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Aula 4: Doença das Vias Biliares 1. Aspectos Gerais a) Anatomia das vias biliares · Extra-hepática: ductos hepáticos esquerdo e direito ducto hepático comum: junção dos dois = hilo hepático · Vesícula biliar: armazenamento da bile ducto cístico: drenagem da vesícula biliar · Via biliar principal: ducto hepático comum + ducto cístico = colédoco (íntimo contato com duodeno e cabeça do pâncreas), que leva a bile ao duodeno · Ducto pancreático principal: desagua junto com o colédoco na segunda porção do duodeno · Ampola de Vater = ducto pancreático principal + ducto colédoco, desaguando no duodeno · Esfíncter de Oddi: ao ser estimulado pela alimentação, ele abre e libera a bile para o TGI · Triângulo de Calot: seus limites são borda hepática (limite superior) + ducto cístico (limite lateral) + ducto hepático comum (limite medial) – dentro desse triângulo, encontramos a artéria cística O esfíncter de Oddi fica na maior parte do tempo fechado. Enquanto isso, o fígado fica produzindo bile, enchendo a via biliar principal, que ao ser completamente ocupada por bile, que irá voltar para dentro da vesícula, enchendo a mesma = retroalimentação da vesícula. Em uma colecistectomia, é necessário fazer a ligadura da artéria cística e por isso é de grande importância conhecermos o triângulo de Calot. 2. Doença Calculosa Biliar a) Tipos de cálculos 1- Cálculo amarelo = colesterol · Mais comum de todos: 80% dos casos · Não pigmentado, radiotransparente, formado na vesícula · Fatores de risco: mulher, estrogênio, idade, obesidade, emagrecimento rápido, drogas (clofibrato), doenças ileais (Chron, ressecção) Sais biliares: uma de suas funções é ser solvente do colesterol na bile. São reabsorvidos em íleo distal, em um processo chamado de recirculação êntero-hepática de sais biliares. No caso de uma doença ileal/ressecção, não há mais essa recirculação, levando a um déficit de sais biliares e consequentemente se torna um fator de risco para formação de cálculos. 2- Cálculo preto = bilirrubinato de cálcio · É o 2º mais comum · Pigmentado, formado na vesícula · Fatores de risco: hemólise crônica, cirrose 3- Cálculo castanho = bilirrubinato de cálcio em menor concentração · É o mais raro · Pigmentado, formado dentro da via biliar – colédoco · Fatores de risco: obstrução do colédoco + colonização bacteriana da bile 2.1 Colelitíase Definição: cálculo na vesícula biliar. a) Clínica · Assintomático em cerca de 85% dos casos · Cólica biliar: quando o cálculo fica impactado, a vesícula começa a contrair de forma a tentar desobstruir e geralmente ocorre após libação alimentar – cerca de 15% dos casos Essa cólica biliar vai aliviando, ou seja, é uma dor que melhora nas primeiras 24h, mas na prática melhora em cerca de 6h. b) Diagnóstico · USG: padrão-ouro · Os cálculos são hiperecoicos · Presença de sombra acústica c) Tratamento · Padrão-ouro: colecistectomia videolaparoscópica (CVL) · Indicações · Paciente sintomático: sempre opera MEDCURSO: Hepatologia 01/07/2020 · · Assintomático se cálculo > 3cm: fator de risco para CA de vesícula · Pólipos: cálculo + pólipo é fator de risco para CA · Vesícula em porcelana: calcificação da parede da vesícula · Anomalia congênita · Anemia hemolítica/falciforme · Cirurgia bariátrica e transplante cardíaco 2.2 Colecistite Definição: inflamação/infecção por um cálculo obstruindo a vesícula. a) Clínica Nesse caso o cálculo fica impactado e não desobstrui, ou seja, é persistente e pode ser em infundíbulo ou ducto cístico. Há uma irritação química da vesícula, gerando um quadro inflamatório. · Dor > 6h · Pode haver febre · Sinal de Murphy: compressão do ponto cístico associado a inspiração profunda, fazendo com que a vesícula inflamada toque no dedo do examinador e pela dor o paciente interrompe subitamente a inspiração b) Diagnóstico · Clínica · Laboratório é inespecífico · Exames de imagem · USG: espessamento da parede da vesícula (>3mm), cálculo impactado · Cintilografia das vias biliares: padrão-ouro – ausência de contraste na vesícula biliar c) Tratamento · Medidas gerais + antibioticoterapia: SEMPRE fazer · CVL precoce: idealmente < 72h, pois nas primeiras 72h ainda não há muitas alterações inflamatórias, como tecido friável – até com 10 dias de evolução, considera-se seguro fazer a cirurgia Para pacientes que não toleram a cirurgia, pode ser feita colecistostomia percutânea: drenagem percutânea da vesícula biliar – pacientes graves. d) Complicações 1- Perfuração · Padrão livre: costuma acontecer em pacientes mais debilitados, gerando um quadro de peritonite difusa · Quadro franco de peritonite com irritação peritoneal difusa, febre alta, leucocitose · Conduta = cirurgia de urgência · Padrão bloqueada: formação de abscesso · Leucocitose, paciente que não melhora · Conduta: avaliar colecistectomia, a maior é tendência é fazer a drenagem · Fístula: íleo biliar · Obstrução à nível de delgado: impactação em íleo distal · Cálculo ectópico, pneumobilia · Tríade de Rigler: obstrução de delgado, cálculo ectópico, pneumobilia 2- Colecistite enfisematosa · Gás na parede da vesícula = Clostridium · Quadro mais grave que uma colecistite aguda normal · 1% dos casos: pacientes idosos > 60 anos, diabéticos e) Colecistite Aguda Alitiásica ou Acalculosa Definição: colecistite sem a presença do cálculo. · Geralmente acontece em pacientes mais graves, jejum, NPT · 5-10% dos aso de colecistite aguda 1- Clínica Esses pacientes não tem estímulo para contrair a vesícula, podendo formar uma lama biliar que pode obstruir a vesícula biliar. · Igual a colecistite aguda calculosa · Paciente grave em CTI: geralmente perde-se o paramêtro clínico da dor · Quando pensar: CTI + febre + leucocitose = USG 2- Tratamento = colecistite calculosa (medidas gerais + antibioticoterapia + CVL ou colecistectomia) No caso desse paciente que NÃO suporta a cirurgia, fazemos a drenagem percutânea da bile = colecistostomia percutânea. f) Síndrome de Mirizzi Definição: compressão do ducto hepático comum por um cálculo impactado no infundíbulo ou ducto cístico. É raro, ocorrendo em cerca de 1% dos casos. 1- Clínica = colecistite + icterícia · Quadro de colecistite aguda · Icterícia 2- Classificação · Tipo I: sem fístula · Tipo II: fístula pegando 1/3 da circunferência do hepático comum · Tipo III: fístula pegando 2/3 do hepático comum · Tipo IV: toda a circunferência 2.3 Coledocolitíase Definição: presença de cálculo no colédoco. Ela pode ser primária ou secundária. · Primária: o cálculo foi formado no colédoco = cálculo castanho, < 5% dos casos · Secundária: cálculo formado na vesícula = cálculo amarelo, > 90% dos casos a) Clínica · 50% dos casos o paciente é assintomático · Icterícia flutuante: característica importantíssima para diagnóstico diferencial, é uma icterícia intermitente · Vesícula impalpável: os pacientes com colelitíase costumam ter uma vesícula escleroatrófica, ou seja, que NÃO distende e por isso, mesmo que se encha de bile, ela não é palpável b) Diagnóstico · Suspeita clínica · USG como exame inicial: diagnóstico de colelitíase e dilatação do colédoco (>5mm) · Confirmação do diagnóstico: colângioressonância e CPRE · Colângio RM: método não invasivo · CPRE: é invasivo, mas ao mesmo tem que é um método diagnóstico, é terapêutico Como investigar a coledocolitíase na colelitíase? 1) USG + bilirrubinas + FAL e transaminases · Alto risco de coledocolitíase: USG com cálculo no colédoco, icterícia flutuante, colestase · Conduta = CPRE · Médio risco: USG com colédoco > 5mm + HPP de colecistite, pancreatite ou colangite + 2 · Elevação de bilirrubinas, FAL ou transaminases · Conduta = colângio RM · Baixo risco: idem médio + colédoco < 5mmm · Conduta: colângio intra-operatória (de colecistectomia) · Muito baixo risco: nenhum fator · Conduta: CVL c) Tratamento = SEMPRE tratar É necessáriosempre realizar o tratamento para evitar complicações mais graves como a colangite. · Se identificado antes da CVL: CPRE · Descoberta durante a CVL: exploração cirúrgica – cateterização das vias biliares ou via laparoscopia · Intra-hepático ou primária: derivação biliodigestiva ou coledocoduodenostomia – pega-se uma alça de jejuno e leva ao colédoco, fazendo uma anastomose Ao manipular as vias biliares do paciente, é necessário utilizar o dreno de Kehr para reduzir a formação de possíveis fístulas e estenose das mesmas. Obs.: indicações de derivação biliodigestiva = colédoco > 2cm, >6 cálculos em seu interior, cálculos intra-hepáticos residuais e/ou coledocolitíase primária. 3. Colangite aguda Definição: infecção bacteriana das vias biliares. Principal agente etiológico: E. coli a) Fisiopatologia Obstrução das vias biliares + infecção: para o paciente evoluir com infecção, ele PRECISA ter obstrução e a maior causa é a coledocolitíase (60% dos casos), além de tumores, estenoses. É vista como uma complicação da coledocolitíase. b) Tipos 1- Não grave Nesse caso a infecção está restrita às vias biliares. · Tríade de Charcot: febre com calafrios + icterícia + dor abdominal (quadrante superior direito) · Febre com calafrio é o achado mais comum · Tratamento: antibiótico + drenagem · O paciente apresenta uma resposta DRAMÁTICA ao antibiótico · Drenagem das vias biliares eletiva: não precisa ser feita de urgência, mas assim que o quadro infeccioso for controlado 2- Grave: tóxica aguda / supurativa A infecção é além das vias biliares. · Pêntade de Reynolds: febre com calafrios + icterícia + dor abdominal + hipotensão + depressão do SNC · Tratamento · Antibiótico: não resolutiva · Drenagem das vias biliares é imediata – drenagem percutânea 4. Diagnóstico diferencial da icterícia obstrutiva a) Tumores periampulares Definição: tumores na região da ampola de Vater. · Cabeça de pâncreas · Colangiocarcinoma distal · Duodeno · Ampola de Vater (papila) 1- Clínica · Icterícia progressiva: o tumor está crescendo, obstruindo as vias biliares cada vez mais · Clínica clássica de colestase: colúria, acolia e prurido · Vesícula de Courvoisier: é a vesícula palpável e indolor – o problema é um tumor que cresce cada vez mais, então a bile vai sendo armazenada e fazendo com que a vesícula cresça de tamanho (nesse caso como não há cálculo, a vesícula consegue ir se distendendo aos poucos) CA de ampola de Vater: em algumas situações, o paciente pode se apresentar com períodos de atenuação da icterícia + melena. · O tumor cresce de forma tão rápida que a vascularização não consegue acompanhar o seu crescimento, fazendo que a parte mais distal evolua com isquemia e necrose = escoamento da bile · Nesse processo de isquemia/necrose, pode haver sangramento = melena 2- Tratamento · Duodenopancreatectomia = cirurgia de Whipple b) Tumor de Klatskin Definição: colangiocarcinoma peri-hilar. É um colangiocarcinoma proximal e o tipo mais comum de colangiocarcinoma. 1- Clínica · Icterícia progressiva · Vesícula IMPALPÁVEL: há obstrução na saída da bile · Tipicamente os níveis de bilirrubina são bem elevados: > 10-15 mg/dl 2- Diagnóstico: USG · Vesícula murcha · Dilatação intra-hepática 3- Classificação de Bismuth Mostra o acometimento das vias biliares. · Tipo I: acometimento apenas de hepático comum · Tipo II: acometimento da junção dos hepáticos · Tipo IIIa: hepático direito · Tipo IIIb: hepático esquerdo · Tipo IV: ambos os hepáticos – toda a via biliar proximal Anotações: · Dor em hipocôndrio direito, vômitos e icterícia em pós-operatório de colecistectomia: coledocolitíase residual, ligadura (clipagem) inadvertida de colédoco · Hiperplasia nodular focal: um dos TU hepáticos mais comuns e é caracterizado por uma cicatriz fibrosa central com septos irradiados – aspecto de “roda de carruagem” · Artéria cística: ramo da hepática direita · Colúria: sinal mais sensível de icterícia, presente principalmente naqueles pacientes com níveis muito elevados de bilirrubina (>12mg/dl)
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