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Trabalho Final - Metodologia Para o Ensino de Filosofia

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE)
FACULDADE DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA
DISCIPLINA: Método e Prática no Ensino de Filosofia I
DISCENTE: David Rocha Vasconcelos
Trabalho Final: Metodologia Para o Ensino de Filosofia
ARTIGO
Título: O ensino de filosofia: uma breve análise histórica e os aspectos essenciais para
uma metodologia rumo à autonomia.
RESUMO
O seguinte artigo tem como objetivo analisar criticamente as condições atuais acerca
do ensino de filosofia no Brasil, dado o atual cenário político brasileiro. Baseado na obra de
Sílvio Gallo, procuramos aqui também estabelecer um método de ensino que estimule o
desenvolvimento de aspectos como autonomia, criticidade e ação no meio social em que o
aluno encontra-se situado. Antes de adentrarmos no tema propriamente dito, faremos uma
breve exposição da filosofia e das suas respectivas características nos principais períodos
históricos brasileiro. A obra em questão que utilizaremos como base dos nossos estudos será
a Metodologia no ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Faremos também
uma análise do método dos conceitos adotado pelo autor como método mais adequado para o
ensino de filosofia, visto que, segundo Sílvio Gallo, este não limita os horizontes filosóficos
e pode ser trabalhado em diversas perspectivas.
Palavras-chave: Filosofia, Método, ensino, conceitos.
INTRODUÇÃO
O ensino de filosofia no Brasil teve seu início com a chegada dos jesuítas durante o
período colonial, onde estes faziam uso da filosofia no seu método de ensino, porém, não o
faziam com fins propriamente filosóficos. Desde a sua chegada, o ensino de filosofia é
caracterizado por um movimento pendular entre obrigatoriedade e não-obrigatoriedade, desde
a introdução pelos jesuítas de uma filosofia que se restringia a meros comentários teológicos
baseados na renovação escolástica até os dias de hoje. Tais condições do ensino refletem os
interesses sociais e políticos das classes dominantes da época em questão. No período
colonial, por exemplo, não havia interesse da aristocracia portuguesa da época em estimular a
autonomia e o senso crítico dos povos a serem colonizados, pelo contrário, a educação deste
período estava voltada para os interesses da elite colonial em catequizar os povos indígenas.
A filosofia servia apenas como um meio para incutir uma determinada doutrina (cristã),
prevenir possíveis desvios em relação a ela, e, defendê-la, não possuía um caráter
propriamente filosófico.
Posteriormente, na segunda metade do século XVIII, surge o chamado empirismo mitigado,
que é uma corrente filosófica que surge em reação e oposição ao tomismo proliferado pelas
companhias jesuíticas. Tal corrente tinha como proposta a redução do conhecimento
filosófico válido a um empirismo cientificista diretamente influenciado pelo iluminismo
europeu e tinha como principal representante Sebastião José de Carvalho e Melo, mais
conhecido como Marquês de Pombal. No período demarcado pelo cientificismo pombalino,
também por motivos de ordem política, os jesuítas foram expulsos da colônia, sob o pretexto
de que o ensino deveria voltar-se para uma formação cidadã a fim de servir o estado civil e
não a igreja.
Já no início do século XIX o Brasil passa por mudanças políticas extremamente
significativas, Dom Pedro I proclama a independência do Brasil em relação à Portugal,
fazendo, então, com que o Brasil deixasse de ser uma colônia portuguesa e se tornasse um
império. Tais mudanças de cunho político e social traziam consigo novas questões acerca da
liberdade e da consciência: até que ponto havia liberdade, havia de fato consciência de
liberdade nacional? É nesse período, tendo em vista tais problemáticas, que surge o Ecletismo
no Brasil. Tal corrente tentava responder às questões humanas de consciência e liberdade
através de uma aproximação do espiritualismo e do empirismo às problemáticas emergentes
nesse período. Ainda no fim do século XIX, por volta de 1870, surge o positivismo
repercutindo no centro do pensamento brasileiro e na sua educação. A razão fundamental
dessa ascensão teve início nas reformas pombalinas onde foi estruturado todo um sistema de
ensino superior, em bases que privilegiavam a ciência aplicada e a instrução estritamente
profissional.
A partir do século XX, com a queda do império e a proclamação da república em
1889, o Brasil entra em um período histórico que vigora até os dias de hoje. Esse novo
modelo histórico-cultural trazia consigo a preocupação com a busca de uma sociedade
racional e esclarecida. Tal período ainda sofreu diversas influências positivistas e de cunho
científico, porém, com o surgimento da Escola de Recife, desenvolveu-se no Brasil um forte
movimento contrário ao positivismo e com ideias que aos poucos iam ganhando força no
cenário nacional. Nessa perspectiva, surge no século XX uma das mais importantes correntes
filosóficas críticas ao positivismo, o culturalismo.
Desde os primórdios da sociedade brasileira é notável que a filosofia sempre esteve
presente, contudo, sua relevância no processo educacional oscilou bastante diante das
diversas realidades políticas nas quais o Brasil passou. Até o início do século XX foram
editadas diversas legislações no campo da educação, porém, nenhuma delas aproximou a
disciplina de filosofia da realidade brasileira. Em 1915, a nova reforma educacional, com o
decreto n°11.530, colocou a filosofia como disciplina facultativa. Porém, mesmo com a nova
reforma a filosofia ainda despertava pouco interesse no Brasil devido a falta de adequação
das problemática das condições europeias para as condições brasileiras, as doutrinas estavam
diretamente ligadas ao contexto sócio-político da época, isto é:
“... as doutrinas filosóficas, no entanto, não surgem por acaso, mas emergem de um
determinado nível de desenvolvimento material; correspondem aos interesses das classes
sociais e a um certo estágio das relações de produção. Neste sentido, as novas doutrinas
filosóficas também em nosso país surgiram à medida que passaram a corresponder aos
interesses das classes médias em ascensão, já descrentes das respostas dadas pelo positivismo
e pelo materialismo vulgar aos problemas do homem e da sociedade. Fez-se sentir, naquele
momento, a presença da Igreja modernizada que aderiu entusiasticamente à República”
(CARTOLANO, 1985, p.50).
Posteriormente, a partir do ano de 1930, houve mais duas mudanças que alteraram os
parâmetros da educação brasileira no ensino médio. A primeira em 1930 e determinava que a
educação visava, não somente o ingresso no ensino superior, mas também a formação do
homem para todos os setores da vida, ou seja, uma formação integral, humana, que o
possibilitasse a tomar decisões claras e seguras em qualquer situação da sua existência. A
segunda foi em 1942, decreto n° 4.244, mais conhecida como Lei Orgânica do Ensino
Secundário que dividiu o ensino em dois ciclos: o ginásio e o colegial.
Já no ano de 1961 aconteceu um grande marco na educação brasileira: a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n° 4024. Tal lei foi resultado de diversos
diversos debates e lutas ideológicas entre educadores e políticos deste período. Contudo, em
1964, com o golpe militar, a filosofia foi banida dos currículos, tornando-se facultativa, junto
de algumas disciplinas das ciências humanas que também sofreram diversas restrições. A
educação voltava-se, então, aos interesses econômicos. Nesse período a educação, mais do
que nunca, exerce um papel ideológico perante a sociedade, pois, foram impostos valores
culturais estrangeiros como modelos a serem seguidos na educação brasileira, um modelo
estritamente técnico e burocrático. Em 1971, com a lei n° 5692, a filosofia é expulsa por
completo dos currículos para, somente no ano de 1986, voltar a ter sua inclusão recomendada
nos currículos.
Com base nesta exposição acreditamos ter ressaltado aspectos de fundamental
importância para compreender o processo de desenvolvimentoda filosofia e do ensino de
filosofia no Brasil até os dias de hoje, para que possamos entender como chegamos a atual
situação sócio-política e nos indagar se de fato a questão da obrigatoriedade do ensino de
filosofia no Brasil é algo novo ou se já passamos por isso em outra época? É a primeira vez
que a filosofia é posta em segundo plano? Quais os reais interesses por trás desse afastamento
da filosofia dos conteúdos necessários para a formação do aluno?
A problemática do ensino de filosofia nas condições atuais e a adoção de uma
perspectiva no ensino de filosofia.
Atualmente as previsões para o futuro do ensino de filosofia não são nada favoráveis.
Mais uma vez o Brasil passa por um período onde essa disciplina é posta em segundo plano,
uma vez que, novamente, como em 1964, a educação volta-se prioritariamente para o
desenvolvimento técnico e econômico e deixa de lado aspectos essenciais para a formação
humana. Na medida em que medidas como a nova reforma do ensino médio (PL 6840/2013)
e o projeto Escola Sem Partido (PL 867/2015) vem avançando no congresso nacional, não só
a filosofia, como a grande parte das ciências humanas, vem perdendo espaço dentro da
educação básica. A nova reforma do ensino médio dilui a disciplina de filosofia na área de
ciências humanas, tornando-a facultativa e reduzindo drasticamente a carga horária da
disciplina nas escolas, que, diga-se de passagem, já é bem reduzida. Além de afetar
diretamente a própria área das ciências humanas, a reforma também trouxe mudanças no
âmbito dos pré-requisitos para a seleção de profissionais da educação: agora, profissionais
com notório saber estarão aptos a lecionar nas escolas de ensino básico, mesmo não
possuindo a formação adequada em cursos de licenciatura. Tal mudança nesse aspecto
seletivo abre precedentes para a defasagem do processo de ensino-aprendizagem no âmbito
da disciplina de filosofia, uma vez que, faz-se necessário ao nosso ponto de vista, uma
formação filosófica para o professor de filosofia, e, tal formação ou atitude, não se engendra
na atual demanda técnica do mercado de trabalho que visa reduzir e flexibilizar a formação
profissional em licenciatura nos cursos de ciências humanas, causando um déficit na própria
função e desvalorizando o educador.
Junto a reforma do ensino médio, o projeto Escola Sem Partido também se faz
presente no atual cenário crítico para o ensino de filosofia. Tal projeto tem como principal
argumento a falácia de um ensino neutro, sem colocações políticas e ideológicas, a fim de
evitar uma suposta doutrinação dos alunos por parte dos professores. Ora, o ensino de
doutrinas sempre foi presente na educação básica, ensinar doutrinas não caracteriza
doutrinação, o que irá caracterizar uma doutrinação é a forma como esse conteúdo é posto,
Sílvio Gallo comenta criticamente essa questão em seu livro quando diz que, para que se
ensine filosofia, é necessária uma tomada de perspectiva, de posição, isto é, de um ponto de
partida:
‘’Ora, se são múltiplas as filosofias, se são variados os estilos de filosofar, múltiplas e
variadas são também as perspectivas do ensinar a filosofia e o filosofar. Assim, quando
tratamos do ensino de filosofia é necessário que tomemos uma posição, que nos coloquemos
no campo de uma determinada concepção de filosofia. É fundamental que deixemos isso
claro; que evidenciemos a posição com base na qual pensamos e ensinamos. Será isso uma
forma de doutrinação? Penso que não. Há muito aprendi com Regis de Morais (em o que é
ensinar, por exemplo) que ‘’doutrinar não é ensinar uma doutrina, mas ensiná-la como se
fosse a única’’. GALLO, Sílvio. p. 39. (2012).
Analisando este trecho podemos notar que é necessária uma postura do professor
diante do conteúdo, diante dos alunos em sala de aula e diante do ensino. Trata-se de assumir
uma postura que não implique uma transmissão direta de saberes, uma postura que não
submeta aquele que aprende àquele que ensina, estamos falando de uma postura de abertura
ao outro. Assim, a tomada de posição caracteriza-se como um elemento norteador no ensino
de filosofia, e não necessariamente uma doutrinação. A escolha de perspectiva adotada
constitui a liberdade de ensino do professor. Portanto, o próprio texto do projeto de lei chega
a ser contraditório, uma vez que, a suposta perspectiva neutra já caracteriza uma perspectiva,
a perspectiva da indiferença política e social diante dos vários acontecimentos históricos e
políticos que constituem nossa realidade política.
Partindo desse ponto, foi destacado na citação acima uma característica crucial no
processo de ensino de filosofia: a adoção de uma perspectiva. No atual debate acerca do
ensino de filosofia a tomada de posição do professor no processo de ensino vem sendo
bastante criticada sob os argumentos de doutrinação ideológica por parte dos professores,
contudo, faz-se necessário esclarecer o conceito de doutrinação e a tomada de posição do
professor de filosofia, que é um ponto crucial no ensino desta disciplina, visto que existem
diversas perspectivas filosóficas, e ensiná-las sem um ponto de referência tornaria este
mesmo ensino difuso:
‘’Ensinar é, necessariamente, uma tomada de posição. O problema está em não esclarecer que
se trata de uma posição e não a única possível. Na obra que Olivier Reboul dedicou à questão
da doutrinação, podemos ler: ‘combater a doutrinação não é ensinar sem doutrina, mas
ensinar doutrina que libere o pensamento em lugar de sujeitá-lo, que substitua o culto cego
dos ídolos pela admiração clarividente dos modelos humanos’. GALLO, Sílvio. p. 39. (2012).
Torna-se evidente que a tomada de uma posição no ensino de filosofia não
necessariamente constitui doutrinação, a doutrinação só é efetivada quando há uma omissão
dos demais pontos de vista em relação ao que está sendo adotado pelo professor. Portanto,
uma vez que a PL 867/2015 visa impor uma educação ‘’neutra’’, ela já está adotando uma
única perspectiva e a impondo como única e exclusiva, a perspectiva da indiferença,
desprovida de criticidade, tanto por parte dos alunos como dos professores.
O método dos conceitos como alternativa para a filosofia
Agora iremos adentrar o método utilizado pelo nosso autor, para que possamos pensar
o ensino de filosofia nas atuais circunstâncias políticas do nosso país a partir do método dos
conceitos. Antes de tudo, temos de compreender do que trata a filosofia na perspectiva de
Sílvio Gallo e como ela é trabalhada. O autor adota o conceito de filosofia utilizado por
Deleuze e Guattari em O que é a filosofia? Conceito este que caracteriza a filosofia como ‘’a
arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos’’, nas palavras do autor:
‘’Essa perspectiva em especial me interessa, sobretudo, porque se trata de uma ‘’definição
aberta’’, isto é, ela oferece um campo, mas não apaga o horizonte, nem coloca cercas nele.
Em outras palavras, dizer que a filosofia consiste na atividade de criar conceitos nos dá
parâmetros para pensá-la, mas ao mesmo tempo abre uma infinidade de possibilidades, pois
são múltiplas as compreensões do conceito e múltiplos seus modos de produção. Por outro
lado, dada sua amplitude, essa definição permite abarcar virtualmente toda a produção
filosófica e poderíamos mesmo dizer que se trata de uma ‘’definição universal’’, uma vez que
cabe nela Platão e os neoplatônicos, os idealistas e os materialistas, etc.’’ GALLO, Sílvio. p.
40. (2012).
No tópico anterior fizemos questão de expor as duas principais problemáticas acerca
do ensino de filosofia atualmente, especificamente as novas reformas e as críticas que se
seguem delas. Resolvemos ir por essa via, pois, quando falamos no ensino de filosofia e da
filosofia como criadora de conceitos, faz-se necessário voltarmos para um aspecto crucial
deste método, no qual o conceito do conceito só é possível por meio deste: o problema ou
problemática. O autor parte do ponto em que o conceito é fruto da filosofia, baseado na
perspectivade Deleuze e Guattari, onde o conceito assume uma forma de expressão do
mundo, o acontecimento: ‘’o próprio conceito se faz acontecimento ao dar destaque,
relevância para um determinado aspecto real’’. GALLO, Sílvio. p.62 (2012). Portanto, uma
vez que o conceito assume uma forma de expressão desse mundo, ele assume como objeto os
problemas do plano de imanência em questão.
‘’Vemos, assim, que o problema não é uma operação puramente racional, mas parte do
sensível; a experiência problemática é sentida, vivenciada, para que possa ser racionalmente
equacionada como problema. Por isso, o problema é sempre fruto do encontro; há um
encontro, uma experiência que coloca em relação elementos distintos e que gera o
problemático. E se o problema é o que nos força a pensar, somos levado a admitir que o
princípio (origem) do pensamento é sempre uma experiência sensível.’’ GALLO, Sílvio.
p.72. (2012).
Desta forma, faz-se necessário pensar o ensino de filosofia a partir das problemáticas
postas no nosso período histórico. E quais seriam esses problemas? Um deles consiste na
‘’pedagogização da sociedade’’ que é resultado de todo um processo histórico que visava
estabelecer uma pedagogia universal, massificante. Para que se chegue a atitude filosófica é
necessário que haja uma determinada autonomia do pensamento, um dos grandes problemas
do ensino de filosofia no Brasil é justamente o déficit no incentivo ao pensamento autônomo,
vivemos em um sistema de ensino caracterizado pela ideia de que as inteligências são
desiguais, assimétricas, onde na grande maioria das vezes o professor é posto como um
transmissor de conteúdo e o aluno um mero receptáculo. O processo de ensino, dentro dessa
abordagem, torna-se passivo. A passividade do aluno é um grande problema quando tratamos
do ensino de filosofia, uma vez que, quando nos referimos ao ensino de filosofia, adotando
aqui um viés kantiano, que optamos por ensinar a atitude filosófica, o filosofar, em vez de
aulas expositivas que tratam apenas acerca da história da filosofia. Tal viés nos permite trazer
as questões trabalhadas no plano de imanência dos autores para a nossa época, nos permite
fazer uso do conhecimento desenvolvido por todos os filósofos e aplicá-los às nossas
questões contemporâneas. Fazer uso do conhecimento desses autores não significa dar as
mesmas respostas que eles deram a estas questões, mas sim, fazer uso dos métodos e do
conhecimento por eles adquiridos para nos ajudar a desenvolver respostas, conceitos, para
nossas problemáticas atuais.
Dado isto, chegamos à questão principal: como aplicar o método do conceito na
realidade do ensino básico brasileiro? A filosofia, ao contrário do que muitos pensam,
constitui uma atividade, não apenas teórica, mas prática. O ato de filosofar é um processo e,
como todo processo, é algo desenvolvido ao longo do tempo, ninguém nasce sabendo
filosofar. Sílvio Gallo propõe o exercício de uma propedêutica ao conceito nas escolas, uma
vez que não se nasce sabendo filosofar, não existe melhor lugar para se começar a ensinar tal
prática do que na educação básica. O autor divide esse exercício propedêutico do ensino de
filosofia em quatro momentos didáticos distintos: a primeira etapa de sensibilização; a
segunda de problematização; a terceira de investigação; e a quarta de conceituação.
A sensibilização é a primeira etapa e se trata de uma das etapas mais importantes do
processo, pois, é a etapa que consiste em ganhar a atenção do aluno, fazê-lo se sentir afetado
pelo problema ou pelo tema proposto. De nada adianta gerar problemas tratados na história
da filosofia e jogá-los fora de contexto aos alunos. É necessário que eles vivam o problema:
‘’Daí a necessidade da sensibilização. Trata-se, em outras palavras, de fazer com que os
estudantes vivam, ‘sintam na pele’, um problema filosófico, a partir de um elemento não
filosófico. Trata-se de fazer com que os estudantes incorporem o problema, para que possam
vir a criar um conceito incorporal’’. GALLO, Sílvio. p.96. (2012).
O autor indica elementos artísticos nesta etapa como recursos, por exemplo músicas,
poemas, quadros, peças, filmes, desenhos, etc. Sobretudo porque esses recursos despertam o
interesse dos alunos, na medida em que fazem parte do seu cotidiano e usam da mesma
linguagem que eles.
A problematização trata de transformar o tema em um problema, ou seja, fazer com
que seja desenvolvido um desejo de busca por soluções. Nessa segunda etapa, o autor explica
que o objetivo é problematizar os vários aspectos da questão proposta em diversas
perspectivas diferentes.
‘’Podemos promover discussões em torno do tema em pauta, propondo situações em que ele
possa ser visto por diferentes ângulos e problematizado em seus diversos aspectos. Nessa
etapa, estimulamos os sentido crítico e problematizador da filosofia, exercitamos seu caráter
de pergunta, de questionamento, de interrogação. Desenvolvemos também a desconfiança em
relação às afirmações muito taxativas, em relação a certezas prontas e às opiniões
cristalizadas.’’GALLO, Sílvio. p. 97. (2012).
A investigação consiste na busca de elementos para a resolução dos problemas, é
nesse momento que o professor recorre aos textos filosóficos para dar embasamento e servir
como ferramentas para pensar o problema em questão.
Por último a conceituação, etapa que consiste na ação de recriar os conceitos
discutidos de modo que resolvam os problemas em questão, ou até mesmo criando novos
conceitos.
Considerações finais
No decorrer deste artigo foram discutidos aspectos históricos e sociais acerca do
ensino de filosofia no Brasil. Vimos que o movimento pendular da presença desta disciplina
na educação básica, desde a sua chegada, carrega uma forte carga política. Também vimos
que atualmente as circunstâncias para o ensino não são das mais favoráveis, uma vez que
estão sendo impostas uma série de leis e reformas que vão contra o exercício pleno da postura
e da atitude filosófica. Por fim, demonstramos aspectos essenciais para que se desenvolva um
método de ensino que estimule o pensamento crítico e principalmente a autonomia dos
alunos. Fizemos uma exposição da pedagogia dos conceitos desenvolvida por Sílvio Gallo,
contudo, não a intitulamos a pedagogia ideal. Muito pelo contrário, tal pedagogia também
encontra-se sujeita a críticas e a modificações de acordo com as condições em que é aplicada.
Bibliografia
GALLO, Sílvio, Metodologia Do Ensino de Filosofia: uma didática para o ensino médio.
Editora Papirus, 2012.
DOS SANTOS, Thiago Ferreira, Panorama histórico da filosofia no Brasil: Da chegada
dos jesuítas ao lugar da filosofia na atualidade.
MAZAI, Noberto & RIBAS, Maria Alice Coelho, Trajetória do ensino de filosofia no
Brasil. 2001.
GALLO, Sílvio, A filosofia e seu ensino: Conceito e transversalidade. 2005.

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