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Nathália Perini Zamprogno Coagulação Entre os fatores de coagulação, a trombina é o mais importante, porque as suas várias atividades enzimáticas controlam diferentes aspectos da hemostasia e ligam a coagulação à inflamação e ao reparo. Entre as atividades mais importantes da trombina estão: • Conversão de fibrinogênio em rede de fibrina (fibrina entrecruzada). A trombina converte diretamente o fibrinogênio solúvel em monômeros de fibrina que se polimerizam em fibrila insolúvel e amplifica o processo da coagulação não somente através da ativação do fator XI, mas também através da ativação de dois cofatores críticos: fator V e fator VIII. A fibrina também estabiliza o tampão hemostático secundário por meio da ativação do fator XIII, que entrecruza covalentemente a fibrina. • Ativação plaquetária. A trombina é um potente indutor da ativação e agregação das plaquetas por causa da sua capacidade de ativar PARs, ligando deste modo a função das plaquetas à coagulação. • Efeitos pró-inflamatórios. Os PARs também são expressos nas células inflamatórias, no endotélio e outros tipos celulares (Fig. 4.9); acredita-se que a ativação destes receptores pela trombina medeia efeitos pró-inflamatórios que contribuem para o reparo dos tecidos e para angiogênese. • Efeitos anticoagulantes. Notavelmente, através de mecanismos descritos mais adiante, ao encontrar o endotélio normal a trombina altera-se de pró-coagulante para anticoagulante; reversão dessa função evita que os coágulos se estendam para além do local da lesão vascular. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151895/epub/OEBPS/Text/B9788535288353000045.xhtml?favre=brett#f0050 Nathália Perini Zamprogno A coagulação normalmente permanece restrita aos locais de lesão vascular por: • Limitação da ativação enzimática às superfícies fosfolipídicas fornecidas pelas plaquetas ativadas ou endotélio. • Circulação de inibidores dos fatores de coagulação, como a antitrombina III, cuja atividade é aumentada por moléculas semelhantes à heparina expressas nas células endoteliais. • Expressão de trombomodulina nas células endoteliais normais que se une à trombina e a converte em anticoagulante. • Ativação das vias fibrinolíticas (p. ex., pela associação de ativador de plasminogênio tecidual com a fibrina). As células endoteliais normais expressam uma gama de fatores que inibem as atividades pró-coagulantes das plaquetas e dos fatores de coagulação e outros que aumentam a fibrinólise. Estes fatores agem em conjunto para evitar a trombose e para limitar a coagulação ao local da lesão vascular. No entanto, se lesionadas ou expostas a fatores pró-inflamatórios, as células endoteliais perdem muitas das suas propriedades antitrombóticas. As propriedades antitrombóticas do endotélio podem ser divididas em atividades direcionadas às plaquetas, aos fatores de coagulação e à fibrinólise. • Efeitos inibidores sobre as plaquetas. Um efeito óbvio do endotélio intacto é servir como uma barreira para as plaquetas em relação ao vWF e o colágeno subendotelial. No entanto, o endotélio normal também libera vários fatores que inibem a ativação e a agregação das plaquetas. Entre os mais importantes estão a prostaciclina (PGI2), o óxido nítrico (NO) e a adenosina difosfatase; esta última degrada o ADP, como já discutido anteriormente, um potente ativador da agregação plaquetária. Por fim, as células endoteliais se ligam e alteram a atividade da trombina, que é um dos mais potentes ativadores de plaquetas. • Efeitos anticoagulantes. O endotélio normal protege os fatores de coagulação do fator tecidual nas paredes dos vasos e expressa muitos fatores que se opõem ativamente à coagulação, mais notavelmente a trombomodulina, o receptor Nathália Perini Zamprogno endotelial de proteína C, moléculas semelhantes à heparina e o inibidor da via do fator tecidual. A trombomodulina e o receptor endotelial de proteína C se ligam à trombina e à proteína C, respectivamente, em um complexo sobre a superfície das células endoteliais. Quando ligada a este complexo, a trombina perde a capacidade de ativar as plaquetas e os fatores de coagulação e, em vez disso, cliva e ativa a proteína C, uma protease dependente de vitamina K que requer um cofator, a proteína S. O complexo proteína C/proteína S ativado é um potente inibidor dos fatores de coagulação Va e VIIIa. As moléculas semelhantes à heparina na superfície do endotélio se ligam e ativam a antitrombina III, que inibe a trombina e os fatores IXa, Xa, Xla, e Xlla. A utilidade clínica da heparina e de outros fármacos relacionados é baseada na sua capacidade de estimular a atividade da antitrombina III. Um inibidor da via do fator tecidual (TFPI), como a proteína C, requer a proteína S como cofator e, como o nome indica, se liga ao complexo fator tecidual/fator VIIa e o inibe. • Efeitos fibrinolíticos. As células endoteliais normais sintetizam t-PA, como já discutido, como um “componente-chave” da via fibrinolítica. Referência: GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR. BARRETT, K.E. et al.