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LARISSA MENEZES – GASTRO ANATOMIA DAS VIAS BILIARES EXTRA- HEPÁTICAS • A árvore biliar extra-hepática é composta pela vesícula biliar, ducto cístico, ducto hepático comum, resultado da confluência dos ductos hepáticos direito e esquerdo, e ducto colédoco, formado pela união do cístico com o hepático comum. Todos apresentam a mesma origem embriológica, o divertículo hepático, brotamento ventral do intestino anterior que surge em torno da 4ª semana • A vesícula biliar é um órgão piriforme, que funciona como reservatório de bile, com aproximadamente 30 ml a 50 ml de capacidade, que repousa em uma fossa que corresponde ao plano anatômico que divide os lobos do fígado. A vesícula é dividida em quatro porções bem definidas: fundo, corpo, infundíbulo e colo • O ducto cístico surge no colo da vesícula biliar, estendendo-se pelo ligamento hepatoduodenal por 2 a 4 cm até unir-se ao ducto hepático comum, geralmente em um ângulo agudo, formando assim o ducto colédoco. Seu lúmen mede em torno de 1-3 mm, mas pode ser de até 10 mm, neste último caso permitindo que grandes cálculos penetrem o colédoco • O ducto hepático comum surge próximo ao hilo hepático, resultado da confluência do ducto hepático esquerdo, que drena a bile produzida nos segmentos II, III, IV, e o ducto hepático direito, que drena os segmentos V, VI e VIII. A drenagem do lobo caudado (segmento I) é variável, mas na maioria dos casos é tanto para o ducto direito quanto para o esquerdo. Esta união geralmente é extra-hepática e anterior à bifurcação da veia porta. O ducto hepático comum segue pelo ligamento hepatoduodenal por uma distância de 3 a 4 cm até a junção com o ducto cístico • O ducto colédoco (ou ducto biliar comum) estende-se por 8 cm e apresenta diâmetro entre 5 a 10 mm, podendo sofrer dilatação importante em vigência de obstrução. Durante seu trajeto, pode ser dividido em quatro segmentos anatômicos: supraduodenal, retroduodenal, pancreático e intraduodenal • A ampola de Vater é formada pela união do ducto pancreático principal e o colédoco; apresenta extensão variável, entre 2 mm até 14 mm. Esta estrutura desemboca na papila maior do duodeno. Essa ampola pode não está presente por variação anatômica LARISSA MENEZES – GASTRO • Uma bainha de músculo liso, conhecida como esfíncter de Oddi, envolve a porção intraduodenal do colédoco e a ampola de Vater. Estudos manométricos demonstraram que o esfíncter age de maneira independente da musculatura do duodeno • O triângulo hepatocístico (de Calot) é região anatômica delimitada pelo ducto hepático comum medialmente, ducto cístico lateralmente e superiormente pela borda inferior do lobo hepático direito. Em seu interior passa a artéria cística, sendo fundamental a sua identificação e dissecção para realização de uma colecistectomia segura FORMAÇÃO DA BILE • Eletrólitos, proteínas, sais biliares, colesterol, fosfolipídios e bilirrubina • A secreção ductular é estimulada pela secretina, colecistocinina e gastrina, e o volume total de bile varia de 500 a 800 ml/dia • Os sais biliares são sintetizados a partir do colesterol pelos hepatócitos, num processo dependente da enzima 7-a-hidroxilase • Após penetrarem no delgado proximal, os sais biliares ajudam na absorção das gorduras pela formação de micelas e, a seguir, são reabsorvidos em grande parte no íleo DOENÇA CALCULOSA BILIAR / COLELITÍASE • Cálculos de colesterol (amarelos) • Cálculos de cálcio e bilirrubina (pigmentados) FATORES DE RISCO o Predisposição genética o Dismotilidade vesicular o Fatores ambientais o Dieta o Estrogênio e progesterona o Idade o Obesidade o Hiperlipemias e clofibrato o Ressecção ileal e doença de Crohn o Anemia hemolítica o Cirrose o Infecções FATORES DE PROTEÇÃO o Dieta pobre em carboidratos e rica em fibras, frutas e vegetais o Prática de atividades físicas o Consumo de cafeína, magnésio e gorduras mono ou polinsaturadas o Uso de estatinas, AAS e AINEs LAMA BILIAR o É identificada como uma massa fluida que se deposita nas porções de maior declive da vesícula, em correspondência com a gravidade, produzindo ecos de baixa densidade na USG o Representa uma mistura de mucina, bilirrubinato de cálcio e cristais de colesterol, considerada um precursor da litíase, embora nem todo portador de lama biliar desenvolva cálculos vesiculares EXAMES COMPLEMENTARES o RADIOGRAFIA SIMPLES: ▪ Desde acima da 12ª costela até abaixo da crista ilíaca ▪ Conseguem revelar os cálculos vesiculares radiopacos (10 a 15% dos cálculos de colesterol e mistos e cerca de 50% dos cálculos de pigmento) ▪ A parede da vesícula ainda pode se apresentar edemaciada ou mesmo calcificada (vesícula em porcelana) LARISSA MENEZES – GASTRO ▪ Pneumobilia significa presença de ar no interior da vesícula e decorre de uma fístula biliodigestiva (cirúrgica ou espontânea). A presença de ar dentro da parede da vesícula pode indicar a rara colecistite enfisematosa (infecção por anaeróbios) o ULTRASSONOGRAFIA: ▪ Em paciente com icterícia deve ser o primeiro a ser solicitado ▪ A precisão diagnostica para colelitíase é de 96%, já para coledocolitíase é de 25% ▪ Em aparelhos de US modernos, cálculos de até 3 mm podem ser identificados ▪ A presença de ductos biliares intra- hepáticos dilatados indica que a icterícia é secundária a uma obstrução das vias biliares extra-hepáticas ▪ A contração da vesícula biliar à ultrassonografia, na presença de icterícia com dilatação dos ductos biliares intra- hepáticos, indica que a obstrução está acima do ducto cístico ▪ Se os ductos biliares intra-hepáticos estão dilatados, mas os extra-hepáticos não, deve haver obstrução na junção dos ductos hepáticos direito e esquerdo ▪ Uma vesícula biliar constantemente dilatada e indolor (vesícula de Courvoisier) indica obstrução mais distal, geralmente por tumor periampular o TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA: ▪ Tem a mesma eficácia que a US para determinar as dilatações do trato biliar ▪ Ganha em acurácia, em relação à US, na detecção de cálculos de colédoco, ao passo que perde na detecção de cálculos da vesícula biliar (quer dizer, a US é superior à TC na investigação de doenças da vesícula) o COLANGIORRESONÂNCIA (COLANGIOPANCREATOGRAFIA POR RNM): ▪ Apresenta excelente definição anatômica da árvore biliar, sendo capaz de detectar pequenos cálculos ▪ Sua sensibilidade é de 95%, com especificidade de 89%, no diagnóstico de coledocolitíase o US ENDOSCÓPICA: ▪ Realizada com um endoscópio especial que tem em sua extremidade distal um transdutor de ultrassom, a maior virtude deste exame está na excelente capacidade de detecção de lesões justapapilares (colédoco distal) ▪ Permite a realização de biópsias, o que o torna particularmente útil no diagnóstico das neoplasias periampulares o CINTILOGRAFIA BILIAR: ▪ Normalmente, a via biliar principal, a vesícula biliar e o duodeno são visualizados nos primeiros 60min. A não visualização da vesícula biliar em 1h (alguns serviços aguardam até 4h) após a administração do radioisótopo indica a presença de colecistite ▪ É o melhor método para a confirmação do diagnóstico de colecistite aguda LARISSA MENEZES – GASTRO o COLANGIOGRAFIA TRANS-HEPÁTICA PERCUTÂNEA (CTP): ▪ Punção percutânea direta de um ducto biliar intra-hepático por agulha, introduzida no oitavo ou nono espaço intercostal direito ▪ Além da determinação do local e da etiologia da obstrução, ainda pode ser colhido material para exame citológico e bile para cultura ▪ Pode ser utilizada para finalidades terapêuticas, como drenagem biliar externa, colocação de endopróteses biliares percutâneas e dilatação biliar por balões ▪ Contraindações: ascite importante,distúrbio da coagulação, colangite o COLANGIOPANCREATOGRAFIA RETRÓGADA ENDOSCÓPICA (CPRE): ▪ Consiste na passagem de um cateter através da ampola de Vater, com injeção de contraste, permitindo a visualização fluoroscópica e documentação radiológica das vias biliares e ducto pancreático principal (tanto o colédoco quanto o ducto pancreático principal podem ser cateterizados seletivamente) ▪ O contraste enche de forma retrógrada o colédoco, o ducto cístico, a vesícula e as vias biliares intra-hepáticas ▪ É indicada na avaliação do paciente ictérico, em que se suspeita de obstrução biliar extra-hepática, mas também pode ser realizada em pacientes anictéricos que apresenta características clínicas e laboratoriais de doença biliar extra- hepática e/ou pancreática. Pode ser realizada independentemente dos níveis de bilirrubina e do estado funcional do fígado ▪ A complicação mais comum da CPRE é a pancreatite aguda (5% dos casos) – a colangite é a causa mais comum de morte e a segunda complicação mais comum ▪ O aumento da pressão ductal durante a injeção de contraste poderá produzir sepse grave e incontrolável, de forma que os pacientes com obstrução biliar (existente ou suspeitada) devem receber antibioticoterapia profilática ▪ Contraindicada: colangite, pancreatite aguda ▪ A CTP costuma ser mais útil nas obstruções altas, que determinam ductos biliares intra-hepáticos muito dilatados ▪ Já a CPRE costuma ser mais útil nas obstruções distais, quando os ductos biliares intra-hepáticos tendem a uma dilatação menor. Como na grande maioria das vezes as obstruções baixas são LARISSA MENEZES – GASTRO causadas por cálculos impactados na papila, a CPRE ainda pode ser terapêutica (papilotomia) o COLANGIOGRAFIA PEROPERATÓRIA: ▪ Administração peroperatória de contraste hidrossolúvel. Pode ser realizada por via transcística, em que o ducto cístico é cateterizado, injetando-se contraste hidrossolúvel; ou diretamente no ducto biliar principal, geralmente o colédoco, por uma agulha ou dreno de Kehr ▪ Um dreno de Kehr colocado diretamente no colédoco permite a colangiografia no pós-operatório (para diagnóstico de coledocolitíase residual). QUADRO CLÍNICO o Dor aguda contínua (erroneamente referida como “cólica biliar”) caracteristicamente localizada em hipocôndrio direito e/ou epigastro, apresentando, às vezes, irradiação para a escápula o A intensidade é maior no período de 30 minutos a 5 horas de seu início, com melhora gradual ao longo de 24h o No início do quadro clínico, náuseas e vômitos podem aparecer. Os episódios se repetem em intervalos de dias a meses o A dor muitas vezes ocorre após refeição com alimentos gordurosos, após uma farta refeição que se segue a jejum prolongado ou mesmo após uma refeição habitual o Alguns pacientes se apresentam apenas com sintomas tipo dispepsia (eructações, plenitude, náuseas) após a ingesta gordurosa, ou mesmo com um “mal-estar” vago e impreciso o Não ocorre febre ou outros sinais de reação inflamatória o O exame abdominal é pobre, com dor à palpação em hipocôndrio direito e/ou epigástrio. Não há massa palpável nesta topografia, uma vez que não existe processo inflamatório vesicular exuberante o Fosfatase alcalina e bilirrubinas elevadas falam a favor da presença de cálculo no colédoco o A maioria dos pacientes com cálculos biliares não manifestará qualquer sintoma durante a vida DIAGNÓSTICO o US abdominal é o melhor método diagnóstico na colelitíase, com sensibilidade e especificidade > 95% COMPLICAÇÕES o A presença de colelitíase se associa a um aumento da mortalidade geral e da mortalidade por câncer o 1/3 dos pacientes necessitará de tratamento cirúrgico por apresentar complicações em algum momento da vida o As complicações quase sempre decorrem de alguma forma de obstrução pelo cálculo o Colecistite aguda o Coledocolitíase o Pancreatite aguda o Colangite aguda (e abscesso hepático) o Vesícula em porcelana o Íleo biliar (forma-se uma fístula colecistojejunal, com passagem de cálculo biliar que irá se impactar na porção mais distal do íleo, gerando um quadro de obstrução intestinal ao nível do delgado) o Síndrome de Bouveret (mais rara) TRATAMENTO o AINEs para analgesia da cólica biliar o Opioides em caso de dor refrataria ao uso de AINEs o Anticolinérgicos e antiespasmódicos para alívio imediato da dor o Colescitectomia: único tto definitico o Conduta nos pacientes sintomáticos, sem cálculo, mas com lama biliar: Recomenda-se a colecistectomia profilática em todos os pacientes com episódios recorrentes de dor, em que, ao menos duas vezes, se tenha conseguido documentar a presença de lama biliar na ocasião de um episódio álgico o Abordagem cirúrgica em pacientes assintomáticos que tenham: ▪ Cálculos > 3 cm; ▪ Pólipos de vesícula biliar; ▪ Vesícula em porcelana; ▪ Anomalia congênita da vesícula biliar (vesícula dupla); ▪ Microesferocitose hereditária com litíase comprovada; LARISSA MENEZES – GASTRO ▪ Pacientes que serão submetidos a uma cirurgia bariátrica ou transplante cardíaco o A cirurgia: ▪ Incisão subcostal direita (tipo Kocher), mediana supraumbilical, ou paramediana direita ▪ Realiza-se dissecção do trígono hepatocístico (triângulo de Calot) com isolamento e ligadura da artéria cística e ducto cístico. Procede-se então ao descolamento da vesícula de seu leito hepático através da secção de suas fixações peritoneais o Videolaparoscopia: ▪ Feito através da insuflação de CO2 no interior da cavidade por meio de punção com agulha de Verres na região umbilical. São colocados três trocartes na parede abdominal que permitem o acesso dos instrumentos cirúrgicos ▪ É realizada dissecção do trígono hepatocístico e ligadura do pedículo da vesícula com clipes metálicos. É muito importante realizar uma dissecção adequada do trígono hepatocístico, pois em seu interior passa a artéria cística, que deve ser ligada. A não identificação deste vaso pode levar o cirurgião a ligar inadvertidamente a via biliar (ex.: ducto hepático comum), produzindo estenose iatrogênica da via biliar principal, com icterícia progressiva, colangite e cirrose biliar pós-operatória. É retirada a vesícula através do trocarte umbilical o Situações em que a cirurgia aberta ainda é preferida: ▪ Reserva cardiopulmonar ruim (ex.: DPOC avançada, ICC com FE < 20%); ▪ Câncer de vesícula suspeito ou confirmado ▪ Cirrose com hipertensão portal (ascite); ▪ Gravidez no terceiro trimestre; ▪ Procedimentos combinados o A complicação cirúrgica mais comum (e mais temida) é a lesão de vias biliares extra- hepáticas, mais corriqueira nos procedimentos laparoscópicos. Outra complicação específica da colecistectomia é o coleperitônio (vazamento de bile para a cavidade peritoneal), que se manifesta de forma precoce, nos primeiros dias de pós-operatório. O quadro típico é de dor no quadrante superior direito, febre, calafrios e icterícia, podendo ocorrer impregnação de bile nos acessos da laparoscopia o Em pacientes que se recusam a operar e em situações de risco cirúrgico proibitivo, pode-se optar por uma terapia conservadora com solventes de cálculo. O objetivo é tornar a bile menos saturada, permitindo assim a absorção de colesterol a partir da superfície do cálculo ▪ Ursodesoxicolato (URSO), na dose de 8- 13mg/kg/dia ▪ A terapia de dissolução é ineficaz para os cálculos pigmentados (radiopacos) e muito ruim para cálculos com mais de 5 mm COLECISTITE AGUDA CALCULOSA LARISSA MENEZES – GASTRO • O termo colecistite aguda define o desenvolvimento de um processo de inflamação da vesícula, que resulta, na imensa maioria das vezes, da obstrução do ducto cístico por um cálculo que, em 95% dos casos,ocorre em associação à colelitíase – aproximadamente 25% dos pacientes com colelitíase desenvolverão colecistite aguda em algum momento de sua evolução (geralmente após surtos repetidos de dor biliar) • As mulheres são mais acometidas, com relação de 3:1 quando são considerados os pacientes com até 50 anos. A partir dessa idade a diferença diminui consideravelmente, com os casos em homens quase se igualando ao observado em mulheres • Geralmente a colecistite aguda se inicia com a implantação de um cálculo no ducto cístico, que leva a um aumento da pressão intraluminal da vesícula, obstrução venosa e linfática, edema, isquemia, ulceração da sua parede e, finalmente, infecção bacteriana secundária. Todo esse processo pode evoluir para perfuração da vesícula, mais comumente em seu fundo, uma vez que esta é a porção fisiologicamente menos perfundida, portanto, mais sensível à isquemia. As perfurações podem seguir três cursos: (1) coleperitônio, com peritonite difusa, ou (2) bloqueio do processo inflamatório com formação de abscesso pericolecístico ou (3) extensão do processo inflamatório para uma víscera próxima, formando uma fístula (especialmente o duodeno) • A etiologia da colecistite é multifatorial, mas a obstrução do ducto cístico, seja por cálculo impactado no infundíbulo ou na luz do próprio ducto, ou por edema da mucosa gerado por estes cálculos, é sem dúvida uma condição fundamental para a gênese da doença PATOGÊNESE o Atualmente, a teoria mais aceita para a patogênese da colecistite aguda é a de que a irritação da parede da vesícula pelos cálculos provoque a liberação de uma enzima, a fosfolipase A2 o A fosfolipase medeia a conversão da lecitina presente na bile em lisolecitina, um potente irritante químico que iniciará a reação inflamatória na parede vesicular. A partir daí é que se desencadeia toda a cascata descrita nos parágrafos acima. o Alguns pacientes, por motivos pouco compreendidos, liberam menos fosfolipase A2. Nestes, a obstrução do cístico pode levar à hidropsia de vesícula (mucocele vesicular), uma condição em que a mucosa consegue reabsorver o colesterol e os fosfolipídeos da bile estagnada, deixando a vesícula distendida, mas com seu lúmen repleto apenas de muco. Estes pacientes são frequentemente assintomáticos FISIOPATOGENIA o Bastante semelhante a da apendicite o Se o cálculo ultrapassar o ducto cístico ou retornar para a vesícula, a cadeia de eventos se interrompe, e não ocorre colecistite aguda o Quando há inflamação (colecistite aguda), podem ser encontradas bactérias em até 50% dos pacientes. A E.coli é a bactéria mais frequentemente isolada, seguida por Klebsiella, Enterococcus faecalis, Proteus e Clostridium – ou seja, a “flora” microbiana típica de uma colecistite aguda consiste de bastonetes Gram-negativos, enterococo e anaeróbios o Apesar da infecção ser um evento secundário, uma complicação, ela acaba sendo responsável pelas sequelas mais sérias da colecistite aguda: ▪ Empiema (vesícula cheia de pus, colecistite aguda acompanhada de sepse/choque séptico) ▪ Perfuração ▪ Abscesso pericolecístico ▪ Fistula bilioentérica MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS o Uma crise de colecistite aguda começa com dor abdominal, que aumenta paulatinamente de intensidade, e se localiza, desde o início, debaixo do gradil costal direito. Entretanto, de forma análoga ao que acontece com a apendicite, a dor da colecistite aguda pode iniciar no epigástrio, e, com o passar das horas, quando o processo se estende para a LARISSA MENEZES – GASTRO superfície peritoneal da vesícula, a dor torna- se localizada tipicamente no QSD o Ao contrário da dor biliar da colelitíase crônica, a dor da colecistite aguda persiste por mais de seis horas o É comum a irradiação da dor para a região Infraescapular o Anorexia, náuseas e vômitos são muito frequentes, mas o vômito raramente é grave como na pancreatite ou obstrução intestinal o É comum a presença de febre baixa a moderada. Febre com calafrios sugere colecistite supurativa ou colangite associada o Sinal de Murphy: Pede-se ao paciente que inspire profundamente, e palpa-se a região subcostal direita – se o paciente interromper uma inspiração profunda quando da palpação, o sinal é positivo, sendo fortemente preditivo de colecistite aguda o Só existe massa palpável, correspondente à vesícula distendida e hipersensível, em 15% dos pacientes – entretanto, este achado é muito importante e confirma a suspeita diagnóstica o Cerca de 10% dos pacientes com colecistite aguda apresentam icterícia, causada por edema do colédoco adjacente, por cálculos no colédoco ou pela síndrome de Mirizzi o O atraso diagnóstico-terapêutico aumenta o risco de complicações, como gangrena e perfuração da vesícula EXAMES COMPLEMENTARES E DIAGNÓSTICO o LABORATÓRIO: ▪ 12.000-15.000 leucócitos/mm3 (se leucometria muito alta, suspeitar de perfuração); ▪ Aumento discreto de bilirrubina (se mais que 4 mg/dl, suspeitar de coledocolitíase associada); ▪ Aumento discreto de FA e AST (TGO); ▪ Aumento da amilase sérica, que não necessariamente indica pancreatite aguda o ULTRASSONOGRAFIA: ▪ Primeiro exame a ser solicitado ▪ Demonstração de cálculos no colo da vesícula; ▪ Espessamento da parede da vesícula; ▪ Líquido perivesicular; ▪ Aumento da interface entre o fígado e a vesícula; ▪ Sinal de Murphy ultrassonográfico (dor quando o transdutor está sobre a vesícula); ▪ Aumento significativo do diâmetro transverso do fundo da vesícula o CINTILOGRAFIA DAS VIAS BILIARES: ▪ É o exame mais acurado para se confirmar a suspeita clínica de uma colecistite aguda calculosa, possuindo sensibilidade e especificidade de 97% e 90%, respectivamente ▪ Se houver o enchimento da vesícula, o diagnóstico de colecistite aguda torna-se bastante improvável. Em caso de enchimento dos ductos biliares, porém não da vesícula, passa a haver um poderoso apoio a favor do diagnóstico o TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA: ▪ Cálculos ▪ Espessamento da parede vesicular ▪ Líquido pericolescístico ▪ Precisão inferior a USG DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL o Apendicite aguda o Pancreatite o Ulcera péptica perfurada o Hepatite aguda (viral ou alcoolica) o Pielonefrite o Litíase renal o Gastrite o Abscesso hepatico o Diverticulite o Hernia de hiato o Peri-hepatite gonocócica em mulheres TRATAMENTO o Suporte clínico: ▪ Internação hospitalar ▪ Hidratação venosa ▪ Analgesia ▪ Dieta zero ▪ Antibioticoterapia parenteral o Betalactâmicos + inibidores de betalactamase (ex.: amoxicilina-clavulanato, ampicilina- sulbactam) o Combinação de uma cefalosporina de 3ª geração (ex.: ceftriaxone) LARISSA MENEZES – GASTRO o Quinolona (ex.: ciprofloxacina, levofloxacina) com metronidazol o Por 7-10 dias o O tratamento pode ser suspenso 24h após a cirurgia em pacientes que tiveram uma colecistite aguda não complicada. Dito de outro modo, a duração do tratamento deve ser individualizada, de acordo com as condições clínicas do paciente (ex.: maior tempo de ATB no paciente que desenvolve sepse)! o Colecistectomia é o tto definitivo, via preferencial é laparoscópica o As contraindicações absolutas à colecistectomia laparoscópica são: coagulopatia não controlada e cirrose hepática terminal COMPLICAÇÕES o Perfurações e fistulas o Íleo biliar o Sd álgica pós-colecistectomia COLECISTITE AGUDA ALITIÁSICA (ACALCULOSA) • É infrequente, sendo responsável por apenas 5 a 10% dos casos de colecistite aguda • Caracteriza-se por epidemiologia e fisiopatologia distintas • Mais comum em homens • Jejum prolongado com nutrição parenteral e doenças sistêmicas como sarcoidose, lúpus eritematoso sistêmico entre outras são considerados fator de risco FISIOPATOLOGIAo Não está bem definida o Acredita-se que a estase biliar decorrente da falta de estímulo para contração da vesícula determinada pelo jejum prolongado e pela resposta inflamatória sistêmica leve à concentração progressiva da bile através da absorção de água pela mucosa vesicular, formando lama biliar. Esta lama leva à liberação de mediadores inflamatórios ao lesar a mucosa vesicular pela presença de sais biliares em altas concentrações o O processo inflamatórilocalizado leva à congestão da parede, colonização bacteriana e necrose o Outro fator também incriminado é a isquemia tecidual da vesícula, decorrente de episódios de hipotensão sistêmica. Ela determinaria disfunção da mucosa com destruição do seu epitélio e exposição aos sais biliares concentrados que são tóxicos aos tecidos, iniciando ou agravando processo inflamatório local QUADRO CLÍNICO o Semelhante ao descrito para a colecistite aguda calculosa, fazendo-se a ressalva que frequentemente os sintomas são mascarados pelo estado crítico do paciente, que não raro está sedado e em ventilação mecânica o Febre e leucocitose em um paciente grave podem ser sinais de colecistite alitiásica! o Solicite uma US em todo quadro febril de paciente crítico que não se justifique por pneumonia, ITU ou infecção associada a cateter TRATAMENTO o Sempre cirúrgico através de colecistectomia em caráter emergencial ou, nos mais instáveis, colecistostomia o Antibioticoterapia de amplo espectro
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