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1 TBL 4 MBE ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO Ao final deste capítulo, você deverá: • Ser capaz de identificar e avaliar criticamente os ensaios randomizados controlados. • Conhecer as etapas envolvidas na realização de um ensaio randomizado controlado. • Compreender as principais diferenças entre os vários desenhos de estudo dos tipos de ensaio randomizado controlado utilizados na prática clínica. • Ser capaz de interpretar os resultados de um estudo randomizado controlado. • Saber interpretar e calcular os “números necessários para tratar” para benefício ou dano. • Compreender as fontes comuns de tendência implicadas em ensaios randomizados controlados. • Compreender os termos de confusão e de causalidade em relação aos ensaios randomizados controlados. • Ser capaz de listar as vantagens e desvantagens dos ensaios randomizados controlados. • Saber como um ensaio randomizado controlado é reportado. POR QUE ESCOLHER UM PROJETO DE ESTUDO INTERVENCIONAL? • Os estudos de intervenção testam se a intervenção, de algum modo, leva a uma variação mensurável nos resultados. • A intervenção normalmente envolve um tratamento ou uma prática em particular. • Como destacado por Hennekens (1987), os estudos intervencionistas testam as intervenções preventivas ou terapêuticas, incluindo: • agentes profiláticos • agentes terapêuticos • procedimentos cirúrgicos • agentes diagnósticos • estratégias dos serviços de saúde. • Ensaios terapêuticos são realizados em indivíduos com uma doença, em particular, para avaliar se um determinado procedimento ou um agente tem um efeito sobre um resultado específico, como o alívio sintomático ou a redução da mortalidade. • Ensaios preventivos são realizados para investigar se um determinado procedimento ou agente reduz o risco de desenvolver uma doença em particular. Os indivíduos (ou comunidades inteiras), considerados no início do ensaio, devem estar livres desta doença, mas considerados de risco. • Independentemente de o ensaio basear-se em ensaios terapêuticos ou em investigação preventiva: • a intervenção que está sendo testada é localizada (nem sempre aleatoriamente) pelo investigador em um grupo de participantes (grupo-teste) • os participantes do estudo são acompanhados, prospectivamente, para comparar o grupo-teste com o grupo-controle (tratamento padrão- ouro, placebo ou sem tratamento). • Vamos começar por discutir um dos desenhos mais comumente utilizados de estudos intervencionistas, o ensaio randomizado controlado paralelo (ERC). ENSAIO RANDOMIZADO CONTROLADO PARALELO Desenho do estudo • Um ERC é um estudo de intervenção durante o qual os participantes são distribuídos aleatoriamente em relação a diferentes opções de tratamento. • É este processo de randomização que faz dos ensaios randomizados controlados o método mais rigoroso para a determinação de uma relação de causa e efeito entre uma intervenção e um resultado, colocando assim o ERC no topo da hierarquia de provas (Fig. 1.5). 2 TBL 4 MBE • Eles só são superados quando os resultados de diversos ERC são agrupados em uma metanálise, como parte de uma revisão sistemática (Cap. 4). • Um ERC “paralelo” envolve indivíduos escolhidos aleatoriamente de uma amostra da população para diferentes intervenções (normalmente duas, a intervenção e o “braço”-controle (p. ex., o tratamento padrão-ouro ou placebo), mas pode haver mais de dois braços). Esses grupos, em seguida, são acompanhados prospectivamente para avaliar a eficácia da intervenção em comparação com o grupo-controle. Este desenho de estudo paralelo está ilustrado na Fig. 6.1. • Os passos essenciais envolvidos em um ERC paralelo são: 1. Formular a hipótese (Cap. 1). Por exemplo,suponhamos que o risco de mortalidade após dois anos, nos pacientes que receberam o tratamento A, é 30% menor do que o risco de mortalidade dos pacientes que receberam o tratamento padrão. 2. Definir os métodos de recrutamento, incluindo os critérios de inclusão e de exclusão. 3. Definir a intervenção (discutido anteriormente). 4. Definir o grupo de comparação. 5. Determinar o tamanho da amostra. 6. Especificar as medidas dos resultados que serão utilizados para avaliar a eficácia da intervenção. 7. Obter a aprovação ética. 8. Obter o consentimento previamente informado dos participantes do estudo a serem randomizados para intervenção ou controle. 9. Gerar e dissimular uma sequência de localização para assegurar a distribuição aleatória. 10. Indicar se os avaliadores e/ou participantes do estudo têm qualquer conhecimento da localização do tratamento (cegante). 11. Realizar uma análise por intenção do tratamento. Critérios de inclusão e de exclusão: • Deve haver uma declaração clara que destaque quais os indivíduos selecionados para participar do ERC. • Alguns indivíduos devem ser excluídos, se for muito arriscado (contraindicado) oferecer uma nova intervenção ou se recusarem o tratamento convencional (padrão-ouro). • Alguns pesquisadores restringem a seleção: • se eles sentirem que a intervenção terá um efeito diferente em distintos grupos de pessoas. Portanto, para garantir a validade interna dos resultados, os pacientes com múltiplas condições de comorbidades são, muitas vezes, excluídos. • Concentrando-nos em pacientes com maior taxa de eventos, promovemos: 3 TBL 4 MBE • redução do tamanho da amostra (por meio do aumento do poder do estudo) • encurtamento do período de acompanhamento necessário. • O estabelecimento de critérios rigorosos de inclusão ou de exclusão limita a generalização e, portanto, a validade externa do ERC. Se os critérios de inclusão ou exclusão forem demasiadamente restritivos, os resultados do estudo só podem ser aplicados a um grupo selecionado de pacientes. No entanto, esses estudos fornecem dados que são frequentemente utilizados para informar sobre a justificativa da intervenção para todos os pacientes. As orientações resultantes podem, por conseguinte, oferecer uma abordagem simplista, potencialmente inadequada para utilizar em uma intervenção na prática clínica. • Os membros da população podem ser excluídos se eles têm determinadas condições de comorbidades ou características demográficas especais (raça, idade, sexo etc.). Por exemplo, ensaios sobre o tratamento da hipertensão foram, por décadas, limitados a pacientes com menos de 80 anos de idade. Não havia, portanto, qualquer evidência sobre as bases da decisão sobre o tratamento da hipertensão nos pacientes mais velhos. Como resultado, o mito de que a hipertensão em idosos não necessitava de tratamento persistiu e custou a vida de muitos pacientes mais velhos! Excluindo os pacientes com condições de comorbidades: A questão da exclusão de pacientes com comorbidades, como aqueles com problemas cardíacos, pulmonares ou doenças renais, é complexa. Eles têm mais probabilidade de morrer de, ou de se tornar doente com, condições sem relação com a intervenção a ser testada e, por conseguinte, enfraquecendo o poder do teste para detectar um benefício real a partir da intervenção. Nunca tendo sido testada em pacientes com comorbidades (muitas vezes pacientes idosos), a intervenção pode atuar de forma imprevisível nesses pacientes quando utilizada na prática clínica. DICAS E SUGESTÕES Os grupos de pacientes geralmente sub-representados nos ensaios incluem: • mulheres grávidas • crianças • indivíduos com comorbidades • idosos • indivíduos com doença mental, incluindo a demência. A escolha do comparador • Uma característica importante de um ERC é que ele deve ser comparativo. • Depois de definir a intervenção, o próximo passo é escolher o comparador. • Os grupos de intervenção e de comparação são conhecidos como os “braços” do ensaio. • Pode haver mais de um grupo de comparação, por exemplo, comparando a intervençãoao padrão-ouro de tratamento (melhor tratamento) e a um placebo. • O comparador escolhido (conhecido como controle) irá influenciar a forma como interpretamos a evidência sobre a intervenção do ensaio. • Se o controle escolhido for um tratamento inerte (placebo), a intervenção poderá mostrar um resultado mais favorável (i.e., a importância da nova intervenção pode ser exagerada) do que se o controle tiver sido outro tratamento ativo, como o padrão-ouro. O uso de placebos ou não utilizar qualquer tipo de tratamento são conhecidos como controles negativos. O uso do tratamento padrão-ouro é conhecido como um controle positivo. • Conforme salienta a Declaração de Helsinque, inciso 32, comparar a intervenção ativa com um placebo quando existe um tratamento ativo seria antiético: Os benefícios, riscos, encargos e a eficácia de uma nova intervenção devem ser testados comparativamente com as melhores intervenções atuais comprovadas, exceto nos seguintes circunstâncias: 4 TBL 4 MBE • O uso do placebo, ou de nenhum tratamento, é aceitável em estudos nos quais nenhuma intervenção atual comprovada existe; ou • Sempre que, por razões metodológicas convincentes e cientificamente válidas, a utilização do placebo é necessária para determinar a eficácia ou a segurança de uma intervenção e os pacientes que recebem o placebo ou nenhum tratamento não estarão sujeitos a qualquer risco de danos sérios ou irreversíveis. DICAS E SUGESTÕES Um placebo é um tratamento que dá uma sensação parecida e, até mesmo, tem o mesmo sabor da nova droga intervencionista que está sendo testada, mas não contém ingredientes ativos de qualquer natureza. O tamanho da amostra • O ERC deve ter tópicos suficientes para detectar a menor diferença no tamanho do efeito entre os dois braços estudados que são clinicamente importantes. Este efeito do tamanho deve ser informado por ensaio clínico, não pelos efeitos dos tamanhos observados em estudos anteriores. • Uma amostra maior será necessária se a diferença clinicamente significativa no tamanho do efeito for pequena. Em outras palavras, são necessários mais dados para distinguir um efeito pequeno do tratamento de um erro da amostragem aleatória. • Além do tamanho do efeito, o tamanho da amostra depende: • do poder do estudo (muitas vezes fixados em 80% ou 90%) • do nível indicado de significância estatística (muitas vezes P = 0,05) • do desvio-padrão dos dados de cada grupo. • Por favor, consulte a seção “Poder estatístico”, no Capítulo 3, para uma discussão sobre a forma de calcular o tamanho da amostra a fim de realizar um estudo comparativo. • Se o tamanho da amostra não tiver sido informado em um artigo de pesquisa ou se o tamanho da amostra calculada não tiver sido obtido, o estudo poderá ter sido muito pequeno para detectar uma diferença clinicamente significativa, no tamanho do efeito, entre os dois grupos. A medida do resultado • O resultado é o que é medido em todos os indivíduos após eles terem sido tratados com a intervenção ou com o controle. • O resultado medido, como parte do ensaio, deve oferecer ao investigador uma indicação da eficácia da intervenção (e do controle). • Vários aspectos do resultado devem ser considerados para avaliar adequadamente a eficácia do tratamento: • O aspecto da doença: As taxas de mortalidade ou de sobrevivência, os testes de laboratório, as complicações, os grandes eventos, os efeitos colaterais etc. • O aspecto do paciente: A qualidade de vida relacionada à saúde, os sintomas, as atividades da vida diária etc. • O aspecto econômico: O serviço utilizado (p. ex., duração da estadia ou número de visitas na clínica médica) ou as perturbações sociais (p. ex., o retorno ao trabalho). • O resultado medido deve ser: • precisamente definido; isso reduz ou evita um erro de classificação • mensurável • reprodutível • confiável • relevante, tanto do ponto de vista de um profissional de saúde quanto do ponto de vista do paciente. • É importante especificar como e em que momento esses resultados devem ser medidos. • Embora muitas medidas de resultados possam ser avaliadas em um único ensaio, é importante definir um desfecho primário variável, que: • seja o resultado de maior importância • tenha maior influência sobre as conclusões do ensaio • informe os cálculos do tamanho da amostra. • Os dados sobre os resultados secundários são usados para avaliar quaisquer efeitos adicionais causados pela intervenção. • Embora o tamanho da amostra possa ser suficientemente grande para determinar um efeito do tratamento, com base no resultado primário, ele https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-3.xhtml 5 TBL 4 MBE pode ser demasiadamente pequeno para detectar uma diferença clinicamente importante nos resultados secundários. Questões éticas • Todas as pesquisas devem receber a aprovação da comissão de ética em pesquisa antes de serem realizadas. • Considerando-se que os investigadores são “interventores” na vida das pessoas, o ERC levanta uma série de questões éticas importantes, incluindo: • equilíbrio clínico • consentimento informado. Equilíbrio clínico: • Os profissionais de saúde que tratam os pacientes devem ter suficientes dúvidas sobre a eficácia relativa dos tratamentos comparados. • Não deve haver qualquer evidência de que a nova intervenção seja melhor, pior ou a mesma que: • qualquer um dos tratamentos atualmente utilizados na prática clínica ou • o placebo. • Como destacado anteriormente neste capítulo, se um tratamento eficaz estiver disponível, a nova intervenção deverá ser comparada em relação a ela e não em relação a um placebo. • Se esses critérios forem preenchidos, o ensaio terá “equilíbrio clínico”. DICAS E SUGESTÕES Há um equilíbrio clínico se houver alguma chance igual de benefícios, de danos ou da ausência de efeitos, independentemente de para qual braço de tratamento um participante do estudo esteja sendo randomizado. Consentimento informado • O consentimento informado deve ser obtido de todos os pacientes recrutados para um ERC. • Dois passos fundamentais devem ser considerados para garantir que um indivíduo dê consentimento informado e válido para participar de um ensaio: • divulgação de informações • capacidade do indivíduo. • A divulgação exige que o investigador forneça uma quantidade adequada de informações de modo que ele ou ela possa tomar uma decisão autônoma sobre a sua participação no estudo. • O pesquisador deve usar uma linguagem leiga para comunicar os detalhes do estudo aos sujeitos selecionados. • De acordo com a Declaração de Helsinque, artigo 24: Cada participante em potencial deve ser adequadamente informado dos objetivos, métodos, fontes de financiamento, quaisquer possíveis conflitos de interesse, afiliações institucionais do pesquisador, benefícios antecipados e riscos em potencial do estudo e do desconforto vinculado aos procedimentos e qualquer outro aspecto relevante do estudo. • O próximo passo é assegurar que o paciente tenha a capacidade de tomar uma decisão sobre a sua participação no ensaio. • O paciente em potencial deve compreender a informação fornecida, pesar os riscos e benefícios de fazer parte do ensaio e, em seguida, comunicar a sua decisão ao pesquisador. • O consentimento deve ser voluntário; isto é, a decisão tomada não deve estar sujeita à pressão externa, como coerção ou manipulação. • Idealmente, o consentimento deve ser confirmado por escrito; no entanto, se isso não for possível, é importante que o consentimento não escrito seja formalmente documentado e testemunhado. • Geralmente, há um “período de reflexão” para fornecer aos indivíduos um tempo suficiente para mudar de opinião se desejarem. • Querendo ou não participar do ensaio, o futuro acesso do indivíduo aosserviços de saúde ou ao tratamento não deve ser afetado. E se a intervenção for percebida pelos participantes do estudo como melhor e mais desejável do que o controle? • Isso pode acontecer se a intervenção for um programa completo dos cuidados, enquanto o controle é o tratamento usual. Por exemplo, em 2009, um ERC avaliou a eficácia da terapia de exercícios supervisionados, em comparação com cuidados habituais, em pacientes 6 TBL 4 MBE com síndrome da dor femoropatelar. As medidas do resultado incluíram a avaliação do escore da dor, o status funcional e a recuperação do paciente. O grupo de intervenção recebeu um programa de exercício padronizado de seis semanas e ao grupo-controle eram atribuídos cuidados habituais, o que comprometeu a abordagem “espere e veja” de repouso durante os períodos de dor. Em ensaios similares não é possível mascarar a intervenção; isto é, os participantes do estudo são capazes de dizer em qual braço do estudo foram situados aleatoriamente. • Em uma tentativa de evitar que os participantes abandonem o ensaio do estudo, se eles estiverem situados no grupo-controle, alguns investigadores decidem, com antecedência, oferecer uma nova intervenção para todos os indivíduos situados aleatoriamente no grupo- controle, após a conclusão do ensaio, assumindo que a intervenção prova ter um efeito benéfico. Isso deve ser levado em conta quando as finanças do ensaio estão sendo consideradas. Randomização • Cada participante do estudo tem a mesma probabilidade de ser situado em um grupo particular de tratamento. Este processo é conhecido como distribuição aleatória, que gera a essência do ERC. • A randomização assegura que as características do paciente que podem afetar o resultado são distribuídas uniformemente entre os grupos. Com isso em mente, desde que o ensaio seja razoavelmente grande, qualquer diferença observada entre os braços do estudo é devida, somente, a diferenças no tratamento, e não aos efeitos dos fatores de confusão (conhecidos ou desconhecidos) ou às tendências de seleção (discutido mais adiante). Em outras palavras, grandes ensaios clínicos randomizados e bem conduzidos têm validade interna. Métodos de randomização • Existem quatro métodos principais usados para randomizar os pacientes para os diferentes braços do estudo: 1. Randomização simples. 2. Randomização em bloco. 3. Randomização estratificada. 4. Minimização. Randomização simples • Números aleatórios podem ser gerados por meio de um programa de computador: • Quando um paciente entra no ensaio, o programa de computador fornece um código de atribuição que se refere a um tratamento em particular. • Uma abordagem alternativa é produzir uma lista gerada pelo computador de atribuições aleatórias sequenciais para os diferentes grupos de tratamento. Randomização em bloco • Considerando-se que pode demorar muitos meses antes que um número suficiente de indivíduos entre em um ensaio, a randomização em bloco é usada para assegurar que o número de participantes, atribuídos a cada braço de tratamento, seja muito semelhante em qualquer fase, durante o processo de recrutamento. Um software de randomização computacional pode ser programado para assegurar que cada “bloco” de pacientes (por exemplo, a cada cem) contenha um número igual atribuído a cada braço do estudo. Este método é comumente usado em ensaios menores. Randomização estratificada • A randomização estratificada é usada para assegurar que fatores basais importantes de confusão sejam mais uniformemente distribuídos entre os braços de tratamento, em vez de deixá-los ao acaso. • Os fatores de confusão em relação à estratificação são, geralmente, aqueles que representam fatores importantes de prognóstico da doença específica que você está investigando. Por exemplo, em um estudo sobre as mulheres com câncer de mama, pode ser importante dispor de um número semelhante de mulheres na pré e pós-menopausa em cada grupo de tratamento. Antes da randomização, os participantes seriam separados em dois grupos diferentes (estratos), de acordo com a relação com a menopausa. Números iguais dos participantes seriam, então, posicionados aleatoriamente para cada grupo de tratamento dentro dos estratos. Para garantir a existência de um número igual de participantes em cada braço do tratamento, este método de definição do tratamento, 7 TBL 4 MBE dentro de cada estrato, pode se basear no método de randomização em bloco (discutido anteriormente). Minimização • Assim como a randomização estratificada, a minimização pode ser usada para equilibrar os números dos fatores de prognóstico em cada braço de tratamento. • Na minimização, ao primeiro participante é atribuído um tratamento ao acaso. Cada participante subsequente é vinculado ao braço de intervenção que conduziria a um melhor equilíbrio entre os grupos na variável (fator prognóstico) de interesse. Sequência de disposição sigilosa • A segunda parte da randomização é assegurar que a sequência de alocação aleatória seja sigilosa. Isso envolve certificar-se de que os pacientes e os investigadores que inscreveram os pacientes não puderam antever a designação do grupo de tratamento. Se esse processo de atribuição não for adequadamente oculto, existe uma tendência potencial de seleção e de confusão (discutido mais adiante). • Exemplos de ocultação adequada incluem: • randomização central em um local remoto, a partir da localização do ensaio (geralmente o padrão-ouro) • uso de envelopes sequencialmente numerados, opacos e lacrados (no entanto, esta abordagem é passível de adulteração) • codificação e acondicionamento de drogas em uma farmácia independente em um ensaio de drogas. DICAS E SUGESTÕES Os pacientes nem sempre são dispostos aleatoriamente, em iguais proporções, para os diferentes grupos de tratamento. Por exemplo, um investigador pode escolher um método de randomização para assegurar que 60% dos participantes do estudo recebam a intervenção, enquanto 40% recebem o tratamento habitual. Esta ainda é uma disposição aleatória, já que cada participante do estudo terá a mesma probabilidade de 60% de ser posicionado para a intervenção. Os investigadores podem desejar obter informações adicionais sobre a nova intervenção se informações suficientes já estiverem disponíveis em relação à eficácia do tratamento usual. DICAS E SUGESTÕES Utilizar ocultação é diferente de cegar; enquanto a sequência de alocação sempre pode ser escondida NO MOMENTO DO RECRUTAMENTO dos voluntários de um ERC, a viabilidade de cegar depende de intervenções particulares a serem investigadas. Portanto, enquanto todas as intervenções são tecnicamente ocultáveis, nem todas elas são capazes de cegar (estudo cego)! DICAS E SUGESTÕES Se a randomização tiver sido bem-sucedida, os dois braços do tratamento dos grupos deverão ser semelhantes. Os investigadores podem avaliar essa questão medindo e comparando várias características da linha de base, como idade, sexo e gravidade da doença, entre os dois grupos. As grandes diferenças nas características da linha de base podem ser devidas: • ao fato de a distribuição aleatória não ser, de fato, aleatória, devido a problemas com a geração ou a dissimulação da disposição sequencial • à variação ao acaso, especialmente se o tamanho da amostra for pequeno. Cegueira • A cegueira refere-se a pacientes e investigadores (incluindo aqueles envolvidos no recrutamento e na avaliação dos resultados) que não têm conhecimento prévio da alocação do tratamento. • Tradicionalmente, ECR cegos foram classificados como “simples-cego”, “duplo-cego” ou “triplo-cego”. Contudo, devido à inconsistência na definição desses termos e à falta de clareza nas revistas, é melhor especificar quem exatamente estava cego e como. • Se a intervenção envolve uma droga ativa,é possível que tanto o voluntário quanto o investigador estejam cegos para a alocação do tratamento, se o grupo de comparação recebe um placebo inativo, que simula e tem o sabor exatamente igual ao da droga ativa. • Os ERC também podem usar um placebo ativo que imita os efeitos colaterais comuns do medicamento em estudo. Por exemplo, em um 8 TBL 4 MBE estudo para avaliar os efeitos da morfina e da gabapentina (analgésicos) na dor de origem neuropática, o lorazepam foi escolhido como um placebo, uma vez que ele imita os efeitos colaterais dos analgésicos (tontura e sonolência). • É importante notar que a cegueira pode não ser possível se o ERC envolve: • uma tecnologia, por exemplo, cirurgia versus quimioterapia • um programa de cuidados, por exemplo, fisioterapia versus medicação. • Nesses estudos, conhecidos como ensaios abertos, a randomização ainda deve ser usada e o analista do resultado ainda deve ser cego (se possível) em relação a qual tratamento o participante recebeu. CONFUSÃO, CAUSALIDADE E TENDÊNCIA Confusão • A confusão ocorre quando a exposição de interesse é não apenas associada ao risco de doença, mas, também, associada a uma terceira variável que fornece uma explicação alternativa para qualquer associação medida entre a exposição e a doença (consulte o Cap. 13 para uma discussão aprofundada sobre confusão). • Como discutido anteriormente, o foco da disposição aleatória é assegurar que os grupos de tratamento sejam semelhantes em composição, com relação aos fatores de prognóstico, demografia ou qualquer outro fator. Em outras palavras, randomizar os participantes do ensaio reduz a confusão entre os grupos de tratamento. Portanto, quaisquer diferenças nos resultados se devem a diferenças reais no tratamento. • A confusão seria um problema se, por exemplo, o sexo masculino estivesse relacionado a um fator prognóstico pobre para uma determinada doença e a distribuição de sexos não fosse igual entre os grupos de tratamento que investigam essa doença. Causalidade • Os ERC são considerados como o mais rigoroso de todos os métodos para determinar se existe uma relação causa–efeito entre uma intervenção e o resultado. • Como a exposição é atribuída no início do estudo, a relação temporal entre a exposição e o resultado é clara. • Para uma discussão mais aprofundada sobre a causalidade, por favor, consulte os critérios de Bradford-Hill, discutidos no Capítulo 5. Tendência • A fiabilidade dos resultados de um ERC também depende da extensão pela qual as fontes potenciais de tendência têm sido evitadas. Para uma introdução ao erro sistemático e à tendência, por favor, consulte a seção “tendência” no Capítulo 7. O erro sistemático pode ser dividido em tendência de seleção e tendência de medida (Fig.6.2). • Como geralmente há mais interesse em mostrar que uma intervenção funciona do que mostrar que não há qualquer efeito benéfico, a tendência no ERC tende a levar a um exagero na importância ou na eficácia de uma nova intervenção. Fig. 6.2 Estudo de erro em ensaios randomizados controlados. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-13.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-13.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-5.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-7.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-2 9 TBL 4 MBE Tendência de seleção • A tendência de seleção ocorre quando a associação entre uma intervenção e o resultado é diferente para aqueles que completaram o estudo, em comparação com aqueles que estão na população-alvo. A tendência de seleção pode existir quando os procedimentos para a seleção dos participantes ou os fatores que influenciam a participação dos indivíduos afetam o resultado do estudo. Os principais tipos de tendências de seleção que podem ocorrer no ERC incluem: • Tendências associadas à randomização • Tendência de geração de sequência aleatória • Alocação de tendência de intervenção. • Tendência durante a implementação do estudo • Tendência de contaminação • Tendência de perda do acompanhamento. Tendência associada à randomização: tendência de geração de sequência aleatória e tendência de alocação da intervenção • Se a sequência de randomização não é verdadeiramente aleatória (tendência de geração de sequência aleatória), existe um potencial para a tendência de seleção. • Mesmo que a sequência de randomização seja verdadeiramente aleatória, a tendência de seleção ainda poderá ser um problema se a alocação não for ocultada no momento do recrutamento (alocação de tendência de intervenção): • O investigador pode recrutar pacientes para a intervenção com base no seu prognóstico. • Um paciente pode decidir tomar parte no ensaio somente se for destinado a um grupo de tratamento e não a outro. • Isso levará a diferenças sistemáticas entre os participantes nos diferentes grupos de tratamento. Portanto, diferenças no resultado podem ser explicadas pelas diferenças preexistentes entre os grupos e não devido às diferenças que existem entre os tratamentos. • Não há evidência empírica que confirme que os efeitos das novas intervenções podem ser exagerados se um ERC apresentar uma falha na ocultação da alocação. Um estudo mostrou que o tamanho do efeito da intervenção pode, em média, ser exagerado em até 40%. Tendência durante a implementação do estudo: tendência de contaminação • A contaminação pode ser um problema se houver aplicação não intencional (ou intencional) da intervenção no grupo-controle. Alternativamente, pode haver falha acidental (ou intencional) na atribuição aleatória da intervenção aos participantes do estudo. • O efeito da intervenção tende em direção ao nulo. • A tendência de contaminação ocorre, mais frequentemente, em comunidade do ERC por causa das relações que existem entre os membros que residem em diferentes comunidades e devido à interferência dos meios de comunicação ou de outros profissionais de saúde. • A randomização do grupo (ou seja, em ensaios randomizados em cluster) reduz a probabilidade de tendência de contaminação. Tendência durante a implementação do estudo: tendência de perda do acompanhamento • Atrito refere-se à perda dos voluntários, durante o curso de um ensaio; ou seja, estes voluntários deixam de ser acompanhados. • Perda de tendência de acompanhamento (ou tendência de atrito) refere- se a diferenças sistemáticas entre os grupos de tratamento, em termos do número de indivíduos perdidos ou a diferenças nas características entre aqueles que não aderiram ao protocolo de estudo e aqueles que permaneceram no estudo. • Atrito aplica-se aos indivíduos: • excluídos após o processo de alocação, por exemplo, se eles, na verdade, não satisfazem os critérios de seleção • que não aderem ao curso do tratamento (independentemente de as avaliações dos resultados ainda estarem em curso). Se o paciente souber em qual dos tratamentos foi alocado, isso poderá afetar sua decisão sobre a suspensão do tratamento ou a sua conformidade • que não irão concordar com as medidas tomadas dos resultados (independentemente de eles terem aderido ao ciclo de tratamento) • que foram perdidos no acompanhamento por qualquer motivo, por exemplo, eles se mudaram para fora da área ou morreram quando estavam fora da área e a sua morte foi relatada aos investigadores. 10 TBL 4 MBE • É importante considerar não apenas que os indivíduos foram perdidos em relação ao acompanhamento, mas também quantos. • Como mencionado anteriormente, é possível que os indivíduos perdidos em relação ao acompanhamento tenham características diferentes daqueles que aderiram ao protocolo do ensaio.• A confiabilidade dos resultados está, portanto, em causa se esses dois parâmetros (a razão para a perda do acompanhamento e o número de indivíduos afetados) não forem comparáveis entre os dois grupos de tratamento. Por exemplo, os participantes podem desistir do ensaio devido aos efeitos colaterais causados pela nova intervenção. A exclusão desses participantes da análise pode resultar em uma superestimação da eficácia da intervenção, especialmente quando a proporção de pessoas que abandonaram o estudo variar entre os grupos de tratamento (provocando, assim, uma tendência de atrito). Em uma tentativa para minimizar o grau de tendência de atrito, é normalmente realizada uma intenção de análise de tratamento (ITT) (discutida mais adiante). DICAS E SUGESTÕES Uma técnica utilizada para avaliar a probabilidade do impacto do atrito (perda do acompanhamento) é calcular a porcentagem de participantes afetados. Se o atrito afetar: • < 5% dos participantes do estudo, a tendência será mínima. • > 20%, então a tendência é suscetível de ser considerável. O impacto potencial da perda de acompanhamento pode ser avaliado por meio da realização de uma análise de sensibilidade “melhor caso, pior caso” (discutido mais adiante). Tendência de medidas A tendência de medida ocorre quando as informações coletadas para as variáveis de exposição e/ou de resultado são imprecisas. Este tipo de tendência pode ser dividido em tendência de má classificação randômica ou não randômica. Tendência de má classificação randômica A tendência de má classificação randômica (também conhecida como tendência de má classificação não diferencial) pode ocorrer quando a má classificação é a mesmo entre os grupos comparados. Por exemplo, o resultado é igualmente mal classificado em ambos os braços de tratamento. Os grupos de tratamento, portanto, parecem mais semelhantes do que realmente são, levando a uma subestimação (diluição) do efeito verdadeiro da intervenção sobre o resultado da doença. A má classificação randômica é discutida, em detalhes, no Capítulo 7. Tendência de erro de classificação não randômica A tendência de erro de classificação não randômica (também conhecida como tendência de má classificação diferencial) ocorre somente quando o erro de classificação é diferente nos grupos de tratamento a serem comparados. Pode levar a um efeito da intervenção sobre o resultado da doença, tendendo em qualquer direção. Os principais tipos de tendências de má classificação não randômicas que podem ocorrer no ERC incluem: • Tendência de desempenho • Tendência de acompanhamento • Tendência de polarização • Tendência de suspeita diagnóstica • Tendência de memória • Tendência de expectativa do participante • Tendência do entrevistador • Tendência de expectativa do observador • Tendência de apreensão. TENDÊNCIA DE DESEMPENHO • A tendência de desempenho pode estar presente se os investigadores não tiverem sido mantidos cegos em relação à distribuição do tratamento. • A tendência de desempenho é um tipo de erro não aleatório de medida de classificação. • Refere-se a diferenças sistemáticas entre os dois grupos de tratamento no atendimento que é prestado, mais do que entre os diferentes tratamentos. • Se o investigador souber qual o braço de tratamento que foi atribuído ao paciente, isto poderá criar tendências nos resultados, intencionalmente ou não. Dependendo da alocação do tratamento, o investigador poderá: https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-7.xhtml 11 TBL 4 MBE • administrar outras intervenções eficazes (cointervenções) • realizar diferentes investigações • prestar aconselhamento adicional. Este tipo de tendência é conhecido como tendência de acompanhamento. • No entanto, como dito anteriormente, manter o investigador cego nem sempre é possível! • É importante refletir sobre o tamanho provável e a direção da tendência causada pela falta de uma cegueira suficiente. Estudos têm mostrado que o efeito da intervenção do tamanho pode apresentar um exagero de até 17%. TENDÊNCIA DE DETECÇÃO • A tendência de detecção refere-se a diferenças sistemáticas entre os grupos na forma como os resultados foram medidos. • É um tipo de tendência de medição de erro não aleatório de classificação. • Similar ao conceito por trás da tendência de desempenho, a falha na cegueira dos investigadores, na avaliação do resultado pode levar à variação na forma como o resultado é medido entre os grupos. Este é especialmente o caso se os resultados medidos forem subjetivos. Em outras palavras, o conhecimento do status da exposição inicial do indivíduo a uma suposta causa pode ter uma influência sobre a intensidade (e possivelmente o resultado) do processo diagnóstico. Este tipo de tendência de detecção é conhecido como tendência de suspeita diagnóstica. • Além de garantir que os avaliadores dos resultados sejam mantidos cegos para a alocação do tratamento (e outros importantes fatores de confusão), métodos válidos e confiáveis devem ser utilizados para determinar, com precisão, os resultados definidos em todos os indivíduos. • É importante que um ERC tenha uma extensão adequada de acompanhamento para identificar o resultado de interesse. Por exemplo, em relação aos resultados que ocorrem tardiamente na sequência de uma exposição, um ERC com um período relativamente curto de acompanhamento irá fornecer uma estimativa imprecisa do efeito, o que pode conduzir à tendência de detecção. TENDÊNCIA DE MEMÓRIA • Se o indivíduo souber qual o tratamento no qual foi alocado, isso poderá afetar a sua decisão sobre suas crenças sobre a eficácia do tratamento. Por exemplo, os indivíduos que conscientemente receberam um novo tratamento para dor crônica esperam que ela tenha um efeito positivo sobre os níveis da dor. Eles são, portanto, mais propensos a perceber que houve uma redução da dor do que se eles fossem intencionalmente associados ao tratamento habitual. Este tipo de tendência, conhecida como tendência da expectativa do participante (um tipo de tendência de memória), pode ser evitado se os indivíduos forem mantidos cegos em relação à sua distribuição do tratamento. TENDÊNCIA DO ENTREVISTADOR • Por favor, consulte o Capítulo 7, em estudos de coorte, para uma discussão sobre a tendência do entrevistador, que pode ser um problema ao questionar os indivíduos sobre o seu estado de doença. INTERPRETANDO OS RESULTADOS • Após a randomização, os indivíduos são acompanhados até verificar se existe uma associação entre a intervenção e o resultado. • Como os ERC são prospectivos, é possível estimar um número de medidas de resultados, incluindo: • Razão de chance (ou odds ratio): A relação entre a taxa de eventos no grupo de intervenção e no grupo-controle (discutida no Cap. 7, taxa de risco, e Cap. 8, razão de chance). • Diferença de risco: A diferença entre os grupos de intervenção e de controle, expressa como uma taxa (Cap. 7). • Taxa de eventos de intervenção: A incidência do evento no braço de intervenção. O evento pode ser cura, morte, efeito colateral etc. • Taxa de eventos no controle: A incidência do evento no braço de controle. • Número necessário para tratar (NNT): discutido mais adiante. • Os tipos de métodos estatísticos utilizados em ensaios clínicos randomizados dependerão das características dos dados (Cap. 15). https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-7.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-7.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-8.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-7.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-15.xhtml 12 TBL 4 MBE • Independentemente dométodo estatístico utilizado, devem ser consideradas as seguintes questões quando se analisa um ERC: • Análise interina • Ajuste dos fatores de confusão • Análise de intenção de tratamento • Análise sensitiva • Análise de subgrupo • Números necessários para tratar benefícios e danos. Análise interina • Os investigadores podem desejar realizar alguma análise intercalar pré- planejada para avaliar se o ERC deve ser interrompido precocemente. Por exemplo, um ERC pode ser interrompido se uma intervenção precoce produz um efeito que é maior do que o benefício ou dano esperado. Ajuste para os fatores de confusão • Se uma abordagem de randomização simples for usada em um ERC pequeno, os fatores prognósticos importantes (que são medidos na linha de base, no início do ensaio) poderão ser distribuídos desigualmente nos grupos de intervenção e de controle. Se este for o caso, é possível ajustar matematicamente os resultados do estudo, considerando esses fatores de confusão que estão fortemente relacionados com o resultado, sendo distribuídos de forma desigual entre os braços de tratamento. • Por favor, consulte o Capítulo 15 para uma discussão sobre os métodos estatísticos usados para ajustar a relação exposição–resultado dos efeitos de um ou mais fatores de confusão. Análise de intenção de tratamento • A análise da ITT compara os resultados baseados no braço de tratamento original no qual cada participante foi randomizado, independentemente de violações ao protocolo. Em outras palavras, os pacientes são analisados nos grupos de tratamento para os quais foram distribuídos aleatoriamente e não sobre a base na qual o curso do tratamento para o qual foi alocado foi concluído. • Como destacado anteriormente, as razões para essas violações de protocolo podem incluir: • indivíduos com perda do acompanhamento • inelegibilidade, ou seja, indivíduos que não deveriam ter sido incluídos, inicialmente, no estudo! • não adesão ao tratamento alocado; por exemplo, um individuo que abandona a intervenção após cinco dias do início do curso do tratamento. • Uma análise ITT é, normalmente, realizada se o tratamento dos grupos só for comparável no momento da randomização. Os indivíduos que violam o protocolo tendem a ser sistematicamente diferentes daqueles que cumprem as etapas. • Uma ITT, portanto, fornece uma comparação imparcial dos tratamentos. • A análise que inclui apenas aqueles que aderiram ao tratamento alocado é conhecida como análise “por protocolo” ou análise “no tratamento”. A Fig. 6.3 ilustra as diferenças entre as análises ITT e por protocolo. Fig. 6.3 Intenção de tratar VERSUS análise conforme o protocolo. Eficácia versus eficiência • Se o objetivo do ensaio é avaliar: • A eficiência da intervenção, você está querendo saber como ele funciona bem na prática clínica (i.e., para quem oferecê-lo). A ITT é o método de análise mais adequado para avaliar a eficiência. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-15.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-3 13 TBL 4 MBE • A eficácia da intervenção, você está querendo saber se a intervenção funciona nas pessoas que realmente a receberam. A análise por protocolo é a mais adequada para avaliar a eficácia. Análise sensitiva • É importante manter o controle dos participantes do estudo e medir os dados dos resultados de todos aqueles que permanecem no estudo. • Ao interpretar os resultados, um relato detalhado do que ocorreu com todos os indivíduos deve ser incluído. • Pode ser impossível incluir um indivíduo em particular na análise se faltarem dados, a menos que você use: • Dados provisórios, se disponíveis. • Modelagem estatística. • Uma análise da sensibilidade “o melhor caso, pior caso” pode ser utilizada para avaliar o impacto que a perda do acompanhamento provocou nos dados. • No melhor cenário, para todos os indivíduos nos quais houve perda do acompanhamento é atribuído o melhor resultado possível, por exemplo, nenhum evento adverso, se este tiver sido o resultado principal. • No pior cenário, para todos os indivíduos nos quais houve perda do acompanhamento é atribuído o pior resultado possível. • Os resultados do estudo são questionáveis se: • Há uma perda maior de acompanhamento. • Há uma ampla faixa dos resultados de sensibilidade para o melhor e o pior caso. • Por exemplo, em um ERC hipotético, apenas 80 dos 140 participantes associados ao grupo de intervenção aderiram ao tratamento e estavam disponíveis para dar seguimento. • A taxa de perda de seguimento foi, portanto, (140 – 80) /140 = 42,9%, que é muito alto! • Suponha que o resultado da doença primária ocorreu em 25% (20 de 80) dos participantes que estavam seguindo, com sucesso, o braço de intervenção. Os resultados da análise de sensibilidade do “melhor caso, pior caso” seriam: • Melhor caso: 20/140 = 14,3%. • Pior caso: (20+60)/140 = 57,1%. • Você seria cauteloso se interpretasse os achados como: • Há uma alta taxa de perda de acompanhamento (42,9%). • Há uma ampla faixa para os resultados de sensibilidade para o melhor caso e o pior caso (14,3 para 57,1%). • Por outro lado, se os cenários de melhor caso e de pior caso não têm um impacto significativo sobre os resultados do estudo, então, a perda de acompanhamento não é um problema. Análise de subgrupo • Se os investigadores identificarem características clínicas ou fatores prognósticos que afetem o resultado primário, eles poderão ser avaliados em análise de subgrupos predeterminados. Por exemplo, se você pensou que o efeito do tratamento seria diferente para caucasianos e para não caucasianos, você iria recolher informações sobre etnia, de modo que o resultado pudesse ser avaliado dentro dos subgrupos étnicos. • Considere que esses subgrupos devem ser predefinidos. Na conclusão do ensaio, se os investigadores descobrirem que os resultados são negativos, eles podem ser estimulados a procurar os subgrupos nos quais o resultado foi significativo. Eles podem, em seguida, anunciar que o tratamento é eficaz em, por exemplo, homens com idade inferior a 40 anos. Este não deve ser um resultado verdadeiro. A natureza da significância estatística determina que, se você olhar 20 subgrupos (quando P < 0,05), um deles deverá mostrar um resultado significativo puramente por acaso. Números necessários para tratar para benefícios e danos • Como profissionais de saúde, é útil saber como muitos pacientes necessitam receber um tratamento particular a fim de evitar um caso de doença. Isso é determinado calculando-se o número necessário para tratar para benefício (NNTB): As barras verticais na fórmula indicam que usamos o valor absoluto (positivo) da diferença de risco. 14 TBL 4 MBE • No entanto, em medicina, uma intervenção também pode ter o potencial de causar o efeito adverso. Isso é expresso como o número necessário para tratar o dano (NNTD). • A fórmula para o NNTD é a mesma utilizada para o NNTB. • A natureza da medida do resultado determina se o NNTB ou o NNTD deve ser usado. Exemplo de NNTB • Suponha que realizamos um ERC investigando se uma nova droga, AK87, reduz o risco de doença comparada com a droga regular. Todos os participantes do estudo estavam, no início do ensaio, livres da doença. Dois conjuntos de resultados hipotéticos, “Ensaio 1” e “Ensaio 2”, são resumidos na Fig. 6.4. Em ambos os conjuntos de dados, os pacientes randomizados para AK87 foram menos propensos a desenvolver a doença. • A razão de risco, que indica o aumento (ou diminuição) do risco de doença associado à exposição de interesse, é a mesma em ambos os ensaios. Com uma razão de risco de 0,43, AK87 reduz em 57% o risco de doença. • A diferença de risco dá uma indicação de se o risco da doençaé comum. Referindo-se ao Ensaio 1, para cada 1.000 pessoas tratadas com AK87, poderíamos esperar impedir 62 dos 109 casos recém-diagnosticados da doença que teriam ocorrido entre aqueles pacientes que tomaram a droga regular. • Um NNTB de 16 significa que para cada 16 pacientes tratados com AK87, teríamos evitado um caso de doença. • Passando para o conjunto de dados do Ensaio 2: • A taxa de doença é de apenas 10% daquela observada no Ensaio 1. • O NNTB é 161,3. • Seria necessário tratar 161 pacientes com AK87 para evitar um caso de doença. • Apesar de ambos os ensaios mostrarem que AK87 reduziu o risco de doença em 57%, a taxa de doença foi relativamente baixa no Ensaio 2, portanto, pode não valer a pena o financiamento da nova droga para uso na clínica prática com base nos resultados isolados do Ensaio 2. Além disso, é também importante considerar a presença de quaisquer efeitos secundários adversos antes de se tomar qualquer decisão sobre o licenciamento de drogas. Exemplo de NNTD • Ligado ao nosso exemplo anterior, verificou-se que a nova droga, AK87, estava associada a uma reação adversa, potencialmente fatal. • Suponha que as taxas deste efeito adverso no Ensaio 2 são 180 por 1.000 doentes no novo grupo de drogas e 43 por 1.000 doentes no grupo que utiliza a droga regular. • O NNTD é, portanto: • Portanto, colocando todos os nossos achados no Ensaio 2, precisamos tratar 161 pacientes com AK87 para evitar um caso de doença, mas apenas de sete pacientes para causar um caso com um efeito adverso. • Avaliando a relação benefício-malefício, podemos, com segurança, concluir que esta nova droga é mais prejudicial do que benéfica. TIPOS DE ENSAIOS RANDOMIZADOS CONTROLADOS Dois ou mais grupos paralelos • Nossa discussão sobre ensaios randomizados controlados, até agora, têm sido centrada na comparação de dois grupos, um grupo de intervenção e um grupo-controle. No entanto, é possível comparar mais de dois tratamentos considerando que os grupos são independentes entre si. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-4 15 TBL 4 MBE Ensaio cruzado • Em um ensaio cruzado, cada indivíduo age de acordo com o seu próprio controle, recebendo todos os tratamentos em uma determinada sequência. • Uma alocação aleatória determina a sequência na qual cada sujeito recebe os tratamentos (Fig. 6.5). • Compreensivelmente, é importante evitar o efeito residual (carry-over) do primeiro tratamento para o período durante o qual o segundo tratamento está sendo implementado. Isso é obtido por meio de um período de limpeza entre os tratamentos, isto é, um intervalo, durante o qual o tratamento não é fornecido. • Os diferentes tratamentos são comparados dentro do mesmo grupo de pacientes, por conseguinte: • poucos indivíduos são necessários em um ensaio cruzado, em comparação com um ensaio de grupo paralelo equivalente. Como anteriormente discutido, os tratamentos são comparados entre diferentes grupos de pacientes em um ensaio de grupo paralelo • as diferenças entre os pacientes são contabilizadas explicitamente. • Este desenho do estudo é, normalmente, usado para testar tratamentos para condições crônicas, tais como a hipertensão ou para doenças de longa duração. Por outro lado, testes de tratamentos para condições agudas (p. ex., antibióticos para uma infecção do trato urinário) podem não ser viáveis neste tipo de desenho do estudo, caso o paciente seja curado após o primeiro tratamento. • Ensaios cruzados são suscetíveis de menor duração do que um ensaio de grupo paralelo equivalente. Fig. 6.5 Desenho de estudo ERC cruzado. Ensaio fatorial • Um ensaio fatorial ocorre quando duas ou mais intervenções são avaliadas e comparadas simultaneamente com um grupo-controle no mesmo ensaio. • Este tipo de ERC é comumente usado para avaliar as interações entre diferentes tratamentos. • Um ensaio fatorial pode ser exibido como uma tabela 2 × 2 (Fig. 6.6). Como mostrado, existem quatro grupos em um ensaio que compara duas intervenções. Fig. 6.6 Estudo de grupo ERC fatorial. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-5 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-6 16 TBL 4 MBE Ensaio de cluster • Ensaios randomizados de cluster envolvem grupos de pacientes, clínicas ou comunidades, em oposição aos indivíduos. • Estes clusters são randomizados para receber a intervenção ou o controle. • As comparações são feitas entre esses grupos, em vez de entre os indivíduos. • Um estudo de cluster é apropriado para avaliar intervenções que são suscetíveis de apresentar um efeito de grupo. Tais intervenções incluem serviços de saúde preventivos (p. ex., programas de cessação do tabagismo ou de vacinação). Ensaios de superioridade versus ensaios de equivalência • É importante distinguir entre ensaios de superioridade e de equivalência. Eles diferem em termos do objetivo primário de cada estudo. • Ambos os tipos de ensaios são discutidos, em maiores detalhes, na Seção “Análise de minimização de custos” no Capítulo 18. Estudo de superioridade • O objetivo de um estudo de superioridade é determinar se uma nova intervenção é melhor do que o controle (p. ex., placebo ou tratamento usual). • A hipótese nula é de que não existe diferença entre os dois grupos. • A hipótese alternativa é de que a nova intervenção é melhor do que o controle. Ensaio de equivalência • O objetivo do ensaio de equivalência é determinar se uma nova intervenção é similar em eficácia ao tratamento usual. • Este tipo de ensaio é usado se a nova intervenção apresenta determinadas vantagens, tais como: • ser mais barata de fabricar • ser mais barata para monitorizar • ter menos efeitos colaterais. • A hipótese nula é de que a diferença nos resultados entre os dois grupos de intervenção é maior do que x (um valor predefinido). • A hipótese alternativa é de que a diferença de resultado entre os dois grupos de intervenção é menor que x. VANTAGENS E DESVANTAGENS Quais são as vantagens e desvantagens de ensaios randomizados controlados (Fig. 6.7)? DICAS E SUGESTÕES Às vezes é necessário utilizar os resultados de estudos observacionais para examinar a eficácia de uma intervenção em grupos de pacientes excluídos de um ensaio. EXEMPLO-CHAVE DE UM ENSAIO RANDOMIZADO CONTROLADO • O ensaio de prevenção secundária 4S foi o primeiro ERC a demonstrar que o tratamento com sinvastatina, de longo prazo, reduzia em 10 anos a mortalidade das doenças cardíacas coronarianas (DCC) em pacientes que tiveram previamente um infarto do miocárdio ou angina. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-18.xhtml https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-7 17 TBL 4 MBE • Embora seja possível discutir todos os aspectos do desenho do estudo, em um longo ensaio, só vamos nos concentrar em algumas das principais questões metodológicas (Fig. 6.8). RELATANDO UM ENSAIO RANDOMIZADO CONTROLADO • Os ensaios clínicos devem ser reportados de acordo com as orientações do CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trails). • Deve-se apenas reportar ERC. Não deve ser usado como uma lista de verificação para uma realização ou apreciação crítica de um ERC. • Muitas revistas, incluindo The Lancet e BMJ, solicitam aos autores que cumpram as orientações do CONSORT. • A notificação sistemática dos resultados deve tornar a avaliação crítica mais fácil, uma vez que as informações relevantes são mais suscetíveis de serem incluídas no relatório. • A declaração CONSORT foi incluída na Fig. 6.9. Recomenda-se fortemente que esta declaraçãoseja lida em conjunto com o CONSORT 2010 Documentos de Explicação e de Elaboração (consulte “Leitura adicional” para ajudá-lo na compreensão de todos os itens das diretrizes). • O diagrama de fluxo da declaração CONSORT 2010 é mostrado na Fig. 6.10. O diagrama de fluxo ilustra a passagem dos participantes através de um ERC. A inclusão do número de participantes, nas diversas etapas de um ensaio (inscrição, intervenção, alocação, acompanhamento e análise), permite avaliar se os investigadores fizeram uma análise ITT precisa. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-8 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-9 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-10 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595151338/epub/OEBPS/Text/cap-6.xhtml?favre=brett#fig-6-10 18 TBL 4 MBE 19 TBL 4 MBE ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO POR QUE ESCOLHER UM PROJETO DE ESTUDO INTERVENCIONAL? ENSAIO RANDOMIZADO CONTROLADO PARALELO CONFUSÃO, CAUSALIDADE E TENDÊNCIA INTERPRETANDO OS RESULTADOS TIPOS DE ENSAIOS RANDOMIZADOS CONTROLADOS VANTAGENS E DESVANTAGENS EXEMPLO-CHAVE DE UM ENSAIO RANDOMIZADO CONTROLADO RELATANDO UM ENSAIO RANDOMIZADO CONTROLADO
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