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1 PRÁTICAS MULTIPROFISSIONAIS EM NEUROCIÊNCIA APLICADA A EDUCAÇÃO 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Sumário PRÁTICAS MULTIPROFISSIONAIS EM NEUROCIÊNCIA APLICADA A EDUCAÇÃO ....................................................................................................... 1 NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 O NEUROPSICOPEDAGOGO NA EDUCAÇÃO BÁSICA ....................... 4 CONSIDERAÇÕES ................................................................................. 8 PRÁTICA NEUROPSICOPEDAGÓGICA INSTITUCIONAL .................. 10 INTRODUÇÃO ................................................................................... 10 HISTÓRICO DA NEUROPSICOPEDAGOGIA NO BRASIL .................. 11 NEUROPSICOPEDAGOGIA: CONCEITO E ATUAÇÃO ....................... 13 DIFICULDADES E TRANSTORNOS ESCOLARES .............................. 16 A INCLUSÃO ESCOLAR ....................................................................... 18 O DESAFIO DA ESCOLA/PROFESSOR COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM ............................................................................................. 20 O NEUROPSICOPEDAGOGO NO AMBIENTE ESCOLAR .................. 23 EXEMPLO DE ATUAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO ..................................................................................................... 28 Método ................................................................................................... 31 Instrumento ............................................................................................ 31 Procedimentos ....................................................................................... 32 Resultados ............................................................................................. 33 Discussão .............................................................................................. 34 NEUROPSICOPEDAGOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM ................................................................. 37 Referências ........................................................................................... 39 file:///C:/Users/LUCAS/Downloads/PRATICAS%20MULTIPROFISSIONAIS%20EM%20NEUROCIENCIA%20APLICADA%20A%20EDUCAÇÃO.docx%23_Toc74506864 file:///C:/Users/LUCAS/Downloads/PRATICAS%20MULTIPROFISSIONAIS%20EM%20NEUROCIENCIA%20APLICADA%20A%20EDUCAÇÃO.docx%23_Toc74506864 4 O NEUROPSICOPEDAGOGO NA EDUCAÇÃO BÁSICA O neuropsicopedagogo é um especialista da união da neurociência, psicologia e pedagogia, que busca compreender o funcionamento do cérebro, além de adaptar às melhores metodologias educacionais aos indivíduos com sintomas cognitivas e emocionais debilitados. De antemão, esse profissional, deve conhecer as anomalias neurológicas para desenvolver um papel de acompanhamento pedagógico as pessoas que apresentem essas sintomatologias, sendo assim um dos elementos mais importantes para desenvolver e estimular novas sinapses diante do processo de ensino e aprendizagem (TABAQUIM, 2003). O trabalho do neuropsicopedagogo em âmbito escolar ou fora dele é de propor exercícios de estímulos aos pacientes/alunos que auxilie as atividades cerebrais. O cérebro por sua vez, tem as funções de receber, selecionar, memorizar e processar os elementos captados pelos sensores, a qual esse compreensão desse órgão, auxilia no trabalho desse profissional. Sendo assim, realiza um trabalho que avalia e auxilia nos processos didático-metodológicos e na dinâmica institucional para um melhor processo de ensino e aprendizagem, direcionando suas atenções para aquelas pessoas com transtornos diversos e que necessitam de um olhar mais apurado em seu tempo de aprendizagem. Aliás, todo ser humano tem capacidade para aprender, não importando suas limitações. Em linhas gerais, os alunos que apresentam deficiências sensoriais, mentais, cognitivas ou transtornos significantes no comportamento em âmbito escolar, são amparados pela Educação Inclusiva, leis que foram discutidas na Declaração de Salamanca (1994), na Conferência de Jomtien (1990), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), a qual ratificaram que todos, devem tem possibilidades de integrar-se ao ensino regular e sem restrição. Desse modo, a escola deve adaptar-se para atender essas necessidades ao inseri-los em classes regulares, buscando caminhos que favoreçam a integração dos mesmos em boas práticas e replicabilidade posteriormente. Porém, no cotidiano escolar a realidade é outra, pois pais, educadores e os 5 próprios colegas de sala, não estão preparados para auxiliar o incluso nas turmas regulares de ensino da Educação Básica. Contudo, percebe-se que falta de investimentos e principalmente o reconhecimento dessa profissão está aquém do esperado, salve algumas instituições de ensino particulares e públicas da Educação Básica no país. Atualmente a escola é a única instituição de ensino capaz de ampliar as questões de aprendizagens e sociais dos indivíduos, mas vem recebendo inúmeras tarefas perdendo o foco com a relação com o saber. Assim, a escola e cérebro com suas funções especificas remetem ao desenvolvimento cognitivo, por isso devem estar agregadas as funções do neuropsicopedagogo que fará a amálgama para o sucesso escolar. Ao conhecer as funções neurofuncionais de alunos com determinadas limitações, o neuropsicopedagogo torna-se primordial para o processo educacional ao empregar como recurso principal, entrevistas dedicadas a expressão e comportamentos em busca do diagnóstico educacional. Assim, será capaz de desenvolver um trabalho pertinente, proporcionando assim, um processo eficaz na aprendizagem dos alunos da Educação Básica. As atribuições do neuropsicopedagogo, em conhecer os distúrbios das aprendizagens e posteriormente os processos da aprendizagem humana, tem a função de identificar, diagnosticar e encaminhar a outros especialistas por meio de pareceres e laudos. Distúrbios esses, que podem estar relacionados a leitura, a escrita, a matemática, a situação problemas, a déficit visuais, motora, transtornos emocionais ou desenvolvimento intelectual. Com essas observações especificas pode-se endossar os recursos mediante a outros laudos de profissionais de saúde, a partir do quadro de sintomas existentes do aluno, e assim, trilhar o caminho para a solução do problema de aprendizagem dos mesmos. Em âmbito escolar, após o diagnóstico de outros especialistas, o profissional de neuropsicopedagogo atuará paralelamente com a família, com 6 intuito de realizar um trabalho de intervenção pedagógica, almejando a evoluçãosistêmica do mesmo, respeitando sempre as limitações de cada indivíduo. Dentro deste novo contexto educativo de inclusão, os membros da comunidade escolar percebem urgentemente a necessidade de um profissional especialista, que venha dar suporte diariamente, nas questões pedagógicas e psicológicas para promover uma aprendizagem mais eficaz e redução dos problemas educacionais nos diversos níveis de ensino. O neuropsicopedagogo pode atuar como clinico e institucional, contudo o víeis dessa apostila esteve volto para as questões escolares, e suas contribuições direcionou-se para os problemas encontrados nesse espaço/tempo cotidianamente. Raramente, as escolas do país, possuem esse profissional que auxiliem pais, professores e alunos em suas labutas. Exceto, as salas de recursos, que possuem um especialista em Educação Especial, ou que corresponde a área de maior necessidade pela demanda de alunos “laudados”, ou seja, apontados por um especialista em educação especial quando a escola possui, normalmente trabalhando com um pequeno grupo de alunos. Segundo o Código de Normas Técnicas 01/2016, da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia, no artigo 29, as funções do neuropsicopedagogo se resume em: a) Observação, identificação e analise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais, considerando os preceitos da neurociências aplicada a Educação, em interface com a Pedagogia e Psicologia Cognitiva; b) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino e aprendizagem dos que são atendidos nos espaços coletivos; c) Encaminhamento de pessoas atendidas a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/ especialização contribuir com aspectos específicos que influenciam na aprendizagem e no desenvolvimento humano. (SBNPp, 2016, p. 4). 7 O neuropsicopedagogo necessita ter conhecimentos dos processos de aprendizagens, bem comoas metodologias utilizadas pelos docentes em sala de aula do ensino regular, currículo e atividades didáticas que podem influenciar na aquisição do aprendizado, assim compreender, se as causas do transtornos tem realmente origem nas questões neuronais, familiar ou mesmo na didática do professor regular. Mesmo que o especialista em neuropsicopedagogia desenvolva um papel significativo nos quesitos de diagnósticos e na aplicação das ferramentas pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem, os problemas contemporâneos se destacam em cunhos socioeconômico, familiar e cultural ainda bastante incisivos para o fracasso escolar. Em contrapartida, defasagens de aprendizagens, incivilidades e indisciplinas que permeiam no cotidiano escolar, poderiam serem amenizados se as famílias estivessem ainda mais presente na vida escolar dos filhos. É notório que a ausência de responsáveis, seja em âmbito escolar ou afetivo, expõe os filhos a viverem com sentimento de insegurança, carência, desvalorização e desinteresses, criando assim, traumas irreversíveis em muitos casos, a qual consequentemente afeta no processo da aprendizagem do aluno. Assim, a educação escolar é um subsídio interpretado pela a família, e não vice versa, como pensam alguns pais com uma inversão de valores, ao deixar os filhos à mercê dos professores na escola. Educandos, assimilam a aprendizagem de forma distinta, inicialmente com diferentes estratégiasmetodológicas propostas pelos educadores. Segundo pela capacidade neuronal de cada indivíduo ao que se refere a questão de tempo e espaço. Desse modo, alunos necessitam de acompanhamento e atividades diferenciadas no cotidiano escolar. Uma estratégia para a aprendizagem dos alunos com limitações diversas, é na formação das duplas produtivas nas atividades propostas, pois assim um aluno auxilia o colega nos exercícios. A saber, na Educação Básica, os poucos programas educacionais existentes voltados paraimplementação de atividades diversificadas e demais projetos de intervenção pedagógica, estão nacapacidade de cada envolvidos 8 com a melhoria do ensino de qualidade. Com isso, na medida em que o neuropsicopedagogo se demonstra mais aplicado em suas atribuições, melhor se ratifica suas funções em âmbito escolar. Sendo assim, cada vez mais cedo diagnosticar as naturezas físicas e sensoriais dos alunos com necessidades intelectuais cognitivas e emocionais, melhor será as intervenções ou encaminhamento do especialista ao desenvolvimento intelectual na aprendizagem do aluno. Por fim, a compreensão dos processos motivacionais envolvidos dentro do ensino e aprendizagem, estão ligados diretamente a liberação dos neurotransmissores, a sistemas de recompensa, límbico e regiões do hipocampo. Conforme o contexto da neuropsicopedagogia mencionado anteriormente, destaca-se aimportância do respeito mútuo à cada indivíduo em âmbito escolar e de seus processos, ao considerar as condições fisiológicas, sociais, neuroanatômicas, cognitivas e emocionas. Cabe ao especialista, indicar o caminho a ser trilhado pelos alunos, o que remete identificar em cada indivíduo como seres únicos. Mesmo, com uma dinâmica de funcionamento bastante peculiar, a aprendizagem ocorre como formas alternativas e mais pertinentes para a abordagem. Portanto, ao diagnosticar precocemente um transtorno de defasagem de aprendizagem, função prioritária do neuropsicopedagogo, esse processo remeterá aos melhores métodos de ensino a serem desenvolvidos na aquisição de informações, conhecimentos e intervenções nas crianças com transtornos e dificuldades do ato de aprender. CONSIDERAÇÕES Sugere-se então, que em todas escolas do país possuam uma equipe multidisciplinar, pois sãonesses espaços cotidianos que ocorrem os diversos tipos de limitações de aprendizagens que remetem aofracasso escolar. Assim, cada conflito que surgir no ambiente escolar, poderão ser intervindos por esses profissionais imediatamente, sem a necessidade de encaminhamento ao sistema de saúde precário que seencontra no Brasil. 9 Contudo, entende-se que os problemas no processo de ensino e aprendizagem não seencontram apenas na didática do educador ou nas funções do cérebro da criança, mas também nas políticas públicas ao não manter nas instituições de ensino os mais diversos especialistas como:Psicopedagogos, Psicólogos, Neuropsicólogos, Pediatras, Psiquiatras, Fonoaudiólogos, Neurolinguistas, Terapeutas Ocupacionais, Fisioterapeutas e Neurocientistas. Daí, não restando outra alternativa, o desvio de funções aos professores de sala de aula, na tentativa frustrada de resolver problemas que cabe a outros profissionais especialistas e ao responsáveis legais. Desse modo, no cotidiano escolar, muitos alunos com perfis que requerem atenção naaprendizagem, sempre foram rotulados como indisciplinados, com defasagens, ou que não tiveram pais presentes na educação dos filhos. Porém, com o avanço das pesquisas, esses por sua vez, encontram dificuldades em abstrair informações e processá-las conforme as habilidades e competências almejadas pelos sistemas de ensino contemporâneo. Haja visto que a inclusão está inserida em leis nacionais e internacionais, e deve permear todos os setores da sociedade para que seus direitos sejam garantidos e efetivados. A família e a escola, por sua vez tem, obrigações de iniciar esses direitos, previsto no Art.227, da Magna Carta. “[...] É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, [...]”. Portanto, faz-se necessário que todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem na Educação Básica, estejam aptos a atingir a qualidade social, a apropriação do conhecimento, as habilidades e competências prevista na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL,2017), solucionar problemas individuais ou coletivos e participar da sociedade de forma consciente, crítica, criativa e humanitária. Mas, para que isso ocorra, é de suma importância, a valorização de profissionais especialistas em todas as escolas de Educação Básica do país, sejam elas públicas ou privadas. 10 Casemiro, Fonseca e Secco (2014), apontam que um dos maiores desafios para implantação deprofissionais de saúde na escola estão no planejamento escolar; no conhecimento e execução dos programas já existentes; e na relação desses profissionais inseridos em âmbito escolar. Contudo,segundo os autores, uma boa estratégias é fazer parcerias com os responsáveis do município, estado egoverno federal e logo após ratificar no Projeto Político Pedagógico da escola, onde se define os planos e metas a serem cumpridos ao longo do ano letivo. Por fim, para que se efetive o sucesso escolar na Educação Básica, todas as alternativas são viáveis, e o profissional de neuropsicopedagogia em âmbito escolar se faz necessário, não apenas em algumas poucas salas de recursos espalhadas pelo país, mas em todas as escolas e salas de aulas da nação. Além da presença desse especialista de forma obrigatória, defende-se investimentos de políticas públicas em capacitação e formação continuada de educadores que já estão inseridos nas salas de aulas e nos cursos de licenciaturas como disciplina obrigatória de neuropsicopedagogia que perfaça o ensino de qualidade no país e respeito às leis nacionais e internacionais vigentes e ao alunos com defasagem de aprendizagem. PRÁTICA NEUROPSICOPEDAGÓGICA INSTITUCIONAL INTRODUÇÃO A educação é um meio de emancipação cultural e intelectual, os seres humanos se utilizam para sua autonomia de aprendizagem para manutenção de sua vida acadêmica. A educação é composta por duas vertentes, a de origem familiar e a escolar. A primeira tem por objetivo ensinar valores e princípios básicos para convivência em sociedade; a segunda é mais direcionada que é uma educação sistematizada, em que os seres humanos são encaminhados a aprender de acordo com sua faixa etária e seu desempenho intelectual. 11 Os seres humanos são direcionados desde pequenos a frequentar a aprendizagem sistematizada ou a educação escolar, apesar da importância da educação familiar. Dentro desse sistema educacional escolar, o sujeito é “obrigado” a seguir para escola, o mesmo sujeito recebe nomenclaturas de criança e adolescente. Com isso, a escola tem algumas indagações ao receber essa criança e esse adolescente, e preocupa-se como esse sujeito vai aprender, de que forma acontece a aprendizagem, por que, a mente dos seres não é uniforme, igual a do seu semelhante. Esta problemática é muito recorrente na escola, pois cada criança ou cada adolescente aprende de um jeito diferente do outro; uns são mais acelerados e outros mais lentos. Os mais lentos na aprendizagem, a escola em conjunto com seus responsáveis buscam ajuda para minimizar o “problema” que pode ser de origem interna (deficiência, distúrbios, transtornos,...) ou externa (dificuldade de aprendizagem, metodologia de ensino, bullying,...). Pais e escola buscam o auxílio dos profissionais que trabalham com essas sintomatologias dos problemas relacionados à aprendizagem humana, que são os psicólogos, psicopedagogos, neuropsicólogos e os neuropsicopedagogos. Nessa busca também entram os profissionais da medicina como psiquiatras e neurologistas. Focaremos no profissional da neuropsicopedagogia, uma profissão “nova” no mercado de trabalho, com um potencial multidisciplinar em sua atuação nos setores da sociedade. O objetivo geral da pesquisa é averiguar as possibilidades da atuação profissional do neuropsicopedagogo no ambiente escolar. HISTÓRICO DA NEUROPSICOPEDAGOGIA NO BRASIL Durante muito tempo, a pesquisa relacionada à aprendizagem humana envolveu grandes discussões entre o contexto da saúde e da educação. Esses 12 dois contextos buscavam a origem dos problemas que desencadeavam a dificuldade de aprendizagem em assimilar conteúdos escolares e acadêmicos. A dificuldade de aprendizagem, como também os distúrbios e as deficiências sempre foram as maiores barreiras educacionais de aprendizagem enfrentadas por professores para efetivar o ensino e aprendizagem. Para auxiliar os professores no tratamento adequado a essas pessoas, que em suma maioria são crianças e adolescentes em idade escolar, sentiu-se a necessidade de outros profissionais no ambiente escolar. Os profissionais direcionados para escola foram o psicólogo, o psicopedagogo e o professor de educação especial. Em outros ambientes ligado, direto e indiretamente com a escola, há o fonoaudiólogo e o terapeuta ocupacional. Com a demanda de crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizagem e outras deficiências educacionais, necessitou-se de outros profissionais especialistas em áreas especificas centradas no aprendizado e suas funções cerebrais. Em 2008, foi lançado o primeiro curso de especialização em Neuropsicopedagogia no Brasil, na cidade de Jaraguá do Sul, no Estado de Santa Catarina. No ano 2008, na cidade de Joinville, no Estado de Santa Catarina, um grupo de docentes em uma instituição de ensino e pesquisa, sediada nesta mesma cidade, que promovia assessoria em cursos de pós-graduação, se motivara através de um pedido ousado e empreendedor vindo do diretor da instituição, a criar um grupo que promoveria observações e pesquisas, com base em um aguçado senso crítico e movido aos anseios de responsabilidades com o contexto escolar que vivenciavam na época (CENSUPEG, 2019). O discurso para criação do curso era norteado nas questões que envolvessem as neurociências aplicadas a educação, nas especificidades das aprendizagens escolares e seus recorrentes problemas. Após repercussão muito breve foi-se ganhando a credibilidade nas ações colecionando casos de sucesso de professores e alunos, de entidades de classes que hoje já conseguem olhar a Neuropsicopedagogia como uma área de grande suporte das questões da aprendizagem escolar, também como uma 13 possibilidade de reintegração dos indivíduos que dela dependem (CENSUPEG, 2019). A Neuropsicopedagogia vem ganhando espaço em atuação clínica e institucional e mundo acadêmico. Sua base prática e atuante vem se consolidando no Brasil em seu vário curso de pós-graduação orientado e autorizado pelo MEC (Ministério da Educação), de acordo com a legislação vigente. NEUROPSICOPEDAGOGIA: CONCEITO E ATUAÇÃO A Neuropsicopedagogia é uma área de atuação nova, que visa trabalhar problemas relacionada à aprendizagem humana a seu desenvolvimento cerebral. A formação de sua palavra está relacionada à aglutinação de algumas áreas fundamentais para atuação desse especialista. A Neuropsicopedagogia (NEURO + PSICO + PEDAGOGIA), está fundamentada nos estudos das neurociências, da psicologia e da pedagogia, centradas no aprendizado do ser humano. Fundamentada e embasada nos estudos relacionados a aprendizagem humana, o conceito da neuropsicopedagogia vai perpasse-se por várias ciências do conhecimento humano. De acordo com a Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp) define esse campo através do artigo 10º do Código Técnico Profissional da Neuropsicopedagogia: A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos das Neurociências aplicada à educação, com interfaces da Pedagogia e Psicologia cognitiva que tem como objeto formal de estudo a relação entre o funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e educacional (SBNPp, 2016, p. 4) 14 A função do Neuropsicopedagogia está voltada para a compreensão das dificuldades desenvolvidas pelo indivíduo e auxiliar na elaboraçãode conteúdos pedagógicos relevantes aos alunos com necessidades especiais quer de forma física ou cognitiva. Está interligada à neurociência, que faz a ligação entre educação e saúde em sua definição. Bartoszeck nos remete que a neurociência é uma das áreas do conhecimento biológico que utiliza os achados de subáreas que a compõe, por exemplo, a neurofisiologia, a neurofarmacologia, o eixo psiconeuro-endoimuno, a psicologia evolucionária, o neuroimageamento, a fim de esclarecer como funciona o sistema nervoso (BARTOSZECK, 2013). A neurociência é forte aliada do processo de aprendizagem e uma base para a Neuropsicopedagogia e sua plena atuação, que busca estudos atrelados aos seus conhecimentos prévios a de outros profissionais quer da área da educação quer da área da saúde. O conhecimento da neurociência para a atuação do neuropsicopedagogo é de fundamental importância, pois sua função está voltada para a compreensão das dificuldades desenvolvidas pelo indivíduo e auxiliar na elaboração da intervenção baseado em referenciais da neurociência com o olhar psicopedagógico. Assim, as áreas de atuação do Neuropsicopedagogo seguem de acordo com o Art. 29 e 30, que diz: Artigo 29: Ao Neuropsicopedagogo com formação na área Institucional, conforme descrito no Capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos neuropsicopedagógicos exclusivamente em ambientes escolares e/ou instituições de atendimento coletivo. §1º. Entende-se que sua atuação na área de Institucional, ou de educação especial, de educação inclusiva escolar deve contemplar: a) Observação, identificação e analise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais; b) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino- aprendizagem do aluno; c) Encaminhamento do aluno a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização (SBNPp, 2016, p. 5). Na área institucional, a Neuropsicopedagogia está muito ligada ao ambiente escolar, e às instituições de aprendizagem, apesar que esse ambiente 15 não é o único lugar de atuação desse profissional. Cabe a ele delimitar que tipo de instituição pretende exercer seus saberes institucionais. Como no próprio Artigo (SBPp, 2016) nos fala a Neuropsicopedagogia Institucional está exclusivamente para ambientes coletivos, no qual pode incluir instituições hospitalares, empresas e ONGs (Organizações Não Governamentais). Desse modo, a vertente da Neuropsicopedagogia clínica se volta para um atendimento mais individual e específico de acordo com a Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBPp, 2016). Artigo 30º. Ao Neuropsicopedagogia com formação clinica, conforme descrito no Capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos neuropsicopedagógicos individualizados em setting adequado, como consultório particular, espaço de atendimento, posto de saúde, terceiro setor. Os atendimentos em local escolar ou hospitalar devem acontecer de forma individual e em local adequado. §1º. Entende-se que sua atuação na área clínica ou de atendimento multiprofissional deve contemplar: a) Observação, identificação e analise do ambiente escolar nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras, cognitivas e comportamentais; b) Avaliação, intervenção e acompanhamento do individuo com dificuldades de aprendizagem, transtornos, síndromes ou altas habilidades que causam prejuízos na aprendizagem escolar e social; c) Criação de estratégias que viabilizem o desenvolvimento do processo ensinoaprendizagem do aluno; d) Utilização de protocolos e instrumentos de avaliação e reabilitação devidamente validados, respeitando sua formação de graduação; e) Elaboração de relatórios e pareceres técnicos-profissionais; f) Encaminhamento a outros profissionais quando o caso for de outra área de atuação/especialização (SBNPp, 2016, p. 6). A atuação do Neuropsicopedagogo é multidisciplinar, podendo exercer suas funções tanto institucional (escolas, hospitais, ONGs, terceiro setor como na docência no ensino superior), como na clínica (equipe multiprofissional em consultórios, clínicas, posto de saúde, terceiro setor e posto de saúde). Esse profissional é formado através de uma pós-graduação em instituições habilitadas. Desta forma, temos a ampla atuação desse profissional nos mais variados setores do campo clínico e institucional. Podemos compreender que sua prática está dividido em três fundamento através da Resolução 03/2014 em Capítulo III: 16 Art. 29. A Neuropsicopedagogia tem características próprias de atuação e considera contextos diferenciados para tal, de acordo com a característica dos espaços nos quais é possível desempenhar o exercício da Profissão. Por isso, para definir as suas formas de atuação, toma como base: § 1º A atuação Institucional, na qual tem como espaço de atuação, instituições que tem no princípio de suas atividades o trabalho coletivo. §2º A atuação Clínica, na qual tem como espaço de atuação o atendimento individualizado, focado em planos de intervenção específicos. 5 §3º Conforme avanços nos estudos realizados por esta nova ciência, a SBNPp poderá prever novos espaços de atuação neste código, atendendo as revisões bienais, conforme previsto no artigo 2º deste documento. Artigo 30. Ao Neuropsicopedagogo com formação na área Institucional, conforme descrito no Capítulo V, fica delimitada sua atuação com atendimentos neuropsicopedagógicos exclusivamente em ambientes educacionais e/ou instituições de atendimento coletivo. §1° Entende-se que sua atuação na área de Institucional possa acontecer em instituições como Escolas Públicas e Particulares, Centros de Educação, Instituições de Ensino Superior e Terceiro Setor que tem finalidade de oferecer serviços sociais, sem foco na distribuição de lucros, mas com administração privada, sendo composto por associações, cooperativas, organização não- governamentais, entre outros. §2º São bases da atuação institucional os fundamentos da Educação Especial e da Educação Inclusiva, com embasamento legal e de práticas sociais, que deverão ser pensadas através da aplicação das neurociências ao ambiente educacional, [...] (SBPp, 2016, p. 7). DIFICULDADES E TRANSTORNOS ESCOLARES Os problemas de aprendizagem é algo antigo no contexto educacional, pois origem é interna (fatores orgânicos) ou externa (fatores ambientais). Há várias classificações de acordo com a profundidade do problema. Pode ser classificado como Distúrbios, Transtornos ou Dificuldade. Os distúrbios estão ligados às funções orgânicas do corpo humano, como descreve Olivier (2013): [...] distúrbios abrange alterações de fundo estrutural e funcional e, portanto, é mais amplo que Disfunção que se refere unicamente aos desvios da função de um órgão ou sistema [...], distúrbios também pode ser usado para designar patologias somáticas (corpo) enquanto transtorno pode ser usado para denominar psicopatologias (mentais e cognitivas) (OLIVIER, 2013, p. 37). 17 A palavra distúrbio pode ser traduzida como “anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural”. Distúrbio de aprendizagem parece classificar exatamente o que é: mau funcionamento de um órgão podendo manifestar-se por alterações afetivas e de comportamento. Essa definição é aceita pela medicina e não invade a área médica (OLIVIER, 2013, p. 38). Os Transtornos com o Distúrbio são de origem interna, independem do desejo que o individuo possa ter, de desempenhar atividades da forma que família, a escola ou a sociedade esperam dele. O Transtorno decorre de uma disfunção na região frontal do cérebro, que provoca perturbação devido à falha na entrada do estímulo e da integração de informações, comprometendo a atenção seletiva e gerando impulsividade e dificuldade visomotora.De acordo com Olivier (2013): A síndrome e o transtorno podem confundir-se, pois podem demonstrar os mesmos sintomas e/ou sinais. Enquanto não pode identificar a patologia, este conjunto de sinais e sintomas é chamado de síndrome. A partir do momento em que se define a patologia, o quadro passa a ser chamado de transtorno. Resumindo, a diferença entre síndrome e transtorno é a identificação da patologia [...] (OLIVIER, 2013, p. 36). Entretanto, os transtornos específicos de aprendizagem são transtornos que afetam o funcionamento do sistema nervoso central, levando a desempenhos abaixo do esperado em teste padronizada de leitura, escrita ou de matemática e interferindo, assim, no rendimento escolar ou em atividades em que tais habilidades são necessárias. Para serem considerados, devem ser excluídos todos os outros aspectos que possam justificar o mau desempenho, aqui listados entre as dificuldades de aprendizagem. De maneira geral, os transtornos específicos de aprendizagem são herdáveis geneticamente, devem causar prejuízos e são persistentes ao longo da vida (SEABRA; DIAS; ESTANISLAU; TREVISAN Apud ESTANILAU e BRESSAN, 2014, p. 189). Para a compreensão do processo de socialização e de aprendizagem de crianças e adolescentes, faz-se importante que profissionais da saúde e da educação unam esforços, busquem serviços de formação continuada para a compreensão dos transtornos escolares e assim encontrem meios teóricos e vivenciais para a correta identificação desses transtornos, para a orientação 18 familiar e escolar, para a realização de encaminhamentos e possíveis estratégias interventivas. Nesse sentido, acreditamos ser possível favorecer condições de acesso e possibilidades de permanência desses indivíduos no contexto educacional inclusivo. A INCLUSÃO ESCOLAR A inclusão escolar no limiar da História da educação no Brasil é um processo recente no contexto atual. O processo inclusivo envolve várias esferas institucionais e políticas, pois a inclusão só não vem da escola e sim de todo um contexto social e familiar. A educação especial foi a grande percursora da educação inclusiva em contexto geral. A educação especial viveu profundas transformações durante o século XX. Impulsionada pelos movimentos sociais que reivindicavam mais igualdade entre todos os cidadãos e a superação de qualquer tipo de discriminação, incorporou-se, aos poucos, ao sistema educacional regular e buscou fórmulas que facilitassem a integração dos alunos com alguma deficiência. Ao mesmo tempo, produziu-se uma profunda reflexão no campo educativo fazendo com que os problemas desses alunos fossem encarados a partir de um enfoque mais interativo, no qual a própria escola devia assumir sua responsabilidade diante dos problemas de aprendizagem que eles manifestavam. O conceito de necessidades educativas especiais e a ênfase na importância de que a escola se adapte à diversidade de seus alunos foi expressão dessas novas realidades (COLL; MARCHES; PALACIOS, 2004, p. 15). A transformação da educação especial para o contexto da inclusão passou por um processo, saindo do modelo de segregadora para a vertente inclusiva, dando espaço educacional para esses indivíduos que eram separados dos “normais”. A escola foi umas das principais instituições a levantar a bandeira da inclusão. Com isso, as escolas que têm entre seus principais objetivos a 19 atenção à diversidade dos alunos e que adaptam seu funcionamento e seu ensino para alcançar tal objetivo, são as escolas que conseguem uma integração mais completa. Isso, porem supõe um processo de reforma (COLL; MARCHES; PALACIOS, 2004, p. 26). Partindo desses princípios Carvalho (1997) no remete a real função da escola: [...] Todas as escolas deveriam acomodar todas as acrianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos em desvantagem ou marginalizados... No contexto destas Linhas de Ação o termo “necessidades educacionais especiais” refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem... As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que têm deficiências graves (CARVALHO, 1997, p. 56-57). O objetivo de ter escolas inclusivas supõe uma profunda transformação do sistema educacional, que vai muito além da reforma da educação especial. Embasado nessa ideia de reforma em agosto do ano de 2015, o governo federal sancionou a Lei Brasileira de Inclusão, iniciativa que articula medidas que capacitem espaços de todos os tipos para a recepção, comunicação e integração de pessoas com deficiência. Essa legislação se adequa às determinações da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas (ONU). As autoras Honora e Frizanco (2008) nos explica esses princípios da inclusão escolar: [...] O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola (HONORA e FRIZANCO, 2008, p. 22). 20 A escola inclusiva é uma realidade atual em nosso contexto educacional, a lei é bem incisiva em seu cumprimento, no qual a instituição escolar e seus colaboradores tem que nos processos pedagógicos de trabalho incluir aquele estudante com alguma limitação, seja intelectual, sensorial ou física. A Lei 13.146 de julho de 2015, chamada de Lei Brasileira de Inclusão, consagrou a política de educação inclusiva no Brasil. Isso significa que todas as escolas, sejam públicas ou particulares devem cumprir as determinações dessa lei no sentido de aprimorar seus sistemas de ensino, visando garantir condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem a todas as pessoas com deficiência. Tudo sem custos extras para a família da pessoa com deficiência, uma vez que, as adaptações necessárias para o atendimento educacional inclusivo devem ser suportadas por toda a sociedade, entendendo-se a comunidade, a escola e a família (TEAPOIO, 2019). A neuropsicopedagogia é uma ciência nova na atualidade, mas seus respaldos científicos já têm um bom tempo no campo da pesquisa da mente humana. Ela é uma ciência transdisciplinar com contribuições da psicologia, psicopedagogia, pedagogia, psicanálise, neurologia, sociologia das neurociências. O profissional que atua nessa área tem como objetivo interligar a aprendizagem ao cérebro humano utilizando o mais variado mecanismo para a mediação e a concretização do saber sistematizado. Consideramos a importância da pesquisa como um eixo norteador para a atuação do neuropsicopedagogo no ambiente escolar e esperamos que o estudo sirva de embasamento para outras pesquisas ou mesmo como referencial para futuras legislações que aprove a atuação do neuropsicopedagogo na instituição escolar, pois a educação é feita pela multidisciplinariedade de profissionais. O DESAFIO DA ESCOLA/PROFESSOR COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM O dito “fracasso escolar” é hoje um dos temas mais estudados e discutidos naárea educacional em geral, e que traz concepções distintas 21 sobre o motivo pelo qual ocorre. Há sempre a intenção de se achar culpados pela ocorrência da não-aprendizagem, seja culpabilizando as crianças, pais, contexto social, economia ou até mesmo a política. O fato é que a aprendizagem se estabelece devido ao somatório de diversos fatores (sociais, ambientais, biológicos, entre outros), logo, a não- aprendizagem segue a mesma ordem. No atual contexto escolar, é evidente que este espaço e seu modus operandi não têm despertado muito interesse nos alunos. Infelizmente, a escola como lugar da dúvida e da curiosidade têm se consolidado em uma formalidade da fase de vida de muitas crianças e jovens que não associam o aprender ao prazer. Com isso, vários são os casos de pessoas próximas que ficaram conhecidas e estigmatizadas como “fracos” educacionalmente, ou repetiram de ano, ficando retidas no ensino fundamental ou médio, ou chegaram ao final de algum ciclo com diversas defasagens quando comparadas com outras pessoas de mesma idade. Paula (2009) discorre que as problemáticas encontradas na questão do fracasso escolar podem se dar de forma “intraescolar” ou “extraescolar”. Como fatores intraescolares encontrados na maioria da população, são citados: escassas condições financeiras, falta de saneamento básico em muitas moradias, fome, desnutrição, e todas as demais privações que essas crianças podem passar. Há também condições neurológicas que podem contribuir para que a não-aprendizagem se estabeleça, o que merece uma maior atenção. Como fatores extraescolares, encontram-se: dificuldades atreladas ao currículo, programas, metodologia e didática adotada pelo professor e especialistas, e avaliações de desempenho. Paula (2009) aponta ainda que as camadas sociais menos favorecidas estão intrinsicamente ligadas à evasão escolar e a repetências de anos escolares. Fica o sentimento que a escola não é o lugar certo para eles, pois não há espaço mental reservado para a aprendizagem. 22 Ali, na escola, ficaria a sensação de que neste local só eclodiriam sentimentos ruins, como ser rechaçado, corrigido e observado; e que seus problemas, na cabeça de grande parte dessas crianças, seriam muito maiores do que simplesmente aprender a ler e a escrever. Rodrigues e Chechia (2017) postulam que muitas das vezes essas crianças não possuem conhecimentos prévios a respeito de determinado assunto, o que as leva a se desmotivar e evadir a escola. Reiteram, ainda, que falta preparo por parte de alguns professores para entender a situação da criança e realmente poder ajudá-la a se desenvolver, sendo necessário pensar em uma forma de ensinar mais específica e condizente com o nível de estruturação educacional encontrado na mesma. Oliveira e Müller (2018) reiteram vários fatores sinalizados pelos autores supracitados, inclusive os problemas relacionados à indisciplina dos alunos em sala de aula, que estaria atrelada a questões familiares; dessa forma, os estudantes iriam para a escola por obrigação dos pais, e que por trabalharem e não terem tempo de supervisionar as atividades, acabariam negligenciando as atividades escolares de seus filhos, potencializando assim a sensação dessas crianças de estarem sozinhas. A escola possui em si uma função social de preparar, aprimorar e instruir o infante para conviver em sociedade e adquirir competências necessárias para se viver em grupo. Como espaço importante na vida da criança, e muitas vezes o local onde passa maior tempo de seu dia, é de extrema relevância que a escola possa abarcar de forma efetiva as problemáticas e situações que os educandos trazem. Nessa perspectiva, a escola não faz parte da vida, mas é, em si, a própria vida ao trazer sentido para o aprendido. Da mesma forma, a escola deveria desencadear um processo de interpretação, transformação e (auto)descoberta do sujeito que se constitui na interação, tornando os personagens escolares um papel catalisador. Embora de maneira tímida e pontual, muitos cursos de formação de professores e profissionais atuantes na Educação têm se preocupado com 23 as reais, complexas e plurais demandas da sala de aula, incorporando em seu currículo momentos reflexivos e temas que se apoiam no diálogo com as Neurociências, o que se torna um avanço para a inovação do contexto escolar. O NEUROPSICOPEDAGOGO NO AMBIENTE ESCOLAR De modo geral, a Neuropsicopedagogia visa investigar a inter-relação entre a Neurociências, a Psicologia Cognitiva e a Pedagogia, a fim de traçar uma melhor identificação, diagnóstico, prevenção e reabilitação face às distintas dificuldades encontradas nos estudantes, equipe pedagógica e a família do educando. Tem-se, por objetivos discriminados na grade curricular do curso de Neuropsicopedagogia Institucional e Educação Inclusiva, os seguintes objetivos (CENSUPEG, 2019): Capacitar os profissionais frente à compreensão do papel do cérebro humano em relação aos processos de aprendizagem, considerando os aspectos neurocientíficos, pedagógicos, psicológicos e biológicos para promover a aplicação de estratégias pedagógicas nos diferentes espaços institucionais, cuja eficiência científica seja comprovada pela literatura, avaliando as funções cognitivas, exceto inteligência, transtornos de humor e personalidade; e intervindo nas questões de aprendizagem. Compreender e analisar o aspecto da inclusão de forma sistêmica, abrangendo pessoas com dificuldades de aprendizagem e/ou deficiências, bem como sujeitos em risco social, promovendo reintegração pessoal, social e acadêmica nos diferentes espaços coletivos. Desenvolver competências de acordo com as disciplinas da grade curricular, bem como conhecimentos técnicos específicos para 24 atuação em espaços coletivos que sejam berço da aprendizagem humana, agindo individualmente ou em equipe multidisciplinar. À luz dos fundamentos éticos e técnicos pautados no Conselho Técnico-Profissional da SBNPp (2016) acerca das diretrizes do trabalho do Neuropsicopedagogo Institucional, encontram-se as seguintes formas de atuação (RUSSO; FÜLLE, 2018): 1 - Identificação precoce, que consiste em realizar uma investigação a partir das queixas advindas dos professores e/ou equipe pedagógica, guiada por instrumentos próprios do profissional e regulamentados, sondagem/triagem acadêmica e direcionamento precoce das funções cognitivas atenção, memória de trabalho, linguagem, compreensão, linguagem matemática, observação psicomotora, habilidades socioemocionais entre outros; 2 - Planejamento e intervenção a partir de dados e realidades encontradas, elaborando um plano de intervenção de forma coletiva ou individual, onde se estabeleça metas iniciais, intermediárias e finais; utilizar metodologia de projetos de trabalho e oficinas temáticas a fim de oportunizar o desenvolvimento de diferentes habilidades e a inclusão (desde o ensino infantil até o ensino médio); orientação de pais e professores sobre aprendizagem e seus processos; emissão do parecer neuropsicopedagógico com bases institucionais, com o intuito de sinalizar de que forma pode ser tratada a individualidade nos processos de aprendizagem, objetivando o conhecimento da equipe técnica da escola.Fülle et al. (2018) sinaliza, ainda, que a INPP (Intervenção Neuropsicopedagógica Escolar), baseada em funções executivas (FE), tem um papel fundamental na educação quando realizada de forma preventiva. Segundo Cardoso et al. (2016) apud Fülle (2018), após 18 sessões com duração de 45 minutos, os educandos ganharam em funcionalidade mais 25 de 40% para o desenvolvimento da linguagem e acima de 47,5% no que tange as estratégias de aprendizagem. Sendo assim, a INPP surge como uma ação eficaz na construção e identificação de programas de intervenção de dificuldades de aprendizagem, pensando de forma individualizada sobre como planejar e executar cada sessão e bloco de intervenções. Ainda segundo Cardoso et al. (2016), o neuropsicopedagogo na escola transforma o processo de avaliação em instrumento para redimensionar práticas de intervenção em ambientes escolares, contribuindo para que os próprios educadores reorganizem as suas formas de atuação. Sendo assim, é de suma relevância, que as intervenções e instrumentos psicopedagógicos consigam abarcar o coletivo, ajudando o educador tanto na tarefa de rastrear crianças com dificuldades mais severas quanto na intervenção precoce das mesmas. Com intuito de contribuir para a diminuição de dificuldades, a Neuropsicopedagogia cria intervenções de remediação e reintegração evidenciadas através de programas intervencionais que englobam tanto a saúde cognitiva como a estimulação de habilidades cognitivas escolares, objetivando potencializar os processos cognitivos e melhorar habilidades fundamentais (FÜLLE et al., 2018). Fülle et al. (2018) discorre que cerca de 10% da população escolar possui algum tipo de transtorno de aprendizagem. Para Ohlweiler (2016), a prevalência de transtornos varia de 5% a 15%, dependendo do tipo de testagem utilizada. Entretanto, um questionamento fica explicito quando se pensa o porquê de haver tantos encaminhamentos que as escolas fazem para serviços relacionados à saúde. Uma explicação dada por Fülle et al. (2018) sugere que os professores estariam despreparados para lidar com essas dificuldades, tornando-se necessário que o processo de ensino e aprendizagem fosse baseado no desenvolvimento de competências e não somente no conteúdo. A fim de que isso ocorra, seria de vital importância que as intervenções se dessem 26 atrelando as diversas ciências que compõem o repertório técnico e prático do neuropsicopedagogo e dos demais componentes da equipe pedagógica, o que propiciaria um maior entendimento das limitações maturacionais e capacidades (potencialidades) da criança. Considerando a pluralidade dos alunos e sua incorporação no ambiente escolar, seria possível atender a todas as especificidades desses em sala de forma realmente efetiva e sem auxílio de um outro profissional mais especializado? Em 2017, uma pesquisa realizada com 1202 professores de Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) em mais de 150 munícipios por todo o país trouxe dados muito relevantes para se pensar a atuação do professor com alunados especiais. Quando questionados como se sentiam em relação a sua preparação para lidar com as diversidades dos alunos PAEE1, 43,6% disseram se sentir parcialmente aptos e somente 7,5% sinalizaram estar totalmente aptos. Outro dado relevante foi em relação a se sentirem capazes de atuar com toda a diversidade do alunado na SRM sem o auxílio de um outro profissional. Cerca de 70% discordaram totalmente sobre a possibilidade de atuação sem o auxílio de um outro profissional (PAZIAN et al., 2017). Segundo Russo e Fülle (2018) o neuropsicopedagogo deverá integrar a seu trabalho a atuação junto a outros profissionais, pensando na melhor atuação e no bem-estar dos usuários. Ainda de acordo com as autoras, a gestão das questões encontradas pelos profissionais deve ter cunho participativo, ou seja, cada um realiza suas funções de forma delimitada, mas ao mesmo tempo 1 PAEE: Professor de Atendimento Educacional Especializado. Neste sentido, a sigla se refere aos professores trabalham com alunos que tenham algum tipo de deficiência. Todas as ações são pensadas de forma coletiva. Como atividades exercidas, o neuropsicopedagogo poderá contribuir na elaboração de projeto 27 pedagógico, adequações curriculares, oficinas temáticas, projetos de trabalho e contribuir com a equipe pedagógica. Poderá ainda, mapear o comportamento socioafetivo através de técnicas específicas, como o “Sociograma”, com intuito de identificar lideranças positivas e negativas em sala, propondo assim intervenções para melhoria comportamental dos infantes. Utilizando-se de materiais e instrumentos pertinentes ao que se objetiva pesquisar, o neuropsicopedagogo institucional identifica possíveis alterações no desenvolvimento cognitivo e nas habilidades sociais da questão analisada. Após identificação, traça ainda estratégias e objetivos para saná-las, o tempo necessário e as atividades indispensáveis para que os resultados se efetivem. Não cabe ao referido profissional, seja ele clínico ou institucional, diagnosticar deficiências intelectuais, transtornos de humor e personalidade, e demais comorbidades, já que tal avaliação é realizada por profissionais da área da saúde. Assim, o profissional Neuropsicopedagogo poderia auxiliar tanto o professor de escolas públicas (salas comuns ou recursos) quanto de escolas privadas a encontrar melhores formas de sanar questões ocorridas em sala, seja de cunho cognitivo, emocional e/ou social. Inclusive ao pensar em alunos que apresentem deficiências intelectuais, físicas, ou transtornos significativos no comportamento em âmbito escolar, auxiliando o professor na adoção de práticas inclusivas de educação. À equipe pedagógica, oficinas socioeducativas poderiam ser ministradas, a fim de ampliar o conhecimento de todos acerca de temas pertinentes à educação, e evidenciar técnicas e instrumentos que teriam mais assertividade em sala de aula. E, não menos importante, munir também os responsáveis pelas crianças sobre informações oportunas acerca da problemática que as acomete, sinalizando formas de auxiliar e diminuir comportamentos não-adaptativos desde suas casas. 28 EXEMPLO DE ATUAÇÃO NEUROPSICOPEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) caracteriza- se por ser um programa contínuo, por oferecer ideias para as práticas e políticas educativas, e por ajudar a realizar o desenvolvimento das aptidões dos estudantes na aquisição de conhecimentos e habilidades nos diferentes países e em diferentes subgrupos demográficos de cada país (Pisa, 2015). Mesmo não identificando as relações de causa e consequência entre as políticas e práticas e os resultados educativos, o PISA objetiva apontar para educadores e responsáveis políticos de todo o mundo, as semelhanças e as diferenças dos sistemas educativos, assim, revela o que é possível no âmbito da educação, detectando o que os estudantes são capazes de fazer nos sistemas educativos de mais alto rendimento e com melhoras mais rápidas a nível mundial (Pisa, 2015). No Brasil, o Instituto de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (INEP) é o responsável por coordenar o PISA. As provas desse programa são aplicadas a cada triênio e englobam três áreasdo conhecimento: Leitura, Matemática e Ciências. Nessa perspectiva, cabe a correlação do posicionamento do cenário brasileiro diante desse tipo de avaliação (Amaral, 2015). De acordo Amaral (2015), no Brasil a qualidade da educação possui diversos pontos de estrangulamento, pois evidencia inúmeros pontos estreitos, dos quais destaca-se a relação qualidade X financiamento, a qual pode ser analisada por meio do PISA. Consequentemente, após a aprovação de um novo Plano Nacional de Educação por meio da Lei Nº 13.005 de 24 de junho de 2014, que vigorará de 2014 a 2024, algo precisa ser feito para mudar a situação atual da educação brasileira, como aumentar o valor limite a ser aplicado por estudante no país. 29 Em 2012, considerando os países selecionados1 , o resultado médio do PISA para os anos inicias do ensino fundamental foi de 487 pontos e o valor aplicado por estudante em 2011 foi de US$/PPP 7.532,002 . O Brasil aplicou um valor inferior a isso (US$/PPP 2.673,00), o que o deixou abaixo da média e, para atingir o valor limite, seria necessário um aumento de 120,5% nesse número (Amaral, 2015). Nesse contexto, nota-se que, desde o início da década de 1980, o Brasil percorre um caminho que levanta dúvidas a respeito do ensino da leitura e da escrita e de como elas se concretizam atualmente na etapa da alfabetização inicial, já que nas três últimas décadas o ensino destas tem se transformado bastante, uma vez que alguns fatores, como o surgimento e desenvolvimento de novas tecnologias, assim como mudanças nas práticas sociais e avanços teóricos na área, dificultam o desabrochar de propostas pedagógicas e materiais didáticos novos (Albuquerque, Morais & Ferreira, 2008). Na mesma perspectiva, Morais (2012), sustenta a ideia de que justamente a partir dos anos de 1980 o Brasil iniciou um processo de “desinvenção” da alfabetização, pois: a negação aos métodos tradicionais se fez acompanhar, em muitos casos, de um não tratamento da escrita alfabética como um objeto de ensino e aprendizagem em si e da expectativa de que, espontaneamente, pela participação exclusiva em atividades de leitura e produção de textos, as crianças viessem a se alfabetizar. Em nome do construtivismo, criouse um grande estado de indefinição sobre o que ensinar e como ensinar nas salas de aula de alfabetização (Morais, 2012, pp.553). Dessa forma, desde então, estudos têm explicitado que os alfabetizadores apresentam dificuldades em medir os progressos conquistados por seus alunos e de basearem a alfabetização nas informações oriundas dessa medida, isso além haver grandes variações nas formas de alfabetizar. Fica evidente, portanto, que há inúmeras indefinições no que diz respeito ao ensino e à avaliação no processo de ensino da leitura e da escrita (Morais, 2012). Assim, revela-se a importância de provas que possam auxiliar no processo do ensino da leitura e escrita, como por exemplo, no âmbito nacional a Provinha Brasil e, em caráter clinico e educacional, provas referentes aos 30 elementos que são subjacentes ao evento tanto da leitura, como da escrita. Nessa perspectiva, podemos citar o Protocolo de Avaliação de Habilidades Cognitivo- Linguísticas (PAHCL), objeto de aplicação no presente estudo. Os autores do Protocolo de Avaliação de Habilidades Cognitivo- Linguísticas (PAHCL), com o escopo de buscar soluções que facilitassem a vida dos indivíduos disléxicos, criaram o referenciado instrumento para cobrir uma lacuna existente dentro das publicações fonoaudiológicas. Nessa direção, a área neuropsicopedagógica apresenta uma instrumentalização avaliativa também escassa. De encontro a isso, o PAHCL caracteriza-se como uma medida satisfatória para auxiliar nas vertentes relacionadas aos processos da leitura, escrita e aritmética, pois, trata-se de um material vasto, com linguagem clara e objetiva e rico em informações, que permitirá aos professores terem meios para investigar a hipótese de algum distúrbio e poder sinalizar o problema para os pais. Em uma vertente empírica o PAHCL foi utilizado em uma série de pesquisas cujos resultados embasam com veemência a sua importância na verificação do desempenho de escolares em anos iniciais de escolarização. Isto posto, Capellini e colaboradores (2007) realizaram o primeiro estudo de adaptação brasileira, no qual o objetivo principal foi caracterizar e comparar o desempenho de escolares de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental. Os resultados apontaram que a velocidade de acesso ao léxico mental está diretamente relacionada com a habilidade de consciência fonológica, memória operacional e de leitura e escrita. Outro estudo, realizado por Silva e Capellini (2011), teve como objetivo comparar o desempenho cognitivo linguístico entre escolares com distúrbios de aprendizagem e escolares com e sem transtorno de aprendizagem em leitura, escrita, consciência fonológica, velocidade de processamento e memória de trabalho fonológica. Os resultados obtidos evidenciaram uma diferença estatisticamente significante, sugerindo desempenho superior dos escolares 31 sem dificuldade em relação aos escolares com transtorno de aprendizagem (Silva & Capellini, 2013). O presente capítulo tem por objetivo apresentar e caracterizar o desempenho cognitivo-linguístico de alunos da 3ª série dos anos iniciais diante das tarefas do PAHCL na versão coletiva. MÉTODO Participaram deste estudo 15 escolares concluintes do 3º ano do ensino fundamental I, de ambos os gêneros, com média de 8 anos de idade. A turma selecionada foi de uma escola de ensino privado de uma cidade de grande porte do interior paulista, cujas aulas acontecem em período matutino. A sala de aula do 3º ano do ensino fundamental I fica localizada na unidade II do colégio e se situa na parte inferior da unidade e as aulas são ministradas no período da manhã. A sala é equipada com carteiras, cadeiras, mesa do professor, lousa, ar condicionado, armário e pontos de luz e decorada com atividades realizadas pelos próprios alunos. No dia da aplicação do teste, todos os escolares estavam uniformizados e portavam, cada um, o seu próprio material escolar. Instrumento O material utilizado neste estudo foi a versão coletiva do Protocolo de Avaliação de Habilidades Cognitivo-Linguísticas (PAHCL), este, além da versão coletiva, é também composto pela versão individual. A versão coletiva do teste é constituída por cinco subtestes, sendo eles: escrita do alfabeto em sequência, cópia de formas, aritmética, escrita sob ditado de palavras e pseudopalavras, e repetição de números, que englobam as habilidades de escrita, aritmética, processamento auditivo e processamento visual. Já a versão individual, possui 32 dez subtestes, sendo eles: leitura de palavras e pseudopalavras, ruma, aliteração, repetição de palavras e não palavras, ritmo, segmentação silábica, nomeação rápida de figuras e de dígitos, memória visual com cartões, discriminação de sons e nomeação de números invertidos, que compreendem as habilidades de leitura, metalinguística, processamento auditivo, processamento visual e velocidade de processamento. Assim, para cada uma das habilidades os autores pensaram e elaboraram provas específicas que permitem verificar o desempenho da criança. Portanto, o objetivo do PAHCL é avaliar distintos aspectos do processamento cognitivo- linguístico de crianças em fase de alfabetização, detectando aquelas com desempenho abaixo do esperado em relação ao seu grupo-classe. Procedimentos Da versão coletiva, os 15 escolares fizeram todos os cinco subtestes (escrita do alfabeto em sequência, cópia de formas, aritmética, escrita sob ditado de palavras e pseudopalavras, e repetição de números), além de terem que escrever o seu próprio nome no início. A escrita do alfabeto dever ser em sequência,incluindo as letras K, W e Y, devido à reforma ortográfica da língua portuguesa que vigora no Brasil desde o dia 1º de janeiro de 2009. A cópia de formas consiste em copiar quatro diferentes formas geométricas, dentro de um espaço determinado. O cálculo matemático (aritmética) exige a resolução de 20 operações aritméticas simples, tais como adição, subtração, multiplicação e divisão. A escrita sob ditado subdivide-se em 30 palavras reais e 10 pseudopalavras, que a criança deve escrever somente após ouvir e da maneira como entender, podendo ser repetida apenas duas vezes cada. Por fim, a repetição de números em ordem aleatória sucede com a criança escrevendo 10 sequências de números aleatórios, que podem conter de dois a seis dígitos. A análise da pontuação do escolar deu-se a depender do número de acertos do mesmo em cada um dos subtestes individualmente, isto é, atribuiu- se um (1) ponto a cada acerto em cada um dos subtestes da versão coletiva. 33 Consequentemente e de acordo com o número de acertos que o PAHCL estabelece, o escolar foi identificado com desempenho superior (DS), desempenho médio (DM) ou desempenho inferior (DI) em cada um dos subtestes. A aplicação foi realizada após a assinatura do Termo de consentimento livre e esclarecido, a qual durou 1h20 minutos, desde as orientações iniciais até o término de todos os subtestes pelos 15 escolares juntamente com a professora responsável pela turma. Portanto, a forma de análise dos dados foi pelos critérios estabelecidos pelo próprio instrumento e os resultados postos em discussão. Resultados Na tabela abaixo estão expostos os resultados encontrados após aplicação e correção do PAHCL, sendo N o número de escolares, os quais obtiveram os seguintes desempenhos no teste: desempenho superior (DS), desempenho médio (DM) ou desempenho inferior (DI) em cada um dos subtestes e a porcentagem (%) cujo número corresponde. 34 Os resultados analisados evidenciaram que o desvio padrão mais distante é observado no Ditado de Palavras, seguido pela Matemática e pelo Alfabeto, enquanto que o menos distante se apresentou em relação à Cópia de Figuras, e, por conseguinte, à Memória Imediata e ao Ditado de Pseudopalavras. Sendo que no Ditado de Palavras a pontuação máxima foi de 30 pontos e apenas cinco 5 escolares conseguiram atingi-la; na Matemática a pontuação máxima foi de 19 pontos e apenas 4 escolares conseguiram atingi-la; e, por fim, no Alfabeto a pontuação máxima foi de 26 pontos e apenas 9 escolares conseguiram atingi-la. Discussão Para Siqueira e Gurgel-Giannetti (2011) a educação formal atualmente tem importante valor sociocultural, o bom desempenho escolar é indicativo de futuro sucesso social. Nos últimos anos, o fato do acesso à escola ter se tornado universal, fez com que, consequentemente, as queixas de mau desempenho escolar e dificuldade em aprender aumentassem. Vários estudos mostram que em torno de 15% a 20% das crianças no início da escolarização apresentam dificuldade em aprender e, logo, mau desempenho escolar. Essas estimativas podem chegar a 30%-50% se forem analisados os primeiros seis anos de escolaridade. (Siqueira & Gurgel-Giannetti, 2011, pp. 79). Nessa direção, os resultados apontados neste estudo confirmam os resultados expostos no presente estudo, pois evidenciam que logo no 3º ano do ensino fundamental I, ou seja, uma das séries iniciais na qual a alfabetização se concretiza de fato, a criança já apresenta mau desempenho escolar e/ou dificuldade de aprendizagem. Comprova-se isso visto que, neste estudo, no que diz respeito à escrita sob ditado – tanto de palavras de alta frequência quanto de pseudopalavras – o objetivo foi o de verificar a codificação, ou seja, a escrita, assim como o acesso ao léxico e a rota fonológica. Isso mostra que 20% dos escolares em estudo apresentaram DI nessa habilidade, precisamente na escrita das palavras de alta frequência, o que pode sinalizar certa defasagem no processo de ensino- 35 aprendizagem da escrita, corroborada pela ideia de que nas três últimas décadas, no Brasil, o ensino de leitura e escrita tem se transformado bastante, principalmente por intermédio da tecnologia, o que demonstra que os alfabetizadores têm dificuldade em medir o progresso dos seus alunos (Albuquerque, Morais & Ferreira,2008; Morais, 2012). Tal fato também pode ser encontrado ao analisar o subteste da escrita do alfabeto em sequência, já que este apresentou-se como o terceiro desvio padrão mais distante, apontando 7% dos escolares em DI. Além disso, o cálculo matemático, que teve por objetivo verificar a capacidade da criança em solucionar equações matemáticas, apontou que 20% dos escolares estão com DI, 53% com DM e apenas 27% com DS, isto é, além do ensino-aprendizagem da escrita, os escolares apresentaram, em segundo lugar, dificuldade no que concerne à aritmética, mesmo levando-se em consideração que o grupo em estudo sabia distinguir todos os sinais matemáticos; já havia sido submetido ao aprendizado da tabuada; era capaz de elaborar as equações; e que todas as equações solicitadas já haviam sido ensinadas pela professora, desconsiderando aquelas cuja criança ainda não havia aprendido. Em vista disso, é necessário salientar que uma criança, em idade escolar, quando inicia seus passos no caminho da aprendizagem, na maioria dos casos possui apenas o domínio linguístico fonológico da língua, uma vez que ainda não adquiriu consciência das correspondências existentes da língua oral com a leitura e a escrita, as chamadas correspondências letra/som (Capellini & cols, 2007). Os dados confirmam que o processo de ensino-aprendizagem precisa, necessariamente, receber um olhar especial e cuidadoso, pois é durante a alfabetização que o escolar consolidará a base do que virá nos anos subsequentes, ou seja, esse momento é um dos fatores responsáveis pelo sucesso social futuro dele como sujeito pensante e ativo dentro de uma sociedade. 36 Portanto, de acordo com Capellini e colaboradores (2007), fica evidente a importância do professor como instrumento mediador de conhecimentos dos escolares. Assim sendo, entende-se a importância de o professor estar em constante aperfeiçoamento, caminhando lado a lado com seu aluno e tendo foco individualizado ao menos durante os anos iniciais de escolarização, pois, dessa forma, a ele será permitido completar qualquer lacuna que, por vezes, o escolar apresente durante o processo de aprendizagem. Este trabalho teve como objetivo apresentar e caracterizar o desempenho cognitivo-linguístico de alunos da 3ª série dos anos iniciais. Isso posto, os dados foram expostos e analisados na perspectiva de auxiliar os profissionais que participam do processo de aprendizagem de escolares nessa faixa etária e escolaridade. Dessa maneira, comprova-se que o PAHCL em sua versão coletiva é um instrumento que possibilita a triagem das dificuldades de aprendizagem e aponta direcionamentos para possíveis práticas interventivas no ambiente escolar. Portanto, o PAHCL apontou que os escolares da turma do 3º ano do ensino fundamental I pesquisada não apresentaram grandes desníveis no aspecto da aprendizagem, no entanto apresentaram desvios consideráveis para quem está concluindo esta série, o que ilustra a necessidade de o professor alfabetizador ter um olhar mais próximo para cada um dos seus alunos. Assim sendo, o processo de ensino-aprendizagem, dos anos iniciais referente ao ensino fundamental I, é tratado com menos critério de analise em relação ao ensino, prejudicando o desenvolvimento de escolares com dificuldades nos elementos subjacentes ao processo de alfabetização, como observado nos resultados desse trabalho. É evidente, então, que no Brasil há a necessidade em aumentar o valor investido na educação, para queseja possível alterar os resultados atuais obtidos, inclusive em avaliações de nível internacional. Devido ao não esgotamento das possibilidades de generalização desse exemplo, sugere-se como implicações futuras a replicação com um número maior de sujeitos da mesma faixa etária e escolaridade, e também um possível 37 cruzamento com outros escolares de séries/anos da mesma etapa para evidenciar a importância do objetivo proposto neste trabalho. NEUROPSICOPEDAGOGIA: NOVAS PERSPECTIVAS PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM Os estudos da neuropsicopedagogia surgiram da necessidade de se promover a integração educacional, haja vista a nova demanda social diferenciada do século XXI. Para Hennemann (2012, p.11) a mesma apresenta- se como “um novo campo de conhecimento que através dos conhecimentos neurocientíficos, agregados aos conhecimentos da pedagogia e psicologia vem contribuir para os processos de ensino-aprendizagem de indivíduos que apresentem dificuldades de aprendizagem”. Para Beauclair (2014, p.23), o termo Neuropsicopedagogia é “um novo campo de especialização profissional, de pesquisa, ação e intervenção, baseados nos avanços das Neurociências e suas aplicabilidades no campo da Educação e Psicopedagogia”. Sabendo que a neurociência significa, “conjunto de ciências fundamentais e clínicas que se ocupam da anatomia, da fisiologia e da patologia do sistema nervoso (DINIZ; DAHER; SILVA, 2008, p. 154)”, é fundamental que o neuropsicopedagogo se aproprie das bases da neurociência para intervir e pesquisar sobre as particularidades cerebrais que podem interferir no processo de aprendizagem. É preciso ter em mente que o neuropsicopedagogo, em posse dos seus referenciais teóricos, irá atuar de maneira investigativa, descobrindo os mistérios e os desdobramentos da aprendizagem, os fatores inter-relacionais e intrapessoais que podem ser chave ou ponto de partida para uma intervenção 38 pedagógica mais efetiva, para isso, deve-se levar em conta quem é esse sujeito, qual é a sua base familiar e qual o contexto em que ele está inserido. O neurosicopedagogo precisa compreender o papel do cérebro na aprendizagem, fazer levantamentos do histórico de desenvolvimento neuropsicomotor, psíquico e cognitivo do indivíduo, a fim de avaliar possíveis encaminhamentos a profissionais de outras especialidades ou mesmo intervir no ambiente educacional com adequação curricular que possibilite a aprendizagem do aluno. A perspectiva da metacognição surge como uma estratégia que auxilia no processo de aprendizagem, proporcionando ao discente a motivação tanto pelo objeto de estudo quanto pelo ambiente escolar. A estratégia metacognitiva é definida por Kleiman (2008a, p.34) como: “a capacidade de estabelecer objetivos na leitura […], isto é uma estratégia de controle e regulamento do próprio conhecimento”. Os estudos neurocientíficos apontam que para que a aprendizagem aconteça, é necessário criar memória de longo prazo, direcionando o cérebro a aprender e relacionar o conhecimento, de maneira que as informações sejam armazenadas plenamente. Desse modo, o neuropsicopedagogo pode contribuir para o desenvolvimento da motivação pela aprendizagem, ajudando o educando a descobrir quais são as suas habilidades e potencialidades e de que forma ele pode agregar isso à sua vida, numa atividade de autoconhecimento e autoconfiança. Deve-se trabalhar com a ideia de que todos são capazes de aprender, dentro de suas limitações e de seu próprio ritmo de aprendizagem. O Neuropsicopedagogo em contexto institucional, será capaz de conhecer o espaço escolar, observar os educandos e professores, traçar estratégias de avaliações e eventualmente, fazer encaminhamentos a profissionais de outras especialidades, quando julgar necessário, a fim de 39 possibilitar a aprendizagem a todos os indivíduos envolvidos no processo de escolarização, independentemente de qualquer limitação cognitiva. Referências Amaral, N. C. (2015). Os 10% do PIB como promotor da qualidade da educação: uma análise considerando os resultados do PISA e os valores aplicados por estudante em diversos países. In: Gouveia, A. B.; Pinto, J. M. R.; Fernandes, M. D. E. Financiamento da Educação no Brasil: os desafios de gastar 10% em dez anos. 1. ed. Campo Grande, MS: Ed. Oeste. 340p. Albuquerque, C. B. E., Morais, G. A., & Ferreira, B. T. A. (2008). 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TABILE, Ariete Fröhlich; JACOMETO, Marisa Claudia Durante. Fatores influenciadores no processo de aprendizagem: um estudo de caso. Rev. psicopedag., São Paulo, v. 34, n. 103, p. 75-86, 2017. TEAPOIO (GRUPO DE APOIO A PAIS E FAMILIARES DE AUTISTA) 05 de dez. 2019. BARTOSZECK, Amauri Betini. Neurociência em benefício da Educação. Diferentes olhares que se complementam. [S.l.: s.n.], 2013.
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