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ATIVIDADE - PRODUÇÃO DE ENTREVISTA CORRIDA: Diploma não é um papel morto, diz jornalista Suzana Varjão sobre a necessidade de retomar os valores do jornalismo

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“Diploma não é um papel morto”, diz Suzana Varjão sobre a necessidade de retomar os valores do jornalismo
Sob o impacto dos programas policialescos na sociedade, Suzana Varjão diz que é preciso fazer jornalismo socialmente responsável: “Nossa expectativa é que esse debate ganhe a esfera acadêmica como um todo relacionada à comunicação de massa.”
por Gabriela Moreira Lopes
Gerente do Núcleo de Qualificação e Monitoramento de Mídia da ANDI – Comunicação e Direitos, a jornalista Suzana Varjão acredita que é preciso fazer jornalismo socialmente responsável. “Nossa expectativa é debater sobre quem somos. Nós estamos num momento em que precisamos retomar valores do jornalismo”. No entanto, ela diz que isso não é fácil e que não existe receita de bolo, mas reforça que o jornalista precisa conhecer as leis. “Conhecendo essas leis nós minimamente estaremos num bom caminho para ajudar a sociedade brasileira e principalmente os agrupamentos vulneráveis da população, como crianças e adolescentes”.
Esse conhecimento, segundo ela, faz com que o jornalista se observe no seu papel, que implica diretamente no fato de que a ideia de liberdade completa de expressão não existe. “Nós jornalistas, nós midiáticos, não somos semideuses. Nós temos regras. Se uma das nossas atribuições é fazer com que as outras instâncias e instituições respeitem regras, por quê isso não vale para nós?”.
Além disso, ela afirma que é preciso retomar o diploma. “Como diz Celso Schröder, presidente da FENAJ, nós precisamos retomar o jornalismo para os jornalistas, retomar inclusive o nosso diploma, a obrigatoriedade dele. Um diploma não é um papel morto. Ele se pressupõe numa formação mínima, não apenas técnica como ética e em função da “corrida para o fundo”. Nós somos isso. Nós temos essa fronteira. Essas fronteiras precisam ser respeitadas e estão precisando nesse momento, de visibilidade”.
Para Suzana, o jornalismo socialmente responsável impede que programas policialescos violem os direitos das pessoas desrespeitando sua presunção e inocência. “O modo de evitar é, no mínimo, respeitando o outro. Essa violação a esse direito que a pessoa tem de ser presumida inocente até que se prove o contrário está em três normativas: no artigo 5º da Constituição Federal, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem no artigo 1º, e no 5º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiro”.
As violações desse tipo de programa, no entanto, acabam confundindo a quem assiste ao ponto de não ser possível dizer se a pessoa retratada é vítima ou inocente. “As pessoas que são indevidamente retratadas nesses programas são, em geral, pessoas negras e pobres e pessoas com pouco poder simbólico para se defender. Essas pessoas passam a sofrer conseqüências negativas, incalculáveis e até irreversíveis devido a esse tipo de exposição”.
No entanto, ela não acontece apenas no jornalismo, mas em toda a mídia, como na publicidade infantil. Sobre esse tipo de publicidade há o PL 5921, um dos projetos mais importantes sobre o assunto. Apesar de não conhecer seu estado de tramitação atual, Suzana acredita que seja necessário. O projeto restringe a publicidade dirigida à criança, proibindo o merchandising e o merchantainment, além da publicidade de alimentos e bebidas não saudáveis com apelos para crianças. A proposta também transforma em lei algumas das regras estabelecidas pelo Conar. “Em relação ao escopo geral dele, a gente acha que é absolutamente necessário, na verdade. Inclusive algo muito próximo disso foi aprovado pelo Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), uma resolução que diz ser abusiva a publicidade dirigida a crianças e adolescentes. A gente acredita que seja necessário e consideramos que o quadro publicitário brasileiro de fato viola o direito de crianças e adolescentes, que são seres em formação que ainda não têm capacidade de discernimento e condição de ver o caráter persuasivo da propaganda, então é necessário esse tipo de proteção”.
“Há outro tipo de impacto negativo, que é sobre a governança, porque os discursos desses programas extrapolaram os discursos raivosos contra pessoas pretensamente suspeitas de algum crime para insurgirem-se contra a democracia brasileira. São discursos que a gente vê do tipo ‘tem que fechar o Congresso Nacional’, ‘A Justiça não funciona e só está aí para tomar o nosso dinheiro’ e por aí vai. A percepção social sobre a democracia é extremamente complicada e isso a partir de uma observação muito apurada. Não é a toa porque hoje têm jovens gritando pela volta da ditadura.”
Como uma instituição que busca promover a mediação entre especialistas e jornalistas, a ANDI segue a linha de o jornalista não falar por meio de achismos. “Nosso trabalho primordial é promover essa mediação na perspectiva de um jornalismo socialmente responsável, e pra isso nós não falamos o que achamos. Falamos a partir de trabalhos, de pesquisas e de uma palavra muito bem dissecada”.
Por isso, é preciso evitar diagnósticos. Um exemplo é sobre a “irresponsabilidade” da cobertura de meios jornalísticos, como o rádio, a TV, a web e o impresso. “É preciso ter muito cuidado com a palavra, com o diagnóstico. Seguramente, este setor sobre o qual nós nos debruçamos há três anos e produzimos uma pesquisa ampla, profunda, fundamentada e precisa, está sendo absolutamente irresponsável fisicamente porque nós temos – e é muito difícil termos – um diagnóstico que abre todo esse campo vasto, chamado mídia ou jornalismo. Eu diria que pelo próprio modo de operação, esses dois setores – do impresso ao radiofônico -, o impresso tem a possibilidade de uma maior reflexão, e sempre foi assim. O rádio e a TV, quando surgiram, sempre tentaram repicar o que estava no impresso, só que vivemos o momento de uma revolução tamanha, inclusive tecnológica. Nós estamos vivendo uma “corrida para o fundo”, aonde um vai e todos seguem. Os impressos hoje estão sem apoio material, e estão seguindo a mesma cultura que as redes sociais. Assim, é muito complexo pra gente [a Andi] dar um diagnóstico que abrigue todas essas variadas”.
Dessa forma, Suzana avalia que discursos como o da jornalista Rachel Sheherazade sobre fazer “justiça com as próprias mãos” não é jornalismo. “Como pessoa não especializada, se eu vejo que alguém coloca uma mensagem na rede social eu vou checar porque pode ter sido apenas a opinião, então eu não vou dar credibilidade imediata àquilo”. Em um programa como o do qual Rachel faz parte, o SBT Brasil, que age em nome do jornalismo, isso se torna preocupante, avalia Suzana. “Eles estão emitindo mensagens completamente fora dos padrões do jornalismo. Como eles se dizem jornalísticos eu iria acreditar que a mensagem que está passando foi checada, debatida e que finalmente a mensagem encaminhada foi comprovada”. Para ela, essa checagem não acontece. “Com certeza em 99,99% dos casos isso não é verdadeiro”.
Esse achismo também vale para as questões políticas, como a situação do atual momento democrático do país, onde enquanto membro da ANDI Suzana diz não ter o direito de falar a respeito desse assunto. No entanto, como pessoa, ela tem suas próprias opiniões. “Suzana Varjão pessoa, militante, avalia como um desvio lamentável de nossos objetivos. Não vou falar desse ou daquele veículo, mas eu acho que nós estamos vivendo um reflexo de um lamentável equívoco da comunicação de massa”.

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