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Proliferação e diferenciação celulares são processos complexos controlados por um sistema integrado que mantém a população celular dentro de limites fisiológicos. Alterações no processo regulatório resultam em distúrbios ora da proliferação, ora da diferenciação, ora das duas ao mesmo tempo. As lesões resultantes são muito numerosas e têm enorme importância, por sua alta prevalência e gravidade; as neoplasias malignas, em particular, constituem grande problema de saúde-doença Quando uma célula recebe estímulo acima do normal, aumentando a síntese de seus constituintes e o seu volume, tem-se hipertrofia. Se sofre agressão que resulta em diminuição da nutrição, do metabolismo e da síntese necessária para renovação de suas estruturas, a célula fica com volume menor, fenômeno que recebe o nome de hipotrofia. Aumento da taxa de divisão celular acompanhado de diferenciação normal recebe o nome de hiperplasia. Diminuição da taxa de proliferação celular é chamada hipoplasia. Quando as células de um tecido modificam seu estado de diferenciação normal, tem-se metaplasia (do grego meta = variação, mudança). Quando há proliferação celular e redução ou perda de diferenciação, tem-se a displasia. A proliferação celular autônoma, em geral acompanhada de perda ou redução da diferenciação, é chamada neoplasia. Agenesia, significa uma anomalia congênita na qual um órgão ou parte dele não se forma. O termo distrofia é empregado para designar várias doenças degenerativas sistêmicas, genéticas ou não, como as distrofias musculares. Ectopia ou heteropia, é a presença de um tecido normal em localização anormal. Hamartias são crescimentos focais, excessivos, de determinado tecido de um órgão. Quando formam tumores, estes são chamados hamartomas. Coristia consiste em erros locais do desenvolvimento em que um tecido normal de um órgão cresce em sítios nos quais normalmente não é encontrado. Consiste em redução quantitativa dos componentes estruturais e das funções celulares, resultando em diminuição do volume das células e dos órgãos atingidos. Aumento da degradação de proteínas celulares (em lisossomos e pelo sistema ubiquitina-proteassomos) é o principal mecanismo de hipotrofia. A Hipotrofia pode ser fisiológica ou patológica. A hipotrofia fisiológica é a que ocorre na senilidade, quando todos os órgãos e sistemas do organismo reduzem as suas atividades metabólicas. Como afeta todo o indivíduo, não há prejuízo funcional importante. A hipotrofia patológica resulta de: (1) inanição; (2) desuso; (3) compressão; (4) obstrução vascular; (5) substâncias tóxicas que bloqueiam sistemas enzimáticos e a produção de energia pelas células; (6) hormônios; (7) inervação; (8) inflamações crônicas. As consequências da hipotrofia dependem da sua intensidade, do setor atingido e do contexto em que ela acontece. Hipertrofia é o aumento dos constituintes estruturais e das funções celulares, o que resulta em aumento volumétrico das células e dos órgãos afetados. Para que ocorra hipertrofia, algumas exigências devem ser atendidas: (a) o fornecimento de O2 e de nutrientes deve suprir o aumento de exigência das células; (b) as células devem ter suas organelas e sistemas enzimáticos íntegros; células lesadas (degeneradas) não conseguem hipertrofiar-se como as células normais; (c) as células cuja atividade depende de estimulação nervosa só podem hipertrofiar se a inervação estiver preservada. Miocárdio desnervado, por exemplo, não se hipertrofia ou se hipertrofia pouco. A hipertrofia, que pode ser fisiológica ou patológica, é uma forma de adaptação de células e de órgãos frente a maior exigência de trabalho. A hipertrofia fisiológica ocorre em certos órgãos e em determinadas fases da vida como fenômenos programados (p. ex., hipertrofia da musculatura uterina na gravidez). A hipertrofia patológica não é programada e surge por estímulos variados: (1) hipertrofia do miocárdio; (2) hipertrofia da musculatura esquelética; (3) hipertrofia da musculatura lisa da parede de órgãos ocos; (4) hipertrofia de neurônios; (5) hipertrofia de hepatócitos. Tecidos e órgãos hipertróficos tornam-se aumentados de volume e de peso, por aumento volumétrico de suas células. A arquitetura básica do órgão mantém-se inalterada, mas aumenta o fluxo de sangue e de linfa. Como a hipertrofia constitui resposta a sobrecarga de trabalho, ao atingirem certo volume as células tendem a dividir-se ou induzem células-tronco a originar outras células. A hipertrofia é também reversível; cessado o estímulo, a célula volta ao normal. Hipoplasia é a diminuição da população celular de um tecido, de um órgão ou de parte do corpo. A região afetada é menor e menos pesada que o normal, mas conserva o padrão arquitetural básico. Hipoplasia pode ser fisiológica ou patológica. As hipoplasias fisiológicas mais comuns são a involução do timo a partir da puberdade e a de gônadas no climatério. Na senilidade, ao lado de hipotrofia também existe hipoplasia de órgãos, por aumento de apoptose. Entre as hipoplasias patológicas, as de maior interesse são as da medula óssea provocadas por agentes tóxicos ou por infecções. Disso resulta anemia aplásica (mais corretamente, hipoplásica). Outra hipoplasia importante é de órgãos linfoides na AIDS ou em consequência de destruição de linfócitos por corticoides. As hipoplasias patológicas podem ser reversíveis, exceto as anomalias congênitas. Tal como ocorre na hipotrofia, as consequências da hipoplasia dependem de sua localização e sua intensidade. Muitas vezes hipotrofia (redução volumétrica de células) e hipoplasia (redução numérica de células) andam juntas. Consiste no aumento do número de células de um órgão ou de parte dele, por aumento da proliferação e/ou por diminuição na apoptose. Hiperplasia só acontece em órgãos que contêm células com capacidade replicativa (células lábeis). Como na hipertrofia, o órgão afetado fica aumentado de volume e de peso (por causa do maior número de células). Para haver hiperplasia, são necessárias as mesmas condições descritas para hipertrofia. Tal como na hipertrofia, a hiperplasia é desencadeada por agentes que estimulam funções celulares, sendo também uma forma adaptativa das células a sobrecarga de trabalho. Muitas vezes um órgão apresenta concomitantemente hipertrofia e hiperplasia, pois uma mesma causa pode desencadear os dois processos. A capacidade de hiperplasia tem limite. As células hiperplásicas não se multiplicam indefinidamente e conservam os mecanismos de controle da divisão celular. Hiperplasia é também reversível: se a causa é eliminada, a população celular volta ao nível normal. Essas propriedades são fundamentais para diferenciar hiperplasia de uma neoplasia. A hiperplasia pode ser também fisiológica ou patológica. Os principais tipos da primeira são hiperplasias compensadoras ou secundárias a estimulação hormonal, como no útero durante a gravidez ou nas mamas na puberdade ou na lactação. Exemplo clássico de hiperplasia compensadora é a que acontece no rim após nefrectomia ou lesões graves do outro rim. Na hiperplasia compensadora, geralmente coexiste hipertrofia celular. A causa mais conhecida de hiperplasia patológica é hiperestimulação hormonal. Em mulheres, aumento de estrógenos resulta em hiperplasia das mamas ou do endométrio, que tem grande interesse prático por aumentar o risco de câncer nesses órgãos. Hiperplasias inflamatórias são também hiperplasias patológicas. Por se acompanharem de aumento da reprodução celular, muitas hiperplasias patológicas são consideradas lesões potencialmente neoplásicas, já que nelas o risco de surgir um tumor é maior do que em tecidos normais. Metaplasia significa mudança deum tipo de tecido adulto (epitelial ou mesenquimal) em outro da mesma linhagem: um tipo de epitélio transforma-se em outro tipo epitelial; um epitélio, porém, não se modifica em tecido mesenquimal. Metaplasia resulta da inativação de alguns genes (cuja expressão define a diferenciação do tecido que sofre metaplasia) e desrepressão de outros (que condicionam o novo tipo de diferenciação). Em alguns processos de reparo e regeneração, células epiteliais podem diferenciar-se em fibroblastos (transdiferenciação). Os tipos mais frequentes de metaplasia são: (1) transformação de epitélio estratificado pavimentoso não ceratinizado em epitélio ceratinizado; (2) epitélio pseudo- estratificado ciliado em epitélio estratificado pavimentoso, ceratinizado ou não; (3) epitélio mucossecretor em epitélio estratificado pavimentoso, com ou sem ceratinização; (4) epitélio glandular seroso em epitélio mucíparo; 5) tecido conjuntivo em tecido cartilaginoso ou ósseo; (6) tecido cartilaginoso em tecido ósseo. Metaplasia é também um processo adaptativo que surge em resposta a várias agressões, e, como regra geral, o tecido metaplásico é mais resistente a agressões. Os exemplos de metaplasia mais comuns são: (1) agressões mecânicas repetidas; (2) irritação por calor prolongado; (3) irritação química persistente; (4) inflamações crônicas. Metaplasia é reversível. Obs.: Um tipo particular de metaplasia é a leucoplasia, que é um termo de significado predominantemente clínico e usado para indicar lesões que se apresentam como placas ou manchas brancacentas localizadas em mucosas. Leucoplasia corresponde a metaplasia de um epitélio escamoso não ceratinizado em ceratinizado contendo várias camadas de ceratina. Displasia é empregada para denominar condições patológicas muito diferentes, e, por isso mesmo, é um termo confuso. Displasia é uma condição adquirida caracterizada por alterações da proliferação e da diferenciação celulares acompanhadas de redução ou perda de diferenciação das células afetadas. Muitas vezes, displasias estão associadas a metaplasia ou se originam nela. As mais importantes são displasias de mucosas, como do colo uterino, de brônquios e gástrica, pois muitas vezes precedem os cânceres que se formam nesses locais. Todavia, nem sempre uma displasia progride para câncer, já que pode estacionar ou até mesmo regredir. A atipia mais importante em displasias é a cariomegalia, por alterações no conteúdo de DNA. Displasia, portanto, é um processo mais complexo e com mais alterações na expressão de genes que regulam a proliferação e a diferenciação das células, razão pela qual muitas displasias são consideradas lesões pré-cancerosas. Quanto mais grave a displasia, maior o risco de sua evolução para um câncer.
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