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Trabalho final Sociologia_ Da formação socioeconomica ao golpe de 1964

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Brasil: da Formação ao Golpe
	
Para realizar uma análise do golpe militar de 1964, ocorrido no Brasil, é necessário elaborar uma reconstrução histórica, de forma que fiquem esclarecidos os diversos processos de colonização e formação da América Latina, o populismo frente ao período de políticas desenvolvimentistas e o cenário global pré-golpe.
	A colonização de um país influi de diversas maneiras em sua cultura. A América, como um todo, possui como colonos, os europeus. Entretanto, há uma significativa diferença se considerarmos a colonização anglo-saxão e a colonização ibérica, e uma diferença entre a própria colonização ibérica, que consiste em Portugal e Espanha.
	Realizando uma análise do papel da Igreja na colonização espanhola e na portuguesa, Ana Lucia Villas-Boas (2009) salienta a função social normativa da Igreja na colonização espanhola, enquanto que na colonização portuguesa a Igreja não tinha este papel político. O papel da Igreja nas colônias espanholas era de “educar, persuadir e doutrinar” (p.3), e no Brasil, a Igreja pouco influiu na vida do indígena e do negro, o que foi considerado negligência por parte da Igreja.
	Outro ponto salientado por Villas- Boas (2009), foi a diferença entre o povo português e o espanhol. As especificidades do português são apresentadas por Freyre (2003), de forma muito simples, as características que fizeram o português se adaptar mais facilmente foi: a mobilidade; a miscibilidade; a aclimatabilidade. O português não era visto como um puro europeu, e sim um povo de mestiços.
	Sendo assim, a América Latina, de forma clara, possui uma formação social conturbada, devido às diversas nuances que influem nesse processo, desde sua colonização até as revoluções de independência, etc. Como consequência, a fomentação de nações na América Latina deu-se de formas distintas. No nível de conceituação, de acordo com Octavio Ianni (1987), a nação é formada pela dialética social, é um conjunto de “atividades econômicas, arranjos políticos, produções culturais, diversidades regionais, multiplicidades raciais” (p.5), é um devir histórico. 
	O delineamento da sociedade, do Estado e da Nação, segundo Octavio Ianni (1987), inicia quando “nas terras americanas, os conquistadores vão se tornando nativos, colocam-se em divergência e oposição em face da metrópole, passam a lutar pela pátria” (p.6), ou seja, começa as lutas, revoltas e revoluções, sejam por terra ou por liberdade. O americano passa sentir-se americano. O interessante nesta luta é que não se dá apenas por conflitos internos, alguns Estados novos surgiram por lutas com povos vizinhos. A dificuldade encontrava-se, no momento, de construir um sistema político que abrangesse todas as diversidades e conciliasse a liberdade, fazendo uma harmonia entre individualidade e generalidade. 
	O desafio constante da criação de uma nação é a relação entre sociedade e Estado, este entendido como um “complexo de instituições por meio das quais o poder da sociedade se organiza sobre uma base superior ao parentesco” (FRIED, 1976, p.225 apud DIAS, 2013, p.49).
	O papel do Estado, na América Latina, também se referiu à configuração de uma sociedade capitalista, durante o século XIX. Diferente da Europa, o Estado na América Latina surgiu com o papel de criar a economia de mercado, o que se funde, até certo ponto, com a própria razão do Estado. Os projetos desenvolvimentistas elaborados pelo Estado tinham o intuito de “modernizar” a própria sociedade. A partir de 1930, na América Latina, houve o predomínio do Estado para instaurar a industrialização como substituta da importação.
No Brasil, o período compreendido entre 1945 a 1964- fim do Estado Novo e início da ditadura militar- foi de progresso industrial e democrático, ocorreram movimentos sociais de todos os setores da sociedade, como trabalhadores, urbanos, rurais e estudantes. Este progresso deu-se em parte por governos populistas que permearam todo este período. 
O termo populista surgiu com um aspecto positivo que significava “aquele que estava próximo do povo, ouvia suas aflições e conseguia compreendê-lo” (FERREIRA, 2011, p.152). De certa maneira, o populismo dominou a política brasileira pós 45. Cresce a participação popular no processo político, como em sindicatos e partidos políticos. Esses sindicatos e partidos que cresciam eram marcados por nomes como “popular” “trabalhista” “comunista”, ou seja, a sociedade brasileira mostra-se de outra maneira.
Segundo Ianni (1985), os partidos que se consolidaram, definindo-se como “nacionais” foram o PSD (Partido Social Democrático), UDN (União Democrática Nacional) e PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). O PSD era composto pela burguesia rural e industrial, já o PTB, era por operários e urbanos; e a UDN, formada por burgueses e liberais urbanos, sendo assim sempre se opondo a democracia vigente. A participação rural foi a que mais cresceu, e daí surgiu uma aliança importante, PTB- PSD, o PSD podia tentar controlar o movimento trabalhista, e o PTB ganhava força. Os dois partidos eram contra a UDN.
Quando o PTB entra no governo, com João Goulart, a situação fica claramente tensa. Segundo Ianni (1983), o PTB rompe a aliança e investe nas reformas de base, observando isso o PSD une-se a oposição, UDN. A aliança PSD-UDN era mais forte porque contava com “a elite agrária e os grupos liberais da indústria e da classe média” (p.83). No governo de Goulart, as burguesias urbanas e rurais uniram-se para combater o progresso político do povo.
Os populistas no poder passaram a incomodar as elites, que, claramente, não queriam a aproximação ou até mesmo a reflexão da população. 	Em meados de 1960, há uma crise deste modelo desenvolvimentista na América Latina, segundo Norbert Lechner (1993):
O dispêndio fiscal dispara, ultrapassando os rendimentos tributários, o protecionismo distorce a competitividade das novas industrias, o gasto social subvenciona os setores médios em detrimento dos setores mais pobres, uma burocracia ineficiente inibe qualquer esforço inovador. (p.2) 
Inicia-se o período de neoliberalismo e com ele, surge o novo papel do Estado: reprimir as reinvindicações sociais, impor a lógica do mercado à sociedade, diminuir a assistência ao mais pobre. 
	Segundo Rapoport e Laufer (2000), no começo dos anos 60, “o mundo assistia a uma verdadeira escalada do conflito bipolar” (p.69). A Guerra Fria influiu em vários setores do mundo, alterando a configuração social de algumas. De um lado, os Estados Unidos, grande e poderoso, representando de forma contundente o sistema capitalista, de outro a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, representando o sistema socialista.
	A Revolução Cubana de 1959 causou, de certa forma, medo nos Estados Unidos, pela proximidade de Cuba do território americano. A ação passou a ser para conter toda efervescência social da América Latina, que parecia um terreno fértil para a ideologia socialista. O presidente Kennedy liderou políticas de caráter continental para a contenção do comunismo. 
	Com a morte de Kennedy e a liderança de Johnson, essas políticas tornaram-se cada vez mais pesadas, com aspectos assistencialistas para com os países da América Latina e “esquemas” de golpe caso a ameaça se tornasse mais evidente. Em consonância com Rapoport e Laufer (2000):
A nova estratégia norte-americana procurava impedir que qualquer potência estrangeira (isto é, a URSS) pudesse colocar militarmente o pé no “hemisfério” e combater tanto o estado de rescente insurreição social das massas populares como as tendências nacionalistas e anti-americanas. (p. 71). 
O temor ao comunismo influenciou a eclosão de uma série de golpes militares na América Latina, seguidos por ditaduras militares de orientações ideológicas à direita, com o suposto aval dos Estados Unidos, que consideravam a América Latina como sua área de influência.
No Brasil, seguindo a lógica do liberalismo imposto pelo imperialismo norte-americano, que surgiu após a 2o Guerra Mundial, o Estado reprimiu a massa e deu mais poder a grande burguesia, capitalnacional e estrangeiro.
Em 1961, João Goulart (PTB) assume a presidência, após a renúncia de Quadros. O PTB une-se aos setores populares, sindicatos urbanos e rurais e a ligas camponesas, o que o torna representação da classe trabalhadora. E o PSD une-se à UDN com a intenção de que a elite voltasse a dominar politicamente. O Brasil, neste momento, encontra-se dividido.
	Seguindo o comando das políticas norte-americanas, os exércitos americanos tomaram o posicionamento de garantir a ordem econômica e social. Entretanto, Goulart “controlou” o exército sob manipulação do sistema de promoção, e reestabeleceu o presidencialismo com um plesbicito, já que haviam instaurado o parlamentarismo desde sua chegada ao poder. 
	Segundo Rapoport e Laufer (2000), Goulart “pôs em prática um programa reformista e nacionalista que tinha como uma das figuras proeminentes o economista “cepalino” Celso Furtado [...] que tinha entre seus objetivos a reforma agrária” (p. 73). 
No âmbito internacional, buscava promover a paz mundial, o desarmamento, a não intervenção, e principalmente buscava a relação comercial com todos os países, inclusive a URSS. Esta política adotada por Goulart, obviamente, não estava em consonância com a política norte-americana, e sua política interna de reformas, não agradou as elites brasileiras. 
	O Departamento do Estado norte-americano, preocupado com a política interna assumida por Goulart, passa a financiar e colaborar com os grupos no Brasil que eram contra o presidente, utilizando-se de Institutos para mascarar essa sua entrada, como o IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e o IBAD (Instituto Brasileiro para a Ação Democrática). E na política externa, os EUA passam a usar a arma financeira para influir na política de Goulart. Segundo Rapoport e Laufer (2000): 
Na medida em que as políticas de Goulart afetavam os interesses norte-americanos, a diplomacia e os organismos americanos de assistência intensificaram sua campanha de desprestígio, caracterizando o governo brasileiro como “inepto”, especialmente por não subscrever as medidas de “autoajuda” prescritas pela APOP e pelos programas de estabilização sugeridos pelo Banco Mundial e pelo FMI. (p.76).
	Os Estados Unidos utilizaram sistematicamente sua entrada através do Programa de Assistência Militar, para influenciar ideologicamente os militares, e assim criou a ação “Operação Brother Sam” que utilizaria de todos os aparatos militares para realizar o golpe de Estado. De acordo com Newton Cruz, General do Exército Brasileiro à época da “Revolução”, esperava-se lutas e mortes, e as tropas do General Mourão já estavam a postos. 
	Na madrugada de 31 de março de 1964, um golpe militar depôs o então presidente da república João Goulart, usurpando dele o direito legalmente constituído de governar a nação. Enquanto Jango partia para o exílio no Uruguai, de onde voltaria somente treze anos mais tarde para ser enterrado, o comando do país ficava a cargo de Ranieri Mazzilli, à época presidente da Câmara dos Deputados, no entanto, o poder verdadeiramente se encontrava nas mãos dos militares que, em 02 de abril daquele ano, organizaram o autodenominado “Comando Supremo da Revolução”.
A partir de então, todo o progresso político e social alcançado foi lentamente esvaindo-se, as organizações sindicais, os movimentos populares, o movimento estudantil todos foram sendo reprimidos pela ditadura instaurada desde 1 de abril. O foco do governo era o processo desenvolvimentista, queria-se de todas as formas possíveis, uma sociedade mais moderna. De acordo com Netto (2011, p.120), a transformação na organização do Estado, não só alterou o processo de desenvolvimento, como também toda a “malha organizacional” que era responsável por planejar e executar esse novo processo de desenvolvimento. A ditadura foi fortemente marcada pela ação dos tecnocratas. 
	Os movimentos sociais organizam-se com mais força no final da ditadura e início dos anos 90, com formas diferentes. Segundo Petry (2008) “A reconfiguração do Estado e da sociedade civil provocou novas expressões de enfrentamentos, na medida em que se tenta esvaziar politicamente sociedade civil, transferindo a participação social e política às ONG’s” (p.8).
Referências
CERVI, Emerson Urizzi. As sete vidas do populismo. Revista de Sociologia e Política. ed.17. 2001. p.151-156.
DIAS, Reinaldo. Ciência Política. São Paulo: Atlas. 2.ed. 2013.
FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48. ed. São Paulo: Global, 2003.
IANNI, Octavio. A questão nacional na América Latina. Simpósio Interpretações Contemporâneas da América Latina. São Paulo. 1987. 
IANNI, Octavio. O ciclo da revolução burguesa. 2.ed. Petrópolis. Vozes. 1985.
LECHNER. Norbert. Estado, mercado e desenvolvimento na América Latina. Lua Nova: Revista de Cultura e Política. ed.28-29. São Paulo. 1993.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez. 16.ed. 2011.
PETRY, Almiro. Os movimentos sociais na América Latina. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. 2008.
RAPOPORT, Mario. LAUFER, Rúben. Os Estados Unidos diante do Brasil e da Argentina: os golpes militares da década de 1960. Revista Brasileira Política Internacional. ed. 43. 2000. p.69-98. 
VILLAS-BOAS. Ana Lucia do Amaral. Modernidade e Tradição: projeto nacional, positivismo, e reestruturação na América Latina. Anpuh. XXV Simpósio Nacional de História. Fortaleza. 2009.

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