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1 AV1 – Farmacologia – Prof.º Ney – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 13/05/2021 Dor: processo fisiopatológico que tem uma utilidade clínica, indica que alguma coisa não está certa no organismo. A dor corresponde a sensação desagradável cuja experiencia emocional está associada a estímulos de lesão tecidual real ou potencial. Associação internacional para o estudo da dor. A dor anuncia um estado de emergência e urgência para o organismo. Apesar de causar desconforto é uma modalidade sensorial de grande valor adaptativo, porque do ponto de vista clínico faz parte da sintomatologia de uma grande quantidade de doenças Classificação da dor Localização Condução: rápida e lenta Duração: aguda e crônica Dor crônica: quando não se sabe quando ela vai acabar. A dor que se mantém durante meses ou anos é crônica. A dor crônica está mais associada a uma dor lenta. Intensidade: leve, moderada e intensa. A dor depende de um estímulo real, de um componente sensor receptivo, ativa um nociceptor, ativa uma via aferente que vai até a medula, transmitindo para o cérebro que vai realizar a interpretação da dor. Receptores sensoriais Receptores táteis Corpúsculo de Pacini: detectam vibração e pressão em alta frequência. Corpúsculo de Ruffini: deformação da pele e de tecidos; toque pesado e pressão lateral Discos de Merkel: percepção de toque contínuo de objetos na pele Corpúsculo de Meissner: sensíveis ao tato fino, movimento de objetos leves e vibração em baixa frequência Terminação nervosa livre Nociceptores: responde a estímulos nocivos. Calibre dos axônios Velocidade de condução Fibra Aα Proprioceptores – Músculos esqueléticos 80-120 m/s Fibra Aβ Mecanorreceptores da pele 35-75 m/s Fibra Aδ Dor e temperatura 5 – 300 m/s Fibra C (amielínica) Dor, temperatura e vibração 0,5-2 m/s Dor rápida Dor lenta NT: glutamato Dor em pontada e bem localizada Fibras Aδ Condução rápida Mecanorreceptores de alto limiar NT: substância P Dor em queimação, mal localizada e difusa Fibras C Condução lenta Receptores mecânicos, térmicos e químicos. Caminho ascendente da dor As fibras aferentes da dor são estimuladas pelos nociceptores e levam a informação ao trato espinotalâmico (ipsilateral). Quando a informação chega na medula o neurônio de 2ª ordem faz o cruzamento. O estímulo segue pelo trato espinotalâmico (contralateral), podendo seguir pelo trato paleoespinotalâmico ou neoespinotalâmico. Dor 2 AV1 – Farmacologia – Prof.º Ney – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 A via neoespinotalâmico leva a informação para o tálamo e, em seguida, ao córtex, onde o estímulo doloroso será interpretado. Nessa via não há cruzamento na linha média do bulbo (mais rápida), há poucos neurônios, ocorre conservação da somatotopia, há envolvimento dos núcleos talâmicos ventrais e a dor interpretada será rápida e com grande resolução espacial. A via paleoespinotalâmica cruza na linha média do bulbo e leva a informação ao tálamo através de muitos neurônios, possui projeção difusa, utiliza as vias núcleos intra-laminares, e a dor interpretada será lenta e difusa. Ocorre a modulação da dor do tálamo para a medula. Os estímulos para gerar a dor podem ser: térmicos, mecânicos ou químicos. Os estímulos chegam aos receptores da dor, terminação nervosa livre ou nociceptores. Os nociceptores estão espalhados na esmagadora maioria dos tecidos, com exceção do sistema nervoso. O tato pode modular a dor, uma vez que o tato chega mais rápido a medula pode-se utilizar o estimulo tátil para causar a inibição da dor na medula. Então, quando há estímulo tátil na mesma região que houve estímulo álgico, o estímulo do tato (conduzido por uma fibra mais grossa) chega primeiro, assim ocorre a inibição da passagem da dor, correspondendo ao sistema portão. Prostaglandinas, histamina, bradicinina e íons de potássio estão envolvidos na geração da dor lenta. Os receptores associados ao sistema de inibição da dor são os receptores endorfinicos. A morfina atua sobre esses receptores. No sistema nervoso central a dor que chega pelo tálamo é capaz de ativar neurônios excitatórios liberadores de serotonina (modulação talâmica da dor). A serotonina age sobre receptores inibitórios da dor que liberam encefalina. O sistema de modulação da dor utiliza neurotransmissores inibitórios que vamos estudar. Na região do tálamo e da medula há regiões que podem modular a dor através da liberação de neurotransmissores. - Serotonina: ativa um neurônio que libera um tipo de endorfina, impedindo a passagem da dor por inibição elétrica. Ou seja, dependendo da retroalimentação feita pelo tálamo pode ocorrer o aumento ou a piora da dor. Acupuntura funciona? Técnica utilizada no tratamento da dor que antigamente acreditava-se ser apenas um placebo. Hoje, já se sabe que a acupuntura, através dos estímulos aos neurônios sensitivos específicos promove a liberação de endorfinas (substâncias associadas com o bem estar e analgesia) pelo encéfalo, reduzindo a sensação dolorosa. Os medicamentos chamados AINES atuam na aferência da dor lenta, impedindo a formação da prostaglandina. A dor rápida não pode ser impedida, porque não tem como impedir a pancada e corte. A anestesia impede a formação do impulso nervoso na região, impedindo a condução da dor. Impedindo a formação de impulso elétrico cortical, pode-se impedir a dor. Isso corresponde a anestesia geral para fazer a depressão da consciência. Na medula pode haver a modulação pelo sistema portão, ou não. Componentes da experiência dolorosa Senso percepção: neurossensorial e cognitiva. Reação: reflexa (estimulo passando a pessoa reage) ou psicomotora 3 AV1 – Farmacologia – Prof.º Ney – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 Divisão Características Segmentar Abalo muscular, espasmo muscular e vasoconstrição local Supra segmentar Alerta, ativação neurovegetativa (palpitação, taquicardia, hipertensão, sudorese e hiperpneia) Cortical Reação afetiva – motivacional (impressão afetiva aversiva, reação emocional de defesa tipo luta ou fuga expressada por agressividade e/ou depressão) Resposta motora - Somática: reflexo de retirada, vocalização, expressão facial, posição álgica, choro. - Viscerais: sudorese, vasocontrição periférica, náuseas, vômitos, etc. Experiência psicológica Ansiedade, depressão (dor crônica), sofrimento, alterações de comportamento. Modulação da dor O tato é conduzido pelas fibras Aβ, estimulando o neurônio inibitório da dor, então ocorre a interpretação do tato e inibição da sensação de dor, mas isso depende do limiar e local em que ocorreu o estímulo doloroso. Opioides São os analgésicos mais antigos da história da humanidade. São todas as drogas, naturais e sintéticas, com propriedades semelhantes à morfina, incluindo peptídeos endógenos (encefalinas, endorfinas). Termo mais amplo! Opiáceos: são substancias (alcaloides) derivadas do ópio, como morfina e semissintéticas como a codeína. Histórico do ópio Obtido da planta denominada Papaver somniferum, por incisão da bolsa de sementes após as pétalas terem caído. O látex branco, torna-se marrom e endurece. Esta goma marrom é o ópio. Utilizado há mais de 6000 anos pelos egípcios grecos e romanos Contém cerda de 20 alcaloides, incluindo a morfina, codeína (pró-morfina), tebaína e papaverina. Em 1803, Serturner, farmacêutico alemão isolou o principal alcaloide do ópio: a morfina. Hipnoanalgésico – sono e alivia a dor. Classificação dos opioides Naturais: codeína, morfina e a papaverina. A biodisponibilidade oral da morfina é de 50%, ou seja, apenas 50% da dose administrada chegam ao sangue. Por isso, ao fazer uso via oral, deve daro dobro administrado via injetável, uma vez que essa sofre efeito de primeira passagem. É um medicamento protótipo de dor. Toda droga nova lançada deve ser avaliada como um bom ou mau analgésico em comparação a morfina. Sintéticos: meperidina/petidina (Dolosal®, Dolantina® - 50 ou 100mg), metadona, etorfina, fentanila (Fentanil® e Inoval® injetáveis – 50 mg), fenazocina, levorfanol, sufentanil, nalbufina (Nubain® 10 mg/ml), tramadol (Sylador® e Tramal® - 50 mg, inj, 50 – 100mg) - Fentanil não é usado no dia a dia, é usado para situações mais de emergência, pode ser feito e dripping. - Tramadol é um agonista opioide que tem menos potência que a morfina, tem seletividade media pelos receptores medulares. Causa menos dependência, mas causa dependência sim. Mas, isso não torna o remédio ruim, é um bom analgésico. 4 AV1 – Farmacologia – Prof.º Ney – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 - Xarope de codeína é usado para determinados tipos de tosse, onde é realmente necessário inibir o centro da tosse no bulbo. Antagonista parcial: Narlofina 5 mg/mL e Levalorfan Antagonista: Naloxona (Narcan® 0,4 mg/ml) – Antídoto dos opióides, usado em caso de intoxicação por opioide. O opioide se liga ao mastócito e facilita a liberação de histamina, assim causando alergia (prurido local, queda da PA pela vasodilatação). Caso tenha sido feito o uso de uma quantidade grande pode haver hipotensão e choque, se não houver controle do quadro. - Heroína causa morte por depressão respiratória. Opioides endógenos Receptor Transmissor Localização Efeito MOR Encefalina Endorfina Cérebro, medula e intestino Analgesia; dependência; depressão respiratória; miose; antidiurese; bradicardia; euforia; diminuição da motilidade intestinal KOR Dinorfina Medula e cérebro Analgesia es pinhal; sedação; disforia; miose; diurese; sem depressão respiratória; sem dependência DOR Encefalina Sistema límbico e intestino= Analgesia; tranquilizante; redução da motilidade intestinal e uretral έ Endorfina Medula Analgesia ORLI Nociceptina Cérebro Analgesia Mecanismos de ação Os opioides podem interferir tanto na medula, quanto no SNC quanto em regiões periféricas. O opioide se liga ao receptor opioide ou de endorfina. Os receptores opioides pertencem a família dos acoplados a proteína G. Quando o opioide se liga ao receptor, pré ganglionar, ativando proteína Gi. A proteína Gi inibe a Adenil ciclase e abre canais de potássio, causando hiperpolarização. Assim, há redução da condução elétrica que causa a dor. Quando a morfina se liga no receptor, em nível pré sináptico, ela ativa a proteína Gs que interfere com canal de cálcio, fechando-o. Assim, ocorre a redução da liberação de neurotransmissores (glutamato e substancia P), impedindo a transmissão da dor. Quando o opioide se liga ao receptor, pós sináptico, ativa a proteína Gq ou Gs, causando a abertura de canal de potássio, hiperpolarizando a célula, inibindo a dor. Quando ocorre a transmissão da dor, ativa-se a proteína G0 abrindo canal cálcio, liberando glutamato. O glutamato se liga ao receptor acoplado a proteína Gi, ativando-a, e ocorre o fechamento do canal de potássio. O opioide se liga ao receptor pré-sináptico terminal da fibra C, ativa Gi, fechando o canal de cálcio, impedindo a exocitose de neurotransmissor e o impulso da dor não é mais transmitido. No pós sináptico, o opioide se liga a um receptor acoplado a Gs ou G0, ativando-os, e faz com que seja aberto o canal de potássio, hiperpolarizando a membrana pós sináptica. Ação O efeito sedativo do opioide pode estar ligado com o efeito da atividade gabaérgica. Fentanil (aumenta a atividade sedativa do Dormonid®) e Dormonid® (aumenta a atividade analgésica do fentanil). Efeitos depressivos: quando inibe um neurônio excitatório. Supressão da dor, analgesia: dores agudas e crônicas, exceto as neuropáticas (ex: neuralgia do trigêmeo). Sonolência e redução do estado de alerta, sedação. O opioide causa a depressão respiratória, uma vez que aumenta o limiar de disparo da região do bulbo. E, aumento da pressão intracraniana. Tem uso terapêutico. Doses terapêuticas diminuem a sensibilidade do centro 5 AV1 – Farmacologia – Prof.º Ney – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 respiratório ao aumento da pressão de CO2. A morfina no paciente com asma/edema agudo de pulmão acalma o indivíduo, fazendo com que ele volte ao padrão respiratório de repouso. Reduz a exigência de oxigênio pelo miocárdio. Paciente que fez infarto recebe (MONA) morfina, oxigênio, nitroglicerina, aspirina (anti plaquetário). Opioides são úteis para suprimir a tosse. Reduz o movimento peristáltico. Assim, indivíduos que usam tintura de ópio também era usado para remédio para a cólica; Loperamida era usado como remédio para cólico e diarreia Inibe o fluido e a acumulação de eletrólitos no lúmen intestinal Reduz a secreção gástrica Inibe o centro emético. A morfina inibe a tosse e inibe o reflexo da deglutição, e causa vômito. Assim, o individuo broncoaspira, morrendo asfixiados. Pequena redução da temperatura corporal Redução da liberação de hormônios luteinizante e hormônio folículo estimulantes. Efeitos estimulantes: quando inibe um neurônio inibitório, aumentando atividade excitatória. Euforia Constrição das pupilas, miose (pupila em cabeça de alfinete) Estimulação da zona quimiorreceptora Aumento do tônus do músculo liso intestinal Aumento do tônus do esfíncter de Oddi, aumento da pressão biliar Aumento do tônus do musculo detrusor da bexiga Aumento do tônus do esfíncter vesical, atrapalhando a micção urinária. Aumento da liberação de prolactina e hormônio antidiurético Pro convulsionante em overdose, diminui o limiar convulsionante. Tríade do paciente que usou opioide: Pele vermelha pela vasodilatação e liberação de histamina, pupila em cabeça de alfinete e depressão respiratória (5 incursões por minuto). Desomorfina (Krokodile) É um derivado da morfina com poderosa, rápida ação opiácia, como sedação e analgesia. Efeitos dos opioides SNC Supressão da tose Miose Rigidez no tronco Náuseas e vômitos Efeitos periféricos Trato gastrointestinal – efeitos constipantes. Pode levar a queda da pressão pela vasodilatação (histamina) Trato geniturinário – depressão da função renal, aumento do tônus do esfíncter uretral (pode levar a retenção urinária), estimulação da liberação do hormônio antidiurético, prolactina e somatotropina. Útero – pode haver prolongamento do trabalho de parto Trato biliar – contração do músculo liso biliar, pode ocasional cólicas biliares Vias de administração - Via retal, via oral, via epidural (anestesia), via transdérmica (cataplasma de fentanil para pacientes que tem câncer terminal), via intranasal, analgesia controlada pelo paciente (CAME) – geralmente injeções endovenosas. 6 AV1 – Farmacologia – Prof.º Ney – 4º período – Fernanda Pereira – 2021.1 O Sulfentanil demora mais para produzir um pico, mas tem uma meia vida mais prolongada. O Remifentanil e o alfentanil tem o pico mais lento. Principais opioides • Dextropropoxifeno: similar a codeína, com duração mais longa ,dependência discutível. • Meperidina :similar a morfina c/ agitação e não sedação, antimuscarínica, euforia e dependência, < duração efeito, dependência, útil anestésico no parto, associada a iMAO: hipertermia e convulsões • Fentanil: derivados da fenilpiperidina, ação similar a morfina de curta duração. Usos em anestesia • Etorfina: análogo de grande potência (1000 vezes); utilizado para imobilizar grandes animais. • Metadona: Semelhante a morfina com menor efeito sedativo; longa duração (1/2 vida >24hs); menor dependência; síndrome de abstinência menos severa.• Na presença de metadona injeções de morfina causam menos euforia e abstinência • Pentazocina: misto agonista-antagonista. Em baixas doses potência similar a morfina, sem correspondente aumento com altas doses causando: depressão respiratória e disforia. • Maior afinidade por receptores K do que µ • Administrada junto com morfina reduz seus efeitos, com tendencia a causar dependência • Nalorfina: estrutura semelhante a morfina • antagonista µ; agonista parcial ð, k(disforia) • antagonisa analgesia, depressão respiratória. • altas doses mimetiza morfina e produz dependência, baixas doses síndrome de abstinência em dependentes. • antídoto substituído pela naloxona. • Naloxona: antagonista puro µ, ¶, k. para todos agonistas. • Isoladamente efeito insignificante = hiperalgesia em condições de liberação de opioides endógenos. • Antagonista da analgesia por acupuntura. • Reverte depressão respiratória por opioides • Efeito curto (i.v. 1-2hs.) • Naltrexona: similar ao Naloxona, porém com duração mais longa (1/2 vida = 10hs ). • Uso experimental, não clínico. • Neutraliza os efeitos dos opiáceos Principais usos Dores agudas severas de origem traumática (fentanil, morfina). Dores médias origem inflamatória (codeína, pentazocina, propoxifeno) Dores severas crônicas (morfina). Dores crônicas neuropáticas não respondem (amitriptilina).
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