Relatório de Observação Série Black Mirror, temporada 2, episódio 1

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Psicologia do Cotidiano – 2021 
Registro de Observação 
 
Nome: Bárbara Vitória Barnabé Souza 
RA: D8887A3 
 
Data: 16/03/2021. 
Duração 2 Horas 
 
Atividade de Observação: Série “Black Mirror”, temporada 2, episódio 1: Volto já. 
Referência: https://www.netflix.com/title/70264888 
 
Sinopse: Black Mirror é uma série conhecida por tratar de temas densos relacionados a 
problemas provenientes do avanço da tecnologia de forma a simular um futuro próximo. 
Cada episódio possui uma história independente, e no observado para este relatório, 
Martha perde seu amante e o reencontra com um serviço tecnológico que a permite manter 
contato com ele a partir de dados on-line. 
 
Referência: Autoria própria. 
 
OBSERVAÇÃO: 
 O episódio se inicia com o casal: Martha, uma moça de aparentes 26 anos, e o Ash um 
rapaz que aparenta a mesma idade. Eles saem com o carro de um posto de gasolina, e 
enquanto moça dirige, os dois cantam sorrindo junto com a música que toca no rádio. 
A casa está cheia de caixas abertas e há uma certa bagunça. Ash por diversas vezes não 
escuta o que moça diz por estar preso em seu smartphone no qual usa uma rede social que 
se assemelha ao Twitter. 
Certo dia ela fica em casa trabalhando em um projeto de arte que é o seu trabalho, e Ash 
sai para devolver o veículo que o casal havia alugado. Horas passam e anoitece, mas o 
homem não retorna. Martha liga para agência de onde alugaram o veículo, porém não 
havia sido devolvida. Mais tarde, a polícia chega na casa dela. Ao abrir a porta e se deparar 
com os policiais, ela fecha a porta novamente e, respirando forte, volta para dentro de 
casa. Aqui pode-se assumir que seu parceiro Ash morreu em um acidente na ida ao 
devolver a van. 
No enterro, ela tem um diálogo com uma das convidadas. Esta convidada, Sara, uma 
moça que aparentava a mesma idade de Martha compartilhou que quando perdeu seu 
marido, nada parecia real. Sara oferece a Martha algo que poderia ajudá-la a passar por 
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isso, afirmando ser algo que permitiria que falasse com ele. A moça insiste nesse método 
até que Martha grita pedindo que ela pare de falar e se retira. 
De volta em casa, Martha continua a arrumar a casa ainda cheia de caixas. Ela entra no 
sótão e reabre caixas antigas, encara as fotos de Ash em silêncio. Em outra cena, ela 
vomita. 
Olhando seus e-mails, descobre que Sara a inscreveu no serviço que havia comentado. 
Vê também um e-mail de recomendação de livros sobre passos para abordar o luto, o qual 
ela apaga sem ler. Então, recebe um e-mail do endereço de Ash que dizia “sim, sou eu”. 
Ela encara a tela por um instante e logo apaga o e-mail. 
Depois disso, liga para Sara dizendo que ver aquilo a machucava. Ela grita ao telefone, 
repetindo que ele está morto. Sara explica que é um programa que imita Ash baseado nas 
informações que existem online sobre ele. Porém Martha ainda rejeita. 
Em outro momento, Martha vomita novamente. Dessa vez, ela faz um teste de gravidez. 
O resultado é positivo. Ela nega com a cabeça e joga o teste longe. Chorando, deixa uma 
mensagem de voz na caixa postal para sua irmã, Naomi. Martha anda de um lado para o 
outro na casa, e encara o notebook fechado em cima da cama. Ela corre, abre o notebook 
e vasculha a caixa de e-mails deletados. Abre o e-mail com o nome de Ash e hesita ao 
apertar o botão para falar, mas aperta mesmo assim. Ao conversar com o bot (espécie de 
inteligência artificial que simula uma conversa) pela primeira vez, ele fala uma piada a 
qual ela reage com um misto de espanto, riso e choro. Então, chorando, ela conta a ele 
que está grávida. 
Mais tarde, Naomi recebe sua mensagem e a liga de volta. Martha, encarando a tela do 
notebook, já está mais calma e pede que Naomi não a visite. De noite, ao conversar com 
ele, Martha não chora mais. Envia ao bot todos os vídeos e arquivos que tem de Ash. E 
depois de alguns segundos recebe uma ligação do bot, a qual ela reage com um misto de 
choro e riso. Afirma que ele parece muito com seu antigo companheiro. 
Na próxima cena, Martha aparece andando por um campo ao falar com o bot por fones 
de ouvido. Ela sorri e compartilha lembranças. Rejeita uma ligação de Naomi e continua 
a falar com ele. 
Em uma consulta médica, ela grava a batida do coração do bebê e mostra ao bot de Ash. 
Na saída, derruba o celular e este quebra. Na hora, ela muda a feição de seu sorriso para 
um olhar preocupado e começa a chorar chamando por Ash, sem resposta. Compra um 
novo celular no mesmo dia, e aguarda a sincronização andando rapidamente por 
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distancias curtas dentro de seu quarto. Corre chorando para atender a ligação do bot de 
Ash. 
O bot sugere um novo meio – menos frágil que um celular - disponível para que eles se 
comuniquem, avisando Martha que é caro e assustador. A cena corta para Martha 
recebendo um pacote praticamente de seu tamanho. Leva um susto ao abri-lo. Nele, há 
partes de um corpo humano, como um boneco. Martha segue as instruções do bot e 
prepara o corpo, deixando-o sozinho. Um tempo depois, ela ouve barulhos vindos de onde 
ele está. Andando devagar e com os olhos bem abertos, ela acompanha com o olhar Ash 
descendo as escadas. Sem dizer nada e mantendo distância, ela o encara de longe. Martha 
se aproxima e toca o rosto de Ash e sua pele. Então ela chora dizendo a ele que sentia sua 
falta. 
Em um momento, Naomi vai visitar Martha. Ela esconde Ash e se mostra apreensiva ao 
receber a irmã. Naomi aponta que Martha não atende o telefone. Após esse encontro, 
Martha se mostra rude e com um certo receio ao estar perto de Ash. Após se incomodar 
com o fato de ele não dormir e não respirar, ela começa a chorar, dizendo que ele não era 
nada como o Ash. Pede que ele brigue com ela, mas este não tem reação. 
Mais tarde, ela o leva para a beira de um precipício no campo e manda que ele pule. 
Após questionar e apontar mais uma vez que ele não se parecia nada com Ash a cena 
acaba com ela gritando. 
A próxima cena mostra Martha, com uma roupa social e um carro novo, chegando em 
casa com uma menina de aproximadamente 9 anos, sua filha. Na sala, elas repartem um 
bolo. Martha corta um pedaço para ela e outro para a menina. A filha diz que elas precisam 
de mais um pedaço. Então a menina leva esse pedaço até o sótão, onde Ash está. E após 
hesitar por um momento, Martha segue a menina até o sótão. O episódio termina aqui. 
 
Compreensão da Observação: 
Este episódio trata de um assunto complicado de lidar para qualquer um que passe por 
ele, a perda de alguém querido e o luto. Daqui tenho algumas considerações que acredito 
serem pertinentes. 
O jovem casal, Martha e Ash, com sua van alugada e casa repleta de caixas deixa aberto 
à interpretação de que poderiam estar se mudando para morarem juntos e que este 
processo está ocorrendo há não muito. Pelo jeito que conversam, cantam juntos e se 
entreolham, pode-se assumir que estão no início de sua vida juntos e que estariam no 
começo da construção de sua história naquele novo lar. 
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Outro ponto interessante é a relação de Ash com as redes sociais. Antes que ele 
morresse, foi possível observar que ele passava muito tempo em seu celular, 
acompanhando e atualizando suas redes sociais. Muitas vezes o que Martha falava era 
desapercebido por Ash, ocupado em sua timeline. Tal relação “íntima” possibilitou uma 
recriação satisfatoriamente verossímil de Ash, tão parecido que assusta Martha. 
O foco central do episódio na minha visão é a respeito do processo de luto de Martha 
depois da perda de Ash. Pode-se perceber sua negação em aceitar que a morte dele de 
fato ocorreu primeiramente na chegada da polícia à sua casa: ela fecha a porta e dá meia 
volta. A proposta e indicação de Sara e a sua gravidez foram prováveis catalizadores para 
o seu processo de luto sair de fato dos trilhos, pois ao invés de sentir a dor, ela entra em 
uma realidadena qual ela pode ter Ash de volta e isso a mantém longe da dor da perda. 
Então ela se afasta de sua irmã, que de alguma forma poderia representar a ela uma 
realidade que ela não quer e nem precisa aceitar, pois conseguiu lidar de outra forma. E 
se torna dependente de tal serviço, de tal modo que o perder por algumas horas lhe fez 
entrar em desespero e ainda gastar considerável dinheiro em um corpo que seria, por mais 
extremo e bizarro que seja, melhor do que sofrer a perda de Ash.