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46 Unidade II Nesta unidade, abordaremos a finalidade e a importância de alguns termos no comércio internacional, aprenderemos alguns aspectos do direito de navegação marítima e detalharemos o embarque marítimo como principal meio para o transporte de cargas a partir da descrição dos elementos que o constituem. Por fim, nos focaremos em alguns termos e definições usados no dia a dia dos profissionais de logística. 3 TERMOS COMERCIAIS INTERNACIONAIS: INCOTERMS A Câmara de Comércio Internacional (CCI) criou regras para administrar conflitos da interpretação de contratos internacionais firmados entre exportadores e importadores no que tange à transferência de mercadorias, despesas decorrentes das transações e responsabilidade sobre perdas e danos. Em 1936, a CCI instituiu os Incoterms (International Commercial Terms). Inicialmente, os termos internacionais de comércio foram empregados nos transportes marítimos e terrestres e, a partir de 1976, nos transportes aéreos. Há vários fatores que precisam ser definidos no processo de importação e exportação. O preço do produto é, sem dúvida, de grande importância, entretanto, há vários outros pontos relevantes que também precisam ser definidos, tais como a condição de pagamento, a moeda a ser utilizada, a modalidade de transporte, o local de entrega e o recebimento do produto, por exemplo. A definição desses fatores se fez necessária porque era preciso delimitar a responsabilidade do comprador e do vendedor. Normas variadas, diferenças culturais e a pluralidade de idiomas existentes no mundo muitas vezes dificultavam as negociações entre vendedores e compradores, o que causava frustrações e erros nos processos internacionais. Portanto, com o intuito de padronizar e organizar as transações internacionais, foram criados pela Câmera de Comércio Internacional, com sede em Paris, os Incoterms, composto por 11 Incoterms que são: EXW, FCA, FAS, FOB, CPT, CIP, CFR, CIF, DAP, DPU e DDP. Os Incoterms são regras que limitam os direitos e as obrigações de compradores e vendedores no que se refere à entrega e ao recebimento dos produtos. Em alguns casos, também chegam a estabelecer a contratação de seguro e identificam de quem é a obrigação alfandegária. Em outras palavras, os Incoterms definem onde o exportador deve entregar a mercadoria, quem paga pelo frete e quem é o responsável pela contratação do seguro. Resumidamente, os Incoterms apontam os custos, os riscos e quem é responsável pelo que e até que ponto. Observação Existem várias revisões dos Incoterms, contudo, a versão que consultaremos é a do ano 2020. Unidade II 47 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Exemplo de aplicação O que são Incoterms e quais são suas finalidades? Para facilitar a compreensão dos Incoterms, veremos a seguir o significado de cada um deles. Saiba mais Aprenda mais sobre exportações acessando o site: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Incoterms. [s.d.]. Disponível em: http://www.aprendendoaexportar.gov.br/ index.php/negociando-com-importador/incoterms. Acesso em: 15 jun. 2020. Ex works (EXW – na origem) No EXW, o vendedor/exportador coloca a mercadoria à disposição do comprador/importador no ponto e local estabelecidos (sem ponto nomeado, cabe ao vendedor/exportador escolher). Não há obrigação de carregamento no veículo transportador, mas se o fizer, será por conta e risco do comprador. Cabe ao comprador/importador contratar e custear o transporte. Cabe ao comprador/importador contratar e custear o seguro. O risco de extravio ou avaria da mercadoria é do comprador/importador a partir do momento em que a carga é colocada à disposição no local e data combinados. As obrigações aduaneiras, quando forem aplicáveis, não são da conta do vendedor (tanto no país do vendedor/exportador como no país do comprador/importador ou terceiros países). O EXW é o termo de menor responsabilidade para o vendedor/exportador e o de maior responsabilidade para o comprador/importador. Os modais de transporte para o EXW são: aéreo, aquaviário, terrestre e ferroviário. EXW - Ex works (...named place) À disposição (... local designado) EXW Vendedor Comprador R = Riscos C = Custos R C Figura 15 – Termo EXW 48 Unidade II Exemplos de aplicação Quais são as responsabilidades do importador no termo EXW? Qual é a responsabilidade do exportador no termo EXW? Free on board (FOB – Livre a bordo) No FOB, o vendedor/exportador entrega a mercadoria a bordo do navio indicado pelo comprador, no ponto do local de embarque indicado pelo comprador. O custo do carregamento é do vendedor/exportador. O risco de extravio ou dano da mercadoria é do comprador/importador a partir da entrega da mercadoria. Quanto ao transporte, o comprador/importador deve contratá-lo e custeá-lo a partir do porto de embarque. Neste termo, cabe ao comprador/importador contratar e custear o seguro, se assim o desejar (é do comprador/importador a partir do momento em que a carga passa a amurada do navio). Trâmites aduaneiros: o vendedor/exportador providencia e custeia a exportação; o vendedor/exportador presta assistência ao comprador/importador com a importação; o comprador/importador presta assistência ao vendedor/exportador na exportação; o comprador/importador providencia e custeia a importação. O modal de transporte para o FOB é aquaviário. FOB - Free On Board (...named port of shipment) Livre a bordo (... porto de embarque designado) FOB Vendedor Comprador R = Riscos C = Custos R C Figura 16 – Termo FOB Exemplos de aplicação Quais são as responsabilidades do comprador no termo FOB? Qual é a responsabilidade do vendedor no termo FOB? Free carrier (FCA – Livre no transportador) No FCA, o vendedor/exportador entrega a mercadoria ao transportador ou a quem o comprador/ importador indicar no local designado (armazém geral etc.), além disso faz o carregamento no veículo transportador. A entrega da mercadoria está concluída quando o local for estabelecimento do 49 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO vendedor/exportador, quando a mercadoria estiver carregada no meio de transporte providenciado pelo comprador/importador ou se o local não for o estabelecimento do vendedor/exportador, quando a carga for colocada à disposição do transportador ou de quem o comprador/importador indicar no meio de transporte do vendedor/exportador à disposição para ser descarregado. O vendedor/exportador assume os custos e riscos de extravio ou avaria da mercadoria até sua entrega. Quanto ao seguro, cabe ao comprador/importador contratar e custear o seguro, se assim o desejar. Referente ao transporte: cabe ao comprador/importador contratá-lo e custeá-lo. Sobre os trâmites alfandegários, se for o caso, o vendedor/exportador providencia e custeia a exportação; o vendedor/exportador presta assistência ao comprador/importador com a importação; o comprador/ importador presta assistência ao vendedor/exportador na exportação; o comprador/importador providencia e custeia a importação. Os modais de transporte para o FCA são: aéreo, aquaviário, terrestre e ferroviário. FCA - Free Carrier (... named place) Livre no transportador (...local designado) FCA Vendedor Comprador R = Riscos C = Custos R C Figura 17 – Termo FCA Exemplos de aplicação Quais são as responsabilidades do importador no termo FCA? Qual é a responsabilidade do exportador no termo FCA? Free alongside ship (FAS – Livre ao lado do navio) No FAS, o vendedor cumpre sua obrigação de entrega quando a carga foi colocada ao lado da embarcação designada pelo comprador, no cais ou numa embarcação, no porto de embarque indicado. O risco de perdas ou danos à mercadoria, é do comprador a partir da entrega da mercadoria. O transporte é responsabilidade do comprador contratá-lo e custeá-lo. Quanto ao seguro, cabe ao comprador contratar e custear o seguro, se assim o desejar. Os trâmites aduaneiros na exportação são por conta do vendedor, quando for o caso. Ele não temobrigação quanto aos trâmites alfandegários na importação e na passagem por terceiros países. Modais de Transporte para o FAS: pode ser usado apenas no modal aquaviário. 50 Unidade II FAS - Free Alongside Ship (... named port of shipment) Livre ao lado do navio (...porto de embarque designado) FAS Vendedor Comprador R = Riscos C = Custos R C Figura 18 – Termo FAS Cost and freight (CFR – Custo e frete) No CFR, o vendedor/exportador nomeia a transportadora, conclui e suporta os custos pagando o frete até o porto de destino designado, descarregamento não incluído. O carregamento das mercadorias desalfandegadas no navio inclui ainda as formalidades de expedição. Em contrapartida, a transferência de riscos é a mesma que no FOB. O comprador/importador arca com o risco de transporte a partir do momento em que a mercadoria é entregue a bordo do navio no porto de embarque, recebe-a da transportadora no porto de destino designado. As despesas com documentação cabem ao vendedor/exportador, para fornecer ao comprador/importador um documento de transporte habitual até ao porto de destino designado, cobrindo as mercadorias contratuais de modo a servir para os devidos fins. Deve ainda prestar todas as informações necessárias que lhe permitam tomar as medidas adequadas para a recepção das mercadorias. As informações e documentos relativos ao seguro que o comprador/importador precisa para a exportação e/ou a importação e/ou o transporte até ao destino final devem ser prestados pelo vendedor/exportador ao comprador/importador a seu pedido e por sua conta e risco. O modal de transporte para o CFR é aquaviário. CFR - Cost and Freight (... named port of destination) Custo do Frete (...porto de destino designado) CFR Vendedor Comprador R = Riscos C = Custos Figura 19 – Termo CFR 51 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Exemplos de aplicação Qual é a responsabilidade do vendedor no termo CFR? Quais são as responsabilidades do comprador no termo CFR? Cost insurance and freight (CIF – Custo, seguro e frete) No CIF o vendedor/exportador entrega a carga ao transportador a bordo do navio indicado pelo comprador. O vendedor/exportador deve contratar e pagar os custos e frete necessários, desde o ponto de entrega até o ponto no porto de destino designado. O vendedor/exportador corre o risco do extravio ou avaria da carga até ao momento da entrega ao transportador; o risco é do comprador/importador a partir do momento em que a carga passa a amurada do navio. Esse termo apresenta dois pontos críticos, pois os riscos e custos são transferidos em locais diferentes. Já o seguro cabe ao vendedor/exportador contratar e custeá-lo, salvo se o contrário foi acordado ou, como de costume nesse tipo de negócio, indicando o comprador/importador como beneficiário. Os trâmites aduaneiros na exportação são por conta do vendedor, quando aplicável, enquanto ele não tem obrigação na importação e trânsito por terceiros países. O modal de transporte para o CIF é aquaviário. CIF - Cost, Insurance and Freight (... named port of destination) Custo Seguro e Frete (...porto de destino designado) CIF Vendedor Comprador R = Riscos C = Custos R C Figura 20 – Termo CIF Exemplo de aplicação Qual é a responsabilidade do vendedor no termo CIF? Carriage paid to (CPT – Transporte pago até) No CPT, cabe ao vendedor/exportador entregar a carga ao transportador, no local acordado em seu país, e com transporte contratado e pago por ele para levar a mercadoria até o local de destino nomeado no exterior. O custo de carregamento é do vendedor. O vendedor/exportador corre o risco até ao momento da entrega da carga ao transportador; a partir de quando o risco é do comprador/importador. Portanto, o CPT tem dois pontos críticos diferentes, o de risco e o de custo, que são transferidos em locais diferentes. Cabe ao comprador/importador contratar e custear o seguro, se assim o desejar. Os trâmites 52 Unidade II alfandegários na exportação são por conta do vendedor, quando aplicável. Os modais de transporte para o CPT são: aéreo, aquaviário, terrestre e ferroviário. Dessa maneira, o vendedor fica encarregado de pagar custos alfandegários e impostos para a exportação enquanto o comprador se torna responsável pelo desembaraço e por eventuais taxas e impostos na importação (KEEDI, 2007b). CPT - Carriage Paid to (... named place of destination) Transporte pago até (...local de destino designado) CPT Vendedor Comprador R = Riscos C = Custos R C Figura 21 – Termo CPT Carriage and insurance paid to (CIP – Transporte e seguro pagos até) No CIP, o vendedor/exportador entrega a mercadoria ao transportador, no local acordado em seu país, ou a adquire entregue, e com transporte contratado e pago por ele para levar a mercadoria até o local de destino nomeado no exterior. O vendedor/exportador corre o risco até ao momento da entrega da carga ao transportador. Dessa forma, o CIP tem dois pontos críticos diferentes, o de risco e o de custo, pois são transferidos em locais diferentes. O vendedor/exportador também contrata o seguro para a mercadoria. Os trâmites alfandegários na exportação são por conta do vendedor, quando aplicável, mas ele não tem obrigação quanto aos trâmites na importação ou passagem por terceiros países. Os modais de transporte para o CIP são: aéreo, aquaviário, terrestre e ferroviário. CIP - Carriage and Insurance Paid to (... named place of destination) Transporte e Seguro pagos até (...local de destino designado) CIP Vendedor Comprador R = Riscos C = Custos R C Figura 22 – Termo CIP 53 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Delivered at place (DAP – Entregue no local) No DAP, o vendedor/exportador entrega a carga colocando-a à disposição do comprador, no local de destino designado, no meio de transporte, pronta para ser desembarcada. O vendedor/exportador assume todos os riscos e custos para esta entrega. O vendedor/exportador corre o risco de extravio ou avaria da mercadoria até ao momento da entrega da carga. O vendedor/exportador contrata e paga o transporte da carga do local de origem até ao local de destino. O vendedor/exportador não tem obrigação de fazer seguro da carga. Os trâmites alfandegários na exportação são por conta do vendedor, que não tem obrigação na importação ou trânsito por terceiros países. Os modais de transporte para o DAP são: aéreo, aquaviário, terrestre e ferroviário. Delivered at place unloaded (DPU – Entregue no local desembarcado) No DPU, o vendedor/exportador entrega a carga colocando-a à disposição do comprador, no local de destino nomeado, descarregada do meio de transporte. O vendedor/exportador deve assumir todos os riscos e custos envolvidos para isso. O risco é do vendedor/exportador até ao local e momento em que a mercadoria é colocada à disposição do comprador, descarregada no local de destino; as operações de descarga são por conta e risco do vendedor. O vendedor/exportador contrata e paga o transporte da carga do local de origem até ao local de destino. Quanto ao seguro, o vendedor/exportador não tem obrigação de segurar a carga. Assim sendo, este é o único termo em que o vendedor/exportador tem a obrigação de desembarcar a mercadoria na entrega. Os trâmites alfandegários na exportação são por conta do vendedor, quando aplicável, mas não nos países de importação e de trânsito por terceiros países. Os modais de transporte para o DPU são: aéreo, aquaviário, terrestre e ferroviário. Delivered duty paid (DDP – Entregue com direitos pagos) O vendedor entrega a carga colocando-a à disposição do comprador no local de destino designado, no meio de transporte, pronta para ser desembarcada. O vendedor assume todos os custos e riscos para esta entrega da carga. Transporte: o vendedor contrata e paga o transporte da carga do local de origem até ao local de destino. Seguro: o vendedor não tem obrigação de segurar a carga. Obrigações aduaneiras: o vendedor providencia os documentos e paga o desembaraçoaduaneiro de exportação, de trânsito e de importação, bem como quaisquer outros tributos ou despesas. Modais de transporte para o DDP: este termo pode ser usado para qualquer meio de transporte. 54 Unidade II Vendedor Comprador R = Riscos C = Custos DDP - Delivered Duty Paid (... named place of destination) Entrege Direitos Pagos (...local de destino designado) DDP R C Figura 23 – Termo DDP Exemplo de aplicação Qual é a responsabilidade do exportador no termo DDP? Como foi possível observar, há uma grande variedade de termos de entrega e eles fazem parte do cotidiano dos profissionais que atuam no comércio exterior e, para os profissionais de logística, o domínio e entendimento dos Incoterms e das responsabilidades e direitos neles implicados são de suma importância. Além disso, sabemos que a sobrevivência de uma empresa depende da competitividade de seu produto e do diferencial de seu preço e aqueles que atuam na área de logística muitas vezes detêm a chave para o bom desempenho desses fatores (KEEDI, 2007b). Exemplos de aplicação O exportador Shoes Brasil realizou uma venda no valor de US$ 150.000,00 em sapatos femininos, conforme descrito a seguir: • valor da mercadoria no local de embarque: US$ 150.000,00; • frete internacional a ser pago ao armador: US$ 11.525,00; • seguro de transporte da carga: US$ 750,00; • peso bruto: 55 toneladas; • peso líquido: 53 toneladas; • volume: 120 m3. 55 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO A) Qual é o valor FOB da mercadoria? B) Qual seria o valor CFR se a venda fosse realizada nesse Incoterm? C) Qual seria o valor CIF se a venda fosse realizada nesse Incoterm? D) Ao considerar o peso bruto e o volume da mercadoria, é possível consolidar o embarque em somente um contêiner? Por quê? (Para responder essa questão, use os dados da tabela – Capacidade por contêiner marítimo). E) Qual seria o contêiner que você recomendaria a fim de otimizar o embarque? A empresa Melvis está negociando com a empresa Xing a compra de 512 displays de LCD que serão usados na produção de TVs LCD. A empresa Xing cotou sua mercadoria com dois termos de embarque, conforme descrito a seguir. • o valor unitário da mercadoria é de US$ 100,00 FOB a partir do porto de Pusan, na Coreia. A empresa Xing se valeu do termo CFR e cotou sua mercadoria já com o frete incluso. Nesse caso, o preço unitário passa a ser de US$ 107,00; • a empresa Melvis tem negociado o preço de US$ 5.760,00 para um contêiner de 40’, que pode ser estufado com 512 displays de LCD. Considerando os custos logísticos envolvidos no processo, é preciso decidir qual preço é o mais vantajoso. É melhor optar pelo preço FOB ou FCR? Justifique sua resposta. 3.1 Direito marítimo de navegação O direito marítimo inclui: “a questão do direito dos mares e a questão da movimentação de embarcações, tanto em águas territoriais nacionais, alto mar ou áreas marítimas estrangeiras” (SILVA, 2009). O direito dos mares considera os direitos que os países têm sobre a área marítima que vai desde a área de baixa-mar até as distâncias internacionalmente definidas como de uso comum. No Brasil, por exemplo, temos: • o mar territorial brasileiro compreende a faixa de 12 milhas marítimas de largura; • a zona contígua, que se estende de 12 a 24 milhas marítimas e onde é permitido ao Brasil fiscalizar a fim de evitar infrações às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, imigratórios ou sanitários; • a zona econômica exclusiva, onde o Brasil tem soberania para explorar recursos e poder disciplinador que se estende de 12 a 200 milhas marítimas. 56 Unidade II No caso brasileiro, o alto mar fica além da faixa de 200 milhas marítimas e esse espaço não é de nenhum país específico. Porém, no caso de vários outros países, há a necessidade de ajustes e acordos a fim de regularizar o acesso marítimo em razão de suas posições geográficas. Observação Muitos países não têm o privilégio brasileiro de ter de uma fronteira marítima tão grande. Atualmente, de 80% a 90% da movimentação do comércio internacional é feita por via marítima. Consequentemente, as embarcações que transitam no mar levam consigo a soberania de seus países e, logo, as regras dos acordos internacionais devem ser respeitadas e cumpridas. No Brasil, temos o Tribunal Marítimo, instalado no Rio de Janeiro. Esse tribunal possui jurisdição sobre todos os eventos ocorridos em águas sob a supervisão da marinha nacional. Há também outras legislações que norteiam as decisões dos tribunais e regulam o tráfego de embarcações nas águas brasileiras, como é o caso das leis nº 9.432/97 e nº 9.537/97, que, respectivamente, ordenam o tráfego aquaviário e estabelecem a norma de segurança para esse tipo de transporte. 3.2 Transportes marítimos O transporte marítimo evoluiu muito e, junto com a modernização dos portos, foi uma peça-chave para o aumento do comércio global. Silva e Porto (2003) afirmam que existem inúmeras vantagens no transporte marítimo e, dentre elas, podemos destacar a capacidade, a competitividade e a flexibilidade. • capacidade: se comparado com outras modalidades de transporte como o avião, por exemplo, o navio possui maior capacidade para transporte de mercadorias grandes; • competitividade: pela sua grande capacidade de transporte, os fretes passam a ser mais baratos e competitivos, o que reduz o custo; • flexibilidade: com a expansão e modernização dos portos, é possível transportar produtos para praticamente qualquer lugar do globo, além do fato de que não há mais uma vulnerabilidade tão acentuada às condições climáticas. Entretanto, o transporte marítimo também apresenta desvantagens no que diz respeito à acessibilidade, ao custo de embalagem, à velocidade, à frequência e ao congestionamento nos portos. • acesso: devido à localização da maioria dos portos, que ficam fora das cidades, é necessário que o produto seja manuseado várias vezes para chegar ao seu destino, o que aumenta o risco de danos e o tempo de transporte; 57 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO • custo de embalagem: para que seja possível efetuar todo o manuseio necessário das mercadorias no porto, é preciso que embalagens adequadas sejam utilizadas; • velocidade: o transporte marítimo é lento se comparado a outros meios de transporte; • frequência: apesar de seus serviços serem regulares, a frequência de saída de navios do porto é bem menor se comparada à frequência de saída do frete aéreo; • congestionamento nos portos: devido à quantidade de produtos que é transportada pela via marítima, há alta movimentação nos portos e demora na atracação e desatracação, o que gera congestionamentos e atrasos. Exemplos de aplicação Cite e explique três vantagens do transporte marítimo. Cite e explique quatro desvantagens do transporte marítimo. 3.2.1 Tipos de embarcações Além do conhecimento das vantagens e desvantagens do transporte marítimo, o trabalho na área de logística exige também o conhecimento dos tipos de navios usados para o transporte de cargas. Observação Embarcação mercante é a utilizada exclusivamente para o transporte de cargas. Há vários tipos de navios e alguns deles têm características e finalidades bem especificas. A seguir, descreveremos os principais tipos de embarcações marítimas. Roll-on roll off (RO-RO) Os navios roll-on roll off são desenvolvidos para o transporte de automóveis, caminhões, reboque e tratores. A movimentação dos veículos motorizados para entrar nesse tipo de navio é feita por rampas. 58 Unidade II Figura 24 – Vista externa do navio roll-on roll off Figura 25 – Vista interna de como veículos de guerra são armazenamentos em um navio militar roll-on roll off Navio de carga geral Esse navio foi construído para transportar uma variedade grande de carregamentos e possui amplos porões e equipamentos para manuseio de cargas. Nos convés, itens grandes como contêineres, máquinas, carretas etc. podem ser alocados, além de também haver espaço para guindastes usados no manuseio,colocação e retirada da carga. 59 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Figura 26 – Vista externa do navio de carga geral Navio de carga líquida Os navios de carga líquida são projetados para transportar diversos líquidos. Como essas embarcações possuem tanques de tamanhos diferentes e independentes entre si, elas podem levar uma grande variedade de mercadorias, incluindo produtos químicos como enxofre líquido, ácido fosfórico, soda cáustica etc., sem comprometer a integridade da carga. A colocação e retirada dos produtos é feita por meio de bombas, que transferem os líquidos para dentro ou fora do navio. Figura 27 – Vista externa do navio de carga líquida Porta contêiner Não há muitas diferenças entre o navio porta contêiner e o navio de carga geral. Normalmente, as escotilhas de carga (aberturas no convés e no porão dos navios) abrangem praticamente toda a área do convés e são providas de guias para encaixar os contêineres nos porões. 60 Unidade II Figura 28 – Armazenagem no navio porta contêiner Figura 29 – Vista externa do navio porta contêiner Navio petroleiro Os navios petroleiros são contêineres desenvolvidos para o transporte de petróleo cru ou refinado. Devido ao seu tamanho – há superpetroleiros do tamanho de três campos de futebol –, existe a dificuldade de manobra perto da costa, por isso, eles têm sido substituídos por embarcações menores. Figura 30 – Vista externa do navio petroleiro 61 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Navio cargueiro de gás Esses navios foram construídos para transportar gás e têm tanques de formato arredondado. Devido à característica da carga, a tripulação deve ser treinada e as normas de segurança precisam ser rigorosamente seguidas. Figura 31 – Vista externa do navio cargueiro de gás Navio graneleiro Esse tipo de navio foi projetado e construído para transportar cargas agrícolas e outros itens a granel, como açúcar, soja e grãos em geral. Ele possui porões grandes e paredes lisas para guardar a carga mais adequadamente. O tipo ore bulk transporta mercadorias pesadas como os minérios, por exemplo, e o dry bulk transporta mercadorias secas a granel. O carregamento e o descarregamento das cargas transportadas nesse tipo de embarcação são feitos por sugadores, por escoamento ou por equipamento em forma de concha. Figura 32 – Vista externa do navio graneleiro 62 Unidade II Navios refrigerados Os navios refrigerados são destinados ao transporte de cargas que precisam de controle de temperatura. Esses navios possuem câmaras refrigeradas independentes e isso permite o monitoramento individual da temperatura de todas elas. Conhecidos também como navios reefer, essas embarcações têm uma participação pequena no comércio internacional se comparadas a outros tipos de navios cargueiros. Além disso, elas têm sofrido com a concorrência dos containers reefer, já que existem navios que possuem estrutura para o transporte de contêineres refrigerados. Lembrete A variedade de tipos de navios possibilita o transporte de praticamente toda sorte de produtos via transporte marítimo. 3.2.2 Operação comercial dos navios Segundo Ruiz (2009), a empresa comercialmente responsável por transportar a carga, também conhecida como armador, opera em formatos preestabelecidos, assim, temos: Formato navio tramp Esse formato é constituído por navios que transportam um único tipo de produto, como é o caso dos navios graneleiros, que são suscetíveis à sazonalidade. Como no decorrer do ano as épocas de safra acontecem em lugares diferentes, o armador verifica em qual porto há demanda para o navio que ele tem disponível. Por esse motivo, o armador precisa estar sempre a par da sazonalidade. O navio tramp também é habitualmente requisitado por empresas produtoras, muitas vezes com meses de antecedência. Esse pedido é feito por meio de um contrato charter, no qual o armador se compromete a disponibilizar capacidade no navio para aquela data especifica. Esse contrato garante tanto o transporte da carga à empresa produtora quanto a renda que o armador procura. Formato navio liner No formato navio liner, o armador se associa a uma conferência de frete, ou seja, a uma associação de armadores com uma carteira de clientes e uma rota pré-definida. Essa conferência também é conhecida como companhia de navegação. Essa associação de armadores oferece escritórios, agente de cargas e representantes comerciais, além de um grupo de clientes que frequentemente precisa transportar suas cargas. As embarcações usadas nesse formato são aquelas construídas para o transporte de carga geral. 63 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Formato navio outsider Nesse formato, o navio segue por uma rota preestabelecida apenas por meio dos portos de destinos da carga que transporta, ou seja, não há a obrigação de passagem por todos os portos. Dessa forma, o armador explora comercialmente a rota que lhe é conveniente. 3.3 Unitização de carga Keedi (2007b) explica que as cargas podem ser divididas em duas categorias: a granel e geral e podem ser transportadas de três maneiras: a granel, individualmente ou unitizadas (agrupadas). • a granel: como vimos anteriormente, o transporte de cargas como produtos agrícolas, petróleo, gases etc. é feito pela embarcação direta em navios graneleiros; • individualmente: essa forma de transporte engloba cargas em geral, tais como carros, caixas, tambores, máquinas etc.; • unitizadas: com o objetivo de facilitar o manuseio, movimentação, armazenagem e transporte da mercadoria, os volumes são consolidados em pallets e/ou contêineres. As vantagens da unitização são: – redução das avarias e roubos de mercadorias; – redução no tempo de operação de embarque e desembarque; – padronização internacional e redução do número de volumes a manipular; – redução dos custos de embarque e desembarque; – redução do custo com embalagens. O custo de frete é calculado com base no peso da mercadoria. Para as mercadorias soltas a granel, o peso líquido é igual ao peso bruto, pois não há embalagem. Porém, para as mercadorias embaladas, o peso líquido é diferente do peso bruto porque as caixas de papelão, latas, engradados etc. representam uma parte do peso bruto. No caso de carga unitizada em pallet ou skid, por sua vez, essa embalagem fará parte do peso bruto. Quando usamos o contêiner, devemos levar em consideração seu peso, o que leva ao fato de o peso bruto da mercadoria unitizada em contêiner ser o peso do contêiner em si somado ao peso bruto da mercadoria, isto é, o peso do produto unitizado mais pallets. Portanto, quando usamos um contêiner, o peso bruto da mercadoria passa a ser o peso líquido para o contêiner e o peso bruto do contêiner é o preso bruto da mercadoria mais o peso do próprio contêiner. 64 Unidade II Portanto temos: • preso bruto = peso do produto + embalagem; • peso líquido = peso do produto – embalagem; • peso bruto do contêiner = peso do contêiner (tara) + peso do produto + pallet. Exemplos de aplicação O que é a unitização de carga e qual sua finalidade? Cite pelo menos três vantagens da unitização de carga. 3.3.1 Pallet Pallet é uma base usada para acomodar a carga e serve de apoio aos produtos que serão unitizados. As mercadorias exportadas são unitizadas (“palletizadas”) com objetivo de minimizar o custo de transporte e facilitar a movimentação. Os pallets podem ser feitos de diversos materiais, tais como papelão, madeira, metal, plástico etc., e existe uma grande variedade de modelos. Antes da escolha do material e do modelo do pallet, é preciso saber qual será sua finalidade, ou seja, o pallet ficará no chão ou em uma prateleira, será ou não movimentado, qual peso irá suportar etc. Figura 33 – Pallets Podemos encontrar pallets de diversos tamanhos e com uma variação de duas ou quatro cavidades. 65 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Os pallets usados em armazéns são reutilizados diversas vezes, porém, os pallets utilizados no comércio exteriornão retornam ao ponto de origem. Figura 34 – Tipos de pallets É possível visualizar como os pallets são úteis em empilhamentos na figura a seguir: Figura 35 – Empilhamento de caixas sobre os pallets Exemplo de aplicação O que é pallet e qual sua utilidade? 3.3.2 Certificado de fumigação e pallets de plástico Os pallets utilizados na exportação são similares aos usados no mercado local, no entanto, por medidas fitossanitárias, os governos exigem que os pallets de madeira passem por um tratamento químico. Esse tratamento tem a finalidade de eliminar seres vivos que possam estar presentes na madeira usada na construção do pallet, o que previne a proliferação de pragas e doenças no país de destino. Esse tratamento pode ser feito por ar quente ou por produto químico: 66 Unidade II • HT (ar quente forçado): nesse procedimento, os pallets são submetidos a altas temperaturas por tempo suficiente à eliminação de quaisquer pragas endêmicas existentes na madeira; • MB (fumigação com brometo de metila): esse procedimento é o mais utilizado no momento, contudo, os produtos nele usados afetam a camada de ozônio. Assim, por ser uma técnica maléfica à natureza, os países têm até 2015 para se ajustar a outros tratamentos químicos. O uso de pallets de plásticos no comércio exterior elimina a necessidade de tratamento na madeira, entretanto, seu custo e a padronização dos tamanhos são pontos que devem ser avaliados, já que o custo do pallet de plástico, por exemplo, é significativamente maior do que o do pallet de madeira. Por esses motivos, a utilização dos pallets de plástico demandariam uma logística reversa de forma a possibilitar que eles fossem reutilizados, já que, além de seu custo, há seu habitual descarte após o uso. Figura 36 – Modelo do certificado de tratamento químico 67 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Exemplo de aplicação Você saberia explicar por que na exportação os pallets de madeira têm de passar por um tratamento químico? 3.3.3 Fixação da carga A boa fixação de uma carga sobre o pallet é fundamentalmente importante, pois a carga será movimentada e a fixação ajudará a protegê-la e evitar que os volumes sejam perdidos ou furtados. A fixação é feita por meio de cintas, redes, lonas ou filmes de metal ou plástico. No caso dos filmes plásticos, além de proteger e fixar a carga, eles a impermeabilizam. Observação O processo de stretch (esticar) usa filme plástico para envolver o pallet, as caixas de mercadorias ou até mesmo o produto em si. Esse processo pode ser manual ou automático. Figura 37 – Máquina usada para esticar filmes plásticos Observação Shrink (encolher, contrair) é um processo no qual um saco é usado para envolver o pallet e, em seguida, este é colocado em uma máquina que ajusta o saco à carga. É importante acrescentar que o processo de shrink também pode ser feito manualmente. 68 Unidade II Figura 38 – Máquina usada para contrair o saco plástico Exemplo de aplicação Por que uma carga deve ser bem fixada sobre o pallet? 4 CONTÊINER Keedi (2007b, p. 45) ilustra que o “contêiner (...) pode ser definido como uma caixa de metal, contendo portas e travas para seu fechamento” e é feito geralmente de materiais resistentes como o aço, por exemplo. Os contêineres são construídos de modo a serem intercambiáveis entre os navios e os veículos que transportam mercadorias por rodovias, ferrovias e empilhadeiras. Eles comportam uma grande variedade de mercadorias e podem ser fechados, sem tetos, refrigerados etc. As unidades de medidas usadas são feet (pés) e inch (polegadas). Assim, como unidades de conversão, temos que um feet equivale à 30,48 cm e uma polegada equivale a 2,54 cm. Existem contêineres de vários tamanhos, mas os mais usados são os de 20’ (vinte pés), 40’ e 40’ HC (high cube). O tamanho de um contêiner de 20’ equivale à medida de cerca de seis metros de comprimento e o contêiner de 40’ mede o dobro, ou seja, 12 metros de comprimento. 69 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Figura 39 – Contêiner de 20’ NYK Logistics Observação A Nippon Yusen Kaisha (NYK Line) acatou os padrões estabelecidos pela ISO e adotou como base as medidas do contêiner 20’. Com relação à altura, para o contêiner de 20’ a altura é de 8’ e para o contêiner de 40’ a altura é de 8’ 6”, o que equivale a cerca de 2,5 m. No caso do HC (high cube), a altura é de 9’6”, cerca de 2,92 m. A largura, por sua vez, é sempre fixa em 8’ devido à padronização dos navios e dos veículos usados nos transportes. A capacidade volumétrica dos contêineres é medida em metros cúbicos e/ou pés cúbicos (cubic feet), sendo que um metro cúbico equivaleria a 35,31 pés cúbicos. Quanto ao peso, temos o quilo do sistema métrico e a libra do sistema inglês, sendo que um quilo equivale a 2,2046 libras e uma libra é igual a 453,6 gramas. Figura 40 – Contêineres de 40’ 70 Unidade II Lembre-se que o contêiner tem de respeitar o peso máximo que vem marcado em sua porta. Assim, para um contêiner de 20’, o peso máximo é de cerca de 20 a 27 toneladas com carga e, para um de 40’, o peso a ser suportado varia de 31 a 36 toneladas. Outro ponto a ser considerado é que muitas vezes o limitante de peso não é a capacidade máxima que o contêiner suporta, mas sim o limite de peso que é permitido transitar nas rodovias, assim, geralmente os contêineres não são usados em sua capacidade máxima. Para os produtos que precisam de controle de temperatura, o reefer (frigorífico) deve ser usado, uma vez que é possível manter a temperatura da mercadoria controlada. As paredes do reefer são isoladas e alimentadas por energia elétrica e seu sistema acoplado permite o controle de temperatura, que pode atingir tanto 25 ºC positivos quanto 25 ºC negativos. Figura 41 – Contêiner reefer Para outras cargas, como é o caso do café, é necessário optar-se pelos contêineres com abertura superior, para permitir a ventilação da mercadoria. Figura 42 – Ventilação em contêiner Há também o contêiner conhecido como slide open top (sem teto), cujo fechamento superior é feito por uma lona fixada por ganchos na parte externa do contêiner. Além da lona, travessões são usados nesse fechamento para dar mais firmeza ao contêiner. 71 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Os contêineres slide open top são estufados na parte superior com a ajuda de guindastes. Esse recurso é muito utilizado para cargas com excesso de altura. Todavia, o ideal é que a carga não ultrapasse a altura dos contêineres, visto que eles serão empilhados um sobre o outro. Atualmente, há uma nova versão do contêiner slide open top: o sliding open top (teto aberto deslizante). O contêiner tanque, feito em aço inox, é usado para o transporte de produtos químicos, alimentos, molho de soja, óleos vegetais, bebidas etc. Esse tipo de contêiner garante uma maior integridade aos alimentos. Figura 43 – Contêiner tanque O flat rack container é um contêiner sem teto e sem as laterais maiores. Ele possui apenas o piso e as laterais menores e é usado para comportar cargas grandes, com excesso nas laterais e na altura. Dependendo das características das cargas nesse tipo contêiner, elas poderão ou não ser embaladas com lona. Outro ponto importante a ser remarcado é que com esse tipo de contêiner o empilhamento não pode ser feito. Uma outra versão do flat rack container apresenta apenas quatro cantos e é usada para o transporte de veículos pesados. O profissional de logística deve adequar o contêiner à mercadoria a ser transportada. Por exemplo, para cargas mais pesadas, o contêiner de 20’ pode ser ideal, por outro lado, para cargas mais volumosas, pode ser que a maneira ideal de acomodação dos produtos seja em um contêiner de 40’. A seguir, detalharemos como as cargas são colocadas e retiradas dos contêineres. 72 Unidade II Tabela 5 – Capacidade por contêiner marítimo Tipo Dimensões Largura (m) Comprimento (m) Altura (m) Capacidade cúbica (m3) Capacidade de carga (ton) Tara (ton) 20’ Container20 dry Externa Interna Porta 2,438 2,352 2,34 6,06 5,9 – 2,59 2,39 2,283 33 28,15 2,33 40’ Container 40 dry Externa Interna Porta 2,438 2,352 2,34 12,192 12,03 – 2,59 2,39 2,275 67,7 28,7 3,8 40’ Container 40 HC Externa Interna Porta 2,438 2,352 2,34 12,192 12,03 – 2,896 2,695 2,585 76 26,48 4 20’ Flat rack 20 Externa Interna Porta 2,438 2,352 – 6,06 5,9 – 2,59 2,31 – 32 29,5 3 40’ Flat rack 40 Externa Interna Porta 2,438 2,41 – 12,192 12,02 – 2,59 1,955 – 56,6 40,05 4,95 20’ Open top 20 Externa Interna Porta 2,438 2,34 2,32 6,06 5,89 – 2,59 2,36 2,25 32,6 21,7 2,3 40’ Flat rack 40 Externa Interna Porta 2,438 2,41 – 12,192 12,02 – 2,59 2,59 – 56,6 40,05 4,95 20’ Open top 20 Externa Interna Porta 2,438 2,34 2,32 6,06 5,89 – 2,59 2,36 2,25 32,6 21,7 2,3 40’ Open top 40 Externa Interna Porta 2,438 2,352 2,32 12,192 12,024 – 2,59 2,38 2,25 67,3 28,28 4,2 20’ Refrigerated 20 Externa Interna Porta 2,438 2,352 2,32 6,06 5,45 – 2,59 2,26 2,25 28,1 21,8 3,2 40’ Refrigerated 40 Externa Interna Porta 2,438 2,285 2,29 12,192 11,57 – 2,59 2,25 2,265 67,3 26,28 4,2 20’ Ventilated Externa Interna Porta 2,438 2,34 2,34 6,06 5,9 – 2,59 2,39 2,27 32,99 22,05 2,35 Fonte: Associação Brasileira das Empresas de Transporte Internacional (Abreti). 4.1 Ova e desova Os termos ova ou estufagem são usados para se referir à colocação da carga no contêiner. O termo em inglês para esse processo é stuffing. Para o processo de retirada da mercadoria de dentro do contêiner, usamos o termo desova ou, em inglês, unstuffing ou stripping. 73 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Keedi (2007a) afirma que, no processo de estufagem, devemos considerar as características da mercadoria e seu peso. No caso de estufar-se várias mercadorias diferentes, é preciso verificar se realmente elas podem ser consolidadas no mesmo contêiner, já que não é possível consolidar produtos químicos tóxicos com alimentos, por exemplo. A questão do espaço requer um pouco mais de atenção, visto que muitas mercadorias são volumosas. Assim, o conjunto peso e espaço devem ser cuidadosamente analisados. Na estufagem de uma carga geral, é fundamental ocupar cada espaço disponível no contêiner, pois, se deixarmos espaços vagos entre as mercadorias, com a movimentação do contêiner elas podem ser avariadas. Desse modo, é de extrema necessidade certificar que a carga não está solta e, para isso, ela deve ser escorada e os espaços vazios devem ser preenchidos com materiais adequados. Outro fator a ser checado na estufagem é o equilíbrio, ou seja, quando estamos consolidando diferentes tipos de carga, as pesadas devem ir embaixo e as leves devem ir em cima. No caso de cargas perigosas, deve-se respeitar as normas e regulamentações correspondentes a elas. O dono do contêiner é responsável por entregá-lo em ordem e é de costume que o armador verifique as condições de uso do contêiner no momento de sua entrega ao embarcador. No caso do contêiner reefer, uma inspeção pré-embarque é feita para verificar se o contêiner está em condições de transportar a carga. É de responsabilidade do comerciante cuidar e devolver o contêiner a seu dono em boas condições. 4.1.1 Locais apropriados e responsabilidade A estufagem e a desova do contêiner deverão ser feitas em locais pré-acordados entre o armador e o embarcador ou consignatário. Esses locais são definidos entre as partes na reserva da praça, ou seja, no momento da compra do espaço no navio para a realização do transporte. Nesse momento, os custos e a responsabilidade do serviço também são negociados. Quando a estufagem e a desova são feitas no armazém, no pátio (também conhecido como container yard – CY) ou em locais disponibilizados pelo exportador e o importador, o termo usado em inglês é house (casa). Quando elas são feitas no porto ou cais (também conhecido como container freight station, CFS), o termo usado em inglês é pier (porto). Assim, há as combinações house to house, house to pier, pier to pier e pier to house. • house to house: a estufagem é feita nas dependências do exportador e a desova é feita nas dependências do importador; • house to pier: a estufagem é feita nas dependências do exportador e a desova é feita no porto; • pier to pier: tanto a estufagem como a desova são feitas no porto; • pier to house: nesse caso, a estufagem é feita no porto e a desova, na dependência do importador. 74 Unidade II No que diz respeito à responsabilidade pela estufagem e desova, ela pode ser tanto do importador como do exportador ou do armador. O termo FCL é utilizado quando essa responsabilidade é do importador e do exportador e o termo LCL é usado quando ela é do armador. A descrição dessas siglas será feita posteriormente, no item sobre ocupação do contêiner. 4.2 Conhecimento de embarque O conhecimento de embarque marítimo, também conhecido pelo termo em inglês bill of lading (B/L), é um documento emitido e assinado pelo armador, proprietário ou agente do armador e funciona como um comprovante de que a carga foi embarcada. Geralmente, esse documento é composto por três vias originais que são emitidas tanto para uso no desembaraço da mercadoria quanto para uso no banco. Dados do exportador Dados do importador Detalhamento, quantidade de volumes, descrição do item, peso bruto e dimensões Classificação Figura 44 – Modelo do certificado de embarque B/L 75 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO A partir da análise do exemplo de B/L ilustrado anteriormente, é possível notar que é preciso conter nele as seguintes informações: • nome e endereço do exportador; • nome e endereço do importador; • local de embarque; • local de desembarque; • quantidade, marca e espécie de volumes; • tipo de embalagem; • descrição da mercadoria; • classificação (SH, NCM ou Naladi); • peso bruto; • peso líquido; • valor da mercadoria; • dimensão e cubagem dos volumes; • valor do frete; • forma de pagamento do frete: freight prepaid (frete pago) ou freight collect (frete a pagar); • a descrição das condições em que a mercadoria foi embarcada ou recebida: clean on board (embarque sem restrições ou ressalvas à mercadoria) ou received in apparent good order and conditions (mercadoria recebida aparentemente em ordem e em boas condições). Observação Os conhecimentos de embarque são sempre emitidos a partir de termos em inglês, assim, é fundamental que o profissional de logística se familiarize com esses termos. 76 Unidade II 4.3 Termos e definições Explicaremos neste tópico alguns termos usados no embarque marítimo e suas definições de acordo com o que aponta o teórico Keedi (2007a). Também conhecido pelo termo em inglês owner, o armador é o responsável por transportar todos os tipos de carga de um lugar para outro. Não é necessário que ele seja o dono do navio, ou seja, o armador pode operar com navios alugados, desde que os equipe com tripulação e maquinário. Além disso, o armador precisa sempre registrar os navios, sendo que esse registro pode ser de outra nacionalidade. A proveniência de um navio depende de seu país de registro. Há algumas nações que facilitam esse registro, tais como Libéria, Panamá, Chipre etc. Essa variedade de registros (ou bandeiras) dá maior flexibilidade ao armador, pois há países que exigem transporte de mercadoria por navios de uma origem específica, a fim de reverter o valor pago de frete para o país importador, já que isso eleva a reserva de divisa. O pequeno armador, também chamado de NVOCC – non-vessel operating common carrier (transportador não operador de navio), é o consolidador e desconsolidador da carga. Sua conveniência reside no fato de que o NVOCC angaria e consolida as cargas e entrega o contêiner lacrado ao armador. O NVOCC emite um conhecimento para cada um dos seus clientes e recebe apenas um do armador. Além disso, proporciona aos seus clientes um controle absoluto sobre as cargas e é um parceiro ideal para o pequeno embarcador ou consignatário.O proprietário é o dono do navio, ou seja, aquele cujo nome está no registro da embarcação, e o consignatário, que também atende pelos termos em inglês receiver ou consignee, é o proprietário da carga ou um representante do dono dela. A agência marítima é o elo entre o armador, o cliente, o navio, a administração portuária, a alfândega, a autoridade governamental e o sindicato. Essa agência providencia a venda do espaço do navio, planeja o embarque e o desembarque, recebe o frete e paga as despesas de responsabilidade do armador. O despachante aduaneiro, por sua vez, é o responsável pelo desembaraço da carga no porto e pelo seu carregamento e descarregamento. Já o embarcador, também conhecido pelo termo em inglês shipper, é aquele que efetua o embarque da carga e deve verificar suas condições, a quantidade de volumes e a identificação e documentação da mercadoria. O corretor, também chamado de broker, é autorizado pelo armador a negociar a venda de espaço no navio e as operadoras portuárias são empresas credenciadas junto às autoridades portuárias e encarregadas da estiva, desestiva e capatazia das mercadorias. O consolidador de carga é o encarregado da consolidação e da unitizarão dos produtos e é ainda o executor da logística de transporte. 77 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Muito presente nos Estados Unidos e na Europa, o freight forwarder é um especialista na área de logística internacional que opera de forma globalizada, ou seja, sua atuação é ramificada em vários países. O freight forwarder substitui o embarcador e o consignatário e também opera como despachante, fazendo todos os trâmites de despacho tanto na importação quanto na exportação. Quanto à nomenclatura relacionada aos contêineres, temos que, quando eles são utilizados em sua capacidade total, a expressão usada em inglês é full container load (FCL). Quando não estão sendo usados completamente, a expressão empregada é less than a container (LCL). Como de modo geral os contêineres são de propriedade do armador, o atraso na devolução de um contêiner gera uma multa diária conhecida como demurrage. Na retirada do contêiner, o importador assina um termo de responsabilidade que especifica o prazo e as condições de devolução e a multa caso os termos não sejam cumpridos. A multa cobrada ao exportador é denominada detention e consta da retenção do contêiner cheio para embarque por um prazo além do acordado. Muitas vezes a detention é chamada também de demurrage. Os valores da multa dependem dos cenários de oferta e procura. Como o armador precisa de muitos contêineres para viabilizar sua operação pelo mundo, as multas costumam ser muito altas. Resumo Nesta unidade, vimos que cerca de 80% a 90% do comércio internacional é feito por meio do transporte marítimo. Entre as vantagens desse tipo de transporte, temos que os custos são menores e as quantidades transportadas são maiores, o que se contrapõe à desvantagem do transit time, ou seja, o tempo de transporte de mercadorias por navios é maior se comparado ao transporte aéreo. Aprendemos também que os Incoterms delimitam as responsabilidades, os riscos e os custos tanto do importador como do exportador e, em seguida, nos familiarizamos com os vários tipos de navios, como, por exemplo, os navios roll-on roll off, usados no transporte de veículos motorizados, e os navios graneleiros, para o transporte de grãos. Além disso, detalhamos os tipos de contêineres, como unitizar uma carga e o como é feita a estufagem e a desova de um contêiner. Por fim, tivemos a oportunidade de aprender sobre o conhecimento de embarque (B/L) e sua importância para o importador e o exportador e tomar ciência dos muitos termos e definições usados cotidianamente pelos profissionais de logística. 78 Unidade II Exercícios Questão 1 (Enade 2005). Uma empresa de manufatura está avaliando uma proposta de parceria para expandir-se no mercado internacional. Na avaliação da proposta, o engenheiro de produção da empresa ficou responsável pela análise da nova cadeia de suprimento (supply chain) que se formaria. Tendo a situação hipotética acima como referência, é correto o engenheiro de produção afirmar que: A) Produtos semiacabados vindos de outras unidades de fabricação própria não fazem parte dos fluxos diretos de logística. B) A importância dos fluxos reversos para a reciclagem de produtos é irrelevante no mercado internacional de produtos manufaturados. C) Uma característica básica a ser respeitada é a exigência de que os membros de cadeias de suprimento internacional tenham suas atividades gerenciadas como se fossem entidades separadas. D) A contratação de um operador logístico (thirdparty logistics) é livre de riscos para o empreendimento. E) Os Incoterms apontam os custos, os riscos e quem é o responsável pelo que e até que ponto. Resposta correta: alternativa E. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: em um processo de produção tradicional, matérias-primas são transformadas gradativamente em produtos por um ou mais segmentos industriais ao longo de uma cadeia de empresas. O produto assim obtido chega aos consumidores finais pelos canais de distribuição. Esse caminho é denominado fluxo direto ou tradicional de produtos. Produtos semiacabados, vindos de outras unidades de fabricação própria, fazem parte deste fluxo direto de logística, pois também participam dessa cadeia. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a importância dos fluxos reversos para a reciclagem de produtos é relevante no mercado internacional de produtos manufaturados. Existem países e mercados que não negociam produtos cujas origem e “certificação verde” não sejam apresentadas. A certificação verde garante que a fabricação, o transporte e o manuseio do produto e de seus componentes e matérias-primas não tenham comprometido ou afetado o meio ambiente ou as boas práticas de gestão do trabalho. 79 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO C) Alternativa incorreta. Justificativa: a visão logística mais apurada exige a união de fabricantes, atacadistas e varejistas para promover a competitividade da cadeia de suprimentos. A integração das atividades entre eles viabiliza a coordenação dos fluxos correspondentes às comunicações e às necessidades materiais para todos (Chaves, 2008). D) Alternativa incorreta. Justificativa: segundo Brasiliano (2008), o produto certo, na hora certa e no local desejado, conforme os requisitos do cliente, são fatores que indicam a capacidade logística da empresa. Em função dos riscos existentes no transporte de cargas, para garantir a capacidade logística da empresa dentro de um controle adequado de prevenção de danos, existe a necessidade de um gerenciamento de riscos que impeça ou minimize as perdas que o empreendimento possa sofrer no aspecto logístico se as suas cargas forem sinistradas. A contratação de terceiros não está livre de riscos, pois a empresa terceirizada também está sujeita aos riscos inerentes ao transporte de cargas: ela também deve possuir um gerenciamento de riscos. E) Alternativa correta. Justificativa: os Incoterms consistem no conjunto de regras que definem os direitos e os deveres de importadores e exportadores no que se refere à entrega e ao recebimento dos produtos. Estabelecem a contratação de seguro e identificam de quem é a obrigação alfandegária. Definem onde deve ser entregue a mercadoria, quem paga pelo frete e quem é o responsável pela contratação do seguro. Questão 2. No Incoterm relativo à figura a seguir, o vendedor entrega as mercadorias quando elas transpõem a murada do navio no porto de embarque. Nesse caso: • os custos do frete relativo ao transporte até o porto de destino ficam a cargo do vendedor; • os riscos de perdas ou os danos às mercadorias após o momento da entrega pelo vendedor são responsabilidade do comprador. Vale notar que o termo em questão, indicado por X, pode ser usado apenas para transporte aquaviário (marítimo ou hidroviáriointerior). 80 Unidade II Vendedor Risco Custo Alfândega origem Terminal de carça Terminal de carga Anfândega destino Dependências comprador Figura Disponível em: http://www.fatecpg.com.br/lists/avisos/attachments/ 211/incoterms_2000.pdf. Acesso em: 29 ago. 2020. Com base nas informações fornecidas e nos seus conhecimentos, é correto afirmar que o Incoterm X em questão é: A) FCA (Free carrier). B) FOB (Free on board). C) CIF (Cost, insurance and freight). D) DDP (Delivered duty paid). E) CFR (Cost and freight). Resposta correta: alternativa E. Análise da questão No CFR (Cost and freight), temos as características a seguir. • As mercadorias são entregues pelo vendedor no instante em que a carga cruza a amurada do navio no porto de embarque. • Os custos relativos à colocação das mercadorias no navio ficam a cargo do vendedor. • Os custos relativos ao frete até o porto de destino ficam a cargo do vendedor. • O desembaraço das mercadorias para exportação fica a cargo do vendedor. 81 LOGÍSTICA PARA IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO • Os riscos de perdas ou os danos às mercadorias são transferidos para o comprador assim que as mercadorias cruzam a murada do navio. • A cláusula é aplicável somente ao para transporte aquaviário (marítimo ou hidroviário interior).
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