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FAMÍLIA E SAÚDE

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AULA 1 
FAMÍLIA, SAÚDE E SOCIEDADE 
Profª Tânia Maria Santos Pires 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
A família é a estrutura social mais antiga da sociedade. Ao longo do 
desenvolvimento da humanidade, as pessoas vêm demonstrando sua capacidade 
de transformação e adaptação às mais diversas demandas, organizando-se de 
diferentes modos. Por esse motivo, a família vem sendo estudada em suas 
composições e arranjos sociais e culturais, sendo alvo de historiadores, 
sociólogos, filósofos, religiosos, políticos e cientistas de variados campos de 
estudo. Atribuiu-se à família o difícil papel de regular a sociedade e, de certo 
modo, controlar o comportamento humano. Veremos como a família é narrada 
segundo a interpretação histórica dos séculos anteriores e como se modifica e se 
adapta, de modo a permanecer no papel primordial de sua criação. 
TEMA 1 – A NARRATIVA HISTÓRICA DA FAMÍLIA 
Diante de tantas funções e da complexidade que envolve o tema, a 
reconstituição histórica da família mostrou-se fundamental. A história, porém, na 
sua narrativa mais tradicional, sofre de um viés importante porque traz o olhar 
daqueles a quem distingue e a quem se destina. Distingue os privilegiados e 
também a eles se destina. Nos dias de hoje, dizemos que estes são os 
“formadores de opinião”, porém eles representam apenas ¼ da sociedade 
organizada no mundo, portanto, em termos numéricos, não são representativos 
do todo. Apesar de serem a minoria entre a população, o ¼ mais rico do mundo 
detém o sistema econômico e, por consequência, o sistema político. São eles 
também que conseguem os poderosos lobbys que influenciam as leis. Dessa 
maneira, os mais ricos da sociedade imprimem o curso da narrativa histórica. 
1.1 A história social da família 
Quando se fala na história da família brasileira, os estudiosos se voltam 
para a descrição feita por Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande e Senzala 
(2001); no entanto, famílias naquele modelo descrito eram minoria no Brasil. Os 
brancos pobres e os escravos viviam de modo muito semelhante, exceto pela 
liberdade civil, e eram a maioria da população brasileira. Apesar disso, pouco se 
sabe da forma como as pequenas famílias se organizavam, quais eram seus 
valores, suas formas de viver e suas expectativas naquele contexto (Samara, 
2002). 
 
 
3 
O filósofo francês Michel Foucault opina sobre os historiadores do seu 
tempo, no livro Microfísica do poder, dizendo de forma irônica que eles evoluíram 
ao aceitarem trabalhar com material não nobre. Foucault era alvo de críticos que 
diziam que ele se ocupava apenas de medíocres (Foucault, 1979 – grifo nosso). 
A mediocridade, estudada por Foucault, trouxe um novo sentido à história, 
permitindo a análise a partir de olhares inesperados, como o da criança, da 
mulher, dos escravos, dos prisioneiros, mesmo daqueles considerados loucos. 
Acolhendo todas as classificações e singularidades, encontra-se a família, dentro 
da qual são construídas as vivências humanas, com laços e desenlaces, para o 
bem ou para o mal. 
Esses questionamentos têm motivado o estudo das famílias por meio de 
uma área específica da história que ficou conhecida pelos historiadores como 
história social. Trata-se de uma especialidade da história que faz a análise 
histórica a partir das classes menos favorecidas, dando voz e argumentos àqueles 
que raramente são ouvidos (Lara, 1997). 
Utilizando-nos da narrativa da história social, podemos conhecer o 
desenvolvimento das famílias de baixa renda no ocidente, sobretudo a partir do 
século XVIII, quando os registros passaram a se fazer de modo mais cuidadoso, 
nas igrejas, nos conventos, mosteiros, hospitais e prisões. Assim, foi possível 
entender como antigos conceitos e preconceitos sobre famílias pobres influenciam 
ainda hoje os discursos sociais, políticos e até dos profissionais da saúde (Rosen, 
1998). 
 A reconstituição histórica nos fornece referencial evolutivo e nos ajuda a 
compreender as estruturas mentais que modelam nosso modo de pensar e agir e 
nos ajuda a entender a família dentro de seu tempo e espaço social e cultural. 
Como todas as instituições sociais, a família sofre influência direta do seu meio e 
das crenças nas quais está centrada. A forma como a sociedade a vê e como ela 
própria se enxerga dentro da sociedade induzem a sua caminhada e suas 
expectativas, determinando o futuro de seus componentes. 
 Ao analisar-se a história social das famílias, temos que analisar o contexto 
histórico e político, as mudanças impressas na família pelo modelo econômico, 
que associam-se e influenciam a trajetória das pessoas, como as lutas de classes, 
a criação de políticas públicas, fenômenos migratórios, religiões, entre outros 
temas. Igualmente importante é analisarmos ideologias que tentaram explicar as 
diferenças sociais e que ganharam força ao serem divulgadas (mesmo em uma 
 
 
4 
época em que não existiam redes sociais), porém encontraram ressonância nos 
grupos de interesse. Após serem internalizadas, geraram atos agressivos 
traduzidos em preconceitos, discriminação, abrindo caminho para crimes contra a 
humanidade e muito sofrimento. Estas são as ideologias que surgiram no final do 
século XIX e que repercutem até nossos dias em todo o mundo: a ideologia 
higienista, a ideologia da eugenia e o etnocentrismo. 
TEMA 2 – A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA HIGIENISTA E DA IDEOLOGIA 
EUGENISTA SOBRE AS FAMÍLIA BRASILEIRAS NOS SÉCULOS XIX E XX 
 O desenvolvimento da ciência, representado pela chegada da era 
bacteriológica no século XIX, foi a base para mudanças importantes nas 
configurações sanitárias na Europa, Estados Unidos e demais países. A partir de 
então, entende-se a importância da higiene no combate às doenças, sobretudo às 
doenças transmissíveis. Inicia-se o delineamento da medicina científica do século 
XX, com o seu conjunto ideológico formatado no discurso positivista, modelo de 
pensamento cartesiano e biologicista. 
Pesquisas científicas que marcaram a humanidade, como a teoria da 
evolução de Charles Darwin e a descoberta da genética pelo biólogo e botânico 
Gregor Mendel, permitiram avanços na compreensão da relação da humanidade 
com o meio ambiente, a luta da natureza pela sobrevivência, as mutações 
genéticas e a seleção natural. Esse conjunto de conhecimentos fortaleceu a 
credibilidade da ciência na sua tarefa de esclarecer o ser humano, que finalmente 
começa a desprender-se das fórmulas sobrenaturais, mágicas, para abraçar as 
explicações científicas. Porém aquilo que deveria ser totalmente positivo para a 
humanidade gerou um modelo compreensivo desvirtuado, que resultou na teoria 
da eugenia. 
2.1 A prática Higienista e a teoria eugenista 
 É claro que nenhum de nós contestaria o valor da higiene na produção de 
saúde. Todos sabemos o valor de lavar as mãos, escovar os dentes, tomar banho, 
da higiene correta dos utensílios, do destino do lixo, do valor do esgoto sanitário, 
entre outras práticas que foram validadas no decorrer do desenvolvimento 
humano. Contudo, o que deveria ser apenas um conjunto de práticas oriunda do 
conhecimento científico para o bem da humanidade torna-se uma forma de 
 
 
5 
julgamento moral, acompanhada de segregação social. Nesse modelo, a higiene 
torna-se qualidade relacionada às “pessoas de bem”, praticada por aqueles de 
alta estirpe, chegando a ser entendida como um pré-requisito para se conceituar 
a civilização. 
A higiene passa a promover ações sanitárias que vão desde a fiscalização 
das prisões, dos prostíbulos, até a vigilância dos alimentos nos mercados, como 
também se expressa entre a população pobre por meio de atuação mais rígida, 
no modelo policial, que na Europa do século XVIII ficou conhecida como “polícia 
médica” (Rosen, 1998). Essas ideias chegam ao Brasil Império por meio dos 
poucos médicos que atuavam no país naquela época, mas passaram a ter maior 
relevânciacom o advento da república no início do século XX. 
A ideologia higienista cresceu validada pelos resultados científicos da 
recém-descoberta microbiologia, da vacinação, da prevenção de doenças, 
atualizando o conhecimento médico científico daquela geração. No Rio de 
Janeiro, foi implementado o plano de saneamento dos portos, como também 
iniciou-se o combate às diversas doenças que assolavam a capital. Uma grande 
campanha de vacinação, liderada pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, marca o 
período histórico da saúde que ficou conhecido como sanitarismo campanhista1. 
Até hoje o programa de vacinação do Brasil tem reconhecimento internacional 
devido à sua abrangência e gratuidade. 
As ideias foram divulgadas entre a população geral, valendo-se de 
estratégias que ultrapassavam os serviços de saúde, como a escola. Professores 
do Paraná, na década de 1920, foram treinados para levar aos seus alunos os 
conhecimentos da higiene (Larocca; Marques, 2010). 
Claro que todos podemos pensar que isto foi algo muito bom para a 
população. De fato, traria muitos benefícios se os médicos defensores dessa 
ideologia não tivessem extrapolado o valor da higiene e incorporado a esse 
pensamento um outro tipo de valor, de cunho moral e seletivo. Entendia-se que a 
higiene era capaz de abrir as portas para a civilização, para o desenvolvimento. 
Desse modo, quem fosse capaz de aderir às normas de higiene estaria apto à 
civilização; quem não aderisse não seria apto ao desenvolvimento. Era como se 
a pessoa que não tivesse bons hábitos de higiene fosse um ser inferior, e, por sua 
culpa, o progresso não chegaria. 
 
1 O sanitarismo campanhista é considerado o primeiro conjunto de ações voltadas à saúde pública 
no Brasil, sob o comando do médico sanitarista Oswaldo Cruz (Britto, 1995). 
 
 
6 
O homem do campo, o caboclo, foi representado como alguém indolente, 
preguiçoso, desprovido de ambição, trabalhando apenas com a cultura de 
subsistência e cheio de doenças devido à sua falta de higiene. O escritor Monteiro 
Lobato, criador do Jeca Tatu, era um higienista/eugenista. Descreve o caboclo por 
meio do seu personagem no livro Urupês, publicado em 1918, destacando o seu 
desânimo e problemas de saúde, porém faz uma crítica política e social dizendo 
que “o Jeca não é assim, mas está assim”. 
 Esse pensamento reducionista e superficial não levava em conta que 
grande parte das pessoas não tinha acesso à água, ao esgoto, à alfabetização. 
Ainda hoje, não temos esses benefícios para a totalidade da população, imagine 
no início do século num Brasil rural, com uma população formada na sua maioria 
por pessoas simples, analfabetas, em parte recém-saída da escravidão; outra 
parte de imigrantes europeus pobres, fugidos da fome e das crises de seus países 
de origem; e o caboclo, nosso tipificado homem rural, originário da mistura étnica 
colonial e herdeiro da exploração social do Brasil Colônia. Além da falta de 
estrutura para captar a água dos rios e fazê-la chegar às casas, ainda se precisava 
contar com o antigo flagelo da seca no Nordeste. Em 1915, o Nordeste viveu uma 
das mais rígidas secas da história. Na visão dos higienistas, essa população seria 
inapta ao desenvolvimento. 
 Um querido amigo e colega médico atuante em Curitiba uma certa vez 
compartilhou sua memória de família ao recordar-se de seus pais, pequenos 
agricultores do interior do Paraná, de origem ucraniana. Ele relatou que, ao final 
do dia, quando seus pais voltavam da roça, enchiam a banheira, ou tina na 
cozinha (porque era o lugar mais quente da casa), e iniciavam o banho da família, 
começando pelo filho mais novo e terminando pelo pai. Todos tomavam banho 
com a mesma água. Depois a água era reservada para se lavar o chão de alguma 
parte da casa. Apesar de todo o sacrifício, parece que o meu amigo, como muitos 
outros de nós, contradisse a teoria dos higienistas radicais. 
O discurso higienista foi ao encontro do discurso eugenista, e veremos que 
as semelhanças entre eles vão além da sonoridade das palavras. 
2.2 A influência da eugenia nas famílias brasileiras 
A ideologia eugenista iniciou-se no século XIX, com as ideias de Francis 
Galton, na Inglaterra, porém sua mensagem teve maior acolhida nos Estados 
Unidos. Galton era primo de Charles Darwin e, ao ler sua publicação sobre a 
 
 
7 
evolução das espécies, fez uma extrapolação comparativa às pessoas, 
entendendo que os menos favorecidos da sociedade seriam de toda forma 
descartados pela natureza, porém isso levaria muito tempo; enquanto isso, eles 
poderiam prejudicar toda a sociedade (Vaiano, 2019). 
As propostas de Galton incluíam aceleração do processo de seleção social 
por meio de algumas estratégias, como esterilização involuntária de presidiários, 
prostitutas, pessoas com deficiência, doentes mentais. Ele também acreditava 
que as características de caráter e o conhecimento também passavam 
geneticamente aos descendentes e tentava comprovar suas ideias ao demonstrar 
que diversas gerações de uma mesma família apresentavam uma certa 
habilidade, ou conhecimento, como famílias de músicos ou construtores de 
barcos, e entendia que igualmente os criminosos passariam também essas 
características a seus descendentes (Kobayashi; Faria; Costa, 2009). 
O objetivo da eugenia era qualificar a raça humana, tornando-a mais limpa, 
mais saudável, mais inteligente, mais civilizada. Era uma espécie de higienização 
racial, e justamente neste aspecto, compactua-se com a higiene no sentido de 
selecionar os segmentos sociais. No Brasil, houve adesão majoritária dos médicos 
atuantes ao que se entendia como “teoria científica, como também de advogados, 
jornalistas e políticos”. Essas ideias difundiram-se de tal maneira que chegaram a 
influenciar a constituição de 1934, que no seu artigo 138 fala em “estimular a 
educação eugênica”. Mais uma vez, a escola seria o alvo eleito para a divulgação 
prática dessas ideias (Larocca; Marques, 2010). 
Na prática, os eugenistas/higienistas tinham duas estratégias para 
implementar suas ideias. Um ramo era chamado de eugenia negativa, que não foi 
muito bem aceito no Brasil, mas, à semelhança dos americanos, pretendia-se 
controle de natalidade entre os pobres e esterilização involuntária de indivíduos 
considerados inaptos. O outro ramo, chamado de eugenia positiva, visava 
estimular os escolares a uma vida saudável, longe de vícios, e que mais tarde 
escolhessem casar-se com pessoas de raças superiores e gerar muitos filhos, 
inteligentes e perfeitos, para que, no futuro, estes pudessem levar o país ao 
desenvolvimento (Mai; Angerami, 2006). 
Se neste momento você está pensando que isso se parece com o nazismo, 
tenho que dizer que você acertou. Essas ideias foram a inspiração de Hitler para 
a criação da raça ariana superior e de um mundo “desenvolvido” livre das raças 
que promoveriam o atraso na opinião dessas pessoas de tão diminuto pensar. 
 
 
8 
Mesmo que isso tudo soe tão absurdo, essas ideias ganharam profundo 
espaço na população brasileira, de modo a se traduzir no racismo estruturado, 
nos preconceitos contra os pobres, os negros e todos aqueles que são diferentes 
do padrão estabelecido por alguns. 
TEMA 3 – O ETNOCENTRISMO NA ANÁLISE DAS FAMÍLIAS 
Somos educados dentro de um certo grupo de valores e visão de mundo. 
Naturalmente, para a maioria das pessoas, esse conjunto referencial interiorizado 
será a base para nossa análise do mundo e suas estruturas. Fazemos isso 
diariamente, quando selecionamos as pessoas que melhor se adequam ao nosso 
modo de pensar e de viver e as escolhemos para os diversos relacionamentos 
aos quais nos ligamos na sociedade. O conjunto de costumes, valores, hábitos, 
religião, idioma que se ligam a um grupo social constitui a base da etnia. Apesar 
de ser muitas vezes analisada pela raiz genética e biológica, que a vincula ao 
conceito de raça, a etnia liga os indivíduos muitomais pelos seus laços culturais 
do que raciais. 
De forma mais ampliada, podemos, por exemplo, visualizar as diferenças 
entre as famílias ocidentais e orientais, entre famílias do Oriente Médio e as 
famílias da América do Sul, assim como também observamos as diferenças dentro 
do nosso país, entre as famílias da Região Sul e Região Norte, como entre famílias 
ricas e pobres de qualquer parte do mundo. Nesse conjunto de expressões 
culturais e sociais, notamos que as etnias e diversas culturas determinam a forma 
de expressar a dor, o luto, as alegrias e comemorações, assim como as relações 
sociais e familiares. A forma como a família se organiza depende 
fundamentalmente da sua cultura de origem. 
Reconhecer as diferenças culturais é fundamental para a boa compreensão 
dos processos familiares, porém na maioria das vezes não é isso que 
encontramos na sociedade. A tendência humana ao julgamento daquilo que não 
se compreende é muito maior do que o reconhecimento da diversidade, e dessa 
forma evidencia-se o etnocentrismo. 
Esse termo é muito bem definido pelo professor Everardo Rocha (1988, p. 
6), antropólogo estudioso desse tema: 
Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é 
tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos 
através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que 
é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de 
 
 
9 
pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de 
estranheza, medo, hostilidade, etc. Perguntar sobre o que é 
etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam 
tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e 
afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano – 
sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não 
apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também 
facilmente encontrável no dia a dia das nossas vidas. 
Pensar de forma etnocêntrica é considerar a sua cultura superior à dos 
outros e, por causa disso, agir de forma a mudar a cultura do outro, no sentido de 
fazê-lo perder sua identidade, sentir-se inseguro, instável, dependente e, portanto, 
facilmente manipulável e moldável. Caso o remodelamento não venha ser bem-
sucedido, o outro passo é a extinção daquela cultura. A história nos mostra que o 
encontro da cultura europeia com a cultura indígena das Américas resultou em 
genocídio. Os índios foram descritos como preguiçosos, indolentes e incapazes 
(Rocha, 1988). De igual modo, a cultura africana trazida pelos escravos, como a 
sua religião, suas comemorações, sua dança, foram motivos de desconfiança, 
medo, angústia, sendo interpretados como práticas ocultistas e tratadas com 
atitudes de repressão. 
O etnocentrismo está na base do racismo, da discriminação social, das 
doutrinas de superioridade racial e preconceitos, comportamentos extremistas 
que tanto têm prejudicado a humanidade. Porém o etnocentrismo se expressa de 
formas mais suaves, discretas e veladas, no nosso cotidiano, cada vez que nos 
deparamos com outros modos de viver e de pensar, que pensamos poderem 
prejudicar o nosso próprio modo de vida. Assim tememos o morador de rua, o 
estrangeiro pobre que busca um local melhor de vida, o nordestino que fugia da 
seca para São Paulo e Rio de Janeiro, o morador da favela e tantos outros que 
possam representar algum suposto perigo. 
Por tratar-se de um discurso considerado politicamente incorreto, ele antes 
permeava os círculos mais fechados, porém recentemente observamos um 
crescimento do chamado discurso conservador, diante das levas de imigrantes na 
Europa, do aumento da pobreza no mundo, sendo a base de diversas ideologias 
de extrema direita. Entretanto, mais do que ideologias, nos assustam atitudes 
criminosas as quais nos deixam estarrecidos, como moradores de rua sendo 
incendiados, ou arrastados pelas ruas amarrados em camionetes de luxo. São 
sinais e sintomas de uma sociedade com forte etnocentrismo em sua base. 
Uma certa vez, ocupando um cargo na gestão municipal, participava de 
uma reunião comunitária na qual se discutia a implantação de um CAPS-AD numa 
 
 
10 
região. Houve manifestação de diversos líderes comunitários contrários à 
implementação do centro de atendimento. As expressões usadas eram muito 
representativas do seu medo e preconceito: “Essa gente tem que ser atendida 
longe daqui”, “Por que não levam essa gente para uma fazenda longe da cidade?”, 
“coloquem esses desocupados para trabalhar que eles vão sarar rapidinho”, 
“quando eles saírem do atendimento, eles vão ficar vagando por aqui e vão 
prejudicar os nossos negócios”. Ao ouvir aquelas pessoas se manifestando, sem 
qualquer constrangimento, na frente de autoridades municipais e até 
representantes do Ministério Público, não pude deixar de concluir que vivemos 
num momento social perigoso, em que mesmo o pudor de rejeitar outro ser 
humano simplesmente acabou. 
Higienismo, eugenia e etnocentrismo infelizmente ainda estão presentes na 
nossa sociedade e repercutem continuamente no nosso cotidiano. Demonstram-
se nas piadas racistas, nos termos ofensivos aos homossexuais, na discriminação 
da pessoa pobre. São atitudes tão comuns no comportamento social, introjetadas 
na cultura, que frequentemente são tomadas como “brincadeiras”, parecendo que 
os autores dessas atitudes sequer percebem a gravidade da sua mensagem. 
Cabe àqueles que o percebem manifestarem-se contra essas atitudes e buscarem 
de forma intencional a mudança na sociedade. 
TEMA 4 – POBREZA, DELINQUÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL 
Apesar de o tema em destaque ser a família, quando analisamos sua 
evolução a partir do século XVII, notamos que há, na verdade, outro tema na 
centralidade: a pobreza. Junto com a condição de pobreza emergem outros 
males, como as doenças, a criminalidade, o desamparo, a exploração, o 
aprisionamento e a mendicância. 
No decorrer do tempo, a visão da sociedade assumiu diferentes direções 
quanto a esse conjunto de problemas, presentes, infelizmente, até os dias de hoje. 
Inicialmente, os pobres eram alvo unicamente da caridade clerical, por meio de 
suas ordens religiosas atuantes nos mosteiros, conventos e hospitais. As famílias 
ricas da burguesia contribuíam com essas organizações. No intuito de ajuda aos 
pobres, mulheres da alta sociedade exerciam a caridade por meio de visitas a 
lares e instituições de asilares. Por outro lado, a caridade religiosa leva também 
ao surgimento dos “mendigos profissionais”, que aproveitavam-se da sua 
condição para estabelecer um modo permanente de vida, inclusive utilizando-se 
 
 
11 
de estratégias cruéis, como a compra de crianças para aplicar-lhe mutilações e 
depois utilizá-las como pedintes nas ruas das grandes cidades (Donzelot, 1980). 
 Diante do aumento da pobreza intensa e da criminalidade, perversão de 
bons costumes, resultante das guerras e disputas políticas da Europa, a 
intervenção do Estado na questão da pobreza era inevitável. Somente a religião 
não poderia conter tal desordem, além das repercussões políticas e 
enfraquecimento social. Inicia-se desse modo a abordagem social estruturada, 
que será chamada de assistência social. 
4.1 A atuação do Estado nas famílias pobres – a assistência social 
 Um pensamento corrente a respeito das consequências generalizadas da 
pobreza dizia que as mazelas sociais enfraquecem a sociedade e empobrecem o 
Estado, repercutindo diretamente no desenvolvimento do país (Rosen, 1998). 
Essa conclusão foi fundamental para que o Estado assumisse responsabilidades 
pelos indigentes e desfavorecidos. Surgem os auxílios financeiros para as 
mulheres nutrizes, apoio financeiro às ordens religiosas que mantinham crianças 
abandonadas na “roda dos expostos”2 e criação de estratégias para fortalecer as 
famílias pobres, provendo moradias populares, escolas de ofícios e até dotes 
financeiros paraque as jovens pobres tivessem mais chances de um casamento 
(Donzelot, 1980). O objetivo era apoiar a família para que esta conseguisse cuidar 
de seus filhos, sem abandoná-los, manter a mulher em casa e o homem 
trabalhando para sustentar a sua família, de preferência longe dos bares e das 
casas de prostituição, em que doenças como a sífilis, gonorreia e tuberculose 
eram disseminadas facilmente. 
A caridade evoluiu para filantropia e, aos poucos, tornou-se cada vez mais 
estruturada em suas abordagens e análises. As famílias eram visitadas antes de 
serem inscritas nos benefícios sociais, para que se constatasse a real 
necessidade dos auxílios, inclusive com orientações estruturadas para aqueles 
que atuavam no setor, como vemos por meio da publicação Manuel du visitem du 
pauvre (Manual de visita aos pobres), 1820, autoria do Barão de Gerando. Nele 
há orientações muito práticas para aqueles que prestam assistência, no intuito de 
não se deixarem enganar por uma impressão inicial de extrema pobreza, mas 
 
2 Roda dos expostos ou roda dos enjeitados era uma estrutura de metal ou madeira com tamanho 
suficiente para caber um bebê. Eram colocadas nos muros dos conventos para que pessoas que 
abandonassem uma criança pudessem deixá-las nesse local anonimamente. Iniciaram-se na 
Europa, mas existiram também no Brasil desde o século XVIII até o ano de 1940 (Marcilio, 1997). 
 
 
12 
entenderem mais profundamente a condição real da família visitada (Dozenlot, 
1980). 
No século XIX, iniciou-se uma fase profissional daqueles que prestavam 
atendimento social às famílias. Surgiram as novas profissões ligadas à assistência 
social: os assistentes sociais, os educadores especializados, os orientadores. 
Eles atuavam ligados à assistência, mas também atuavam junto ao judiciário e ao 
setor educacional. Na verdade, a sua atuação junto à educação fazia todo sentido, 
sobretudo porque o alvo maior do seu trabalho eram as crianças. A partir da 
criança e seu comportamento na sociedade, as famílias foram tipificadas. Naquele 
contexto, desenvolve-se o conceito do menor delinquente e do menor em risco 
(Donzelot, 1980). 
A atuação dos profissionais da assistência junto aos tribunais para 
julgamento dos menores delinquentes torna-se um diferencial nas políticas de 
assistência e de recuperação dessas crianças. Aos poucos, há uma evolução na 
compreensão da história e das condições de vida dos menores delinquentes, da 
exposição a riscos e até do perfil de saúde mental das crianças e dos 
adolescentes. No mesmo período histórico, surgiram os reformatórios e as prisões 
para os menores delinquentes, porém sem comprovação de que sua atuação 
pudesse preencher a falha deixada pela ausência da família na educação da 
criança. 
TEMA 5 – A INFLUÊNCIA DO SABER MÉDICO NO FUNCIONAMENTO DAS 
FAMÍLIAS 
A medicina como ciência teve seu reconhecimento social ampliado a partir 
do século XVIII. Foi o momento em que os médicos formados nas academias 
publicaram tratados de orientações para as famílias que versavam sobre diversos 
temas, sobretudo sobre como lidar com as crianças. Esse período é considerado 
um marco para o nascimento da pediatria, devido à nova compreensão do que 
era a infância. No século XIX, foi a vez da psiquiatria contribuir para a 
compreensão de fenômenos antes desconhecidos, como as alterações da mente 
e do comportamento humano. Esses dois setores do conhecimento médico vão 
influenciar de maneira muito significativa o cuidado com as famílias, sendo a 
pediatria mais importante para as famílias burguesas, e a psiquiatria para as 
famílias pobres. 
 
 
13 
5.1 O cuidado com as crianças e a nova visão da infância 
A criança é o grande foco da abordagem médica por diversos motivos, porém 
é importante que se diga que a criança-foco dessa atenção médica era a criança 
das camadas burguesas e ricas da sociedade. Notou-se a fragilidade dessa 
criança e do seu desenvolvimento, apesar de melhores condições de vida. A 
criança burguesa na maioria das vezes não era criada por seus pais, embora 
vivesse na mesma casa que eles. A começar pela amamentação, a maior parte 
de sua educação era terceirizada aos criados, os quais aproveitavam-se da 
situação para implementar abusos diversos, quer fossem motivados por 
sentimentos de vingança ou por aferição de vantagens pessoais. O resultado 
dessas abordagens foi uma geração cheia de vícios e perversões, tanto no caráter 
quanto no campo da sexualidade (Donzelot, 1980). 
A teoria médica de maior influência naquela época, século XVIII, era a teoria 
da circulação dos fluidos. Entendiam os cientistas que os fluxos naturais do corpo 
deveriam circular livremente e direcionar-se às suas eliminações naturais. 
Qualquer bloqueio ou direcionamento errado desse fluxo acarretaria severas 
consequências ao corpo. Segundo esse entendimento, a menstruação, a 
amamentação bem como a ejaculação por meio do coito seriam essenciais à 
saúde das pessoas. Portanto, as mulheres burguesas que não amamentavam 
tornar-se-iam fracas, por inibirem ou obstruírem o fluxo natural do leite em seus 
corpos. Por outro lado, acreditava-se também que certas qualidades do caráter 
poderiam ser transmitidas por meio da amamentação, o que explicaria alguns 
comportamentos impróprios detectados nas crianças, como se vê na descrição 
seguinte: 
Espantamo-nos, muitas vezes, em ver os filhos de pais honestos e 
virtuosos manifestarem, desde os primeiros anos de vida, um fundo de 
baixeza e maldade. Não há dúvida de que essas crianças tiram todos os 
seus vícios de suas nutrizes. Eles teriam sido honestos se suas mães os 
tivessem amamentado, sobretudo se, mirrada pelo trabalho, arrasada 
pelo cansaço, a nutriz apresenta à criança um seio fumegante de onde 
sai com dificuldade um leite azedo e ardido (Buchan, 1775, citado por 
Donzelot 1980 p. 18) 
Produz-se, então, literatura que modifica a forma de pensar a infância, a 
necessidade do ato de brincar, de movimentar-se livremente, impactando na 
maneira de vestir-se as crianças para dar-lhes mais liberdade de movimentos, 
além da compreensão de que o cognitivo da criança passa por etapas de 
desenvolvimento. Cria-se, então, a figura da criança inocente, que precisa de 
 
 
14 
proteção para o seu desenvolvimento, com as doenças específicas da sua etapa 
de vida e sua mãe como a sua leal guardiã (Barbosa; Magalhães, 2008). 
 O papel da mulher como responsável pela educação dos filhos, sua 
formação de caráter e proteção, cuidados com a sua saúde, alimentação, 
medicação, eleva-a para uma função específica dentro da família. Muda a sua 
condição anterior daquela que apenas geraria um herdeiro garantido para os bens 
e títulos, para a condição ativa de formadora. Esse novo papel, totalmente 
validado pelo médico, influencia de forma mais específica na educação das 
meninas das famílias burguesas, que passam a receber melhor educação para 
que mais tarde consigam desempenhar adequadamente seu papel social 
(Donzelot, 1980). 
5.2 A ação da psiquiatria no julgamento e manejo das famílias pobres 
A psiquiatria e a psicologia assumiram destaque na análise das famílias em 
situação de risco a partir do século XIX. A evolução da tutela do Estado sobre as 
famílias pobres, sobretudo sobre a criança, levantou a necessidade de 
estabelecer-se critérios para avaliação e categorização dessas famílias. A grande 
preocupação do Estado referia-se à decisão de como proceder com a criança 
considerada infratora. Sua conduta seria resultado de seu mal caráter, ou seria 
resultado de alguma doença mental? Teria ela chance de ser modificada com 
tratamento, ou se tratava de conduta irreversível? 
Caberia ao Estado, por meio do judiciário e de outros aparatos, tomar 
decisões que poderiam incluir a reclusão do menor em reformatório para menores 
infratores, internato educativo, ou até mesmo em hospital psiquiátrico. Nesse 
momento, a psiquiatria apresenta suaversão para os chamados desvios de 
conduta dos menores delinquentes, exercendo um importante papel nas análises 
do comportamento. 
Além de subsidiar o judiciário na tomada de decisão sobre o destino do 
menor, a psiquiatria, juntamente com a assistência social, inicia a categoriação 
das famílias vulneráveis. Para isso, as famílias das crianças delinquentes eram 
visitadas, entrevistadas, estudadas com vistas a se traçar um perfil classificatório, 
com o objetivo de manejo. A partir de então os serviços sociais franceses 
trabalhavam com a classificação familiar de: a) famílias inestruturadas; b) 
famílias normalmente constituídas, mas rejeitadoras ou super-protetoras; c) 
famílias carentes (Donzelot, 1980, p.120). 
 
 
15 
As famílias inestruturadas têm em comum a instabilidade profissional dos 
pais, imoralidade e falta de higiene. Além de muitas vezes serem famílias 
constituídas por apenas um dos pais. A intervenção do Estado nessas famílias era 
a única forma de evitar que as crianças se degenerassem totalmente e fossem 
parar na prisão. A decisão seria retirá-las do convívio dos seus pais, passando à 
tutela do Estado de modo definitivo. 
As famílias normalmente constituídas, mas rejeitadoras ou super-
protetoras são famílias com muitos filhos, morando em espaços pequenos, que 
não conseguem abrigar a família, por isso os filhos vão para as ruas, afastando-
se cada vez mais do controle dos pais. Neste caso, as crianças poderiam ser 
retiradas dos pais por um período, serem submetidas a institucionalização 
educativa, desde que não tivessem cometido delitos sérios (Donzelot, 1980). 
As famílias carentes diferenciavam-se das demais anteriores por serem 
famílias submetidas a algum tipo de fatalidade, como a morte prematura de um 
dos pais, perda da casa devido a um incêndio, mutilação do pai durante uma 
guerra, doença grave com sequelas, ou outra situação que tornasse a família 
inesperadamente frágil, sem que ela tenha condições próprias para ultrapassar a 
situação grave, expondo, assim, os filhos a riscos. Nestes casos, as crianças 
poderiam ser abrigadas por um período, em centros educacionais e depois 
devolvidas aos seus pais (Donzelot, 1980). 
A entrada do psiquiatra no sistema de julgamento de menores e suas 
famílias teve o papel de amenizar o julgamento dos menores. As instituições 
psiquiátricas para abrigamento de menores infratores com diagnósticos de 
transtornos mentais não se mostraram mais eficazes do que as prisões ou 
reformatórios judiciais, porém o reconhecimento de que outras causas estariam 
envolvidas no comportamento do deliquente vai impactar a compreensão do 
fenômeno do menor infrator e suas famílias nos séculos seguintes. 
Apesar da evolução dos conceitos e melhor compreensão dos fenômenos 
sociais, continuamos vendo situações muito graves envolvendo as famílias 
vulneráveis. Os problemas da contemporaneidade, como a dependência química, 
favelização, segregação racial e social, falta de acesso à educação e à saúde, 
demonstram de forma muito clara a diferença que a sociedade faz entre os ricos 
e pobres. Para estes últimos, a solução ainda em voga é a tutela estatal, seja por 
meio dos mecanismos de repressão ou de assistência, porém sem um manejo 
mais profundo e eficaz das situações graves que assolam as famílias. 
 
 
16 
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