Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Alice Bastos Anticoagulantes Os anticoagulantes inibem a ação dos fatores de coagulação ou interferem com a síntese dos fatores de coagulação. Heparina e heparinas de baixo peso molecular A heparina é um anticoagulante injetável de ação rápida, usado com frequência para interferir agudamente na formação de trombos. Mecanismo de ação A heparina atua em inúmeros alvos moleculares, mas seu efeito anticoagulante é consequência da ligação à antitrombina III, com a rápida inativação subsequente dos fatores de coagulação; A antitrombina III é uma alfa-globulina que inibe serinoproteases da trombina (fator IIa) e fator Xa; Na ausência de heparina, a antitrombina III interage lentamente com a trombina e o fator Xa; → Quando a heparina se liga à antitrombina III, ocorre uma alteração conformacional que catalisa a inibição da trombina cerca de mil vezes; As HBPMs complexam com a antitrombina III e inativam o fator Xa (incluindo o localizado nas superfícies das plaquetas), mas não se ligam tão avidamente à trombina; A sequência singular de pentassacarídeo presente na heparina e nas HBPMs permite sua ligação à antitrombina III. Usos terapêuticos A heparina e as HBPMs limitam a expansão dos trombos, prevenindo a formação de fibrina; São fármacos usados no tratamento do tromboembolismo venoso (DVT ou PE) e na profilaxia da trombose venosa pós-cirúrgica em pacientes que serão operados e naqueles com IAM; IMPORTANTE! A heparina e as HBPMs são os anticoagulantes de escolha para o tratamento da gestante, pois não atravessam a placenta, devido ao grande tamanho e à carga negativa. As HBPMs são úteis para pacientes hospitalizados e ambulatoriais, pois não exigem a mesma monitoração intensa que a heparina, poupando custos laboratoriais e tempo de enfermagem. Farmacocinética A heparina precisa ser administrada por via subcutânea (SC) ou IV, pois não atravessa membranas com facilidade; As HBPMs são administradas por via SC; A heparina com frequência é administrada por via IV em bólus para obter anticoagulação imediata; → Isso é seguido de doses menores ou infusão contínua de heparina, titulando a dose de forma que o tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) seja 1,5-2,5 vezes o controle normal; Enquanto o efeito anticoagulante com heparina ocorre minutos após a administração IV (ou em 1-2 horas após injeção SC), a atividade antifator Xa máxima das HBPMs ocorre cerca de 4 horas após a injeção SC; IMPORTANTE! Normalmente, não é preciso monitorar os valores de coagulação com as HBPMs, pois os níveis plasmáticos e sua farmacocinética são previsíveis; → No entanto, é recomendado monitorar os níveis do fator Xa em pacientes obesos, gestante ou com insuficiência renal tratados com HBPM. Alice Bastos Embora geralmente restrita à circulação, a heparina é captada pelo sistema monócitos/macrófagos e sofre despolimerização e dessulfatação a produtos inativos; Os metabólitos inativos, bem como alguma heparina original e HBPMs, são excretados na urina; A insuficiência renal prolonga a meia-vida da HBPMs, por isso, a dose de HBPMs deve ser reduzida em pacientes com insuficiência renal; A meia-vida da heparina é de cerca de 1,5 hora, ao passo que das HBPMs é duas a quatro vezes mais longa, variando de 3 a 12 horas. Efeitos adversos A principal complicação é o sangramento; Possíveis reações adversas da heparina incluem: calafrios, febre, urticária e choque anafilático; Em pacientes sob tratamento prolongado com heparina é possível observar osteoporose. Contraindicações A heparina e as HBPMs são contraindicadas em pacientes que têm hipersensibilidade à heparina, distúrbios de coagulação, alcoolismo ou que foram recentemente operados no cérebro, nos olhos ou na medula espinal. Varfarina Os anticoagulantes cumarínicos devem sua ação à habilidade de antagonizar a função de cofator da vitamina K; → O único anticoagulante cumarínico terapeuticamente relevante é a varfarina; A INR é o padrão pelo qual a atividade anticoagulante da varfarina é monitorada; → O objetivo do tratamento com varfarina é uma INR de 2-3 para a maioria das indicações e INR de 2,5-3,5 para algumas válvulas mecânicas e outras indicações; → A varfarina tem um índice terapêutico estreito, por isso, é importante que a INR seja mantida dentro da faixa ideal o máximo possível, podendo ser necessário monitorar com frequência. Mecanismo de ação Os fatores II, VII, IX e X precisam da vitamina K como um cofator para sua síntese pelo fígado; Esses fatores sofrem uma modificação pós- translacional dependente de vitamina K, na qual alguns de seus resíduos de ácido glutâmico são carboxilados para formar resíduos de ácido y-carboxiglutâmico; Os resíduos de y-carboxiglutamil ligam íons cálcio, que são essenciais para a interação entre os fatores de coagulação e as membranas das plaquetas; Nas reações de carboxilação, a carboxilase dependente de vitamina K fixa CO2 para formar os novos grupos COOH no ácido glutâmico; O cofator vitamina K reduzido é convertido em epóxido de vitamina K durante a reação; A vitamina K é regenerada do epóxido pela vitamina K epóxido redutase, a enzima que é inibida pela varfarina; O tratamento com varfarina resulta na produção de fatores de coagulação menos ativos (de 10 a 40% do normal), pois lhes faltam suficientes cadeias laterais Y- carboxiglutamil; Diferente da heparina, os efeitos anticoagulantes da varfarina não são observados imediatamente após a administração; → O pico do efeito pode atrasar por 72 a 96 horas, tempo necessário para esgotar a reserva de fatores de coagulação circulantes; O efeito anticoagulante da varfarina pode ser anulado com a administração de vitamina K; Alice Bastos → A reversão após a administração da vitamina K demora 24 horas (tempo necessário para a degradação dos fatores de coagulação já sintetizados). Usos terapêuticos A varfarina é usada nos seguintes casos: → Prevenção e tratamento da TVP e da EP; → Prevenção do AVE e do AVE na condição de fibrilação ventricular e/ou válvulas cardíacas prostéticas, na deficiência de proteína C e S e na síndrome antifosfolipídica; → Prevenção do tromboembolismo venoso durante cirurgias ortopédicas ou ginecológicas. Farmacocinética É rapidamente absorvida após administração via oral; É extensamente ligada à albumina plasmática, o que evita sua difusão para o líquido cerebrospinal, para a urina e para o leite materno; A meia-vida média da varfarina é de cerca de 40 horas, no entanto, há variação desse valor entre indivíduos; Fármacos que afetam a ligação da varfarina às proteínas plasmáticas causam variabilidade na resposta terapêutica à varfarina; A varfarina é biotransformada pela CYP450 a compostos inativos; → Após conjugação ao ácido glicurônico, os metabólitos inativos são excretados na urina e nas fezes. Efeitos adversos O principal efeito adverso é a hemorragia; Em decorrência dos seus efeitos adversos, é importante monitorar com frequência a INR e ajustar a dosagem do fármaco; Lesões de pele e necrose são complicações raras do tratamento com varfarina; → Síndrome do dedo roxo, uma coloração violácea do dedo, dolorosa e rara, causada por êmbolos de colesterol a partir de placas, também foi observada no tratamento com varfarina. IMPORTANTE! A varfarina é teratogênica e nunca deve ser usada durante a gestação; → Se o tratamento anticoagulante é necessário durante a gestação, deve-se administrar heparina ou HBPM.
Compartilhar