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Suana - Resenha ofic

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CAMPUS DO SERTÃO
CURSO DE HISTÓRIA – 3º PERÍODO
Disciplina: Geo-História
Docente: Prof. Suana Medeiros
Discente: Maria Ellen Gomes dos Santos
RESENHA CRÍTICA
O’DWYER, Eliane C. Territórios Quilombolas e Conflitos - Terras De Quilombo No Brasil: Direitos Territoriais Em Construção. Caderno de debates nova cartografia social- PNCSA, 2010, VOL. 01, Nº 02, p. 41-49.
JUNIOR, Itamar V. Torto Arado. Leya S.A, 2018, p. 08-56.
O texto a seguir trata-se de uma resenha crítica que tem o intuito de fazer uma analogia entre o livro "Territórios, quilombolas e conflitos", mais precisamente o capítulo "Terras De Quilombo No Brasil: Direitos Territoriais Em Construção", de Eliane Cantarino O’Dwyer, com o livro Torto Arado, de Itamar Vieira Junior.
No capítulo “Terras de quilombo no Brasil: direitos territoriais em construção”, escrito por Eliane Cantarino O’Dwyer cita-se os debates de antropólogos que estão inseridos no campo de aplicação dos direitos constitucionais, principalmente no que diz respeito às terras de quilombo e algumas questões que precisamos enfrentar no contexto atual sobre o reconhecimento de direitos diferenciados de cidadania. 
No Torto Arado, livro escrito por Itamar Vieira Júnior, é uma narrativa rica em tradição cultural do sertão brasileiro, onde nos deparamos com crenças, trabalho, escravidão, lendas, religião, violência, sofrimento, seca, mas que acima de tudo nos mostra um profundo amor pela terra. Essa narrativa se passa no interior do sertão brasileiro quando duas irmãs ainda crianças encontram uma faca escondida de sua avó, e como a curiosidade anda ao lado das crianças as duas irmãs colocam a faca na boca e uma delas acaba perdendo a língua. E a partir daí começa a história.
Ao relacionarmos ambos os textos podemos ver uma linha tênue entre eles e como se caracterizam pela história da luta do direito quilombola, direito aquele de viver e sobreviver da terra, de suas terras, essa que tinham direito de geração, onde se caracteriza sua primeira perda, não a de proteção legal, mas a perda dos seus lares, de sua cultura e herança familiar construída naqueles lugares, o que significava a perda de toda e estrutura social na qual haviam nascido e na qual haviam criado para si um lugar peculiar no mundo. Entender também que os laços criados entre eles, tanto familiar, como religioso, ou apenas de cuidado, convivência, solidariedade e reciprocidade são formas de sobrevivência e sociedade criada por cada um deles.
“Não queria também viver o resto da vida ali, ter a vida de meus pais. Se algo acontecesse a eles, não teríamos direito à casa, nem mesmo à terra onde plantavam sua roça. Não teríamos direito a nada, sairíamos da fazenda carregando nossos poucos pertences. Se não pudéssemos trabalhar, seríamos convidados a deixar Água Negra, terra onde toda uma geração de filhos de trabalhadores havia nascido. Aquele sistema de exploração já estava claro para mim.” (JUNIOR, 2018, p. 71-72).
Os textos instigam a luta pelo território, e se faz transparente a figura dos antropólogos que vai muito além do que se é conhecido, seu papel de analisar o ser humano como um ser biológico, social e cultural, organizando as áreas do conhecimento antropológico, segundo aspectos sociais, políticos e culturais, contudo o que mais podemos observar é o encorajamento desses profissionais ao sentido de identificação, de identidade dos povos de acordo com sua etnia, sua aceitação perante o que é, mesmo que tais contextos se modificasse de acordo com o tempo e lutas, mas que todos se assumam de acordo com seu verdadeiro eu, e que não fosse necessário “provar”, mas sim aceitar quem é e de onde vem. 
“A participação intensa de antropólogos na luta pelo reconhecimento de direitos étnicos e territoriais a segmentos importantes e expressivos da sociedade brasileira, como na questão das terras indígenas e das terras de quilombo, rompe com o papel tradicional desempenhado pelos grandes nomes do campo intelectual, que garantem, com sua autoridade, o apoio às reivindicações da sociedade civil, subscritando, como peticionários, manifestos e documentos políticos. Ao contrário, os antropólogos brasileiros, que têm desempenhado um importante papel em relação ao reconhecimento de grupos étnicos diferenciados e dos direitos territoriais de populações camponesas, ao assumirem sua responsabilidade social como pesquisadores que detêm um “saber local” (GEERTZ, 1999: 11) sobre os povos e grupos que estudam, fazem de sua autoridade experiencial um instrumento de reconhecimento público de direitos constitucionais.” (O’DWYER, 2010, p. 46).
Ao final do texto o autor nos descreve a situação daquele povo na fazenda, onde foram excluídos de seus direitos, direitos esses que andavam de “mãos dadas com seus mais profundos sonhos, esse de possuir sua terra e se desfazer da escravidão.
O texto nos permite entender como as lutas são determinantes para que os quilombos se perpetuem não como algo que se deve deixar à margem da sociedade mais como uma parte importante de formação dessa mesma sociedade, entender que por direito suas identidades não podem ser negadas, e o quão fundamental são os estudos nessas áreas e como eles contribuem para estabelecer uma cultura da aceitação.

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