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Retocolite Ulcerativa - RCU DIFERENÇA ENTRE AS PRINCIPAIS DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS Doença inflamatória intestinal (DII) é um termo amplo que designa a doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa (RCU), caracterizadas pela inflamação crônica do intestino. Essas doenças diferem quanto à localização e ao comprometimento das camadas do intestino, mas também pela fisiopatogenia. Diversos fatores, incluindo fatores ambientais (expossoma), microbiota intestinal (microbioma) e imunidade do hospedeiro (imunoma), interagem para iniciar e perpetuar a inflamação da mucosa gastrointestinal em indivíduos predispostos geneticamente (genoma/epigenoma). No entanto, existe uma ampla e complexa interação, ainda pouco compreendida. A doença inflamatória intestinal, que abrange a doença de Crohn e a colite ulcerativa, é um quadro recidivante caracterizado pela inflamação crônica em vários locais do trato GI, que resulta em diarreia e dor abdominal. A inflamação resulta de resposta imunitária celular na mucosa gastrointestinal. A etiologia precisa de doença inflamatória intestinal é desconhecida, mas evidências sugerem que a flora intestinal normal desencadeia uma reação imunitária anormal em pacientes com predisposição genética multifatorial (talvez envolvendo barreiras epiteliais anormais e defesas imunitárias da mucosa). Não se identificou qualquer fator dietético, ambiental ou infeccioso. A reação imunitária envolve a liberação dos mediadores inflamatórios, incluindo citocinas, interleucinas e FNT. Embora a doença de Crohn e a colite ulcerativa sejam similares, elas podem ser diferenciadas em muitos casos. Cerca de 10% dos casos de colite não são inicialmente distinguíveis e são denominados não classificados; se um espécime patológico cirúrgico não pode ser classificado, ele é chamado de colite indeterminada. O termo colite se aplica somente às doenças inflamatórias do cólon (p. ex., colite ulcerativa, granulomatosa, isquêmica, por radiação e infecciosa). A colite espástica (mucosa) é um termo inadequado aplicado a uma doença funcional, síndrome do intestino irritável. Manifestações extraintestinais Doença de Crohn e colite ulcerativa afetam outros órgãos além do intestino. A maioria das manifestações extraintestinais é mais comum na coli te ulcerativa e colite de Crohn do que nos casos de doença de Crohn limitada ao intestino delgado. As manifestações extraintesti nais da doença inflamatória intestinal são caracterizadas de 3 maneiras: 1. Doenças que geralmente acompanham (vêm e vão) surtos de doença inflamatória intestinal: essas doenças incluem artrite periférica, episclerite, estomatite aftosa e eritema nodoso. A artrite tende a envolver grandes articulações e ser migratória e intermitente. Uma ou mais doenças concomitantes aparecem em mais de um terço dos pacientes hospitalizados com doença inflamatória intestinal. 2. Doenças que claramente estão associadas com doença inflamatória intestinal, mas aparecem de modo independente da atividade da doença inflamatória intestinal: essas doenças incluem espondilite anquilosante, sacroileíte, uveítepioderma gangrenoso e colangite esclerosante primária. A espondilite anquilosante é mais comum nos pacientes com doença inflamatória intestinal com antígeno HLA-B27. A maioria dos pacientes com envolvimento da coluna ou do sacroilíaco tem evidência de uveíte e vice-versa. A colangite esclerosante primária, que é um fator de risco de câncer do trato biliar, está fortemente associada à colite ulcerativa ou colite de Crohn. A colangite pode aparecer antes ou concomitantemente com doença intestinal ou mesmo 20 anos depois da colectomia. A doença hepática (p. ex., esteatose hepática, hepatite autoimune, pericolangite e cirrose) aparece em 3 a 5% dos pacientes, embora alterações mínimas da função hepática sejam mais comuns. Algumas dessas condições (p. ex., colangite esclerosante primária) podem preceder a doença inflamatória intestinal em muitos anos e, quando diagnosticadas, devem ser seguidas de investigação imediata para eventual doença inflamatória intestinal associada. 3. Doenças que são consequências da fisiologia intestinal rompida: essas doenças ocorrem principalmente na doença de Crohn grave do intestino delgado. A má absorção pode ser secundária a ressecções ileais extensas, causando deficiências de vitaminas solúveis em gordura, vitamina B12 ou minerais, resultando em anemia, hipocalcemia, hipomagnesemia, distúrbios de coagulação e desmineralização óssea. Em crianças, má absorção retarda o crescimento e desenvolvimento. Outras alterações incluem cálculos urinários secundários ao excesso de absorção do oxalato da dieta, hidroureter e hidronefrose secundários à compressão pelo processo inflamatório intestinal, cálculos biliares secundários à falha de reabsorção de sais biliares pelo íleo inflamado e amiloidose secundária ao longo processo inflamatório e supurativo. A doença tromboembólica pode ocorrer como resultado de múltiplos fatores nas 3 categorias. – https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/doen%C3%A7a-inflamat%C3%B3ria-intestinal/doen%C3%A7a-de-crohn https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/doen%C3%A7a-inflamat%C3%B3ria-intestinal/colite-ulcerativa https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-oftalmol%C3%B3gicos/doen%C3%A7as-da-conjuntiva-e-esclera/episclerite https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-odontol%C3%B3gicos/sintomas-de-problemas-dent%C3%A1rios-e-orais/estomatite-aftosa-recorrente https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-dermatol%C3%B3gicos/hipersensibilidade-e-doen%C3%A7as-inflamat%C3%B3rias-da-pele/eritema-nodoso https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-dos-tecidos-conjuntivo-e-musculoesquel%C3%A9tico/doen%C3%A7as-articulares/espondilite-anquilosante https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-oftalmol%C3%B3gicos/uve%C3%ADte-e-dist%C3%BArbios-relacionados/vis%C3%A3o-geral-da-uve%C3%ADte https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-dermatol%C3%B3gicos/hipersensibilidade-e-doen%C3%A7as-inflamat%C3%B3rias-da-pele/pioderma-gangrenoso https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/dist%C3%BArbios-da-ves%C3%ADcula-biliar-e-ductos-biliares/colangite-esclerosante-prim%C3%A1ria-cep https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/dist%C3%BArbios-da-ves%C3%ADcula-biliar-e-ductos-biliares/colangite-esclerosante-prim%C3%A1ria-cep https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/s%C3%ADndromes-de-m%C3%A1-absor%C3%A7%C3%A3o/vis%C3%A3o-geral-da-m%C3%A1-absor%C3%A7%C3%A3o DC: Pode atingir da boca ao ânus RCU: Limitada ao intestino grosso DC: Mais comum ocorrerem dores ao redor do umbigo e na parte inferior direita do abdômen. RCU: Mais comum ocorrerem dores nas laterais altas do abdome e na parte inferior esquerda do abdômen. ] DC: Pouco sangramento RCU: Sangramento frequente. DC: Inflamação mais profunda, atingindo todas as camadas da parede intestinal RCU: A inflamação atinge a mucosa e submucosa do intestino. DC: A Inflamação pode ser em partes descontinuadas do intestino. (uma área saudável e entremeada por uma área afetada pela doença) RCU: A inflamação inicia-se no reto e progride de forma contínua, podendo atingir todo o intestino grosso. DC: Comum ocorrer fístulas e/ou estenoses RCU: Comum ocorrerem pseudopólipos e abcessos. INTRODUÇÃO A retocolite ulcerativa (RCU) é uma doença inflamatória intestinal crônica caracterizada por episódios recorrentes de inflamação que acomete predominantemente a camada mucosa do cólon. A doença usualmente afeta o reto e também variáveis porções proximais do cólon, em geral de forma contínua, ou seja, sem áreas de mucosa normais entreas porções afetadas. Atinge preferencialmente a mucosa do reto e do colón esquerdo, mas, eventualmente, todo o colón. Caracterizada com mais frequência por diarreia com sangue. Sintomas extraintestinais, particularmente artrite, podem ocorrer. O risco de câncer de cólon a longo prazo é elevado em comparação com as pessoas não afetadas. O diagnóstico é por colonoscopia. O tratamento com 5- ácido aminossalicílico, corticoides, imunomoduladores, agentes biológicos, antibióticos e, ocasionalmente, cirurgia. FISIOPATOLOGIA É uma doença inflamatória sistêmica, de causa desconhecida e de natureza essencialmente autoimune e idiopática. Afeta predominantemente o cólon e o reto, resultando em diarreia crônica. Embora a associação entre doenças autoimunes seja conhecida, é rara a coexistência de retocolite e artrite reumatoide (AR). Obs: a artrite reumatoide acomete apenas as articulações sinoviais. Já a artrite clássica, pode acometer todas as articulações do corpo. A fisiopatologia desta doença se relaciona ao estabelecimento de um processo inflamatório crônico, cujo mecanismo de ativação não é conhecido, mas acredita-se que esteja relacionado a interação entre fatores ambientais e genéticos. A constante liberação de citocinas e outros mediadores químicos, juntamente com um ataque célula a célula, leva a uma constante agressão da mucosa, que a deixará marcada por pseudopólipos (área de mucosa íntegra, porém edemaciada, envolvida por áreas de ulceração). Nestes locais de mucosa, é comum a ocorrência de infecções por bactérias oportunistas da biota intestinal. Um dos mediadores químicos liberados e que pode provocar sérios danos à parede intestinal é o NO, este causa perda progressiva do tônus da musculatura já agredida pelo processo inflamatório, levando a condição conhecida como megacólon tóxico (o efeito tóxico é exercido pelas citocinas). Outra causa bastante comum do megacólon adquirido no Brasil é o megacólon chagásico, complicação mais frequente da doença de Chagas. A infecção ocasiona a destruição dos plexos mioentérico e submucoso, especialmente em seu componente parassimpático, levando ao surgimento de um obstáculo funcional à passagem das fezes. Apesar de difusas, as lesões predominam no reto e sigmóide, promovendo obstipação crônica. A principal característica da colite ulcerativa crônica idiopática é a perda de células caliciforme e o aparecimento de pseudopólipos. Ao que tudo indica, a RCU resulta de uma resposta imunológica exagerada da mucosa do colón a antígenos luminais, possivelmente microbianos, em indivíduos geneticamente predispostos. Fatores Ambientais Dieta A observação de que uma alimentação senta de leite poderia diminuir o índice de recidivas da doença fez com que se aventasse a possibilidade da participação de elementos da dieta na sua etiologia, possivelmente por meio da geração de antígenos na mucosa intestinal. Essa hipótese não foi comprovada. Outras substâncias, como as bebidas à base de cola, chocolate, açúcar refinado e dietas pobres em fibras o ricas em gorduras, como é o caso do chamado fast food, também têm sido relacionadas com a RCU, representando um universo de produtos utilizados na alimentação, que poderiam representar fatores de risco. ** Alguns autores argumentam que a substituição do leite materno por leite de vaca logo após o nascimento poderia acarretar o desenvolvimento de DII possivelmente por mecanismo de hipersensibilidade. Infecção Apesar de não ser possível identificar cepas bacterianas específicas da RCU, existe um grande número de bacteroides e enterobacteroides sp aderentes 4 mucosa TIOS segmentos cólicos comprometidos pela doença. Apendicectomia Estudos recentes demonstraram que indivíduos acometidos de apendicite ou linfadenite mesentérica na infância OU juventude têm, sim, menor na probabilidade de desenvolverem a doença. A explicação mais aceitável para este fato é que a resposta inflamatória evocada por estas doenças no passado induziria alterações imunológicas duradouras com efeito protetor contra RCU. Fatores genéticos, a flora e fatores constitucionais também parecem envolvidos. Fumo A RCU é 2 a 6 vezes mais frequente em não fumantes. Setenta e cinco por cento dos pacientes desenvolveram sua doença após pararem de fumar. Pacientes com RCU, fumantes intermitentes, têm reativação da doença em geral nos períodos em que não estão fumando. Os possíveis mecanismos pelos quais o fumo participaria na gênese da doença são: • Redução do fluxo sanguíneo na mucosa retal • Diminuição na produção de radicais livres • Diminuição na secreção de eicosanoides Alteração na aderência da camada de muco • Efeitos imunosupressores • Efeitos ansioliticos ** Estudos recentes confirmam o efeito protetor do fumo não só no surgimento da doença, mas também no seu curso clinico e no aparecimento de manifestações extraintestinais da doença. Fatores Genéticos Pesquisas que utilizam técnicas de amplificação de genoma para identificar "Locus" de suscetibilidade têm obtido êxito. Desta forma, foi possível identificar o gene IBD1 (Locus 1 da doença inflamatória) denominado grau NOD-2. Estudos populacionais confirmam a correlação entre este gene e a doença de Crohn. Na RCU, foi encontrado apenas um possível Locus chamado de IBD2 localizado no cromossomo 12, mas ainda carece de confirmação a sua ligação com a doença. Até hoje, foram identificados trinta Locus, e pelo menos 5 deles preenchem os critérios preestabelecidos de probabilidade de ligação com as doenças inflamatórias. Inúmeras evidências sugerem que realmente fatores genéticos estão envolvidos na etiopatogênese da RCU, dentre eles: • História familiar e ocorrência da doença em gêmeos, principalmente monozigóticos. • A associação com síndromes ou doenças comprovadamente genéticas. • A correlação com marcadores genéticos, tais como sistema HLA, autoanticorpos, entre outros. Fatores Imunológicos A associação entre RCU e outras doenças imunológicas, tais como uveíte, anemia hemolítica autoimune, eritema nodoso, lúpus eritematoso sistêmico, a presença de autoanticorpos anticólon no soro de pacientes com a doença, e a boa resposta terapêutica aos corticosteroides sugerem que a doença tem na sua etiologia um componente imunológico. Porém, a impossibilidade de reprodução da doença em animais de experimentação e a grande dificuldade em distinguir entre fenômenos imunológicos primários e secundários à inflamação bloqueiam o avanço das pesquisas. Sabemos, à luz dos conhecimentos atuais, que os principais elementos imunológicos envolvidos na patogênese da RCU são: a) o microbioma; b) o epitélio intestinal: e c) a resposta inflamatória. Microbioma O microbioma, ou flora intestinal, consiste em uma diversidade de microrganismos que afeta o desenvolvimento do sistema imune intestinal, fornece energia e modula o metabolismo energético. E adquirido ao nascimento, mas se altera rapidamente durante o primeiro ano de vida. No adulto, cada indivíduo tem uma população própria de flora fecal que é relativamente estável com o tempo, mas que flutua em resposta a fatores ambientais e na doença. Epitélio intestinal O epitélio da mucosa do intestino, na interface entre o microbiona e o tecido linfoide do sistema gastrintestinal, desempenha papel fundamental na formação de resposta imune da mucosa. As células da mucosa intestinal constituem uma barreira contra a entrada excessiva de bactérias e outros antígenos do lúmen para a circulação. A barreira mucosa intacta depende das junções intercelulares que ajudam a selar o espaço entre as células epiteliais adjacentes (espaço paracelular) e as junções firmes que constituem os elementos chaves para este selo. Resposta Inflamatória Lâmina própria da mucosa intestinal contém uma complexa populaçãode células imunes que controlam o equilíbrio entre as necessidades de tolerância imunológica em relação à flora com a necessidade de defesa contra patógenos; A característica principal do processo inflamatório na RCU é a pronunciada infiltração, na lâmina própria de células imunes inatas (neutrófilos; macrófagos, células dendríticas e células T (natural killer) e células adaptativas (B e T). O aumento do número destas células na mucosa acarreta aumento do fator de necrose alfa, da interleucina-1-B do interferon gama e de citocinas. O braço inato do sistema imune provê resposta inicial rápida secretando muco, peptídios antimicrobianos, imunoglobina A e outras proteínas. A seguir, entram em cena outras células como células T helper (Th1, Th2 e Th17) e outros subgrupos de células regulatórias como CD4. O resultado é a secreção de vários tipos de citocinas e interleucinas. Este complexo arsenal de armas imunológicas associado a não menos complexos componentes genéticos constitui sem dúvida a chave para entendermos a patogênese desta intrigante doença e a chance de intervenção terapêutica através de anticorpos monoclonais. Fatores Sociopsicossomáticos É universalmente aceito, hoje, que fatores emocionais e sociopsicossomáticos interferem com a motilidade gastrintestinal; com a função secretora; com a irrigação sanguínea das vísceras e com OS mecanismos imunológicos inflamatórios, provavelmente e mediados por neuro-hormônios, tais como VIP, glucagon, substância P entre outros. Todavia, em revisão recente de 138 trabalhos da literatura relativos à associação entre RCU e fatores psiquiátricos, encontrou-se que, em 130, existiam inúmeras falhas metodológicas, como amostragem insuficiente, falta de grupo-controle etc. Quanto mais falha metodológica havia, maior relação entre RCU e fatores a psiquiátricos. Por outro lado, todos os 7 trabalhos com metodologia científica adequada não demonstraram qualquer associação. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A sintomatologia da RCU é variável e depende da extensão e intensidade das lesões. O sintoma principal da RCU é a diarreia com sangue. Cerca de 90% dos pacientes apresentam hematoquezia na apresentação. O início da doença pode ser insidioso ou abrupto, e a evolução, em geral, crônica, com surtos de exacerbação intercalados com períodos de acalmia. • Diarreia: Inúmeras evacuações por dia, geralmente com fezes líquidas misturadas com sangue, muco e pus. • Dor em cólica no abdome (fase aguda) • Febre • Perda de peso • Mal-estar geral • Ttenesmo • Urgência evacuatória e exsudato mucopurulento nas fezes podem acompanhar o quadro. Diarreia com sangue de intensidade e duração variadas se alterna com intervalos assintomáticos. Em geral, uma crise começa discretamente, com urgência evacuatória crescente, discretas cólicas em hipogástrio e sangue e muco nas fezes. Alguns casos aparecem após uma infecção (p. ex., amebíase, disenteria bacilar). Quando a ulceração é confinada ao retossigmoide, as fezes podem ser normais ou duras e secas, mas a eliminação retal de muco com leucócitos e eritrócitos pode vir junto ou nos intervalos das evacuações. Sintomas sistêmicos estão ausentes ou são leves. Caso as ulcerações se estendam proximalmente, as fezes tornam-se mais amolecidas e o paciente pode apresentar > 10 evacuações por dia, geralmente com cólicas intensas e tenesmo significativo, de dia e de noite. As fezes podem ser aquosas e conter muco ou com frequência consistirem inteiramente em sangue e pus. Casos mais graves são acompanhados de sintomas sistêmicos como mal-estar geral, febre, anemia, anorexia, emagrecimento, e perda ponderal. A perda ponderal ocorre quando há maior gasto do que obtenção de calorias (por ingestão e absorção). Os sintomas tendem a variar conforme extensão da doença, evidenciando-se manifestações locais nos pacientes com proctite, enquanto pacientes com colite extensa apresentam usualmente febre, emagrecimento, perda sanguínea significativa e dor abdominal. Em até 10% dos casos a apresentação ocorre com manifestações extraintestinais (MEI). As MEI ocorrem entre 10 a 35% dos pacientes e podem apresentar comprometimento articular, cutâneo, hepatobiliar, oftalmológicas, hematológicas e influenciar no metabolismo ósseo. Elas podem ou não estar relacionadas à atividade inflamatória intestinal e em alguns casos apresentam sintomas mais severos do que os intestinais. Aqueles com diagnóstico de colangite esclerosante primária e RCU apresentam comportamento diferente dos demais, com maior risco de câncer colorretal e doença mais extensa. 75% dos pacientes irão apresentar sintomas intermitentes e completa remissão entre ataques Manifestações extraintestinais Artrite ou Artralgia. Geralmente, o envolvimento articular não produz deformações é migratório, assimétrico, ocorrendo preferencialmente articulações do joelho, quadris e tornozelos nas Envolvimento da Pele e mucosa oral ocorre em 4 a 20% dos pacientes. Na boca, as lesões são aftas e acompanham a atividade da doença intestinal. Caracteriza-se por lesões nodulares, avermelhadas, dolorosas, não ulceradas, com diâmetro de 1 a 5 cm, mais comum nas regiões anteriores da perna. Em alguns casos pode aparecer o pioderma gangrenoso. Surge em qualquer parte do corpo, sendo, entretanto, mais frequente nas áreas de maior trauma e de punção por agulhas. Manifestações oculares acometem 1 a 10% dos pacientes, sendo as mais comuns episclerite, uveite e irite. Os sintomas mais comuns são dor ocular, fotofobia, borramento de visão e cefaleia Envolvimento hepático é relativamente frequente. De 15 a 50% dos pacientes. Os prováveis mecanismos responsáveis manifestações extraintestinais são: • Imunocomplexos circulantes. • Antígenos bacterianos. • Crioproteínas circulantes. • Reações imunes que envolvem anticorpos contra antígenos de células epiteliais intestinais. Colite tóxica A colite tóxica ou fulminante se apresenta com diarreia súbita e violenta, febre acima de 40°C (104°F), dor abdominal, sinais de peritonite (p. ex., descompressão brusca presente) e profunda toxemia. Ocorre quando há ulcerações transmurais causam íleo e peritonite localizados. Dentro de horas ou dias, o cólon perde seu tônus muscular e começa a dilatar-se. Os termos megacólon tóxico e dilatação tóxica são desencorajados porque o estado inflamatório tóxico e suas complicações podem ocorrer sem um megacólon evidente (definido quando o diâmetro do cólon transverso > 6 cm durante uma exacerbação). A colite tóxica é uma emergência médica que costuma aparecer de modo espontâneo durante o curso da colite muito grave, mas pode ser precipitada por opioides ou fármacos antidiarreicos e anticolinérgicos. A perfuração do cólon aumenta a mortalidade de maneira significativa. CONDUTA DIAGNÓSTICA A despeito dos avanços no conhecimento genético dos fatores ambientais e imunológicos que participam da etiopatogênese da RCU, não existe nenhum marcador patognomônico da doença; desta forma, o diagnóstico é, em geral, feito por meio da avaliação conjunta do quadro clínico, dos exames laboratoriais, radiológicos, endoscópicos e histológicos. Os exames endoscópicos (colonoscopia ou retossigmoidoscopia) são parte fundamental do diagnóstico e classificação da doença. ATENÇÃO!!! A dosagem sanguínea de proteína C reativa (PCR) e a velocidade de hemossedimentação (VHS ou VSG) auxiliam na avaliação diagnóstica, mas podem não estar alteradas na doença distal (retite), e, portanto, não são recomendadas neste protocolo como forma de confirmação do diagnóstico. ANAMNESE A anamnese deve incluir informações detalhadas sobre: • Características das fezes (por exemplo, aquosas, sanguinolentas ou gordurosas. Também a consistência, cor, volume, frequência. • Frequência das crises de diarreia (contínua,intermitente). • Início (congênito, abrupto, gradual). • Duração dos sintomas (contínua, intermitente). • Presença de sintomas entéricos associados (por exemplo, náusea/vômito, febre, dor abdominal). • Histórico de ingestão de alimentos (por exemplo, alimentos crus/contaminados, intoxicação alimentar). • Condições predisponentes (por exemplo, hospitalização, uso de antibióticos, estado imunocomprometido). • Fatores epidemiológicos (história de viagem, exposição a alimentos contaminados, história de membros da família apresentando o mesmo quadro). • Presença de perda de peso (objetivamente mensurada). • Fatores agravantes (p. ex., dieta e estresse). • Fatores atenuantes (p. ex., dieta e medicações). • Investigação de doenças sistêmicas (intolerância à lactose, hipertireoidismo, DM, imunodeficiências, etc.) • Tabagismo • A caracterização de sintomas noturnos, de manifestações extraintestinais envolvendo boca, pele, olhos, articulações, episódios de abscessos perianais ou fissuras e fístulas anais também devem estar descritos na história da moléstia atual. EXAME FÍSICO Deve ser direcionado não Só para trato gastrointestinal, mas, sobretudo, a pesquisa de manifestações extraintestinais (aftas, pioderma, eritema nodoso, artrites, uveites). O exame físico deve avaliar: • O estado geral • Peso e Índice de Massa Corporal • Coloração de mucosas São comuns alterações relacionadas à desnutrição e anemia. No abdome, é importante observar a presença de cicatrizes cirúrgicas, dor à palpação, geralmente sem sinal de irritação peritoneal, exceto na presença de complicações e distensão. O exame da região perianal, à procura de fissuras, fístulas e abscessos, é fundamental para o diagnóstico da doença. Além disso, a detecção desse tipo de complicação auxilia na escolha adequada do tratamento. Nas formas leves e moderadas da doença, o exame, em geral, é normal. Sequência para exame: inspeção, ausculta, percussão e palpação. Atentar: Decúbito dorsal, Posição que relaxe a musculatura abdominal. Inspeção cicatrizes, estrias. movimentos peristálticos visíveis, veias dilatadas, hérnias. Se está simétrico e qual a sua formal Normal: abdome de forma globosa. Abdome protuberante é sinal de acúmulo de gordura som à percussão é normal, isto é timpânico! Atenção! Não realizar o exame com bexiga cheia ou logo após a alimentação. Observar reações do paciente: sinais faciais de dor ou desconforto. ■ Ausculta: verificar presença de ruídos intestinais ruídos hidroaéreos - som normal que se apresentam como borbulhamentos e cliques. ■ Percussão: normalmente timpânica, mas em alguns locais pode ser localizado sons maciços devido à presença de líquidos e fezes. Abdome protuberante: com flancos abaulados pode haver presença de líquido - ascite. Percussão apresenta submaciçez. Apendicite: normalmente a dor inicia-se perto do umbigo e se desloca para o quadrante inferior direito. A dor aumenta quando se pede para o doente tossir. ■ Palpação: superficial e profunda. Na superficial procurar por hipersensibilidade, resistência muscular e possível presença de massa abdominal. Já na palpação profunda, verificar os órgãos e definir massa já palpável. EXAMES COMPLEMENTARES A colite ulcerativa deve ser diferenciada da doença de Crohn ({blank} Diferenciação entre doença de Crohn e colite ulcerativa) e, mais importante, de outras causas de colite aguda (p. ex., infecção; em pacientes idosos, isquemia). Em todos os pacientes, coproculturas para patógenos entéricos devem ser realizadas e Entamoeba histolytica deve ser excluída pelo exame amostras frescas. Quando houver suspeita de amebíase pela epidemiologia ou história de viagem recente, sorologias e biópsias devem ser obtidas. História de uso anterior de antibióticos ou hospitalização recente geram a necessidade de pesquisa imediata de toxinas de Clostridium difficile. Pacientes de risco devem ser testados para HIV gonorreia, herpesvírus, clamídia e amebíase. Infecções oportunistas (p. ex., citomegalovírus, Mycobacterium avium- intracellulare) ou sarcoma de Kaposi também devem ser consideradas em pacientes imunossuprimidos. Em mulheres que usam anticoncepcionais orais, é possível uma colite induzida por contraceptivos; em geral, ela desaparece espontaneamente depois de interrompida a terapia hormonal. Teste de fezes para lactoferrina e calprotectina fecal pode ser benéfico na diferenciação de doença inflamatória intestinal de diarreia funcional. Sigmoidoscopia deve ser realizada, já que permite confirmação visual da colite e proporciona coleta de amostras diretamente para cultura e avaliação microscópica, assim como biópsias das áreas afetadas. Embora uma inspeção visual e biópsias possam não ser diagnósticas, porque há muita sobreposição na aparência entre diferentes tipos de colite; colites agudas, autolimitadas e infecciosas geralmente podem ser distinguidas histologicamente da colite ulcerativa idiopática crônica ou colite de Crohn. Doença perianal grave, preservação do reto, ausência de sangramento e envolvimento assimétrico ou segmentar do cólon sugerem doença de Crohn em vez de colite ulcerativa. A colonoscopia não costuma ser necessária no início, mas deve ser realizada eletivamente, caso a inflamação tenha se estendido proximalmente além do alcance do retossigmoidoscópio. Exames laboratoriais devem ser feitos para pesquisa de anemia, hipoalbuminemia e anormalidades de eletrólitos. Deve-se fazer testes de função hepática; níveis elevados de fosfatase alcalina e gamaglutamil transpeptidase sugerem possível colangite esclerosante primária. Anticorpos antineutrofílicos perinucleares são relativamente específicos (60 a 70%) para colite ulcerativa. Anticorpos anti- Saccharomyces cerevisiae são relativamente específicos para a doença de Crohn. Entretanto, esses exames não separam de maneira definitiva as 2 doenças e não são recomendados na rotina diagnóstica. Outras possíveis anormalidades laboratoriais incluem leucocitose, trombocitose e reagentes de fase aguda elevados (p. ex., VHS, proteína C-reativa). Radiografias não são diagnósticas, mas ocasionalmente podem mostrar anormalidades. Radiografias simples do abdome podem mostrar edema de mucosa, perda de haustrações e ausência de fezes formadas no cólon enfermo. O enema baritado mostra alterações semelhantes, mas de modo mais claro e pode também demonstrar ulcerações, mas não deve ser realizado durante apresentação aguda. Cólon rígido, encurtado com mucosa de aspecto atrófico com pseudopólipos, é geralmente observado depois de vários anos da doença. Resultados radiológicos de impressões digitais e distribuição segmentar são mais sugestivos de isquemia intestinal ou possivelmente colite de Crohn do que de colite ulcerativa Exames Laboratoriais As alterações mais frequentes são anemia ferropriva, leucocitose, aumento do número de plaquetas, hipoalbuminemia, elevação da velocidade de hemossedimentação, dos níveis sanguíneos de proteína C reativa e alfa-1-glicoproteina ácida. Distúrbios eletrolíticos como hipopotassemia, hipocloremia, hiponatremia, alcalose ou acidose metabólica são frequentes, sobretudo nas formas graves da doença Exames endoscópicos Retossigmoidoscopia A retossigmoidoscopia é um exame fundamental, sobretudo porque reto está quase sempre comprometido nesta doença. Deve ser realizada na primeira consulta, mesmo sem preparo intestinal. O exame inicia-se com uma cuidadosa inspeção da região perianal, pesquisando-se fissuras, fistulas, abscessos ou outras lesões. Durante o exame, notam-se, também, friabilidade da mucosa, sangrando facilmente ao toque do aparelho, e exsudato mucopurulento, com ou sem sangue. Com a progressão da doença, podem surgir erosões. ulcerações superficiais e pseudopólipos. Colonoscopia O achado colonoscópicomais típico é o comprometimento da mucosa desde a margem anal, estendendo-se proximalmente de uma forma contínua e simétrica, com clara demarcação entre mucosa inflamada e normal. Inicialmente a mucosa apresenta-se com diminuição ou perda da trama vascular submucosa com eritema e edema. Com a progressão da doença a mucosa torna-se granular, friável, recoberta por exsudato mucopurulento e, nos casos mais severos, visualizam-se úlceras. Pacientes com RCU de longa duração podem apresentar perda das haustrações, pseudopólipos inflamatórios e encurtamento do cólon. Há ainda descrição de comprometimento periapendicular em alguns pacientes com doença distal. Esse achado não parece influenciar no índice de remissão, recidivas ou progressão proximal. Sugere-se que se realize colonocopia em todo paciente em que a retossigmoidoscopia evidenciou DII. Avaliação histológica A avaliação histológica no diagnóstico da RCU baseia-se no achado de distorção arquitetural difusa de criptas, infiltrado inflamatório transmucoso com plasmocitose basal, eventualmente associado à componente de atividade evidenciado por criptites e abscessos crípticos. Depleção de mucina é menos específica, mas auxilia no diagnóstico. Mesmo na presença de achados típicos, a histologia deve ser avaliada em conjunto com os demais aspectos com vistas ao diagnóstico correto. Histopatologia A RCU é uma doença caracteristicamente da mucosa do cólon. Inicia-se no reto e pode estender-se até o ceco. Na maioria dos casos, entretanto, limita-se ao reto e sigmoide. Os achados macroscópicos habituais são: hiperemia, congestão, edema, friabilidade, ulcerações, exsudato fibrinoso e sangramento. A microscopia revela infiltrado inflamatório agudo e crônico com distorção e perda da arquitetura das criptas, microabscessos, depleção de células caliciformes, congestão vascular, hemorragias focais e ulcerações. Nas formas graves, poderão ocorrer necrose da mucosa, ulcerações e pólipos inflamatórios. Os achados colonoscópicos da colite ulcerativa mostrados aqui incluem edema, perda de vascularidade, mucosa friável e úlceras. Pseudopólipos são áreas de hiperplasia mucosa inflamada que se projetam acima da superfície da mucosa. Exames Radiológicos Raio X simples do abdome Se o cólon estiver cheio de ar, podemos observar encurtamento do órgão, perda das haustrações e, eventualmente, alterações grosseiras do relevo mucoso. Outras informações importantes que podem ser obtidas por meio desse exame são os sinais de complicações, como dilatações extremas no megacólon tóxico, presença de pneumoperitonio perfurações nas intestinais e alterações consequentes às manifestações extraintestinais, ou seja, sacroiliite e espondilite ancilosante. Enema Opaco É um exame muito útil, principalmente quando feito com a técnica do duplo contraste (bário e ar). Permite não só estabelecer o diagnóstico, mas também avaliar a extensão da doença **Não deve ser realizado nos casos graves devido ao risco de perfuração intestinal. A alteração mais precoce ao enema opaco é o aspecto granuloso da mucosa, consequente ao edema que a infiltra. Com a progressão da doença, podemos notar erosões e ulcerações, que conferem ao órgão um aspecto característico "em papel rasgado, ou borda de selo". Quase sempre, há perdas das haustrações e afilamento e encurtamento do colón. CLASSIFICAÇÕES Os pacientes podem ser estadiados pela Classificação de Montreal conforme maior extensão de comprometimento macroscópico na colonoscopia como tendo: 1. Proctite ou retite: com doença limitada ao reto. 2. Colite esquerda: quando afeta o colon distalmente à flexura esplênica e pancolite: envolvimento de porções proximais à flexura esplênica. A gravidade da doença é melhor avaliada pela intensidade dos sintomas e pode ser classificada pelos critérios estabelecidos por Truelove e Witts, úteis na definição terapêutica. As agudizações são classificadas em três categorias: Leve: menos de 3 evacuações por dia, com ou sem sangue, sem comprometimento sistêmico e com velocidade de sedimentação globular normal; Moderada: mais de 4 evacuações por dia com mínimo comprometimento sistêmico; Grave: mais de 6 evacuações por dia com sangue e com evidência de comprometimentos sistêmicos, tais como febre, taquicardia, anemia e velocidade de sedimentação globular acima de 30. Casos com suspeita de megacólon tóxico também devem ser considerados graves. CONDUTA TERAPÊUTICA O objetivo principal do tratamento é atingir remissão clínica livre de corticoide e, posteriormente, manter a remissão em longo prazo, evitando recidivas. O tratamento nesse PCDT será divido em indução de remissão e manutenção da remissão. A abordagem terapêutica será dividida conforme extensão da doença e gravidade da agudização, conforme principais consensos mundiais. O tratamento compreende: • Aminossalicilatos orais e por via retal, corticoides, imunossupressores e terapia biológica. • É feito de maneira a tratar a fase aguda e, após, manter a remissão, sendo o maior objetivo atingir a remissão clínica livre de corticoide. Benefícios esperados do tratamento • Em pacientes com doença ativa, os benefícios esperados são remissão dos sintomas e manutenção deste estado por pelo menos 6 meses; • Em pacientes em remissão, o objetivo é a prevenção de recorrências. Espera-se que os medicamentos em uso sejam capazes de manter a remissão por, pelo menos, 6 meses para serem considerados efetivos. Fármacos • Sulfassalazina: comprimidos de 500 mg. • Ácido fólico: comprimidos de 5 mg. • Mesalazina: comprimidos de 400, 500 e 800 mg; supositórios de 250, 500 e 1000 mg; enemas de 1 e 3 g. • Hidrocortisona: frasco-ampola de 100 e 500 mg. • Prednisona: comprimidos de 5 e 20 mg. • Azatioprina: comprimidos de 50 mg. • Ciclosporina: cápsulas de 10, 25, 50 e 100 mg; solução oral com 100 mg/ml; ampolas com 50 e 250 mg. • Vedolizumabe: frasco-ampola com 300 mg. • Infliximabe: frasco-ampola com 100 mg. Atenção: (somente o infliximabe será utilizado em crianças) Esquemas de administração • Mesalazina supositório (250, 500 ou 1.000 mg): aplicar 1 supositório à noite, ao deitar. Pode-se utilizar 2x ao dia em casos selecionados. • Mesalazina: doses de 2 g a 4,8 g ao dia, divididas em 2 ou 3 vezes ao dia. (12/12h ou 8/8h). • Sulfassalazina: doses de 2 g a 4 g, divididas em 2 administrações ao dia (12/12h). Podese iniciar com dose de 1 g ao dia, com aumento progressivo até dose alvo para reduzir efeitos colaterais. Se aparecimento de sintomas gastrointestinais, reduzir em 50% a dose e aumentar progressivamente até dose alvo. Pacientes em uso de sulfassalazina deve repor ácido fólico 5 mg, 3 vezes por semana. • Hidrocortisona: administrar 100 mg endovenoso de 6/6h ou de 8/8h. • Prednisona: administrar preferencialmente pela manhã. Dose inicial de 40-60 mg (0,75- 1 mg/kg/dia não excedendo 60 mg), por via oral, sendo que, após a melhora, esta dose deve ser reduzida 5-10 mg por semana até 20 mg por dia, reduzindo-se então 5 mg por semana até 5 mg por dia e, após, reduzindo-se 2,5 mg por semana até a retirada completa. Evitar uso crônico, independente da dose. • Azatioprina: dose 2 a 2,5 mg/kg. Iniciar com dose de 50 mg até reavaliação com exames. • Em caso de ausência de efeitos adversos, aumentar para dose alvo. Dose total pode ser administrar uma vez ao dia ou em doses divididas. • Ciclosporina: dose de 2 mg/kg/dia em infusão contínua durante 7 dias. Após resposta clínica, inicia-se ciclosporina 5 mg/kg por via oral dividida em duas administrações ao dia e mantendo por 12 semanas. • Infliximabe: Infusão intravenosa de 5 mg/kg, administrada por um período mínimo de 2 horas, seguida por doses de infusões adicionais de 5 mg/kg nas semanas 2 e 6 após a primeira infusãoe, depois, a cada 8 semanas. Para pacientes adultos que tiverem resposta incompleta ou perda de resposta, deve-se considerar o ajuste da dose para até 10 mg/kg. • Vedolizumabe: a dose recomendada é 300 mg, administrada por infusão intravenosa nas semanas 0, 2 e 6 e depois a cada 8 semanas. COLITE FULMINANTE Se houver suspeita de colite fulminante ou tóxica, o paciente deve 1. Interromper todos os fármacos antidiarreicos. 2. Não ingerir nada por via oral e inserir um tubo intestinal longo ligado à sucção intermitente. 3. Reposição volêmica IV agressiva e de eletrólitos com cloreto de sódio a 0,9%, além de cloreto de potássio e sangue, conforme necessário 4. Receber altas doses de corticoides IV ou ciclosporina 5. Receber antibióticos (p. ex., 500 mg de metronidazol, IV a cada 8 horas e 500 mg de ciprofloxacina IV a cada 12 h) 6. Talvez tomar infliximabe Manter o paciente mudando de decúbito no leito a cada 2 a 3 horas pode ajudar a redistribuir o gás colônico e prevenir a distensão progressiva. Inserção de sonda retal maleável também pode ajudar, mas deve ser realizada com extrema cautela para evitar perfuração intestinal. Mesmo que se obtenha a descompressão de um colo dilatado, o paciente não está fora de perigo, a menos que o processo inflamatório subjacente esteja controlado; do contrário, ainda será necessária uma colectomia. Caso as medidas clínicas não produzam melhora definitiva em 24 a 48 horas, é necessária cirurgia imediata ou o paciente poderá morrer de sepse secundária à translocação bacteriana ou mesmo perfuração. Tratamento de indução PROCTITE (RETITE) Pacientes com proctite leve a moderada devem ser tratados com um supositório de mesalazina 1 g por dia durante a fase aguda. O tratamento tópico nesses pacientes deve ser priorizado, pois garante maiores concentrações locais do medicamento e menos efeitos adversos. Mesalazina tópica é superior ao placebo tanto para induzir remissão clínica quanto endoscópica. Nos pacientes com doença moderada, pode ser necessária associada de terapia via oral com sulfassalazina ou mesalazina. Os pacientes intolerantes, que não tiverem condições de aderir à terapia por via retal ou refratários ao tratamento com aminossalicilatos podem alternativamente ser tratados como preconizado para a pancolite. Obtida a remissão dos sintomas, os pacientes deverão ser manejados de acordo com o item 7.2 Manutenção da remissão clínica. COLITE ESQUERDA LEVE A MODERADA Pacientes com colite esquerda devem ser tratados com enemas de mesalazina de 1 ou 3 g/dia associados à mesalazina por via oral (VO) entre 2,4 a 4,8 g ao dia ou sulfassalazina entre 2 a 4g ao dia. O tratamento tópico associado ao via oral é superior a qualquer um deles isolados nesse grupo de pacientes. Casos moderados podem se beneficiar de doses maiores do medicamento pela via oral (mesalazina 4,8 g ou sulfassalazina 4 g). Enemas de corticoide também são superiores ao placebo na doença leve a moderada, embora sejam menos eficazes que a terapia tópica com mesalazina. Os pacientes intolerantes, que não tiverem condições de aderir à terapia por via retal ou refratários ao tratamento com aminossalicilatos podem alternativamente ser tratados como preconizado para a pancolite. Nos casos moderados, conforme classificação de Truelove e Witts, deve- se utilizar curso de prednisona, com redução gradual da dose até sua suspensão. Obtida a remissão dos sintomas, os pacientes deverão ser manejados de acordo com a manutenção da remissão clínica. PANCOLITE LEVE A MODERADA Inicia-se com sulfassalazina ou mesalazina via oral. Tendo em vista não haver diferença estatística quanto à eficácia entre sulfassalazina e mesalazina nesse grupo de paciente, é facultativa ao médico a escolha do medicamento inicial. Sugere-se considerar ambos os tratamentos igualmente eficazes, porém, dando-se preferência à sulfassalazina em função do seu baixo custo, mas sem desconsiderar o risco de infertilidade masculina associada a esse fármaco, não existente com a mesalazina. Após melhora, as doses devem ser reduzidas: → sulfassalazina, reduzir para 1 g de 12 em 12 h; → mesalazina, reduzir para 2 g ou 2,4 g ao dia. Em caso de falha a indução com sulfassalazina ou mesalazina, não há benefício da troca entre elas. Sugere-se nesses casos o uso de corticoide. Nos casos moderados, alternativamente, pode ser usada prednisona na dose de 40-60 mg (0,75-1 mg/kg/dia não excedendo 60 mg), por via oral, com redução gradual da dose. Em casos que responderem apenas parcialmente à prednisona, ou em que não se consiga reduzir a dose do corticoide sem recaídas deve-se iniciar o uso de azatioprina 2-2,5mg/kg/dia. Casos refratários a essa terapia devem ser tratados como doença grave. Pacientes com manifestações extra-intestinais (MEI) significativas As manifestações articulares são as MEI mais comuns, ocorrendo em até 20% dos pacientes com RCU. Deve-se fazer o diagnóstico diferencial com outras causas de artrite e artralgias. As manifestação articulares dividem-se em: • Axial (tipo I). • Periférica (tipo II). Manifestações articulares tipo I Caracterizam-se por ser pauciarticulares (menos de 5 articulações), acometer grandes articulações de forma assimétrica e, normalmente acompanham agudização da RCU e respondem ao tratamento da doença intestinal. Pode-se utilizar sulfassalazina para manejo sintomático da artralgia/artrite. Manifestações articulares tipo II São caracterizadas por acometer pequenas articulações (mais de 5), periféricas, simetricamente e tem seu curso independente da doença de base. O tratamento dessas manifestações pode necessitar do uso de anti- inflamatórios não esteroidais (AINES) ou corticoide sistêmico para controle sintomático por curto prazo. Entretanto, o uso de AINES deve ser evitado pelo risco de reativação da RCU. Casos refratários devem ser encaminhados para Centros de Referência no tratamento de RCU e para um reumatologista. Pacientes com pioderma gangrenoso, fosfatase alcalina elevada, icterícia, qualquer outro sinal de colestase ou com suspeita de colangite esclerosante primária associada devem ser encaminhados a Centros de Referência no tratamento da RCU. RETOCOLITE MODERADA A GRAVE Os pacientes com quadro moderado a grave devem ser tratados inicialmente com corticoide via oral e aminossalicilatos. Deve-se iniciar imunossupressor naqueles com corticodependência. Naqueles com falha ao imunossupressor, caracterizada por corticodependência apesar de dose adequada de azatioprina por um tempo mínimo de 12 semanas, deve ser considerado o uso de terapia imunobiológica com anti-TNF alfa (infliximabe) ou anti-integrina (vedolizumabe). A Conitec recomendou a incorporação do infliximabe e do vedolizumabe para tratamento da colite ulcerativa moderada a grave, limitado ao custo do tratamento com infliximabe60. Infliximabe (IFX), um anti-TNF alfa, mostrou-se superior ao placebo na indução deremissão nos casos moderados a grave, refratários ou intolerantes à terapia convencional. O vedolizumabe (VDZ), um imunobiológico anti-integrina α₄β₇, e foi liberado pela ANVISA para tratamento da RCU. Para tratamento de indução, infliximabe e vedolizumabe se mostraram superiores a adalimumabe na obtenção de resposta e remissão clínica segundo meta-análises em rede com comparações indiretas. Conforme recomendação preliminar da Conitec de julho de 2019, há uma população que não responde ao tratamento convencional (sem agentes imunobiológicos) e que poderia se beneficiar com o uso de um biológico. COLITE AGUDA GRAVE Os pacientes com doença moderada a grave que não responderem às medidas preconizadas acima, da mesma forma que os pacientes com doença grave com comprometimento sistêmico, devem ser tratados em ambiente hospitalar com hidrocortisona 100 mg IV de 6 em6 h por 7 a 10 dias. Esses pacientes devem receber hidratação intravenosa, realizar pesquisa fecal de toxina para Clostridium, evitar o uso de narcóticos ou de medicamentos com efeito anticolinérgico e receber profilaxia para tromboembolismo venoso. Retossigmoidoscopia, sem preparo de cólon, pode ser considerada em casos selecionados para confirmar diagnóstico e descartar colite por citomegalovírus, através da análise histopatológica. Sugere-se avaliação precoce e acompanhamento por equipe cirúrgica pelo risco de necessidade de colectomia em qualquer momento da evolução. Havendo melhora, a hidrocortisona deve ser substituída por prednisona, sendo então seguido o tratamento preconizado para pancolite moderada a grave. A resposta à terapia com corticoide endovenoso deve ser avaliada, sobretudo no terceiro dia, conforme critério de Oxford. Pacientes que no terceiro dia apresentam mais de 8 evacuações ao dia e PCR > 45 apresentam risco de 85% de evoluírem para colectomia. Radiografia simples de abdômen deve ser realizada no acompanhamento para identificar dilatação do cólon >5,5 cm, também associada a maior chance de colectomia. Na ausência de resposta ao corticoide sugere-se uso de ciclosporina endovenosa, como primeira escolha, nos centros com experiência no seu uso. A dose preconizada é 2 mg/kg/dia em infusão contínua durante 7 dias. Após resposta clínica, inicia-se ciclosporina VO, 5 mg/kg dividida em duas administrações ao dia e mantendo por 12 semanas. Deve-se fazer transição para o uso da azatioprina 2 a 2,5 mg/kg, com redução gradual do corticoide. Caso o paciente fique com tripla imunossupressão (corticoide + ciclosporina + azatioprina), deve ser utilizado profilaxia para Pneumocitis jiroveci com sulfametoxazol + trimetoprima 800mg + 160mg, 3 vezes por semana. A ciclosporina será considerada a primeira escolha para o tratamento da colite aguda grave, refratário ao corticoide endovenoso. Pacientes que já vinham em uso de azatioprina durante o episódio de colite aguda grave tendem a apresentar pior prognóstico com a ciclosporina. Nesse grupo de paciente e nos pacientes com perda de função renal (pelo risco de toxicidade pela ciclosporina) sugere-se o uso de infliximabe nas mesmas doses usuais de indução. Não há evidência suficiente até o momento para suportar o uso de terapia sequencial (uso de infliximabe após falha a ciclosporina ou ciclosporina após falha ao infliximabe). Nesses casos a colectomia deve ser indicada. Colectomia deve ser considerada como alternativa em todos os pacientes, sendo avaliada caso a caso. A técnica cirúrgica mais indicada nos casos graves é colectomia subtotal com confecção de ileostomia e programação de reconstrução de trânsito intestinal (com ou sem bolsa ileal) após recuperação do quadro agudo. PACIENTES PEDIÁTRICOS Deve-se evitar o uso prolongado de corticoides, devendo-se sempre tentar o seu emprego em dias alternados para minimizar o retardo de crescimento induzido por esses medicamentos. Levando-se em conta essas ressalvas e o ajuste das doses pelo peso, o tratamento deve seguir os mesmos princípios do tratamento dos adultos. As doses máximas são as mesmas para adultos em cada situação clínica. Recomendam-se as seguintes doses: • Sulfassalazina: 50-75 mg/kg por dia, divididos em 2 a 4 administrações; • Mesalazina: 30-50 mg/kg por dia, divididos em 2 a 3 administrações; • Prednisona: 1-2 mg/kg por dia (dose inicial) divididos em 1 ou 2 administrações; • Azatioprina: 2-2,5 mg/kg por dia, dose única diária; • Ciclosporina: 4-6 mg/dia, infusão contínua ou em 2 administrações diárias. • Infliximabe: 5 mg/kg, indução nas semanas 0, 2 e 6 e manutenção a cada 8 semanas. O uso de infliximabe na população pediátrica foi testado em estudo clínico randomizado (ECR) e seu uso é sugerido como primeira escolha para pacientes com doença refratária a corticoide e sem resposta à azatioprina. Infliximabe é aprovado no Brasil para uso a partir dos 6 anos de idade. Mas infliximabe não é preconizado para pacientes menores de 6 anos e vedolizumabe não é preconizado para menores de 18 anos. MULHERES GRÁVIDAS E NUTRIZES A sulfassalazina interfere com o metabolismo normal do ácido fólico, que deve ser suplementado no período pré-concepção. A taxa de malformações com seu uso é quase igual à da população em geral. É segura durante os 2 primeiros trimestres da gestação e na amamentação. No último trimestre, seu uso pode aumentar o risco de kernicterus. Mesalazina é considerada segura durante a gestação. A troca de sulfassalazina por mesalazina pode ser alternativa em pacientes que desejam engravidar. Tanto sulfassalazina quanto mesalazina possuem baixo risco durante a amamentação. A ciclosporina é segura na gravidez, entretanto, seu uso não é recomendado durante a amamentação, pois a dose terapêutica do medicamento foi identificada em crianças lactentes de mãe expostas à ciclosporina Os corticosteroides podem ser usados durante a gestação para controle de doença ativa, preferindo-se aqueles mais metabolizados pela placenta, como prednisona. Baixos níveis são detectados no leite materno, sendo sugerido adiar amamentação por 4 horas após tomar o medicamento. O uso da azatioprina parece seguro na gravidez. Seu uso deve ser considerado pesando risco e benefícios, tendo em vista risco de reativação da doença na gravidez, que está associada a piores desfechos. Sugere-se manutenção do medicamento na maioria dos casos. O uso de azatioprina possui baixo risco durante a amamentação. O infliximabe teve sua segurança na gestação avaliada em uma meta- análise e duas revisões sistemáticas de estudos observacionais, os quais não identificaram aumento na incidência de desfechos gestacionais desfavoráveis. Devido à detecção de infliximabe no feto até os 6 meses de vida, especialistas sugerem suspensão dos anti-TNF na 24 – 26ª semana de gestação quando possível, levando em consideração gravidade da doença. Vacinação contra BCG no neonato exposto ao anti-TNF durante a gestação deve ser postergada, devendo ocorrer após os 6 meses pelo risco de tuberculose disseminada. Vedolizumabe não é preconizado durante a gestação e puerpério tendo em vista o escasso corpo de evidência e a limitada experiência de uso desse fármaco. Terapia de manutenção Após tratamento efetivo de uma agudização, os corticoides devem ser diminuídos gradualmente de acordo com a resposta clínica, até serem descontinuados, pois são ineficazes como manutenção. Os pacientes devem permanecer recebendo 5-AAS — oral ou retal, dependendo da localização da doença—indefinidamente porque a interrupção da terapia de manutenção geralmente permite a recaída da doença. Os intervalos das doses para as preparações retais devem ser gradualmente estendidos para cada 2º ou 3º dia. Há amplas evidências de que a terapia oral e retal combinada é significativamente mais eficaz do que apenas uma única terapia. Pacientes que não podem parar de tomar corticoides devem receber tiopurinas (azatioprina ou 6-mercaptopurina), fármacos anti-FNT ou uma combinação destas. Para casos mais refratários, o vedolizumab, um anti-integrina, pode ser usado tanto para a colite ulcerativa quanto para a doença de Crohn. Além disso, o infliximabe, o adalimumabe ou o golimumabe são cada vez mais utilizados e aceitos como uma terapia de manutenção para a colite ulcerativa. MONITORIZAÇÃO → Não existe intervalo definido para reavaliação endoscópica após o início do tratamento, embora haja evidência de melhores desfechos nos pacientes que atingiram cicatrização da mucosa. → Os pacientes devem evitar o uso de anti-inflamatórios não-esteroides, que podem agravar as manifestações da RCU87. → Antes do início da administração de sulfassalazina e mesalazina deve-se realizar hemograma, exame qualitativo de urina (EQU)e dosagem de creatinina sérica. → Pacientes com doença renal preexistente ou em uso de outros fármacos nefrotóxicos devem ter a função renal monitorizada mais frequentemente durante o tratamento. → Hemograma, EQU e dosagem de creatinina sérica devem ser repetidos a cada 4 meses. → Sintomas mais frequentes são sintomas gastrointestinais (náusea, dor abdominal e diarreia), cefaleia e piora da Retocolite. → Para pacientes em uso de corticoides, recomendam-se dosagens de potássio e sódio séricos e glicemia de jejum. Para pacientes em uso de corticoides por períodos superiores a 6 semanas, recomenda-se avaliação oftalmológica e densitometria óssea. → A azatioprina pode acarretar leucopenia e/ou trombocitopenia graves por supressão da medula óssea. Nesses casos, deve-se proceder com redução de dose ou cessação do uso de azatioprina. → Hemograma completo deve ser realizado semanalmente no primeiro mês, quinzenalmente no segundo e terceiro meses e, após, mensalmente. → Também se sugerem hemogramas se houver mudança na dosagem. Aparentemente não há relação da neutropenia com o efeito benéfico do tratamento, e a dose de azatioprina não deve ser aumentada intencionalmente para reduzir a contagem de leucócitos. → Também deve ser realizado controle de testes hepáticos, na mesma periodicidade dos hemogramas nos primeiros 6 meses e, depois, trimestralmente. → A ciclosporina deve ter a dose ajustada conforme seus níveis séricos, que, após, devem ser monitorizados regularmente. A ciclosporina é nefrotóxica, principalmente em idosos e em usuários de outros fármacos nefrotóxicos, e também tem efeito hipertensivo. Pacientes com função renal anormal previamente ao tratamento não devem usar ciclosporina. → Dosagens de creatinina e monitorização da pressão arterial devem ser feitos antes do tratamento em pelo menos 2 ocasiões e, após o início do tratamento, a cada 15 dias durante os primeiros 3 meses de uso e, a seguir, mensalmente se o paciente estiver estável. Nessas ocasiões também devem ser realizados hemograma, dosagens de ácido úrico, potássio, lipídios e magnésio. → A dose de ciclosporina deve ser reduzida em 25 a 50% se houver elevação sustentada (duas dosagens de creatinina dentro de 14 dias) ≥25% da creatinina sérica do paciente, e deve ser descontinuada se não houver melhora da creatinina após dois ajustes de dose. Se a redução não for efetiva ou a alteração for grave, a ciclosporina deve ser suspensa. → Durante a infusão de infliximabe, os pacientes devem ser monitorizados em ambiente equipado para tratamento de reações anafiláticas. Os sinais vitais devem ser verificados a cada 10 minutos se os pacientes apresentarem algum sintoma e a infusão interrompida caso não haja melhora dos sintomas com a terapêutica instituída (corticoesteroides e antialérgicos). → Antes do tratamento com infliximabe ou vedolizumabe, recomenda-se a realização de radiografia de tórax e prova de Mantoux, que deverá ser negativa ou com área de enduração inferior a 5 mm. Caso haja reação positiva (superior a 5 mm) ou exame radiológico com suspeita de lesão residual ou com lesão ativa de tuberculose, os pacientes deverão ser encaminhados para tratamento completo da tuberculose ativa ou latente, antes de iniciar tratamento com infliximabe ou vedolizumabe. Provas de função hepática devem ser realizadas antes de cada dose, e o medicamento suspenso se as aminotransferases/transaminases estiverem mais de 5 vezes acima do limite superior da normalidade. → Os pacientes devem ser monitorizados e orientados a procurar atendimento na eventualidade de surgimento de sinais de doença infecciosa de qualquer natureza. Esses pacientes não devem receber vacinas com vírus atenuados. → Infliximabe é contraindicado em paciente com insuficiência cardíaca moderada a grave. MANUTENÇÃO DA REMISSÃO CLÍNICA Pacientes que tenham tido um episódio único de proctite não necessitam de terapia de manutenção. Os demais casos devem fazer terapia de manutenção por via oral, com o medicamento utilizado na indução, sulfassalazina ou mesalazina. Para pacientes que tiverem mais de duas agudizações em um ano ou que não consigam reduzir a dose de corticoide sem nova recidiva pode- se iniciar azatioprina 2-2,5 mg/kg/dia. Em pacientes com proctite, alternativamente aos aminossalicilatos por via oral, pode ser feita terapia de manutenção com um supositório de mesalazina 250 mg a 1 g, 3 vezes por semana. Pacientes que tiverem agudização em uso de supositórios 3 vezes por semana devem passar a usá-los diariamente. Paciente que receberam indução com ciclosporina intravenosa devem fazer uso de período de transição de 12 semanas de ciclosporina VO e manutenção em longo prazo com azatioprina. Nos casos em que a remissão clinica foi alcançada com uso da azatioprina (com ou sem uso de corticoide na fase de indução), seu uso deve ser mantido por tempo indeterminado. Baseado nestes dados não é possível sugerir suspensão programada dos imunossupressores nos pacientes em remissão. Esta deve ser individualizada, levando-se em consideração riscos do uso prolongado da azatioprina. Contudo, não há definição não arbitrária do que seria uso prolongado nem de qual é a duração ótima do tratamento de manutenção com azatioprina. Sugerem-se os seguintes fatores favoráveis à tentativa de suspensão: • doença menos extensa • ausência de reativação da doença ou necessidade de outras terapias durante imunossupressão • remissão endoscópica • homens jovens (pelo risco de linfoma hepatoesplênico) • idosos. Esta recomendação estende-se também ao uso da azatioprina em combinação com infliximabe. Pacientes que receberam indução com infliximabe ou vedolizumabe devem fazer manutenção com dose de 5 mg/kg a cada 8 semanas e 300 mg a cada 8 semanas, respectivamente. Esses medicamentos devem ser suspensos em 3 meses se não houver resposta clínica, caracterizando falha primária. O tratamento deve ser reavaliado a cada 12 meses com vistas a avaliar necessidade de manutenção do mesmo. MECANISMO DE AÇÃO DOS FÁRMACOS DERIVADOS SALICÍLICOS Neste grupo de medicamentos incluímos a sulfassalazina (SSZ) e os derivados salicílicos. A SSZ é desdobrada no cólon, por ação da enzima azoredutase bacteriana, em sulfapiridina e ácido 5-aminossalicílico (5- ASA), sendo este último o princípio ativo do medicamento, que age de forma tópica. Mecanismos de ação do 5-ASA estão: • A modulação da secreção de citocinas pró-inflamatórias. • A inibição da produção de leucotrienos e prostaglandinas. • As capacidades de assimilação de radicais livres e de diminuição do estresse oxidativo, • A redução da atividade do fator nuclear-K B (NF-kB), • A inibição da proliferação celular e promoção da apoptose. Mais recentemente, constatou-se que boa parte da ação do 5-ASA (mesalazina) se deve a sua capacidade de ativar os receptores nucleares PPAR-y ("peroxisoma proliferator-activated receptor-y"), envolvidos no controle da inflamação, na proliferação celular e na apoptose. Efeitos colaterais com a SSZ são mais comumente dose dependentes, relacionados com níveis séricos de sulfapiridina, e ocorrem principalmente nos indivíduos com baixa capacidade genética de acetilação hepática da droga (acetiladores lentos), em até 45% dos pacientes. Incluem: dor abdominal, nausea, vômitos, anorexia, cefaleia, hemólise, infertilidade masculina etc. Menos frequentemente, os efeitos colaterais da SSZ podem ocorrer por hipersensibilidade (alergia ou idiossincrasia): febre, "rash" cutâneo, linfadenopatia, Stevens-Johnson, agranulocitose, hepatite, pancreatite. exacerbação da diarreia etc. Existem diversas formas de mesalazina (5-ASA) de liberação controlada, o que permite que a medicação seja liberada locais específicos do trato em gastrintestinal, a saber: a) mesalazina sob forma de microgrânulos recobertoscom etilcelulose: liberação da mesalazina, independentemente do pH, ao longo de todo o trato digestivo e, mais recentemente uma nova formulação de liberação prolongada de 2g que pode ser adiminitrado 1 vez ao dia; b) conjugação de duas moléculas de 5- ASA (olsalazina) por uma ligação azo: liberação da medicação no cólon de maneira semelhante à da SSZ (diarreia em 10-15% dos casos, por sua ação secretagoga sobre o intestino delgado e o cólon); c) cobertura do 5-ASA com resinas acrílicas (ex.: eudragit S ou L) com liberação do princípio ativo a partir do ileo proximal (eudragit L) ou distal (eudragit S) e, mais recentemente, uma formulação combinada de resina acrilica (eudragit S) com 2 tipos de matrizes (lipofilica e hidrofilica), o que permite a liberação da mesalazina no cólon com apenas uma única tomada ao dia, aumentando assim a aderência do paciente ao tratamento. CORTICOIDES Os corticoides (ex.: hidrocortisona, prednisona, prednisolona) constituem, até momento, os medicamentos de escolha para casos moderados e graves de doença inflamatória intestinal (DII). Na RCU e DC ativas, de intensidade moderada a grave, a prednisona oral (0,75-1mg/kg/dia, em geral, sem necessidade de ultrapassar 60mg/dia) está indicada para induzir a remissão clínica da doença, mas deve ser evitada por longos períodos (>2-3 meses), ainda que em doses baixas. A retirada do corticoide (desmame) deve ser gradual, com redução de 10mg/semana, até 20mg/dia e, a seguir, 5mg/semana, até a retirada completa. Se durante a retirada houver recaida da doença, pode-se aumentar o corticoide para a penúltima dose que precedeu aquela em que ocorreu a recaída. Em casos graves, internados, pode ser administrada hidrocortisona, 100mg IV, a cada 6 ou 8 horas, e, em seguida, substituída por prednisona oral (em doses equivalentes sem necessidade de ultrapassar 60mg/dia), tão logo o estado do paciente permita. Os corticoides, em geral, promovem remissão clínica (70-90% dos casos, após 4-6 semanas de tratamento), mas não promovem remissão endoscópica e histológica na mesma proporção da remissão clínica (remissão endoscópica e histológica ao redor de 30%). Na DC, a frequência de casos corticoide resistentes (ou refratários) e corticoide- dependentes é elevada, variando de 8-20% de 15-36%, e respectivamente. Na RCU, a frequência de resistência ao corticoide (29%) costuma ser maior que a da dependência (<10%). Os efeitos colaterais dos corticoides são bem conhecidos, particularmente quando utilizados por tempo prolongado, ainda que em baixas doses: aumento do apetite e do peso, edema, insônia, labilidade emocional, psicose. acne. Cushing, osteoporose, osteonecrose, retarde de crescimento, supressão do cixo hipotálamohipófise-adrenal, infecções, miopatia, catarata, atrofia de pele, estrias, equimose, figado gorduroso, diabetes, 4 hipertensão, glaucoma e pancreatite aguda. Os corticoides não devem ser empregados como drogas de manutenção, sendo aceitável a utilização da budesonida por tempo mais prolongado (até 6 meses), quando necessário. Tão logo o paciente configure dependência do corticoide (necessidade de corticoide para manter remissão) ou refratariedade (não responder ao corticoide na dose de 0,75 -1 mg/kg/dia de prednisona por 4-6 semanas), outras alternativas (ex.: imunossupressores, como azatioprina ou 6- mercaptopurina) devem ser instituídas. IMUNOSSUPRESSORES Neste grupo de medicamentos incluímos azatioprina (AZA), 6- mercaptopurina (6-MP), metotrexato (MTX) e ciclosporina. AZATIOPRINA (AZA) E 6-MERCAPTOPURINA (6-MP) O exato mecanismo de ação da AZA e de seu metabólito, a 6-MP, ainda não está totalmente esclarecido. Sabe-se que os nucleotideos tioguanina resultantes da metabolização da droga impedem a formação do DNA e do RNA. Mais recentemente, foi demonstrado que a AZA e a 6-MP agem via Racl, bloqueando a sinalização da molécula CD-28, reduzindo a sintese de Bel-x e favorecendo a apoptose de linfócitos CD4. Os imunossupressores são eficazes na manutenção da remissão na DC e RCU e auxiliam na retirada do corticoide em pacientes corticoide- dependentes. A AZA e a 6-MP constituem os imunossupressores de primeira escolha, seguidos pelo metotrexato (MTX), e estão indicados, na doença de Crohn, nas seguintes situações: a) resistência (refratariedade) ou dependência do corticoide; b) em pacientes que necessitem de mais de 2 cursos de corticoide por ano; c) em pacientes com recuida precoce após a retirada (desmame) do corticoide (< 3 meses); d) pacientes submetidos a ressecção intestinal, com doença remanescente; e) em pacientes com doença fistulizante (penetrante); e f) em pacientes com doença extensa de intestino delgado. Na RCU, os imunossupressores estão indicados em pacientes: a) resistentes ou dependentes de corticoide; b) que necessitem de mais de 2 cursos de corticoide por ano; e c) com doença refratária ao tratamento clínico habitual. Os efeitos colaterais da AZA e da 6-MP estão relacionados à supressão da medula óssea, o que pode ocorrer em 3% por paciente tratado/ano. A mielotoxicidade depende da dose utilizada e da capacidade do indivíduo de metabolizar adequadamente a AZA e a 6 MP, e pode ser manejada com a redução ou retirada da droga. Manifesta-se mais comumente como leucopenia. A mielotoxicidade pode ocorrer em qualquer época do tratamento, mas merece maior atenção durante o ajuste inicial da dose da medicação. Nesta fase, hemograma, AST, ALT e amilase deverão ser realizados mais frequentemente (a cada 15-30 dias) e, a seguir, a cada 3 ou 4 meses, durante todo o período de tratamento. Além dos efeitos colaterais mencionados acima, também podem ocorrer náusea. vômito, dor abdominal, reações alérgicas como febre, "rash" cutâneo, mialgia e dor articular. No longo prazo, o aumento do risco de linfoma torna se a principal preocupação quando se utiliza o imunossupressor. No entanto, apesar do risco de linfoma aumentar com o uso prolongado da AZA ou da 6- MP, uma análise usando o modelo matemático de Markov para avaliar o impacto da terapia sobre a sobrevida e a qualidade de vida ajustada mostrou um ganho na expectativa e na qualidade de vida, semelhante ao preconizado para vacinação contra rubéola e hepatite B e ao uso de antiagregante plaquetário em pacientes com alto risco para AVC. Este benefício é maior em pacientes jovens, nos quais o risco de linfoma é mais baixo e a expectativa de vida maior, e diminui progressivamente com o avançar da idade. ΑΖΑ e 6-MP devem ser usadas por tempo indeterminado, se o paciente apresentar boa resposta e não houver complicações. Não é necessária à sua suspensão para a realização de cirurgias eletivas. METOTREXATO (MTX) O MTX é um antagonista do folato e interfere na sintese de DNA. Age sobre a atividade de citocinas e mediadores inflamatórios, bloqueando a ligação da IL 1 ao seu receptor e reduzindo a síntese de IL-2, IL-6, IL-8, interferon-gama e leucotrieno B4, O MTX está indicado em pacientes, portadores de doença de Crohn, com indicação de imunossupressor e que sejam intolerantes à azatioprina ou à 6-MP. A dose semanal de indução é de 25 mg por via intramuscular, com redução da dose para 15 mg/semana após 3 a 4 meses. Na fase inicial, deve ser realizado controle mensal com hemograma, AST, ALT, FA e GGT e, posteriormente, a cada 3 meses, durante todo o perioda de tratamento, que deve ser mantido por tempo indeterminado, enquanto o paciente apresentar boa resposta e não houver complicações. As reações adversas relacionadas ao uso do MTX ocorrem em 10 a 25% dos pacientes e incluem: náusea, diarreia, estomatite, leucopenia, queda de cabelo, elevação de transaminases, pneumonia por hipersensibilidade e fibrose hepática. A biópsia hepática de rotina não está recomendada, devendo ser realizada na evidência de hepatotoxicidade. O MTX éteratogênico e pode causar aborto, sendo, portanto, totalmente contraindicado em mulheres que desejam engravidar. CICLOSPORINA Ciclosporina age reduzindo a produção de interleucina 2 (IL-2) pelas células T auxiliadoras ("T-helper"). Mostrou-se eficaz no tratamento de resgate na RCU grave, não responsiva após 5-10 dias de corticoterapia intravenosa. A dose atual recomendada é de 2 mg/kg/dia. IV. infusão contínua, por 1 a 2 semanas, seguida Os efeitos colaterais são relativamente frequentes, podendo chegar a 50%. São eles, em ordem de frequência: parestesia, hipertensão arterial, hipertricose, insuficiência renal, cefaleia, infecções oportunistas, hiperplasia gengival, tonturas e anafilaxia. Convulsões do tipo "grande mal" podem ocorrer em pacientes com níveis séricos baixos de colesterol (<120 mg/dl). TERAPIA BIOLÓGICA Esta nova abordagem é, genericamente, denominada de terapia biológica, uma vez que age em mediadores e fenômenos naturais e fisiológicos. A terapia biológica vem sendo utilizada cada vez mais no tratamento de RCU e DC; no entanto, ainda deve ser reservada para casos moderados ou graves e refratários a outros tratamentos. Manifestações extraintestinais refratárias ao tratamento convencional também podem ser tratadas com anti-TNF, mesmo sem sinais de atividade inflamatória intestinal. Da mesma forma, situações com grande comprometimento da qualidade de vida, como no caso das fistulas anais e/ou perianais, podem ser tratadas com terapia biológica mais precocemente. Os efeitos colaterais do anti-TNF ocorrem numa frequência menor que 10%. Os efeitos colaterais mais comuns mencionados para o antiTNF são: reações à infusão, infecções de vias aéreas superiores, bronquite, faringite, febre, cefaleia, náuseas, dor abdominal; menos comuns: tontura, dor torácica, artralgia, reações de hipersensibilidade tardia, abscessos (abdominais ou perianais), pneumonia, furunculose, obstrução intestinal, anemia hemolítica, disfunção cardíaca, lúpus induzido por droga (anti-DNA positivo) e aumento do risco de linfoma. A reativação da tuberculose pode ocorrer após uso de anti-TNF e, portanto, é mandatória a realização de PPD e RX de tórax antes da infusão. Algo fundamental que tem sido descrito para a terapia biológica é a sua capacidade de promover a melhora endoscópica e histológica, o que pode, no futuro, traduzir-se em impacto positivo sobre a história natural da doença. Mecanismo de ação dos anti-TNFS: • Os anti-TNFS se ligam ao TNF solúvel circulante, impedindo que este exerça sua função pró-inflamatória. • Também neutralizam os receptores de TNF, resultando no bloqueio da sinalização desta citocina, o que reduz o processo inflamatório. • Além disso, os anti-TNFs ligam-se aos TNFS ligados à membrana das células produtoras (TNF transmembrana) geram uma e sinalização reversa que inibe a produção do TNF e induz a apoptose das células produtoras de TNF. Quando o anti-TNF se liga aos receptores ou ao TNF transmembrana, ele facilita a ativação do complemento e a fagocitose deste imunocomplexo. TRATAMENTO CIRÚRGICO Aproximadamente um terço dos pacientes com colite ulcerativa extensa necessita de cirurgia. Proctocolectomia total é curativa: a expectativa e de vida é restaurada ao normal, a doença não recorre (diferentemente da doença de Crohn) e reduz-se significativamente o risco de câncer de cólon. Após uma proctocolectomia total com anastomose na bolsa ileal-anal (IPAA), ainda há pequeno risco de displasia ou câncer na zona de transição anal do manguito retal e até mesmo na bolsa ileal. Após uma proctocolectomia com ileostomia ou IPAA, a qualidade de vida melhora; entretanto, a qualidade de vida impõe novos desafios. A colectomia emergencial é indicada para hemorragia maciça, colite tóxica fulminante ou perfuração. A colectomia subtotal com ileostomia e fechamento do retossigmoide (procedimento de Hartmann) ou fístula mucosa costuma ser o procedimento de escolha porque os pacientes em estado grave não toleram cirurgia mais extensa. O coto do retossigmoide pode ser eletivamente removido ou usado para anastomose ileoanal com uma bolsa. O coto retal intacto não deve ser mantido indefinidamente por causa dos riscos de ativação da doença e transformação maligna. A cirurgia eletiva é indicada para câncer, estenoses sintomáticas, retardo de crescimento nas crianças, ou, mais comumente, doença crônica intratável, que resulta em invalidez ou dependência de corticoides. Manifestações extraintestinais associadas a colite grave (p. ex., piodermite gangrenosa) agora são mais bem controlados por tratamentos médicos e só raramente são indicadas para cirurgia. O procedimento eletivo de escolha para pacientes com função esfincteriana normal é a proctocolectomia restaurativa com anastomose ileoanal. Esse procedimento cria um reservatório pélvico ou bolsa do íleo distal, que é conectado ao ânus. O esfíncter intacto permite a continência anal, tipicamente com 4 a 9 evacuações/dia (incluindo 1 ou 2 à noite). Bolsite consiste em uma reação inflamatória que ocorre após proctocolectomia restauradora com IPAA em cerca de 50% dos pacientes. O risco de bolsite parece ser maior em pacientes com colangite esclerosante primária, em pacientes com manifestações extraintestinais pré-operatórias e, possivelmente, em pacientes pré- operatórios com títulos sorológicos altos para anticorpos antineutrófilos perinucleares e outros biomarcadores de doença intestinal inflamatória. Acredita-se que a bolsite esteja relacionada ao hipercrescimento bacteriano e é tratada com antibióticos (p. ex., quinolonas). Os probióticos podem ter ação protetora. Muitos casos de bolsite são rapidamente controlados, mas 5 a 10% podem se tornar refratários a todos os tratamentos clínicos e requerem conversão para ileostomia tradicional (Brooke). Para uma minoria dos pacientes que são idosos, têm famílias e estilos de vida bem estabelecidos, com tônus esfincteriano ruim ou não são capazes de tolerar evacuações frequentes, ou simplesmente são incapazes ou não querem enfrentar as consequências de uma bolsite frequente ou crônica, a ileostomia de Brooke continua sendo o procedimento de escolha. Em qualquer caso, os traumas físicos e emocionais impostos por qualquer forma de ressecção do cólon devem ser identificados e o tratamento deve incluir esclarecimento do paciente e suporte psicológico, necessários antes e depois da cirurgia. Indicações para o tratamento cirúrgico: Irritabilidade clínica E quais são esses casos? Em geral, são pacientes que se apresentam em episódios graves de diarreia com sangue, febris, taquicárdicos e anemiados. A conduta clínica inclui internação, hidratação e corticoterapia venosas. Se o paciente continua a deteriorar, pode-se tentar ciclosporina intravenosa, na dose de 4 mg/kg/ dia. Se, ainda assim, e ao fim de 7 dias, não houver melhora, com o doente mantendo-se febril, taquicárdico e sem diminuir a diarreia, indica-se operação de urgência. Complicações Agudas As mais importantes são sangramento incontrolável por medidas clinicas, megacólon tóxico e perfuração do cólon. Risco de Câncer Essa situação é mais frequente quando o surto inicial da doença ocorre na juventude, naqueles em que todo o cólon está comprometido, e quando o processo se prolonga por mais de 10 anos. • Retardo de desenvolvimento somático nas crianças • Complicações extraintestinais As complicações extraintestinais não constituem indicações para colectomia. A indicação de operação dependerá da situação da doença colônica, da resposta ao tratamento e do tempo de duração da RCU. Dependentes da lesão intestinal: pioderma gangrenoso, eritema nodoso, estomatite aftoide, irites, artrites periféricas; independentes da lesão intestinal: colangite esclerosante. espondilite ancilosante, nefropatias crônicas
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