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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI DESENVOLVIMENTO EXPRESSIVO INFANTO- JUVENIL E PROCESSOS EDUCATIVOS GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5 2 A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ....................................................................... 6 2.1 Fundamentos da educação em arte ................................................................. 8 3 A ARTE COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA .................................................. 11 3.1 A arte na cultura e no contexto histórico-social .............................................. 13 3.2 Relações entre a educação estética e a educação artística ........................... 16 4 A LINGUAGEM CORPORAL EXPRESSA EM MOVIMENTOS E BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS ....................................................................................................... 20 4.1 Movimentos e expressão corporal por meio de brincadeiras .......................... 20 4.2 Importância do corpo nas brincadeiras e aprendizagens das crianças .......... 23 4.3 Emoções expressas nas brincadeiras por meio das expressões corporais .... 25 5 O DESENVOLVIMENTO EXPRESSIVO INFANTO-JUVENIL .............................. 27 5.1 Estágios do desenho segundo Luquet ............................................................ 28 5.1.1 Realismo Fortuito ....................................................................... 28 5.1.2 Realismo falhado (incapacidade sintética) .............................. 31 5.1.3 Realismo Intelectual ................................................................... 34 5.1.4 Realismo Visual .......................................................................... 35 5.2 Estágios do desenho segundo Piaget ............................................................ 37 5.2.1 Garatuja ....................................................................................... 37 5.2.2 Pré- Esquematismo .................................................................... 37 5.2.3 Esquematismo ............................................................................ 37 5.2.4 Realismo ..................................................................................... 38 5.2.5 Pseudo Naturalismo ................................................................... 38 5.3 Estágios do desenho segundo Vygotsky ........................................................ 38 5.3.1 Etapa simbólica .......................................................................... 40 5.3.2 Etapa simbólico-formalista ........................................................ 40 3 5.3.3 Etapa formalista veraz ............................................................... 40 5.3.4 Etapa formalista plástica ........................................................... 40 6 A ESCOLA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ............................................... 41 6.1 O desenvolvimento físico, emocional e cognitivo escolar ............................... 42 6.2 Psicologia do desenvolvimento e educação ................................................... 44 7 A IMAGINAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO EXPRESSIVO ................................. 46 8 A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................................. 48 9 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NO DESENVOLVIMENTO EXPRESSIVO INFANTO-JUVENIL ................................................................................................... 54 9.1 A imaginação, a fantasia e a literatura infantil ................................................ 56 9.2 Literatura e processos educativos .................................................................. 58 10 DESENVOLVIMENTO DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ......................... 60 10.1 Reflexão acerca do alfabetizar letrando.......................................................... 62 10.2 A importância do trabalho com textos para o desenvolvimento da criança .... 65 11 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL .......................................... 67 11.1 O legado histórico sobre o cuidar e o educar na educação infantil ................. 69 12 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA ................. 71 12.1 Desenvolvimento físico-motor ......................................................................... 72 12.2 Desenvolvimento cognitivo ............................................................................. 73 12.3 Desenvolvimento psicossocial ........................................................................ 74 13 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA, O CONTEXTO DE CRECHE E O PAPEL DO EDUCADOR DE INFÂNCIA ...................................................................................... 76 14 EDUCAÇÃO INFANTIL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ........................... 79 15 A CONTEMPORANEIDADE E O FAZER PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................................................................................. 83 15.1 O lúdico na educação ..................................................................................... 86 15.2 A arte na educação infantil e no ensino fundamental segundo a BNCC ........ 89 15.3 O Papel da família e da escola na infância ..................................................... 91 4 REFÊRENCIAS ......................................................................................................... 94 5 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL A criança, desde que nasce, depara-se com um repertório de símbolos e significados construídos pelas gerações que a precederam e, participando das práticas culturais do seu grupo, reconstrói os significados do mundo físico, psicológico, social, estético e cultural. O mundo simbólico será conhecido e ressignificado no convívio e acesso aos jeitos de pensar e fazer e aos códigos, entre eles os códigos da Arte. [...] é na cotidianidade que os conceitos sociais e culturais são construídos pela criança, por exemplo, os de gostar, desgostar, de beleza, feiura, entre outros. Esta elaboração se faz de maneira ativa, a criança interagindo vivamente com pessoas e sua ambiência (FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 42). A organização de sentidos para esse mundo simbólico, à disposição das crianças, é um ato criador ao mesmo tempo individual e coletivo. Ao reconstruir os sentidos das experiências para si, a criança articula as experiências externas às suas possibilidades de percepção e leitura de mundo. Neste sentido, não apenas reproduz o que percebe, mas cria outros sentidos, usa a imaginação para preencher os vazios de sua leitura de mundo, articulando significados própriospara o que observa e percebe. Interage com manifestações artísticas, estéticas e comunicativas do ambiente e, nessa interação, entra em contato com o contexto social e cultural que permeia a estruturação do senso estético. Queiramos ou não, é evidente que a criança já vivencia a Arte produzida pelos adultos, presente em seu cotidiano. É óbvio que essa Arte exerce vivas influências estéticas na criança. É óbvio, também, que a criança com ela interage de diversas maneiras (FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 43). Naturalmente, as crianças entram em contato com o mundo sensível, agindo sobre ele com afeto, cognição, motricidade; e constroem para si um repertório perceptivo de formas, cores, texturas, sabores, gestos e sons, atribuindo a este mundo, sentidos e organizações diferentes. O professor deve considerar essas significações já construídas e colocar o desafio de construir outras. A expressividade infantil implica na construção de formas de linguagem e comunicação exercidas no processo de socialização. Atuando expressivamente é que a criança aprende e vivencia formas de ser e de estar no mundo humano. 7 O desenvolvimento dessa expressão infantil acontece junto com seu desenvolvimento afetivo, perceptivo e intelectual e resulta do exercício de conhecimento de mundo. Exercício esse de construir noções a partir das suas experiências sensoriais e/ou corporais. A vivência do mundo simbólico e a ampliação das experiências perceptivas que fornecem elementos para a representação infantil dão-se no contato com o outro. O professor pode, através do trabalho com o aprimoramento das potencialidades perceptivas, enriquecer as experiências das crianças de conhecimento artístico e estético e isto se dá quando elas são orientadas para observar, ver, tocar, perceber as coisas, a natureza e os objetos à sua volta. [...] durante as criações ou fazendo atividades de seu dia a dia, as crianças vão aprendendo a perceber os atributos constitutivos dos objetos ou fenômenos á sua volta. Aprendem a nomear esses objetos, sua utilidade seus aspectos formais (tais como linha, volume, cor, tamanho, textura, entre outros) ou qualidades, funções, entre outros... Para que isso ocorra é necessário a colaboração do outro – pais, professoras, entre outros - sozinha ela nem sempre consegue atingir as diferenciações, muitas vezes sua atenção é dirigida às características não - essenciais e sim às mais destacadas dos objetos ou imagens, como por exemplo, as mais brilhantes, mais coloridas, mais estranhas... (FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 49). Nesse sentido as crianças criam, experimentam, vivenciam o tempo todo, interagindo com a arte de forma implícita, portanto é importante a troca com o outro para que possa diferenciar e perceber características essenciais do processo de criação. Fonte: https://novaescola.org.br/ 8 2.1 Fundamentos da educação em arte Pensar sobre a arte na educação nos tempos atuais parece urgente, principalmente quando percebemos que a escola e, em particular, os currículos escolares, parecem estar sendo pautados por uma lógica que privilegia a racionalidade do mercado, do mundo do trabalho, negligenciando outras questões igualmente importantes para o desenvolvimento pleno do ser humano. Para o poeta Rubem Alves (1988, p. 11), a educação como um todo deveria se fundamentar nos princípios estéticos da arte: Seria compreensível e mesmo defensável um apelo para que os valores estéticos fossem incluídos em nossos currículos. Ninguém negaria que a beleza tenha sido deles banida de forma espantosamente radical. Por boas razões, é claro. Afinal de contas, a sensibilidade artística parece não oferecer contribuição alguma, seja ao desenvolvimento, seja à segurança do país... Bem diz o ditado popular que “beleza não se põe na mesa”. Claro que coisas úteis são mais importantes do que coisas belas. Mas mesmo o mais endurecido materialista estaria disposto a concordar que a arte, às vezes, tem certa utilidade De forma poética, irônica e desafiadora, o autor procura apontar questões importantes a respeito da arte e do confronto entre a utilidade e a estética na educação. Dessa forma, podemos entender que a arte sempre esteve presente na vida das pessoas, reconfigurando-se a cada momento histórico, uma vez que esta é produto da cultura humana. Assim, iniciaremos nosso capítulo aprendendo sobre dois importantes pontos que devem fundamentar a educação em de arte: fundamentos estéticos e artísticos. Ao acompanharmos o estudo da arte em paralelo à evolução humana, percebemos que esta serve para as mais diversificadas funções, desde a simples expressão de vivências e anseios, associada a tarefas pedagógicas, à apreciação religiosa, à distinção de classes sociais pelo seu acesso, até o puro deleite que proporciona àquele que a observa ou a vivencia. Portanto, podemos constatar que a manifestação artística em suas várias possibilidades propicia um encontro estético, no qual o ser humano pode refletir a respeito do belo, produzindo, pela percepção, seu próprio conceito sobre a produção do artista. De acordo com Chauí (2010, p. 411): Estética é a tradução da palavra grega aesthesis, que significa conhecimento sensorial, experiência, sensibilidade. Foi empregada pela primeira vez pelo alemão Baumgarten, por volta de 1750. Em seu uso inicial referia-se ao 9 estudo das obras de arte enquanto criações de sensibilidade, tendo como finalidade o belo. Pouco a pouco, substituiu a noção de arte poética e passou a designar toda a ação filosófica que tenha por objetivo as artes ou uma arte. Do lado do artista e da obra, busca-se a realização da beleza; do lado do espectador e receptor, busca-se a reação sob a forma do juízo de gosto, do bom gosto. De acordo com as ideias da autora, ao propormos a educação na escola, fundamentando-a pela lógica da estética, devemos proporcionar aos alunos experiências sensoriais para que possam desenvolver sua sensibilidade em relação às manifestações artísticas que lhes rodeiam. É importante destacar que, na contemporaneidade, a questão estética transcende o conceito de belo, pois, em alguns casos, este pode não fazer parte da concepção de um artista. A arte provoca emoções, suscita desejos, combate ou milita em questões de cunho social, entre outros. Como já mencionado, ao abordarmos a estética, o foco se volta para a questão da experiência sensorial a ser vivenciada pelo espectador que, a partir desta, irá produzir seus próprios juízos. Essa experiência estética sensorial costuma se relacionar ao conceito de fruição, que significa desfrutar da expressão artística, apreciar a arte e seu criador. Atualmente, os fundamentos da estética na educação em arte também procuram se conectar com questões da realidade social dos alunos, propondo que a partir de oportunidades de interpretação das múltiplas linguagens artísticas eles possam romper com os padrões da vida cotidiana. Ao abordar estas questões, Ferraz e Fusari (2010, p. 54) complementam que “[...] o estético em arte diz respeito, dentre outros aspectos, à compreensão sensível-cognitiva do objeto artístico inserido em um determinado tempo/espaço sociocultural. Todavia, a experiência estética pode ser mais ampla e não necessariamente derivada da arte [...]”. Portanto, podemos vivenciar manifestações estéticas por meio de fenômenos da natureza, como o canto dos pássaros, o pôr do sol, as copas das árvores floridas, etc., de acordo com nosso nível de sensibilidade. Canclini (1980) alerta para a existência de uma mediação entre as produções artísticas e o meio social, que procura definir o que pode ser considerado arte ou produção artística em cada época, de acordo com categorias estéticas que sejam legitimadas e vigentes. Podemos entender que a produção artística está diretamente relacionada aos padrões estéticos estabelecidos socialmente,sendo, assim, produto da cultura da sociedade. Por essa razão é importante que, no contexto escolar, os 10 professores de artes possibilitem o estudo a respeito da vida e da contextualização social e histórica de cada autor, procurando entender como estes fatos implicam em suas obras. A Figura a seguir serve como ilustração para a importância da combinação de aspectos estéticos, sensoriais e conhecimentos artísticos em sala de aula. Fonte: Poznyakov/Shutterstock.com Com relação aos fundamentos artísticos que envolvem a educação em arte, devemos compreender que “[...] a concepção de artístico relaciona-se diretamente com o ato de criação da obra de arte, desde as primeiras elaborações de formalização dessas obras até em seu contato com o público [...]” (FERRAZ; FUSARI, 2010, p. 56). Neste aspecto, os professores deverão proporcionar experiências para que os alunos possam exercer sua autoria nas linguagens artísticas que estão aprendendo, seja em artes visuais, dança, música ou teatro. Esta atividade exige planejamento, uma vez que, segundo Ferraz e Fusari (2010, p. 56), “[...] o fazer artístico (a criação) é a mobilização de ações que resultam em construções de formas novas a partir da natureza e da cultura; é ainda o resultado de expressões imaginativas, provenientes de sínteses emocionais e cognitivas [...]”. Portanto, produzir arte na escola (e em qualquer outro espaço) trabalha tanto com a inteligência emocional quanto a capacidade cognitiva do aluno. Os fundamentos da educação em arte devem ser pautados no conhecimento das principais etapas do processo artístico, que são apresentadas, de forma resumida, no esquema a seguir: 11 OS AUTORES/ARTISTAS São os criadores (profissionais ou não) de produtos ou obras artísticas a partir da história de seus modos e patamares de sensibilidade e entendimento da arte. São pessoas sempre situadas em um contexto sociocultural que suas obras representam OS PRODUTOS ARTÍSTICOS/OBRAS DE ARTE São os trabalhos que resultam de um fazer e pensar que reúne técnica, emoção e representação do mundo e da cultura e que sintetizam os conhecimentos artísticos e estéticos dos autores. Trazem consigo um história e situam-se num contexto sociocultural específico. A COMUNICAÇÃO/DIVULGAÇÃO São as práticas utilizadas para expor, apresentar, veicular ou intermediar as obras artísticas produzidas entre as pessoas ao longo de nossa história cultural. Podem assumir formatos profissionais ou não O PÚBLICO/OUVINTES/ESPECTADORES São as pessoas que constroem a história de suas relações com as produções artísticas e seus autores em diversos níveis de sensibilidade e entendimento da arte. Também situam-se em um tempo-espaço que é construído socioculturalmente. Fonte: Adaptada de Ferraz e Fusari (2009). 3 A ARTE COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA Na fase da educação infantil as atividades artísticas contribuem com ricas oportunidades para seu desenvolvimento, uma vez que põem ao seu alcance diversos tipos de materiais para manipulação, além da arte espontânea que surge em brincadeiras ou a partir de uma proposta mais direcionada (BES, 2018). O lúdico, o teatro, a dança, a pintura, o desenho, a criatividade, o conto de fadas, fazem parte de um momento em que as crianças se expressam, comunicam e transformam a vida na relação com a arte, ou seja, “somos potencialmente criadores, possuímos linguagens, fazemos cultura” (PIRES, 2009, p. 47). 12 O professor precisa dar oportunidades para que o aluno se expresse de forma espontânea, pessoal, porém é importante que o mesmo consiga analisar o contexto da atividade e quais benefícios ela traz para o desenvolvimento da criança. Conforme diz Almeida (1992, p.48), A maioria dos professores acredita que desenhar, pintar, modelar, cantar, dançar, tocar e representar é bom para o aluno, mas poucos são capazes de apresentar argumentos convincentes para responder “Por que essas atividades são importantes e devem ser incluídas no currículo escolar? ”. O professor de educação infantil busca proporcionar atividades artísticas criando símbolos que expressem sentimentos e pensamentos, portanto, para que isso aconteça é necessário planejar, orientando e avaliando as atividades, ou seja, o professor deve ser um observador atento e sensível, buscando sempre novas técnicas e recursos para explorar a arte na sala de aula, contribuindo assim para o desenvolvimento do seu aluno. Lavelberg (2003, p.12) afirma que: É necessário que o professor seja um “estudante” fascinado por arte, pois só assim terá entusiasmo para ensinar e transmitir a seus alunos a vontade de aprender. Nesse sentido, um professor mobilizado para a aprendizagem contínua, em sua vida pessoal e profissional, saberá ensinar essa postura a seus estudantes. O contato com as diferentes formas de artes oportuniza aos alunos a exploração, o conhecimento, a brincadeira, desenvolvendo uma visão transformadora beneficiando um vínculo com a realidade, contribuindo para analisar a compreensão do aluno e do mundo a qual vivencia, favorecendo a ligação entre a fantasia e a realidade (BES, 2018). Compreender as artes como um espaço de experimentação, de jogo, onde a criança possa construir uma análise pessoal das suas construções. Através da realização de atividades artísticas a criança desenvolve sentimentos, autoestima, capacidade de representar o simbólico, analisando, avaliando e fazendo interpretações, desenvolvendo habilidades específicas da área das artes. A criança da educação infantil explora bastante os sentidos, pois se encontra na fase do concreto, fazendo com que suas experiências sejam enriquecidas. Como neste período, suas habilidades são estimuladas, facilita o processo de ensino- 13 aprendizagem, pois são desenvolvidas a percepção e a imaginação, o que facilita a compreensão das diferentes áreas do conhecimento. A arte é fundamental na formação das crianças, pois representa experiências individuais e para que a arte seja utilizada como uma ferramenta no desenvolvimento cognitivo, intelectual e emocional do aluno, o professor precisa ter sensibilidade e conhecimento de que a arte é extremamente necessária no cotidiano escolar, ciente do seu papel na relação com o desenvolvimento (BES, 2018). E assim, o uso e o ensino das artes na educação infantil estão ligados aos interesses de quem aprende, pois estes serão autores de suas próprias histórias, transformando a arte parte de suas vidas, dando um sentido para algo visto como incompreensível, tornando essa prática um instrumento pedagógico que vai contribuir na construção do sujeito. Fonte: https://novosalunos.com.br/ 3.1 A arte na cultura e no contexto histórico-social Como mencionado anteriormente, a manifestação artística se relaciona com os padrões estéticos e culturais de cada época. Portanto, as obras de arte são consideradas artefatos culturais que representam, de alguma forma, os acontecimentos históricos do período em que foram produzidas. Tais fatos contribuíram para a manifestação artística por meio de produções e representações de eventos específicos. Muitos artistas se valeram, no decorrer do tempo, das mais variadas formas de difusão de sua arte para o público apreciador de seu trabalho. Conheceremos, nesta sessão, alguns aspectos históricos da difusão da arte na 14 cultura, considerando contextos históricos no desenvolvimento da sociedade. (BES, 2018). Ao estudarmos a história da arte e a humanidade, podemos apontar a relação intrínseca e direta da manifestação artística com a cultura da sociedade em cada período. No período pré-histórico, por exemplo, a arte se manifesta em paredes de cavernas, nas quais as tribos representavam suas façanhas, de modo a narrar sua história. Já no período da modernidade, a arte passou a ser associada à elite,que tinha acesso ao teatro, óperas, obras clássicas literárias, pinturas e esculturas de artistas renomados. Com o advento da pós-modernidade e o alargamento do conceito de arte, bem como do próprio conceito de cultura, criaram-se outras formas de manifestações artísticas consideradas mais populares e regionais, entre elas, o grafite. Neste período, procura-se universalizar o acesso às artes para toda a sociedade, anteriormente direcionadas para uma classe tida como dominante. Na atualidade, podemos encontrar diferentes tipos de manifestações artísticas em nossa cultura. Ao caminhar pelas ruas, deparamo-nos com grafites que adornam paredes e muros, esculturas, museus, prédios tombados e suas arquiteturas, paisagens, proliferações de imagens que nos chegam pela mídia de massa (televisão e rádio) ou pelas mídias digitais (computadores, telefones móveis). Nossas relações sociais estão sendo permeadas por aspectos da estética e da arte cotidianamente, embora nem sempre percebamos (BES, 2018). Dada a proximidade das questões da estética e das produções artísticas com a cultura na sociedade — cultura esta que estabelece regras, normas e produz maneiras de pensar, sentir e viver — uma das formas de entender como ocorre a difusão da arte é compreendê-la dentro de etapas que compõe o processo cultural. Ao analisar a arte e sua relação com a cultura na contemporaneidade, com ênfase na etapa da difusão, é importante destacar o conceito de intermediação cultural, que dentro do processo da produção da nossa cultura pode ser entendida como aquela que faz funcionar os canais de ligação entre produção e recepção, entre criadores e públicos e que é resultado das atividades mais ou menos especializadas de agentes e organizações que intervêm nos processos de seleção, filtragem, distribuição, divulgação, avaliação e valorização das criações (FERREIRA, 2002, documento on-line). Por isso, a intermediação cultural passa a ser decisiva no processo de difusão da arte. No Brasil, percebemos como os agentes de 15 intermediação cultural, algumas vezes representados por organizações da sociedade civil, costumam atuar nos mais diversos campos sociais, possibilitando que a arte de cada grupo cultural possa ser expressa. Fonte: Adaptada de Ferreira (2002) Na música, há meios de divulgação de manifestações artísticas de grupos organizados em favelas, que se apresentam tanto em street dance, quanto em orquestras clássicas. Ao mesmo tempo, vemos centenas de jovens que optam pelo funk ou o rap como meio para expressar sua arte e, possivelmente, melhorar suas condições de vida. Dessa maneira, embora a educação em arte deva ir além da simples análise de seu caráter social, sabemos que este é um fator determinante. Como já mencionado, a produção artística deve sempre reunir tanto elementos cognitivos, que envolvem técnicas e estilos aprendidos ao longo da trajetória artística, quanto aspectos relacionados à sensibilidade e à emoção, que fazem parte da estética (BES, 2018). As estratégias de difusão cultural também se fazem presentes nos espaços tradicionais de exibição da arte, como nos museus. Veja, a seguir, as atribuições do setor de difusão cultural do Museu de Arte Murilo Mendes (2019), de Juíz de Fora, descritas em seu portal eletrônico. Compete ao Setor de Difusão Cultural: implementar projetos culturais que confiram visibilidade ao acervo do MAMM; promover e gerenciar intercâmbios junto a outras instituições, na perspectiva da ação educativa; contribuir para a obtenção de recursos destinados às ações culturais idealizadas pelo museu; auxiliar na produção, planejamento e organização de eventos culturais promovidos e/ou apoiados pelo museu; promover ações educativas por meios de cursos, palestras, seminários, oficinas, mostras e visitas orientadas. 16 No que diz respeito às escolas e ao ensino e aprendizagem da arte, podemos perceber como a difusão cultural também procura promover esta aproximação com os processos educacionais que estão sendo desenvolvidos em sala de aula. Cabe aos professores, em seus planejamentos, pesquisar e propor ações pontuais com seus alunos nestes espaços, que melhor se alinhem com as técnicas apreendidas, que trabalhem com temas que os sensibilizam e despertam seu interesse, como artistas locais, nacionais ou internacionais que estejam realizando exposições. É importante pontuar que, em uma sociedade em que a mídia digital costuma tornar pública toda a diversidade de manifestações artísticas, a tarefa do professor em proporcionar este contato para seus alunos é facilitada (BES, 2018). 3.2 Relações entre a educação estética e a educação artística São múltiplas as relações que podem ser estabelecidas entre a educação estética e a educação artística, uma vez que ambas são interdependentes e complementares. De acordo com Pareyson (1954 apud Bosi, 2000, p. 8), os temas centrais da reflexão estética que devem se fazer presentes na produção artística são “[...] o fazer, o conhecer e o exprimir [...]”. Portanto, o professor de arte não deve concentrar suas aulas somente no fazer artístico, devendo ampliar suas práticas com estratégias que levem seus alunos a desenvolver, concomitantemente, uma educação estética, ou seja, que desenvolvam os aspectos da percepção sobre a arte, da apreciação (fruição) das manifestações artísticas e, até mesmo, da crítica sobre a arte e seu processo. É importante destacarmos que, no sistema educacional brasileiro, sobretudo após a construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 20), entende-se a importância da educação do componente curricular de arte, envolvendo as linguagens artísticas do teatro, da dança, da música e das artes visuais, que deverão ser trabalhadas a partir dos aspectos da criação artística e da percepção estética, uma vez que o conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão do mundo na qual a dimensão poética esteja presente: a arte ensina que nossas experiências geram um movimento de transformação permanente, que é preciso reordenar referências a cada momento, ser flexível. Sendo assim, é evidente a importância da articulação entre o conhecimento, a sensibilização 17 estética e a produção artística para que os alunos possam aprimorar suas visões de mundo e seu aprendizado. Sobre o processo de educação em arte que contempla tanto os aspectos estéticos quanto os artísticos, Ferraz e Fusari (2010, p. 61) defendem que um projeto deste tipo deve apresentar os componentes a seguir: 1. Documentos artísticos produzidos culturalmente (pinturas, esculturas, gravuras, filmes, arquiteturas, fotografias, partituras, gravações em áudio e vídeo, textos dramáticos, roteiros etc.); 2. Informações complementares elaboradas pelo próprio professor, pela mídia ou contidas em publicações especializadas (textos, livros, teses, artigos em jornais revistas, catálogos); 3. Materiais e instrumentos para produções artísticas (papéis, tintas, lápis, argila, madeira, pedra, tecido, arame, luz... instrumentos sonoros, musicais, microfones ... roupas ou figurinos, pincéis, goivas, gravadores, câmeras de fotografia, de vídeo, computador etc.). Cabe ao professor proporcionar aos alunos o contato com estes materiais citados, para que os conheçam, reflitam e apreciem. Para desenvolver suas habilidades estéticas e artísticas, os alunos devem ter acesso a um repertório rico de manifestações da arte na cultura, possibilitando que eles desenvolvam suas próprias leituras e reflexões a partir do conhecimento dos contextos em que estes artistas viveram e das condições de sua produção, atribuindo, assim, os seus próprios significados para estas produções. Ao analisar a produção de significados realizada a partir das imagens presentes nas obras de arte, Vieira da Cunha (2010, p. 112), constatou que: Ossignificados das imagens são construídos nas interações sociais e culturais que realizamos com elas. Os contextos sociais e culturais, amplos ou específicos, e as pessoas, dão existência aos materiais visuais atribuindo- se significados. Portanto, o sentido não “emana” das imagens, mas dos diálogos produzidos entre elas e as pessoas, sendo que estes diálogos são mediados pelos contextos culturais e históricos. Um aluno educado para a percepção estética e artística estará mais preparado para vivenciar a arte de épocas passadas, entendendo que sua produção esteve, neste caso, estreitamente relacionada aos códigos, normas e contextos sociais do período em que o autor a realizou. Observe, nos itens listados a seguir, outras sugestões de atividades que procuram promover a educação em arte pela interação entre os elementos estéticos e artísticos (FERRAZ; FUSARI, 2010): 18 Fazer um estudo dos artistas e suas produções (regionais e internacionais) preferidas ou selecionadas pelos alunos. Fazer um estudo dos artistas e suas produções (regionais e internacionais) ainda desconhecidas destes alunos, mas que possam ser selecionadas para mobilizar seus interesses estéticos e artísticos. Realizar um estudo do patrimônio cultural de sua localidade, comparando-o com o de outras regiões brasileiras, procurando diferenciar aspectos urbanísticos, arquitetônicos, visuais, musicais etc. Selecionar critérios estéticos e artísticos para análise desse patrimônio cultural. Verificar junto ao acervo das bibliotecas, centros culturais, museus, colecionadores etc. a possibilidade de preparar novas atividades teórico- -práticas com os alunos. Fazer um levantamento (pesquisa, enquete) com os alunos para conhecer suas experiências artísticas, bem como técnicas e materiais a ser utilizados. Verificar, em sua região, as possibilidades teóricas e materiais disponíveis para uso nas atividades artísticas propostas na escola; verificar quais materiais podem ser facilmente adquiridos, quais podem ser produzidos e quais as formas de utilizá- los. Reestudar, praticar técnicas artísticas e fazer uso de diversos materiais; verificar que artistas desenvolveram trabalhos com essas técnicas e materiais; selecionar alguns desses trabalhos para ser analisados com os alunos. As relações entre a estética e a arte devem ser estimuladas pelo professor a partir de suas práticas de educação em arte. É preciso conhecer, vivenciar, experimentar as mais diversas manifestações artísticas para que possamos, então, ser capazes de refletir sobre elas. Ao referir-se a arte visual, Manguel (2001, p. 27) esclarece que “[...] só podemos ver coisas para as quais possuímos imagens identificáveis, assim como só podemos ler em uma língua cuja sintaxe, gramática e vocabulário já conhecemos [...]”. Com a arte, isto ocorre da mesma maneira, pois precisamos entender como a sociedade em seu desenvolvimento histórico foi estabelecendo formas de representação das coisas pertencentes à realidade cotidiana e que nos fornecem, então, condições de ver o que está ali representado 19 artisticamente, considerando quais significados foram atribuídos para aquela obra específica pelo autor. Para que possamos perceber como as questões estéticas e artísticas estão correlacionadas, Vieira da Cunha (2010, p. 120) nos concede a seguinte sugestão: Prestem atenção, nas revistas de grande circulação nacional, sobre as representações de infância, mulheres e homens jovens, maduros, idosos e idosas. O que estas imagens, representações, nos dizem sobre estas diferentes fases da vida? Quais os tipos que são excluídos? Como formulamos concepções sobre maturidade, juventude e infância através destas imagens? Acompanhando o questionamento feito pela autora, podemos perceber como a arte também contribui para que a vida em sociedade venha a ser modelada de acordo com os padrões vigentes na cultura de cada época. Podemos verificar estas questões ao percebemos como alguns temas, em diferentes épocas, ganham representações muito distintas nas manifestações da arte. Da mesma forma, existe a mescla de culturas, que hibridiza e reconfigura as formas de pensar a estética e a arte. É importante mencionarmos que, atualmente, as aulas de arte nas escolas se dirigem a todos os alunos que ali estão inseridos, não fazendo distinção entre aqueles que seriam mais hábeis ou reuniriam as condições exigidas para criar uma manifestação artística. Ao referir-se à dança, Santos (2010, p. 27) chama a atenção para a mudança nos preceitos estéticos desta arte, que se fizeram presentes até metade do século XX, quando os corpos vistos como padrões deveriam ser “[...] fortes, esguios, leves, ágeis [...]”. Isto excluía aqueles que não se encaixavam nestas definições. Como educadores em arte, devemos entender que: [...] excluídos ou incluídos, estranhos ou anormais, o que precisa estar em foco é que é desta maneira heterogênea que se constituem as turmas, e não de uma uniformidade idealizada. O aluno de dança tanto será o que atende a norma como o que dela escapa, o que parece familiar, quanto o que causa estranhamento [...] (SANTOS, 2010, p. 26). O mesmo se aplica para as demais linguagens artísticas, o teatro, a música e as artes visuais, e cabe ao professor promover a vivência destas possibilidades de desenvolvimento pleno a todos os alunos por meio da arte. 20 4 A LINGUAGEM CORPORAL EXPRESSA EM MOVIMENTOS E BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS A linguagem corporal é uma forma de comunicação, pois liga os aspectos motores, cognitivos e sociais. É por meio do corpo que expressamos desejos, frustrações e ansiedades. A criança consegue se organizar, assimilar e identificar conceitos utilizando o seu corpo como forma de expressão. 4.1 Movimentos e expressão corporal por meio de brincadeiras A criança se expressa por meio de seu corpo, o que lhe possibilita explorar o mundo, ajudando-a a aprender sobre limites e potencialidades, bem como a explorar e se orientar no espaço. Dentro da educação infantil, devem-se trabalhar movimentos amplos, ajudando a criança a compreender o próprio corpo de modo que ela adquira autoconfiança. Segundo Suzana Aparecida Camara (2016), as atividades motoras se dividem em três classificações: estabilizadoras, locomotoras e manipulativas. As estabilizadoras trabalham o equilíbrio da criança, enquanto as locomotoras trabalham movimentos e as locomotoras e as manipulativas trabalham a relação do corpo com os objetos externos. Gallahue e Ozmun (2003 apud LOBO; VEGA, 2008, p. 76) dividem as atividades motoras em fases: Habilidades motoras reflexivas: crianças de 1 mês a 1 ano de idade. Habilidades motoras rudimentares: crianças de 1 ano a 2 anos de idade. Habilidades motoras fundamentais: 2/3 anos a 5/6 anos de idade. Habilidades motoras fundamentais e combinadas. Habilidades motoras especializadas. Nas habilidades motoras reflexivas, os bebês a partir dos 3 meses de idade apresentam movimentos reflexivos involuntários, os quais passam a ser voluntários no quarto, quando os membros se desenvolvem de cima para baixo, e a criança desenvolve habilidades de rastejar e depois engatinhar, começando a explorar os processos, e logo passando para o equilíbrio. Quando a criança estiver bem 21 equilibrada, começará a dar os primeiros passos (entre 9 meses e 1 ano a criança começa a andar); com o caminhar em processo, a criança está pronta para explorar o espaço e interagir socialmente. Cada criança é um ser único que se desenvolve em seu tempo. Nas habilidades motoras rudimentares, os movimentos das crianças no primeiro ano ainda são rudes, ainda necessitam de controle; com 2 anos, elas já possuem controle total de seus movimentos, então o professor deve oferecer auxílio para o desenvolvimento delas, pois nessa fasea criança vem desenvolvendo equilíbrio próprio para se locomover e manipular objetos e possui habilidades de recebê-los e arremessá-los. A motricidade da criança está em pleno desenvolvimento, pois nessa fase ela começa a correr, subir, descer escadas com auxílio, rabiscar e ter noção de distância, força e espaço. As habilidades motoras fundamentais são consequências das anteriores, assim, a criança está envolvida com a exploração e a experimentação do próprio corpo. Ela começa a exercer atividades em conjunto, como jogar futebol. Primeiro os movimentos aparecem isolados e depois em conjunto, reagindo a estímulos. São divididos em: estabilização (a criança recupera o equilíbrio), locomoção (movimentos de andar e saltar) e manipulação (movimentos de arremessar e chutar). Na primeira infância, a criança controla sua musculatura e tem controle da gravidade, podendo sentar-se e ficar de pé, estabilizando-se. Gallahue e Ozmun (2003 apud LOBO; VEGA, 2008, p. 81) dividiram os três padrões motores em 23 habilidades motoras fundamentais, servindo para avaliar o desenvolvimento das crianças: Estabilização: 6 habilidades motoras fundamentais. Locomoção: 9 habilidades motoras fundamentais. Manipulação: 8 habilidades motoras fundamentais. Padrão estabilizador – o equilíbrio é a base da criança, a estabilização ajuda no controle do corpo. As habilidades estabilizadoras são as seguintes: movimentos axiais; postura de rotação corporal; desvio; equilíbrio estático em um pé só; 22 caminhada direcionada; apoio invertido. Padrão locomotor – a locomoção envolve a exploração: caminhar; correr; salto de caminhada em altura; salto vertical ou em altura; salto horizontal; saltito; galope e deslizamento; pulo; salto misto. Padrão manipulativo – a criança, ao manipular objetos, explora o movimento: rolamento de bola; arremesso supramanual; apanhar; chute; aparar; rebater; drible; voleio. Na educação infantil, a criança começa a brincar coletivamente (em grupos), o professor auxilia no desenvolvimento das habilidades motoras; aos 6 anos, a criança começa a interpretar percepções pronta para se apresentar à sociedade. Cada criança possui ritmo, potencialidade e limite próprios; nessa idade, ela gosta de imitar, de correr, subir, esconder, cantar, brincar de faz de conta, jogar bola, entre outros. Quando brincam, elas sentem prazer, pois o brincar estimula a criatividade, dá a liberdade de desempenho. As brincadeiras são um processo de socialização, e o brincar não possui regras, a criança é livre. Com 5/6 anos de idade, as brincadeiras simulam o real e até criam regras (LEON, 2018). 23 Fonte: Categoria das Habilidades Fundamentais de Movimento (GALLAHUE, 2008, p. 54). As habilidades motoras fundamentais, de acordo com Camara (2016, p.12), são divididas em: Estágio inicial: apresenta movimentos exagerados em relação ao corpo; geralmente, as crianças de 2 anos estão nessa fase; Estágio elementar: a coordenação está mais em sincronia; apesar de ainda serem restritos e exagerados, esses movimentos ocorrem com crianças de 3 ou 4 anos, podendo ser antes ou depois dessa idade, dependendo de cada indivíduo. Estágio maduro: o movimento é eficiente, controlado e coordenado, acontecendo por volta dos 5 e 6 anos de idade, podendo demorar mais para acontecer. 4.2 Importância do corpo nas brincadeiras e aprendizagens das crianças A partir das brincadeiras, a criança aprende e se desenvolve, vivenciando situações pedagógicas, pelo movimento, experimentando e sentindo. Com esse desenvolvimento, podemos dizer que a aprendizagem ocorre a partir de suas vivências (LEON, 2018). Tanto na educação infantil como no ensino fundamental, o brincar é importante, pois, quando brinca, a criança adquire conhecimentos. Freire (2012), em referência ao processo de educação escolar das crianças, principalmente nas séries iniciais, 24 afirma que se trata de um universo em que os atos motores são indispensáveis para a criança, tanto na relação com o mundo como na compreensão dessas relações. O movimento é um instrumento que facilita a aprendizagem, envolvendo a expressividade e a mobilidade da criança. Por meio das brincadeiras, as crianças adquirem seus repertórios cognitivos, emocional e social, a atividade e a fantasia. Toda brincadeira é uma imitação, a criança cria, sente emoções, tem ideias; as brincadeiras favorecem a autoestima, a interação social, a aprendizagem e o desenvolvimento; as brincadeiras e os jogos ajudam a compreender o desenvolvimento da criança. Quando as brincadeiras são propostas no ambiente escolar, as crianças participam ativamente do processo de aprendizagem, adquirindo experiências, assimilando valores e comportamentos; além disso, os jogos estimulam a criança a pensar, e também ensinam valores como respeito e obediência com os outros (LEON, 2018). Quando brinca, a criança propicia diferentes tipos de linguagens; quando se educa e se ensina, a criança ganha muitas informações. Ela descobre suas características e amplia o universo de explorações; de 0 a 5 anos, a criança tem a possibilidade de prolongar as experiências sensorial e perceptiva. De 6 a 11 anos, a criança utiliza esses procedimentos para construir a própria aprendizagem, ela gosta de brinquedos e jogos que são inovadores, criativos. O raciocínio é uma das habilidades mais desenvolvidas no jogo, assim a criança cria hipóteses que contribuem para o processo de construção do conhecimento. Brincar é importante para a aprendizagem, pois a criança precisa de companheiros para brincar, além de espaço adequado. Brincadeiras em que o estímulo faz parte de aprender e as oportunidades lúdicas devem ser espontâneas. Quando a criança brinca, ela busca informações, organiza as ideias, experimenta sensações, é motivada pela própria atividade em ação; para a criança, todo e qualquer brinquedo é material instrutivo, como uma caixa, lápis de cor, corda, peteca, desde que proporcione oportunidades reais. Brincando a criança desenvolve habilidades como pensar e desenvolve a capacidade criadora, tem iniciativa própria, desperta a alegria de descobrir, estabelece vínculos com o grupo. O professor deve sempre estimular as crianças nas brincadeiras, pois estas ajudam a desenvolver uma aprendizagem melhor. 25 A criança tem energia própria, seu corpo vibra em tudo que faz; a criança é o movimento e gosta muito de se movimentar, pois quando brinca, entra de “corpo inteiro” nas brincadeiras. O corpo dá suporte para a aprendizagem, captando informações, uma vez que tudo passa por ele. A criança está sempre em desenvolvimento, desde o nascimento, ela vivencia afetividade, compreensão e constrói conhecimentos. O professor é o mediador na construção e na ampliação dos conhecimentos da criança, assim ele tem a responsabilidade de oferecer estratégias e auxiliar no desenvolvimento dela, sabendo que os brinquedos e as brincadeiras são uma importante ferramenta para o desenvolvimento. 4.3 Emoções expressas nas brincadeiras por meio das expressões corporais A brincadeira, além de desenvolver a capacidade motora das crianças, faz com que elas descubram formas de expressão, sentimentos e emoções. A afetividade é muito importante para a construção do conhecimento, e a motivação também influencia o desenvolvimento geral; ao se desenvolver, a criança assimila e aprende a controlar as emoções, a partir de seu desenvolvimento com o meio. Quanto menor a criança, mais emoções ela expressa, pois é muito espontânea e é por meio do corpo que expressa suas alegrias, raiva, frustração, amor. Assim, quando ela brinca, expressa as emoções. A brincadeira é importante para o processo educativo da criança, pois, quanto maisa criança brinca, mais ela aprende (LEON, 2018). A criança expressa os sentimentos por meio de jogos e brincadeiras, e, para que isso ocorra, deve existir um ambiente que facilite sua expressão; o professor tem de facilitar essa ação. Ao se estimular a aprendizagem, a criança explora diferentes materiais, brinquedos. As brincadeiras são instrumentos usados pela criança; por meio das brincadeiras, a criança brinca de faz de conta, colocando-se no lugar do adulto durante as brincadeiras. Quando a criança brinca de faz de conta, ela vivencia diversos papéis e reconhece emoções e sentimentos em seu corpo e sua mente; nesse processo do brincar, a criança pode afetar ou ser afetada, torna-se ativa ao meio, às emoções que está vivenciando nessa fase, podendo, inclusive, reconhecê-las e transformá-las. A criança expressa as emoções e tem o corpo como principal recurso para expressar os 26 sentimentos. A fantasia mobiliza as emoções, pela lógica interna dos pensamentos, porém as emoções também são mobilizadas pelos elementos presentes na fantasia. Durante as brincadeiras, às vezes as crianças imitam os adultos, expressando- se com gestos, fala de adultos sem consciência, algo visivelmente percebido pelo professor, pois elas gesticulam e dançam imitando os adultos. Quando a criança brinca, ela expressa as emoções, os sentimentos, estabelecendo um vínculo entre o objeto e as relações que antecedem. Desde pequena, a criança vem realizando brincadeiras como: ficar de pé; engatinhar; brincar com carrinhos e bonecas; brincar na areia; folhar revistas e livros; construir brinquedos; utilizar instrumentos musicais; cantigas de roda; amarelinha; brincadeiras de agilidade; representação de histórias; A criança se expressa durante as atividades, suas emoções são visíveis, elas cantam, gritam, sorriem. Cada criança expressa de uma maneira diferente suas emoções, demonstrando sua espontaneidade. Fonte: http://mundodapsi.com/ 27 5 O DESENVOLVIMENTO EXPRESSIVO INFANTO-JUVENIL No Brasil, as artes visuais fazem parte da educação formal desde a Educação Infantil. Isso é garantido por políticas públicas, como pode se ver na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB n° 9394/96, no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil volumes I, II e III e nos Parâmetros Curriculares Nacionais para séries iniciais e séries finais do ensino fundamental e para o ensino médio (LDB, 1996). Toda ação educativa tem objetivos intencionados pelo educador. Sem objetivos explícitos ele não consegue justificar por que está lançando esta ou aquela proposta para alunos, correndo o risco de transformá-la numa pura sequência de técnicas ou num mero laissez-faire (deixar fazer), o que não é desejável. E, para que o professor possa criar propostas de ensino significativas para seus alunos, ele tem de conhecer suas possibilidades na construção do conhecimento nos diversos domínios e áreas, seja nas artes ou na matemática. No caso das artes visuais, o professor deve conhecer as possibilidades da produção gráfico-plástica e da leitura estético-visual dos alunos. Em outras palavras, ele deve saber como os alunos constroem conhecimento ao produzir e ao ler arte. É necessário conhecer o desenvolvimento artístico dos alunos e também suas relações com teorias pedagógicas para compreender qual é o papel da linguagem do desenho na escola. As características do desenvolvimento artístico têm relações com o desenvolvimento cognitivo. Isso não significa, porém, que o estudante é um ser determinado a seguir linearmente estágios que se sucedem, um após o outro, da mesma maneira. O fato de haver mudanças na compreensão e na produção de arte é o que possibilita falar em processo de desenvolvimento. As classificações em estágios são propostas por teóricos que estudam como se dá esse desenvolvimento. O desenvolvimento acontece em estágios qualitativamente diferenciados, que representam complexos de reorganizações do conhecimento em cada área do conhecimento. Por isso um adolescente é capaz de ler imagens e de desenhar de modo diferente do de uma criança. Mas na arte os estágios são menos estanques e lineares do que em outras áreas. Muitas vezes os desenhos apresentam características de mais de um estágio e, certamente, na leitura de imagens aparecem 28 ideias de níveis de complexidade diferenciados, também. Estudaremos os estágios do desenho a partir da classificação de Luquet, Piaget e Vygotsky. Fonte: https://blogginggyan.com/ 5.1 Estágios do desenho segundo Luquet Em 1927, Georges-Henri Luquet (1876-1965), escreveu o clássico livro Desenho Infantil, que até hoje tem inspirado estudos sobre o desenho infanto-juvenil e enriquecendo nossas experiências nesse campo. Luquet identifica quatro estágios no desenvolvimento do desenho: realismo fortuito, incapacidade sintética, realismo intelectual e realismo visual. 5.1.1 Realismo Fortuito Costuma-se dividir este estágio em desenho involuntário e desenho voluntário (premeditado). Mas a rigor, Luquet considera o desenho premeditado como a primeira fase do desenho infantil. O desenho involuntário seria um jogo com outros a que o bebê se dedica horas a fio, como empilhar coisas, levantar e baixar uma tampa sucessivamente, e outras atividades que faz por puro prazer (LUQUET, 1927). Desenho involuntário: Mesmo antes de completar um ano de vida, a criança já é capaz de deixar marcas em alguma superfície. São rabiscos, também chamados de garatujas. O desenho involuntário é executado, não para fazer uma imagem, mas para fazer linhas. Nesse momento, a criança ainda não sabe que o desenho pode representar alguma coisa nova, pois não tem ainda a capacidade simbólica ou representação, e essa atividade motora lhe dá muito prazer. Ela se sente valorizada por ter o poder de deixar marcas, de criar marcas, de criar algo (LUQUET, 1981, p.104). 29 Como dito, as características do desenvolvimento artístico têm relações com o desenvolvimento cognitivo e também o motor. Por isso, os rabiscos de crianças de diferentes são semelhantes. Nesse momento, a criança movimenta o braço de maneira ampla, fazendo linhas e pontos, às vezes batendo com o lápis sobre a superfície, às vezes furando o papel. Aos poucos a criança começa a ter mais controle dos movimentos com o lápis. Então começa a traçar linhas em várias direções, principalmente na vertical e horizontal, demonstrando maior coordenação entre a atividade visual e a motora (controla o gesto coordenando-o com o olhar). Os traços podem ficar restritos a uma pequena parte da superfície ou dominar todo o espaço. Fonte: https://pedagogiadaartefeevale.wordpress.com/ Com o maior controle da coordenação visual e motora, a criança começa a experimentar movimentos circulares, que futuramente formarão os círculos fechados, que, por sua vez, permitirão a forma de uma cabeça. No início, sem levantar o lápis, a criança vai desenhando emaranhados de linhas. Mais tarde, levantando o lápis, vai fazendo pequenas formas circulares, mas sem intenção de representação. Aqui há um progresso: a mudança do traço contínuo para o descontínuo, com a diminuição da velocidade dos gestos. Essa mudança pode se dar a partir dos dezoito meses, mas pode ser mais tarde, dependendo das possibilidades que ela tem de explorar os materiais e de ser incentivada. https://pedagogiadaartefeevale.wordpress.com/ 30 Desenho voluntário (premeditado): Ao fazer algumas formas fechadas, ou quase, a criança se depara com reações dos adultos, que perguntam: “Fizeste a mamãe? Está desenhando o papai?” Mesmo que sejam apenas bolinhas, a criança vai se dando conta de que as pessoas esperam que seus “desenhos” representem algo. Isso se dá no início da construção da função simbólica, que é acapacidade de substituir um objeto ou acontecimento por sua representação. Sobre esse momento da vida, diz Luquet: “a criança não só viu como observou imagens em livros, revistas ou catálogos e reconhece o que representam, pelo menos as mais simples dessas imagens; sabe, portanto, que há linhas que se parecem com algo” (LUQUET, 1981, p.105). E, quando seus traços produzem acidentalmente uma similitude que a criança não havia buscado, ela fica feliz, pois conquistou uma habilidade que atribuía apenas aos mais velhos. Gardner (1997, p.224) diz que isso acontece entre os dois e os três anos ou no máximo aos quatro anos. Os exemplos mencionados por Luquet (1981, p.106) abarcam dos dois anos e cinco meses a três anos e meio: “Mas chega o dia em que ela encontra uma analogia de aspecto mais ou menos vago entre um de seus traçados e algum objeto real e é então que considera o traço como uma representação do objeto e enuncia a interpretação que lhe dá”. Neste desenho, Amy reconheceu a forma de um pássaro nos seus traços e então adicionou um olho e algumas pernas. (COX, 2005, p.54): Fonte: https://pt.slideshare.net/ Vê-se que o desenho voluntário inicia junto com a função simbólica. É pela capacidade de simbolizar que a criança consegue ver no desenho um signo, ou seja, o desenho está no lugar de alguma coisa; representa algo. 31 Muitas vezes a criança anuncia o que vai desenhar: “Vou desenhar um cachorro”. Luquet (1981) chamou isso de intenção. A interpretação ocorre quando a criança dá nome ao que desenhou ou está desenhando. Às vezes, a interpretação não coincide com a intenção, pois ela muda de ideia antes de terminar o desenho. Quando o desenho sugere outro objeto que a criança não tinha pensado, ela pode complementar de outra forma para parecer mais ainda com esse objeto. É o desenho com interpretação divergindo da intenção inicial. Posteriormente a interpretação confirma a intenção, embora esse desenvolvimento não seja muito linear. É possível também que rabiscos continuem a aparecer ao lado de figuras reconhecíveis. Diz Luquet: “A passagem da produção de imagens involuntárias à execução de imagens premeditadas se faz através de desenhos em parte involuntários e em parte deliberados” (1981, p.108). Em outras palavras, embora o desenho voluntário já tenha se iniciado, podem se intercalar traçados sem nenhuma intenção representativa, que mesmo após sua execução continuam destituídos de significação. No desenho voluntário, primeiro a criança desenha sem intenção de representar alguma coisa e, ao concluir o trabalho, interpreta-o de acordo com sua semelhança a um referente qualquer, atribuindo-lhe o nome deste. Depois, surge a intenção, o desejo consciente de desenhar um objeto, o qual após sua criação pode ter uma interpretação dada ao desenho. Apesar de na teoria esse desenvolvimento parecer contínuo, na realidade as mudanças são menos lineares, isto é, a criança faz um vai e vem entre esses tipos de desenhos. 5.1.2 Realismo falhado (incapacidade sintética) Neste estágio, devido à incapacidade sintética do próprio pensamento, a criança tem sua percepção centrada nas partes do desenho. Ela vai desenhando uma parte de cada vez, enchendo o espaço de “coisas” isoladas, isto é, não formando um contexto. Pode ter pessoas, animais, árvores, flores, bonecas, carros, sóis (vários), objetos descontextualizados, letras. Ela pode ir virando a folha ou ir movimentando o seu próprio corpo ao redor da superfície, se está desenhando deitada no chão. Então é um desenho literalmente “sem pé nem cabeça” que ainda não considera o “acima” 32 e o “abaixo” de uma cena. É como se houvesse vários espaços (isolados) no espaço da folha: cada elemento (e seu espaço ocupado) é considerado em si, sem haver a sua organização em uma só estrutura, totalidade ou síntese. Conforme as crianças vão aprendendo as convenções da representação bidimensional, seus desenhos vão ficando mais completos e mais diferenciados. Perto dos quatro anos, o desenho começa a representar, mais explicitamente, “aspectos do mundo, principalmente rostos, pessoas, prédios, animais, vegetação e transportes. ” (GARDNER, 1997, p. 225). Se você pede para a criança desenhar uma fazendinha com certos elementos, então ela faz a casa, os animais, a estrada, o parreiral, árvores e flores, nuvens e sol, enfim, tudo que você solicitou. No entanto, pode haver alguns cachos de uva ao lado do sol ou uma casa sobre as árvores. Isso acontece porque ela não concebe a totalidade da cena (síntese). Tais características se devem ao que Piaget definiu como uma das características do pensamento pré-operacional: a centração-fixação da atenção em um só aspecto da totalidade seja um objeto ou uma situação. Sobre a incapacidade sintética, Pillar (1996, p.46) diz que: a criança está preocupada exclusivamente em representar cada um dos objetos de forma diferenciada, por isso, ela não integra num conjunto coerente os diferentes pormenores que desenha. Dá aos detalhes o grau de importância que tem para ela naquele momento, exagerando ou omitindo partes, porque considera somente o seu ponto de vista, relacionando tudo a si. No estágio da incapacidade sintética, a criança começa a representar graficamente o espaço através das relações “topológicas” entre os elementos que desenha, porém, sem dominá-las (o que só vai acontecer no estágio seguinte, no realismo intelectual). Piaget e Inhelder abordam esse assunto no livro A representação do espaço na criança (1993). Os autores explicam também, as relações “projetivas” e as euclidianas, encontradas nos desenhos de adolescentes e de adultos com familiaridade com a linguagem do desenho (como vai aparecer no realismo visual). A diferença entre as relações topológicas, projetivas e euclidianas é a maneira de coordenar as figuras no espaço. Na incapacidade sintética, a criança ainda está tentando coordenar as figuras no espaço da folha das maneiras mais simples: uma perto de outra; uma separada da outra; uma depois da outra; uma dentro da outra. Se essas relações não forem respeitadas, todas as figuras ficarão sobrepostas ou o que 33 deveria estar junto ficará separado ou fora de ordem. E não é isso que a criança quer. Por isso, ela vai experimentado e aprendendo a representar através das relações topológicas, embora seja frequente a negligência dessas relações. Assim encontramos elementos sobrepostos (quando são separados), fora (quando são dentro), acima (quando são abaixo), etc. Isso porque neste estágio, a criança apenas inicia a representação do espaço pelas relações topológicas, mas vai dominá-las no estágio seguinte: o realismo intelectual. O desenho da incapacidade sintética é reconhecível também pela coordenação motora da criança. A mão faz movimentos amplos e os traços ainda não mostram o controle motor que tem a criança das séries iniciais. Fonte: http://rodadeinfancia.blogspot.com/ O uso da cor no estágio da incapacidade sintética não mostra critério algum, a não ser a preferência pessoal e a vontade de enfeitar o desenho. Luquet se refere a um colorido decorativo. Ao desenhar um objeto, a criança não tem interesse em escolher uma determinada cor por ser adequada ou porque foi convencionada. Assim aparece árvores vermelhas, flores verdes, nuvens rosadas, só para citar alguns exemplos. Em síntese, o estágio da incapacidade sintética é simultâneo ao pensamento pré-operatório, que determina muitas de suas características. Por isso, a criança não integra num conjunto coerente os diversos pormenores que desenha (PILLAR, 1996, p.44) e vai enchendo a folha de papel com tudo o que aprendeu a desenhar: animais, pessoas, casas, árvores, flores, sóis, sem se preocupar em organizar uma cena. As 34 formas começam a ser cada vez mais diferenciadas e o uso da cor é arbitrárioe decorativo, embora cada vez mais cedo, se veja o uso de cores convencionadas neste estágio. 5.1.3 Realismo Intelectual Em oposição à anterior, este estágio é um avanço para as crianças, pois elas conseguem alcançar o desenho realista, que é “superada por sua incapacidade sintética” (IAVELBERG, 2013, p. 38). Agora ela já consegue transmitir todos os princípios da realidade, pois sua intelectualidade vai além do concreto, isto é, que podem ser vistos por ela ou não. Mesmo que ela não enxergue o alvo do seu desenho, ela traz para consigo todos os elementos reais para o grafismo, desenhando tudo o que já está internalizado em si, tudo o que já sabe e conhece. Luquet (1969) acredita que as crianças mesmo não considerando as imperfeições de seus desenhos, ou seja, os erros, estes por sua vez são essenciais para o desenvolvimento da aproximação com a realidade, pois enfatiza que através destes é que elas conseguem chegar aos objetos reais. E há também as características desenvolvidas por eles, que representam o espaço em si em um único desenho, estas características são conhecidas por: “Rebatimento, transparência, planificação e mudança de ponto de vista” (IAVELBERG, 2013, p. 39). Fonte: http://rodadeinfancia.blogspot.com/ 35 Mèredieu (2006) pondera que o Realismo Intelectual, refere-se ao que criança já sabe desenhar e não apenas aquilo que vê, ressaltando os dois processos: o plano deitado e a transparência. Sobre o primeiro processo a autora nos apresenta que são objetos que estão deitados a certo ponto, ou seja, uma árvore na beira da estrada, por exemplo. Na transparência a informação é quando a criança desenha um bebê na barriga da mãe e também quando ao mesmo tempo desenha a casa por dentro e por fora. Esta fase acontece entre os dez, doze anos. 5.1.4 Realismo Visual Último estágio do desenho infantil, aqui se consolida todos os outros já discutidos. Segundo Iavelberg (2013), Luquet (1969) faz referência da seguinte maneira: Quando a submissão à perspectiva entra no desenho da criança, atinge proximidade visual com a arte do adulto – circunscrita a uma determinada cultura visual. A partir daí só a habilidade técnica estabelece as diferenças individuais. A tese de Luquet, brilhante para a época, não considera, como nós, hoje, que a compreensão que a criança tem sobre o desenho está ligada ao sistema de significações da linguagem e a sua construção cultural. (IAVELBERG, 2013, p. 39) Sobre a reflexão acima, podemos entender que a criança tem sim ligação sobre o aspecto cultural quando desenha, pois, através da sua realidade de vida e experiência é que ela consegue expor nos seus traços tudo o que sente, pois, esta vivência da criança está carregada de significações. No Realismo Visual de Luquet (1969), discutido por Mèredieu (2006), perde-se este humor que a criança tem e tende a se juntar com as produções adultas, desta forma o desenho infantil chega ao fim, ocorrendo o empobrecimento e o enxugamento do grafismo, acontecendo entre os doze anos e muitas vezes antecipam aos oito anos de idade. Mèredieu (2006) expõe estas fases de Luquet (1969) como análise insuficiente e que deixa a desejar em suas explicações: Embora tenha sido o primeiro a distinguir as grandes etapas do grafismo infantil, [...] sua análise é insuficientemente explicativa. Não explica o nascimento da representação figurativa e tampouco a passagem de um estágio para outro. Particularmente, não se fica sabendo por que o desenho, em certo momento, acaba por empobrecer-se e desaparecer. Tais estágios formam planos fixos, instantâneos, para fixar características que assim se 36 tornam mais facilmente reconhecíveis. Mas restaria situar todos esses dados numa perspectiva genética que pudesse não apenas descrever, mas explicar. (MÈREDIEU, 2006, p. 22) Ao analisarmos esta citação da autora, podemos colocar aqui que Mèredieu (2006), não concorda com a exposição de Luquet (1969), devido às “falhas” que faltam serem explicadas. Sua defesa é a partir dos rabiscos, gesto que segundo ela, é essencialmente motor e que muitas vezes é encarado como algo fútil, que mesmo Luquet (1969) o coloca a margem dos estágios. Ela também faz colocações sobre o estágio do “realismo intelectual”, responsável pela transparência e o plano deitado. Mèredieu (2006) apresenta uma contradição sobre esta fase, pois relata que quem “vê” os objetos em transparência são os adultos, sendo que eles dissociam as imagens entre si. Mas, para as crianças ocorrem relações entre os objetos afetivamente, elas não os separam. Este local desenhado “não é apenas um lugar em que o objeto se inscreve, mas também uma rede de afetos” (MÈREDIEU, 2006, p. 23). Nesse estágio, a criança busca representar o objeto como ele é, fazendo uso de perspectiva, opacidade e sobreposição para simbolizar o objeto. Fonte: https://metamorfoseexpressiva.wordpress.com 37 5.2 Estágios do desenho segundo Piaget Para Piaget, a criança desenha mais o que sabe do que realmente consegue ver. Ao desenhar ela elabora conceitualmente objetos e eventos. Daí a importância de se estudar o processo de construção do desenho junto ao enunciado verbal que nos é dado pelo indivíduo. 5.2.1 Garatuja Faz parte da fase sensória motora (zero a dois anos) e parte da pré-operacional (dois a sete anos), indo aproximadamente até três ou quatro anos. A criança demonstra extremo prazer em desenhar e a figura humana é inexistente. A garatuja pode ser dividida em: Garatuja Desordenada onde os movimentos são amplos e desordenados, parecendo mais um exercício motor. Não há preocupação com a preservação dos traços, que são cobertos com novos rabiscos várias vezes. Garatuja ordenada em que os movimentos aparecem com traços longitudinais e circulares e a figura humana ainda aparece de forma imaginária, podendo começar a surgir um interesse pelas formas. Nessa fase a criança diz o que vai desenhar, mas não existe relação fixa entre o objeto e sua representação. Por isso, ela pode dizer que um círculo ovalado seja um avião, e antes de terminar o desenho, dizer que é um peixe (PIAGET, 1976). 5.2.2 Pré- Esquematismo Esta fase faz parte da segunda metade da fase pré-operatória, indo normalmente até os sete anos quando ocorre a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Observa-se que os elementos ficam dispersos e não são relacionados entre si (PIAGET, 1976). 5.2.3 Esquematismo Faz parte da fase das operações concretas (7 a 10 anos), mas costuma ir até mais ou menos, nove anos. Dentro dos esquemas representativos, começa a construir 38 formas diferenciadas para cada categoria de objeto. Nesta etapa surgem duas grandes conquistas: o uso da linha de base e a descoberta da relação cor objeto. Já tem um conceito definido quanto à figura humana, no entanto podem surgir desvios do esquema, tais como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aparecem também dois fenômenos como a transparência e o rebatimento (PIAGET, 1976). 5.2.4 Realismo Normalmente surge no final das operações concretas, tendo maior consciência do sexo e começa uma autocrítica pronunciada. No espaço, descobre o plano e a superposição, mas abandona a linha de base. As formas geométricas aparecem, junto com uma maior rigidez e formalismo. Nesta etapa normalmente usam roupas diferenciadas para cada um dos sexos (PIAGET, 1976). 5.2.5 Pseudo Naturalismo Faz parte da fase das operações abstratas (10 anos em diante). É o fim da arte como atividade espontânea e muitos desistem de desenhar nesta etapa do desenvolvimento. Inicia a investigação de sua própria personalidade, transferindo para o papel suas inquietações e angústias, característica do início da adolescência. Nos desenhos aparecem muito o realismo, a objetividade, a profundidade,o espaço subjetivo e o uso consciente da cor. Na figura humana, as características sexuais podem aparecer de forma exageradas (PIAGET, 1976). 5.3 Estágios do desenho segundo Vygotsky Para Vygotsky, o desenvolvimento do desenho requer duas condições. A primeira é o domínio do ato motor, por isso, para o autor, inicialmente, o desenho é o registro do gesto e logo passa a ser o da imagem. Assim, a criança percebe que pode representar graficamente um objeto. E essa característica é o um indício de que o desenho é precursor da escrita, pois a percepção do objeto, no desenho, corresponde à atribuição de sentido dada pela criança, constituindo-se realidade conceituada. 39 Outra condição fundamental na evolução do desenho é a relação com a fala existente no ato de desenhar. Num primeiro momento, o objeto representado só é reconhecido após a ação gráfica quando a criança fala o que desenhou identificado pela sua semelhança como objeto. Depois ela passa a antecipar o ato gráfico, verbalizando o que vai fazer, indicando que há um planejamento da ação. Por isso, Vygotsky afirma que a linguagem verbal é a base da linguagem gráfica (1989, p. 141). Este fato é essencial na visão do autor porque aqui se pode perceber já "um certo grau de abstração" da criança que desenha, pois, ao fazê-lo, libera conteúdo da memória. Ele afirma que "[...] os esquemas que caracterizam os desenhos infantis lembram conceitos verbais que comunicam somente aspectos essenciais do objeto." (1989, p.127). Ao descrever as etapas de desenvolvimento do grafismo infantil, o autor não se preocupa em detalhar o período da aquisição do sistema de representação do desenho. Vygotsky não faz uma investigação sistemática do processo de apropriação do desenho como processo semiótico, mas efetua um recorte no desenvolvimento cultural do grafismo infantil desprezando a "pré-história" do desenho. A fase dos rabiscos, garatujas e "da expressão amorfa de elementos gráficos isolados" (Idem, p. 94) não interessa aos objetivos que ele possui em seu ensaio psicológico, pois realmente, o desenho, enquanto sistema semiótico, só existe efetivamente após o período dos rabiscos. Fonte: http://www.psicologia.pt/ 40 Vygotsky identifica ao longo do desenvolvimento da expressão gráfico-plástica infantil as seguintes etapas: 5.3.1 Etapa simbólica É a fase dos conhecidos bonecos que representam, de modo resumido, a figura humana. Esta etapa é descrita por Vygotsky como o momento em que as crianças desenham os objetos "de memória" sem aparente preocupação com fidelidade à coisa representada. É o período em que a criança "representa de forma simbólica objetos muitos distantes de seu aspecto verdadeiro e real" (VYGOTSKY, 1987, p.94). Segundo o autor, é grande a arbitrariedade e a licença do desenho infantil nesta etapa. 5.3.2 Etapa simbólico-formalista É a etapa na qual já se percebe maior elaboração dos traços e formas do grafismo infantil. É o período em que a criança começa a sentir necessidade de não se limitar apenas à enumeração dos aspectos concretos do objeto que representa, buscando estabelecer maior número de relações entre o todo representado e suas partes. Percebe-se que os desenhos permanecem ainda simbólicos, mas já se pode identificar o início de uma representação mais próxima da realidade (VYGOTSKY, 1987). 5.3.3 Etapa formalista veraz Nesta fase, as representações gráficas são fiéis ao aspecto observável dos objetos representados, acabando os aspectos mais simbólicos, presentes nas etapas anteriores (VYGOTSKY, 1987). 5.3.4 Etapa formalista plástica Observa-se uma nítida passagem a um novo modo de desenhar, pois como um desenvolvimento viso-motor mais acentuado, o sujeito acaba se utilizando de técnicas projetivas e de convenções mais realistas. O grafismo deixa de ser uma atividade com fim em si mesma e converte-se em trabalho criador. No entanto, há uma diminuição 41 do ritmo dos desenhos que permanecem mais entre aqueles que realmente desenham porque sentem prazer neste ato criador. Embora os dois autores analisados tenham focado diferentes aspectos do desenho, Piaget, focando mais os aspectos epistêmicos e Vygotsky, os aspectos mais sociais, os dois autores se aproximam em dois pontos básicos: em relação à importância do desenho no desenvolvimento da criança e à característica de que a criança desenha o que lhe interessa e o que sabe a respeito de um objeto. (VYGOTSKY, 1987). 6 A ESCOLA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL Se existe um espaço em que a maioria de nós frequentou por muitos anos de nossa vida, esse lugar se chama “escola”. É dele que trazemos intensas memórias, nele convivemos com diversificados grupos e pessoas, desempenhando diferentes funções. Você pode até não ter refletido sobre tais questões, mas vivenciou experiências em um espaço em que havia regras que foram construídas, estabelecidas e partilhadas, funcionando como uma microsociedade em uma complexa rede de conexões. Ali, cada indivíduo carregava uma história, pertencia a um núcleo familiar, trazia diferentes conhecimentos e visões de mundo e se deparava com pessoas que seguiam variadas crenças, culturas e demais diversidades. Outra questão sobre a qual se deve refletir é que assim como a sociedade sofreu grandes transformações, o espaço escolar também acompanhou (de certo modo) essas modificações. No ensino tradicional, tínhamos como modelo o professor centralizador, detentor do conhecimento, e os alunos eram os receptores do saber. Além das relações entre alunos e professores, também existem outros pontos a serem refletidos, como aponta Alarcão (2007, p. 13): A escola, instituição social, polo do binômio interativo escola-sociedade, irá metamorfosear-se ou permanecerá imutável e estática no modo hierárquico como se estrutura, na compartimentalização de turmas, espaços e tempos horários, na estrutura curricular de base disciplinar, na vivência individualista (não confundir com pessoalista) e tecnicista do cotidiano escolar, na regulação das avaliações? O novo modelo social do mundo contemporâneo coloca em questão as proposições acima e impulsiona mudanças também na escola enquanto instituição. 42 Com o avanço tecnológico, as informações passaram a ficar acessíveis, ressignificando tempo e espaço com o mundo todo conectado pelo advento da internet. Essa realidade não pode ser negada ou ignorada: pelo contrário, devemos nos valer dessa variedade de novas ferramentas em prol do conhecimento, preparando nossas crianças para utilizar com responsabilidade e sabedoria todos esses aparatos tecnológicos tão acessíveis em nossa sociedade atual (LIMA, 2018). Quanto aos profissionais da educação, a iniciar pela educação infantil, desde os cuidados com a creche, observamos que houve importantes ressignificações de papeis. Décadas atrás, havia uma preocupação assistencialista, com a qual os responsáveis, para que pudessem trabalhar, deixavam seus filhos para serem cuidados. Atualmente, notamos que, de cuidadores, os professores passaram cumprir seu papel de educadores, não somente tendo cuidados com higiene pessoal como atuando no desenvolvimento global das crianças, estimulando os mais diferentes aspectos físicos, emocionais, motores e cognitivos. Para isso, é necessário conhecer as fases de desenvolvimento para que esses estímulos acompanhem esse crescimento. O brincar como recreação também passou a ocupar um papel importante nesse desenvolvimento, no qual o lúdico acompanha o currículo a ser trabalhado. Com todos esses apontamentos, podemos constatar que, em consonância com família e comunidade, o espaço escolar tem importantes responsabilidades no desenvolvimento infantil, devendo estar integrado para dar conta das demandas atuais e oportunizando aos seus educandos um ambiente acolhedor, que respeite