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SERVIÇO SOCIAL EATENÇÃO À FAMÍLIA

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SERVIÇO SOCIAL E
ATENÇÃO À FAMÍLIA
PROF.A SUZIE KEILLA VIANA DA SILVA
Reitor: 
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD:
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Fernando Sachetti Bomfim
Marta Yumi Ando
Simone Barbosa
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Cristiane Alves
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de 
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios 
não vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande 
responsabilidade sobre as escolhas que 
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida 
acadêmica e profissional, refletindo diretamente 
em nossa vida pessoal e em nossas relações 
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade 
é exigente e busca por tecnologia, informação 
e conhecimento advindos de profissionais que 
possuam novas habilidades para liderança e 
sobrevivência no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a 
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, 
capaz de formar cidadãos integrantes de uma 
sociedade justa, preparados para o mercado de 
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
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01
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4
1. CONCEITO DE FAMÍLIA: DA PRÉ-HISTÓRIA À IDADE MODERNA .......................................................................5
2. FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA E SUAS TRANSFORMAÇÕES................................................................................ 16
3. A RELAÇÃO DA FAMÍLIA COM O ESTADO .............................................................................................................20
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................25
AS CONFIGURAÇÕES DA FAMÍLIA E AS SUAS 
TRANSFORMAÇÕES AO LONGO DO TEMPO ATÉ 
A CONTEMPORANEIDADE
PROF.A SUZIE KEILLA VIANA DA SILVA 
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
SERVIÇO SOCIAL E ATENÇÃO À FAMÍLIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Antes de iniciar sua leitura, deixe o seu conhecimento empírico sobre família de lado, 
mergulhe de cabeça em novos conhecimentos e desvende como chegamos à família de hoje. É 
preciso olhar a família em sua construção – desconstrução – reconstrução, o seu movimento; 
como um espaço privilegiado e indispensável para a formação de nossa sociedade, cultura e 
história.
A família vem se modificando, não temos como ter um modelo único e ideal, pois se 
estrutura em suas várias dimensões e particularidades. Dessa forma, você, discente, deve 
compreender as mudanças ocorridas no tempo. Como profissionais, iremos utilizar nosso 
conhecimento para compreensão do indivíduo, pois somos seres biopsicossociais e precisamos 
olhar para o todo.
Portanto, convido você a mergulhar nesta leitura e em nossas aulas, buscar novos 
conhecimentos a partir de nossas indicações de filmes e livros sobre família. Aqui estamos 
mostrando apenas uma pequena parte do conhecimento sobre o assunto, faça fluir o lado 
pesquisador e descubra mais sobre a constituição, as mudanças e perspectivas da família dentro 
do Serviço Social.
Nesta unidade, iremos apresentar a constituição da família, desde o período pré-
histórico, passando pelos períodos Estados Selvagem e Barbárie nas suas três fases. Abordaremos 
as primeiras famílias consanguíneas, as famílias Punaluana, a Sindiásmica até a constituição da 
família monogâmica e tradicional.
Também veremos os tipos de famílias na contemporaneidade, que estão presentes no 
nosso cotidiano e que nos tornam tão especiais.
Venha comigo e mergulhe no tempo!
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. CONCEITO DE FAMÍLIA: DA PRÉ-HISTÓRIA À IDADE MODERNA
Quando pensamos em família, a primeira coisa que nos vem à mente é um grupo pequeno 
constituído de pai, mãe e filhos, conceito que se encontra enraizado em nossa mente e pelo mundo 
globalizado. É fato que a família é, sem dúvida, a instituição e o agrupamento humano mais antigo 
e, para se compreender os conceitos de família, temos que voltar à história de sua constituição; 
assim, nossas percepções e conhecimento empírico sobre o assunto serão desmitificados.
A palavra “família” possui um significado que foge à ideia que temos de tal instituição na 
contemporaneidade, vem do latim famulus e significa conjunto de escravos ou servos pertencentes 
ao mesmo patrão.
Figura 1 - Família na Pré-História. Fonte: Histórias da Pré-História (2014).
O autor Jakob Bachofen, em O direito materno, de 1861, realizou a primeira tentativa real 
de retratar a estrutura familiar primitiva. A partir dele, outros autores questionaram a origem 
da família, entre eles, Charles Morgan em A sociedade antiga, em 1877, e Friedrich Engels, que 
escreveu a Origem da família e da propriedade privada em 1884, autores que nos darão a base 
teórica para nossos estudos nesta unidade.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Morgan, que foi o primeiro com conhecimento de causa, tratou de introduzir uma ordem 
precisa na pré-história da humanidade, e sua classificação permanecerá certamente em vigor até 
que uma riqueza de dados muito mais considerável nos obrigue a modificá-la. Das três épocas 
principais – Estado selvagem, Barbárie e Civilização –, subdivide cada uma nas fases inferior, 
média e superior, de acordo com os progressos obtidos na produção dos meios de existência, 
porque “[...] a habilidade nessa produção desempenha um papel decisivo no grau de superioridade 
e domínio do homem sobre a natureza: o homem é de todos os seres, o único que logrou um 
domínio quase absoluto da produção de alimentos” (ENGELS, 1978, p. 28). De forma sintética,
Estado Selvagem – período em que predomina a apropriação de produtos 
da natureza, prontos para ser utilizados; as produções artificiais do homem 
são, sobretudo, destinadas a facilitar essa apropriação. Barbárie – período em 
que aparecem a criação de gado e a agricultura, e se aprende a incrementar a 
produção da natureza por meio do trabalho humano. Civilização – período em 
que o homem continua aprendendo a elaborar os produtos naturais, período da 
indústria propriamente dita e da arte (ENGELS, 1978, p. 28).
“Todas as grandes épocas de progresso da humanidade coincidem, de modo mais ou 
menos direto, com as épocas em que se ampliam as fontes de existência”. O desenvolvimento da 
família realiza-se paralelamente, mas não oferece critérios tão conclusivos para a delimitação dos 
períodos (ENGELS, 1978, p. 21-22).
O Estado Selvagem – a fase inferior, segundo o autor, trata-se da infância do gênero 
humano. Os homens permaneciam nas florestas e em bosques tropicais, não temos o tempo 
delimitado, mas essa fase durou milênios.
A fase média inicia-se com a introdução de novos alimentos como os peixes e a aparição 
do fogo; assim, os homens ficaram mais independentes e espalharam-se sobre a superfície da terra. 
Nesse período, com incertezas sobrea alimentação, surgiu a antropofagia para sobrevivência.
Com a invenção do arco e flecha, temos a fase superior; com a caça, tem-se alimento 
regular, encontram-se indícios de residências fixas. O fogo e o machado de pedra davam condições 
de construções de pirogas feitas com troncos de árvores, processos estes encontrados entre os 
índios do noroeste da América.
Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José 
Pedro Machado, a palavra “família” entrou na nossa língua, no 
século XVI por via culta, através do latim familia, que significava 
“o conjunto dos escravos da casa; todas as pessoas ligadas a 
qualquer grande personalidade; casa de família”.
Disponível em: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/
perguntas/a-etimologia-da-palavra-familia/15348. Acesso em: 
21 abr. 2020.
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-da-palavra-familia/15348
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-etimologia-da-palavra-familia/15348
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A Barbárie – a fase inferior inicia-se com a introdução da cerâmica e o traço principal 
é a domesticação e criação de animais e o cultivo de plantas. O continente oriental, chamado 
de mundo antigo, tinha quase todos os animais domesticáveis e todos os cereais próprios para 
o cultivo. Já no continente ocidental, a América tinha apenas a lhama domesticada numa parte 
do sul, e apenas o milho como cereal cultivável. Dessa forma, cada hemisfério se desenvolve de 
maneira particular.
Na fase média no Oeste, existia o cultivo de hortaliças por meio de irrigação e o emprego 
do tijolo cru (secado ao sol). No Leste, começa a domesticação de animais para o fornecimento 
de leite e carne. Dessa forma, os arianos e semitas se afastaram dos demais bárbaros. Com a 
formação de rebanhos nos lugares adequados, surgiu a vida pastoril, os semitas, nas pradarias 
do Tibre e do Eufrates; os arianos, nos campos da Índia, de Oxus e Jaxartes, do Don e do Dniepr 
(ENGELS, 1978, p. 26).
A fundição de minério de ferro inicia-se na fase superior e passa à fase da civilização, 
temos a invenção da escrita alfabética. Portanto, essa fase só existiu de maneira independente no 
hemisfério oriental e superou todas as anteriores juntas, elevando o progresso da produção. A ela 
pertencem os gregos da época heroica, as tribos ítalas de pouco antes da fundação de Roma, os 
germanos de Tácito, os normandos do tempo dos vikings (ENGELS, 1978, p. 27).
Segundo Morgan,
Estado Selvagem. – Período em que predomina a apropriação de produtos 
da natureza, prontos para ser utilizados; as produções artificiais do homem 
são, sobretudo, destinadas a facilitar essa apropriação. Barbárie. – Período em 
que aparecem a criação de gado e a agricultura, e se aprende a incrementar a 
produção da natureza por meio do trabalho humano. Civilização – Período em 
que o homem continua aprendendo a elaborar os produtos naturais, período da 
indústria propriamente dita e da arte (ENGELS, 1978, p. 28).
Até aqui, pudemos compreender as passagens pré-históricas culturais necessárias para 
chegarmos ao que o autor Morgan chama de família. Veremos quatro tipos de família: a Família 
Consanguínea, a Família Punaluana, a Família Sindiásmica e a Família Monogâmica.
Precisamos abrir uma discussão antes de passarmos para o primeiro tipo de família, pois 
o referido autor nos traz sua própria experiência; ele passou a maior parte de sua existência entre 
os iroqueses, ainda hoje no estado de Nova York, sendo adotado pela tribo Senakas, encontrando 
ali um sistema de consanguinidade entre eles, que era contraditório com seus reais vínculos 
de família. Os matrimônios eram facilmente desfeitos por ambas as partes; era, para o autor, a 
denominada “família sindiásmica”.
A descendência de semelhante casal era patente e reconhecida por todos; 
nenhuma dúvida podia surgir quanto às pessoas a quem se aplicavam os nomes 
de pai, mãe, filho, filha, irmão ou irmã. Mas, o uso atual desses nomes constituía 
uma contradição. O iroquês não somente chama filhos e filhas aos seus próprios, 
mas, ainda, aos de seus irmãos, os quais, por sua vez, o chamam pai. Os filhos de 
suas irmãs; pelo contrário, ele os trata como sobrinhos e sobrinhas, e é chamado 
de tio por eles. Inversamente, a iroquesa chama filhos e filhas os de suas irmãs, 
da mesma forma que os próprios, e aqueles, como estes, chamam-na mãe. 
Mas chama sobrinhos e sobrinhas os filhos de seus irmãos, os quais a chamam 
de tia. Do mesmo modo, os filhos de irmãos tratam-se, entre si, de irmãos e 
irmãs, e o mesmo fazem os filhos de irmãs. Os filhos de uma mulher e os de seu 
irmão chamam-se reciprocamente primos e primas. E não são simples nomes, 
mas a expressão das ideias que se tem do próximo e do distante, do igual ou do 
desigual no parentesco consanguíneo; ideias que servem de base a um sistema 
de parentesco inteiramente elaborado e capaz de expressar muitas centenas de 
diferentes relações de parentesco de um único indivíduo (ENGELS, 1978, p. 28-
29).
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Esse sistema achava-se em vigor não apenas entre todos os índios da América, mas existia 
também, quase sem alterações, entre os nativos da Índia, as tribos dravidianas do Dekan e as 
tribos gauras do Indostão.
As expressões de parentesco dos tamilas do sul da índia e dos senekas – iroqueses do estado 
de Nova York – ainda hoje coincidem em mais de duzentas relações de parentesco diferentes. E, 
nessas tribos da Índia, como entre os índios da América, as relações de parentesco resultantes da 
vigente forma de família estão em contradição com o sistema de parentesco (ENGELS, 1978, p. 
30).
Depreende-se que esse sistema prevaleceu em toda a América, existiu na Ásia em povos 
de etnias completamente diferentes e se encontram formas modificadas por grande parte da 
África e da Austrália. As nomenclaturas “pai”, “filho”, “irmão”, “irmã” não são meros títulos; pelo 
contrário, implicam sérias responsabilidades recíprocas, devidamente definidas, e cujo conjunto 
forma uma parte essencial do regime social desses povos.
Essa explicação foi encontrada nas ilhas Sandwich (Havaí). Na primeira metade do século 
passado, ainda havia uma forma de família em que existiam os mesmos pais e mães, irmãos 
e irmãs, filhos e filhas, tios e tias, sobrinhos e sobrinhas do sistema de parentesco dos índios 
americanos e dos nativos da Índia (ENGELS, 1978).
Segundo Morgan, o sistema de parentesco em vigor no Havaí também não correspondia à 
forma de família ali existente, todos os filhos de irmãos e irmãs, sem exceção, são irmãos e irmãs 
entre si e são considerados filhos comuns, não só de sua mãe e das irmãs dela, ou de seu pai e dos 
irmãos dele, mas também de todos os irmãos e irmãs de seus pais e de suas mães, sem distinção.
Portanto, se o sistema americano de parentesco pressupõe uma forma de família mais 
primitiva que não existe mais na América, mas que ainda encontramos no Havaí, o sistema 
havaiano, por seu lado, nos indica uma forma de família ainda mais rudimentar que, embora 
não seja encontrada hoje em parte alguma, deve ter existido, pois, do contrário, não poderia ter 
nascido o sistema de parentesco que a ela corresponde (ENGELS, 1978).
Esses sistemas de parentesco e grupos de famílias a que nos referimos diferem das atuais, 
pois cada filho tinha vários pais e mães; já no sistema americano de parentesco, correspondente à 
família havaiana, um irmão e uma irmã não podem ser pai e mãe de um mesmo filho. O sistema 
de parentesco havaiano, pelo contrário, pressupõe uma família em que essa é a regra (ENGELS, 
1978).
Encontramo-nos diante de várias formas de família que entram em contradição com as 
admitidas pela sociedade. A concepção de família tradicional descrita até aqui conhece apenas 
a monogamia (ao lado da poligamia de um homem e talvezda poliandria de uma mulher). 
Observa-se que esses fatos são silenciados e que, na prática, as barreiras impostas pela sociedade 
são silenciadas e desprezivelmente transgredidas.
Ao estudarmos a história primitiva, nos é revelado um período em que os homens 
praticam a poligamia e as suas mulheres, a poliandria; consequentemente, os filhos de uns e 
outros tinham que ser considerados comuns. Devido a esse período, passando por uma série de 
transformações, resultou-se na monogamia (ENGELS, 1978).
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A Família Consanguínea, segundo Morgan, é a primeira etapa de família. Os ascendentes 
e descendentes, os pais e filhos são os únicos que reciprocamente estão excluídos dos direitos 
e deveres (poderíamos dizer) do matrimônio. Irmãos e irmãs, primos e primas, em primeiro, 
segundo e outros graus, são todos, entre si, irmãos e irmãs, e por isso mesmo maridos e mulheres 
uns dos outros, o vínculo de irmão e irmã pressupõe, por si, nesse período, a relação carnal mútua 
(ENGELS, 1978, p. 38).
Segundo Morgan,
[...] a família consanguínea desapareceu, nem mesmo os povos reais atrasados de 
que fala a história apresentam qualquer exemplo seguro dela. mas o que nos obriga 
a reconhecer que ela deve ter existido é o sistema de parentesco havaiano, ainda 
vigente em toda a Polinésia, e que expressa graus de parentesco consanguíneo 
que só puderam surgir com essa forma de família; e somos levados da mesma 
conclusão por todo o desenvolvimento ulterior da família, que pressupõe essa 
forma como estágio preliminar necessário (ENGELS, 1978, p. 39).
A Família Punaluana deu o segundo grande passo ao progresso, que foi a exclusão dos 
irmãos das relações sexuais recíprocas, sendo o primeiro progresso na organização da família, 
que consistiu em excluir os pais e filhos. Esse progresso foi muito mais importante que o primeiro 
e, também, mais difícil, dada a maior igualdade nas idades dos participantes. Foi ocorrendo aos 
poucos, provavelmente começando pela exclusão dos irmãos, parte de mãe, a princípio em casos 
isolados, e depois, gradativamente, como regra geral e acabando pela proibição do matrimônio 
até entre irmãos colaterais (entre primos carnais, primos em segundo e terceiro graus).
O que significa relações sexuais sem entraves?
Significa que não existiam os limites proibitivos vigentes hoje ou numa época 
anterior para essas relações. Já vimos caírem as barreiras dos ciúmes. Se algo 
pode ser estabelecido irrefutavelmente, foi que o ciúme é um sentimento que se 
desenvolveu relativamente tarde. O mesmo acontece com a ideia de incesto. Não 
só na época primitiva irmão e irmã eram marido e mulher, como também, ainda 
hoje, em muitos povos, é lícito o comércio sexual entre pais e filhos. Bancroft (As 
raças nativas dos Estados da Costa do Pacífico na América do Norte, 1875, tomo 
1), testemunha a existência dessas relações entre os kadiakos do Estreito de 
Behring, os kadiakos das cercanias do Alasca e os tinnehs do interior da América 
do Norte inglesa; Letourneau reuniu numerosos fatos idênticos entre os índios 
chipevas, os kukus do Chile, os caribes, os karens da Indochina; e isso deixando 
de lado o que contam os antigos gregos e romanos a respeito dos partos, dos 
persas, dos citas e dos hunos, etc. Antes da invenção do incesto (porque é uma 
invenção e das mais valiosas), o comércio sexual entre pais e filhos não podia 
ser mais repugnante que entre outras pessoas de gerações diferentes, coisa que 
ocorre em nossos dias até nos países mais beatos, sem produzir grande horror 
(ENGELS, 1978, p. 36).
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Segundo Morgan, esse progresso constitui “uma magnífica ilustração de como atua o 
princípio da seleção natural”. Sem dúvida, nas tribos onde esse progresso limitou a reprodução 
consanguínea, deve ter havido um progresso mais rápido e mais completo que naquelas onde 
o matrimônio entre irmãos e irmãs continuou sendo uma regra e uma obrigação. Até o ponto 
em que se fez sentir a ação desse progresso, como demonstra a instituição da gens, nascida 
diretamente dele e que ultrapassou muito seus fins iniciais.
Uma vez proibidas as relações sexuais entre todos os irmãos e irmãs – inclusive, os 
colaterais mais distantes por linha materna, o grupo de que falamos se transforma numa gens; 
e, a partir de então, esse círculo se consolida cada vez mais por meio de instituições comuns, de 
ordem social e religiosa, que a distinguem das outras gens da mesma tribo. A gens formou a base 
da ordem social da maioria, senão da totalidade, dos povos bárbaros do mundo, e dela passamos, 
na Grécia e em Roma, sem transições, à civilização.
A Família Sindiásmica tinha o regime de matrimônio por grupos, ou talvez antes, já 
se formavam uniões por pares, de duração mais ou menos longa. O homem tinha uma mulher 
principal entre suas numerosas esposas, e era para ela o esposo principal entre todos os outros.
Essa circunstância contribuiu bastante para a confusão produzida na mente dos 
missionários, que veem, no matrimônio por grupos, ora uma comunidade promíscua das 
mulheres, ora um adultério arbitrário.
Porém, à medida que evoluíam as gens e iam-se fazendo mais numerosas as classes de 
“irmãos” e “irmãs”, entre os quais agora era impossível o casamento, a união conjugal por pares, 
baseada no costume, foi se consolidando. O impulso dado pela gens à proibição do matrimônio 
entre parentes consanguíneos levou as coisas para um grande progresso.
Assim, vemos que, entre os iroqueses e entre a maior parte dos índios da fase inferior 
da barbárie, está proibido o matrimônio entre todos os parentes reconhecidos pelo seu sistema, 
no qual há algumas centenas de parentescos diferentes. Com essa crescente complicação das 
proibições de casamento, tornaram-se cada vez mais impossíveis as uniões por grupos, que foram 
substituídas pela família sindiásmica.
Neste estágio, um homem vive com uma mulher, mas de maneira tal que a poligamia 
e a infidelidade ocasional continuam a ser um direito dos homens, embora a poligamia seja 
raramente observada por causas econômicas; ao mesmo tempo, exige-se a mais rigorosa fidelidade 
das mulheres, enquanto dure a vida em comum, sendo o adultério delas cruelmente castigado. 
O vínculo conjugal, todavia, dissolve-se com facilidade por uma ou por outra parte, e depois, 
como antes, os filhos pertencem exclusivamente à mãe. Nessa exclusão cada vez maior, que afeta 
os parentes consanguíneos do laço conjugal, a seleção natural continua a produzir seus efeitos.
Segundo Morgan (apud ENGELS, 1978), o “[...] matrimônio entre gens não consanguíneas 
engendra uma raça mais forte, tanto física como mentalmente; mesclavam-se duas tribos 
adiantadas, e os novos crânios e cérebros cresciam naturalmente até que compreendiam as 
capacidades de ambas as tribos”. As tribos que haviam adotado o regime das gens estavam 
chamadas a predominar sobre as mais atrasadas, ou a arrastá-las com seu exemplo. Portanto, a 
evolução da família nos tempos pré-históricos consiste numa redução constante do círculo em 
cujo seio prevalece a comunidade conjugal entre os sexos, círculo que originariamente abarcava 
a tribo inteira.
A exclusão progressiva, primeiro dos parentes próximos, depois dos parentes distantes 
e, por fim, até das pessoas vinculadas apenas por aliança, torna impossível na prática qualquer 
matrimônio por grupos; como último capítulo, não fica senão o casal, unido por vínculos ainda 
frágeis – essa molécula com cuja dissociação acaba o matrimônio em geral. Isso prova quão pouco 
tem a ver a origem da monogamia com o amor sexual individual, na atual acepção da palavra.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Houve o desmoronamento do direito materno, a grande derrota histórica do sexofeminino em todo o mundo, e surgiu a Família Patriarcal, caracterizada pela organização de 
certo número de indivíduos livres e não livres, em uma família submetida ao poder paterno de 
seu chefe. Essa forma de família assinala a passagem do matrimônio sindiásmico à monogamia.
Figura 2 - Família Patriarcal. Fonte: Bezerra (2019).
A Família Monogâmica nasce em decorrência da família sindiásmica, no período de 
transição entre a fase média e a fase superior da barbárie. O grande triunfo definitivo é a nascente 
civilização. Baseada no predomínio do homem, tem por finalidade expressa a de procriar filhos 
cuja paternidade seja indiscutível, porque estes na qualidade de herdeiros diretos entrarão, um 
dia, na posse dos bens de seu pai. A família monogâmica diferencia-se do matrimônio sindiásmico 
por uma solidez muito maior dos laços conjugais, que já não podem ser rompidos por vontade 
de qualquer das partes. Agora, como regra, só o homem pode rompê-los e repudiar sua mulher.
Ao homem, igualmente, se concede o direito à infidelidade conjugal, sancionado ao 
menos pelo costume (o Código de Napoleão outorga-o expressamente, desde que ele não traga a 
concubina ao domicílio conjugal), e esse direito se exerce cada vez mais amplamente, à medida 
que se processa a evolução da sociedade. Quando a mulher, por acaso, recorda as antigas práticas 
sexuais e intenta renová-las (poliandria), é castigada mais rigorosamente do que em qualquer 
outra época anterior.
Entre os gregos, encontramos, com toda a sua severidade, a nova forma de família. 
Enquanto a situação das deusas na mitologia, como assinala Marx, nos fala de um período 
anterior, em que as mulheres ocupavam uma posição mais livre e de maior consideração, nos 
tempos heroicos, já vemos a mulher humilhada pelo predomínio do homem e pela concorrência 
das escravas. Leia-se, na Odisséia, como Telêmaco interrompe sua mãe e lhe impõe silêncio.
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Em Homero, os vencedores aplacam seus apetites sexuais com as jovens capturadas, 
escolhendo os chefes para si, por turno e segundo a sua categoria, as mais formosas; e é sabido 
que toda a Ilíada gira em torno de uma disputa mantida entre Aquiles e Agamenon por causa de 
uma escrava. Junto a cada herói mais ou menos importante, Homero fala da jovem cativa que vive 
em sua tenda e dorme em seu leito.
Essas jovens eram, ainda, conduzidas ao país natal dos heróis, à casa conjugal, conforme 
Agamenon fez com Cassandra em Ésquilo. Os filhos nascidos dessas escravas recebem uma 
pequena parte da herança paterna e são considerados homens livres; assim, Teucro, que é filho 
natural de Telamon, tem direito de usar o nome de seu pai.
Quanto à mulher legítima, exige-se dela que tolere tudo isso e, por sua vez, guarde uma 
castidade e uma fidelidade conjugal rigorosa. É certo que a mulher grega da época heroica é 
mais respeitada que a do período civilizado; todavia, para o homem, não passa, afinal de contas, 
da mãe de seus filhos legítimos, seus herdeiros, aquela que governa a casa e vigia as escravas – 
escravas que ele pode transformar (e transforma) em concubinas, à sua vontade.
A existência da escravidão junto à monogamia, a presença de jovens e belas cativas que 
pertencem de corpo e alma ao homem é o que imprime desde a origem um caráter específico à 
monogamia, que é monogamia só para a mulher, e não para o homem. E, na atualidade, conserva-
se esse caráter.
Há três formas principais de matrimônio, que correspondem aos três estágios 
fundamentais da evolução humana:
Quadro 1 - Evolução da família. Fonte: Engels (1997).
São complementos do matrimônio monogâmico: o adultério e a prostituição. Entre o 
matrimônio sindiasmático e a monogamia, “[...] intercalam-se, na fase superior da barbárie, a 
sujeição aos homens das mulheres escravas e a poligamia” (ENGELS, 1978, p. 81).
Constitui-se peculiaridade do progresso manifestado nessa sucessão de formas de 
matrimônio: “Se foi tirando cada vez mais às mulheres (mas não aos homens) a liberdade 
sexual do matrimônio por grupos” (ENGELS, 1978, p. 81). O matrimônio por grupos continua 
existindo para os homens enquanto, para as mulheres, se constituía crime de graves consequências. 
“Quanto mais o heterismo antigo se modifica, em nossa época pela produção capitalista de 
mercadorias – à qual se adapta – mais se transforma em franca prostituição e mais 
desmoralizadora se torna a sua influência” (ENGELS, 1978, p. 81).
A monogamia nasceu da concentração de grandes riquezas nas mesmas mãos 
– as de um homem – e do desejo de transmitir essas riquezas, por herança, 
aos filhos deste homem, excluídos os filhos de qualquer outro. Para isso era 
necessária a monogamia da mulher, mas não a do homem; tanto assim que a 
monogamia daquela não constitui o menor empecilho à poligamia, oculta ou 
descarada deste (ENGELS, 1978, p. 82).
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Argumenta Engels (1978) que a transmissão dos patrimônios, por herança de pai para 
filho, em um mundo onde a ascendência era maternal (ou seja, sabia-se quem era a mãe, mas 
não o pai), imprime à humanidade a necessidade de se conhecer o pai. Dessa forma, surge então 
o matrimônio monogâmico para a mulher e, lentamente, vão desaparecendo as sociedades 
matriarcais, que são substituídas pelas patriarcais. Depreende-se que esse tipo de matrimônio 
surgiu devido a causas econômicas.
Portanto,
[...] quando os meios de produção passarem a ser propriedade comum, a família 
individual deixará de ser a unidade econômica da sociedade. A economia 
doméstica converter-se-á em indústria social. O trato e a educação das crianças 
tornar-se-ão assunto público; a sociedade cuidará, com o mesmo empenho, de 
todos os filhos, sejam legítimos ou naturais. Desaparecerá, assim, o temor das 
‘consequências’, que é hoje o mais importante motivo social – tanto do ponto 
de vista moral como do ponto de vista econômico – que impede um a jovem 
solteira de se entregar livremente ao homem que ama (ENGELS, 1978, p. 82-83).
Para Morgan (apud ENGELS, 1978, p. 91), há uma evolução, ou um progresso, com a 
família monogâmica:
[...] se se reconhece o fato de que a família tenha atravessado sucessivamente 
quatro formas [matrimônio por grupos, família consanguínea, família 
punaluana e família sindiásmica] e se encontra atualmente na quinta forma 
[família monogâmica], coloca- se a questão de saber se esta forma pode ser 
duradoura no futuro. A única coisa que se pode responder é que a família deve 
progredir na medida em que progrida a sociedade, que deve modificar-se na 
medida em que a sociedade se modifique; como sucedeu até agora. A família é 
o produto do sistema social e refletirá o estado de cultura desse sistema. Tendo 
a família monogâmica melhorada a partir dos começos da civilização e, de uma 
maneira muito notável, nos tempos modernos, é lícito pelo menos supor que 
seja capaz de continuar seu aperfeiçoamento até que chegue à igualdade entre 
os dois sexos. Se, num futuro remoto, a família monogâmica não mais atender 
às exigências sociais, é impossível predizer a natureza da família que a sucederá 
(ENGELS, 1978, p. 91).
Compreenda melhor o que é heterismo: na antiga Grécia, era um 
sistema de prostituição exercido pelas heteras, que tanto podiam 
ser escravas como mulheres livres, modelo teórico atribuído a 
estágios primitivos de organização social, que se caracterizaria 
pela inexistência da instituição do casamento e pela promiscuidade 
sexual entre os membros de uma mesma comunidade. Disponível 
em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/
heterismo. Acesso em: 8 jun. 2020.
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/heterismo.
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/heterismo.
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Vejamos as principais características dos tipos de famílias, conforme o Quadro 2 a seguir:
Quadro 2 - Principais características dos tipos de famílias. Fonte: Engels (1997, p. 28-91).
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Esse tipo de família (monogâmica) merece especial atenção por constituir-se em forma 
de matrimônio estritamente vinculada à propriedade privada. Assim, “[...] a evolução da família 
nos tempos pré-históricos, consiste numa redução constante do círculo em cujo seio prevalece 
a comunidade conjugal entre os sexos, círculo que originariamente abarcava a tribo inteira” 
(ENGELS, 1978, p. 49).
O Lar comunista significa
[...] predomínio da mulher na casa; tal como reconhecimento exclusivo de uma 
mãe própria, na impossibilidade de conhecer com certeza o verdadeiro pai; 
significa alto apreço pelas mulheres, isto é, pelas mães. Uma das ideias mais 
absurdas que nos transmitiu a filosofia do século XVIII é a de que na origem da 
sociedade a mulher foi escrava do homem. Entre todos os selvagens e em todas 
as tribos que se encontram nas fases inferior, média e até (em parte) superior da 
barbárie, a mulher não só é livre como, também, muito considerada (ENGELS, 
1978, p. 50-51).
Até então, vigorava o direito materno, isto é, “[...] enquanto a descendência só se contava 
por linha feminina, e segundo a primitiva lei de herança imperante na gens, os membros dessa 
mesma gens herdavam, no princípio, do seu parente gentílico falecido”. Entretanto, 
[...] os filhos de um homem falecido não pertenciam à gens daquele, mas à de 
sua mãe; ao princípio, herdavam da mãe, como os demais consanguíneos desta; 
depois, provavelmente, forma seus primeiros herdeiros, mas não podiam sê-lo 
de seu pai, porque não pertenciam à gens do mesmo, na qual deveriam ficar os 
seus bens (ENGELS, 1978, p. 59).
Dessa forma, 
[...] as riquezas, à medida que iam aumentando, davam, por um lado, ao homem 
uma posição mais importante que a da mulher na família, e, por outro 
lado, faziam com que nascesse nele a ideia de valer-se desta vantagem para 
modificar, em proveito de seus filhos, a ordem da herança estabelecida. 
Mas isso não se poderia fazer enquanto permanecesse vigente a filiação segundo 
o direito materno. Esse direito teria que ser abolido, e o foi. E isto não foi tão 
difícil quanto hoje nos parece O desmoronamento do direito materno, a grande 
derrota histórica do sexo feminino em todo o mundo. O homem apoderou-se 
também da direção da casa; a mulher viu-se degradada, convertida em servidora, 
em escrava da luxúria do homem, em simples instrumento de reprodução 
(ENGELS, 1978, p. 59, 61).
Famulus significa escravo doméstico e ‘família’ é o conjunto dos escravos pertencentes 
a um mesmo homem. “A expressão foi inventada pelos romanos para designar um novo 
organismo social, cujo chefe mantinha sob seu poder a mulher, os filhos e certo número de 
escravos, com o pátrio poder romano e o direito de vida e morte sobre todos eles” (ENGELS, 
1978, p. 61).
A monogamia não aparece na história, portanto, absolutamente, como uma 
reconciliação entre o homem e a mulher e, menos ainda, como a forma mais 
elevada de matrimônio. Pelo contrário, ela surge sob a forma de escravização de 
um sexo pelo outro, como proclamação de um conflito entre os sexos, ignorado, 
até então, na pré-história. Num velho manuscrito inédito, redigido em 1846 por 
Marx e por mim, encontro a seguinte frase: ‘A primeira divisão do trabalho é a 
que se fez entre o homem e a mulher para a procriação dos filhos’ (ENGELS, 
1978).
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Chegamos à divisa das famílias sindiásmica e monogâmica, surge a família patriarcal. 
“Com a família patriarcal, entramos no domínio da História escrita” (ENGELS, 1978, p. 62). E, 
para Marx,
A família moderna contém, em germe, não apenas a escravidão (servitus) como 
também a servidão, pois, desde o começo, está relacionada com os serviços da 
agricultura. Encerram, em miniatura, todos os antagonismos que se desenvolvem 
mais adiante, na sociedade e em seu Estado (ENGELS, 1978, p. 62).
Com efeito, “[...] a família individual moderna baseia-se na escravidão doméstica, franca 
ou dissimulada da mulher, e a sociedade moderna é uma massa cujas moléculas são as famílias 
individuais” (ENGELS, 1978, p. 80).
2. FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA E SUAS TRANSFORMAÇÕES
A ideia que temos de família na contemporaneidade não é a mesma da antiguidade, como 
acabamos de estudar. Estamos em um momento de desenvolvimento social sobre o tema, em que 
o conceito do que vem a ser família precisa ser ampliado.
O modelo familiar predominante era o patriarcal, tínhamos a figura do “chefe de família”, 
que era o líder, o centro do grupo familiar, responsável pela tomada das decisões, tido como o 
provedor, e suas decisões deveriam ser seguidas.
Além desse fato, a ideia de família era patrimonial e imperialista; prova disso estava no 
fato de que as uniões entre as pessoas não se davam por amor entre elas, mas sim pelas escolhas 
de suas famílias, no caso dos patriarcas, com o interesse de aumentar o patrimônio e o poder de 
suas famílias. Muitas vezes, os noivos não se conheciam, mas viam-se obrigados a honrar o nome 
da família e contribuir para seu fortalecimento social e econômico.
Com a evolução pela qual passamos na sociedade, os modelos familiares mudaram 
influenciados pela industrialização, urbanização, abolição da escravatura e uma nova organização 
social, que vieram com uma nova ideia de igualdade e de dignidade da pessoa humana, passando 
a ser mais democrática. Abandonou-se o modelo patriarcal, trazendo para as famílias um 
modelo igualitário, no qual todos os membros devem ter suas necessidades atendidas, buscando 
a felicidade de cada indivíduo, essencial no ambiente familiar.
Mas, conforme Oliveira (2009, p. 67),
A dificuldade está em compatibilizar a individualidade e a reciprocidade 
familiares, pois, ao abrir espaço para tal individualidade, renovam-se as 
concepções das relações familiares. O impacto desses desafios influencia o 
cotidiano dessas relações. 
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Na atualidade, temos um elemento de suma importância para a criação das famílias: as 
pessoas se unem por haver uma atração entre elas, um querer, ainda traz um traço egoísta, porém 
no melhor sentido da palavra, uma vez que se dá pelo fato de a outra pessoa lhe trazer felicidade, 
segurança, prazer e crescimento.
Figura 3 - Novos modelos de família. Fonte: Maligeri (2010).
 
Na contemporaneidade, existem vários tipos de arranjos familiares trazidos pela 
modernidade, por isso não podemos pensar apenas nas famílias patriarcais (nucleares). Com 
transformações como planejamento familiar e métodos contraceptivos, a mulher passou a ter sua 
independência financeira; enfim, tudo contribuiu para alterações dos tipos familiares. Deve-se 
concordar que a palavra família tem novos valores e significados, é importante compreender que 
é algo muito maior que apenas um conjunto de pessoas. Nesse sentido, o IBGE entende a palavra 
família como:
[...] conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica 
ou normas de convivência, residente na mesma unidade domiciliar, ou pessoa 
que mora só em uma unidade domiciliar. Entende-se por dependência doméstica 
a relação estabelecida entre a pessoa de referência e os empregados domésticos 
e agregados da família, e por normas de convivência as regras estabelecidas 
para o convívio de pessoas que moram juntas, sem estarem ligadas por laços 
de parentesco ou dependência doméstica. Consideram-se como famílias 
conviventes as constituídas de, no mínimo, duas pessoascada uma, que residam 
na mesma unidade domiciliar, domicílio particular ou unidade de habitação em 
domicílio coletivo (IBGE, 2020).
Podemos observar que as transformações ocorridas com a modernização ampliam a 
constituição familiar, que não é mais só formada por homem e mulher, pelo casamento civil e 
religioso, pois o elemento responsável pela constituição da família é subjetivo e decorrente da 
vontade dos indivíduos.
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Tais arranjos diversificados podem variar em combinações de diversas 
naturezas, seja na composição ou também nas relações familiares estabelecidas. 
A composição pode variar em uniões consensuais de parceiros separados ou 
divorciados; uniões de pessoas do mesmo sexo; uniões de pessoas com filhos 
de outros casamentos; mães sozinhas com seus filhos, sendo cada um de um pai 
diferente; pais sozinhos com seus filhos; avós com os netos; e uma infinidade 
de formas a serem definidas, colocando-nos diante de uma nova família, 
diferenciada do clássico modelo de família nuclear (OLIVEIRA, 2009, p. 68).
Ainda conforme a autora, no Brasil, as novas estruturas de parentesco colocam os 
profissionais que trabalham com família e os próprios membros da instituição familiar em busca 
de novas denominações ou de tentar compreender socialmente tais mudanças. Vejamos algumas 
dessas nomenclaturas familiares da modernidade.
• Extensa/Alargada: em um determinado lugar, moram todos ou boa parte dos membros 
da família. Nisso inclui, além do pai, da mãe e dos filhos, os avós, tios e primos, isto é, a 
família formada por três ou quatro gerações.
• Heteronormativa/Patriarcal/Nuclear: é apenas mãe, pai e filhos. Os casais sem filhos 
também se encaixam nesse tipo.
• Famílias Adotivas: são as famílias formadas por pessoas que, por diversos motivos, 
acolhem novos membros, geralmente crianças, que podem ser multiculturais ou birraciais.
• Famílias Adotivas Temporárias: são famílias (nuclear, extensa ou qualquer outra) que 
adquirem uma característica nova ao acolher um novo membro, mas temporariamente.
• Família Anaparental: Ana vem do grego e significa “falta”. Assim, a família anaparental 
é aquela em que não haverá a figura de pai ou de mãe, em que os irmãos se tornam 
responsáveis uns pelos outros. A lei vigente abrange também a formação de um agregado 
a partir de laços afetivos, como no caso de amigos, em que não há uma relação de 
parentalidade.
• Reconstruída/Composta/Mosaico/Reestruturada/Pluriparental: quando a família se 
divide após uma separação ou divórcio. A mãe casa-se novamente com outra pessoa, 
assim como o pai. O filho desse casal tem, então, madrasta, padrasto, pai, mãe e, às vezes, 
meio-irmãos.
• Parental ou Monoparental: há apenas a mãe ou apenas o pai. Isso ocorre quando há 
morte ou divórcio de um dos pais, ou a mãe tem um filho independente (mãe solo).
• Família Design: com os avanços tecnológicos e as facilidades da internet, nesse tipo de 
formação familiar, as pessoas se unem no intuito único de ter uma relação que gere filhos, 
seja de forma natural ou reprodução assistida e, posteriormente, criarão a criança como 
se fossem pais divorciados (ALVES, 2013).
• Família Unipessoal: as famílias unipessoais cumprem uma função jurídica importante 
por se tratar de pessoas que vivem sozinhas (pessoas solteiras, viúvas ou separadas). Essas 
pessoas recebem amparo legal e não podem ter suas heranças familiares penhoradas pela 
justiça.
• Homoparental: pessoas do mesmo sexo, homens ou mulheres, se casam. Podem ter 
filhos ou não.
• Comunitária/Eudemonista: há variadas pessoas dividindo uma mesma casa, sem a 
obrigatoriedade de terem laços de consanguinidade.
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• Famílias Simultâneas/Paralelas: ocorre tal espécie de família quando há, ao mesmo tempo, 
relacionamento, um casamento ou união estável com uma pessoa e outro relacionamento, 
caracterizado também pela união estável envolvendo um mesmo indivíduo. É o caso 
do marido/esposa que possui um amante; assim, para Madaleno (2011, p. 15), “[...] 
ressalvadas as uniões estáveis de pessoas casadas, mas de fato separadas, uma segunda 
relação paralela ou simultânea ao casamento ou a outra união estável é denominada 
concubinato e não configura uma união estável”, entretanto os bens adquiridos dessa 
união, bem como os filhos, devem receber respaldo legal.
• Família Inter-racial e Família Intercultural: com a imigração, há mais oportunidade 
de conhecer pessoas fora do seu grupo cultural e étnico. Dessa maneira, surgem casais 
de culturas diferentes, que terão filhos biológicos ou não e que serão educados entre 
costumes e, às vezes, idiomas distintos.
• Matrifocal: grupo familiar caracterizado pela valorização explícita e elaborada do papel 
materno, em que as relações entre mães e filhos são mais enfatizadas do que as relações 
entre pai e filho e em que a mãe tem o controle sobre os recursos econômicos e os processos 
de decisão, normalmente o pai está sempre ausente ou tem um papel secundário. Essa 
expressão, “família matrifocal”, deve-se a Raymond Thomas Smith, em The negro family 
in British Guiana, de 1956.
Em um contexto generalizado, a sociedade contemporânea é pautada em uma perspectiva 
moderna, porém, em seu interior, necessita da família, mesmo que o conceito de família seja 
volátil e esteja em constante alteração. Diante dessa realidade, podemos verificar que a família 
é uma maneira da vida privada de se expressar, lugar de intimidade, de construções individuais 
(cada qual com uma maneira única de ser e pensar) e coletivas e um espaço significativo de 
expressões de sentimentos, que, nessa modernidade, podem ser esquecidos diante da correria na 
atualidade.
Depreende-se que a expansão do conceito familiar transforma e causa pensamentos 
e ideologias diferentes, um espaço que gera relações horizontais e de crescimento de pessoas, 
discussões e preconceitos, pois é compreendida como um importante espaço para a construção e 
reconstrução de identidades e o não aceitamento à configuração do mundo atual, que é marcado 
pela multiplicidade ideológica.
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3. A RELAÇÃO DA FAMÍLIA COM O ESTADO
Figura 4 - Tipos de família. Fonte: Blog da Kika Castro (2014).
Especialistas de diversas áreas do conhecimento têm realizado constantes estudos sobre 
as relações família e Estado. Dessa forma, o surgimento do Estado novo ao surgimento da família 
moderna como lugar de afetos e espaço privado não significou apenas uma separação de esferas, 
mas também o estabelecimento de uma relação entre ambos, até nos dias de hoje conflituosa 
e contraditória. Conforme Mioto (2004, p. 45), a relação família e Estado é conflituosa desde 
o princípio, por estar menos relacionada aos indivíduos e mais à disputa do controle sobre o 
comportamento dos indivíduos.
Ainda segunda a autora, por essa razão, ela (a família) tem sido lida de duas formas 
opostas. Como uma questão de invasão progressiva e de controle do Estado sobre a vida familiar e 
individual, que tolhe a legitimidade e desorganiza os sistemas de valores radicados no interior da 
família, ou como uma questão que tem permitido uma progressiva emancipação dos indivíduos, 
pois à medida que o Estado intervém enquanto protetor, ele garante os direitos e faz oposição 
aos outros centros de poderes tradicionais (familiares, religiosos e comunitários), movidos por 
hierarquias consolidadas e uma solidariedade coativa.
Alguns autores vêm afirmando que, apesar do reconhecimento da centralidade na 
família no âmbito da vida social, têm existido uma prática e uma negação sistemática de tal 
reconhecimento, havendo mesmo uma penalização da família por parte daquelas instituições que 
deveriam promovê-la (DONATI, 1996; BARROS,1995 apud MIOTO, 2004). Ao longo da história, 
a relação estabelecida entre família e Estado foi marcada pelo encetamento do Estado como fonte 
de controle e elaboração de normas para a família e pela construção de uma contraditória parceria 
no decorrer do tempo para garantir a reprodução social. 
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No caso do Brasil, podemos observar essa contradição por meio das legislações. 
A Constituição de 1988 tem a família como base da sociedade e com especial proteção do 
Estado. Dessa forma, a distinção entre famílias capazes (estruturadas) e famílias incapazes 
(desestruturadas) pelo Estado tornou-se necessária. Na categoria das capazes (estruturadas), 
incluem-se aquelas que, via mercado, trabalho e organização interna, conseguem desempenhar 
com êxito as funções que lhes são atribuídas pela sociedade, cuidam de si e dos seus. Já na categoria 
das incapazes (desestruturadas), estariam aquelas que, não conseguindo atender às expectativas 
sociais relacionadas ao desempenho das funções atribuídas, requerem a interferência externa, a 
princípio do Estado, para a proteção dos seus membros (MIOTO, 2004).
Ainda conforme a autora, a categoria das famílias capazes ou incapazes, sãs ou doentes, 
normais ou anormais, estruturadas ou desestruturadas se encontra fortemente arraigada tanto no 
senso comum como nas propostas dos políticos e dos técnicos responsáveis pela formulação de 
políticas públicas e sociais e a organização de serviços. Como se pode dizer que as famílias são 
ou não estruturadas, tendo como pano de fundo um capitalismo desonesto, desordenado, poucos 
com muito e muitos com pouco? Sofrendo com as expressões da questão social? Pense nisso!
Conforme Mioto (2004), a hegemonia desse tipo de leitura sobre a família se faz presente 
no cotidiano dos serviços, tanto no âmbito da organização como na ação rotineira dos técnicos dos 
programas de apoio sociofamiliar. Alguns princípios podem ser identificados como norteadores 
dessa condução das ações assistenciais direcionadas às famílias: a predominância de concepções 
estereotipadas de família e papéis familiares, a prevalência de propostas residuais e a centralização 
de ações em situações-limite, e não em situações cotidianas.
Vemos historicamente, a partir do século XVIII, a efetivação do modo de produção 
capitalista, incidindo diretamente na organização da família, conforme Mioto (2008), por meio da 
separação entre a casa e a rua; a divisão entre as tarefas da mulher (casa) e do homem (trabalho); 
e a instauração de um salário individual. Ocorreu assim uma divisão de papéis: o homem foi 
posto como o “macho” que mantém a família, sendo responsável moral pela provisão familiar; e a 
mulher como responsável pelo cuidado, na busca da manutenção do corpo “são” para o trabalho 
e da primazia pela preservação das reservas familiares. No capitalismo, a família se constitui, 
então, como o espaço privado (SECCOMBE, 1997 apud MIOTO, 2008).
O Estado, neste momento histórico, não provia políticas sociais e havia hegemonia do 
ideário liberal, que indicava a regulação por parte do mercado das relações sociais. A família era 
vista como o “canal natural” de proteção social vinculado às suas possibilidades de participação 
no mercado para compra de bens e serviços necessários à provisão de suas necessidades.
O grau de valorização da família vai aumentando até chegar a ser colocada como 
instância primordial da sociedade [...]. Enfim, na formação capitalista sob a 
égide do liberalismo, a família se conforma com o espaço privado por excelência 
e como espaço privado, e deve responder pela proteção social de seus membros 
(MIOTO, 2008, p. 133).
O esgotamento do capitalismo liberal, demonstrado por meio do agravamento das 
condições objetivas de vida como reflexo da precariedade do trabalho, e consequentemente do 
aumento dos riscos dos trabalhadores e da desproteção das mulheres e crianças, demonstrou os 
limites do capitalismo liberal de garantir, por meio apenas da família e do mercado, o bem-estar 
coletivo (MIOTO, 2008).
As manifestações da questão social se agravaram, determinando mudanças na intervenção 
do Estado e nas formas de proteção, passando a se constituir como principal sujeito de regulação 
das relações entre economia e demandas sociais (MIOTO, 2008).
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Principalmente na Europa, após a II Guerra Mundial, que havia sido destruída pelo conflito, 
se consolidou a necessidade de reorganização do processo de intervenção do Estado, dando 
origem ao Welfare State, no qual os modelos de intervenção apresentam três tipos de inserção 
da família: a) Família do provedor masculino: transferência de benefício ao pai trabalhador, 
que é o responsável em transferir aos demais membros; b) Desfamilização: abrandamento da 
responsabilidade familiar, devendo o Estado prover políticas que atendam às necessidades das 
famílias; c) Familismo: família deve assumir a responsabilidade pelo bem-estar de seus membros 
(MIOTO, 2008).
Com a crise do Welfare State, houve uma redescoberta da família, como instância de 
proteção e como possibilidade de recomposição de uma sociedade solidária. Neste contexto 
histórico, o neoliberalismo é tomado como ideário que preconiza a diminuição dos gastos sociais, 
redução dos serviços sociais públicos, com a eliminação de programas e redução de benefícios, 
o mercado como mecanismo dos recursos econômicos e da satisfação das necessidades dos 
indivíduos; além disso, ressalta a competição e o individualismo, desregulamenta e flexibiliza 
as relações trabalhistas e, por fim, rechaça os direitos sociais e responsabiliza a sociedade pela 
satisfação desses direitos (LAURELL, 1995).
Nessa direção, o Estado transfere para a família a responsabilidade de seu próprio sustento, 
sem, contudo, lhe oferecer meios para essa sobrevivência. A família sofre escancaradamente os 
efeitos da política neoliberal.
O neoliberalismo reduz as funções sociais do Estado. Laurell (1995) postula que o 
mercado “[...] é o melhor mecanismo dos recursos econômicos e da satisfação das necessidades 
dos indivíduos” (LAURELL, 1995 p. 161). Este, por sua vez, passa a intervir junto às camadas 
menos favorecidas da população, para que façam uso dos serviços privados, despolitiza as relações 
sociais e os direitos historicamente conquistados, valorizando o “assistencialismo” e o “favor”.
O Estado, com o processo de redução, retomou a família como sujeito fundamental na 
provisão de bem-estar. Pereira (2007) aponta que, em contraposição ao Welfare State ou Estado 
de Bem-estar social, o que passou a ser visto foi um pluralismo de bem-estar, havendo uma 
quebra da centralidade do Estado, em favor do mercado e do terceiro setor.
A proteção social passou a ser definida a partir de três eixos: o do Estado como o recurso 
de poder; o do Mercado como recurso do capital; e o da sociedade e da rede familiar como 
recurso da solidariedade (ABRAHAMSON, 1992 apud PEREIRA, 2007).
Devido ao ideário neoliberal e às transformações societárias, há uma chamada à família 
para que se responsabilize em prover as condições de sua vida, ocorrendo simultaneamente uma 
diminuição da responsabilidade do Estado sob a proteção social dos membros da sociedade.
Segundo Mioto (2007), o familismo é a base das políticas sociais brasileiras. Na tradição 
familista, existem dois “canais naturais” para satisfação das necessidades dos indivíduos: o 
mercado – pela inserção no trabalho; e a família. Dessa forma, o Estado só interfere de maneira 
temporária, quando um desses canais “falha”.
No Brasil, essa tendência foi abalada pelo processo de rearticulação da sociedade em 
torno do fim da ditadura, a partir da estruturação dos movimentos sociais e do desdobramento 
da concepção de cidadania com a ampliação de direitos, respaldados pela Constituição de1988 – 
CF/1988. Com o advento da nova CF/1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no 
início da década de 1990, o Brasil recupera e reforça o olhar sobre a família.
Porém, há uma dicotomia, pois é a partir dessa mesma década que ocorre no país a entrada 
do neoliberalismo. As circunstâncias no país são de redução dos direitos sociais e trabalhistas, 
desemprego estrutural, precarização do trabalho, sucateamento da educação e saúde, desmonte 
da previdência pública, manipulação dos espaços de controle social e minimização dos direitos 
garantidos na Constituição Federal de 1988. Há a consolidação das disputas entre diferentes 
projetos políticos.
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Você já pensou que, na contemporaneidade, temos família em rede? O parentesco, 
principalmente para famílias pobres, supera laços de sangue e transforma vizinhos, 
ou amigos próximos em parentes. Eles possibilitaram trocas de dinheiro, de apoio 
e de afeto. Um grande exemplo são grupos familiares chefiados por mulheres, o 
que é possibilitado pela mobilização cotidiana de uma rede familiar que ultrapassa 
os limites das casas, é a unidade que permite a sobrevivência e que organiza o 
mundo das pessoas (MIOTO; CAMPOS; CARLOTO, 2015, p. 129).
Para mais informações sobre a origem das famílias, 
dentro da perspectiva da Antropologia, leia:
ENGELS, F. A origem da família, da propriedade 
privada e do Estado. São Paulo: Boitempo, 2019.
Fonte: Amazon (2020).
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Uma visão crítica interessante do conceito 
de família pode ser vista no filme 
A excêntrica família de Antônia. 
Disponível em:
h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m /
watch?v=PEaiNm92JEU. 
Acesso em: 11 abr. 2020.
Para compreendermos que não existe um único modelo 
de família, por meio de um drama forte e envolvente, 
assista ao filme indicado. Ele apresenta uma perspectiva 
feminista e utópica de independência individual, 
especialmente da mulher. Narra a passagem da vida de 
ao menos três gerações femininas: Antonia; Danielle, sua 
filha; Thérèse, filha de Danielle. Gorris se esforça para 
entregar uma narrativa interessante, mas que não passa 
de uma crítica barata às tradições e ao machismo do 
pós-guerra.
Acredito que, depois de ter assistido a esse filme, você, aluno, deve ter compreendido 
os preconceitos colocados pela sociedade sobre as famílias e suas mudanças ao 
longo do tempo.
 Fonte: Pena Júnior (2020).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a), chegamos ao fim da nossa Unidade 1 e do tema Conceito de 
família. Pudemos, nesta unidade, ter acesso às informações sobre o surgimento da família, sua 
sistematização e organização.
Você conheceu alguns exemplos de como eram os matrimônios por grupos e foi 
convidado(a) a compreender de forma mais profunda os modelos de famílias desde o seu início: 
consanguínea, punaluana, sindiásmica e monogâmica, chegando ao modelo patriarcal.
Pôde observar que não existe mais um modelo de família ideal, que houve transformações 
importantes na estrutura familiar, em sua forma, devido às influências, primeiramente da 
propriedade privada, depois do Estado, do capitalismo e do neoliberalismo, que atua até os dias 
de hoje em nossa sociedade.
Dessa forma, teve a oportunidade de aprender temas que fazem parte do cotidiano das 
pessoas e das sociedades, algo que coloca você, querido(a) aluno(a), à frente de responsabilidades 
com um novo olhar para a família, que nem sempre é do conhecimento de todos, e isso é um dos 
diferenciais deste curso para você.
Esperamos que, além de conhecimento, esse tema traga alegria a você, por saber que, no 
mundo atual, geralmente marcado apenas pela busca do lucro e da vantagem competitiva, pode 
existir uma família que ama, que estrutura e que acolhe! Faça da sua família aquela que você 
construiu ou ainda vai construir, independentemente da forma que ela seja, a melhor família.
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SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................27
1. MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR DO SUAS ......................................................................................................28
2. A FAMÍLIA E A REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE .......................................................................................................32
3. FAMÍLIA E A QUESTÃO HABITACIONAL NO BRASIL ...........................................................................................38
4. O CONTEXTO EDUCACIONAL E A FAMÍLIA ..........................................................................................................47
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................57
AS POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO DO PROFISSIONAL 
DO SERVIÇO SOCIAL NO TRABALHO COM FAMÍLIAS EM 
DIFERENTES POLÍTICAS E ESPAÇOS DE ATUAÇÃO
PROF.A SUZIE KEILLA VIANA DA SILVA 
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
SERVIÇO SOCIAL E ATENÇÃO À FAMÍLIA
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INTRODUÇÃO
Olá, prezado(a) aluno(a).
Dando continuidade aos estudos da disciplina Serviço Social e Atenção à Família, vamos 
conhecer as interfaces entre a política de Assistência Social (Matricialidade), Saúde, Habitação, 
Educação e o Serviço Social, seus desdobramentos e entraves para a consolidação da atuação 
profissional do Assistente Social.
Na política de assistência social, veremos a matricialidade sociofamiliar, como esta se 
tornou importante para a efetivação das políticas públicas para se trabalhar o todo, deixando o 
olhar fragmentado dos sujeitos.
Neste contexto, o direito à saúde foi conquistado a partir de um processo de intensas 
reivindicações da classe trabalhadora e de movimentos sociais, os quais conseguiram alcançar seu 
objetivo, a partir da Constituição Federal de 1988, com a regulamentação do tripé da Seguridade 
Social, composto pelas políticas de Saúde, Assistência Social e Previdência Social.
Estudaremos a Política Nacional de Habitação e sua relação com o Serviço Social. Pautado 
em uma revisão histórico-social do desenvolvimento da Política de Habitação no Brasil, o leitor 
terá condições de conhecer os avanços, os desafios e os fatores econômicos, políticos e sociais que 
influenciaram no processo de construção da atual política, bem como suas bases legais. 
Neste sentido, veremos o papel do Assistente Social na área da educação, suas competências, 
habilidades e a contribuição que o trabalho interdisciplinar pode oferecer para a referida área – 
tema central de discussão nesta unidade.
Diante deste contexto, é de suma importância compreender a transversalidade entre 
essas políticas e a interlocução com o Serviço Social, enquanto profissão voltada para viabilizar 
a garantia de direitos fundamentais para o pleno desenvolvimento da pessoa humana, uma vez 
que, de acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil, “todos são iguais perante 
a lei”.
Essa frase, que se refere ao primeiro artigo da legislação suprema de nosso país, nos faz 
refletir sobre como as políticas sociais, em especial as públicas e seus respectivos serviços, estão 
sendo prestadas aos cidadãos brasileiros.
Então vamos descobrir e interpretar as relações que permeiam o cenário das políticas 
públicas brasileiras e como está inserido o Serviço Social nessas áreas, as quais podem ser 
consideradas como palcos das expressões da questão social.
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1. MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR DO SUAS
Figura 1 - Representação da Matricialidade. Fonte: Pixabay (2018).
Desde a Constituição Federal de 1988, a Assistência Social se fundamenta em um novo 
paradigma, o do direito social, e passa a ser definida como política pública. Dessa forma, é uma 
política de Estado que independe de governos específicos.
Posteriormente, as legislações que a regulamentaram, como a Lei Orgânica da Assistência 
social – LOAS (BRASIL, 1993), Política Nacional de Assistência Social – PNAS (BRASIL, 
2004), Norma Operacional Básica – NOB/SUAS (BRASIL, 2005) e Norma Operacional Básica 
de Recursos Humanos do SUAS – NOB-RH/SUAS (BRASIL, 2006), materializam essas novas 
dimensões e promovem reordenamentos institucionais. A Política Nacional de Assistência Social 
explicita que os serviços de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial, voltados para a 
atenção às famílias, deverão ser prestados em unidades próprias dos municípios, por meio do 
Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e do Centro de Referência Especializado da 
Assistência Social (CREAS).
As instituições não governamentais (Terceiro Setor) de Assistência Social, que integram 
a rede socioassistencial dos municípios, também poderão firmar parcerias para executar esses 
serviços. Dessa maneira, possibilita-se a normatização dos padrões nos serviços, qualidade 
do atendimento, indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços da rede 
assistencial, seguindo eixos estruturantes: Matricialidade Sociofamiliar; Descentralização 
Político-Administrativa e Territorialização; Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade 
Civil; Financiamento; Controle Social; Desafio da participação popular; Recursos Humanos; 
Informação, Monitoramento e Avaliação (BRASIL, 2004, p. 13-14).
Por meio do eixo estruturante da Matricialidade Sociofamiliar, o atendimento na Política 
de Assistência Social passa a ter centralidade na família e em seus membros, pois se considera que 
nela se encontram todos os segmentos.
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Segundo a Política Nacional de Assistência Social, a família é definida como:
[...] espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias, 
provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada 
e protegida. Essa correta percepção é condizente com a tradução da família na 
condição de sujeito de direitos, conforme estabelece a Constituição Federal de 
1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistência 
Social e o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2004, p. 41).
A NOB/2005 definiu o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) como 
[...] um sistema público não contributivo, descentralizado e participativo que 
tem por função a gestão do conteúdo específico da assistência social no campo 
da proteção social brasileira [...]. E traz a família como o núcleo social básico de 
acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social (BRASIL, 
2005, p. 17).
No SUAS, a centralidade traz, em sua base, a concepção de que todas as outras necessidades 
e públicos da assistência social estão, de alguma maneira, vinculados à família, quer no momento 
de utilização dos programas, projetos e serviços da Assistência, quer no início do ciclo que gera a 
necessidade de o indivíduo vir a ser alvo da atenção da política.
Ao defender a centralidade, a NOB/2005 aponta o seguinte conceito de família: “[...] 
Núcleo afetivo, vinculada por laços consanguíneos, de aliança ou afinidade, onde os vínculos 
circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e de 
gênero” (BRASIL, 2005, p. 17).
A matricialidade sociofamiliar passa a ter centralidade no SUAS devido ao intenso 
processo de penalização das famílias, que estão cada vez mais vulneráveis devido às transformações 
societárias e à forte pressão que os processos de exclusão sociocultural geram sobre as famílias, 
acentuando suas fragilidades e contradições. Por isso, faz-se primordial sua centralidade no 
âmbito das ações da Política de Assistência Social, como espaço privilegiado e insubstituível de 
proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa 
também ser cuidada e protegida (BRASIL, 2004).
Dessa forma, reconhece-se a importância da família para seus membros, sendo necessário 
que esta seja incluída como centro da Política de Assistência Social, articulada com as outras 
políticas públicas (saúde, educação, habitação, cultura, esporte, lazer, entre outras), tão essenciais 
para que o cidadão possa alcançar a promoção social.
A família, independentemente dos formatos que assume, é mediadora das relações 
entre o sujeito e a coletividade. É um espaço contraditório, marcado pela luta cotidiana para 
a sobrevivência. Nesse sentido, deve-se considerar que o sistema imposto na sociedade não dá 
condições humanas para uma vida cidadã, pois a sociedade está em movimento, é dinâmica; sendo 
assim, a cada dia, solicitam-se novas formas de sobrevivência para as famílias e seus membros, 
tanto no mundo do trabalho assalariado como nos setores informais (VANZETTO, 2005).
Segundo Mioto (2000), o lugar da família nas políticas sociais se faz necessário pelo 
fato de que à sua situação de pobreza está diretamente ligada a má distribuição de renda, pois 
o modo de produção capitalista não garante pleno emprego, ficando as famílias em situação de 
vulnerabilidade, havendo a necessidade da inclusão social por meio das políticas sociais ofertadas 
pelo Estado.
O grau de vulnerabilidade no Brasil vem aumentando, devido às desigualdades 
econômicas, próprias de sua estrutura social, onde cada vez mais se nota a exigência para que as 
famílias desenvolvam formas estratégicas para sua sobrevivência.
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No bojo das transformações sociais, a família não deve ser entendida somente como uma 
casa onde residem pai, mãe e filhos; compreende-se que existem novas concepções de família 
e, considerando essa diversidade, a família pode ser definida “[...] como um núcleo de pessoas 
que convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que se 
acham unidas, ou não, por laços consanguíneos” (MIOTO, 1997, p. 120). Ou ainda, como destaca 
a autora, “[...] estamos diante de uma família quando encontramos um espaço constituído de 
pessoas que se empenhem umas com as outras, de modo contínuo, estável e não-casual [...] 
quando subsiste um empenho real entre as diversas gerações” (MIOTO, 2004, p. 14-15).
Dessa forma, não deve haver distinção no atendimento no SUAS para as famílias; 
independentemente de sua forma, o importante é incluir os membros do grupo familiar em 
programas, projetos, serviços e benefícios, que possam ter suas principais necessidades atendidas 
e que saiam da situação de exclusão.
Os usuários dos programas, projetos e serviços da assistência social têm necessidades 
em diferentes áreas da vida social (ser biopsicossocial), bem como nas diferentes faixas etárias, 
abrangendo, portanto, toda a família e não apenas um ou parte de seus membros. Portanto, 
reconhecer e defender a centralidade como princípio aponta para o trabalho junto à família com 
a possibilidade de atuação integral e não fragmentada.
Entretanto, a Política de Assistência Social busca romper com a tradição de atendimentos 
fragmentados, pontuais, dispersos e descontínuos, voltados para situações extremas, assumindo 
uma dimensão preventiva, em nível de atenção básica, além daquela dirigida para situações de 
média e alta complexidade, quando o risco ou violação de direitos já ocorreu. A matricialidade 
sociofamiliar vem como antídoto à fragmentação dos atendimentos, sujeitos à proteção de uma 
rede de serviços de suporte à família. O fortalecimentode possibilidades de convívio, educação, 
proteção social na própria família não restringe as responsabilidades públicas de proteção social 
para com os indivíduos e a sociedade (BRASIL, 2005, p. 17).
Dessa forma, o modo como a família é incorporada à política pública reflete na organização 
dos serviços e na proposição e organização do trabalho com as famílias no cotidiano dos serviços, 
programas e projetos.
Houve um grande avanço nessa estruturação e, da forma como está apresentada na Norma 
Operacional Básica, fica evidente a necessidade de o Estado dar conta de assegurar ao núcleo 
familiar as condições básicas para que este assuma seu papel exposto na Constituição Federal 
de 1988 e em outras legislações, como, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(BRASIL, 1990) e o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003), visto que tais legislações deixam evidentes 
as responsabilidades da família perante a infância e juventude e a terceira idade.
A família deve ser apoiada e ter acesso a condições para responder ao seu papel no 
sustento, na guarda e na educação de suas crianças e adolescentes, bem como na proteção de seus 
idosos e portadores de deficiência (BRASIL, 2005, p. 17).
De acordo com Ferrari (1994, p. 8 apud ROSA, 2006, p. 5), vale lembrar que família pode 
ser considerada aquela que propicia o bem-estar de seus componentes, ela desempenha um papel 
decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos 
e humanitários e onde se aprofundam laços de solidariedade, é também em seu interior que 
se constroem as marcas entre as gerações e são observados os valores culturais. A família pode 
representar uma instituição fundamental na vida social, uma rede de relações, ou ainda, “família é 
gente com quem se conta”, de acordo com a definição da Organização das Nações Unidas (ONU).
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Segundo Teixeira (2010), a PNAS/2004 e o SUAS/2005, ao adotarem o princípio da 
matricialidade sociofamiliar, não conseguem superar a tendência familista da política social 
brasileira, da assistência social em especial, pois, de um lado, o termo significa que a família é a 
matriz para concepção e implementação dos programas, projetos e benefícios, que em hipótese 
pode romper a fragmentação do atendimento; por outro, toma a família como instância primeira 
ou núcleo básico da proteção social aos seus membros, devendo ser apoiada para exercer em seu 
próprio domínio interno as funções de proteção social. Portanto, continua-se a responsabilizar a 
família, em especial às mulheres, pelos cuidados e outras tarefas de reprodução social (TEIXEIRA, 
2010, p. 5-6).
Depreende-se que a família pode oferecer condições para o desenvolvimento da identidade 
de seus membros, construindo as suas histórias cotidianamente, em processos constantes de 
transformações, que por vezes são permeadas de contradições, conflitos e tensões.
Ademais, vê-se que o contexto familiar não é um lugar somente de consensos. No mundo 
globalizado, tem-se dados estatísticos que demonstram que é na família onde ocorre o maior 
número de violência contra as crianças, os jovens, as mulheres e os idosos. Portanto, como toda e 
qualquer instituição social, deve ser vista como um lugar com muitas contradições, e ter ciência 
disso é fundamental para o desenvolvimento de políticas sociais.
Destaca Esping-Andersen (1999) que o “familismo” ou tendência familista da 
política social não pode ser confundido com pró-família, mas uma perspectiva de 
maior responsabilização da família pelo bem-estar de seus membros, incentivado 
pelas políticas públicas, seja pelo seu subdesenvolvimento em serviços de apoio 
à família, por benefícios poucos generosos ou pelo princípio da subsidiariedade 
do Estado, recaindo sobre a família a responsabilidade pelos serviços de proteção 
social.
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2. A FAMÍLIA E A REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE
Figura 2 - Representação de família saudável. Fonte: Cursos Abrafordes (2020).
Na contemporaneidade, a ideia de que as condições de saúde-doença dos membros da 
família e a família como unidade influenciam-se mutuamente já é consolidada. Atuar em saúde 
tendo como objeto do cuidado a família é uma forma de reversão do modelo hegemônico voltado 
à doença, que fragmenta o indivíduo e separa-o de seu contexto e de seus valores socioculturais 
(SILVA; SILVA; BOUSSO, 2011).
A Estratégia Saúde da Família (ESF) foi implantada para reorganizar o Sistema Único de 
Saúde, e nela cada equipe é levada a conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, 
busca promover a qualidade de vida da população brasileira e intervir nos fatores que colocam a 
saúde em risco, como falta de atividade física, má alimentação, uso de tabaco, dentre outros. Com 
atenção integral, equânime e contínua, a ESF se fortalece como a porta de entrada do Sistema 
Único de Saúde (SUS).
A proximidade da equipe de saúde com o usuário permite que se conheça a pessoa, a 
família e a vizinhança. Isso garante uma maior adesão do usuário aos tratamentos e às intervenções 
propostas pela equipe de saúde. O resultado é mais problemas de saúde resolvidos na Atenção 
Básica, sem a necessidade de intervenção de média e alta complexidade em uma Unidade de 
Pronto Atendimento (UPA) 24h ou hospital.
A Equipe de Saúde da Família está ligada à Unidade Básica de Saúde (UBS) local. Esse 
nível de atenção resolve 80% dos problemas de saúde da população. Entretanto, se a pessoa 
precisar de um cuidado mais avançado, a ESF faz esse encaminhamento.
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Atividades básicas de uma equipe de Saúde da Família, segundo o Ministério da Saúde 
(BRASIL, 2017):
• Conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis e identificar os problemas 
de saúde mais comuns e situações de risco aos quais a população está exposta;
• Executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os procedimentos de 
vigilância à saúde e de vigilância epidemiológica, nos diversos ciclos da vida;
• Garantir a continuidade do tratamento, pela adequada referência do caso;
• Prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda, 
buscando contatos com indivíduos sadios ou doentes, visando a promover a saúde por 
meio da educação sanitária;
• Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes 
na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas;
• Discutir, de forma permanente, junto à equipe e à comunidade, o conceito de cidadania, 
enfatizando os direitos de saúde e as bases legais que os legitimam;
• Incentivar a formação e/ou participação ativa nos conselhos locais de saúde e no Conselho 
Municipal de Saúde.
Cada equipe de Saúde da Família deve ser responsável por, no máximo, 4.000 pessoas de 
uma determinada área, que passam a ter corresponsabilidade no cuidado com a saúde.
Portanto, as abordagens familiares serão necessárias no contexto da saúde, pois visam ao 
atendimento para a escuta ativa/qualificada da família usuária, com problematização e mediação 
de conflitos, e buscam a sensibilização, a negociação para elaboração de plano de cuidados e a 
realização de encaminhamentos conforme as particularidades identificadas, se necessário, para 
outras redes assistenciais da saúde e/ou para a rede intersetorial (SOARES et al., 2017).
Dependendo das demandas apresentadas no território das equipes da ESF, frequentemente 
o assistente social realiza visitas domiciliares compartilhadas com profissionais das equipes de 
saúde ou de outros aparatos da rede, configurando intervenções multiprofissionais (SOARES et 
al., 2017).
Ainda é importante destacar que os atendimentos familiares não devem possuir uma 
perspectiva repressora

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