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MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves FARMACOLOGIA DOS ANTIPLAQUETÁRIOS, ANTICOAGULANTES E TROMBOLÍTICOS ANTIPLAQUETÁRIOS Legenda: resumo das características dos inibidores de aglutinação das plaquetas Os inibidores da aglutinação plaquetária: Diminuem a formação de um coágulo rico em plaquetas; ou Diminuem a ação dos sinais químicos promotores da aglutinação. Os inibidores da aglutinação de plaquetas: Inibem a COX-1; ou Bloqueiam os receptores de GP IIb/IIIa ou ADP, interferindo, assim, no sinal que promove a aglutinação plaquetária. Como essas substâncias têm diferentes mecanismos de ação, efeitos sinérgicos ou aditivos podem ser obtidos quando fármacos de classes diferentes são associados. Esses fármacos são benéficos na: Prevenção e no tratamento de doenças cardiovasculares oclusivas; Manutenção de transplantes vasculares e na patência arterial; e como Auxiliares dos inibidores da trombina ou tratamento trombolítico no IAM. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves ÁCIDO ACETILSALICÍLICO MECANISMO DE AÇÃO A estimulação das plaquetas por trombina, colágeno e ADP resulta na: Ativação das fosfolipases de membrana das plaquetas que liberam ácido araquidônico dos fosfolipídeos da membrana. O ácido araquidônico é convertido inicialmente em prostaglandina H2 pela COX-1. Legenda: AAS inibe a COX-1 das plaquetas A prostaglandina H2 é metabolizada a tromboxano A2, que é liberado no plasma. O tromboxano A2 promove o processo de aglutinação, que é essencial para a rápida formação do tampão hemostático. O AAS inibe a síntese do tromboxano A2 por acetilação do resíduo serina no centro ativo da COX-1, inativando irreversivelmente a enzima. Legenda: Acetilação da COX-1 pelo AAS. Isso desloca o equilíbrio dos mediadores químicos em favor dos efeitos antiaglutinantes da prostaciclina, prevenindo a aglutinação plaquetária. O efeito inibitório é rápido, e a supressão da tromboxano A2 e a consequente supressão da aglutinação das plaquetas induzida pelo AAS persistem por toda a vida da plaqueta, que é 7 a 10 dias aproximadamente. A administração repetida do AAS tem efeito acumulativo na função das plaquetas. A!! O AAS é o único fármaco antiplaquetário que inibe irreversivelmente a função das plaquetas. USOS TERAPÊUTICOS O AAS é usado no tratamento profilático da isquemia cerebral transitória, para reduzir a incidência de IAM recorrente e para diminuir a mortalidade nas situações de prevenção do IAM primário e secundário. Ocorre inativação completa das plaquetas com 75 mg diários de AAS. A!! A dose de AAS recomendada vai de 50 a 325 mg/dia. EFEITOS ADVERSOS Dosagens mais altas de AAS aumentam sua toxicidade, bem como a probabilidade de inibir também a produção de prostaciclina. O tempo de sangramento é alongado com o tratamento com AAS, causando complicações como: Aumento da incidência de acidente cerebral hemorrágico e sangramento gastrintestinal (GI), especialmente com dosagens mais elevadas. A!! AINE’s, como o ibuprofeno, inibem a COX- 1 por competição transitória no centro catalítico. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves O ibuprofeno, se tomado dentro de 2 horas antes do AAS, pode impedir o acesso do AAS ao resíduo serina e, assim, antagonizar a inibição das plaquetas pelo AAS. Por isso, AAS de liberação imediata deve ser tomado no mínimo 60 minutos antes ou pelo menos 8 horas depois do ibuprofeno. A!! Embora o celecoxibe (inibidor seletivo da COX2) não interfira na atividade antiaglutinante do AAS, há evidência que possa contribuir para os eventos cardiovasculares, deslocando o equilíbrio dos mediadores químicos em favor do tromboxano A2. TICLOPIDINA, CLOPIDOGREL, PRASUGREL E TICAGRELOR TICLOPIDINA, CLOPIDOGREL, PRASUGREL E TICAGRELOR São inibidores do receptor P2Y12 ADP, o que também bloqueia a aglutinação das plaquetas, mas por mecanismo distinto do AAS. MECANISMO DE AÇÃO Esses fármacos inibem a ligação do ADP aos seus receptores nas plaquetas e, assim, inibem a ativação dos receptores de GP IIb/IIIa necessários para que as plaquetas se liguem ao fibrinogênio e umas às outras. O ticagrelor se liga reversivelmente ao receptor P2Y12 ADP. Os demais se ligam irreversivelmente. Legenda: mecanismo de ação de ticlopidina, clopidogrel, prasugrel e ticagrelor. GP, glicoproteína. A inibição máxima da aglutinação das plaquetas é obtida em: 1 e 3 horas com ticagrelor; 2 e 4 horas com prasugrel; 3 e 4 dias com ticlopidina; e 3 e 5 dias com clopidogrel. Quando o tratamento é suspenso, o sistema plaquetário necessita de tempo para recuperação. USOS TERAPÊUTICOS O clopidogrel é aprovado para: Prevenção de eventos ateroscleróticos em pacientes com IAM ou AVE recentes; e Pct com doença arterial periférica estabelecida. Profilaxia de eventos trombóticos na síndrome coronária aguda: angina instável ou IAM sem elevação do seg. ST. Prevenir eventos trombóticos associados com intervenção coronária percutânea (ICP) com ou sem stent coronário. A!! A estrutura da ticlopidina é similar à do clopidogrel. A ticlopidina é indicada para: Prevenção de ataques isquêmicos transitórios (AITs) e AVEs em pacientes com evento trombótico cerebral prévio. A!! Porém devido às reações adversas hematológicas ameaçadoras à vida, a ticlopidina em geral é reservada para pacientes intolerantes a outros tratamentos. O prasugrel é aprovado para: Diminuir os eventos trombóticos cardiovasculares em pcts com síndromes coronárias agudas: angina instável, IAM sem elevação ST e IAM com elevação ST tratado com ICP. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves O ticagrelor é aprovado para: Prevenção do tromboembolismo arterial em pcts com angina instável e IAM, incluindo aqueles submetidos a ICP. EFEITOS ADVERSOS Estes fármacos podem prolongar o tempo de sangramento, para o que não existe antídoto. A ticlopidina é associada com graves reações hematológicas que limitam seu uso, como: Granulocitose; Agranulocitose; Púrpura trombocitopênica trombótica (PTT); e Anemia aplástica. O clopidogrel causa menos efeitos adversos, e a incidência de neutropenia é menor. Porém foi relatada PTT como efeito adverso para clopidogrel e prasugrel (mas não para ticagrelor). O prasnugrel é contraindicado em: Pacientes com histórico de AIT ou AVE. A!! Prasugrel e ticagrelor têm advertência na bula e na embalagem para o risco sangramentos. A!! O ticagrelor tem advertência para diminuição de eficácia quando é usado concomitante com AAS em dose >100 mg. ABCIXIMABE, EPTIFIBATIDA E TIROFIBANA MECANISMO DE AÇÃO O receptor GP IIb/IIIa tem papel fundamental na estimulação da aglutinação das plaquetas. O anticorpo monoclonal quimérico abciximabe inibe o complexo receptor GP IIb/IIIa. Ligando-se ao GP IIb/IIIa, bloqueia a ligação do fibrinogênio e do fator de von Willebrand e, consequentemente, não acontece a aglutinação. Legenda: mecanismo de ação dos bloqueadores dos receptores de glicoproteína IIb/IIIa. Eptifibatida e tirofibana atuam de modo similar ao abciximabe bloqueando o receptor GP IIb/IIIa. O eptifibatida é um peptídeo cíclico que se liga ao GP IIb/IIIa no local que interage com a sequência arginina- glicina-ácido aspártico do fibrinogênio. O tirofibana não é um peptídeo, mas bloqueia o mesmo local que a eptifibatida. USOS TERAPÊUTICOS Esses fármacos são administrados por via IV, junto com heparina e AAS, como um auxiliar da ICP para a prevenção de complicações cardíacas isquêmicas. O abciximabe também está aprovado para pacientes com angina instável que nãorespondem ao tratamento médico convencional quando a ICP é planejada para as próximas 24 horas. EFEITOS ADVERSOS O principal efeito adverso destes fármacos é: Sangramento, especialmente se forem usados com anticoagulantes. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves ANTICOAGULANTES Os anticoagulantes inibem a ação dos fatores de coagulação (heparina) ou interferem com a síntese dos fatores de coagulação (antagonistas da vitamina K, como a varfarina). HEPARINA E HEPARINAS DE BAIXO PESO MOLECULAR A heparina é um anticoagulante injetável de ação rápida, usado para interferir agudamente na formação de trombos. Ela normalmente ocorre como uma macromolécula complexada com histamina nos mastócitos, onde sua função fisiológica é desconhecida. Para uso comercial, é extraída da mucosa intestinal suína. A heparina não fracionada é uma mistura de glicosaminoglicanos aniônicos de cadeias retas, com uma ampla faixa de massas moleculares. Ela é muito ácida devido à presença de sulfato e grupos de ácido carboxílico. A constatação de que formas de heparina de baixo peso molecular (HBPM) também podem atuar como anticoagulantes levou ao isolamento de enoxaparina, produzida por despolimerização enzimática da heparina não fracionada. Outras HBPMs incluem: Dalteparina e tinzaparina. MECANISMO DE AÇÃO A heparina atua em inúmeros alvos moleculares, mas seu efeito anticoagulante é consequência da ligação à antitrombina III, com a rápida inativação subsequente dos fatores de coagulação. Legenda: a heparina acelera a inativação dos fatores de coagulação pela antitrombina. A antitrombina III é uma α-globulina que inibe serinoproteases da trombina (fator IIa) e fator Xa. Legenda: formação do coágulo de fibrina Na ausência de heparina, a antitrombina III interage lentamente com a trombina e o fator Xa. Quando a heparina se liga à antitrombina III, ocorre uma alteração conformacional que catalisa a inibição da trombina cerca de mil vezes. Mostrado duas figuras acima As HBPMs complexam com a antitrombina III e inativam o fator Xa (incluindo o localizado nas superfícies das plaquetas), mas não se ligam tão avidamente à trombina. A sequência singular de pentassacarídeo presente na heparina e nas HBPMs permite sua ligação à antitrombina III. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves Legenda: a heparina e a HBPM intermedeiam a inativação da trombina ou do fator Xa. USOS TERAPÊUTICOS A heparina e as HBPMs limitam a expansão dos trombos, prevenindo a formação de fibrina. São usadas no/na: Tratamento do tromboembolismo venoso agudo (DVT ou PE). Profilaxia da trombose venosa pós- cirúrgica em pacientes que serão operados (substituição de bacia) e naqueles com IAM. A!! A heparina e as HBPMs são os anticoagulantes de escolha para o tratamento da gestante, pois não atravessam a placenta, devido ao grande tamanho e à carga negativa. As HBPMs não exigem a mesma monitoração intensa que a heparina, poupando custos laboratoriais e tempo de enfermagem. Essas vantagens tornam as HBPMs úteis para pacientes hospitalizados e ambulatoriais. EFEITOS ADVERSOS A principal complicação da heparina e das HBPMs é sangramento. Legenda: efeitos adversos da heparina. É necessária uma monitoração cuidadosa do paciente e das variáveis laboratoriais para minimizar sangramentos. O sangramento excessivo pode ser controlado interrompendo o uso da heparina ou administrando sulfato de protamina. Infundido lentamente, este último se combina ionicamente com a heparina para formar um complexo 1:1 estável e inativo. É importante que a dosagem de sulfato de protamina seja titulada cuidadosamente (1 mg para cada 100 unidades de heparina administrada), pois o sulfato de heparina é um anticoagulante fraco, e seu excesso pode iniciar sangramento ou piorar a hemorragia. As preparações de heparina são obtidas de suínos e, assim, podem ser antigênicas. Então, as possíveis reações adversas são: Calafrios; Febre; Urticária; e Choque anafilático. A trombocitopenia induzida por heparina (TIH) é uma condição grave na qual o sangue circulante tem uma quantidade anormalmente baixa de plaquetas. Essa reação é imunomediada e traz risco de embolismo venoso e arterial. O tratamento com heparina deve ser interrompido em pacientes que apresentam trombocitopenia acentuada. No caso de TIH, a heparina pode ser substituída por outro anticoagulante, com: Argatrobana. A!! HBPMs podem ter sensibilidade cruzada e não são recomentadas na TIH. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves A!! Além disso, foi observada osteoporose em pacientes sob tratamento prolongado com heparina. A!! A heparina e as HBPMs são contraindicadas em pacientes que têm hipersensibilidade à heparina, distúrbios de coagulação, alcoolismo ou que foram recentemente operados no cérebro, nos olhos ou na medula espinal. ARGATROBANA A argatrobana é um anticoagulante sintético parenteral derivado da L-arginina. É um inibidor direto da trombina. Ela é usada preventivamente no tratamento da trombose em pacientes com TIH e aprovada para uso durante ICP em pacientes que apresentam ou estão sob risco de TIH. Como é biotransformada no fígado, pode ser usada em pacientes com disfunção renal, mas deve ser usada com cautela na insuficiência hepática. Como com os outros anticoagulantes, o principal efeito adverso é a hemorragia. BIVALIRUDINA E DESIRUDINA BIVALIRUDINA E DESIRUDINA São anticoagulantes parenterais análogos à hirudina, um inibidor da trombina derivado da saliva da sanguessuga. Eles são inibidores diretos seletivos da trombina e inibem reversivelmente o centro catalítico da trombina livre e da ligada ao coágulo. A bivalirudina é: Alternativa à heparina em pacientes que serão submetidos a ICP que têm ou poderão ter risco de desenvolver TI; e também Pacientes com angina instável a ser submetidos a angioplastia. A desirudina é indicada para: Prevenção da TVP em pacientes que serão submetidos a cirurgia de substituição de bacia. FONDAPARINUX O fondaparinux é um pentassacarídeo anticoagulante derivado sinteticamente. Ele inibe seletivamente apenas o fator Xa. Ligando-se seletivamente à antitrombina III, o fondaparinux potencializa (300- 1.000 vezes) a neutralização inata do fator Xa pela antitrombina III. O fondaparinux está aprovado para: Tratamento da TVP e EP; e Profilaxia do tromboembolismo venoso nos casos de cirurgias ortopédicas e abdominais. A hemorragia é o principal efeito adverso do fondaparinux. Não existe fármaco para reverter o sangramento associado com esse fármaco. A!! TIH é menos provável com fondaparinux do que com heparina, mas é uma possibilidade. ETEXILATO DE DABIGATRANA MECANISMO DE AÇÃO O etexilato de dabigatrana é o pró-fármaco da molécula ativa dabigatrana, que é um inibidor direto de trombina de uso oral. A trombina livre e a ligada ao coágulo são inibidas por dabigatrana. USOS TERAPÊUTICOS Ele é aprovado para: Prevenção de AVE e embolismo sistêmico em pacientes com fibrilação atrial não valvar. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves EFEITOS ADVERSOS O principal efeito adverso é a hemorragia, como com outros anticoagulantes. Não há antídoto aprovado para reverter a hemorragia. GI são comuns e podem incluir: Dispepsia; Dor abdominal; Esofagite; e Sangramento GI. A interrupção abrupta deve ser evitada, pois os pacientes estarão sob risco de eventos trombóticos. O fármaco é contraindicado em pacientes com válvulas cardíacas prostéticas mecânicas e não é recomendado em pacientescom válvulas cardíacas bioprostéticas. RIVAROXABANA E APIXABANA MECANISMO DE AÇÃO Rivaroxabana e apixabana são inibidores do fator Xa, de uso oral. Ambos se ligam ao centro ativo do fator Xa, prevenindo, assim, sua habilidade de converter protrombina em trombina. USOS TERAPÊUTICOS Rivaroxabana é aprovado para: Tratamento e a prevenção da TVP, do EP e do acidente vascular em fibrilação atrial não valvar. Apixabana é usada para: Prevenção do AVE na fibrilação atrial não valvar. EFEITOS ADVERSOS O sangramento é o efeito adverso mais grave dos inibidores do fator Xa. Não há antídoto disponível para reverter a hemorragia causada. VARFARINA Os anticoagulantes cumarínicos devem sua ação à habilidade de antagonizar a função de cofator da vitamina K. O único anticoagulante cumarínico terapeuticamente relevante é a varfarina. Ela é largamente usada clinicamente como anticoagulante oral. A INR é o padrão pelo qual a atividade anticoagulante da varfarina é monitorada. A INR corrige variações que ocorrem com diferentes reagentes da tromboplastina usados para realizar testes em várias instituições. O objetivo do tratamento com varfarina é uma: INR de 2-3 para a maioria das indicações; e INR de 2,5-3,5 para algumas válvulas mecânicas e outras indicações. A varfarina tem um índice terapêutico estreito. Por isso, é importante que a INR seja mantida dentro da faixa ideal o máximo possível, podendo ser necessário monitorar com frequência. MECANISMO DE AÇÃO Os fatores II, VII, IX e X precisam da vitamina K como um cofator para sua síntese pelo fígado. Esses fatores sofrem uma modificação pós- translacional dependente de vitamina K, na qual alguns de seus resíduos de ácido glutâmico são carboxilados para formar resíduos de ácido γ- carboxiglutâmico. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves Legenda: mecanismos de ação da varfarina. NADP+ , forma oxidada do fosfato de nicotinamida-adenina dinucleotídeo; NADPH, forma reduzida do fosfato de nicotinamida-adenina dinucleotídeo. Os resíduos de γ-carboxiglutamil ligam íons cálcio, que são essenciais para a interação entre os fatores de coagulação e as membranas das plaquetas. Nas reações de carboxilação, a carboxilase dependente de vitamina K fixa CO2 para formar os novos grupos COOH no ácido glutâmico. O cofator vitamina K reduzido é convertido em epóxido de vitamina K durante a reação. A vitamina K é regenerada do epóxido pela vitamina K epóxido redutase, a enzima que é inibida pela varfarina. O tratamento com varfarina resulta na produção de fatores de coagulação menos ativos (de 10 a 40% do normal), pois lhes faltam suficientes cadeias laterais γ-carboxiglutamil. A!! Diferentemente da heparina, os efeitos anticoagulantes da varfarina não são observados imediatamente após a administração. Em vez disso, o pico do efeito pode atrasar por 72 a 96 horas, tempo necessário para esgotar a reserva de fatores de coagulação circulantes. A!! O efeito anticoagulante da varfarina pode ser anulado com a administração de vitamina K. Porém a reversão após a administração da vitamina K demora 24 horas (tempo necessário para a degradação dos fatores de coagulação já sintetizados). USOS TERAPÊUTICOS A varfarina é usada na/no: Prevenção e no tratamento da TVP e da EP; Prevenção do AVE e do AVE na condição de fibrilação ventricular e/ou válvulas cardíacas prostéticas; Deficiência de proteína C e S; Síndrome antifosfolipídica; e Prevenção do tromboembolismo venoso durante cirurgias ortopédicas ou ginecológicas. EFEITOS ADVERSOS O principal efeito adverso da varfarina é a hemorragia. Por isso, é importante monitorar com frequência a INR e ajustar a dosagem. A!! Pequenos sangramentos são controlados com a suspensão da varfarina ou com a administração de vitamina K1 por via oral, mas sangramentos graves exigem doses maiores da vitamina K administrada por via IV. Sangue total, plasma congelado e concentrados plasmáticos dos fatores sanguíneos também podem ser usados para reverter a ação da varfarina rapidamente. Lesões de pele e necrose são complicações raras do tratamento com varfarina. Síndrome do dedo roxo, uma coloração violácea de dedo, dolorosa e rara, causada por êmbolos de colesterol a partir de placas, também foi observada no tratamento com varfarina. A!! É teratogênica e nunca deve ser usada durante a gestação. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves TROMBOLÍTICOS A doença tromboembólica aguda em determinados pacientes pode ser tratada com a administração de fármacos que ativam a conversão de plasminogênio em plasmina, uma serinoprotease que hidrolisa fibrina e, assim, dissolve coágulos. Legenda: ativação do plasminogênio pelos trombolíticos A estreptoquinase, um dos primeiros desses fármacos aprovados, causa um estado fibrinolítico sistêmico que pode levar a problemas de sangramento. A alteplase atua mais localizadamente na fibrina trombótica para produzir fibrinólise. A uroquinase é produzida naturalmente nos rins humanos e converte diretamente plasminogênio em plasmina ativa. Legenda: Comparação entre enzimas trombolíticas. A!! Os fibrinolíticos podem lizar trombos patológicos e normais. CARACTERÍSTICAS COMUNS DOS TROMBOLÍTICOS MECANISMO DE AÇÃO Os trombolíticos apresentam algumas características comuns: Todos atuam direta ou indiretamente convertendo plasminogênio em plasmina, que, então, hidrolisa a fibrina, hidrolisando, assim, os trombos (duas figuras acima). A dissolução do coágulo e a reperfusão ocorrem com maior frequência quando o tratamento é iniciado logo após a formação do trombo, pois ele se torna mais resistente à lise à medida que envelhece. Infelizmente, um número maior de trombos pode ocorrer enquanto o trombo se dissolve, levando a uma maior agregação das plaquetas e trombose. Estratégias para evitar essa situação incluem: Administração de antiplaquetários, como AAS; ou Antitrombóticos, como heparina. USOS TERAPÊUTICOS Usados originalmente para o tratamento de TVP e EP grave, os trombolíticos hoje são usados menos frequentemente para essas condições. Sua tendência de causar hemorragias também comprometeu seu uso no tratamento da trombose arterial periférica aguda e do IAM. Para o IAM, a aplicação intracoronariana do fármaco é a forma mais confiável em termos de obter a recanalização. Porém a cateterização cardíaca pode não ser possível entre 2 e 6 horas de “janela terapêutica”, após as quais uma recuperação miocárdica significativa se torna menos provável. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves Assim, os trombolíticos são administrados em geral por via IV. Os trombolíticos são úteis em: Restabelecer a função de cateteres e anastomoses (shunts), hidrolisando os coágulos que causam a oclusão. Dissolver coágulos que resultam em AVE. EFEITOS ADVERSOS Os trombolíticos não diferenciam entre a fibrina de um trombo indesejado e a fibrina de um tampão hemostático benéfico. Assim, a hemorragia é o principal efeito adverso. Por exemplo, uma lesão prévia insuspeita, como a úlcera péptica, pode sangrar após a injeção de um trombolítico (Fig. 22.20). Legenda: degradação de um trombo indesejado e um tampão hemostático útil pelos ativadores de plasminogênio Esses fármacos são contraindicados em: Gestantes; e Pacientes com ferimentos em cicatrização, histórico de AVE, tumor cerebral, traumatismo na cabeça, sangramento intracranial e câncer metastático. ALTEPLASE, RETEPLASE E TENECTEPLASE ALTEPLASE A reteplase é um derivado menor de APt recombinante, engenhado geneticamente. A tenecteplaseé outro APt recombinante com meia-vida mais longa e maior afinidade pela fibrina do que a alteplase. A alteplase tem baixa afinidade pelo plasminogênio livre no plasma, mas ativa rapidamente o plasminogênio que está ligado à fibrina em um trombo ou um tampão hemostático. Assim, a alteplase em doses baixas é considerada seletiva para fibrina. Ela é aprovada para: Tratamento de IAM, EP massiva e AVE isquêmico agudo. Reteplase e tenecteplase são aprovados somente para uso em IAM, embora reteplase possa ser usada extrabula na TVP e na EP massiva. A alteplase pode causar angiedema orolingual, e o risco aumenta quando há associação com inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECAs). ESTREPTOQUINASE A estreptoquinase é uma proteína extracelular purificada de caldos de cultura de estreptococos β-hemolíticos do grupo C. Ela forma um complexo ativo um-a-um com plasminogênio. Esse complexo é enzimaticamente ativo e converte o plasminogênio não complexado na enzima ativa plasmina. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves Legenda: mecanismo de ação da estreptoquinase. Além da hidrólise dos tampões de fibrina, o complexo também catalisa a degradação do fibrinogênio, bem como dos fatores V e VII de coagulação. Legenda: a estreptoquinase degrada a fibrina e o fibrinogênio. A!! Com o advento de novos fármacos, a estreptoquinase raramente é usada e, em vários mercados, não mais está disponível. UROQUINASE A uroquinase é produzida naturalmente no organismo, pelos rins. A uroquinase terapêutica é isolada de culturas de células renais humanas e tem baixa antigenicidade. Ela hidrolisa diretamente a ligação arginina- valina do plasminogênio, formando plasmina. Só está aprovada para a lise de êmbolos pulmonares. Usos extrabula incluem: Tratamento de IAM, tromboembolismo arterial, trombose artéria coronária e TVP. Seu uso foi amplamente superado por outros fármacos com relação risco/benefício mais favorável.
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