Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Sensibilidade Nociceptiva A dor ocorre sempre que os tecidos são lesionados, fazendo com que o individuo reaja para remover o estimulo doloroso, portanto, sua finalidade é a proteção. A dor é classificada em dois tipos principais: dor rápida e dor lenta. A dor rápida também é denominada como dor pontual, dor em agulhada, dor aguda e dor elétrica, sendo sentida quando a agulha é introduzida na pele, quando a pele é cortada ou queimada, dentre outros. Ela não é sentida nos tecidos mais profundos do corpo. A dor lenta também é denominada como dor em queimação, dor persistente, dor pulsátil, dor nauseante e dor crônica. Ela está associada à destruição tecidual, podendo ocorrer na pele e em quase todos os órgãos e tecidos profundos. Os receptores de dor são polimodais, ou seja, não são restritos a apenas um estímulo. Os estímulos que os excitam são: estímulos mecânicos, térmicos e químicos. Geralmente a dor rápida ocorre por estímulos mecânicos e térmicos e a dor lenta ocorre pelos três tipos de estímulos. Vale ressaltar que esses estímulos devem ser intensos o suficiente para ativar os nociceptores, por exemplo, estímulos térmicos devem ser calor escaldante ou frio congelante. Existem também os receptores “dorminhocos” (silenciosos) que só passam a emitir seu sinal se houver uma lesão e inflamação do tecido (alteração química). Algumas das substâncias que excitam o tipo químico da dor são bradicinina, serotonina, histamina, íons potássio, ácidos acetilcolina e enzimas proteolíticas. Além disso, as prostaglandinas e a substância P aumentam a sensibilidade das terminações nervosas. Adaptação Os receptores para dor não se adaptam ao estímulo, pois sua finalidade é tornar o individuo ciente da presença do estímulo lesivo. Além disso, essa excitação das fibras pode ficar ainda maior, causando hiperalgesia. A hiperalgesia é o aumento da sensibilidade dos nociceptores para a dor, ou seja, um aumento progressivo na excitação das fibras dolorosas. A lesão de um tecido e uma consequente inflamação do mesmo intensifica a dor levando a hiperalgesia. São nesses casos que os receptores “dorminhocos” são ativados. A hiperalgesia pode ser classificada em primária ou secundária, onde a primária é causada por uma sensibilidade excessiva dos nociceptores e a secundária é causada por uma facilitação da transmissão sensitiva. Isquemia, Espasmo e Dor Quando o fluxo sanguíneo para um tecido é bloqueado (isquemia), o tecido fica muito dolorido. Isso ocorre pelo acúmulo de ácido lático e pela formação de agentes químicos (bradicinina e enzimas proteolíticas) que estimulam os receptores de dor. O espasmo muscular também é causa de dor, sendo resultado da estimulação de receptores para dor mecanossensíveis e pela compressão dos vasos que leva à isquemia. Além disso o espasmo aumenta a intensidade do metabolismo do músculo, tornando a isquemia ainda maior, liberando mais agentes químicos. Fibras Rápidas e Lentas Os sinais dolorosos rápidos são desencadeados por estímulos mecânicos ou térmicos e transmitidos por fibras Aδ. Já a dor lenta é desencadeada por todos os estímulos (químicos, mecânicos ou térmicos) e transmitidos por fibras C (amielinizadas). Esse sistema duplo em geral causa sensação dolorosa “dupla”, onde a dor pontual avisa a pessoa rapidamente sobre o perigo e a dor lenta tende a aumentar com o tempo. Na medula as fibras da dor terminam nos cornos dorsais e entram em dois sistemas para o processamento dos sinais dolorosos. Fibras para dor na medula Vias Duplas para Dor Ao entrar na medula espinal, os sinais dolorosos tomam duas vias para o encéfalo: por meio do trato neoespinotalâmico ou pelo trato paleoespinotalâmico. Via Neoespinotalâmica As fibras rápidas terminam no corno dorsal e excitam os neurônios do trato neoespinotalâmico. Esses neurônios originam fibras que cruzam para o lado oposto da medula e ascendem para o encéfalo por meio do sistema anterolateral. Algumas fibras terminam nas áreas reticulares do tronco cerebral, mas a maioria segue até o tálamo, terminando no complexo ventrobasal. Outras fibras terminam no grupo nuclear posterior do tálamo. As fibras do tálamo são transmitidas para outras áreas do encéfalo e até ao córtex somatossensorial. O glutamato é o neurotransmissor secretado pelas fibras rápidas de dor do tipo Aδ. A dor pontual rápida pode ser localizada com muita precisão quando os receptores para dor são estimulados junto com os receptores táteis. Via Paleoespinotalâmica As fibras lentas terminam no corno dorsal da medula e excitam os neurônios do trato paleoespinotalâmico. Esses neurônios originam fibras que se unem às fibras de dor rápida do lado oposto da medula e ascendem para o encéfalo pela via anterolateral. Os terminais das fibras lentas do tipo C secretam tanto glutamato como substância P. O glutamato atua instantaneamente, gerando uma sensação de dor rápida e a substância P é liberada lentamente, gerando uma sensação mais duradoura. A via paleoespinotalâmica termina de modo difuso no tronco cerebral. A maioria das fibras termina nos núcleos reticulares do bulbo, da ponte e do mesencéfalo, na área tectal do mesencéfalo ou na região cinzenta periaquedutal (PAG) que circunda o aqueduto mesencefálico. Essas regiões do tronco cerebral são importantes para o sofrimento da dor. Alguns neurônios podem sair dessas regiões para transmitirem sinais ascendentes de dor pelos núcleos intralaminar e ventrolateral do tálamo e em regiões do hipotálamo. A localização da dor transmitida por essa via é imprecisa. Avaliação da Dor pelo SNC Os impulsos dolorosos que chegam na formação reticular do tronco cerebral e do tálamo causam percepção consciente de dor. Já o córtex somatossensorial é importante na interpretação da qualidade da dor. A estimulação das áreas reticulares do tronco cerebral e dos núcleos intralaminares do tálamo na dor lenta tem forte efeito de alerta sobre a atividade neural do encéfalo. Sistema de Analgesia do Cérebro O sistema nervoso central modula a dor por meio do sistema de analgesia endógeno do encéfalo e da medula espinhal. Tal sistema é composto pelas áreas periventricular e da PAG (substância cinzenta periaquedutal) próximas ao aqueduto mesencefálico. Os neurônios dessas áreas fazem sinapses com o núcleo magno da rafe (na ponte e no bulbo) e com o núcleo reticular paragigantocelular (no bulbo). Depois, suas fibras chegam na medula espinal onde terão um papel inibitório fundamental para o sistema de analgesia, utilizando os neurotransmissores encefalina e serotonina (esta responsável por induzir a secreção de encefalina). O neurônio da analgesia vai ter o papel de inibir os canais iônicos do terminal pré- sináptico das fibras C (fibras de dor lenta) que chegam no corno dorsal da medula e também de inibir os canais iônicos do neurônio do sistema anterolateral (que conduzem a dor ao encéfalo). Este sistema de analgesia ocorre automaticamente pelo cérebro em situações em que a dor deve ser ignorada por pior que seja, como em uma luta, onde o animal deve suprimir a dor para fugir ou continuar lutando. Opioides e morfina podem ativar a via da analgesia ao inibir diretamente a atividade de neurônios do corno dorsal. Dor Referida A dor referida ocorre quando o indivíduo sente dor em uma parte do corpo que não é o tecido causador da dor. Isso é possível porque algumas fibras para a dor visceral são conduzidas por neurônios que conduzem a dor na pele. Desse modo, o indivíduo vai sentir a dor na pele e não na víscera. Dor Visceral As vísceras têm receptores sensoriais exclusivos para a dor, diferindo da dor superficial. Uma das diferenças mais importantes é que os danos viscerais raramentecausam dor grave. Por outro lado, qualquer estimulo que cause estimulação difusa nas terminações nervosas para a dor na víscera causa a dor que pode ser grave. Qualquer estimulo que excite as terminações nervosas para dor das fibras do tipo C das vísceras causa dor visceral. Os estímulos são isquemia, estímulos químicos, espasmo e distensão excessiva de víscera oca. Na isquemia ocorre diminuição do fluxo sanguíneo, levando à formação de produtos metabólicos ácidos e produtores degenerativos dos tecidos (bradicinina e enzimas proteolíticas) que causam dor. Os estímulos químicos que provocam dor são, por exemplo, substâncias nocivas que escapam do trato gastrointestinal para a cavidade peritoneal, como o suco gástrico. Eles causam digestão disseminada do peritônio visceral, causando muita dor. No espasmo de víscera oca ocorre estimulação mecânica dos nociceptores e diminuição do fluxo sanguíneo, causando dor na forma de cólicas, sendo comum na alça intestinal, na vesícula e ducto biliar e no ureter. Já a distensão excessiva da víscera oca causa dor porque interrompe os vasos sanguíneos subjacentes, causando isquemia e dor grave. Dor Parietal Quando a dor afeta a víscera, ela pode se disseminar para o peritônio, a pleura ou pericárdio parietal. Essas superfícies parietais são supridas com extensa inervação dolorosa, causando uma dor aguda. A dor visceral é de difícil localização, pois suas sensações são transmitidas por duas vias: visceral verdadeira (sensações de dor se localizam na superfície do corpo) e parietal (sensações de dor se localizam corretamente na víscera). Na via visceral verdadeira, a sensação de dor é localizada na região em que o órgão se localizava na fase embrionária do indivíduo. Já na via parietal, a sensação de dor é localizada no peritônio parietal da víscera, ou seja, no local correto. As duas vias em conjunto dificultam a real localização da dor por parte do indivíduo. Sensações Térmicas O ser humano pode sentir as seguintes sensações térmicas: frio congelante, frio, indiferente, morno, quente e muito quente. Para isso existem receptores para frio, receptores para calor e receptores para dor (estimulados pelo frio congelante e calor extremo). Na região muito fria são estimuladas as fibras para dor-frio. Entre 10 a 15°C os impulsos dor-frio são interrompidos e os receptores para frio são estimulados. Acima dos 30°C os receptores para calor começam a ser estimulados, interrompendo aos 49°C. Ao redor dos 45°C, as fibras para dor-calor são estimuladas junto com as de frio, por causa das lesões nas terminações para frio ocasionadas pelo calor excessivo. As sensações térmicas respondem acentuadamente às alterações de temperatura. Portanto, quando a temperatura está caindo, a pessoa sente muito mais frio do que quando a temperatura permanece fria, no mesmo nível. Os receptores para frio e para calor são estimulados pelas alterações de suas intensidades metabólicas, pois a temperatura altera a velocidade das reações químicas. Os sinais térmicos são transmitidos por vias paralelas às vias da dor. Ao entrar na medula, os sinais cursam no trato de Lissauner, terminando nos cornos dorsais. Depois cruzam para o trato sensorial anterolateral oposto e terminam nas áreas reticulares do tronco cerebral e no complexo ventrobasal do tálamo. Alguns sinais também são retransmitidos para o córtex somatossensorial.
Compartilhar