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Exercício Acusação Nardoni

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TESE DA ACUSAÇÃO
	IP nº 0274/2008
Excelentíssimo senhor doutor juiz de direito do II Tribunal do Júri da Capital, senhores jurados, advogados, assistentes e demais presentes, boa tarde.
O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE SÃO PAULO, por meio de seu representante que a esta subscreve, no uso de suas atribuições legais, nos termos do artigo 69, do Código Penal Brasileiro, vem perante VOSSA EXCELÊNCIA, para propor a presente denúncia contra
Alexandre Alves Nardoni, brasileiro, casado, advogado, filho de Antônio Nardoni e Maria Aparecida Alves Nardoni, portador identidade 27112099 DETRAN-SP, CPF 920.115.327-18, residente e domiciliado na Rua Santa Leocádia, distrito Vila Guilherme, São Paulo, CEP - 02082-000;
Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, brasileira, casada, do lar, filha de Alexandre Jatobá e Ana Lúcia Jatobá, portadora da identidade 34211093 DETRAN-SP, CPF 180.237.155-20, residente de domiciliada na Rua Santa Leocádia distrito Vila Guilherme, São Paulo, CEP – 02082-000; pela prática do ilícito penal a seguir narrado:
Noticiam os inclusos autos de inquérito policial que no dia 29 de março de 2008 (sábado), por volta das 23 horas e 49 minutos, na Rua Santa Leocádia, nº 138, apto 62, Vila Izolina Mazzei, comarca da capital, os indiciados ALEXANDRE ALVES NARDONI e ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ, agindo de forma cruel e desumana, diante de uma criança de apenas 5 anos que demonstrava apenas sentimentos puros e sinceros pelos autores, agrediram e assassinaram a mesma. Objetivando ocultar as agressões cometidas, sendo estas asfixia mecânica e sinais de espancamento, tais como fraturas no pulso e na bacia e corte na testa, os réus atiraram Isabella de Oliveira Nardoni da janela de seu apartamento, causando ferimentos descritos no laudo do exame de corpo de delito, que foram a razão de sua morte. Consta ainda que, antes e depois da prática do delito, os denunciados adulteraram o local da execução do crime, limpando os vestígios de sangue e criando uma falsa alegação de invasão domiciliar, com o intuito de induzir erro da perícia técnica.
Senhoras e senhores do júri, o caso que irei descrever com detalhes é chocante. Em todos esses anos que exerci a carreira de Promotor de Justiça, nada havia me entristecido tanto quanto este inquérito em especial. A perda de um filho, para os pais, representa a quebra do ciclo natural de vida e morte com o qual estamos acostumados. O assassinato de uma inocente criança pelos próprios pai e madrasta é razão de profundo pesar e acarreta traumas para todo o círculo familiar que envolve a vítima, além de causar forte comoção e revolta na população. Como Promotor de Justiça, meu dever é representar e lutar pelos direitos dos cidadãos do estado de São Paulo.
Isabella de Oliveira Nardoni (São Paulo, 18 de abril de 2002 - São Paulo, 29 de março de 2008) era filha de Ana Carolina Cunha de Oliveira (nascida em 5 de abril de 1984, natural de São Paulo) e de Alexandre Alves Nardoni. Ana Carolina engravidou de Isabella aos dezessete anos e a notícia da gravidez não foi bem recebida por Alexandre, pois, na época, ele tentava ingressar na faculdade de Direito. Os pais de Isabella se separaram quando ela tinha onze meses. Em acordo jurídico, foi definida pensão alimentícia mensal de 250 reais e o direito a duas visitas por mês, quinzenalmente. Na época do referido crime, Alexandre Nardoni vivia com a madrasta da menina, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, com quem teve mais dois filhos: Pietro, de 3 anos, e Cauã, de 11 meses. 
Isabella Nardoni foi encontrada ferida, no dia 29 de março de 2008, após ter sido jogada de uma altura de seis andares, no jardim do edifício London, prédio residencial na rua Santa Leocádia, 138, Zona Norte de São Paulo. No apartamento, que pertencia a seu pai, moravam, além dele, a madrasta da menina e dois filhos do casal. As investigações acerca do ocorrido determinam que a família chegou ao local às 23h35, e a primeira ligação para o resgate foi feita às 23h49, não muito tempo após a menina ser jogada da janela. 
De acordo com o relatado por um vizinho do casal, as brigas entre Alexandre e Ana eram constantes e quase sempre giravam em torno dos ciúmes que ela nutria pela ex-esposa de Alexandre. Consequentemente, a ré via em Isabella um reflexo do antigo amor que o réu tinha pela mãe da menina. 
Na manhã do crime mencionado, os indiciados, em companhia de seus dois filhos e de Isabella, dirigiram-se para o município vizinho de Guarulhos ocupando um veículo da marca Ford, tipo KA GL, placa DOG-1125. No final da noite, com o retorno da família à residência, foi constatada mais uma briga do casal. Na ocasião, a vítima foi agredida por um instrumento cortante na testa e em sequência, a madrasta apertou o pequeno pescoço de Isabella, ocasionando asfixia mecânica, que desfaleceu a vítima mas não a matou. O denunciado Alexandre, a quem incumbia o dever legal de agir para socorrer a filha, omitiu-se. Em seguida, a vítima foi atirada da janela, ainda com vida, pelo pai, numa tentativa de simular a existência de uma terceira pessoa que teria, sozinha, cometido todas essas atrocidades. Para tanto, a tela de proteção da janela do quarto dos irmãos da ofendida foi cortada, e Alexandre subiu nas camas ali existentes, introduziu Isabella pela abertura da rede e a soltou, precipitando sua queda de uma altura de aproximadamente vinte metros. Toda a cena foi presenciada e incentivada pela ré, Anna Carolina.
Segundo o casal, o prédio onde moram teria sido assaltado e a vítima teria sido morta por um dos bandidos. Alexandre contou que teria deixado a esposa e seus dois filhos no carro e subido ao apartamento para colocar Isabella, adormecida, na cama. Em seguida, teria retornado à garagem para ajudar a levar as outras crianças para o apartamento e, ao subir, visto a tela cortada e Isabella caída no gramado em frente ao prédio. Nessa versão, a perícia feita conclui que teriam se passado 16 minutos e 56 segundos entre a chegada do casal e a queda da menina. Contudo, passaram-se apenas 12 minutos e 26 segundos entre esses dois fatos. A perícia concluiu também, que, se realmente houvesse uma terceira pessoa, ela teria tido apenas 1 minuto e 55 segundos para guardar os objetos usados no corte da rede, limpar as manchas de sangue, que se estendiam por objetos e pelo assoalho do apartamento, e sair sem deixar rastros, o que é humanamente impossível. 
De acordo com os legistas, a pequena menina apresentava um corte, provocado por chave ou anel, acima do olho esquerdo que, pela coagulação, teria sido feito 10 minutos andes dela ser jogada. Os acusados teriam tentado limpar esse ferimento com uma fralda, que, mais tarde, foi encontrada pelos peritos em um balde com produto de limpeza, mas apresentava traços do sangue de Isabella. Havia elevada quantidade de sangue, também, perto do sofá, levando à conclusão que a vítima fora esganada ali.
Notem, senhores e senhoras do júri, a crueldade demonstrada pelos réus no delito: a vítima foi atirada pela janela ainda com vida, causando extremo sofrimento e dor para a criança com o impacto. Além de terem se omitido até em ligar para o resgate, o que foi feito pelo porteiro do prédio e mais um vizinho após ouvirem o impacto da queda da pobre menina. 
Por fim, a alegação de que havia um invasor mostra-se infundada, tendo em vista que não existem provas materiais que consubstanciem essa versão. Por exemplo, as imagens de segurança do condomínio não mostram a entrada de pessoa estranha no edifício, tampouco é possível a identificação de um suspeito. Além disso, não houve desaparecimento de bens no apartamento ou sinais de arrombamento, o que descaracteriza a tentativa de roubo.
É importante ressaltar, também, a existência de evidências concretas que confirmam o réu, Alexandre, como responsável por jogar sua própria filha da janela do apartamento e a ré, Anna Carolina, como autora da esganadura. A camiseta usada por Alexandre no dia do crime apresenta marcas da tela de proteção, que só poderiam ter sido deixadas em alguém que colocou os dois braçospara fora segurando um peso de, aproximadamente, 25kg, peso de Isabella na época, além de haver marca de uma de suas sandálias na cama onde subiu para cometer tal barbaridade. Já, em relação a Anna Carolina, foi encontrada uma gota de sangue em uma de suas sapatilhas. Além do que, Isabella tinha marcas no pescoço que correspondiam às mãos da madrasta.
Observem, senhores, a indiferença do casal em relação a seus filhos mais novos e a toda sua família, a pouca importância que deram a eles ao cometerem o crime. Não pensaram no futuro de suas próprias crianças, deixando-as sob a guarda dos avós maternos e as privando de manterem uma relação normal e saudável com os próprios pais. O futuro dessas crianças estará para sempre marcado por este lamentável acontecimento. 
Diante do exposto até aqui, concluo que os réus Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá devem ser indiciados pelos crimes de homicídio triplamente qualificado pelo meio cruel de asfixia mecânica e sofrimento intenso, utilização de recurso que impossibilitou a defesa da ofendida, como esganar uma criança de apenas 5 anos e em seguida atira-la pela janela com o objetivo de ocultar crime anteriormente cometido, segundo art. 121, § 2°, incisos III, IV e V. Além de fraude processual qualificada, por alterarem o local do crime com o objetivo de inovarem artificiosamente o estado do lugar e dos objetos ali existentes e, assim, induzir a erro o juiz e os peritos, causando efeito em processo penal, segundo art. 347º. Peço aos senhores do júri que decidam com base nos fatos e na razão, e não permitam que esses dois assassinos frios e calculistas fiquem impunes.
RÉPLICA
Senhoras e senhores do júri, peço encarecidamente que não caiam nas artimanhas elaboradas pela defesa. O seio familiar é a instituição mais nobre e importante para a formação de um ser humano. E, ao contrário do exposto pelo senhor Leonardo, o seio familiar dos Nardoni era marcado por brigas, desafetos, inveja e agressões. O ponto alto de todo este turbilhão de fatos consumou-se no assassinato a sangue frio de uma criança pelo seu PRÓPRIO PAI. 
Como evidenciado pela perita convocada para prova testemunhal, está explícito que o autor do crime foi Alexandre, e que este, auxiliado por sua companheira e alguns familiares, tentou alterar a cena do delito, com evidente intenção de não se tornar suspeito. Percebam, senhores jurados, o caráter deste indivíduo em questão. Não podemos aceitar, de forma alguma, que estes dois criminosos permaneçam soltos.
Portanto, senhores, reafirmo que os réus Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá devem ser indiciados pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, segundo art. 121, § 2°, incisos III, IV e V. do CP e fraude processual qualificada, segundo o artigo 347 deste mesmo código.

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