Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Farmacologia Aplicada à Fisioterapia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Roberta Tancredi Francesco dos Santos Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Farmacocinética e Farmacodinâmica • Farmacocinética; • Farmacodinâmica; • Proteínas – Alvo para Ligação dos Fármacos; • Classificação dos Receptores; • Interações Fármaco – Receptor Agonistas e Antagonistas; • Fármacos Antimicrobianos; • Fámacos Anti-Inflamatórios Não Esteroidal (AINEs); • Glicocorticoides. • Descrever os princípios da farmacocinética e farmacodinâmica e diferenciar as principais intera- ções medicamentosas que surgem nas etapas da farmacocinética e da farmacodinâmica; • Introduzir a farmacologia dos antimicrobianos e anti-infl amatórios não esteroidais, bem como os glicocorticoides. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Farmacocinética e Farmacodinâmica Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Farmacocinética e Farmacodinâmica Farmacocinética O conceito de farmacocinética é o percurso, a movimentação que a medicação realiza no corpo humano, ou no organismo que está sendo medicado, e também toda a ação que a droga administrada sofre ao ser absorvida, distribuída e transfor- mada ou biotransformada até o seu processo de eliminação corpórea. Todos os fármacos devem satisfazer certas exigências mínimas para ter efetivi- dade clínica e chegar ao seu local de ação. Um fármaco, para ser bem-sucedido, deve ser capaz de atravessar as barreiras fisiológicas para chegar ao seu tecido alvo ou local de ação. A absorção dos fármacos pode ocorrer por meio de vários mecanismos desen- volvidos para explorar ou romper essas barreiras. Uma vez absorvido, o fármaco utiliza sistemas de distribuição dentro do organismo, como os vasos sanguíneos e os vasos linfáticos, para alcançar o seu órgão-alvo numa concentração apropriada. A capacidade de o fármaco de ter acesso a seu alvo também é limitada por diver- sos processos que ocorrem no paciente e das características do fármaco. Sabe-se que nossas células são todas envolvidas por uma bicamada de fosfoli- pídios e, dessa forma, possuem uma barreira a ser vencida pelo fármaco. Quanto mais lipossolúvel o fármaco é, melhor e mais rápido ele será absorvido. Posteriormente, esses fármacos serão distribuídos e metabolizados. Os proces- sos em relação ao metabolismo são amplamente divididos em duas categorias: o metabolismo, em que o organismo inativa o fármaco por meio de degradação enzi- mática (primariamente no fígado), e a excreção, em que o fármaco é eliminado do corpo (principalmente, pelos rins e pelo fígado, bem como pelas fezes). A parte que fornece essa visão geral dos processos farmacocinéticos de ab- sorção, distribuição, metabolismo e excreção devem permitir aos profissionais de saúde entender a farmacocinética da terapia farmacológica. Fármaco Urina Fezes Tecidos e Órgãos Fármaco Livre Metabólitos Biotransformação Absorção Excreção Distribuição Circulação Sistêmica Figura 1 – Visão geral da farmacocinética dos fármacos 8 9 Absorção dos fármacos Vamos explorar a primeira etapa da farmacocinética, a absorção. Podemos de- fini-la como a passagem de uma substância de seu local de administração para o plasma, na corrente sanguínea. A absorção dos fármacos se dará após a sua administração, que pode ser por di- ferentes vias, tais como via oral, sublingual, inalatória ou tópica. Depois de ingerida a dose do medicamento, ele obrigatoriamente precisa passar a corrente sanguínea. Posteriormente, para que possam atuar, as substâncias precisam atingir uma con- centração adequada nos tecidos alvo. Os princípios básicos de farmacocinética afetam a quantidade de fármaco livre que, finalmente, irá alcançar o tecido alvo. Em qualquer momento, o fármaco livre na circulação sistêmica encontra-se em equilíbrio com os reservatórios teciduais, as proteínas (que habitualmente consiste em receptores); apenas a fração do fármaco que consegue ligar-se a receptores específicos terá um efeito farmacológico. Absorção de fármacos: http://bit.ly/2BYtZ4L Ex pl or Para produzir um efeito em seu alvo, o fármaco precisa ser absorvido e, a seguir, distribuído pelo seu alvo antes de ser metabolizado e excretado. Iremos analisar a seguir as vias de administração que estão intimamente relacionadas ao processo de absorção. As principais vias de administração são: oral, sublingual, retal, aplicação a outras superfícies epiteliais (por exemplo, pele, córnea, vagina e mucosa nasal), inalação, injeção subcutânea – intramuscular, intravenosa, intratecal: • Via oral: em sua maioria, os fármacos são tomados por via oral e deglutidos. É o método mais seguro, mais conveniente, mais econômico, não necessita de ajuda, não é invasiva, e é quase sempre indolor. Ocorre pouca absorção, até que o fármaco alcance o intestino delgado; • Via sublingual: a absorção sob a via sublingual ocorre diretamente a partir da cavidade oral é algumas vezes é útil (contanto que o fármaco não tenha sabor muito ruim) quando existe necessidade de obter uma resposta rápida, particularmente quando o fármaco é instável em pH gástrico ou é rapidamente metabolizado pelo fígado; • Via retal: a administração retal é utilizada quando o paciente apresenta vô- mitos ou se encontra inconsciente. A absorção é mais lenta, irregular e, com frequência, imprevisível. A administração, utilizando supositórios, tem por ob- jetivo deixar o fármaco livre do metabolismo de primeira passagem, no fígado, mas a absorção retal costuma ser irregular e incompleta e muitos fármacos provocam irritação da mucosa retal; 9 UNIDADE Farmacocinética e Farmacodinâmica • Via tópica: administração cutânea é utilizada quando é necessário obter um efeito local na pele (por exemplo, aplicação tópica de esteroides). Entretanto, pode ocorrer absorção apreciável, resultando em efeitos sistêmicos. Em sua maioria, as substâncias são pouco absorvidas através da pele intacta. Todavia, diversos inseticidas organofosforados, que precisam penetrar na cutícula dos insetos para atuar, são absorvidos através da pele, ocorrendo envenenamento acidental em trabalhadores agrícolas; • Administração transdérmica: em que o fármaco éincorporado a um patch com fita adesiva aplicada a uma área de pele fina. Está sendo utilizadas cada vez mais, e vários fármacos já estão disponíveis nessa forma, como, por exem- plo, estrogênio para reposição hormonal. Esses patches produzem uma taxa constante de suprimento do fármaco e evitam o metabolismo pré-sistêmico. Todavia, o método só é apropriado para fármacos lipossolúveis, e essas formas são de custo relativamente alto; • Via inalatória: administração por inalação: a inalação constitui a via utilizada para anestésicos voláteis e gasosos, em que o pulmão serve como via tanto de administração quanto de eliminação. A rápida troca resultante da grande área de superfície e do fluxo sanguíneo permite a obtenção de rápidos ajustes na con- centração plasmática. Os fármacos utilizados pelos seus efeitos sobre os pulmões também são administrados por inalação, geralmente na forma de aerossol; • Via subcutânea: a via subcutânea pode ser aplicada soluções na pele, com in- jeções de pequeno calibre. Possui as vantagens de absorção lenta e contínua e a desvantagem de pouca vascularização. Por exemplo: a insulina em pacientes diabéticos que usam o hormônio peptídico gastrossensível; • Via intramuscular: são injeções intramusculares (IM). Possui alta vasculariza- ção e permite soluções aquosas e emulsões. Não sofre metabolismo 1ª passa- gem; porém as desvantagens são dor, desconforto pós aplicação, lesão/hema- toma reação alérgica e abcessos, para finalizar; • Vias de administração temos a via intravenosa (i.v.)/endovenosa (e.v.): podem ser aplicadas somente soluções diretamente na corrente sanguínea. Di- zemos que não sofre absorção por já cair diretamente na corrente sanguínea. As vantagens: administração de grandes volumes, a concentração plasmática imediata (efeito imediato) e o fármaco não sofrem metabolismo 1ª passagem (100% biodisponível). As desvantagens incluem incômodo, somente soluções aquosas, necessidade de colaboração e o risco de sobredosagem e trombose. Distribuição dos fármacos no corpo A distribuição dos fármacos é a passagem que ocorre na corrente sanguínea para líquido intersticial e intracelular. Os principais compartimentos são: • O plasma (5% do peso corporal); • O líquido intersticial (16%); 10 11 • O líquido intracelular (35%); • O líquido transcelular (2%); • A gordura (20%). No interior de cada um desses compartimentos aquosos, as moléculas de subs- tância encontram-se, habitualmente, em solução livre e na forma ligada. A distribuição pode ser afetada por vários fatores fisiológicos e pelas proprieda- des físico-químicas do princípio ativo. Isso ocorre porque substâncias menos lipos- solúveis têm mais dificuldade de atravessar as membranas biológicas. Podemos observar, na figura a seguir, as vias de administração, os compartimen- tos de absorção e a distribuição dos fármacos. Urina Fezes Leite, Suor Ar expiradoInalação Intratecal Intramuscular Intravenosa Percutânea Oral ou retal Sistema porta Bile Metabólitos PLASMA Intestino Pele Cérebro Líquor Pulmão Feto Placenta Figado Rins Mama, glândulas sudoriparas Músculo Administração Absorção e distribuição Eliminação Figura 2 – Absorção por meio das vias de administração e a distribuição dos fármacos em diferentes locais no organismo Note que a administração por via intravenosa é 100% biodisponível. Metabolização dos fármacos Após os eventos de absorção e distribuição dos fármacos, eles irão ser metabo- lizados por meio de reações enzimáticas. A metabolização pode ser denominada, também, como biotransformação e é compreendida como a fase I e fase II. 11 UNIDADE Farmacocinética e Farmacodinâmica Temos de considerar que os fármacos são substâncias estranhas ao nosso orga- nismo, denominados xenobióticos, e a metabolização ocorrerá a fim de facilitar a sua excreção. Assim, os rins, o trato gastrintestinal, os pulmões, a pele e outros órgãos con- tribuem para o metabolismo sistêmico dos fármacos. Entretanto, o fígado é que contém a maior diversidade e quantidade de enzimas metabólicas, de modo que a maior parte do metabolismo dos fármacos ocorre nesse órgão. A capacidade do fígado de modificar, aumentando sua hidrofilicidade e facili- tando a sua excreção. Em geral, os fármacos altamente lipofílicos podem penetrar mais facilmente nas células (inclusive nos hepatócitos). Em consequência, o fígado metaboliza, preferencialmente, os fármacos hidrofóbicos. As enzimas hepáticas têm a propriedade de modificar quimicamente uma varie- dade de substituintes nas moléculas dos fármacos, tornando-os inativos ou facilitan- do a sua eliminação. Essas modificações são designadas, em seu conjunto, como biotransformação. As reações de biotransformação são classificadas em dois tipos: as reações de oxidação/redução e as reações de conjugação/hidrólise. Resumidamente, a metabolização, denominada biotransformação dos fármacos, pode alterá-los de quatro maneiras importantes: • Um fármaco ativo pode ser convertido em fármaco inativo; • Um fármaco ativo pode ser convertido em um metabólito ativo ou tóxico; • Um pró-fármaco inativo pode ser convertido em fármaco ativo; • Um fármaco não excretável pode ser convertido em metabólito passível de excreção (por exemplo, aumentando a depuração renal ou biliar). Excreção dos fármacos A eliminação de substâncias, que consiste na sua perda irreversível do corpo, ocorre por meio da excreção. Após a etapa do metabolismo, que envolve a conver- são enzimática de uma entidade química em outra, os fármacos tendem a tornar-se mais hidrossolúvel e serem excretados pelo organismo. As principais vias das quais as substâncias e seus metabólitos são removidos do corpo são: os rins, o sistema hepatobiliar e os pulmões (importantes para anestési- cos voláteis/ gasosos). As substâncias são, em sua maioria, removidas do corpo através da urina. Algumas substâncias são secretadas na bile através do fígado, porém a maioria é, então, reabsorvida a partir do intestino. A excreção através dos pulmões só ocorre com agentes altamente voláteis ou gasosos (por exemplo, anestésicos gerais). 12 13 Pequenas quantidades de algumas substâncias também são excretadas em se- creções, como o leite ou o suor. A eliminação por essas vias é quantitativamente desprezível quando comparada com a excreção renal, embora a excreção no leite possa ser algumas vezes importante, devido a seus efeitos sobre o lactente. Farmacodinâmica Farmacodinâmica (do grego pharmakon, “remédio” e dýnamis, forças) é o ramo da farmacologia, que estuda a interação dos fármacos nos tecidos alvos, especifi- camente em nível celular e seus mecanismos de ação e a relação com os efeitos fisiológicos desejados. De acordo com os princípios básicos da farmacologia, as moléculas de um fár- maco devem exercer alguma influência química em um ou mais constituintes das células para produzir uma resposta farmacológica. Para que isso ocorra, é necessário que as moléculas dos fármacos fiquem bem próximas a essas moléculas celulares, a ponto de alterar a sua função. Segundo Paul Ehrlich, a ação de uma substância deve ser entendida em termos de interações químicas convencionais entre substância e tecidos (RANG, 2012). Ele refutou a ideia de que a notável potência e especificidade de ação de alguns fármacos os colocam, de certo modo, fora do alcance da Química e da Física, exi- gindo a intervenção de “forças vitais” mágicas. Naturalmente, as moléculas, no organismo, excedem notavelmente o número de moléculas de um fármaco, e se as moléculas do fármaco fossem distribuídas de modo aleatório, a probabilidade de interação com qualquer classe particular de molécula celular seria desprezível. Por conseguinte, os efeitos farmacológicos exigem, em geral, uma distribuição não uniforme das moléculas do fármaco no organismo ou tecido, e isso quer dizer, em outras palavras, que as moléculas do fármaco devem estar “ligadas” a consti- tuintes específicos das células e dos tecidospara produzir algum efeito. Em 1914, Ehrlich, resumiu tudo isso da seguinte maneira: “Corpora non agunt nisi fixata” (nesse contexto, “uma substância não irá funcionar, a não ser que esteja ligada”) (RANG, 2012). A elucidação da natureza desses sítios de ligação, bem como a compreensão dos mecanismos pelos quais a associação da molécula do fármaco a um sítio de ligação resulta em uma resposta fisiológica, constitui a principal meta da farmacodinâmica. Em geral, os fármacos são moléculas que interagem com componentes molecu- lares específicos de um organismo, produzindo alterações bioquímicas e fisiológicas dentro desse organismo. 13 UNIDADE Farmacocinética e Farmacodinâmica Proteínas – Alvo para Ligação dos Fármacos Existem locais na célula que possuem atrações específicas para as ações farma- cológicas dos diferentes fármacos descobertos ou desenvolvidos. As quatro proteínas reguladoras que estão comumente envolvidas como alvos primários de fármacos são as enzimas, as moléculas transportadoras, as que formam os canais de íons e os receptores de membrana. Os receptores são aquelas macromoléculas proteicas localizadas na membrana plasmática responsáveis por receber sinais e enviar para a mesma célula. A figura a seguir ilustra alguns locais de ação dos fármacos: Figura 3 – Representação das quatro principais interações entre Fármaco e Receptor Fonte: GOLAN, 2009 A: Canal iônico, B: receptores transmembrana; em C: enzimas e em D: receptores intracelulares. Classificação dos Receptores Existem diferentes tipos de receptores acoplados nas membranas plasmáticas e também no interior das células. Os receptores induzem muitos tipos diferentes de efeitos celulares. Alguns deles são muito rápidos, como aqueles envolvidos na transmissão sináptica, que operam dentro de milissegundos, enquanto outros efeitos mediados por receptores, como aqueles produzidos pelo hormônio tireoideo ou por vários hormônios esteroides, ocorrem dentro de várias horas ou dias. Com base na estrutura molecular e na natureza dessa ligação (o mecanismo de transdução), podemos distinguir quatro tipos ou superfamílias de receptores, apre- sentados a seguir. 14 15 Tipo 1 – Canais iônicos regulados por ligantes Os canais iônicos regulados por ligantes são também conhecidos como recep- tores ionotrópicos. Tipicamente, são os receptores sobre os quais atuam os neuro- transmissores rápidos. Os exemplos incluem o receptor nicotínico de acetilcolina, o receptor GABAA (inibitório) e os receptores de glutamato dos tipos NMDA (N-metil-D-aspartato). Tipo 2 – Receptores acoplados à proteína G Os receptores acoplados à proteína G (GPCRs) são também conhecidos como receptores metabotrópicos. Trata-se de receptores de membrana que estão acopla- dos a sistemas efetores intracelulares por meio de uma proteína G, que ativam a sinalização intracelular com a presença de segundos mensageiros no interior das células. Constituem a maior família e incluem receptores para muitos hormônios e transmissores lentos, como, por exemplo, o receptor muscarínico de acetilcolina e os receptores adrenérgicos. Tipo 3 – Receptores ligados à quinase e receptores relacionados Existe um grande grupo heterogêneo de receptores de membrana que respon- dem a mediadores proteicos. Os receptores do tipo 3 incluem os receptores da insulina e de várias citocinas e fatores de crescimento. Tipo 4 – Receptores nucleares Os receptores nucleares regulam a transcrição de genes. O termo receptor nu- clear é um tanto incorreto, visto que alguns se localizam, na realidade, no citosol e migram para o compartimento nuclear na presença de ligante. Incluem os recepto- res dos hormônios esteroides, do hormônio tireoideo e de outros agentes, como o ácido retinoico e a vitamina D. Interações Fármaco – Receptor Agonistas e Antagonistas As principais relações farmacodinâmicas entre fármacos e seus alvos são aquelas que mimetizam (imitam) um ligante endógeno, denominados agonistas ou fármacos que bloqueiam denominados antagonistas. Os agonistas são moléculas que, através de sua ligação a seus alvos, produzem uma alteração na atividade desses alvos de maneira a produzir um sinal que produ- zirá uma resposta semelhante ao ligante endógeno. 15 UNIDADE Farmacocinética e Farmacodinâmica Figura 4 – Representação da interação fármaco e receptor Fonte: RANG e DALE, 2012 Os antagonistas podem ser categorizados com base na sua ligação a um sítio do receptor para o agonista (antagonistas dos receptores) ou interrupção da sinalização do complexo agonista-receptor por outros meios (antagonistas sem receptores). Quando o antagonista compete com o ligante por sua ligação ao sítio agonista, é denominado antagonista competitivo. A presença de altas concentrações do ago- nista pode superar o antagonismo competitivo. Já no caso dos antagonistas não competitivos, agem em sítio alostérico e ligam- -se ao receptor em um local distinto do sítio agonista. Não competem diretamente com o agonista pela ligação ao receptor. Características gerais dos fármacos, agonista e antagonista. Disponível em: https://youtu.be/l8KrF05SluAE xp lo r Fármacos Antimicrobianos As bactérias são organismos procarióticos que, frequentemente, contêm alvos exclusivos para a intervenção farmacológica. Os fármacos atualmente disponíveis interrompem a replicação e o reparo do DNA bacteriano, a transcrição, a tradução e a síntese da parede celular. Dependendo do papel do alvo do fármaco na fisiologia bacteriana, os agentes antibacterianos podem produzir efeitos bacteriostáticos ou bactericidas. Os fárma- cos que inibem o crescimento do patógeno sem causar a sua morte são denomina- dos bacteriostáticos. 16 17 Esses fármacos são dirigidos contra alvos de vias metabólicas necessárias para o crescimento das bactérias, mas não para a sua sobrevida. Em contrapartida, os fármacos bactericidas matam as bactérias e impedem seu crescimento. As sulfas são antimetabólitos inibidores do metabolismo do folato. Os inibidores do metabolismo do folato se assemelham estruturalmente ao substrato fisiológico da enzima atuam como inibidores enzimáticos. As bactérias são incapazes de obter o ácido fólico do meio ambiente e, portanto, precisam sintetizá-la. Em contrapartida, nossas células utilizam receptores e carrea- dores de folato na membrana plasmática para adquirir a vitamina intacta. Essa diferença metabólica fundamental entre patógenos e células do hospedeiro faz com que a enzima seja um alvo ideal para terapia antibacteriana. As sulfas, como o sulfametoxazol e a sulfadiazina, são análogos do PABA, que inibem competitivamente a enzima diidropteroato sintase, impedindo, assim, a sín- tese de ácido fólico nas bactérias. Por sua vez, a ausência de ácido fólico impede a síntese bacteriana de purinas, pirimidinas e alguns aminoácidos, resultando, finalmente, na interrupção do cres- cimento bacteriano. As sulfas são agentes bacteriostáticos, vez que impedem o crescimento bacteriano, mas não matam as bactérias. Outro grupo importante são os antibióticos beta-lactâmicos que atuam impedin- do a formação da parede celular bacteriana, como o grupo das penicilinas, amoxi- cilinas e cefalosporinas. Em 1928, Alexander Fleming fez uma descoberta casual que iria revolucionar o tratamento das infecções bacterianas. Essa descoberta foi a penicilina, o primeiro de uma longa lista de antibióticos que atuam por meio da inibição da síntese da parede celular bacteriana. As propriedades químicas e estruturais peculiares da pa- rede celular fizeram dela um alvo atraente e proeminente da quimioterapia antibac- teriana. Entretanto, o aparecimento e a disseminação da resistência a antibióticos complicam cada vez mais o uso clínico de inibidores da síntese da parede celular. Conceitos gerais: bases teóricas e uso clínico. Disponível em: http://bit.ly/2pyXyHv Ex pl or Fámacos Anti-Inflamatórios Não Esteroidal (AINEs) A reação inflamatória está presente em quase todas as lesões produzidasno or- ganismo humano. As manifestações clínicas ou os sinais do processo inflamatório são: CALOR, RUBOR (eritema/avermelhamento), EDEMA (inchaço), DOR e PER- DA DA FUNÇÃO (limitação funcional). 17 UNIDADE Farmacocinética e Farmacodinâmica Fisiologicamente, podemos explicar o processo inflamatório lembrando que, quando uma célula sofre lesão, o fosfolipídio de membrana metabolizado pela enzima fosfolipase A2 resulta em ácido araquidônico e dá inicio a uma cascata de reações. Por sua vez, o ácido araquidônico pode ser metabolizado pelas enzimas ciclo- xigenases (COX1 e COX 2), originando os prostanoides (as prostaglandinas que são, em sua maioria, vasodilatadoras e os tromboxanos (TXA2) que possui ação trombótica e vasoconstritora. Os AINEs têm três efeitos principais: analgésico, antipiréticos e anti-inflama- tórios. Esses três efeitos são altamente vantajosos no cenário clínico, já que muitos pacientes são acometidos por um ou mais desses sintomas. Por esse motivo, os AINEs são usados em condições como cefaleia e enxaqueca, condições artríticas inflamatórias (espondilite anquilosante, artrite psoriática), dor pós-operatória, dor nas costas e gota – entre muitos outros. O mecanismo de ação dos AINEs compartilha um modo de ação comum, que envolve a inibição das enzimas COX. A inibição da COX é vital, são as enzimas COX responsáveis pela geração de prostanoides – substâncias que consistem em três componentes principais: • Prostaglandinas: Responsáveis por reações inflamatórias; • Prostaciclinas: Ativas na fase de resolução da inflamação; • Tromboxanos: Mediadores da vasoconstrição. É importante lembrar que o efeito terapêutico dos AINEs não depende apenas do AINE escolhido, mas também da dose em que o AINE é administrado. Tanto os efeitos terapêuticos quanto os efeitos adversos dos AINES são media- dos pela inibição da produção de prostaglandinas, conseguida por meio da inibição da COX. Quanto aos efeitos terapêuticos dos AINEs, são 3 os principais: • Efeito anti-inflamatório: diminuição da produção de prostaglandinas deriva- das da COX-2, levando à diminuição da vasodilatação, edema e dor; • Efeito analgésico: diminuição da dor (principalmente a inflamatória), diminui- ção de prostaglandinas que sensibilizam nociceptores da DOR (PGE2 e PGI2); • Efeito antipirético: reduz a temperatura corporal patologicamente elevada, e tem como mecanismo de ação a inibição da produção das prostaglandinas PGE2, produzida a partir de IL-1, no hipotálamo. Em relação aos efeitos adversos, eles variam do leve e moderado ao grave e absolutamente perigoso. Os AINEs devem ser usados com cautela, por exemplo, em pacientes com his- tória de problemas gastrointestinais e em pacientes que sofrem de síndrome do intestino irritável. 18 19 Isso ocorre porque os AINEs estão associados a um risco aumentado de sangra- mento gastrointestinal e formação de úlcera. A irritação gástrica é mediada pela inibição da COX-1, que inibe a síntese de prostaglandinas que atuam na produção de muco, atuando como protetores gástricos. Os AINEs dividem-se em NÃO-SELETIVOS (inibem as 2 isoformas da COX, ou seja, COX-1 e COX2) e SELETIVOS para COX-2. Inibidores Não Seletivos da Cox (AINE – anti-inflamatório não esteroidal) Geralmente, bloqueiam as duas isoformas da COX em diferentes graus e rever- sivelmente. São eles: • Os salicilatos (Ácido acetilsalicílico-AAS), ao contrário dos outros AINES pro- move a inibição irreversível das COX, sendo necessário fabricar novas enzimas; • Derivados do ácido propiônico: ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno, flurbi- profeno. O ibuprofeno é analgésico potente usado no tratamento de artrites e o naproxeno é 20 vezes mais potente que o AAS e causa menos efeitos adversos gastrointestinais; • Derivados do ácido acético: indometacina, sulindaco e etodolaco (indolacéticos); diclofenaco e cetocoralaco (fenilacéticos). Muito utilizados em distúrbios musculo- esqueléticos e artrites. O cetocoralaco tem propriedades analgésicas fortes; • Derivados do oxicam: piroxicam. É tão eficaz quanto AAS, naproxeno e ou- tros, mas é mais bem tolerado, além de ter ação longa, podendo ser utilizado uma vez ao dia; • Derivados das sulfonanilidas: nimesulida. Causa pouca inibição sobre a COX1; e, por fim, • Paracetamol (acetaminofeno): tecnicamente não é um AINE. Tem efeitos anal- gésicos e antipiréticos, mas efeito insignificante como anti-inflamatório. Produz um metabólito tóxico quando metabolizado pelas enzimas do citocromo P450 no fígado, que normalmente é neutralizado pela glutationa, ou seja, é poten- cialmente hepatotóxico. Intoxicações por paracetamol podem ser tratadas com N-acetilsisteína. Inibidores da COX-2 Celecoxibe, Meloxicam, Etoricoxibe. Inibem aproximadamente 100 vezes mais a COX2 do que a COX1. Possuem as mesmas propriedades anti-inflamatórias dos AINEs, porém sem o efeito de inibição plaquetária. Como Funcionan Los Aines: https://youtu.be/_X_KuRWnPZY Ex pl or 19 UNIDADE Farmacocinética e Farmacodinâmica Glicocorticoides Os glicocorticoides são hormônios esteroides, sintetizados no córtex da glândula adrenal, que afetam o metabolismo dos carboidratos e reduzem a resposta inflama- tória. A sua síntese e liberação ocorrem naturalmente pelo organismo, de acordo com sua necessidade, sob influência do ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). A concentração de corticosteroides endógenos (cortisol, cortisona e corticoste- rona) na corrente circulatória apresenta-se elevada, pela manhã, e baixa, à noite, sendo que fatores psicológicos e certos estímulos, como excesso de calor ou frio, lesões ou infecções, podem afetar a liberação destes glicocorticoides. Hoje em dia, há um grande número de corticoides sintéticos (cortisona, hidro- cortisona, betametasona, dexametasona, prednisona, prednisolona, metilpredini- solona, triancinolona, por exemplo). As formas farmacêuticas são as mais variados preparados farmacológicos (cre- mes, pomadas, drágeas, comprimidos, colírios, preparados injetáveis e para ina- lação etc.) para serem usados pelas mais diferentes vias (tópica, oral, inalatória, intramuscular, endovenosa). Medicamentos contendo glicocorticoides são utilizados na terapêutica, com va- riadas finalidades. Isso inclui, principalmente, terapia de reposição hormonal (em caso de problemas no córtex suprarrenal), terapias de imunossupressão, terapia an- tialérgica e anti-inflamatória. Nos tratamentos anticâncer, os glicocorticoides tam- bém têm sido muito utilizados, principalmente, associados a outros medicamentos. O emprego dos glicocorticoides na terapêutica deve-se, principalmente, ao fato de eles apresentarem poderosos efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores. Eles inibem manifestações tanto iniciais quanto tardias da inflamação, isto é, não apenas a vermelhidão, o calor, a dor e o edema iniciais, mas também os estágios posteriores de cicatrização e reparo de feridas e reações proliferativas observadas na inflamação crônica. Esses fármacos têm atividade sobre todos os tipos de reações inflamatórias, sejam elas causadas por patógenos invasores, por estímulos químicos ou físicos ou por respostas imunes inadequadamente desencadeadas, como as observadas na hipersensibilidade ou na doença autoimune. 20 21 Infelizmente, são inúmeros os efeitos colaterais dos glicocorticoides, especial- mente, quando utilizados em altas doses e por tempo prolongado. Podemos citar osteoporose, catarata, pressão alta, hiperglicemia e Síndrome de Cushing. Embora a corticoterapia seja a modalidade terapêutica mais efetiva para o tratamento de inúmeras doenças, o entusiasmo pelo seu uso tem sido superado pelo receio dos efeitos colaterais sistêmicos ocasionados por essas drogas. Esse fato tem levado muitos profissionais a optarem por outras terapias, especialmente em crianças. Durante o tratamento em longo prazo com os glicocorticoides, devemos ficar atentos para as possíveis perdas de massa óssea, as quais poderão predispor esses pacientesa fraturas frequentes. São importantes a monitorização anual da densidade mineral óssea bem como a administração de cálcio e vitamina D concomitantes. O crescimento longitudinal dessas crianças também poderá ser bastante comprometido e devemos, na medida do possível, utilizar todos os recursos para minimizá-lo, como dose única matinal, menor tempo de tratamento, associação de outras medicações ou mesmo da pulso- terapia com metilprednisolona para o controle da doença, no sentido de podermos reduzir ou retirar o glicocorticoides oral, especialmente, durante a puberdade. A menor ingestão de sódio e uma dieta adequada poderão ser úteis no controle da pressão arterial, das estrias cutâneas e da hipercolesterolemia. A avaliação oftalmológi- ca pelo risco de catarata subcapsular ou glaucoma e da glicemia deverá ser lembrada. É importante que no início do tratamento de crianças com doença reumática haja um esclarecimento para a família e para o próprio paciente, muitas vezes ado- lescente, sobre a possibilidade de efeitos colaterais indesejáveis, como evitá-los ou reduzi-los, ressaltando seus benefícios e a necessidade do mesmo, pois em muitos casos a sobrevida e a qualidade de vida dependerão dele. Um dos efeitos adversos com o uso prolongado dos glicocorticoides é a Síndrome de Cushing. Caracterizada por ser uma doença provocada pela alta concentração no corpo de hormônio cortisol, conhecido também como o hormônio do estresse. Os sintomas são as estrias vermelhas, abdômen em pêndulo, face em forma de lua, bochechas vermelhas entre outros. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 50 mil pessoas vivem com essa doença atualmente. 21 UNIDADE Farmacocinética e Farmacodinâmica Figura 5 – Sintomas da Síndrome de Cushing Fonte: Núcleo de Estudos em Acromegalia e Doenças Relacionadas do Norte-Nordeste Brasileiro, 2010 Para finalizar, gostaríamos de lembrar que os glicocorticoides só deverão ser indicados para os pacientes com diagnóstico definido. Nos casos duvidosos, seu uso não deve ser preconizado para não mascarar doenças graves, dificultando seu diagnóstico e terapêutica precoces, como nos casos de leucoses e infecções, colo- cando em risco a vida do paciente. ANTI, S. M. A; GIORGI, R. D. N; CHAHADE, W. H. Antiinflamatórios hormonais: glicocorticóides. Einstein, v. 6, n. 1, p. 159-165, 2008. Disponível em: http://bit.ly/2JHTGLfEx pl or 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Farmacocinética – Absorção, Distribuição, Metabolismo e Excreção (ADME) https://youtu.be/j688ggKizjA Proteína G https://youtu.be/-GksBJvKf14 Leitura Farmacocinética: Conceitos básicos aplicados à medicina veterinária HIRANO, L. Q. L.. Farmacocinética: Conceitos básicos aplicados à medicina veterinária. 2011. http://bit.ly/2JDsH3C Receptores farmacológicos: revisão bibliográfica OLIVEIRA, M. W. X. de. Receptores farmacológicos: revisão bibliográfica. 2012. http://bit.ly/2N6Gv8Y 23 UNIDADE Farmacocinética e Farmacodinâmica Referências FONTES, O. L. (ed.). Farmácia homeopática: teoria e prática. Barueri: Manole, 2013. (e-book) FRANCO, A.; KRIEGER, J. E. Manual de Farmacologia. São Paulo: Manole, 2016. (e-book) FUCHS, F. D; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. (e-book) GOODMAN, L. S.; BRUNTON, L. L.; HARDMAN, J. G. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12.ed. Nova Iorque: Mcgraw-Hill. 2012. GOLAN, D. E. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacoterapia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. HILAL-DANDAN, R. BRUNTON, L. Manual de Farmacologia e Terapêutica de Goodman & Gilman. 2.ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. (e-book) LEVINSON, W. Microbiologia médica e imunologia. 13.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2016. PANUS, P. C. et. al. Farmacologia para Fisioterapeutas. Porto Alegre: AMGH, 2011. (e-book) RANG, H. P. et. al. Farmacologia. 7.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. WHALEN, K.; FINKELl, R.; PANAVELIL, T, A. Farmacologia Ilustrada. 6.ed. ArtMed, 2016. (e-book) 24
Compartilhar