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Página 1 de 32 TRANSCRIÇÃO SOI 4 – PALESTRA 1 – FARMACOLOGIA DOS GLICOCORTICOIDES Vamos iniciar falando da adrenal. Adrenal é essa glândula que fica localizada na parte superior dos rins, bilateralmente no corpo. Ela foi descrita inicialmente pelo estudioso Bartolomeu Eustaqui, que descreveu, por volta de 1500, a presença dessa glândula em cima dos rins, e ele descreveu como uma massa de gordura porque realmente parecia uma massa de gordura. Apenas 200 anos depois foi que verificaram a funcionalidade dessa glândula e viram que ela era extremamente importante para a vida. Thomas Adisson foi quem primeiro descreveu a Página 2 de 32 importância das suprarrenais pra vitalidade, porque ele observou que alguns animais que perdiam dessa glândula, morriam em poucos dias. Então eles começaram a associar a glândula adrenal como a glândula da vida. Já em 1930, essa glândula foi seccionada e eles conseguiram ver que ela tinha uma estrutura diferente nessa parte de córtex e nessa parte medular, mas até então não se sabia muito bem o que era liberado, só se sabia que era a cortisona e a adrenalina, mas os demais hormônios ainda não tinham sido catalogados. Com o passar dos anos mais estudos foram feitos e foi observado que essa glândula tinha uma interação muito forte com a hipófise, de modo que na década de 30 já estava sendo catalogado a questão do feedback hormonal, e foi observado que o feedback hormonal de liberação dos hormônios da adrenal eram mediados por outros hormônios que eram liberados na hipófise. Estudos mais profundos verificaram que esse cortisol que era liberado pelo córtex da adrenal tinha uma função muito boa como anti-inflamatório e a partir da década de 50 começaram a utilizar o cortisol como uma substância anti-inflamatória, com a corticoterapia. E assim nós vamos estudar nessa aula a Farmacologia dos Glicocorticoides e entender em que situações clínicas ele pode ser prescrito. Do ponto de vista histológico, a adrenal é dividida pela parte do córtex e pela medula. A região do córtex é dividida em 3 áreas: a área mais densa é chamada de glomerulosa, onde é liberado a aldosterona, que é um mineral corticoide responsável por controlar os níveis de Na+ e K+ e também de água no nosso organismo; temos na região intermediária a zona fasciculada, que é onde é feita a liberação dos glicocorticoides, na forma de cortisol, cortisona e corticosterona; e tem, próximo da medula, a área reticulada, que é onde é feita a produção dos hormônios sexuais, esteroidais. Página 3 de 32 Na medula, a parte interna, a gente vai ver a presença de vários vasos sanguíneos, é uma área altamente vascularizada. Aqui é feita a liberação das catecolaminas, que é a adrenalina, noradrenalina. E quando elas são produzidas, são liberadas diretamente na corrente sanguínea, por isso que o efeito das catecolaminas é tão rápido. A gente consegue ver como é complexa essa glândula, que aparentemente era só uma camada em cima dos rins, e ela produz uma série de hormônios e de substâncias importantes para a homeostase no nosso organismo. É importante que a gente também verifique que esses hormônios e essas substâncias elas partem de um precursor comum, que é o COLESTEROL. Então, através do ACTH (hormônio adrenocorticotrófico), o colesterol é metabolizado em pregnenolona, que é o substrato comum de todos esses hormônios que a gente tem aqui embaixo. O colesterol vai ser base para formar a aldosterona, o cortisol, a testosterona e o estradiol. E quando a gente vai estudar o mecanismo de ação dos fármacos que são anti-glicocorticoides, que são utilizados pra tratar a Síndrome de Cushing, eles fazem a inibição de diferentes etapas da produção do cortisol. Tem deles que vão atuar diretamente na pregnenolona, porque ela faz um efeito adverso maior uma vez que altera a produção de todos esses hormônios, e tem outros atuam na parte do 17-hidroxiprogesterona, que é mais voltada para o cortisol. Página 4 de 32 Então o principal glicocorticoide endógeno que a gente tem no corpo é o cortisol, que também é associado ao hormônio do estresse porque ele é liberado quando a gente está em situações de luta ou fuga, onde há uma necessidade muito grande também da liberação de adrenalina. O cortisol, por ser produzido em uma área muito próximo a área da medula, ele acaba sensibilizando a liberação de adrenalina. Ele é muito necessário para a manutenção da vida e a síntese e secreção dele é estritamente regulada por um feedback neurohormonal. Através da liberação de cortisol a gente faz a regulação do metabolismo intermediário, fazendo com que nosso corpo fique inundado de glicose, de corpos cetônicos e também de aminoácidos que são importantes pra produção da glicose; já que o cortisol é liberado em uma situação de necessidade de glicose livre, então quando a gente está em uma situação de estresse, o cortisol faz com que a gente aumente a glicemia e esse aumento fornece energia pro cérebro, de modo que a gente consegue tomar decisões mais rápido, por isso que é importante um pouquinho de estresse durante a prova, porque você consegue raciocinar melhor quando você tem minimamente um nível de estresse acontecendo. Se você fizer uma prova extremamente relaxado, é muito provável que o seu desempenho seja um pouco menor do que se você tiver um pequeno nível de estresse. Você se concentra melhor. Porém o nível de estresse tem que ser pequeno, porque o excesso de glicose no cérebro causa pane e a pessoa fica sem conseguir pensar muito bem. O cortisol é liberado em resposta ao estresse. Alguns aspectos da função do SNC também são alterados durante essa elevação do cortisol no sangue, como as funções “negativas” que é Página 5 de 32 depressão, e as funções “positivas” que é ansiedade, compulsão. Então a depender do nível do estresse isso pode acontecer também. E o cortisol ele também atua de forma importante na imunidade, reduzindo essa imunidade, porque o cortisol acaba reduzindo a produção de citocinas, que são quimiotáticos naturais das células de defesa. Então se a gente não tem essa quimiotaxia acontecendo, naturalmente a parte inflamatória e imunológica também vai cair. Então o processo de liberação dos glicocorticoides, das catecolaminas e de todos os hormônios que estão aqui compostos nas adrenais, acontece através de um eixo hipotálamo- pituitária-adrenal, também chamado de hipotálamo-hipófise-adrenal. Nesse eixo acontece um estímulo no hipotálamo com a liberação do hormônio liberador de corticotrofina. Esse hormônio vai atuar na região anterior da hipófise e vai liberar o ACTH e ele vai atuar nas adrenais para liberar as catecolaminas e os glicocorticoides. Esse processo é feito tanto de forma direta, mas também ele pode ser inibido quando as quantidades sanguíneas de glicocorticoides e/ou catecolaminas estão muito elevados, porque isso indica para o sistema nervoso que a gente está tendo um excesso de hormônios de estresse, e aí com isso ele faz uma supressão do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, para que essa liberação de ACTH reduza e a gente não tenha uma overdose de corticóides. De modo que os glicocorticóides são liberados sempre que o nosso corpo precisa reter energia e aumentar glicose. Também temos uma liberação Página 6 de 32 de glicocorticóides catalogadas quando a gente está com um processo inflamatório muito grande, porque o processo inflamatório aumenta a acidez no sangue e isso gera estresse. Então qualquer coisa que eleve o estresse, reduza o PH, faz com que a gente libere glicocorticóides. E essa liberação de glicocorticóides como a gente falou anteriormente ela vai atuar em diversas áreas do corpo. Por exemplo, o sistema imune vai ficar reduzido e letárgico. Os músculos vão perder sua atividade metabólica, porque o músculo quando ele está com sua atividade metabólica plena, ele gasta muita energia e quando os glicocorticóides são liberados,ele dá um mecanismo para o nosso corpo de poupar energia. E como ele faz o músculo poupar energia? Fazendo o catabolismo muscular. Então os aminoácidos musculares que são convertidos em glicose, que são aminoácidos glicogênicos, eles são quebrados e enviados para o fígado para que ele faça a reserva de glicose na forma de gliconeogênese. Então esses metabólitos todos do músculo quanto dos adipócitos, os ácidos graxos cetogênicos vão todos para o fígado para ser convertido em glicose. Com isso a gente vai ter perda muscular e perda de gordura, mas é importante dizer que essa perda de gordura mediada pelos glicocorticóides é uma perda de gordura periférica, porque acontece uma redistribuição da gordura do corpo, porque já foi verificado que a gordura periférica que são dos braços e das pernas e a gordura central que é a gordura visceral central, gordura da face, elas respondem de formas diferentes quando há presença dos glicocorticóides. De modo que, as gorduras viscerais elas não conseguem fazer essa quebra dos ácidos graxos como a periférica e a gente vai ter na verdade é um acúmulo de gordura central e uma redução na gordura periférica, deixando aquele aspecto de braços e pernas finas e o abdômen globoso. A frequência cardíaca da pessoa também vai aumentar, porque os glicocorticóides eles também aumentam as catecolaminas e com isso vai ter uma elevação da pressão arterial. Que na verdade acontece porque é como se fosse o corpo querendo levar mais glicose, porque já que vai levantar a glicemia, então mais glicose para o resto do corpo. Só que essa característica de elevar a frequência arterial não é interessante se o paciente já for um paciente hipertenso. Por isso que é muito importante tomar cuidado quando for fazer a corticoterapia em pacientes que possam, por exemplo, ter uma doença base que vai ser piorada pela corticoterapia, dentre eles aqui temos a hipertensão e a diabetes. (Aluno) Por que a actina e miosina não são usadas na gliconeogênese? (Professora) Porque a actina e miosina não são glicogênicas. Eles só usam as aminas glicogênicas, a quebra da fibra não acontece uma perda total, ele perde somente o conteúdo de aminoácidos que são glicogênicos, ele não perde o conteúdo das proteínas que fazem a contração e não perde a célula inteira, ela perde o conteúdo celular, consequentemente reduzindo a massa celular. Mesma coisa acontece com a pessoa que tem hipertrofia porque está malhando bastante, a fibra dele fica inchada e por isso que o volume muscular aumenta. (Aluno) Por que os glicocorticóides aumentam a gordura visceral e da face? (Professora) Porque a gordura visceral e a gordura da face tem a quantidade de receptores diferentes para os glicocorticóides em relação a gordura periférica, então como a gordura periférica tem mais receptores para os glicocorticóides, na gordura periférica os glicocorticóides Página 7 de 32 fazem a mobilização de ácidos graxos. Na visceral não, porque tem menos receptores de glicocorticoides e você vai ter um aumento de glicose no sangue porque você vai levar ácidos graxo e aminoácido glicogênicos para o fígado, transformando em glicose, a gente vai ter uma retirada de glicose do fígado para o sangue e com esse aumento de glicose no sangue vai ser armazenado na gordura central que é a visceral e do rosto. Então a gente vai ter todo um metabolismo voltado para o armazenamento energético, e claro que a insulina que vai fazer esse armazenamento ela vai estar letárgica e os da gordura da barriga, da face e da corcova de búfalo (que as pessoas com síndrome de Cushing tem). Então tudo isso é por causa da biodisponibilidade diferente de receptores dos glicocorticóides no nosso corpo. É tudo tecido adiposo, mas eles têm uma biodistribuição diferenciada de receptores. (Aluno) Só para deixar claro, então na gordura periférica tem mais glicocorticoides receptores e na face tem menos? (Professora) Sim. Vocês já ouviram falar na gordura marrom? O que a gordura marrom faz? (Aluno) Ela é termogênica. (Professora) A função da gordura marrom é fazer a termogênese. Na termogênese, a gente vai queimar calorias para gerar temperatura e isso faz com que a gente emagreça. Por isso que os termogênicos acabam ajudando no emagrecimento. Os glicocorticóides para a gordura marrom vão bloquear a termogênese, bloqueando a termogênese, reserva energia, e essa energia vai ser guardada na gordura visceral. Porque a gordura visceral tem pouca atividade de glicocorticoides e muita atividade de insulina, então a gente vai ter pouco catabolismo e muito anabolismo, uma reserva energética e um aumento da massa do tecido adiposo. Por isso que uma pessoa com síndrome de Cushing é bem característica, consegue observar pela fisionomia da pessoa. Inclusive a gente vê uma pessoa muito estressada, que está em um cargo de muito estresse ou na medicina que é um curso muito estressante, no final do curso tão tudo barrigudinho. Por conta desse estresse sustentado durante o curso e você começa a engordar na barriga, que é exatamente onde o cortisol vai está atuando. (Aluno) O cortisol diminui a termogênese? (Professor) Sim, reduz atividade da gordura marrom em fazer a termogênese e isso faz estoque de energia, estocando gordura, fazendo você ficar mais gordo. (Aluno) Essas alterações que você falou no sistema imune, do músculo, do fígado e adipócitos é por conta do aumento dos glicocorticóides? (Professor) Sim, tudo isso é relacionado com glicocorticóides. (Aluno) É por conta do eixo hipotalâmico ou por conta da introdução dos medicamentos glicocorticóides? (Professor) Por ambos. Se você aumenta glicocorticóide de forma natural pelo eixo do estresse do dia a dia, e de forma exógena por medicamento, você vai ter o mesmo efeito. Por isso que pessoas que fazem o uso de glicocorticoides elas ficam mais gordinhas na barriga. Página 8 de 32 (Aluno) E o efeito do cortisol sobre o apetite? (Professor) Sim, o cortisol provoca a liberação de leptina pelo hipotálamo, que aumenta a secreção de grelina pelo estômago (hormônios da fome), assim aumentando a fome, sobretudo, por alimentos hipercalóricos. Quando uma pessoa está estressada, ela quer comer uma pizza, lasanha etc, porque o corpo recebe a informação que não tem energia, a insulina vai estar baixa o órgão precisa achar um jeito de gerar insulina e aumentar o aporte de glicose nas células, por isso o desejo por coisas doces, com muito carboidrato, muita gordura. (Aluno) Por isso, um dos sintomas da Doença de Addison é a perda de apetite. (Professor) Isso, porque na Doença de Addison há uma supressão na adrenal, o que reduz a liberação de leptina pelo hipotálamo, que reduz a liberação de grelina. (Aluno) Quando a pessoa tem ansiedade e possui compulsão alimentar, está ligada a isso? (Professor) Sim, porque a ansiedade sensibiliza as adrenais para a liberação de corticoides e tende a comer mais doces. Essa linha vermelha é o ACTH: quando está aumentado, também há aumento dos Glicocorticoides (linha amarela). Com o gráfico percebemos que os dois estão mais reduzidos durante a madrugada, que é onde a gente tem uma redução desse cortisol também. Quando chega a noite, a gente tem uma redução do ACTH com uma redução dos glicocorticoides (os níveis já começam a reduzir), e é por isso que toda doença infecciosa que gera inflamação piora a noite, porque durante o dia os glicocorticoides estão em níveis altos, fazendo ação anti-inflamatória natural e quando os níveis caem, a noite, as manifestações da inflamação pioram. Página 9 de 32 Entender esse gráfico é importante para saber os picos de liberação do cortisol, como também para entender qual o melhor horário de administrar a medicação ao paciente. O melhor horário para tomar corticoide é pela manhã, por volta das 8h, pois há um pico de ACTH que nos faz acordar e logo na sequência uma queda, que indica que o eixo hipotálamo hipofisário está suprimido que faz medicaçãodo paciente, simulando o que iria acontecer endogenamente. (Aluno) Eu sou uma pessoa muito ansiosa, então por conta da compulsão alimentar, a nutricionista disse que o sono é muito importante, então, é por conta disso? Ela disse que se o sono não fosse regular não iria ter uma auxílio na perda de peso. (Professor) Exatamente, o sono favorece com que esse eixo fique suprimido a noite. Quando você se mantém acordado, você inverte esse pico de ACTH, a pessoa fica acordada a noite e letárgico de dia. Quando ficamos acordados a noite, sentimos mais fome e o metabolismo não funciona como deveria, com isso aumenta a facilidade de acumular gordura e de piora dos quadros depressivos e ansiogênicos em geral, até porque o cortisol está relacionado com os quadros positivos e negativos do SNC (Positivos - hiperexcitação que é a ansiedade; Negativos - depressão) por isso é muito importante para o ansioso/depressivo dormir de forma correta. (Aluno) Por que o cortisol aumenta após as refeições? (Professor) Aumenta por um mecanismo de feedback, pois quando você está comendo, enchendo o estômago existe um atraso da neuroquímica para a pessoa sentir que está saciada, enquanto esse atraso está acontecendo o cortisol ainda está aumentado, uma vez que ainda não chegou glicose o suficiente no sangue para bloquear o excesso de cortisol. Então, nesse pequeno atraso ainda está tendo o pico, pois é como se o corpo ainda estivesse com fome, depois disso ele baixa. O catabolismo de proteínas utiliza os aminoácidos glicogênicos e o catabolismo dos lipídios, os ácidos graxos, que vão ser convertido em glicose no fígado. O aumento da glicose plasmática provoca o aumento da clareza mental, pois o cérebro fica com mais energia para gastar. O aumento da PA é pelo aumento das catecolaminas, que o cortisol também promove. Página 10 de 32 Por conta do cortisol, há uma menor captação de glicose (insulina fica hipoativa) pelos tecidos periféricos e uma maior conversão da glicose em gliconeogênese no fígado. Por sua vez, a glicemia aumenta, pois a gliconeogênese vai estocar e depois fazer a glicogenólise, que é a lise dessa glicose, que vai ser liberada no sangue (menos captação e mais liberação de glicose no sangue). Então a glicemia vai aumentar, a insulina vai reduzir a sua atividade e teremos um aumento do armazenamento da glicose em forma de glicogênio. Página 11 de 32 (Aluno) pede para repetir a explicação do porquê pela manhã ser o horário de tomar o corticoide. (Professor) Por volta das 6h da manhã ocorre aumento do ACTH, que é o que faz nosso corpo despertar, o que provoca um delicado aumento do cortisol e logo na sequência o acth e o cortisol diminuem, porque como os níveis de acth estão bem altos acarreta em um feedback negativo no eixo hipotálamo hipofisário, assim, quando temos essa supressão natural do eixo hipotálamo hipofisário é que deve ser feita a tomada da medicação, para garantir a atuação normal do eixo hipotálamo hipofisário. Por exemplo, se a medição for as 4h da manhã, o meu eixo hipotálamo- hipofisário não está suprimido o suficiente porque nós temos uma liberação do ACTH e o corticoide está baixo e assim há uma desordem no eixo hipotálamo-hipofisário, e por isso que devemos tomar ele pela manhã porque ele faz esse pico gigante e depois ele suprime. (Aluno) Qual o estímulo que gera esse aumento do ACTH pela manhã? (Professor) É o estímulo metabólico natural da espécie humana que é diurno. Nos animais diurnos isso acontece para que eles possam acordar. (Aluno) Então é algo natural, né? (Professor) Sim, natural da espécie humana. Quanto às proteínas, nós vamos ter uma redução da síntese porque os glicocorticóides são anti-anabólicos e vamos ter a sua degradação, além disso ainda são catabólicos, não fazem produção e ainda fazem quebra. Teremos uma redução do volume das fibras musculares, então o músculo vai atrofiar. Os lipídeos vão aumentar a lipase e vai ter um redistribuição das gordura corporal, com quebra e redução da gordura periférica, com aumento da gordura visceral que é a gordura central e da face. O glicocorticoide altera os níveis das células sanguíneas no plasma fazendo uma diminuição das células de defesa que são os eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos, e aumenta a hemoglobina, hemácias e plaquetas que são células que não tão relacionadas com a defesa do corpo, mas estão relacionadas diretamente com o aumento metabólico. Página 12 de 32 As células inflamatórias serão reduzidas, por conta da redução da ativação de neutrófilos e macrófagos, por conta da redução da transcrição de genes que vão liberar citocinas. Nos neutrófilos e macrófagos ocorre uma estabilização da membrana de seus lisossomos (que são organelas produtoras de enzimas, citocinas). As citocinas são cadeias proteicas. Com essa estabilização tais substâncias não são liberadas, reduzindo o recrutamento de células inflamatórias o que representa uma letargia no sistema imunológico. Vamos ter uma redução da atividade das células T-helper, por conta redução da transcrição de genes produtores de interleucina-2 (IL-2). Redução da função de fibroblastos, o que diminui a cicatrização da pele. O colágeno vai ser menos produzido e os glicosaminoglicanos também. Então pessoas que estiverem fazendo uso de corticoides ou pessoas portadores da Síndrome de Cushing vão ter uma menor cicatrização. No tecido ósseo, haverá uma redução da ativação dos osteoblastos que são células que repõem a matriz óssea. Isso causa um desequilíbrio que favorece a ação dos osteoclastos, gerando aumento na absorção óssea, com o paciente culminando em um quadro de osteoporose. Página 13 de 32 Do ponto de vista inflamatório, os corticóides têm uma ação anti-inflamatória por causa de quê? Porque eles estarão atuando em dois momentos para a produção de substâncias chamadas de inflamatórias. Na camada fosfolipídica das células, existe uma enzima chamada de fosfolipase A2, que converte tais fosfolipídeos em ácido aracdônico. Este ácido é substrato para a produção de duas formas: a lipoxigenase ou a cicloxigenase, que representam vias inflamatórias do corpo. A cicloxigenase vai produzir prostaglandinas e tromboxanas que são substâncias inflamatórias e quimiotáticas, as quais podem ser impedidas de ser produzidas e então assim ocorre um bloqueio da inflamação e consequentemente bloqueamos a imunidade. Então os glicocorticóides vão atuar tanto bloqueando a fosfolipase A2, na conversão do ácido aracdônico, quanto também na cicloxigenase, agindo como os AINEs, os antinflamatórios não esteroidais. Por isso que eles são tão utilizados em doenças inflamatórias agudas e crônicas também, porque reduzem bastante o edema e a dor gerados pela inflamação. Página 14 de 32 Do ponto de vista dos mediadores inflamatórios, os glicocorticóides vão ter uma produção reduzida de prostanóides (que induzem produção reduzida da cicloxigenase-2 reduzindo a inflamação), vai ter uma produção reduzida de citocinas, porque ele vai estabilizar a membrana do lisossomo impedindo a liberação de várias citocinas que são quimiotáticas desde a interleucina 1,2,3 e 4, fator de necrose tumoral, que é o TNF-alfa, então há realmente uma redução da quimiotaxia de células de defesa, há um redução da atividade das proteínas do Sistema do Complemento, o qual fica prejudicado, vamos ter uma redução da liberação de óxido nítrico (NO), que é um gás que as células produzem naturalmente perante um estresse, mas no caso dos glicocorticóides vai estar reduzido e sem óxido nítrico nós não temos vasodilatação e sem vasodilatação as células de defesa também não chegam no local que elas precisam alcançar (quimiotaxia). Há também a redução da liberação da histamina, que é uma outra substância também inflamatória, vamos ter também a redução da produção de imunoglobulinas, em especial a imunoglobulina-G,que é a imunoglobulina de memória imunológica. Então por isso que não é indicado à pessoa que esteja tomando corticoide, tomar a vacina perto do uso dos corticoides. Por quê? Se o corticoide reduz a proporção de Imunoglobulina-G e a pessoa está fazendo o uso de corticoterapia, isso vai reduzir a eficácia da vacina. Ele vai provocar uma síntese aumentada de fatores antinflamatórios, como a interleucina-10, receptor de interleucina IL-1, porque nós temos receptores de interleucinas que são pró-inflamatórias, que vão ficar reduzidas, e as que são antinflamatórias, que vão ficar aumentadas. Página 15 de 32 Do ponto de vista de outros sistemas, que é o caso do estômago, o glicocorticoide vai aumentar a liberação de ácido clorídrico para favorecer a digestão, com isso, se o paciente tiver com uma doença dispéptica, uma gastrite, e fizer o uso de corticoide sem um fármaco inibidor da bomba de prótons (que diminuem a produção gástrica), essa pessoa pode até evoluir para uma úlcera gástrica. Lembrando que, com relação ao tecido ósseo, essa pessoa vai ter uma perda óssea, porque vai aumentar a atividade dos osteoclastos que são células que fazem a reabsorção óssea e reduzir a atividade dos osteoblastos, que são células que fazem a remineralização óssea, por isso há uma perda do tecido ósseo gerando a osteoporose. Quanto ao cálcio, os glicocorticóides diminuem sua absorção no TGI, reduz também a ativação da vitamina D, que é importante nessa fisiologia do Ca, que além de não ser absorvido, é eliminado nas fezes. Além disso, ocorre aumento na taxa de excreção renal do Cálcio. Aquele cálcio que está presente no sangue oriundo do tecido ósseo, vai ser eliminado pelos rins porque a taxa de liberação do cálcio fica aumentada pelos rins, então o paciente vai involuntariamente evoluir para um quadro de osteoporose. (Professor) No caso de uso crônico de corticoides, o indivíduo que tomar a vacina, vai ter uma resposta positiva de IgG ou é um indivíduo com um resposta menor a vacina? (Professor) Devido a ingestão de corticoides, ele vai fazer menos IgG, porque o corticoide reduz a produção de IgG, consequentemente vai reduzir a eficácia da vacina. No período passado, tinha um aluno que disse que a mãe dele tomava corticóide injetável uma vez por mês e a vacinação dela estava prevista para semana seguinte. E ele perguntou o que devia fazer, se seria melhor atrasar a injeção pra depois da vacina. E eu disse: "com certeza". E ele: em quanto tempo? E eu: de 20-30 dias após a vacina, que é tempo suficiente para o sistema imunológico já estar produzindo anticorpos. O uso de corticóide diminui a eficácia da vacina. Página 16 de 32 (Professor) Um aluno falou que a mãe tomava corticoide injetável uma vez por mês, e que a vacina dela estava agendada para a semana seguinte, ele perguntou se seria aconselhável ela atrasar a dose do corticóide. E realmente o aconselhável seria atrasar um mês, ou pelo menos 20 dias depois da vacina da covid-19, pois seria o tempo em que o corpo estaria produzindo anticorpos. Se ela tomar antes ou logo após a vacina ela vai neutralizar o efeito da vacina, mas tem que ver porque tudo é custo-benefício. (Aluno) Eu vi que homens trans que fazem a reposição hormonal, quando for vacinar para a covid, têm que passar um mês sem fazer a aplicação de hormônios masculinos, qual seria a relação? (Professor) A relação está nessa figura, o cortisol tem um ancestral comum com a aldosterona, testosterona e o estradiol, esse ancestral é a pregnenolona e os medicamentos antitestosterona atuam aqui (pregnenolona), com isso, de algum modo ele vai acabar interferindo no cortisol. Por isso, não é indicado que a pessoa faça esse uso durante a vacinação. Os glicocorticoides são hormônios e medicamentos hormonais tem uma ligação em receptores nucleares, ou seja, o corticoide entra na célula atravessa a membrana, ele vai ser carreado por um complexo fármaco-receptor até o núcleo da célula e lá ele vai inibir a transcrição de diversos genes, levando à diminuição de todas aquelas atividades que nós vimos anteriormente. Página 17 de 32 Quando a pessoa faz uso de glicocorticoide, ela vai ter sua adeno-hipófise suprimida, o excesso de glicocorticoide no sangue vai fazer uma redução da secreção de CRH e uma redução da secreção de ACTH que é controlado pela secreção do primeiro, e com isso não haverá uma estimulação da suprarrenal e ela vai atrofiar, isso acontece tanto com pessoas que fazem o uso de corticoide via exógena, quanto de pessoas que sofrem Síndrome de Cushing. No caso de pessoas que usam corticoide, se desenvolvem essa supressão do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal, o procedimento é primeiro entender as doses diárias para isso, porque se a pessoa, por exemplo, faz o uso diário de uma dose considerada baixa (5 a 10mg de corticoide), nesse caso não faz diferença. Podemos ver pelo quadro que qualquer dose, mesmo Página 18 de 32 sendo uma dose alta (acima de 30), mas tomar em dias alternados, ela não vai ter uma supressão do eixo hipotálamo-hipofisório, porque ela vai ter pelo menos um dia com ele funcionando natural. Por outro lado, se a pessoa tomar uma dose baixa, que é de 5 a 10mg por dia, se for 7,5 ou menos, por exemplo, ela não vai sofrer a supressão, porque é uma dose muito baixa, mas se a pessoa tomar acima de 10 mg por dia, ela vai ter uma supressão do eixo hipotálamo-hipofisário a partir de 6 meses a um ano de uso, conforme a dose for aumentada a inibição do eixo HHSR vai ser mais precoce, de modo que, se você tomar uma dose diária maior que 30 mg que é considerada uma dose de intermediária pra alta, com uma semana de uso diário, a pessoa já vai ter uma supressão do eixo HHSR. De modo que, se a pessoa tiver que tirar a medicação ela vai ter que fazer o desmame, porque se você fez uma inibição do eixo HHSR, e tira o medicamento de uma vez, a pessoa vai cursar com crise addisoniana por supressão do eixo HHSR, não que a pessoa tenha desenvolvido a doença autoimune, é porque ela vai tá suprimida e clinicamente ela vai responder como uma pessoa que tem doença de Addison. Essa pessoa vai ter náusea, vômitos, mal estar, aquela sensação de desmaio, ou a pressão muito baixa, perda de peso, isso tudo são sintomas da crise addisoniana. No slide tem uma situação, Geovana está tomando uma dose considerada alta, por 2 anos e 6 meses, o esquema 1, é o que ela usou para retirar o medicamento, ela fez uma redução de 20 em 20mg, reduzindo aos poucos até desmamar por completo, tudo isso resultou em 12 semanas de desmame, isso fazendo de forma controlada e avaliando se no processo o paciente, não vai apresentar uma crise addisoniana por conta da inibição do eixo HHSR. Página 19 de 32 As três propriedades fundamentais dos corticoides estão nas caixas pretas. A atividade mineralo-corticoide dos glicocorticóides entram muito mais no viés de efeito adverso do que no de efeito esperado, porque geralmente a pessoa que toma glicocorticoide quer tirar uma inflamação, e a meia-vida do glicocorticoide também deve ser levada em consideração, pois dependendo da meia-vida, se ele for corticoide de ação rápida ou prolongada, ele pode ser indicado para situações clínicas inflamatórias diferentes. Página 20 de 32 A hidrocortisona e a cortisona, que são os glicocorticoides análogos aos naturais, eles tem uma proporção de 1:1 entre o efeito anti-inflamatório e o retentor de sal (efeito mineralocorticoide). E aí em comparação com os outros glicorticóides, é importante comparar a hidrocortisona que tem a proporção de 1:1, então é como se fosse um glicocorticoide mais leve do ponto de vista inflamatório, porque é pouco, e também o custo-benefício dele não é tão bom, porque na mesma medida que ele anti-inflama, ele também faz retenção de líquido, e esse é o efeito adverso que ninguém quer. Os glicocorticoides intermediários,como a prednisona, a prednisolona, em relação aos de ação curta são bem melhores, pois são de 4 a 5 vezes mais potentes do ponto de vista anti- inflamatório do que a hidrocortisona e eles têm um efeito mineralocorticoide bem menor, fazendo com que o efeito adverso dele seja bem menor também. Então professora quando eu vou indicar para uma pessoa, um glicocorticoide de ação curta e um de ação intermediária? Se a pessoa estiver precisando apenas fazer reposição hormonal, teremos de receitar para ela um corticoide que seja o mais próximo do endógeno, que é o que nem vai tá reduzindo a imunidade, porque não está tendo uma inflamação, mas também não vai alterar muito na retenção de líquido, então a hidrocortisona e a cortisona são mais indicadas quando se quer fazer reposição hormonal, como o paciente que tem síndrome de Addison, ou tem algum tumor que reduz a produção de glicocorticoide e a pessoa precisa repor esse hormônio, a gente faz com o glicocorticoide de ação curta. Quando a pessoa tem uma doença inflamatória é preciso usar aqueles que tenham atividade anti-inflamatória bem maior, que são os de ação intermediária ou longa. Os de ação longa, que são a betametasona e a dextametasona, são indicados quando a gente quer fazer uma anti-inflamação potente. Já os mineralocorticoides, eles acabam tendo até um considerável processo anti-inflamatório, mas não compensa utilizar como anti-inflamatório porque olha como ele é poderoso do ponto de vista do mineralocorticoide. Então para que o mineralocorticoide seria usado? A pessoa está utilizando uma fludrocortisona e da desoxicorticosterona, que não é anti-inflamatório e vai fazer com que a pessoa retenha água e sal. (Professor) Quando eu poderia fazer uso desses medicamentos? (Aluno) Em situação de baixa pressão (hipotensão)? (Professor) No caso, esses medicamentos são utilizados quando se quer reter água na pessoa ou em casos de insuficiência renal, choque hipovolêmico e redução muito grande de potássio. Então se a pessoa está com hipocalemia, ela não pode mais perder potássio e para ela não perder potássio, tem que se preservar o sódio e a água. Página 21 de 32 (Aluno) Os hormônios mineralocorticoides tem o efeito de secretar potássio? (Professor) Os mineralocorticoides vão aumentar a liberação de potássio quando eles atuam no ducto coletor, mas nesse caso, nós podemos associá-lo como poupador de potássio, porque você garante a reabsorção de sódio e de água sem eliminar potássio. Quando se utiliza um diurético do tipo tiazídico, esse diurético irá fazer com que haja redução da absorção de sódio. E quando o sódio não for absorvido completamente, ele será enviado para o ducto coletor e lá nesse ducto, todo sódio que é absorvido é um potássio eliminado e com isso haverá a perda de potássio. Sobre a cortisona e a hidrocortisona, elas são indicadas quando se deseja fazer reposição hormonal, em que se usa a terapia de reposição, porque não tem uma atividade anti-inflamatória muito boa e a atividade mineralocorticoide dele é relativamente alta para o custo-benefício anti- inflamatório. Página 22 de 32 Quando se quer tratar um quadro inflamatório, desde que seja um quadro mais longo, a utilização da prednisona, prednisolona e metilprednisolona se tornam a primeira escolha para tratamentos anti-inflamatórios e imunossupressores de longo prazo e as doenças crônicas como Poliosite-dermatosite e DPOC são doenças com nível inflamatório moderado, considerado não tão alto, quando comparados a uma inflamação aguda, aí nesses casos se utiliza os glicocorticoides de ação intermediária. Quando se fala de um quadro inflamatório agudo, máximo, como por exemplo um choque séptico, edema cerebral, inflamação por COVID-19 ou até mesmo uma crise de rinite muito forte, utiliza-se os fármacos de ação longa como a dexametasona e a betametasona. Elas tem uma meia vida plasmática longa e atividade mineralocorticoide mínima, além de um efeito anti-inflamatório maior. (Aluno) No caso de processos alérgicos, já vi que muitos médicos prescreveram a dexametasona, por exemplo em casos de picada de abelha. (Professor) Sim, tudo que é agudo e máximo é indicado se administrar um anti-inflamatório forte, porque o corpo necessita de um processo de anti-inflamação rápida e máxima, uma vez que o quadro precisa ser revertido de forma rápida. Nesses casos agudos que surgiram em pouco tempo, se é utilizado um corticoide de ação longa. (Aluno) Teve uma vez que fiquei com enxaqueca a ponto de nenhum anti-inflamatório funcionar e, depois disso, me foi prescrito prednisolona e ao tomar a dor passou. Teve alguma interferência nisso? (Professor) Sua enxaqueca é crônica? (Aluno) Sim, é crônica, mas é porque no momento, eu estava em uma crise, a ponto de nenhum anti-inflamatório surtir efeito. Página 23 de 32 (Professor) O médico te prescreveu prednisolona para que não houvesse uma inibição do seu eixo hipotálamo-hipofisário. A enxaqueca é uma doença crônica, então toda vez que você fosse tomar a medicação ao sentir uma dor de cabeça, o seu eixo hipotálamo-hipofisário seria inibido e poderia resultar em crise Addisoniana. Dá para perceber que a intervenção tem que ser pontual, em um momento único, e dependendo do nível de dor que a pessoa relate e da não responsividade aos analgésicos é que um anti-inflamatório potente como este pode ser também associado. Do ponto de vista da farmacocinética, os glicocorticoides possuem absorção rápida pelo TGI, são absorvidos prontamente pelos espaços sinoviais e conjuntivo, porém lentamente pela pele. São muito bem tolerados quando por via tópica para produzir ação local, como no caso de uma picada de inseto, sendo por isso que você vê que algumas pomadas anti-alérgicas possuem corticoide na sua constituição. E aqui se apresentam as principais vias de administração dos corticoides, como por exemplo a via intra-muscular, aerossol, via oral. Página 24 de 32 A maioria do cortisol circulante vai estar ligado a uma proteína, por ser uma molécula que não é muito bem hidrossolúvel. Então ele vai ter que estar ligada a uma proteína, seja albumina ou globulina, mas o corticoide que faz o efeito do nosso corpo são aqueles que estão na forma livre, para que ele possa se ligar a um receptor. Então esses 3 a 10% que faz o efeito dele no nosso organismo. Os principais sítios de inativação são o fígado e os rins, e a via que resulta na inativação é por conta da quebra da dupla ligação presente no anel 4’-5’, pela quebra do grupo cetônico na porção 3 e pela quebra da hidroxila na porção 6. Página 25 de 32 Vários derivados semissintéticos dos glicocorticoides são usados no tratamento de várias condições patológicas, tais como: insuficiência adreno-cortical (na forma de reposição hormonal), diagnóstico de Síndrome de Cushing (se a pessoa estiver com SC na sua forma subclínica e ela tomar uma dose de corticoide, ela vai ter uma exarcerbação de alguns sintomas da própria SC), alívio de sintomas inflamatórios, tratamento de alergias/transplantes de órgãos e para a aceleração da maturação pulmonar, já que os glicocorticoides aceleram a maturação pulmonar em bebês, principalmente quando a mãe está em trabalho de parto prematuro, e para fazer com que a criança tenha maturação pulmonar mais acelerada os glicocorticoides serão administrados na mãe. A exposição excessiva a glicocorticoides faz a pessoa desenvolver um quadro de Síndrome de Cushing medicamentosa. Como eu sei que o Cushing é medicamentoso ou é natural/fisiológico? Geralmente o Cushing fisiopatológico demora mais tempo para se observar os efeitos somáticos. Já quando a pessoa desenvolve Cushing por medicamento, esses efeitos ocorrem em poucos dias, sendo geralmente associado a doses elevadas do glicocorticoide e a partir daí você consegue identificar as diferenças. E o excesso da dose de glicocorticoidevai resultar na administração exógena excessiva, mas também pode ser desencadeada de forma natural, por problemas endógenos como adenoma hipofisário (que vai aumentar a liberação de ACTH) ou produção de ACTH ectópica (exemplo carcinoma de pequenas células do pulmão ou tumor carcinoide), que também vai liberar ACTH de forma ectópica, ou seja, fora do seu lugar normal). (Aluno) No caso de estresse, por exemplo, em que tem um alto nível de cortisol no sangue, para reduzir esse cortisol, qual seria a terapia farmacológica? (Professor) Quando se trata de estresse, não vale a pena o uso de substâncias antimetabólicas do corticoide. É melhor sugerir para a pessoa descansar, relaxar, praticar atividade física, e se houver excesso de cortisol por ansiedade, é preciso um ansiolítico. Isso porque grande parte dos Página 26 de 32 antimetabólicos para o cortisol também reduzem hormônios esteroidais, então o custo benefício não vale a pena, sendo melhor outras estratégias. Só indicamos os antimetabólicos do cortisol nos casos de Síndrome de Cushing. (Aluno) Por que acontece amenorreia e hipotensão se o cortisol estiver aumentado? (Professor) Na verdade, o nível elevado de cortisol causa hipertensão. A hipotensão ocorre na síndrome de Addison, por exemplo, quando o nível de cortisol está baixo. (Aluno) E quanto à impotência sexual, por que ela ocorre? (Professor) Em relação à impotência sexual, isso ocorre porque o cortisol reduz o anabolismo, ou seja, reduz a liberação de outras substâncias, e com isso, ocorre redução da atividade sexual também. Para se ter atividade sexual, é necessário o gasto de energia, e como o cortisol é o hormônio que nos faz preservar energia, então uma das coisas que ele reduz é a parte sexual. (Aluno) Também tem relação com a diminuição da ação dos vasodilatadores? (Professor) Sim, porque também reduz a liberação de óxido nítrico, que é necessária para a ereção. Já a amenorreia ocorre por conta da atividade celular, que vai ser demandada para a produção de óvulos, e se a mulher não consegue ovular, todo o seu ciclo menstrual é alterado. Na imagem, podemos ver que o excesso de cortisol (que pode ocorrer pelo uso de medicamentos ou por outras causas como adenomas e cânceres que liberam ACTH), causa efeitos como bochechas avermelhadas (pela vasodilatação que acontece); face em forma de lua (pela redistribuição de gordura, que ocorre na face, na barriga e nos coxins, que causa a chamada corcunda de búfalo); pele fina (pela redução dos fibroblastos e menor produção de colágeno); Página 27 de 32 várias regiões de equimoses (pelo aumento da permeabilidade dos vasos e extravasamento de sangue); má cicatrização de feridas (pela redução dos fibroblastos); pernas e braços finos (devido à lipólise do tecido gorduroso desse local); estrias vermelhas (devido à redução dos fibroblastos) e alcalose metabólica (por aumento da eliminação do potássio, devido ao efeito mineralocorticoide dos corticoides). Quanto à exposição excessiva a glicocorticoides, as possibilidades de tratamento incluem a remoção cirúrgica do adenoma que libera ACTH e produz Cushing; ou tratar a pessoa com inibidores biossintéticos dos glicocorticoides, como metirapona (que inclusive é indicada para gestantes, porque inibe a produção apenas do precursor do cortisol e não da pregnenolona); aminoglutetimida (indicada quando a pessoa tem aumento de cortisol associada com câncer de mama, pois esse fármaco atua inibindo a pregnenolona e a produção de estrogênio, sendo que o estrogênio muitas vezes alimenta o tumor de mama); cetoconazol (antifúngico que inibe a síntese dos esteroides gonadais e adrenais) e a mifepristona (faz um antagonismo ao receptor do glicocorticoide, é indicado principalmente para liberação de ACTH ectópico). Página 28 de 32 Os efeitos adversos da diminuição da produção de cortisol incluem as insuficiências adrenais primária e secundária. A insuficiência adrenal primária ocorre por conta de doenças autoimunes, endócrinas, por tuberculose e hemorragias adrenais. Já a insuficiência adrenal secundária ocorre pela administração prolongada de glicocorticóides exógenos (o que faz uma supressão endógena da glândula adrenal) ou devido ao efeito colateral do tratamento da síndrome de Cushing. A supressão adrenal desencadeia a crise addisoniana, ou doença de Addison, que tem como causa doenças autoimunes, tuberculose ou até mesmo o tratamento da síndrome de Cushing. A pessoa então apresenta magreza, enjôo, náuseas, fraqueza muscular, perda do apetite, pressão baixa, alteração do metabolismo da melanina (áreas hiperpigmentadas). O glicocorticóide nos ossos gera osteoporose. Página 29 de 32 No sangue, o cortisol pode gerar aumento da glicemia, podendo até o paciente, durante corticoterapia, desenvolver diabetes mellitus tipo 2, porque aumenta a resistência à insulina. Inclusive, muitos pacientes que tiveram Covid e tomaram dexametasona, ficaram diabéticos posteriormente (o que foi associado à tendência familiar desses pacientes ao diabetes). No caso de pessoas sem histórico familiar, mas que desenvolvem diabetes durante a corticoterapia, ao fazer o desmame da medicação, ocorre reversão do quadro do diabetes. A úlcera péptica também pode ocorrer, devido à liberação de ácido clorídrico. No sistema nervoso central, nós temos os chamados “efeitos positivos”, que são a excitação e a euforia, e os “efeitos negativos”, que são a depressão, os distúrbios do sono e o comportamento psicótico, tudo relacionado ao excesso. Página 30 de 32 (Aluno) Na síndrome de Cushing é que vai ocorrer o que chamam de labilidade humoral, que é quando a pessoa vai estar muito eufórica e depois muito depressiva? (Professor) Exatamente, porque o excesso de glicocorticoide faz esse curto-circuito no cérebro, ora você fica muito eufórico e ora você fica muito depressivo, como se fosse bipolar, porque ele pode fazer ou um ou outro e geralmente a pessoa fica oscilando. Por isso que se a pessoa estiver fazendo o uso de algum medicamento psicotrópico, é importante que o médico saiba porque pode ser que a corticoterapia corte o efeito do medicamento e a pessoa venha a ter crises psiquiátricas. Com relação ao crescimento, como os glicocorticoides são antianabólicos e catabólicos eles vão atrapalhar totalmente o crescimento das crianças. Página 31 de 32 Aqui (em cima) a gente tem a curva do crescimento com relação à altura. Essa faixa mais grossa é a faixa média do crescimento da criança e mais inferior nós temos a faixa referente ao peso. Então tudo o que tiver a cima da faixa, é mais do que o esperado e o que estiver abaixo é menor do que o esperado. O que a gente observa em crianças que precisam fazer o uso de corticoterapia, é que elas vão ter uma altura menor do que a média e o peso bem maior do que o médio. A distribuição de gordura fica bem acentuada na criança. E aqui a gente tem uma tabela que resume tudo o que falamos. Em cima são todos os efeitos benéficos e esperados dos glicocorticoides e embaixo são todos os efeitos maléficos e reações adversas dos glicocorticoides. Então ele tem ação anti-inflamatória, por diversos mecanismos e redução da inflamação na camada endotelial - por conta disso, eles já foram até estudado como possíveis redutores nas placas de aterosclerose. Mas também, tem muitos efeitos negativos que a gente já falou, inclusive, eles podem gerar glaucoma, hirsutismo, porque vai estar afetando a produção de estrógeno e se a pessoa estiver com infecção, durante o uso dos corticoides, é bom que ela não tome, porque a infecção pode aumentar, pois ele deixa a pessoa vulnerável à infecção secundária. Página 32 de 32 Quando é que eu devo contraindicar ou, se for realmente necessário, tomar muito cuidado: se o paciente tiver infecção, o uso de corticoide pode piorar esse processo de infecção, especialmentese ela for bacteriana ou fúngica; se o paciente tiver atrofia muscular, vai piorar e ele pode até perder mobilidade; se o paciente tiver diabetes mellitus, não é indicado pois ele vai descompensar a glicemia, ou então o paciente vai ter que fazer o aumento do uso dos antidiabéticos orais ou injetáveis; o paciente vai piorar o quadro de osteoporose; e úlcera péptica, também. Nesses casos de contraindicações, não é que a pessoa seja proibida, faz-se a relação do custo-benefício e as adaptações que a pessoa estiver precisando, porque as vezes realmente é necessário, como no Covid, por exemplo, que é uma doença infecciosa e mesmo assim se faz o uso de dexametasona, porque há um custo-benefício. É muito melhor deixar a pessoa imunossuprimida, para tirar o quadro inflamatório que está matando-a, do que deixar a pessoa com a imunidade bombando, inflamando tudo e matando tudo. E os glicocorticoides, quando vamos ver a diretriz do tratamento, é sempre importante verificar a manutenção da potência, de forma a usar o menos potente o suficiente para gerar um efeito. A gente nunca parte para uma dexametasona, sempre que possível vai em uma prednisona ou uma coisa mais leve, porque a gente também que reduzir as reações adversas e quanto mais forte for um glicocorticoide, maiores vão ser as reações adversas.
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