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ELABORAÇÃO E PLANEJAMENTO DE PROJETOS SOCIAIS

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Projetos Sociais
Planejamento de
Elaboração e
// Samira Kauchakje2008
Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, 
mais informações www.iesde.com.br
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito 
dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Crédito da imagem: IESDE Brasil S.A.
IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
K21 Kauchakje, Samira. / Elaboração e Planejamento de Projetos 
Sociais. / Samira Kauchakje. — Curitiba : IESDE Brasil
S.A. , 2008. 
220 p.
ISBN: 978-85-387-0137-8
1. Pesquisa de avaliação (Programas de ação social). 2. Ação 
social. 3. Projeto social. I. Título. 
CDD 330.015195
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Pós-Doutora pela Universidade Federal do Rio de Ja-
neiro (UFRJ), Mestre em Ciências Sociais aplicadas à Edu-
cação e Doutora em Educação pela Universidade Estadual 
de Campinas (Unicamp). Especialista em Ecologia Humana 
pela Unicamp, em Supervisão em Serviço Social e em Me-
todologia do Serviço Social pela PUC-Campinas. Graduada 
em Serviço Social pela PUC-Campinas.
Samira Kauchakje
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Sumário
Planejamento: aspectos teóricos e históricos...............................................9
Aspectos teóricos ....................................................................................................................................... 9
Aspectos históricos ..................................................................................................................................14
Questão social: expressões históricas e atuais ...........................................25
Questão social ...........................................................................................................................................25
Questão social e planejamento no Brasil .........................................................................................31
Direitos humanos, econômicos, sociais 
e culturais e o desenvolvimento......................................................................39
Direitos humanos, econômicos, sociais e culturais ......................................................................39
Desenvolvimento humano ...................................................................................................................43
Atores sociais e o planejamento 
de políticas e projetos sociais ...........................................................................57
Atores sociais .............................................................................................................................................57
Os direitos sociais e a responsabilidade dos atores sociais .......................................................61
Políticas públicas ...................................................................................................71
Políticas públicas: noções gerais .........................................................................................................71
Áreas e setores das políticas públicas ...............................................................................................77
Ciclo das políticas públicas ...................................................................................................................78
Políticas sociais ......................................................................................................85
Políticas sociais: noções gerais ............................................................................................................85
Objetivos e população destinatária e políticas sociais no Brasil .............................................87
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Sistema Brasileiro de Proteção Social ............................................................97
Proteção social: uma prática social e política .................................................................................97
Sistema Brasileiro de Proteção Social .............................................................................................101
Políticas sociais e princípios constitucionais ................................................................................106
Projetos sociais: aspectos teóricos e metodológicos ............................115
Projetos sociais ........................................................................................................................................115
Etapas e processos .................................................................................................................................122
Rede de parceiros e o planejamento de projetos sociais ....................129
Identificação dos responsáveis pelo projeto 
e a articulação de parceiros em rede ..............................................................................................130
Rede de parcerias: Estado e organizações 
da sociedade civil local e internacional ..........................................................................................136
Análise da situação social e objetivos ........................................................145
Análises da situação social: localidade e população-alvo .......................................................145
Definição dos objetivos e metas .......................................................................................................150
Recursos e gestão de projetos sociais ........................................................161
Recursos de projetos sociais...............................................................................................................161
Modos de gestão de projetos sociais ..............................................................................................165
Avaliação e o processo de planejamento..................................................177
Avaliação de projetos sociais .............................................................................................................177
Cronograma de atividades..................................................................................................................183
Roteiro de projeto social ......................................................................................................................185
Gabarito .................................................................................................................191
Referências ...........................................................................................................209
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Apresentação
Nos acostumamos a ouvir a palavra “projeto” nas mais 
variadas utilizações: seja no que se refere a um “projeto de 
vida”, um “projeto empresarial”, um “projeto de pesquisa” 
ou mesmo um “projeto social”. A ampla utilização da pala-
vra “projeto” no nosso cotidiano, muitas vezes equivocada 
ou leviana, por si só justificaria a importância da presente 
disciplina se esta se limitasse a tratar da gestão de ações 
planejadas.
Porém, Elaboração e Planejamento de Projetos So-
ciais adota um viés muito mais promissor. Em vez de se 
constituir em um roteiro de procedimentos para o bom 
andamento dos projetos sociais,busca trazer à tona uma 
discussão de princípios e temas fundamentais àquilo que 
se considerou “questão social”. 
Ao tomar como ponto de partida a constatação das 
desigualdades e injustiças sociais (mesmo nas variadas so-
ciedades de democracia representativa), o presente livro 
parte do princípio de que as leis, regras e acordos não são 
muitas vezes efetivados por obstáculos históricos, polí-
ticos, econômicos, gerenciais ou socioculturais, visando 
contribuir para a sua superação. 
Por isso, a disciplina busca articular toda a dimensão 
das políticas sociais para construir seus temas, tratando de 
direitos humanos, da discussão das implicações das políti-
cas públicas, e portanto, envolvendo-se em uma discussão 
acerca da democracia e cidadania, sempre tendo como pano 
de fundo exemplos derivados de contextos históricos, leis, 
emendas ou declarações internacionais acerca do tema.
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A autora, através da utilização de uma ampla e atual 
bibliografia, trata do processo de elaboração de um proje-
to (englobando as metas, objetivos, planejamento e avalia-
ção); das relações entre os diversos atores sociais (Estado, 
empresas, sociedade civil organizada, movimentos sociais 
e ONGs); das políticas sociais e suas conexões com os pro-
gramas e projetos específicos, sem deixar de dar atenção 
às implicações dos diferentes modos de gestão das ações 
específicas.
Desta forma, o presente livro se constitui como uma 
importante referência não apenas para os estudantes de-
dicados às questões sociais, mas também para os cidadãos 
comprometidos em reivindicar seus direitos e tomar parte 
ativa na direção da sociedade em que vivem, contribuindo 
para consolidação e ampliação da democracia. 
Boa leitura!
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9
Planejamento: aspectos teóricos e históricos
Samira Kauchakje
Aspectos teóricos
Planejamento é um processo político e técnico que envolve ética, uma vez que 
significa realizar um empreendimento que antecipa um cenário desejável e traça obje-
tivos diante de situações consideradas como negativas em termos sociais, econômicos, 
culturais e políticos. Quer dizer, situações que são vistas por atores sociais significati-
vos (gestores públicos, movimentos sociais, mídia, entre outros) como necessitando e 
sendo passíveis de intervenção para a obtenção de mudanças. O escopo da interven-
ção, a direção e o alcance da mudança dependem tanto de capacidade técnica, recur-
sos humanos, materiais e financeiros disponíveis, como de aspectos legais, culturais e, 
sobretudo, da correlação de forças políticas que estão em jogo.
Portanto, o planejamento específico de políticas e projetos sociais supõe, por um 
lado, domínio teórico sobre o tema das políticas, legislação e projetos concernentes, 
e, também, dos processos de tomada de decisão e implementação de políticas num 
contexto social; por outro lado, supõe domínio de métodos e técnicas de elaboração e 
gestão de planos, bem como, de implementação, execução e avaliação dos mesmos.
Quando se trata de sociedades partícipes e herdeiras dos movimentos e das lutas 
históricas pelos direitos humanos e pela estruturação de Estados que tenham como 
princípio constitucional as garantias de cidadania, o planejamento aborda: a) situações 
sociais que envolvem grupos sociais e coletividades cujo atributo político é serem su-
jeitos de direitos e, b) utiliza, em algum grau, recursos públicos. Desta forma, o proces-
so de planejamento está inserido no campo da ética – uma ética cívica “com o apego 
difundido aos mecanismos e valores democráticos” (REIS, 2001, p. 6), vinculada à noção 
de res pública1.
A referência aqui é o Estado de Direito e, também, sua reformulação como Estado 
Social nas sociedades advindas do período moderno. A autora Di Pietro (1998, p. 1-2) 
esclarece:
1 “A essência do regime republicano, como a etimologia indica, é o fato de que o poder político não pertence, como um ativo patrimonial, aos governantes ou 
agentes estatais, mas é um bem comum do povo. [...] É só neste preciso sentido que se pode falar em poder público.” (COMPARATO, 2004, p. 8)
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No primeiro período do Estado de Direito, iniciado na segunda etapa do Estado Moderno, instaurou-
se o chamado Estado de Direito Liberal, estruturado sobre os princípios da legalidade, igualdade 
e separação de poderes, todos objetivando assegurar a proteção dos direitos individuais, nas 
relações entre particulares e entre estes e o Estado; o papel do Direito era o de garantir as liberdades 
individuais, já que se proclamava, com base no direito natural, serem os cidadãos dotados de 
direitos fundamentais, universais, inalienáveis. O Estado de Direito Liberal, embora idealizado para 
proteger as liberdades individuais, acabou por gerar profundas desigualdades sociais, provocando 
reações em busca da defesa dos direitos sociais do cidadão. [...] No segundo período do Estado de 
Direito, iniciado em meados do século XIX, atribui-se ao Estado a missão de buscar a igualdade 
entre os cidadãos; para atingir essa finalidade, o Estado deve intervir na ordem econômica e social 
para ajudar os menos favorecidos; a preocupação maior desloca-se da liberdade para a igualdade. 
O individualismo, imperante no período do Estado Liberal, foi substituído pela ideia de socialização, 
no sentido de preocupação com o bem comum, com o interesse público. Isto não significa que os 
direitos individuais deixassem de ser reconhecidos e protegidos; pelo contrário, estenderam o seu 
campo, de modo a abranger direitos sociais e econômicos.
A partir de meados dos anos 1970, a crise fiscal e reestruturação produtiva nas 
sociedades imprimiram uma reformatação dos diferentes tipos de Estado social co-
nhecidos. Esta conjuntura trouxe o ressurgimento de inseguridades sociais, riscos 
de privatização dos recursos públicos e de destituição do caráter político da questão 
social que poderia passar a ser objeto privilegiado da filantropia ou de solidariedades 
particulares e não de sólidas políticas sociais (KAUCHAKJE, 2005). Porém, acarretou, 
também, “a ideia de participação popular no processo político, nas decisões de Gover-
no, no controle da Administração Pública. Com isto, é possível falar-se em Estado de 
Direito Social e Democrático” (DI PIETRO, 1998, p. 2).
Existem variadas abordagens teóricas sobre planejamento de políticas públicas, 
programas e projetos sociais que podem ser agrupadas em: a) discussões teóricas sobre 
as etapas do planejamento; b) estudos que se referem aos atores envolvidos no proces-
so de planejamento; e c) correntes teóricas diferenciadas pelos valores e propostas de 
sociedade que explicitam. Estas abordagens podem ser apresentadas como se segue:
 discussões teóricas que priorizam as etapas do processo do planejamento, 
ou seja, elaboração de plano, processos decisórios e de análise, implementa-
ção, execução, monitoramento e avaliação. Segundo Oliveira (2006), existem 
três diferenças internas neste tipo de abordagem teórica, de acordo com qual 
etapa os autores considerariam primordial: 1. no processo de planejamento o 
principal seria o processo de elaboração de planos, composto pelas etapas de 
decisão política, análise de situações e de indicadores socioeconômicos, legis-
lação, formação de equipe e avaliação dos resultados; 2. a maior importância 
está, de fato, nas etapas do processo de elaboração de planos, porém seria 
necessário prestar especial atenção aos momentos de implementação e exe-
cução, pois são eles que, a despeito do que foi planejado, podem determinar 
o seu sucesso ou não; 3. a centralidade estariana etapa de monitoramento da 
implementação e execução de tudo que foi planejado anteriormente;
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Planejam
ento: aspectos teóricos e históricos
 estudos que se referem aos atores envolvidos no processo de planejamento 
(OLIVEIRA, 2006). Estes estudos podem ser separados em três grupos: 1. estu-
dos que consideram que as decisões na elaboração e implementação de políti-
cas e projetos são de cima para baixo, isto é, são de maior responsabilidade dos 
planejadores e gestores públicos (autoridades); 2. estudos que salientam que 
as decisões na elaboração e implementação de políticas e projetos são de baixo 
para cima, sendo que a população destinatária das políticas (público-alvo) e 
os implementadores/executores (educadores, assistentes sociais, professores, 
agentes de saúde, entre outros) são atores fundamentais; 3. estudos que con-
sideram um duplo fluxo de decisões no planejamento das políticas e projetos, 
isto é, as decisões partem dos planejadores/gestores públicos e, também, dos 
implementadores/executores juntamente com a população/público-alvo;
 correntes teóricas diferenciadas pelos valores e propostas de sociedade que 
explicitam (BAUMGARTEN, 2002; OLIVEIRA, 2006), podendo ser organizadas 
em duas perspectivas: 1. correntes que entendem o planejamento como fun-
damentado no mercado – instrumento para maximizar resultados com recur-
sos escassos e como forma de controle sobre as iniciativas e demandas sociais; 
e 2. correntes alinhadas ao planejamento participativo, embora possuam com-
preensões diversas sobre participação, sejam estas entendidas como: parceria 
da sociedade civil (movimentos sociais, Terceiro Setor e setor empresarial); no 
âmbito da abertura e fortalecimento de canais e instrumentos institucionais 
(como Conselhos Gestores e Conselhos Populares); no envolvimento efetivo 
do público-alvo, isto é, das próprias pessoas e grupos sociais a quem se des-
tinam as políticas (partícipes da elaboração, controle e inclusive, por vezes da 
execução de projetos)2; e por fim, na democratização de recursos e decisões 
que favorece o protagonismo e a autonomia de setores e grupos sociais envol-
vidos no sentido do planejamento emancipatório.
Como exemplo, observa-se que, entre estas abordagens teóricas mencionadas, os 
planos e as legislações das políticas sociais de saúde, educação e assistência social no Bra-
sil3 apontam para as características do planejamento participativo (com Conselhos Ges-
tores paritários com representantes da sociedade civil), nos moldes do chamado duplo 
fluxo e no sentido do planejamento emancipatório. Entretanto, a inscrição destes ele-
mentos em planos e legislação nem sempre se traduzem nas ações de implementação.
De toda forma, nas diferentes correntes interpretativas e em diferentes socieda-
des, o planejamento de políticas e projetos sociais faz parte de uma tradição de plane-
jamento social, isto é, da intenção de direcionar a vida social de acordo com determi-
nados objetivos (por exemplo, objetivo de desenvolvimento econômico ou social, de 
2 Sobre tipos de conselhos ver Gohn (2001) e Tatagiba (2002). Sobre exemplos de políticas e programas sociais participativos ver Pochmann (2003).
3 Ver Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei de Diretrizes e Bases para a política de educação (LDB); e Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS).
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12
diminuição de empobrecimento populacional etc.). A experiência histórica do plane-
jamento social ocorreu tanto em sociedades democráticas como em autoritárias (de 
direita ou de esquerda em termos das ideologias políticas).
A tradição do planejamento social (entendido também como planificação social) 
fundamenta-se na racionalidade própria da ciência moderna aliada à tecnologia que 
coloca como objetivo da produção de conhecimento o domínio sobre o objeto pesqui-
sado e o direcionamento de resultados segundo utilidade socioeconômica.4
O século XX é, também, o marco histórico da planificação que, tal como a ciência, origina-se em 
necessidades e interesses humanos, articulando-se a determinadas práticas, atitudes e concepções 
de mundo. Em sua forma moderna, o planejamento é, de modo geral, orientado pela noção de 
recursos escassos, pela busca de racionalização desses recursos e pela vontade de alcançar maior 
eficiência nos campos da produção e da distribuição de bens. (BAUMGARTEN, 2002)
Um dos pensadores clássicos que analisa e propõe o planejamento social é Man-
nheim, autor do início do século XX representante da corrente historicista5. Para ele a 
“essência da planificação democrática deve tomar como tema a vida social em sua to-
talidade: novas instituições, homens novos, valores novos” (MANNHEIM, 1972, p. 18).
“Para que a sociedade seja controlada, devemos indagar-nos como poderemos 
melhorar nossa técnica de intervenção nos assuntos humanos, e onde deve começar 
essa intervenção. O problema desse ‘onde’, o ponto de ataque exato, leva-nos ao con-
ceito de controle social.” (MANNHEIM, 1962 apud FORACCHI e MARTINS, 2002, p. 277)
Portanto, o conceito e a prática de planificação social estão associados às de con-
trole social compreendido como controle das agências do Estado sobre a sociedade. 
Esta concepção teve rebatimentos históricos no século XX, sendo que no campo dos 
regimes democráticos esta concepção influenciou a estruturação do Estado Social ou 
de Bem-Estar Social (Welfare State) e, no campo autoritário, fez parte da ascensão de 
ditaduras de direita (como dos Estados latino-americanos dos anos 1960 até 1980) ou 
das diversas vertentes da esquerda (como da antiga União Soviética ou atual China)6.
4 Em meados do século XIX há entre conservadores e socialistas, ainda que com antagônicas motivações, uma crença inabalável no progresso, e que o mundo 
estaria ou poderia transformar-se em melhor para todos. Um dos fatores para isto era “o controle do homem sobre as forças da natureza” possibilitado pela 
ciência e o desenvolvido tecnológico-industrial (HOBSBAWM, 2005, p. 411). A crença nas possibilidades transformadoras da ação intencional do homem, 
correspondente às condições materiais e forças produtivas, é expressa, por exemplo, por Marx em 1845: “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo, dife-
rentemente, cabe transformá-lo” (MARX, 1978, p. 53).
5 Segundo Löwy (1999, p. 69) o historicismo “parte de três hipóteses fundamentais: 1. qualquer fenômeno social, cultural ou político é histórico e só pode ser 
compreendido dentro da história, através da história, em relação ao processo histórico; 2. existe uma diferença fundamental entre os fatos históricos ou sociais 
e os fatos naturais. Em consequência, as ciências que estudam estes dois tipos de fatos, o fato natural e o fato social, são ciências de tipos qualitativamente 
distintos; não só o objeto da pesquisa é histórico, está imergido no fluxo da história, como também o sujeito da pesquisa, o investigador, o pesquisador, está, 
ele próprio, imerso no curso da história, no processo histórico”.
6 Para aprofundar estudos sobre Estado Social ver Draibe (1989, 1991). Para um panorama histórico sobre planificação e regimes políticos ver Tavares dos 
Santos (2001).El
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Planejam
ento: aspectos teóricos e históricos
No Brasil, em especial, os movimentos sociais pela democratização das décadas 
de 1970 e 1980 e a Constituição Federal de 1988 impuseram um novo significadopara 
controle social no âmbito das políticas públicas, que passa a ser o controle da popu-
lação sobre as ações e recursos do Estado e, sobretudo, por meio dos instrumentos e 
canais de participação social tais como: conselho, fórum, orçamento com participa-
ção popular, audiência pública, iniciativa popular, referendo, plebiscito, entre outros 
(AVRITZER e NAVARRO, 2003; KAUCHAKJE, 2002).
Seja nas variantes antagônicas dos regimes políticos citados, seja num ou noutro 
sentido de controle social, planejamento social articula-se a um projeto societário e a 
uma visão de mundo que os envolvidos no processo imprimem e expressam em seus 
planos de políticas e projetos sociais, conforme pôde ser observado nas correntes teó-
ricas sobre planejamento. O planejamento é expressão da convicção de que é possível 
participar do direcionamento da experiência pessoal e social.
De acordo com Mannheim seria a possibilidade do “domínio racional do irracio-
nal”. Embora ele lembre de que é impossível e indesejável o controle de formas es-
pontâneas, pois a planificação “não suprime a genuína dinâmica da vida” (MANNHEIM, 
1962 apud FORACCHI e MARTINS, 2002, p. 277).
Um dos expoentes brasileiros do planejamento econômico interroga-se sobre a 
influência do pensamento mannheimiano no qual o planejamento seria
[...] capaz de elevar o nível de racionalidade das decisões que comandam complexos processos 
sociais, evitando-se que surjam processos cumulativos e não reversíveis em direções indesejáveis. 
Fixou-se, assim, no meu espírito a ideia de que o homem pode atuar racionalmente sobre a história. 
Hoje me pergunto se não existe uma grande arrogância nessa atitude: imaginar que estamos 
preparados para dar um sentido à História. (FURTADO, 1997b, p.18 apud REZENDE, 2004, p. 244)
Entretanto, Furtado (1999, p. 77-80) admite a importância do planejamento para 
a construção da realidade social, especialmente no que se refere a debelar injustiças 
sociais nas esferas local e global, pois o planejamento seria
[...] uma técnica fundamental para a ação racional. Significa ter referências com respeito ao futuro, 
portanto, usar a imaginação para abrir espaço. [...]
Creio que, hoje, o que se perdeu – e isso é o mais grave – é a ideia de apelar para o planejamento. 
O homem sempre age a partir de hipóteses. Qualquer um de nós formula hipóteses com relação 
ao futuro de sua vida. Uma empresa precisa mais ainda formular essas hipóteses, e quanto mais 
complexa é a situação, maiores os riscos. No caso de um país, a coisa se agrava. [...] abandonar a ideia 
de planejamento é renunciar à ideia de ter governo efetivo.
Em várias partes do mundo desde pelo menos o final do século XIX, ao longo do 
século XX e primeiros anos do novo milênio estes preceitos e características do plane-
jamento de políticas públicas e projetos sustentaram as garantias de direitos (especial-
mente saúde, educação, moradia, culturais e econômicos e relacionados ao mundo do 
trabalho), mas, também, possibilitaram trágicos exemplos de centralização autoritária e 
violação de direitos (em regimes autoritários com supressão das liberdades civis).
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Aspectos históricos
Na passagem dos séculos XIX para o XX, o crescimento 
das cidades europeias e a pauperizaçao dos trabalhadores 
são fenômenos relacionados ao modo de industrialização no 
capitalismo. A questão urbana manifesta-se como questão 
social nos fenômenos da segregação espacial, pobreza, pre-
cário saneamento, insuficiência de serviços de saúde e mo-
radia e nos movimentos dos trabalhadores, por exemplo.
A emergência da questão social e urbana com as reivindi-
cações por direitos exigiram do poder político o planejamen-
to espacial e o planejamento de políticas sociais para atender 
as demandas tanto de grupos conservadores que almejavam 
a manutenção da ordem social e econômica (como medida 
para prevenir a desestruturação da coesão e moralidade vi-
gentes, isto é, da integração e adesão da população aos va-
lores e normas imperantes) como, também, de movimentos 
populares e socialistas pela conquista de direitos sociais.
Neste período, as próprias empresas desenvolvem planos que as favoreçam nas 
disputas concorrenciais e na formação de estratégias corporativas frente às demandas 
dos trabalhadores e das imposições da legislação social e trabalhista no que diz respei-
to a salários, jornada de trabalho, salubridade, férias, entre outros. Ao mesmo tempo, 
a Revolução de 1917, que cria a União Soviética, consolida o planejamento econômico 
(nas escalas da produção e do consumo) centralizado na burocracia de Estado.
Após a Segunda Guerra Mundial, para a reconstrução da economia e do tecido 
social, o Estado da maioria dos países capitalistas europeus e do continente americano 
assumirá a intervenção na economia e na sociedade, seja atuando diretamente como 
empresário, investidor econômico e implementador de ações sociais; seja como princi-
pal ator no planejamento de políticas sociais e econômicas. Neste período entre 1940 
a 1970, todavia, a intervenção estatal foi diferente em cada sociedade, a depender das 
forças e agentes políticos, econômicos e culturais que configuraram as variações con-
textuais do Estado Social7. Independente da forma do Estado de Bem-Estar mantinha-
se o núcleo central que aliava consumo de massa e produtividade, por um lado, e con-
quista de direitos (civis, políticos e sociais) por outro.
7 O termo Estado Social está sendo utilizado como sinônimo de Estado de Bem-Estar Social.
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Planejam
ento: aspectos teóricos e históricos
Na América Latina as ingerências internacionais dos países capitalistas centrais e 
a conjuntura local (lutas de teor socialista e capitalismo periférico dos anos 1950-1970) 
fizeram com que a ênfase estivesse no planejamento de políticas de desenvolvimento, 
sendo que esta vertente do planejamento econômico e social caracterizaria as déca-
das das ditaduras na América do Sul.
A partir da década de 1970, a mundialização 
financeira e a precarização ou falta de postos de tra-
balho8 conjugadas com o desequilíbrio na compo-
sição do orçamento dos Estados – crise fiscal – colo-
caram em cheque (no bloco capitalista e socialista) 
a capacidade do Estado em planejar e implementar 
políticas9. Os movimentos locais reivindicaram au-
tonomia e maior controle em relação ao Estado e as 
organizações financeiras e financiadoras internacionais exigiram planejamento e execução 
de políticas e projetos sociais partilhados com a sociedade civil e organizações sociais.
Nos anos 1980–2000 dois fatores principais acarretam o enfraquecimento do pa-
radigma da planificação que vicejou no período da modernidade clássica (TAVARES 
DOS SANTOS, 2001): a) políticas neoliberais de fortalecimento e abertura do mercado 
e de reforma do Estado nesta direção; b) internacionalização da economia e ampliação 
da sociedade em rede global (CASTELLS, 1999) que impossibilita a gestão pública e o 
planejamento econômico e social nos parâmetros estritamente locais e nacionais.
Com isso emerge uma nova modalidade de planejamento na qual estão presen-
tes arranjos de gestão em parceria com empresas e com o Terceiro Setor10; a gestão pú-
blica democrática permeada pelos mecanismos de participação social; e a articulação 
de redes locais e globais. Nessa modalidade, o Estado figura como um dos componen-
tes entre outros atores sociais, ainda que um componente privilegiado em termos dos 
recursos e competências no âmbitoda legislação e planejamento de políticas.
O Brasil participa deste movimento histórico geral com peculiaridades. Por exem-
plo, Oliveira (2006, p. 15) considera que na sociedade brasileira há “uma cultura de 
planos, com a ideia de antever e organizar o futuro [...] nós, brasileiros, geralmente 
temos uma visão positiva do planejamento”; e Schwartzman (1987) aponta esta carac-
terística da seguinte forma:
8 Castel (2001) analisou a queda da oferta de empregos formais e seus efeitos sociais e políticos. Para o autor, a partir de 1980 estaria iniciando a era do fim da 
sociedade salarial, isto é, assentada no trabalho assalariado e protegido pela legislação trabalhista.
9 Isto não significa que o Estado tenha perdido esta capacidade ou mesmo que tenha deixado de implementar formas de planejamento de políticas, significa 
apenas que o ambiente ideológico denominado de neoliberal que foi hegemônico, especialmente entre 1970 e 1990, aliado à reestruturação produtiva e à 
globalização da economia e do setor financeiro, levou à deslegitimação ou descrédito no papel e na responsabilidade do Estado no planejamento econômico e 
social. Cabe ainda observar que neoliberalismo é uma ideologia e um prática que se baseia na liberdade econômica de livre mercado e na redução de políticas 
e projetos sociais governamentais. Sobre a discussão conceitual sobre neoliberalismo no campo das políticas sociais recomenda-se a leitura de Draibe (1991).
10 As organizações da sociedade podem ser divididas em: Primeiro Setor – organizações principalmente de direito público, restritas ao Estado; Segundo Setor – 
organizações de direito privado, especialmente ligadas ao mercado como empresas privadas de comércio, indústria e financeiras; Terceiro Setor – organizações 
de direito privado, sem fins lucrativos, que realizam ações de interesse público, tais como as ONGs (organizações não governamentais).
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 concepção vigente desde 1930, e fortalecida nas décadas de 1950 até 1970, 
de que a economia deveria e era passível de ser planejada. Com destaque para 
os intelectuais brasileiros na Comissão Econômica para a América Latina das 
Nações Unidas – CEPAL – que consideravam relevante a intervenção do Estado 
para a promoção do desenvolvimento econômico;
 entre 1930 até 1980, retórica liberal11 e prática intervencionista e protecionista 
do Estado;
 planejamento de políticas setoriais, sem conceber um sistema de planejamen-
to social;
 após os anos 1990 os governos empreenderam planos econômicos e estrutu-
ração de políticas sociais.
No Brasil e em outras sociedades é possível observar o rompimento do paradig-
ma tradicional da planificação social, o que é diferente de afirmar o desaparecimen-
to ou menor importância dos processos de planejamento, em especial de políticas e 
projetos sociais. Isto pode ser verificado em programas como Comunidade Solidária 
(governo Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002) e Bolsa Família (governo Lula, 
iniciado em 2003) e na Lei do Plano Diretor que impõe aos municípios habilitados o 
planejamento da Política Municipal de Desenvolvimento Social (que agrega um con-
junto de políticas sociais como assistência social, saúde, educação, segurança alimen-
tar, entre outras).12
A relevância do planejamento e implementação destas políticas foi atestada por 
seus impactos sociais, pois a partir dos primeiros anos de 2000, as políticas sociais, 
junto com estabilidade econômica e períodos de crescimento têm promovido a di-
minuição da desigualdade de renda, especialmente com referência aos patamares 
inferiores dos estratos sociais (NERI, 2007; ARBIX, 2007). A queda da desigualdade ob-
servada entre 2001 e 2005 foi garantida pelos programas sociais e ocorreu tanto em 
períodos de perda de renda quanto de seu aumento: “No período mais recente (2003 
a 2005) o crescimento anual total de 4,8% também se distribuiu de forma diferenciada 
entre os segmentos populacionais. Os mais pobres foram os que mais ganharam, com 
acréscimos anuais de 8,4% na renda (contra 3,7% do décimo mais rico e 4,9% do grupo 
intermediário)” (NERI, 2007, p. 58-9).
11 O liberalismo enquanto ideologia e campo teórico da política e da economia, especialmente, prima por valores ligados às liberdades. Isto é, liberdade eco-
nômica, liberdade de expressão, liberdade de religião, liberdade para expressar posições políticas, entre outras. Teóricos liberais clássicos, desde o século XVII, 
como Locke, Tocqueville e Stuart Mill, influenciaram a concepção dos direitos civis (direito à vida e às liberdades) sendo que este ideário permeou a Revolução 
Americana (EUA) de 1774-1787 e a Revolução Francesa de 1789, bem como está contido na Declaração dos Direitos do Homem de 1789 e da Declaração dos 
Direitos Humanos de 1948. Atualmente, partidos políticos, Estados e posições políticas democráticas (seja da democracia de esquerda ou de direita) têm no 
liberalismo um de seus fundamentos. Os movimentos liberais como visto, foram revolucionários e ainda podem ser em alguns contextos, porém, hoje existe, 
também, o reducionismo dos valores e práticas liberais, entendidos apenas como liberdade de mercado/sociedade de mercado, o que seria uma concepção 
conservadora da ordem social.
12 Sobre o Plano Diretor e Estatuto da Cidade ver o site <www.cidades.gov.br>.El
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Planejam
ento: aspectos teóricos e históricos
Políticas sociais e econômicas se condicionam mutuamente. Segundo Neri (2007, 
p. 67), por exemplo, o plano econômico Real implantado nos anos 1990 não tinha o 
objetivo da redistribuição, mas a estabilidade “viabilizou a ação de políticas sociais”. 
Para Arbix (2007, p. 137) não é por acaso que “no período declinante da desigualdade 
(1993-2006), o Brasil conseguiu manter uma inflação baixa, potencializando o impacto 
de um conjunto de políticas sociais...”.
A diminuição da desigualdade é favorecida pela articulação entre políticas sociais 
de caráter redistribuitivo13 e da política econômica que promove estabilidade e cres-
cimento, no entanto, a importância da política social de redução da desigualdade é 
destacada por Arbix (2007, p. 132 e 137):
O período de 2001-2005 foi marcado pela redução da pobreza. A novidade é que, ao contrário de 
outros momentos na história, a principal força propulsora dessa redução foi a queda na desigualdade 
e não o crescimento econômico. [...] se a desigualdade entre 2001 e 2005 no Brasil não tivesse se 
reduzido, a pobreza teria caído apenas 1,2 ponto percentual ao invés dos 4,5 pontos percentuais 
realmente registrados no mesmo período. Ou seja, 73% da queda na pobreza e 85% da queda na 
extrema pobreza devem-se à redução na desigualdade.
Portanto, apesar do Brasil continuar sendo um monumento da desigualdade e injusti-
ça social como adjetivou Hobsbawm (1995), a diminuição da desigualdade de renda deu-se 
pelo impacto do planejamento e da implementação de políticas e programas sociais.
O planejamento é um processo político e uma técnica social. Aliar esta dupla ca-
racterística com o horizonte de construção de uma sociedade justa requer tanto uma 
metodologia como uma cultura política a favor do planejamento democrático.
TEXTO COMPLEMENTAR
A racionalidade do planejamento
(BAPTISTA, 2000)
O termo “planejamento”, na perspectiva lógico-racional, refere-se ao processo 
permanente e metódico de abordagem racional e científica de questões que se co-
locam no mundo social. Enquanto processo permanente supõe ação contínua sobre 
um conjunto dinâmico de situaçõesem um determinado momento histórico. Como 
processo metódico de abordagem racional e científica, supõe uma sequência de 
atos decisórios, ordenados em momentos definidos e baseados em conhecimentos 
teóricos, científicos e técnicos.
13 Políticas de caráter redistributivo são aquelas que transferem recursos de um setor ou segmento da sociedade para outro, como os programas de transfe-
rência de renda aos moldes do Programa Bolsa Família (Brasil) ou de tipo Renda Mínima (França).
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Nessa perspectiva, o planejamento refere-se, ao mesmo tempo, à seleção das 
atividades necessárias para atender questões determinadas e à otimização de seu 
inter-relacionamento, levando em conta os condicionantes impostos a cada caso 
(recursos, prazos e outros); diz respeito, também, à decisão sobre caminhos a serem 
percorridos pela ação e às providências necessárias à sua adoção, ao acompanha-
mento da execução, ao controle, à avaliação e à redefinição da ação. [...]
O planejamento como processo político
A dimensão política do planejamento decorre do fato de que ele é um processo 
contínuo de tomadas de decisões, inscritas nas relações de poder, o que caracteriza 
ou envolve uma função política.
No entanto, tradicionalmente, ao se tratar de planejamento, a ênfase era dada 
aos seus aspectos técnico-operativos, desconhecendo, no seu processamento, as 
tensões e pressões embutidas nas relações dos diferentes sujeitos políticos em pre-
sença. Hoje, tem-se clareza de que, para que o planejado se efetive na direção dese-
jada, é fundamental que, além do conteúdo tradicional de leitura da realidade para 
o planejamento da ação, sejam aliados à apreensão das condições objetivas o co-
nhecimento e a captura das condições subjetivas do ambiente em que ela ocorre: o 
jogo das vontades políticas dos diferentes grupos envolvidos, a correlação de forças, 
a articulação desses grupos, as alianças ou incompatibilidades entre os diversos seg-
mentos. Esse conhecimento irá possibilitar, além da visualização de propostas com 
índices mais altos de viabilidade, a percepção e o manejo das dificuldades e das 
potencialidades para o estabelecimento de parcerias, de acordos, de compromissos, 
de responsabilidades compartilhadas.
Esta apreensão levou a assumir a importância do caráter político do planeja-
mento e a necessidade de operá-lo de uma perspectiva estratégica, que trabalhe 
sobre este contexto de relações apreendendo sua complexidade, enfatizando os 
ganhos do processo. Desta forma, o domínio e a orientação do fluxo dos aconte-
cimentos se pautaram por um novo sentido de competência: além da competên-
cia teórico-prática e técnico-operativa, há que ser desenvolvida uma competência 
ético-política. [...]
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Planejam
ento: aspectos teóricos e históricos
O planejamento como processo técnico-político
O planejamento se realiza a partir de um processo de aproximações, que tem 
como centro de interesse a situação delimitada como objeto de intervenção. Essas 
aproximações consubstanciam o método e ocorrem em todos os tipos e níveis de 
planejamento. Ainda que submetidas ao movimento mais amplo da sociedade, o 
seu conteúdo específico irá depender da estrutura e das circunstâncias particulares 
da cada situação.
O desencadeamento desse processo particular de planejamento se faz a partir 
do reconhecimento da necessidade de uma ação sistemática perante questões li-
gadas a pressões ou estímulos determinados por situações que, em um momento 
histórico, colocam desafios por respostas mais complexas que aquelas construídas 
no imediato da prática. [...]
Portanto, a decisão de planejar, [...] é uma decisão política que pressupõe aloca-
ção de recursos para sua realização.
Assumida a decisão de planejar, o movimento de reflexão–decisão–ação–refle-
xão que o caracteriza vai realizando concomitantemente as seguintes aproximações:
 construção/reconstrução do objeto;
 estudo da situação;
 definição de objetivos para a ação;
 formulação e escolha de alternativas;
 montagem de planos, programas e/ou projetos;
 implementação;
 implantação;
 controle da execução;
 avaliação do processo e da ação executada;
 retomada do processo em um novo patamar.
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[...] na prática, esse processo nem sempre se mostra nitidamente ordenado. 
Metodologicamente, o planejador desenvolve atividades, simultaneamente, em di-
ferentes aproximações, uma vez que elas interagem de maneira dinâmica. [...]
O quadro 1, apresentado a seguir, mostra uma síntese dessa dinâmica.
Quadro 1– Síntese da dinâmica do processo de planejamento
Processo 
racional Fases metodológicas Documentação decorrente
Reflexão
(Re) construção do objeto Proposta preliminar
Estudo de situação
Estabelecimento de prioridades
Diagnóstico
Propostas alternativas
Estudo de viabilidade
Anteprojetos
Decisão
Escolha de prioridade
Escolha de alternativas
Definição de objetivos e metas
Planos
Programas
Projetos
Ação
Implementação
Implantação
Execução
Controle
Roteiros
Rotinas
Normas/Manuais
Relatórios
Retorno da reflexão
Avaliação
Retomada do processo
Relatórios avaliativos
Novos planos, programas e projetos
ATIVIDADES
Por que planejamento de políticas e projetos sociais é considerado um proces-1. 
so político e técnico que envolve ética? (resposta em até 20 linhas)
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Planejam
ento: aspectos teóricos e históricos
Quais são os marcos históricos gerais do planejamento de políticas e projetos 2. 
sociais?
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Pesquise em equipe (de três a seis pessoas) os projetos sociais que estão sendo 3. 
implementados em seu município. Escolha dois projetos e entregue um traba-
lho de até duas páginas contendo: 
nome de cada projeto; a. 
objetivos de cada um dos projetos; b. 
população-alvo de cada um dos projetos; c. 
resultados esperados em cada um dos projetos; a opinião da equipe de alu-d. 
nos sobre a relevância de cada um dos projetos (por que o projeto é impor-
tante?). 
Lembre-se: não copie textos de sites da internet ou dos documentos dos e. 
projetos sociais, escreva as informações com suas próprias palavras.
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Planejam
ento: aspectos teóricos e históricos
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Questão social: expressões históricas e atuais
Questão social
Pobreza, desigualdade social, agravos sociais para a saúde, desemprego, condi-
ções de moradia abaixo do patamar do que seria digno num contexto social, infância e 
velhice desassistidas, exploração do trabalho e expropriação do produto do trabalho; 
precário acesso ao patrimônio cultural; dificuldade de aquisição de alimentos que ga-
rantam a nutrição, são condiçõese situações sociais conhecidas e experienciadas de 
formas diversas ao longo da história.
São fenômenos que em si mesmos não se configuram como questão social, pois 
para isto há a necessidade de uma conjunção de fatores culturais, políticos e econô-
micos que façam com que a própria sociedade indague sobre as razões e os meios de 
debelar, controlar ou minimizar tais situações. Em outras palavras, para que seja reco-
nhecido como questão social, e uma de suas expressões, um fenômeno social precisa 
ser desnaturalizado, quer dizer, seus fatores, geradores e possíveis soluções buscados 
nas próprias relações sociais e não em justificativas exteriores a elas.
Exemplos de concepções e visões de mundo que não questionam as situações 
sociais são: a desigualdade de renda e de aquisições materiais e culturais entendida 
como própria à ordem do mundo social (e não sendo gerada por processos político-
econômicos); a pobreza compreendida como o lugar em que forças divinas colocam 
algumas pessoas seja para sua redenção ou por falta de mérito e castigo; a doença 
(ainda quando causada por condições de trabalho e moradia) vista como fatalidade 
ou vontade de Deus; educação e escolarização como privilégio; o trabalho e parte do 
seu produto como doação; assistência na velhice e infância dependente de laços de 
pertencimento familiar e comunitário; e a falta de alimento de qualidade, vista como 
parte da escassez natural generalizada, ou naturalmente concentrada em determina-
dos grupos sociais de castas, etnias, camadas e classes consideradas inferiores. Diante 
de tais concepções as atitudes poderiam ser de lamento, repulsa, caridade, indiferença, 
resignação perante o que não pode ser mudado, ou ainda de revolta diante da sorte 
pessoal ou grupal ou do abuso de poderes e poderosos, porém, dificilmente poderiam 
mobilizar movimentos sociais e implementação de legislação e políticas de caráter uni-
versal sob responsabilidade do Estado.
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Esta visão predominou durante a maior parte dos períodos históricos, sendo que 
tais fenômenos e as suas possíveis situações geradoras ou agravantes não eram inter-
rogados e questionados nos termos das estruturas sociais e responsabilidades da ação 
e das relações sociais. A partir do século XIX esta indagação sobre a própria realidade 
e a ordem social promove a passagem do que seria um fato imutável e um proble-
ma social para a concepção de questão social. “[...] o conceito questão social sempre 
expressou a relação dialética entre estrutura e ação, na qual sujeitos estrategicamente 
situados assumiram papéis políticos fundamentais na transformação de necessidades 
sociais em questões – com vista a incorporá-las na agenda pública e nas arenas decisó-
rias...” (PEREIRA, 2001, p. 51)
O marco no século XIX explica-se pela consolidação da industrialização aos 
moldes capitalistas e pela urbanização acelerada e desordenada que rompem com as 
condições e modos de vida cuja referência seria a proteção próxima ou horizontal (isto 
é, de familiares, paróquias, vizinhança, de fidelidade entre senhor–servo ou mestre–
aprendiz de tempos anteriores). Mas também, este é um marco da emergência dos 
movimentos trabalhistas e das lutas sociais sob a inspiração dos direitos e do socia-
lismo que convulsionaram especialmente as sociedades europeias, e possibilitaram o 
questionamento das necessidades vivenciadas como carências, demandando mudan-
ças ou transformações sociais para enfrentá-las.
A tríade – necessidades, carências e demandas1 – são inseparáveis para a apreen-
são da questão social como modo de interpretar e interpelar a realidade.
Necessidades humanas são, todas, em alguma medida, necessidades sociais e cul-
turais2. Homens e mulheres igualmente têm necessidade de alimento, de abrigo, de 
condições reprodutivas e satisfação sexual, e também têm as necessidades de caráter 
intangível como autonomia e criação (trabalho), entre outras. Quais são as necessida-
des humanas e quais as maneiras do seu cumprimento variam historicamente a de-
pender de fatores socioambientais, culturais e econômicos (tais como o que é conside-
rado alimento, os requisitos dignos para a habitação, o que seria aceito em termos da 
sexualidade, as qualidades humanas do trabalho).
Portanto, em certo grau, todas as necessidades são também produções huma-
nas, sendo que algumas delas decorrem diretamente de outros artefatos: a educação 
digital é uma necessidade relativa às tecnologias da informação e da comunicação; o 
saneamento e o mínimo de habitabilidade vêm do próprio modo de vida nas urbes, 
por exemplo. Por isso é um equívoco escalonar necessidades como básicas (também 
denominadas biológicas/primárias/naturais) e complexas, pois as necessidades sejam 
1 De forma resumida: “entende-se por necessidade tanto o que é requisitado no patamar fisiológico na vida individual, como as necessidades criadas socio-
culturalmente. Carência liga-se ao processo social que leva a que pessoas ou coletividades não tenham atendidas as necessidades. Demanda é a vocalização 
das carências, seja por meio de manifestações e reivindicações participativas, seja pelo próprio reconhecimento público da existência da carência; em outras 
palavras: demandas são vocalizadas em movimentos sociais, fóruns, conselhos, audiências e/ou identificadas por igrejas, mídia, legisladores, gestores públicos, 
partidos políticos etc.)” (KAUCHAKJE, 2008, p. 1).
2 Para uma discussão detalhada sobre o tema é indicado Pereira (2000).El
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Q
uestão social: expressões históricas e atuais
quais forem têm dimensões culturais, e passam a ter na vida pessoal e social importân-
cia equivalente. Assim como as demais, são necessidades humanas iguais e prementes 
o alimento e a autonomia.
Carências, por sua vez, são produtos de relações sociais nas quais processos de 
estratificação social (por sexo, etnia, casta, classe, entre outros) privam ou dificultam 
o acesso de alguns grupos sociais e coletividades aos recursos e meios para satisfa-
zer as necessidades colocadas por seu tempo e sociedade. Os exemplos a seguir são 
ilustrativos:
 todos têm necessidade de alimento 
com qualidade nutricional, mas como 
fruto das relações sociais locais e glo-
bais grupos sociais estão em situação 
de carecimento, isto é, no mundo exis-
tem cerca de 863 milhões de pessoas 
(FAO, 2008) subnutridas;
 todos os seres humanos igualmente têm 
necessidade de autonomia. Uma das manifestações que reconhecem a satisfação 
desta necessidade como direito é a Declaração dos Direitos Humanos de 19483. 
Por princípio as sociedades que aderem a esta declaração cumprem ou zelam nas 
relações internacionais pelo cumprimento de artigos como os art. 18 e 19:
Art. 18
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui 
a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo 
ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.
Art. 19
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, 
sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer 
meios e independentemente de fronteiras.
Todavia, foram registrados 45 países que 
mantêm prisioneiros de consciência (isto é, pes-
soas presas por expressarem pensamento, credo 
religioso e posição política contrários aos oficiais 
no Estado) e 77 países que restringem a liberda-
de de expressão e de imprensa, conforme Anis-
tia Internacional – Informe2008.
3 Ver íntegra da Declaração dos Direitos Humanos no site da ONU: <www.onu-brasil.org.br>.
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Demandas sociais são formas de vocalização, quer dizer, de manifestações (por 
movimentos sociais, participação política, revoluções etc.) que reivindicam garantias 
de condições sociais para que as necessidades possam ser satisfeitas, portanto, para 
que carecimentos sejam debelados ou minimizados.
A construção da diferença entre necessidades 
e carências (necessidades humanas partilhadas por 
todos sendo diferente das carências sociais que por 
razões calcadas na própria sociedade – razões não 
naturais ou de ordem sobrenatural – seriam encargo 
de grupos sociais específicos), portanto, faz parte de 
um processo social que se intensificou a partir das 
lutas igualitárias e por direitos do século XIX que ex-
pressavam demandas sociais. Ao mesmo tempo, os 
próprios movimentos sociais foram questionando e formando a diferenciação entre 
necessidade e carência, mediada pela noção dos direitos.
Trata-se aqui do processo de construção dos direitos a partir das chamadas re-
voluções gêmeas (HOBSBAWM, 2005), isto é, a revolução política (Revolução France-
sa, no século XVIII) e a revolução econômica (cuja emergência remonta ao século XVII 
especialmente na Inglaterra) que esteve conjugada aos ideais liberais4 de liberdade e 
cidadania civil.
Tais direitos são problematizados pelas lutas sociais que criticam a contradição entre 
as péssimas condições de vida e trabalho num período de crescimento econômico e rei-
vindicam legislação trabalhista e direitos sociais (como habitação, educação, saúde) jun-
tamente com as liberdade civis e a participação política. Engels (1987 apud Hobsbawm, 
2005, p. 255) ilustra o que seria o ambiente da Inglaterra do século XIX:
Um dia andei por Manchester com um destes cavalheiros da classe média. Falei-lhe das desgraçadas 
favelas insalubres e chamei-lhe a atenção para a repulsiva condição daquela parte da cidade em 
que moravam os trabalhadores fabris. Declarei nunca ter visto uma cidade tão mal construída em 
minha vida. Ele ouviu-me pacientemente e na esquina da rua onde nos separamos comentou: E 
ainda assim, ganham-se fortunas aqui. Bom dia, senhor!
Neste sentido, a concepção de direitos forneceu as bases para que as condições de 
vida e trabalho do período fossem percebidas como produto das relações sociais injustas 
nas sociedades capitalistas.
A questão social significa justamente o desvendamento das contradições sociais, 
portanto, trata-se menos da existência da pobreza, da desigualdade e de privações (que 
já faziam parte da experiência de diversas sociedades desde tempos imemoriáveis) e 
mais da nova forma que estes fenômenos estavam sendo gerados e interpretados.
4 Ver autores no campo da teoria liberal clássica: Locke, Tocqueville, Stuart Mill, por exemplo.
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Revolução Francesa.
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Q
uestão social: expressões históricas e atuais
Com efeito, se não era inédita a desigualdade entre as várias camadas sociais, se vinha de muito 
longe a polarização entre ricos e pobres, se era antiquíssima a diferente apropriação e fruição dos 
bens sociais, era radicalmente nova a dinâmica da pobreza que então se generalizava.
Pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a 
capacidade social de produzir riquezas. (NETTO, 2001, p. 42)
Por um lado, a questão social era objeto das lutas sociais, e por outro, as elites po-
líticas e econômicas viam nestas lutas um perigo à ordem social, e como tais deveriam 
ser combatidas (seja de forma repressiva ou pelo atendimento de parte de suas reivin-
dicações por meio de legislação e políticas sociais) – isto é, os próprios movimentos 
sociais eram tidos como uma das expressões da questão social. Em síntese,
Originalmente, a chamada questão social constitui-se em torno das grandes transformações 
econômicas, sociais, políticas, ocorridas na Europa do século XIX e desencadeadas pelo processo 
de industrialização. Essa questão assentou-se basicamente, na tomada de consciência [...] de 
um conjunto de novos problemas, vinculados às modernas condições de trabalho urbano, e do 
pauperismo como um fenômeno socialmente produzido. Assim, se a pobreza, nas sociedades pré-
industriais, era considerada um fato natural e necessário para tornar os pobres laboriosos e úteis à 
acumulação de riquezas [...], agora ela deveria ser enfrentada e resolvida para benefício, inclusive, 
do progresso material em ascensão. Tal tomada de consciência foi despertada pela constatação do 
divórcio existente entre o crescimento econômico e o aumento da pobreza, de um lado, e entre [...] 
reconhecimento dos direitos do cidadão e uma ordem econômica negadora destes direitos, por 
outro lado. (PEREIRA, 1999, p. 51)
Atualmente, a questão social é entendida como o conjunto das diversas expressões 
da desigualdade social reconhecidas nas sociedades a partir do século XIX, cujo funda-
mento são as contradições do capitalismo como forma de produção e de organização 
social, bem como os modos de resistência a elas (IAMAMOTO, 1982; NETTO, 2001).
As expressões atuais da questão social conjugam 
as já tradicionais, como a pobreza e a desigualdade 
(que se tornaram mais vinculadas ao contexto interna-
cional e global), às recentes manifestações, tais como: 
retomada da precarização do trabalho; desemprego de 
longa duração; conflitos ligados às diferenças étnicas e 
culturais; disputas em torno das identidades de gênero; 
riscos ambientais; e fluxos migratórios motivados pela 
busca de refúgio diante de conflitos políticos e da extrema pobreza que beira ao exter-
mínio (às vezes com o agravante de ocorrências de catástrofes ambientais).
No decorrer do tempo, hoje como no passado, são basicamente duas as respostas 
à questão social:
 implementação de um aparato repressivo: tradicionalmente para a contenção 
dos movimentos operários e populares e para a punição daqueles que não 
tinham ou se negavam ao trabalho; e recentemente, além da permanência 
destes aspectos, este aparato é montado para o fechamento de fronteiras e 
expulsão de imigrantes de territórios nacionais;
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Cruz Vermelha.
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 composição de legislação e políticas sociais: tradicionalmente vinculadas ao 
mundo do trabalho e financiadas nas relações de trabalho5; e atualmente 
com relativo afastamento do mundo do trabalho e das contribuições diretas 
por conta das taxas de desemprego e de trabalho informal precário6 (como 
no caso dos programas de transferência de renda e do auxílio-desemprego) 
(TELLES, 1996). De toda forma, tais legislações e políticas significaram e signi-
ficam conquista de direitos e, também, condições de manutenção da ordem 
socioeconômica.
De toda forma, a emergência da questão social fez com que o planejamento de polí-
ticas sociais ocupasse um lugar central na dinâmica das relações entre Estado e sociedade. 
Embora pudesse haver maior concordância sobre a importância do planejamento, houve 
e há posições diversas e divergentes sobre políticas e serviços públicos, tais como:
 os que concebem que políticas e serviços sociais públicos podem contribuir 
para a tessitura de relações pautadas na justiça social nas sociedades capitalis-
tas (concepçãoque animou a formulação, em algumas sociedades, do Estado 
de Bem-Estar Social, entre os anos 1940 e 19707);
 os que admitem sua importância para a manutenção da ordem social, seja 
porque podem restringir os movimentos sociais, seja porque favorecem a acu-
mulação do capital8; e
 os atores sociais que veem as políticas e projetos sociais como uma forma de 
assegurar direitos como estratégia de acúmulo de forças e de condições para 
a constituição de um futuro projeto alternativo de sociedade9.
No Brasil, estas posições sobre o planejamento de políticas estão presentes atu-
almente, nos conselhos, nas secretarias de Estado, nas ONGs (organizações não go-
vernamentais) e na sociedade em geral, onde os atores sociais dialogam e disputam 
para direcionar o sentido e a implementação das políticas. Por isto, as legislações que 
regulamentam as políticas sociais resultam de negociações e jogos de força entre estes 
atores, e o texto das leis sociais expressam este debate10.
5 Cabe lembrar que uma legislação social relativa a regular o mundo do trabalho é formatada, especialmente na Inglaterra, desde o final do século XV e no 
século XVI. Estas leis obrigam ao trabalho, reprimem os “vagabundos e esmoleiros” e favoreceram o avanço do capitalismo e a própria Revolução Industrial 
(MARX, 1983; CASTEL, 2001). No Brasil, após os anos 1930 até ao menos a década de 1980, para se mostrar digno dos direitos de cidadania e de tratamento 
respeitoso era preciso apresentar a carteira de trabalho antes que a “carteira de identidade”. A isto Santos (1979) chamou de cidadania regulada.
6 Ver Indicadores sociais do IBGE – Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <www.ibge.gov.br>.
7 O Estado de Bem-Estar Social é caracterizado pelo planejamento e financiamento de políticas e oferta de serviços públicos e, ao mesmo tempo, de um alto 
nível de consumo que mantém aquecida a economia. Ver Draibe (1989).
8 Uma das interpretações sobre políticas e projetos sociais é que ele permite que a reprodução do trabalhador tenha um custo baixo para o empregador, au-
mentando as condições de sua acumulação, pois a educação pública, a saúde pública e a moradia popular, por exemplo, são financiadas pela sociedade como 
um todo, via tributação, enquanto que a acumulação de capital e seu usufruto são privados. No Brasil, aliás, há demandas pela reforma tributária para diminuir a 
evasão e a injustiça fiscal. Segundo Brami-Celentano e Carvalho (2007, p.10) os objetivos da justiça fiscal/social seriam “o aumento da tributação sobre as rendas 
mais altas e sobre o patrimônio, a redução da tributação incidente sobre o consumo da maioria da população e a desoneração da folha de salários”.
9 Esta é a posição de partidos e setores de esquerda que optam pelo jogo democrático e participação no Estado em cargos legislativos e executivos.
10 Interessante conhecer a legislação social como: Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB); Lei Orgânica da Saúde (LOS); Lei Orgânica da Assistência Social 
(LOAS), entre outras disponíveis nos sites oficiais dos Ministérios da Educação, da Saúde e da Assistência Social.
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uestão social: expressões históricas e atuais
Questão social e planejamento no Brasil
Na Constituição Federal de 1988 são destacados o planejamento econômico, o 
primado do trabalho, da dignidade humana e do bem-estar social, conforme os se-
guintes artigos11
Art. 1.º 
A República Federativa do Brasil (...), tem como fundamentos:
[...]
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
[...]
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma 
da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor 
público e indicativo para o setor privado.
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a 
justiça sociais.
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes 
Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à 
assistência social.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos 
termos da lei [...]
Os artigos constitucionais são base para o planejamento de políticas sociais en-
quanto que a questão social provoca sua elaboração. Em outras palavras, a questão social 
e suas expressões na realidade social são nucleares para o planejamento e elaboração de 
políticas e projetos sociais. Políticas e projetos são demandados pelo próprio reconheci-
mento da questão social e se configuram como uma forma de resposta social a ela.
Dentre as expressões da questão social, a pobreza parece ser um eixo catalisador 
e, também irradiador: potencializa e gera insegurança alimentar e doenças, e também 
é agravada por desemprego de longa duração12 e formação profissional e educacional 
reduzida, por exemplo.
No caso brasileiro a pobreza está associada à acentuada desigualdade de renda. 
Estudos baseados no PNAD de 1997 – Pesquisas Nacional por Amostra de Domicílio /
IBGE – demonstravam que
[...] pessoas com renda acima de R$1.500 estavam entre os 5% mais ricos da população brasileira 
em 1997. Vários indicadores mostram a grande desigualdade da distribuição. Os 10% mais ricos 
ficam com quase 48% da renda total. A participação do 1% mais rico na renda total (13,8%) supera a 
participação da metade mais pobre da população (11,8%). Pode-se verificar que a renda média do1% 
11 Agradeço a Fabiane Bessa pela sugestão dos artigos.
12 Para Pochmann (2002), desemprego de longa duração seria o desemprego por oito meses ou mais.
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mais rico é quase 59 vezes maior do que a renda média dos 50% mais pobres. A renda média dos 10% 
mais ricos é 25,7 vezes maior do que a renda média dos 40% mais pobres. (HOFFMANN, 2000, p. 83)
A tabela 1 resume estas informações.
Tabela 1 – Distribuição do rendimento familiar per capita no Brasil, conforme 
a situação do domicílio – 1997
40% mais pobres 7,4
(H
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0)
50% mais pobres 11,8
20% mais ricos 64,4
10% mais ricos 47,8
5% mais ricos 34,1
1% mais rico 13,8
Dados recentes do Pnad apontam que
[...] em 2006, havia no país 36 153 687 pessoas classificadas como miseráveis, o que equivale a 5,87 
milhões a menos que em 2005, quando foram registradas 42 033 587 com renda per capita abaixo 
de R$125 mensais. Nos últimos três anos (2004, 2005 e 2006), a redução acumulada da pobreza foi 
de cerca de 36%. [...] Em 2006, os 50% mais pobres aumentaram a sua participação nas riquezas do 
país em 12%. Já os mais ricos, aumentaram sua participação em 7,8%. Além disso, o índice de Gini, 
que mede o grau de desigualdade segundo a renda domiciliar per capita, também caiu em 2006, 
chegando a 15%. [...] A proporção de pessoas abaixo da linha de pobreza, [...] atingiu uma marca 
histórica no ano passado, ao chegar a 19,31%. Em 2005, essa proporção era de 22,77%. Em 1993, 
chegou a ser de 35%. (CARTA CAPITAL, 2007)
Estes dados fornecem subsídios para o debate sobre programas e projetos que prio-
rizam segmentos populacionais e situações sociais (tais como os programas Bolsa–Esco-
la, Bolsa Família, e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil13) e os riscos que trazem 
para a universalização dos direitos sociais. Isto porque o princípio da universalização 
significa que uma política não se destina a grupos sociais específicos, mas independentede qualquer fator de classe, etnia, religião, sexo, idade, renda etc., ela se destina e afeta a 
todos os cidadãos. No Brasil são políticas sociais universais as de educação (fundamen-
tal), saúde e assistência social (em termos de que todos que dela necessitarem).
Draibe, todavia, afirma que programas e projetos que privilegiam determina-
dos grupos e segmentos sociais vulneráveis ou em risco social14 podem ter efeito 
redistributivo15 desde que realizados de forma conjugada e no interior de programas 
13 Para uma discussão sobre estes programas é recomendável ler GIOVANNI; YAZBER; SILVA. A Política Social Brasileira no Século XXI – a prevalência dos 
programas de transferência de renda. São Paulo: Cortez, 2004.
14 São consideradas situações de vulnerabilidade e risco social: perda ou fragilidade de vínculos de afetivos, de pertencimento e sociais; ciclos de vida (criança, 
adolescente idoso); identidades estigmatizadas em termos étnico (no Brasil: negros, índios, por exemplo), cultural, sexual ou de gênero; desvantagem pessoal 
resultante de deficiências; pobreza; frágil ou insuficiente acesso às políticas e aos serviços públicos; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de vio-
lência; inserção precarizada ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem 
representar risco pessoal e social, entre outros. (ver texto da Política Nacional da Assistência Social. Disponível em: <www.mds.gov.br>).
15 Políticas e programas redistributivos são os que propiciam renda, bens, assim como oferta de serviços e equipamentos públicos por meio da transferência de recur-
sos de um setor ou segmento da sociedade para outro. Um estudo interessante desta modalidade de política no Brasil encontra-se em Giovanni; Yazbek; Silva (2004). E
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uestão social: expressões históricas e atuais
universais. Isto porque estes programas podem “reduzir as chances da reprodução 
da desigualdade sob o manto de programas universais, frequentes, sobretudo em 
sociedades muito desiguais” (DRAIBE, 2003, p. 11). Os dados sobre os primeiros anos 
de 2000 confirmam que as políticas sociais e programas destinados aos grupos mais 
empobrecidos promoveram uma diminuição da desigualdade de renda no Brasil 
(NERI, 2007; ARBIX, 2007).
Porém, a despeito da redução da desigualdade e do número de pessoas destitu-
ídas de direitos de cidadania pela pobreza, estas persistem como graves expressões 
brasileiras da questão social.
Disto decorre a importância das políticas e projetos sociais (portanto, políticas 
e projetos de educação, saúde, assistência social, trabalho, habitação e segurança 
alimentar, principalmente) contemplarem em seu planejamento ações destinadas a 
combater a pobreza e a desigualdade, o que quer dizer ações que conjuguem esforços 
para a democratização dos bens e recursos sociais.
TEXTO COMPLEMENTAR
Questão social e cidadania
(TELLES, 1999, p. 84-130)
[...] a sociedade brasileira sempre teve, para o bem ou para o mal, a questão 
social no seu horizonte político. É uma sociedade na qual sempre existiu uma cons-
ciência pública de uma pobreza persistente – a pobreza sempre apareceu no dis-
curso oficial, mas também nas falas públicas de representantes políticos e de lide-
ranças empresariais, como sinal de desigualdades sociais indefensáveis [...]. Tema 
do debate público e alvo privilegiado do discurso político, a pobreza é e sempre 
foi notada, registrada, documentada. Poder-se-ia mesmo dizer que, tal como uma 
sombra, a pobreza acompanha a história brasileira, compondo o elenco dos pro-
blemas e dilemas de um país que fez e ainda faz do progresso um projeto nacional. 
É isso propriamente que especifica o enigma da pobreza brasileira. [...] essa é uma 
sociedade que não sofreu a revolução igualitária [...] em que as leis, ao contrário dos 
modelos clássicos, não foram feitas para dissolver, mas para cimentar os privilégios 
dos “donos do poder”; e em que, por isso mesmo, a modernidade anunciada pela 
universalidade das regras formais não chegou a ter o efeito racionalizador [...], con-
vivendo com éticas particularistas do mundo privado das relações pessoais que, ao 
serem projetadas na esfera pública, repõem a hierarquia entre pessoas no lugar em 
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que deveria existir a igualdade entre indivíduos. E essa é a matriz da incivilidade que 
atravessa de ponta a ponta a vida social brasileira, de que são exemplos conhecidos 
a prepotência e o autoritarismo nas relações de mando, para não falar do reitera-
do desrespeito aos direitos civis das populações trabalhadoras. Incivilidade que se 
ancora num imaginário persistente que fixa a pobreza como marca da inferiorida-
de, modo de ser que descredencia indivíduos para o exercício de seus direitos, já 
que percebidos numa diferença incomensurável, aquém das regras da equivalência 
que a formalidade da lei supõe e o exercício dos direitos deveria concretizar [...]. O 
enigma da pobreza está inteiramente implicado no modo como direitos são nega-
dos na trama das relações sociais. Não é por acaso, portanto, que tal como figurada 
no horizonte da sociedade brasileira, a pobreza apareça despojada de dimensão 
ética e o debate sobre ela seja dissociado da questão da igualdade e da justiça. Pois 
essa é uma figuração que corresponde a uma sociedade em que direitos não fazem 
parte das regras que organizam a vida social. [...]
Seria um equívoco creditar tudo isso à persistência de tradicionalismos de 
tempos passados, resíduos de um Brasil arcaico. [...] É certo que a sociedade brasi-
leira carrega todo o peso da tradição de um país com passado escravagista e que 
fez sua entrada na modernidade capitalista no interior de uma concepção patriarcal 
de mando e autoridade, concepção esta que traduz diferenças e desigualdades no 
registro de hierarquias que criam a figura do inferior que tem o dever da obediência, 
que merece favor e proteção, mas jamais os direitos. Tradição esta que se desdobra 
na prepotência e na violência presentes na vida social, que desfazem, na prática, 
o princípio formal da igualdade perante a lei, repondo no Brasil moderno a matriz 
histórica de uma cidadania definida como privilégio de classe. [...]
Pois o que chama a atenção é a constituição de um lugar em que a igualda-
de prometida pela lei reproduz e legitima desigualdades, um lugar que constrói os 
signos do pertencimento cívico, mas que contém dentro dele próprio o princípio 
que exclui as maiorias, um lugar que proclama a realização da justiça social, mas 
bloqueia os efeitos igualitários dos direitos na trama das relações sociais. [...]
É o lugar no qual a pobreza vira “carência”, a justiça se transforma em caridade 
e os direitos em ajuda [...]
Se é verdade que muita coisa mudou no Brasil contemporâneo, se direitos, parti-
cipação, representação e negociação já fazem parte do vocabulário político ao menos 
nos principais centros urbanos do país, a questão da pobreza permanece e persiste 
desvinculada de um debate público sobre critérios de igualdade e de justiça. [...]
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uestão social: expressões históricas e atuais
[...] a “descoberta da sociedade” se fez na experiência dos movimentos sociais, 
das lutas operárias, dos embates políticos que afirmavam, frente ao Estado, a iden-
tidade de sujeitos que reclamavam

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