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Racismo algorítmico em plataformas digitais: microagressões e discriminação em código foto: suyane Ynaya (instagram) Tarcízio Silva Não tem consenso entre os autores sobre o impacto da internet nos grupos identitário; Mas estes já apontam que os processos da construção das tecnologias digitais de comunicação e da ideologia do Vale do Silício são racializadas, fundamentado na lógica da supremacia branca. O foco em casos pontuais de práticas ou modalidades específicas e explícitas de discurso racista só abarcam parte da questão, pois o racismo nas tecnologias digitais está, muitas vezes, em processos “invisíveis” nos recursos automatizados como recomendação de conteúdo, reconhecimento facial e processamento de imagens. Racismo Algorítmico em Plataformas Digitais ...O racismo online é um “sistema de práticas contra pessoas racializadas que privilegiam e mantem poder político, econômico e cultural para os brancos no espaço digital” Tynes, Lozada, Smith & Stewart, 2019, p.195 Através da “plataformização” uma espécie de integração que priorizou a concentração de dados e valor – inclusive financeiro – em poucas empresas. Que permitiu o investimento estratégico contínuo de análise e otimização fluxos de monetização da audiência, publicidade e comportamento de seus usuários. Apesar de manter no discurso ideais de liberdade e horizontalização das relações, a plataformização da comunicação e economia significa concentração internacional de fluxos de dados e capital. Plataformização, algoritmos e raça online “uma sequência finita de instruções precisas que são implementáveis em sistemas de computação” Osoba & Welser IV, 2017, p.5 Os sistemas algorítmicos tomam decisões pelas pessoas cada vez mais frequente e automatizada, muitas vezes sem os usuários perceberem, decisões que vinham da reflexão humana. Estas decisões impactam em diferentes níveis, podendo influenciar o comportamento e condutas de seus usuários de forma silenciosa, na maioria dos casos que perpetuam as relações de poder e opressão existentes na sociedade. Este é um dos grandes desafios e problemas da lógica do aprendizado de máquina. Presente na forma como historicamente os processos algorítmicos foram sendo constituídos que resultaram no enviesado de sistemas que intensificam discriminações e opressões. Os algoritmos foram feitos por pessoas, que mesmo de maneira inconsciente, os enviesaram e por isso tem responsabilidade nisso. Pensando na sutileza das algorítmicas o texto trata das “microagressões” digitais para o estudo do racismo algorítmico. Os casos de racismo algorítmico aparecem à medida que são gerados relatórios, reportagens e guias de auditoria e ação sobre aspectos discriminatórios em diversos dispositivos midiáticos como análise de recomendação de conteúdo, anúncios, reconhecimento facial e visão computacional, buscadores. Racismo como sistema sociopolítico global O conceito de microagressão é do psiquiatra Chester Pierce (1969;1970) ...que afirma que aparatos da educação e mídia criam um ambiente que tem ações ofensivas sutis, violentas (não fisicamente) e que seus efeitos só podem ser percebidos se considerar o processo contínuo. As microagressões raciais são “ofensas verbais, comportamentais e ambientais comuns, sejam intencionais ou não intencionais, que comunicam desrespeito e insultos hostis, depreciativos ou negativos contra pessoas de cor” (Sue, 2010a, p. 29). microinsultos mensagens rudez, insensíveis, que desprezam a herança racial de um indivíduo; microinvalidações mensagens que excluem, negam ou anulam as reflexões psicológicas, sentimentos ou realidades experienciais microataques mensagens com ataque violento verbal, não-verbal ou violento com intenção de machucar a vítima. Existem três tipos de microagressões (SUE, 2010a, p.29): Suposição de Criminalidade Este é o mais conhecido no Brasil, principalmente na forma presencial, trata de supor que uma pessoa racializada tem mais chance de ser criminosa por causa de sua raça. Negação de Realidades Raciais / Democracia Racial Outro tipo de microagressão comum na realidade brasileira, a defesa equivocada – talvez estratégica para a branquitude – que é ideia de “democracia racial”. Patologização de Valores Culturais Considerar manifestações, como as religiões afrobrasileiras e africana, a beira de patologias. Suposição de Inferioridade Intelectual Especialmente relevante no contexto educacional, onde a distribuição de oportunidades, reprimendas ou atenção por agentes educacionais não é igualitária. Também ocorrem no ambiente de trabalho. Exotização A patologização se une com a exotização das populações racializadas, nas opressões interseccionais. Por exemplo, a exotização de mulheres racializadas soma-se à misoginia o que resultam em hipersexualização. Estrangeiro na Própria Terra / Negação de Cidadania Os grupos minorizados quantitativamente, são não são considerados cidadãos efetivos da seu próprio local de origem, acontece com os povos indígenas. Exclusão ou Isolamento Comportamentos que geram exclusão ou isolamento dos indivíduos racializados, de modo a não se sentirem pertencentes de um determinado grupo nas relações interpessoais, educacionais ou laborais. Suposição de Criminalidade Sistema do Google permite empresas exibirem anúncios sobre crime especifica- mente a afroamericanos (Sweeney, 2013) Ca so s d e r ac ism o a lgo rít mi co Negação de Cidadania Google Photos marca fotos de jovens negros com a tag “Gorila” Negação de Realidades Raciais Facebook esconde manifestações contra violência policial racista (Tufekci, 2014) Microinsulto Microinvalidação Micoinsulto OPRESSÕES ALGORÍTMICAS COMO MICROAGRESSÕES A capacidade de editorialização dos algoritmos e interfaces das plataformas geram ou moldam informação e desinformação. O grupo minorizadose depara com esta incoerência na cobertura e citação dos temas que os afetam. A forma como as decisão algorítmica de visibilidade e invisibilidade e a maneira como buscadores selecionam resultados não é apresentado de maneira transparente. Os tecnoliberais argumentam que os resultados apenas refletem a produção disponibilizada na internet. Noble para os perigos da hipervisibilidade negativa, hipersexualizada e a invisibilidade nos resultados de exemplos positivos como “família” ou “bebês”, no caso dos bancos de imagens, pode causar um efeito em cascata Nomeando, identificando e reagindo “proteções contra microagressões ou racismo encoberto são mais elusivas, uma vez que é frequentemente difícil detectar e abordar as microagressões devido a sua natureza intricada e insidiosa" Levchak, 2018, p.15 conhecimento intelectual de como o racismo opera em algoritmos, plataformas e afins; inteligência emocional para agir em situações racialmente problemáticas em organizações;* compromisso de tomada de ações para deduzir o dano a comunidades. Para os grupos minorizados, a identificação das microagressões e suas taxonomias podem ajudar “a ‘nomear suas dores” e engajar-se em estratégias anti-opressivas; Daniels, Nkonde e Mir (2019) apontam três fundamentos essenciais para a compreensão midiática sobre a relação entre raça e tecnologia: Uma perspectiva tanto interdisciplinar quanto interinstitucional de atuação e reflexão sobre os algoritmos é urgente. Nomeando, identificando e reagindo
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