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DIREITO CIVIL - CONTRATOS U1- INTRODUÇÃO AOS CONTRATOS E CLASSIFICAÇÃO U1S2 ÉTTORE DE LIMA Princípios contratuais Os princípios jurídicos apresentam a acepção de começo, de início. São ordenações que se irradiam dos sistemas de normas. São a síntese dos valores principais da ordem jurídica. Aliás, é comum que, na ausência de lei, as legislações remetem o intérprete aos princípios gerais do direito, equiparados aos princípios de justiça. Portanto, os princípios correspondem a uma estruturação de um sistema de ideias, tanto de pensamentos ou normas ligadas por uma ideia mestra, por um pensamento que corresponde à chave para a interpretação, uma baliza normativa, um pensamento diretivo, uma razão informadora das outras. Aliás, os princípios são utilizados pela jurisprudência na fundamentação das decisões, passando a transformar-se em princípios positivados. Num primeiro momento tais princípios são resgatados do direito natural. Num segundo momento, a positivação é consequência do descobrimento destes princípios no direito positivo. Sendo assim, os princípios jurídicos ocupam uma posição de supremacia que vinculam o entendimento e a aplicação das normas jurídicas que com eles estão interligados, e corresponde ao alicerce do sistema jurídico. Princípios contratuais Obrigatoriedade da Convenção (pacta sunt servanda) Princípio da obrigatoriedade da convenção: pelo qual as estipulações feitas no contrato deverão ser fielmente cumpridas (pacta sunt servanda), sob pena de execução patrimonial contra o inadimplente. “O contrato faz lei entre as partes”, já diz o ditado. Assim, se feito um contrato, de acordo com a lei, o contratante pode valer-se do aparato coercitivo do Estado pra fazer cumprir o pacto. É o outro lado da moeda da liberdade de contratar. Daí decorrem duas consequências bastante importantes: • IRRETRATABILIDADE: Por decorrência da autonomia, o contrato não pode ser alterado unilateralmente. É a pedra angular da segurança jurídica; • INTANGIBILIDADE: Também por decorrência da autonomia, há impossibilidade de revisão judicial, exceto para resolver o contrato ou declarar nulidade. Obrigatoriedade da Convenção (pacta sunt servanda) Princípio da obrigatoriedade (pacta sunt servanda) da convenção é mitigado contemporaneamente em face da realidade social, ante a injustiça de levá-lo às últimas consequências. Isso tem base na na Teoria da Imprevisão e da Onerosidade Excessiva, contidas no art. 317 c/c art. 478 do CC/2002. Consensualismo Princípio do consensualismo: o simples acordo de duas ou mais vontades basta para gerar o contrato válido (vigora a liberdade de formas). O princípio do consensualismo tem duas facetas: Relatividade Dos Efeitos do Contrato O princípio da relatividade dos contratos – res inter alios acta neque prodest – funda-se na ideia de que os efeitos do contrato se produzem apenas em relação às partes, isto é, àqueles que manifestam a sua vontade, não afetando terceiros, estranhos ao negócio jurídico. A eficácia é interna às partes, ainda que a existência do contrato não seja indiferente aos terceiros. Esse princípio torna pessoal o pacto, excluindo os demais. Curiosidade: não à toa, o ordenamento jurídico brasileiro proíbe contrato que tenha por objeto a herança de pessoa viva, segundo o art. 426 do CC/2002. Equilíbrio contratual O princípio do equilíbrio contratual – Esse princípio trata da justiça contratual, ou seja, da proporcionalidade entre a prestação e a contraprestação dos contratantes. Tal é mais premente nos casos de contratos de longa duração, por conta do fator tempo, pelo que há a necessidade de reequilíbrio quando há desequilíbrio na avença. Questão controvertida é o equilíbrio contratual em face do lucro, já que os contratantes privados, via de regra, pretendem obter o máximo lucro ao contratar. Até que ponto o contrato é desequilibrado? Quando o lucro é demasiado? Pra quem lucra, nunca; pra quem sofre, sempre... Princípio da boa-fé objetiva (probidade) O princípio da boa-fé objetiva tem base no art. 422 do CC: “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da probidade e boa-fé”. A boa-fé objetiva analisa os comportamentos dos agentes e não suas intenções, ou seja, não importa o que o sujeito pretendeu no contrato, mas aquilo que comumente se espera a partir de seus atos e emanações (fala, gestos etc.). Ou seja, ela funciona como um standard de conduta para o contratante. A boa-fé objetiva, assim, estabelece um modelo de conduta aos contratantes. Ou seja, como eles devem portar-se desde o momento prévio à contratação, impedindo o apelo a cláusulas abusivas não previstas, letras miúdas, redação confusa, erros propositais etc. Princípio da boa-fé objetiva (probidade) A principal função da boa-fé objetiva é, então, hermenêutica\interpretativa. Essa é a função que está inserida no art. 113 do CC/2002: “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. Isso limita o exercício de direito, pois, segundo o art. 187: “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Princípio da boa-fé objetiva (probidade) Ela é um vetor que busca determinar que a conduta dos contratantes seja dotada de probidade, lealdade, honestidade, mas que somente será feita através de uma leitura hermenêutica no caso concreto. Nesse sentido, estabelece o art. 423 do CC/2002 que “quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente”. Igualmente, o art. 424 estipula que nos contratos de adesão, “são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio”. Função social do contrato O princípio da função social do contrato é baseado no art. 421 do CC, que estabelece: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. A função social do contrato tem um viés axiológico (um valor juridicamente protegido), criada a partir de uma visão integrativa do contrato na sociedade, de modo a conciliar os interesses individuais com os interesses da sociedade toda. Ela servirá como ponderação entre os valores econômicos e a justiça social, rompendo com o monismo das análises econômicas. O contrato, na atualidade, assim, não tem mais apenas pertinência às partes, mas gera efeitos a toda a coletividade, daí a importância da função social. Para exemplificar, é só analisar os contratos de planos de saúde, que afetam um direito fundamental de milhares de brasileiros. Princípio da revisão dos contratos (onerosidade excessiva) O princípio da revisão dos contratos (onerosidade excessiva) é baseada na Teoria da Imprevisão e da Onerosidade Excessiva, contidas no art. 317 c/c art. 478 do CC/2002. Também chamado de Teoria da Imprevisão, este princípio é responsável por trazer segurança jurídica aos contratos de trato sucessivo e de execução diferida. Isso ocorre através de uma cláusula contratual implícita chamada cláusula “rebus sic stantibus”, que significa que enquanto as coisas estiverem exatamente como foram estipuladas entre as partes na origem do contrato, dentro dos eventos normais e esperados, prevalece a inalterabilidade da relação jurídica contratual, justamente pela força obrigacional de cumprimento que ela exerce. Porém, existe uma exceção. Princípio da revisão dos contratos (onerosidade excessiva) Quando se fala em imutabilidade, inalterabilidade das cláusulas contratuais, é importante frisar que a cláusula “rebus sic stantibus” traz segurança jurídica aos contratos de trato sucessivo e de execução diferida que seguem seu rito normal. Por normal entende-se: eventos previsíveis e ordinários. A partir do momento em que ocorrem eventos extraordinários e imprevisíveis que modifiquem a cláusula,tornando excessivamente oneroso ao devedor o cumprimento da relação jurídica contratual, este poderá requerer em juízo a isenção total ou parcial da obrigação contraída. Princípio da revisão dos contratos (onerosidade excessiva) Importante salientar que só a existência de eventos extraordinários não é suficiente para que o devedor possa requerer em juízo a isenção da obrigação, precisando haver, cumulativamente com estes eventos, a imprevisibilidade dos fatos. Este é um fator determinante para que a inflação, por exemplo, onde a moeda se valoriza e desvaloriza periodicamente, não só na economia brasileira mas na de todos os países do mundo, não seja considerada elemento plausível para ajuizar uma ação requerendo a isenção da obrigação contratual em razão de sua onerosidade excessiva. Esta exceção só poderá ser alegada nos Contratos de Trato Sucessivo e Exceção Diferida, que são aqueles que possuem seu cumprimento prolongado no tempo, com prestações se repetindo de forma sucessiva e com o pagamento da obrigação sendo realizado em uma ou mais parcelas futuras, respectivamente. Não sendo a exceção da cláusula rebus sic stantibus abarcada por relações jurídicas contratuais de cunho aleatório. Princípio da revisão dos contratos (onerosidade excessiva) PANDEMIA CORONAVÍRUS → Buscando o equilíbrio das relações contratuais, existe a possibilidade do devedor, se este optar por requerer em juízo, nos contratos de trato sucessivo e de execução diferida, de solicitar a isenção parcial ou total da obrigação que havia contraído perante o credor, desde que prove que não havia condições de saldar a dívida contraída perante uma situação extraordinária e imprevisível, tal qual a da pandemia mundial do vírus COVID-19. Supremacia da Ordem Pública A supremacia da ordem pública é um dos princípios que limita a autonomia da vontade. Segundo este princípio, o interesse da sociedade deve prevalecer sobre o interesse individual, no que colidirem.
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