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Universidade Federal Fluminense Instituto de História História Contemporânea I Aluno: Angelo Aguirre Professor: Bernardo Kocher 1º Avaliação de História Contemporânea I Resenha a partir dos capítulos 1 e 2 da obra A Era Das Revoluções de Eric Hobsbawm. INTRODUÇÃO A presente resenha tem como finalidade expor os efeitos da dupla revolução, denominação criada por Eric Hobsbawm para tratar da Revolução Francesa e Revolução Industrial Inglesa. A obra é dividida em duas partes: evolução e resultados, respectivamente. Neste texto o foco está na divisão da evolução, analisando o primeiro e segundo capítulo. O autor sustenta suas ideias principalmente com as questões econômicas de forma qualitativa e também seguindo uma linha marxista como o materialismo histórico e a luta de classes. Os capítulos analisados seguem uma didática com exemplos sobre o que está sendo falado. A historiografia de Hobsbawm nos permite compreender os estágios de evolução até a explosão das revoluções. Além disso, como proposto pelo professor, o texto recebe algumas articulações de outros autores que ajudam a explorar e embasar outros pontos contidos neste livro. O MUNDO NA DÉCADA DE 1780 Neste capítulo de abertura o autor contextualiza de forma o cenário sobre o funcionamento do mundo europeu no século XVIII, isto é, explorando pontos como a demografia, geografia do território, a divisão das pessoas rurais e urbanas, a questão agrária, a crise do antigo regime francês e o crescimento das ideias iluministas principalmente nas lojas maçônicas. A análise de Hobsbawm parte da dimensão do espaço geográfico no período de 1780 com o intuito de situar o leitor no capítulo analisado. ‘’A primeira coisa a observar sobre o mundo é que ele era ao mesmo tempo menor e muito maior do que o nosso.’’ (HOBSBAWM, 2020, p.27) A observação analisa o embate entre a geografia territorial e a demografia x meios de transportes lentos. Em outras palavras, a reflexão de um embate pode ser criada devido a Europa do século XVIII ser especulada em torno populacional de cerca de 187 milhões de pessoas, ou seja, ¼ da população europeia no século XXI. Ademais, nos termos geográficos o conhecimento europeu desconhecia ou tinha conhecimentos superficiais dos continentes e, como consequência, produzia brancos e vazios principalmente na África e na América nos mapas europeus. Outro fruto dessa consequência é a pequena exploração dos indivíduos situados na Europa do restante do mundo habitado, ou seja, a população vivia estática e entrelaçada nos locais que já viviam. Nessa perspectiva a frase de Hobsbawm analisa que o mundo europeu tinha uma falsa noção de tamanho, induzidos para essa noção em grande parte devido aos meios de locomoção ainda acanhados e demoravam dias ou semanas em trajetos em comparação com a atualidade considerados curtos. A partir dessa ótica populacional e do território, Hobsbawm desenvolve a sociedade europeia contida nesse espaço que em sua maioria ainda viviam em áreas rurais, porém se atenda da importância das pequenas cidades urbanas para o aspecto da formação da burguesia e do processo de inicialização revolucionária posterior. ‘’ 1De fato, exceto em algumas áreas comerciais e industriais bastante desenvolvidas, seria muito difícil encontrar um grande Estado europeu no qual ao menos quatro de cinco habitantes não fossem camponeses.’’ (HOBSBAWM, 2020, p.33). Essa aspa expõe que o mundo rural ainda era extremamente predominante e somente em 1851 (praticamente 70 anos depois do período deste capítulo) a Inglaterra teve o êxito da população urbana ultrapassar a rural, de acordo com Hobsbawm. Entretanto, mesmo a maioria das cidades europeias sendo consideradas pequenas para os padrões atuais, estas tiveram importantes pessoas, como Robespierre, Gracchus Bafeuf, de Saint Quentin, Napoleão, de Ajaccio. Nas áreas urbanas o desenvolvimento poderia ser maior, como indivíduos minimamente letrados e com o raciocínio mais rápido, porém a ignorância ainda prevalecia. Nesse contexto rural, um agravante em 1789 foi a questão agrária. 1 Neste período,1789, somente Londres (1 milhão) e Paris (500 mil) eram consideradas cidades de fato grandes. ‘’O problema agrário era portanto fundamental no ano de 1789, e é fácil compreender por que a primeira escola sistematizada de economistas do continente, os fisiocratas franceses, tomara como verdade o fato de que a terra, e o aluguel da terra, era a única fonte de renda líquida. E o ponto crucial crucial do problema agrário era a relação entre os que cultivavam a terra e os que a possuíam, os que produziam sua riqueza e os que a acumulavam.’’ ( HOBSBAWM, 2020, p. 36). A esfera agrária econômica se identifica com três zonas: América, principalmente os Estados Unidos; as colônias ultramarinas das Índias Orientais; Europa. Hobsbawm tem o intuito de exemplificar como ocorriam os mecanismos de exploração pelos países europeus na questão agrária nessas três áreas centrais para a revolução industrial. No primeiro a exploração ocorria pela escravidão principalmente com os índios nativos e negros. Nas colônias das Índias os lavradores recebiam a regra de fornecer cotas da safra. Na Europa, sobretudo no leste, a agricultura produzia trigo(alimento rico), fibra de linho (utilizadas para a fabricação de roupas de lã e seda, com o destino para a nobreza), produtos florestais (usados na fabricação de navios, meio de transporte primordial para a época). Ademais, no leste europeu a servidão e a falta de liberdade eram comparáveis com a escravidão. Nesse aspecto o mundo agrícola mantinha prevalecida uma relação escravista e de domínio senhorial que detinha poder suficiente para poder subjugar os camponeses, logo os mantendo presos nesse mecanismo de coerção. Vale ressaltar, que durante esse período a França passava por uma crise econômica em decorrência ainda da Guerra dos Sete Anos e da sua jogada política no processo de interferência no processo de independência dos Estados Unidos. Uma das consequências dessa crise foram as reformas fiscais para anular os privilégios cedidos à nobreza e o clero, visto que o terceiro estado não estava dando o resultado econômico suficiente para suprir a crise mesmo com as tributações excessivas. A partir disso, ocorreu uma importante mudança econômica, à nobreza estava em busca de novas fontes de renda e podemos perceber uma influência da teoria dos fisiocratas nesse aspecto. Os senhores da nobreza alugam suas terras em troca de rendas. Esse deslocamento da conduta econômica possibilitou que agora os camponeses pudessem ter sua terra e sua produção, no entanto, ainda estamos numa relação exploratória entre os senhores e os camponeses, porém num grau um pouco mais baixo se assim podemos classificar. Além das questões do mundo agrícola, Hobsbawm trata das atividades intelectuais em rápida expansão. Neste período os ideias iluministas e futuramente da Revolução Francesa floresciam e espalhavam-se rapidamente pela França e Inglaterra muito por influência da ideologia dos 2maçons. ‘’ Quando estamos reunidos somos irmãos e o resto do universo é estranho: o príncipe e o súdito; fidalgo e o artesão, o rico e pobre sem distinção e separação, ali se confundem não importa o poder econômico, poder político ou privilégio de nascimento.’’ Esta frase maçônica sintetiza os ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade. A ideologia maçônica se propagava em 3lojas e se transformou em um espaço importante de liberdade e crítica ao regime absolutista. ‘’ Estes homens se organizavam por toda a parte em lojas franco-maçonaria, em que as distinções de classe não importavam e a ideologia do iluminismo era propagada com um desinteressado denodo.’’ (HOBSBAWM, 2020, p. 48) Nesse sentido, importantes personalidades junto do restante da sociedade civil francesa, principalmente membros da burguesia não satisfeitos com o regime político que os deixa de lado. ‘’ Mas o custo foi excessivo e as dificuldades do governofrancês levaram o país inevitavelmente a um período de crise política interna, da qual, seis anos mais tarde surgiria a Revolução.’’ ( HOBSBAWM, 2020, p. 54) Neste momento temos um embate de interesses entre a monarquia absolutista (velha sociedade) e os novos ideais junto da classe burguesa (nova sociedade). A monarquia ainda tentava se fortalecer e garantir o prosseguimento da sua existência e posição de poder, todavia estava fragilizada devido ao grande esforço de gastos e a crise política e econômica que o Estado Francês vivia, como já contextualizado aqui. Dentro dessa narrativa podemos acrescentar a função do segredo maçônico: ‘’ A liberdade em segredo torna-se o segredo da liberdade.’’ (KOSELLECK, 2009, p. 68) O segredo para Koselleck segue quatro funções e estágios: O segredo une os burgueses na sociedade; o segredo fornece a possibilidade de ascensão dos ideias futuramente 3 A constituição de uma loja maçônica não é ser um edifício como no entendimento do presente, mas sim ser um núcleo de maçons reunidos e este é ponto para ser considerado uma loja maçônica no qual cada loja possui seu mestre fundador e organizador. 2 A maçonaria é uma companhia de irmãos, pessoas que se veem como iguais, se submetendo às mesmas regras, normas, preceitos e rituais, do tipo iniciático e que cada um possui tarefas a cumprir com o objetivo de ajudar o coletivo. iluministas; o segredo permite que as pessoas critiquem o absolutismo, a sociedade estamental e que possam defender a república democrática e a sociedade igualitária; por último o segredo deixa de ser segredo e passa a ser um instrumento de dominação, isto é, o segredo pode enfim sair da defensiva e se expor, mas isso só é possível devido ao segredo já estar amplamente espalhado e em diferentes níveis sociais, por exemplo, estar com magistrados ou policiais e, dessa forma, o segredo no seu último estágio permite combater o antigo regime a partir de um ataque forte e já localizado nas entranhas internas. Nessa conjuntura, a França já caminhava para a mudança do sistema de poder absolutista, visto sua dominação e forma de governar ter ainda fortes relações com as bases do feudalismo e também devido as suas crises políticas e econômicas, assim sendo, a monarquia tem seu desmoronamento completo com a Revolução Francesa e a ascensão ao poder das sociedades liberais burguesas. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Neste capítulo fica nítido o motivo de Hobsbawm utilizar o tratamento de dupla revolução porque mesmo a Revolução Industrial tendo começado por volta de 1760 para os historiadores mais antigos, também devemos entender que a explosão desta revolução só foi possível após a Revolução Francesa. Dito isso, o período central não foi 1760, mas 1780. ‘’A certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na história da humanidade, foram retirados grilhões do poder produtivo das sociedades humanas, que daí em diante se tornaram capazes de multiplicação rápida, constante, e até o presente ilimitada, de homens, mercadorias e serviços.’’ (HOBSBAWM, 2020, p. 59) A compreensão que se deve ter a partir da dupla revolução é sobre a Revolução Francesa levar a hegemonia do poder para uma sociedade liberal burguesa, isto é, que retira o mercantilismo da política econômica e passa para o liberalismo econômico. Essa mudança define que as regras não são mais definidas pelo rei e pela ordem absolutista, agora o liberalismo econômico permite a liberdade dos comerciantes negociarem com quem quiserem. Este novo sistema só foi possível após a Revolução Francesa que retirou a supremacia do poder do rei para as mãos dos burgueses. Nessa interpretação, Hobsbawm une as duas revoluções devido à Revolução Francesa ter como ponto central tirar os grilhões (monarquia francesa) do poder, pois só assim o liberalismo econômico entra como regra na economia e tem como consequência a explosão da Revolução Industrial. ‘’Felizmente poucos refinamentos intelectuais foram necessários para se fazer a revolução industrial.’’(HOBSBAWM, 2020, p. 62) ‘’No geral, todavia, o dinheiro não só falava como governava. Tudo que os industriais precisavam para serem aceitos entre os governantes da sociedade era de bastante dinheiro.’’ (HOBSBAWM, 2020, p.64) Neste ponto se trata do porque a Revolução Industrial acontece pelos ingleses, dado que as tecnologias que proporcionaram a revolução já tinham o conhecimento técnico há quase 1 século. A resposta vem de 3 principais motivos: há mais de um século os ingleses já haviam retirado seu rei do poder e a economia liberal já fazia parte das ambições da política inglesa; a agricultura já estava em um nível suficiente para receber um aumento de produção decorrente da revolução; os ingleses possuíam um Estado e economia fortes o suficiente para expandir seu mercado com seus novos produtos frutos da revolução. ‘’ Em 1820, a Europa, mais uma vez aberta às livres importações da ilha, adquiriu 128 milhões de jardas de tecido de algodão britânico; a América, fora os Estados Unidos, a África e a Ásia adquiriram 80 milhões, mas ao redor de 1840 a Europa adquiriu 200 milhões de jardas, enquanto as áreas ‘’subdesenvolvidas’’ adquiriram 529 milhões.’’. (HOBSBAWM, 2020, p. 69) O estudo desses números permite captar que os ingleses utilizavam da sua força política e econômica para estabelecer suas ambições industriais a custa da dependência das áreas subdesenvolvidas, quer dizer, as colônias forneciam a primeira mão de obra e o cultivo do algodão bruto e devido ao poder de influência inglês essas colônias da América Latina deveriam comprar o mesmo algodão, porém após este volta refinado no estado de tecidos. “Capital, por isso, não é apenas comando sobre trabalho, como dizia A. Smith. É essencialmente comando sobre trabalho não pago. (…) O segredo da auto expansão ou valorização do capital se reduz ao seu poder de dispor de uma quantidade determinada de trabalho alheio não pago.” (MARX, 2011, p. 617) Falado sobre o fator econômico também é de suma importância as questões sociais. O crescimento da indústria inglesa gerou capital e também demandou mais mão de obra utilizada de forma exploratória, o trabalhador(principalmente mulheres e crianças). As cidades não estavam preparados para esse êxito rural, nas cidades as casas eram praticamente cortiços, a jornada de trabalho de 14h/16h e o salário baixíssimo. Em alguns casos os salários eram tão baixos que mais de 500 mil trabalhadores morreram de fome, dado que os salários ficaram abaixo do nível da subsistência. Daí podemos citar a teoria da mais-valia de Karl Marx. A decorrência da dupla revolução no campo social foi o surgimento de movimentos revolucionários contrários a exploração industrial da Grã-Bretanha, como o ludismo entre 1811 e 1816 e o cartismo em 1848. O primeiro se caracteriza pela destruição das máquinas têxteis, pois no entendimento dos trabalhadores e participantes do movimento as máquinas seriam o motivo da sua exploração e desigualdade. No cartismo tem como principal reivindicação a igualdade das classes e a maior participação política dos operários. Em síntese, o cenário estava dividido entre a elite rica que acumulava os lucros, possuía os meios de produção, possuía o capital e as máquinas. Na outra ponta os pobres (proletários) viviam com os salários no mínimo para sobreviver e manter sua subsistência nas cidades e somente vendiam sua força de trabalho, entretanto estavam em oposição a esse sistema burguês liberal capitalista. Dessa forma, o que se vivencia é a luta de classes de autoria de Karl Marx entre os que exploram e os que são explorados. A Revolução Industrial tem marcos econômicos importantes, mudou o cenário do agrário para o industrial e no cenário da dupla revolução proporcionou que outras revoluções no campo social entrassem no panorama contemporâneo. Como a própria Revolução Industrial ocorreu fruto de acontecimentos desde o ano 1000, as revoluções sociais também seguem até o século XXI o percurso de importantes marcosna história e esse é um processo de evolução como denominado a primeira parte deste livro. Referências Bibliográficas HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções (1789 - 1848). 44º ed. São Paulo: Paz e Terra, 2020. p.15 -95. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 1º ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p.12 - 17. MARX, Karl. O capital I. 2º ed. São Paulo: Boitempo, 2011. p. 617. KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. 2º ed. Rio de Janeiro: Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. p. 56 - 88.
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