPAIS QUEIXAS • Náuseas e vômitos → Hiperêmese Gravídica; • Lombalgia; • Varizes; • Doença Hemorroidária; • Pirose; • Sialorréia; • Pica (desejo por gelo); • Fadiga e sonolência; • Cefaleia; • Leucorréia; IMUNIZAÇÕES • Vacinas a serem realizadas na gestação: • Influenza; • Tétano (dT) etríplice bacteriana (dTpa); • Hepatite B; • Considerações... • Vacinas com vírus vivos atenuados são contraindicadas na gestação (sarampo, caxumba, rubéola, poliomielite e varicela); • Pacientes não imunizadas devem ser vacinadas no puerpério; • Não grávidas que receberam alguma dessas vacinas, devem esperar 28 dias para engravidar; • Influenza No segundo ou terceiro trimestre, na época de maior incidência da gripe; • Hepatite B • Início da gestação • Esquema de doses: 0-30-180 dias • dT e dTpa 4 Imunização na gravidez sem contra-indicações: • Hepatite B, tétano, gripe, difteria Vacinas com indicação restrita: • Hepatite A, meningite C, tríplice bacteriana do adulto Vacinas contra-indicadas: • HPV, sarampo, rubéola, caxumba, varicela, febre amarela • Obs: uma gestante vai viajar para a região norte (endêmica em febre amarela), qual a conduta? Orientar a pct para que ela não vá, pois ela não pode tomar a vacina. Se for realmente preciso que ela viaje a conduta é dar a vacina, pois o risco de ela pegar febre amarela é muito maior do que o risco que a própria vacina oferece. MEDICAMENTOS NA GESTAÇÃO Anticonvulsionantes • 0,3% das gestantes utilizam drogas anticonvulsionantes; • Malformações mais comuns são os efeitos faciais e cardíacos – fatores de risco são doses diárias elevadas e politerapia; • Categoria D: Fenitoína, carbamazepina, ácido valpróico, fenobarbital; • Categoria C: Lamotrigina e topiramato; Anticoagulantes cumarínicos • Heparina de baixo peso molecular (clexane) é segura; • Varfarina é teratogênica; Antibióticos • Categoria D ➢ Tetraciclinas (tetraciclina, doxixiclina, minociclina); • Categoria C ➢ Sulfonamidas (hiperbilirrubinemia próximo ao parto – Kernikterus) e teratogênese no primeiro trimestre; ➢ Aminoglicosídeos (ototoxicidade e nefrotoxicidade) – gentamicina; Inibidores da enzima conversora de angiotensina • Categoria D ➢ Captopril – hipoperfusão fetal, oligoâmnio, restrição de crescimento, membros curtos; • Misoprostol • Categoria X (quando usado no primeiro trimestre) • Sd. De Mobius (paralisia facial congênita com ou sem anomalia nos membros) e alterações no SNC (hidrocefalia); Analgésicos • Categoria B: paracetamol, AINES (evitar após 34 semanas – fechamento precoce do ducto arterioso) e opioides; • Categoria X: derivados de ergotamina (vasoconstritores e apresentam atividade ocitócica); 5 Antieméticos • Categoria B: ciclizina, dimedrinato, meclizina, ondasetrona; • Categoria C: domperidona, prometazina; Anestésicos • Anestesia geral ➢ Atravessam a barreira placentária – alguns são categoria B outros C – postergar os procedimentos para após a gestação, se possível; ➢ Evitar exposição aos gases anestésicos (óxido nitroso); • Anestesia locorregional Analgesia espinhal ou peridural – Categoria B; Hipoglicemiante orais • Metformina – categoria B Anti-hipertensivos • Metildopa (mais indicado) – categoria B • Antagonistas beta-adrenérgicos – pindolol (categoria B), atenolol (categoria D); • Bloqueadores canais de cálcio (BCC) – categoria B – nifedipina, verapamil, aniodipino; • Atenção!!! Não associar nifedipina e sulfato de magnésio, pois a nifedipina pode potencializar a ação bloqueante muscular do sulfato de magnésio; Antifúngicos • Categoria C ➢ Griseofulvina, fluconazol, itraconazol; Diuréticos • Categoria C ➢ Furosemida; • Categoria D ➢ Espironolactona; Antitireoidianos (hipertireoidismo) • Categoria D: Propiltiouracil e Metimazol – droga de escolha é o Propiltiouracil; Agentes tireoidianos (hipotireoidismo) • Categoria A: Levotiroxina; Benzodiazepínicos • Categoria D: Diazepam, alprazolam e clonazepam;