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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE) CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA DISCIPLINA: Método e Prática no Ensino de Filosofia I DISCENTE: David Rocha Vasconcelos RESUMO: EDUCAÇÃO, CIDADANIA E EMANCIPAÇÃO HUMANA Capítulo III - A emancipação humana na perspectiva marxiana 3.1. Questões preliminares Emancipação humana, para Marx, nada mais é do que um outro nome para o comunismo, embora o primeiro enfatiza a questão da liberdade e o segundo, o conjunto de uma nova forma de sociabilidade. Os autores do texto preferiram então utilizar a categoria da emancipação humana. Até pelo fato de que esta categoria põe imediatamente no centro da problemática a questão da liberdade, que também é posta como chave na perspectiva liberal. Várias deformações foram submetidas a ideia de uma sociedade para além do capital, é preciso que haja honestidade de propósitos, todo cuidado. A maioria destas deformações foi e é motivada por razões diretamente ideológicas. Dentre estas estão: considerar o comunismo uma utopia, considerar tal ideia como uma ideia reguladora, um ideal que nos estimula a lutar por uma constante melhoria , mas jamais efetivá-la materialmente; considerá-la como uma forma de sociabilidade necessariamente totalitária; considerá-la como resultado inevitável do processo histórico. Devido a estas deformações os autores fizeram questão de expor o conjunto de pressupostos, puramente racionais, que norteiam este trabalho. Todas as lutas e elaborações teóricas esbarram num problema fundamental: a própria imaturidade do ser social, que impedia o conhecimento da sua natureza e, como consequência, tornava impossível a sua alteração radical, levando com isso a construção de modelos apenas ideais de uma sociedade justa. A teorização marxiana inscreve-se na tradição de preocupação com a construção de uma sociedade justa, fraterna, igual e livre. Mas a nova concepção do ser social por ela elaborada estabelece uma ruptura radical com esta tradição e permite pensar esta problemática de forma profundamente diferente. Se as tradições anteriores caracterizavam-se por essa imaturidade, é justamente a maturidade de Marx que o permite construir essa nova perspectiva e pensar a emancipação humana, evitando tanto a especulação quanto a submissão ao imediato dado. Tal maturidade significa que a realidade social atinge, como resultado de um processo, uma forma plenamente social, uma forma na qual as determinações sociais assumem um papel claramente regente no processo histórico e, deste modo, permitem compreender a sociedade como resultado da sua própria atividade e não de forças naturais ou sobrenaturais. 3.2. Trabalho e emancipação humana. O que nos importa acentuar é que a forma concreta de trabalho constitui, a cada momento da história, a matiz de uma determinada forma de sociabilidade, há, certamente, uma relação, mediada por inúmeras outras determinações , entre estes dois momentos, sendo que o primeiro é fundamento do segundo. Com isto, os autores querem dizer que, para compreender os lineamentos gerais desta forma de sociabilidade que chamamos, com Marx, de emancipação humana, devemos começar por identificar o ato fundante - que já sabemos ser um ato de trabalho- que está na sua base. Este ato fundante é chamado por Marx de trabalho associado. O trabalho, em sua estrutura básica geral, implica teleologia, causalidade, busca dos meios, objetivação e que tudo isso significa dispêndio de energias físicas e espirituais. Além disto, este intercâmbio que os homens realizam com a natureza significa , sempre, uma forma determinada de relações que os homens estabelecem entre si. Por isto mesmo, ele tem a ver não apenas com o ato estrito do trabalho, mas com a totalidade das atividades humanas. Deste modo, o trabalho associado pode ser, inicialmente, definido como aquele tipo de relações que os os homens estabelecem entre si na produção material e na qual eles põem em comum as suas forças e detêm o controle do processo na sua integralidade, ou seja, desde a sua produção, passando pela distribuição, até o consumo. Em todas as formas de trabalho conhecidas na história da humanidade - exceto a primitiva- as energias físicas e espirituais dos indivíduos são desapropriadas de seus possuidores originais, privatizadas e transformadas em forças hostis e contrárias a eles. Elas são sociais porque todo produto humano é, por sua natureza, social e porque são as forças dos indivíduos colocadas em comum, mas deixam de ser diretamente sociais porque no processo de trabalho são investidas de um caráter privado. A consequência disto é a impossibilidade de o produtor ter a regência sobre o processo de produção e, como consequência, sobre o conjunto do processo social, com todas as consequências anteriormente vistas. Contrariamente, o trabalho associado se caracteriza por permanecer diretamente social do começo ao fim, isto é, na produção, na distribuição e no consumo. A grande diferença com a produção, também social, do sistema capitalista é que neste a associação lhes é imposta por um poder estranho, que não só lhes rouba o domínio, mas também a compreensão sobre as suas relações, ao passo que naquele os produtores podem compreendê-las e controlá-las. O que falta, tanto na produção especificamente capitalista, quanto na produção que foi considerada socialista, é exatamente o controle livre e consciente dos produtores sobre a produção. É a posição idealista que supões, que supõe que a vontade pode, independentemente da maturidade das condições objetivas, submeter essas últimas ao seu controle. As coisas poderiam ter se passado de forma diferente, uma vez que a história não é um processo pré-determinado: ‘’os homens fazem a história, mas não fazem nas condições por eles escolhidas’’, o que significa que a realidade concreta estabelece, ela mesma, um campo concreto de possibilidades, que nunca são nem infinitas e nem sequer muito grandes. O trabalho associado é a única forma que impede a apropriação privada das energias sociais: nele, as forças sociais jamais escapam do controle dos seus produtores porque as relações que se estabelecem entre eles tornam isso impossível. Elas permanecem ao longo do processo sob controle consciente do conjunto dos trabalhadores. Marx ressalta que ‘’uma vez emancipado o trabalho, todo homem se torna trabalhador e o trabalho produtivo deixa de ser atributo de uma classe’’, o autor busca explanar que será extinta a divisão do trabalho e, portanto, também o trabalho assalariado, que torna possível a ociosidade de uns às custas de outros. 3.3 Humanidade emancipada. 3.3.1. Condições ontológicas de possibilidade. Partindo da análise do trabalho, Marx conclui que ele é o ato ontológico do ser social, ou seja, que por intermédio dele se realiza um salto ontológico que faz emergir um ser essencialmente diferente do ser natural. Deste modo, a história humana começa com este ato e toda ela nada mais é do que o processo de autocriação do homem por si mesmo. O resultado disto é que o ser social, em sua integralidade, é um ser histórico, resultado que tem no trabalho seu ato originário. Atribuir ao homem uma essência divina ou natural, ontologicamente anterior a sua existência, ou é uma operação especulativa ou significa conferir elementos empíricos um caráter ontológico que eles não possuem. A emancipação humana não é simplesmente um valor legítimo e desejável, nem sequer um valor puramente subjetivo. É certamente um valor, isto é, não é uma decorrência necessária e direta da forma de ser do ser social. Mas é nesta natureza do ser social, como ela se apresenta configurada hoje que estão as bases para sustentá-la como um valor real, embora potencial, e como um valor superior à emancipação política. Exatamente porque é ela que pode permitir à humanidade o acesso a um patamar mais alto de sua identificação.
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