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MATERIAL DE APOIO CURSO TÉCNICO EM SEGURANÇA DO TRABALHO COLÉGIO ESTADUAL REINALDO SASS DOENÇAS OCUPACIONAIS PROF. JOÃO GABRIEL ROSSI DE OLIVEIRA 07/08/2016 1 Binômio Saúde-Doença: Definição e distinção dos conceitos de saúde e doença Prof. Enf. João Gabriel Rossi de Oliveira O QUE É SAÚDE? 07/08/2016 2 Saúde, em português, deriva de salude, vocábulo do século XIII (1204), em espanhol salud (século XI), em italiano salute, e vem do latim salus (salutis), com o significado de salvação, conservação da vida, cura, bem-estar. Em seu plural de origem, o termo ‘saúde’ designa, portanto, uma afirmação positiva da vida e um modo de existir harmônico, não incluindo em seu horizonte o universo da doença. Em 1946, a organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não consistindo de apenas ausência de doenças ou enfermidade. Em 1984, o mesmo organismo modificou/acrescentou ao conceito, a condição em que um indivíduo ou grupo de indivíduos é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades ou mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um conceito positivo, enfatizando recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aptidões físicas. 07/08/2016 3 07/08/2016 4 DOENÇA alteração do estado de saúde; disfunção fisiológica ou psicológica de um indivíduo; perturbação das funções normais de um ou de vários órgãos cuja etiologia pode ser conhecida ou não, traduzindo-se em manifestações clínicas (sinais e sintomas). 07/08/2016 5 07/08/2016 6 07/08/2016 7 07/08/2016 8 07/08/2016 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE DOENÇAS OCUPACIONAIS .................................... 7 1.1 Definição e Conceito ......................................................................................................................................................7 1.2 Histórico ..............................................................................................................................................................................7 1.3 A Relação entre Doenças e os Riscos Ocupacionais ...........................................................................................8 1.4 A Atenção à Saúde dos Trabalhadores .................................................................................................................10 1.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................12 1.6 Atividade Proposta .......................................................................................................................................................12 2 DOENÇAS OCUPACIONAIS ........................................................................................................... 13 2.1 Doenças Infecciosas e Parasitárias Relacionadas ao Trabalho.....................................................................14 2.2 Doenças Neoplásicas Relacionadas ao Trabalho ..............................................................................................16 2.3 Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas Relacionadas ao Trabalho ........................................18 2.4 Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados ao Trabalho ..................................................19 2.5 Doenças do Sistema Nervoso Relacionadas ao Trabalho..............................................................................23 2.6 Doenças dos Olhos e Anexos Relacionadas ao Trabalho ..............................................................................25 2.7 Doenças do Ouvido Relacionadas ao Trabalho.................................................................................................26 2.8 Doenças do Sistema Circulatório Relacionadas ao Trabalho .......................................................................27 2.9 Doenças do Sistema Respiratório Relacionadas ao Trabalho ......................................................................29 2.10 Doenças do Sistema Digestivo Relacionadas ao Trabalho .........................................................................32 2.11 Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo Relacionadas ao Trabalho ...................................................33 2.12 Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo Relacionadas ao Trabalho ..............36 2.13 Resumo do Capítulo .................................................................................................................................................41 2.14 Atividade Proposta ....................................................................................................................................................42 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 43 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 45 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 47 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 INTRODUÇÃO O estudo das doenças ocupacionais na formação educacional do Tecnólogo em Segurança do Tra- balho constitui importante procedimento aos objetivos de suas atividades. O reconhecimento das principais moléstias relacionadas ao trabalho, suas características e causas, possibilita fundamentalmente a instalação das medidas profiláticas e preventivas necessárias, promo- vendo assim a integridade à saúde dos trabalhadores. O conjunto dos profissionais formadores dos serviços especializados em segurança e medicina do trabalho deve, por conceito, atuar de forma coesa, colaborativa e criteriosa. As orientações por eles dadas e suas ações devem atingir da organização administrativa da empresa ao mais humilde colaborador, pos- sibilitando a todos compreensão e conhecimento sobre o ambiente laboral, seus riscos, as técnicas para seu controle ou neutralização e a importância da anuência dos empregadores e empregados às medidas técnicas e legais a serem empreendidas, pois o convencimento e participação advém primordialmente do “entender”. É absolutamente crucial que o profissional da área de saúde e segurança atue como elemento di- vulgador de conhecimento e que saiba “traduzir” informações técnicas de maneira a que se tornem com- preensíveis a todos, determinando assim condição indispensável ao sucesso de seu trabalho. Dentro desse mesmo contexto, não se espera que o estudo das doenças ocupacionais possibilite habilidades outras que não os de prover o tecnólogo do entendimento das razões de algumas de suas próprias ações e de efetivamente contribuir com o serviço médico, permitindo que cada profissional tra- balhe dentro de suas áreas respectivas e pertinentes, contudo otimizadas pelo apoio mútuo. Este trabalho obviamente não possui a pretensão de esgotar tão vasto tema, mas objetiva consti- tuir um instrumento norteador, visando basicamente o estudo das situações mais comumente encontra- das dentro da rotina operacional do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) e situações práticas em que podem ser empregados seus postulados. Ao apresentar sugestões de leituras complementares, bibliografia recomendada e mesmo sites para pesquisa, assume seu caráter instrucional visando também constituir material de consulta e orien- tação àqueles que desejem aprofundar-se nos tópicos formadores deste trabalho, que em última análise deve ser entendido como suporte a mais importante virtude de qualquer profissional: conhecimento! José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância |www.unisa.br 7 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE DOENÇAS OCUPACIONAIS1 Prezado(a) aluno(a), neste capítulo estuda- remos as definições de doenças ocupacionais, o histórico evolutivo de seus estudos e seus princi- pais pesquisadores e os princípios teóricos de al- guns tipos de doenças. Vamos ao estudo! Doença Ocupacional, portanto, pode ser conceituada como sendo o mal proveniente ou 1.1 Definição e Conceito DicionárioDicionário Doença: (do latim Dolentia, de dolere, sentir dor, so- frer), significa falta ou perturbação da saúde, mal, achaque, incômodo, sofrimento físico ou mental, e pode também ser entendida como Moléstia ou Enfermidade. Ocupacional: (do latim Occupatio, occupationis, efeito de ocupar), significa ação de ocupar-se; tra- balho ou afazeres com que nos ocupamos, empre- go, profissão, ofício. relacionado aos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho. Trabalhadores são todos os homens e mu- lheres que exercem atividades para sustento pró- prio e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua inserção no mercado de trabalho. Doença Ocupacional pode ser classifica- da quanto aos riscos ocupacionais a elas direta- mente relacionados, quanto aos sistemas do or- ganismo humano que acometem, quanto à sua prevalência e gravidade, etiologia, tratamento, entre outros, permitindo considerações técnico- -científicas para sua prevenção e controle. O estudo das doenças ocupacionais se con- funde com a história da medicina do trabalho, que tem em Bernardino Ramazzini seu patrono. No século XVII, escreve em relação ao traba- lho como fonte de doenças: “A natureza impõe ao gênero humano a necessidade de prover a vida diária através do trabalho.” (RAMAZZINI, 1992). Dessa necessidade surgiram todas as artes, como as mecânicas e as liberais, que não são des- providas de perigos, como, aliás, todas as coisas 1.2 Histórico humanas. É forçoso confessar que ocasionam não poucos danos aos artesãos certos ofícios que eles desempenham. “Onde esperam obter recursos para sua própria manutenção e a da família, en- contram graves doenças e passam a amaldiçoar a arte à qual se haviam dedicado.” (RAMAZZINI, 1992). A obra de Ramazzini foi fundamentada no estudo das 54 profissões conhecidas à sua épo- ca; considerando o volume atual da Classificação José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 Brasileira de Ocupações, editado pelo Ministé- rio do Trabalho, onde se encontram catalogadas mais de duas mil ocupações, sem dúvida vislum- bramos um imenso território propício ao apareci- mento de toda sorte de agravos à saúde dos mi- lhões de trabalhadores (NICOLETTI). A Medicina do Trabalho como especialida- de médica surge na Inglaterra, na primeira meta- de do século XIX, com a Revolução Industrial. Em 1830, é implantado na fábrica têxtil de Robert Dernham, o primeiro serviço de medicina do trabalho, através da contratação do médico Dr. Robert Baker. As expectativas quanto às finalidades de tais serviços podem assim ser resumidas: �� deveriam ser serviços dirigidos por pes- soas de inteira confiança do empresário e que se dispusessem a defendê-lo; �� deveriam ser serviços centrados na fi- gura do médico; �� a prevenção dos danos à saúde resul- tantes dos riscos do trabalho deveria ser tarefa eminentemente médica; �� a responsabilidade pela ocorrência dos problemas de saúde ficava transferida ao médico. Os serviços implantados a partir desse mo- delo se expandem rapidamente, paralelamente ao processo de industrialização e transnacionali- zação da economia, impulsionado também pela fragilidade ou inexistência dos sistemas de assis- tência à saúde (seguro social, saúde pública e fi- lantrópica); e como instrumento de criar e manter a dependência do trabalhador (e, frequentemen- te, também de seus familiares), ao exercício direto do controle da força de trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1919, preocupada em prover serviços médicos aos trabalhadores, determina através da Recomendação 97 (1953), sobre a “Pro- teção da Saúde dos Trabalhadores”, instando aos Países Membros da OIT que fomentassem a for- mação de médicos do trabalho qualificados e o estudo da organização de “Serviços de Medicina do Trabalho”. Atribuí-se à Medicina do Trabalho a tarefa de “contribuir ao estabelecimento e manutenção do nível mais elevado possível do bem-estar físico e mental dos trabalhadores”. Essa visão do papel da medicina fica exem- plificada no discurso de Selby, em 1939, quando ao tratar da finalidade e da organização dos ser- viços médicos da empresa, afirma: “It is the plant physician’s privilege and duty to cooperate [...] to conserve human values [...]” (MENDES; DIAS). Laudos Ambiente-Laborais e PPRA Agora analisaremos a relação entre o am- biente ocupacional e a relação com as doenças de trabalho. Isso é importante, pois a análise do ambiente de trabalho; a identificação dos riscos ocupacionais; a pesquisa sobre os limites de tole- rância à toxicidade dos produtos químicos e das matérias primas utilizadas nas linhas de produ- ção; a análise da organização e, mais recentemen- te, das questões ergonômicas permitem retratar de maneira cada vez mais fidedigna o ambiente 1.3 A Relação entre Doenças e os Riscos Ocupacionais laboral e, assim, com considerável eficiência ante- ver situações de risco e sua respectiva prevenção e controle. Os avanços tecnológicos determinam a dis- ponibilização de instrumental mensurador que viabiliza registros técnicos das condições ambien- tais e a manutenção de níveis seguros. A elaboração desses registros na forma de laudos técnicos e programas são previstos em nossa atual legislação e constituem o cerne das ações médicas ocupacionais. Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 Atualmente o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) é o principal docu- mento na elaboração do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), que por sua vez possibilita o enquadramento ao direito da aposentadoria es- pecial (vide IN 118 / INSS). É pelo conjunto desses registros técnicos que se alcançam as informações necessárias à prevenção dos riscos ocupacionais e das possí- veis doenças deles decorrentes, como bem se destaca no capítulo 9.3 da NR 9 (PPRA), do Desen- volvimento do PPRA, parágrafo 9.3.3, alínea g, os possíveis danos à saúde relacionados aos riscos identificados, disponíveis na literatura técnica; ou ainda pelos ditames da formação do Laudo Ergo- nômico, conceitualmente relacionados aos Dis- túrbios Osteomusculares Relacionados ao Traba- lho, conjunto de agravos notadamente indicados estatisticamente como os principais responsáveis pelo absenteísmo no Brasil e no mundo, de acor- do com a Organização Mundial da Saúde (OMS) – OIT. Assim, através dos riscos ambientais – di- vididos em físicos, químicos, biológicos, ergonô- micos e mecânicos – ou de acidentes, especifi- camente descritos no quadro a seguir, por seus respectivos agentes nocivos, pode-se relacionar os agravos à saúde do trabalhador com os riscos correspondentes. AtençãoAtenção O PPRA está vinculado ao PCMSO, pois ambien- tes de riscos não controlados irão gerar trabalha- dores doentes e/ou acidentados. RISCOS FÍSICOS RISCOS QUÍMICOS RISCOS BIOLÓGICOS RISCOS ERGONÔMICOS RISCOS MECÂNICOS Ruído Poeiras Vírus Esforço físico intenso Arranjo físico inadequado Vibrações Fumos Bactérias Levantamento, transporte manual de peso Máquinas e equipamentos sem proteção Radiações Ionizantes Neblina Protozoários Exigência de postura inadequada Ferramentas inadequadas ou defeituosas Radiações Não Ionizantes Névoa Fungos Controle rígido de produção Iluminação inadequada Frio Gases Parasitas Imposição de ritmos excessivos Eletricidade Calor Vapores Bacilos Trabalho em turno e noturno Probabilidade de incêndio e explosão Pressões Anormais Substâncias compostas, ou produtos químicos em geral Jornadas de trabalho prolongadas Armazenamentoinadequado Umidade Monotonia e repetitividade Animais peçonhentos Outras situações causadoras de stress físico ou psíquico Outras situações de risco que poderão contribuir para ocorrência de acidentes José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 Programa de Controle Médico de Saúde Ocu- pacional (PCMSO) O PCMSO é o principal programa de ações de saúde ao trabalhador, nele devem estar con- templadas todas as informações ambientais, pre- viamente consideradas para sua elaboração, que se encontra devidamente indicada na Norma Re- gulamentadora 7 (Portaria nº 3.214 de 8 de junho de 1978). A construção do PCMSO deve obrigatoria- mente estar sob responsabilidade do coordena- dor, profissional Médico do Trabalho, conhecedor do ambiente de trabalho, sua organização, carac- terísticas e peculiaridades, que deverá indicar as ações de prevenção, controle e promoção da saú- de do conjunto dos trabalhadores de acordo com os preceitos éticos e legais vigentes, que, entre outros, prevê exames de monitoramento biológi- co e sua respectiva periodicidade. As doenças ocupacionais, ou as condições que as predispõem, devem ser identificadas na intenção de sua prevenção, contudo essa situa- ção não isenta o procedimento investigatório ou monitoramento biológico individual, na detec- ção precoce das moléstias, mesmo que em suas formas subclínicas, e consecutivo tratamento, re- gistro e estudo pertinente (estatístico, etiológico, absenteísmo etc.). Toda doença ocupacional é de notificação compulsória através do Comunicado de Aciden- te de Trabalho (CAT), independente do nível de gravidade e de período de afastamento, deven- do ser encaminhado ao INSS em prazo máximo de 48 horas a partir de constatada. Esse mesmo documento (CAT), também está destinado ao co- municado dos acidentes típicos e dos de trajeto, conforme legislação previdenciária, destinada aos empregados em regime CLT. AtençãoAtenção A alta incidência de doenças do trabalho e aci- dentes relaciona-se a um ambiente de riscos não controlados. Relação PCMSO/PPRA. A atenção à saúde dos trabalhadores deve constituir a principal preocupação do SESMT, seja pela implantação das ações preventivas, de ma- nutenção e correção das condições ambientais e seus riscos, bem como nos procedimentos curati- vos das doenças e agravos instalados. Dentro do contexto legal que rege a forma- ção e o número de profissionais do SESMT, (NR 4), verifica-se que o número de profissionais médicos é bastante restrito, posto que um grande número de empresas não possui o grau de risco e o nú- mero de funcionários necessários a indicação de contratação desse profissional. Assim é bastante comum que se impute, por parte dos emprega- dores, ao Tecnólogo, ou Técnico de Segurança, decisões sobre procedimentos que deveriam ad- vir do profissional médico. Tais procedimentos 1.4 A Atenção à Saúde dos Trabalhadores persistem ainda hoje, frutos de desconhecimento ou de “adaptações” às necessidades legais exigi- das, economia dos empregadores na contratação dos médicos, e mesmo (infelizmente) por serviços de medicina do trabalho não confiáveis, que “ven- dem” laudos e programas sem sequer conhecer o ambiente de trabalho no qual deveriam atuar. Assim é importante ao profissional Tecnó- logo em Segurança no Trabalho, reconhecer si- tuações onde as limitações de suas ações possam colocar em risco a saúde dos trabalhadores, ou mesmo àquelas onde se verifique a importância da denuncia em prol das condições imprescindí- veis ao desenvolvimento do que se dispôs zelar. Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 O Trabalho como Agente Etiológico/Investiga- ção de Nexo Causal Estritamente relacionada à etiologia está a patogenia das doenças, isto é, o mecanismo pelo qual a causa agiu e como ela progrediu; a associa- ção de ambas nos mostra, então, porque e como o indivíduo adoeceu. Na prática médica a patoge- nia de cada moléstia possui muito mais valor do que a etiologia, porque geralmente não podemos atacar a causa depois que ela agiu, mas podemos influir no mecanismo de sua ação. DicionárioDicionário Etiologia: (Aetia: causas + Logus: estudo) é o capítu- lo da Patologia Geral que trata das causas das do- enças, a doutrina que estuda a soma dos conhe- cimentos relativos aos agentes responsáveis pelas doenças, conhecidas pela denominação geral de agentes mórbidos. AtençãoAtenção O trabalho pode ser uma fonte de saúde ou do- ença. Entretanto, o agente causal raramente tem valor absoluto, sendo que vários indivíduos ex- postos à ação de uma mesma causa, alguns ad- quirem a doença e outros não, uns apresentam um quadro grave enquanto outros o apresentam atenuado. Etapas da Investigação de Nexo Causal entre Doença e Trabalho Agora uma pergunta interessante: quais as etapas de investigação de nexo causal entre doença e trabalho? Esta é uma dúvida que afli- ge muitos representantes profissionais da área de segurança do trabalho. A seguir daremos um exemplo de como resolver tal situação. Vamos en- tão à leitura! Figura 1 – Etapas da investigação de nexo causal entre doença e trabalho. Fonte: Dias (2001). José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 Neste capítulo estudamos sobre as definições de doenças e doenças ocupacionais. Vimos ainda a evolução histórica desse conceito e seus principais pesquisadores, destacando-se Bernardino Ramazini. Vimos uma proposta de investigação de nexo causal entre o ambiente de trabalho e a gênese de doenças ocupacionais. www.abnt.org.br www.acgih.org www.mpas.gov.br www.saude.gov.br www.anamt.org.br www.met.gov.br www.oit.org www.fundacentro.gov.br www.osha.gov MultimídiaMultimídia 1.5 Resumo do Capítulo 1. Doença Profissional é aquela que... a) é produzida por trabalho peculiar a uma atividade. b) é desencadeada por condições especiais em que o trabalho é realizado. c) acomete somente trabalhadores de nível superior. d) não produz afastamento previdenciário. e) ocorre sempre em trabalhadores assalariados. 1.6 Atividade Proposta http://www.abnt.org.br http://www.acgih.org http://www.mpas.gov.br http://www.saude.gov.br http://www.anamt.org.br http://www.met.gov.br http://www.oit.org http://www.fundacentro.gov.br http://www.osha.gov Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 Ao iniciarmos a segunda parte desta apos- tila, veremos que o estudo das doenças ocupa- cionais dar-se-á de maneira a prover você de elementos específicos à sua atuação profissional, enfatizando os aspectos práticos para seu empre- go, como, por exemplo, a relação da doença com o risco ambiental e agente nocivo etiológico ocu- pacional. Atendendo às premissas de sua destinação, obviamente não são indicados conceitos apura- dos de tratamento ou de procedimentos médi- cos-especializados cuja ambientação médica as- sim o exigiria, contudo nela consta interessante indicação bibliográfica, para aqueles que no inte- resse da curiosidade ou do aprofundamento de seus estudos assim o queiram. O estudo das doenças impõe também, à luz de uma análise técnica e didática, conhecimento prévio de alguns conceitos básicos, critério indis- pensável à compreensão do conjunto de informa- ções em solução de continuidade no contexto de raciocínio lógico. Assim, é recomendável que os estudantes possuam alguns conhecimentos sobre termos a eles poucos usuais e que podem, por desconheci- dos, prejudicar a compreensão de textos e/ou sua interpretação. Abaixo estão indicados alguns desses ter- mos e sua significação literal: �� anamnese: conjunto de informações que permitem a análise da evolução de uma doença; �� absenteísmo: estatística a cerca da au- sência no trabalho; �� patologia: estudo da doença; DOENÇAS OCUPACIONAIS2 �� fisiologia: ramo da biologia que estuda o mecanismo de desenvolvimento de organismos vivos; �� patogenia: estudo do mecanismo de desenvolvimento dasdoenças; �� síndrome: conjunto de sinais e sinto- mas que caracterizam uma doença; �� etiologia: estudo da causa da doença; �� patognomônico: sinal e/ou sintoma que caracteriza especificamente uma doença; �� diagnóstico: conjunto de dados, sinais e sintomas em que se baseia a determi- nação de uma doença; �� sintoma: fenômeno ou mudança pro- vocada no organismo por uma doença, descrita pelo doente; �� sinal: marca, evidência objetiva de es- tado mórbido; �� profilaxia: conjunto de medidas ou método que visa evitar a instalação de doenças; �� quadro clínico: descrição das condi- ções gerais do doente ou doença. O Estudo das Doenças Ocupacionais O tratamento das doenças e dos agravos à saúde pode ser dividido em dois grandes grupos, quais sejam os preventivos e os curativos. Os tratamentos curativos são aqueles indi- cados quando a doença encontra-se já instalada, produzindo efeitos que determinam a interven- ção por meios médicos para sua remissão. José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 Os tratamentos curativos podem variar de acordo com a gravidade e o tempo da instalação dessa doença, do agente etiológico, do compro- metimento funcional e da intensidade dos sinto- mas. Os tratamentos medicamentosos, cirúrgi- cos, analíticos, ocupacionais e aqueles ditos alter- nativos constituem exemplos dos procedimentos curativos, sendo bastante comum (e aconselhá- vel) a associação desses tratamentos no combate às enfermidades. O tratamento preventivo é basicamente norteado pelo conceito de que a melhor maneira de se tratar uma doença é evitá-la, fazendo eco ao dito popular: é melhor prevenir do que remediar. O conjunto de métodos preventivos é com- posto por ações de natureza prática e teórica. A vacinação ou imunização é um exemplo de mé- todo preventivo, porém o elemento principal do arsenal preventivo é a conscientização pelo en- tendimento e informação. Se comparados entre si, evidenciaremos inúmeras vantagens na adoção do tratamento preventivo como estratégia administrativa no ambiente de trabalho. A adoção da profilaxia é indubitavelmente menos onerosa, sob vários as- pectos, que a determinação de procedimentos curativos. O controle do absenteísmo e a manu- tenção dos níveis de produção respectivos são somente alguns exemplos práticos de sua aplica- ção, isto para não citar os prejuízos de imagem, litígios trabalhistas, pagamento de indenizações, entre outros. O conhecimento e a educação são as bases primordiais do tratamento preventivo e é exa- tamente por esse contexto que o Tecnólogo de Segurança e Higiene do Trabalho deve nortear suas ações, promovendo a análise do ambiente laboral, identificando previamente seus possíveis riscos e situações inseguras, atuando de maneira efetiva no combate à instalação das doenças atra- vés de suas sugestões, orientações, fiscalizações, análises e, fundamentalmente, na divulgação de seu conhecimento. Como já havíamos comentado, é bastante importante que o profissional Tecnólogo de Se- gurança, conscientize-se que os distintos níveis intelectuais e sociais que compõem o universo dos trabalhadores em uma empresa, determine que suas explanações sejam por vezes diferen- ciadas para cada qual, permitindo que todos al- cancem a devida compreensão sobre o assunto em pauta, e dessa maneira angarie aliados ao seu intento. O convencimento do trabalhador e (muito importante) do empregador, pode muitas vezes impor a utilização de diferentes argumentos, e, como dever de ofício, o Tecnólogo terá que se ha- bituar a empregá-los de maneira clara, objetiva e acima de tudo fundamentado em bases científi- cas. O estudo das doenças ocupacionais cons- titui, portanto, elemento comprobatório da ne- cessidade da interação social do Tecnólogo como vetor de divulgação e propagador da promoção da saúde, no objetivo da defesa dos interesses da empresa e dos trabalhadores. AtençãoAtenção Uma boa investigação de doenças deve contem- plar também uma investigação do ambiente de trabalho onde o trabalhador está inserido. As doenças infecciosas e parasitárias rela- cionadas ao trabalho apresentam algumas carac- terísticas que as distinguem dos demais grupos: 2.1 Doenças Infecciosas e Parasitárias Relacionadas ao Trabalho �� os agentes etiológicos não são de natu- reza ocupacional; Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 �� a ocorrência da doença depende das condições ou circunstâncias em que o trabalho é executado e da exposição ocupacional, que favorece o contato, o contágio ou a transmissão. Os agentes etiológicos estão, geralmen- te, mencionados no próprio nome da doença e são comuns às doenças infecciosas e parasitárias não relacionadas ao trabalho. Os agentes etio- lógicos estão disseminados no meio ambiente, dependentes de condições ambientais e de sa- neamento e da prevalência dos agravos na po- pulação geral, vulneráveis às políticas gerais de vigilância e da qualidade dos serviços de saúde. A delimitação entre o ambiente de trabalho e o ambiente externo é frequentemente pouco pre- cisa. As consequências para a saúde da exposição do trabalhador a fatores de risco biológico pre- sentes em situações de trabalho incluem qua- dros de infecção aguda e crônica, parasitoses e reações alérgicas e tóxicas a plantas e animais. As infecções podem ser causadas por bactérias, vírus, riquétsias, clamídias e fungos. As parasito- ses estão associadas a protozoários, helmintos e artrópodes. Algumas dessas doenças infecciosas e parasitárias são transmitidas por artrópodes que atuam como hospedeiros intermediários. Di- versas plantas e animais produzem substâncias alergênicas, irritativas e tóxicas com as quais os trabalhadores entram em contato, diretamente, por poeiras contendo pelos, pólen, esporos, fun- gos ou picadas e mordeduras. Nos trabalhadores da saúde é importante a exposição direta ao pa- ciente e às secreções e fluidos biológicos. Muitas dessas doenças são originalmente zoonoses, que podem estar relacionadas ao trabalho. Entre os grupos mais expostos estão os trabalhadores da agricultura, da saúde (em contato com pacientes ou materiais contaminados) em centros de saúde, hospitais, laboratórios, necrotérios, em atividades de investigações de campo e vigilância em saú- de, controle de vetores e aqueles que lidam com animais. Também podem ser afetadas as pessoas que trabalham em habitat silvestre, como na silvi- cultura, em atividades de pesca, produção e ma- nipulação de produtos animais, como abatedou- ros, curtumes, frigoríficos, indústria alimentícia (carnes e pescados), e trabalhadores em serviços de saneamento e de coleta de lixo. Dada a amplitude das situações de exposi- ção e o caráter endêmico de muitas dessas doen- ças, torna-se, por vezes, difícil estabelecer a rela- ção com o trabalho. A prevenção das doenças infecciosas e pa- rasitárias relacionadas ao trabalho baseia-se nos procedimentos de vigilância em saúde do traba- lhador: vigilância epidemiológica de agravos e vigilância sanitária de ambientes e condições de trabalho; utilização de conhecimentos médico- -clínicos, de epidemiologia, higiene ocupacional, ergonomia, toxicologia, entre outras disciplinas; a percepção dos trabalhadores sobre seu trabalho e saúde; e as normas e regulamentos vigentes. Lista de Doenças Infecciosas e Parasitárias Re- lacionadas ao Trabalho, de acordo com a Por- taria/MS nº 1.339/1999 �� Tuberculose (A15- e A19.-); �� Carbúnculo (Antraz) (A22.-); �� Brucelose (A23.-); �� Leptospirose (A27.-); �� Tétano (A35.-); �� Psitacose, ornitose, doença dos tratado- res de aves (A70.-); �� Dengue (dengue clássico) (A90.-); �� Febre amarela (A95.-); �� Hepatites virais (B15- e B19.-); �� Doença pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) (B20- e B24.-); �� Dermatofitose (B35.-) e outras micoses superficiais (B36.-); �� Candidíase (B37.-); �� Paracoccidioidomicose (blastomicose sul americana, blastomicose brasileira,Doença de Lutz) (B41.-); �� Malária (B50- e B54.-); José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 �� Leishmaniose cutânea (B55.1) ou leish- maniose cutâneo-mucosa (B55.2). Obs.: Os códigos apresentados após a no- minação das doenças correspondem ao CID 10 (Código Internacional de Doenças). O termo tumores ou neoplasias designa um grupo de doenças caracterizadas pela perda de controle do processo de divisão celular, por meio do qual os tecidos normalmente crescem e/ou se renovam, levando à multiplicação celular desor- denada. A inoperância dos mecanismos de regu- lação e controle da proliferação celular, além do crescimento incontrolável, pode levar, no caso do câncer, à invasão dos tecidos vizinhos e à propa- gação para outras regiões do corpo, produzindo metástase. Apesar de não serem conhecidos todos os mecanismos envolvidos, estudos experimentais têm demonstrado que a alteração celular respon- sável pela produção do tumor pode se originar em uma única célula e envolve dois estágios. No primeiro, denominado de iniciação, mudanças irreversíveis (mutações) ocorrem no material genético da célula. No segundo estágio, denominado de promoção, mudanças intra e extracelulares permitem a proliferação da célula transformada, dando origem a um nódulo que, em etapas posteriores, pode se disseminar para regiões distintas do corpo. A oncogênese pode ser ativada por agentes ambientais, atuando sobre determinados genes, propiciando o desencadeamento e o crescimen- to dos tumores. Outros genes funcionam como supressores, regulando a proliferação normal das células. Os tumores são desenvolvidos quando esse equilíbrio é rompido por influência de fa- tores endógenos ou genéticos e/ou exógenos e ambientais. Considera-se que o processo de carci- nogênese é multifatorial. Entre os fatores envolvi- dos está a predisposição genética ou induzida por fatores secundários, ambientais ou virais. Rompi- dos os mecanismos de defesa, após um tempo variável, a lesão pré-cancerosa torna-se um tumor maligno, invasivo. 2.2 Doenças Neoplásicas Relacionadas ao Trabalho O câncer pode surgir como consequência da exposição a agentes carcinogênicos presentes no ambiente onde se vive e trabalha, decorrentes do estilo de vida e de fatores ambientais produzi- dos ou alterados pela atividade humana. Segun- do dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA, 1995), estima-se que 60 a 90% dos cânceres sejam devidos à exposição a fatores ambientais. Em cer- ca de 30% dos casos não tem sido possível iden- tificar a causa do câncer, sendo atribuída a fatores genéticos e mutações espontâneas. A grande variação observada nas estatís- ticas internacionais sobre a incidência de câncer fortalece a hipótese explicativa que atribui aos fatores ambientais a maior parcela de responsabi- lidade pela doença. Outra evidência importante refere-se à observação de que populações de mi- grantes passam a apresentar padrões de ocorrên- cia de câncer semelhantes ao do país de adoção. Também devem ser levadas em conta as diferen- ças genéticas entre as populações e as facilidades para o diagnóstico e registro das doenças. O período de latência é o tempo decorrido entre o início da exposição ao carcinógeno, que desencadeia a alteração celular e a detecção clí- nica do tumor. Tem duração variável, sendo geral- mente longa, de 20 a 50 anos, para tumores sóli- dos; ou curta, de 4 a 5 anos, para as neoplasias do sangue. Os longos períodos de latência dificultam a correlação causal ou o estabelecimento do nexo entre a exposição e a doença, particularmente no caso dos cânceres relacionados ao trabalho. Nos países desenvolvidos, que dispõem de estatísticas confiáveis, o câncer constitui a segun- da causa de morte na população adulta, sendo responsável por uma em cada cinco mortes. As informações disponíveis sobre a prevalência de câncer no Brasil são precárias e não refletem a Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 realidade. A doença representa a segunda maior causa de morte na população brasileira acima dos 40 anos, sendo o câncer de pulmão o mais preva- lente entre os homens. Entre as neoplasias malignas prevalentes e mortais, no Brasil, estão as de mama, colo uterino, estômago, pulmão, cólon/reto, próstata e esôfa- go. Na sua maioria, resultam da agressão direta de fatores do meio externo ou de estímulo hormonal constante, que podem ser prevenidos ou detec- tados e tratados com êxito em fases precoces. A respeito dos agentes causadores de cân- cer, de modo geral, as informações baseiam-se em estudos epidemiológicos em animais e in vi- tro. Existem várias classificações dos produtos e ocupações considerados cancerígenos. Com base nessa classificação, a Internatio- nal Agency for Research on Cancer (IARC) já com- provou ou considera suspeitos de carcinogênese cerca de dois mil fatores de risco, que podem ser classificados em dois grandes grupos: �� GRUPO 1: inclui fatores genéticos, que explicam as diferentes suscetibilidades entre os indivíduos e a maior suscetibili- dade em um mesmo grupo familiar; �� GRUPO 2: inclui fatores ambientais, que consideram hábitos como o tabagismo, dietas ricas em gorduras saturadas, ál- cool, exposição solar excessiva, hábitos sexuais e de higiene pessoal, e outros fatores sobre os quais os indivíduos não detêm controle, como as exposições ocupacionais. As estimativas sobre a contribuição dos fatores ocupacionais no desencadeamento dos cânceres variam entre 4 e 25%. A partir do clássico estudo de Percival Pott, no século XVIII, descre- vendo o câncer de escroto em limpadores de cha- miné, inúmeros outros trabalhos têm demons- trado uma maior frequência de determinadas patologias em grupos populacionais específicos. Estima-se que em países industrializados cerca de 9% dos cânceres que atingem homens são decor- rentes de exposição ocupacional. Estima-se que existam cerca de 600.000 substâncias químicas conhecidas, das quais 50.000 a 70.000 têm uso industrial, e que cerca de 3.000 novos produtos químicos sejam colocados no mercado por laboratórios e centros de pes- quisa, a cada ano, sem que se conheçam perfei- tamente seus efeitos tóxicos sobre a saúde e seu potencial cancerígeno. Os cânceres relacionados ao trabalho dife- rem de outras doenças ocupacionais, entre ou- tros, pelos seguintes aspectos: �� a despeito da legislação brasileira e de outros países estabelecerem limites de tolerância para diversas substâncias carcinogênicas, segundo o preconizado internacionalmente, não existem níveis seguros de exposição; �� existem muitos tipos de cânceres; �� os cânceres, em geral, desenvolvem-se muitos anos após o início da exposição, mesmo após a cessação da exposição. Os cânceres ocupacionais não diferem, em suas características morfológicas e histológicas, dos demais cânceres. Em geral, existem exposições combinadas e/ou concomitantes. Por outro lado, têm em co- mum com outras doenças ocupacionais a dificul- dade de relacionar as exposições à doença e o fato de que são, em sua grande maioria, preveníveis. Dessa forma, a vigilância efetiva do câncer ocupacional é feita sobre os processos e ativida- des do trabalho com potencial carcinogênico, ou seja, dos riscos ou das exposições. A vigilância de agravos ou efeitos para a saúde busca a detecção precoce de casos e a investigação da possível re- lação com o trabalho para a identificação de me- didas de controle e intervenção. A vigilância da saúde, no que se refere aos cânceres relacionados ao trabalho, consiste, ba- sicamente, na vigilância dos ambientes e condi- ções de trabalho e na vigilância dos efeitos ou danos à saúde. Baseia-se em conhecimentos clí- nicos, epidemiológicos, da higiene do trabalho, José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 18 ergonomia, toxicologia, psicologia, entre outras disciplinas, na percepção dos trabalhadores so- bre seu trabalho e saúde e nasnormas técnicas e regulamentos vigentes. Lista de Neoplasias (Tumores) Relacionadas ao Trabalho, de acordo com a Portaria/MS nº 1.339/1999 �� Neoplasia maligna do estômago (C16.-); �� Angiossarcoma do fígado (C22.3); �� Neoplasia maligna do pâncreas (C25.-); �� Neoplasia maligna da cavidade nasal e dos seios paranasais (C30- e C31.-); �� Neoplasia maligna da laringe (C32.-); �� Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão (C34.-); �� Neoplasia maligna dos ossos e cartila- gens articulares dos membros (inclui Sarcoma Ósseo) (C40.-); �� Outras neoplasias malignas da pele (C44.-); �� Mesoteliomas (C45.-): da pleura (C45.0), do peritônio (C45.1) e do pericárdio (C45.2); �� Neoplasia maligna da bexiga (C67.-); �� Leucemias (C91- e C95.-). Os efeitos ou danos sobre os sistemas en- dócrino, nutricional e metabólico, decorrentes da exposição ambiental e ocupacional a substâncias e agentes tóxicos são, ainda, pouco conhecidos. Porém, ainda que necessitando de estudos mais aprofundados, as seguintes situações de traba- lho são reconhecidas como capazes de produzir doenças: �� utilização de ferramentas vibratórias, como os marteletes pneumáticos. As- sociado à síndrome de Raynaudg, uma doença vascular periférica, tem sido observado o comprometimento dos sistemas endócrino e nervoso central expresso por disfunção dos centros ce- rebrais autônomos, que necessita ser melhor avaliado; �� extração e manuseio de pedra-pomes, provocando deficiência adrenal; �� produção e uso de derivados do áci- do carbâmico (carbamatos), utilizados como pesticidas, herbicidas e nemato- 2.3 Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas Relacionadas ao Trabalho cidas. Os tiocarbamatos são utilizados, também, como aceleradores da vulca- nização e seus derivados empregados no tratamento de tumores malignos, hipóxia, neuropatias e doenças provo- cadas pela radiação. Por mecanismo endócrino, são mutagênicos e embrio- tóxicos; �� em expostos ao chumbo tem sido ob- servada forte correlação inversa entre a plumbemia e os níveis de vitamina D, alterando a homeostase extra e intrace- lular do cálcio e interferindo no cresci- mento e maturação de dentes e ossos. Também tem sido descrita a ocorrência de hipotireoidismo decorrente de um acometimento da hipófise; �� a exposição ao dissulfeto de carbono (CS2) é reconhecida por seus efeitos so- bre o metabolismo lipídico, acelerando o processo de aterosclerose (também conhecida como arteriosclerose). Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 A literatura especializada tem dado des- taque ao papel desempenhado por certas subs- tâncias químicas sintéticas, os disruptores endó- crinos, que interferem nos hormônios naturais, nos neurotransmissores e nos fatores de cresci- mento, produzindo doenças, muitas vezes, de difícil reconhecimento. Por exemplo, a exposição intrauterina ao dietilestilbestrol (DES), um hormô- nio sintético, pode levar a alterações no aparelho reprodutor das mulheres, como a cornificação do epitélio vaginal, adenocarcinoma de células claras vaginais e outros problemas para a repro- dução, que somente serão identificados na idade adulta. Outros efeitos dos disruptores endócrinos – entre eles redução do quociente de inteligência (QI), alterações comportamentais e imunológi- cas, doença tireoidiana e alterações do aparelho reprodutor, como hipospadia, criptorquidismo, câncer testicular, qualidade do sêmen e conta- gem de espermatozoides – poderão permanecer sem diagnóstico e/ou sem nexo com a exposição prévia ao longo da vida dos indivíduos acometi- dos. É importante lembrar que um contaminan- te pode interferir na homeostase de mais de uma maneira e que, em certos casos, a toxicidade de- pende mais do tempo de exposição do que da dose. Os efeitos dos disruptores endócrinos du- rante o desenvolvimento significam um desafio para os profissionais por seu caráter insidioso e por, muitas vezes, agirem mais na redução das funções do que provocando uma doença propria- mente dita. Representa uma nova fronteira do co- nhecimento à qual os profissionais da Saúde do Trabalhador devem dar sua contribuição. A prevenção das doenças endócrinas, nutri- cionais e metabólicas relacionadas ao trabalho ba- seia-se nos procedimentos de vigilância dos agra- vos à saúde, dos ambientes e das condições de trabalho. Baseia-se em conhecimentos médico- -clínicos, epidemiológicos, de higiene ocupacio- nal, toxicologia, ergonomia, psicologia, entre ou- tras disciplinas, na percepção dos trabalhadores sobre o trabalho e a saúde e nas normas técnicas e regulamentos existentes, envolvendo: �� conhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde existam subs- tâncias químicas ou agentes físicos ou biológicos e fatores de risco decorren- tes da organização do trabalho, poten- cialmente causadores de doença; �� identificação dos problemas ou danos potenciais para a saúde, decorrentes da exposição aos fatores de risco identifi- cados; �� identificação e proposição de medidas de controle que devem ser adotadas para eliminação ou controle da exposi- ção aos fatores de risco e para proteção dos trabalhadores; �� educação e informação aos trabalhado- res e empregadores. Lista de Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas Relacionadas ao Trabalho, de acordo com a Portaria/MS nº 1.339/1999 �� Hipotireoidismo devido a substâncias exógenas (E03.-); �� Outras porfirias (E80.2). 2.4 Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados ao Trabalho Segundo estimativa da OMS, os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos men- tais graves, cerca de 5 a 10%. No Brasil, dados do INSS sobre a concessão de benefícios previden- ciários de auxílio-doença, por incapacidade para José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 o trabalho superior a 15 dias e de aposentadoria por invalidez, por incapacidade definitiva para o trabalho, mostram que os transtornos mentais, com destaque para o alcoolismo crônico, ocupam o terceiro lugar entre as causas dessas ocorrên- cias (MEDINA, 1986). Em nossa sociedade, o trabalho é mediador de integração social, seja por seu valor econômico (subsistência), seja pelo aspecto cultural (simbó- lico), tendo, assim, importância fundamental na constituição da subjetividade, no modo de vida e, portanto, na saúde física e mental das pessoas. A contribuição do trabalho para as alterações da saúde mental das pessoas dá-se a partir de ampla gama de aspectos: desde fatores pontuais, como a exposição a determinado agente tóxico, até a complexa articulação de fatores relativos à orga- nização do trabalho, como a divisão e parcela- mento das tarefas, as políticas de gerenciamento de pessoas e a estrutura hierárquica organizacio- nal. Os transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho resultam, assim, não de fatores isolados, mas de contextos de trabalho em interação com o corpo e aparato psíquico dos trabalhadores. As ações implicadas no ato de tra- balhar podem atingir o corpo dos trabalhadores, produzindo disfunções e lesões biológicas, mas também reações psíquicas às situações de traba- lho patogênicas, além de poderem desencadear processos psicopatológicos especificamente rela- cionados às condições do trabalho desempenha- do pelo trabalhador. Em decorrência do lugar de destaque que o trabalho ocupa na vida das pessoas, sendo fonte de garantia de subsistência e de posição social, a falta de trabalho ou mesmo a ameaça de per- da do emprego geram sofrimento psíquico, pois ameaçam a subsistência e a vida material do tra- balhador e de sua família. Ao mesmo tempo abala o valor subjetivo que a pessoa se atribui, geran- do sentimentos de menos-valia, angústia, inse- gurança, desânimo e desespero, caracterizando quadros ansiosos e depressivos. O atual quadro econômico mundial, em que as condições de in- segurança no emprego, subemprego e a segmen-tação do mercado de trabalho são crescentes, re- flete-se em processos internos de reestruturação da produção, enxugamento de quadro de funcio- nários, incorporação tecnológica, repercutindo sobre a saúde mental dos trabalhadores. O trabalho ocupa, também, um lugar fun- damental na dinâmica do investimento afetivo das pessoas. Condições favoráveis à livre utilização das habilidades dos trabalhadores e ao controle do trabalho pelos trabalhadores têm sido identifi- cadas como importantes requisitos para que o trabalho possa proporcionar prazer, bem-estar e saúde, deixando de provocar doenças. Por outro lado, o trabalho desprovido de significação, sem suporte social, não reconhecido ou que se consti- tua em fonte de ameaça à integridade física e/ou psíquica, pode desencadear sofrimento psíquico. Situações variadas, como um fracasso, um acidente de trabalho, uma mudança de posição (ascensão ou queda) na hierarquia, frequente- mente determinam quadros psicopatológicos di- versos, desde os chamados transtornos de ajusta- mento ou reações ao estresse até depressões graves e incapacitantes, variando segundo características do contexto da situação e do modo do indivíduo responder a elas. O processo de comunicação dentro do am- biente de trabalho, moldado pela cultura organi- zacional, também é considerado fator importante na determinação da saúde mental. Ambientes que impossibilitam a comunicação espontânea, a manifestação de insatisfações, as sugestões dos trabalhadores em relação à organização ou ao trabalho desempenhado provocarão tensão e, por conseguinte, sofrimento e distúrbios men- tais. Frequentemente, o sofrimento e a insatisfa- ção do trabalhador manifestam-se não apenas pela doença, mas nos índices de absenteísmo, conflitos interpessoais e extratrabalho. Os fatores relacionados ao tempo e ao ritmo de trabalho são muito importantes na determinação do sofrimen- to psíquico relacionado ao trabalho. Jornadas de trabalho longas, com poucas pausas destinadas ao descanso e/ou refeições de curta duração, em lugares desconfortáveis; turnos de trabalho noturnos, turnos alternados ou turnos iniciando Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 muito cedo pela manhã; ritmos intensos ou mo- nótonos; submissão do trabalhador ao ritmo das máquinas, sob as quais não tem controle; pressão de supervisores ou chefias por mais velocidade e produtividade causam, com frequência, quadros ansiosos, fadiga crônica e distúrbios do sono. Os níveis de atenção e concentração exi- gidos para a realização das tarefas, combinados com o nível de pressão exercido pela organização do trabalho, podem gerar tensão, fadiga e esgo- tamento profissional ou burnout (traduzido para o português como síndrome do esgotamento pro- fissional ou estafa). Estudos têm demonstrado que alguns me- tais pesados e solventes podem ter ação tóxica di- reta sobre o sistema nervoso, determinando dis- túrbios mentais e alterações do comportamento, que se manifestam por irritabilidade, nervosismo, inquietação, distúrbios da memória e da cogni- ção, inicialmente pouco específicos e, por fim, com evolução crônica, muitas vezes irreversível e incapacitante. Os acidentes de trabalho podem ter conse- quências mentais quando, por exemplo, afetam o sistema nervoso central, como nos traumatismos crânio-encefálicos com concussão e/ou contusão. A vivência de acidentes de trabalho que envol- vem risco de vida ou que ameaçam a integridade física dos trabalhadores determinam, por vezes, quadros psicopatológicos típicos, caracterizados como síndromes psíquicas pós-traumáticas. Por vezes, surgem síndromes relacionadas à disfun- ção ou lesão cerebral, sobrepostas a sintomas psíquicos, combinando-se ainda à deterioração da rede social em função de mudanças no pano- rama econômico do trabalho, agravando os qua- dros psiquiátricos. Contextos de trabalho particulares têm sido associados a quadros psicopatológicos específi- cos, aos quais são atribuídas terminologias espe- cíficas. Seligmann-Silva (1995) propõe uma carac- terização para alguns casos clínicos já observados. Um exemplo é o burnout, síndrome caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e au- todepreciação. Inicialmente relacionada a profis- sões ligadas à prestação de cuidados e assistência a pessoas, especialmente em situações economi- camente críticas e de carência, a denominação vem sendo estendida a outras profissões que en- volvem alto investimento afetivo e pessoal, em que o trabalho tem como objeto problemas hu- manos de alta complexidade e determinação fora do alcance do trabalhador, como dor, sofrimento, injustiça, miséria (SELIGMANN-SILVA, 1995). Ou- tro exemplo são as síndromes pós-traumáticas que se referem a vivências de situações traumáti- cas no ambiente de trabalho, nos últimos tempos cada vez mais frequentes, como, por exemplo, o grande número de assaltos a agências bancárias com reféns. A prevenção dos transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho baseia- -se nos procedimentos de vigilância dos agravos à saúde e dos ambientes e condições de trabalho. Utiliza conhecimentos médico-clínicos, epide- miológicos, de higiene ocupacional, toxicologia, ergonomia, psicologia, entre outras disciplinas, valoriza a percepção dos trabalhadores sobre seu trabalho e a saúde e baseia-se nas normas técni- cas e regulamentos vigentes. A definição de disfunção e incapacidade causada pelos transtornos mentais e do comporta- mento, relacionados ou não ao trabalho, é difícil. Os indicadores e parâmetros propostos pela As- sociação Médica Americana (AMA) organizam a disfunção ou deficiência causadas pelos transtor- nos mentais e do comportamento em quatro áreas: �� limitações em atividades da vida diá- ria: que incluem atividades como auto- cuidado, higiene pessoal, comunicação, deambulação, viagens, repouso e sono, atividades sexuais e exercício de ativi- dades sociais e recreacionais. O que é avaliado não é simplesmente o número de atividades que estão restritas ou pre- judicadas, mas o conjunto de restrições ou limitações que, eventualmente, afe- tam o indivíduo como um todo; �� exercício de funções sociais: refere-se à capacidade do indivíduo de interagir apropriadamente e comunicar-se efi- José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 cientemente com outras pessoas. Inclui a capacidade de conviver com outros, tais como membros de sua família, ami- gos, vizinhos, atendentes e balconistas no comércio, zeladores de prédios, mo- toristas de táxi ou ônibus, colegas de trabalho, supervisores ou supervisiona- dos, sem alterações, agressões ou sem o isolamento do indivíduo em relação ao mundo que o cerca; �� concentração, persistência e ritmo: também denominados capacidade de completar ou levar a cabo tarefas, esses indicadores ou parâmetros referem-se à capacidade de manter a atenção focali- zada o tempo suficiente para permitir a realização cabal, em tempo adequado, de tarefas comumente encontradas no lar, na escola ou nos locais de trabalho. Essas capacidades ou habilidades po- dem ser avaliadas por qualquer pessoa, principalmente se for familiarizada com o desempenho anterior, basal ou his- tórico do indivíduo. Eventualmente, a opinião de profissionais psicólogos ou psiquiatras, com bases mais objetivas, poderá ajudar a avaliação; �� deterioração ou descompensação no trabalho: refere-se a falhas repetidas na adaptação a circunstâncias estressan- tes. Frente a situações ou circunstâncias mais estressantes ou de demanda mais elevada, os indivíduos saem, desapa- recem ou manifestam exacerbações dos sinais e sintomas de seu transtorno mental ou comportamental. Em outras palavras, descompensam e têm dificul- dade de manter as atividades da vida diária, o exercício de funções sociais e a capacidade de completar ou levar a cabo tarefas. Aqui, situações de estres- se, comuns em ambientes de trabalho, podem incluiro atendimento a clientes, a tomada de decisões, a programação de tarefas, a interação com superviso- res e colegas. Os termos específicos da psicopatologia geral encontram-se de- finidos nos manuais de psiquiatria. Lista de Transtornos Mentais e do Comporta- mento Relacionados ao Trabalho, de acordo com a Portaria/MS n° 1.339/1999 �� Demência e outras doenças específicas classificadas em outros locais (F02.8); �� Delirium, não sobreposto à demência, como descrita (F05.0); �� Transtorno cognitivo leve (F06.7); �� Transtorno orgânico de personalidade (F07.0); �� Transtorno mental orgânico ou sinto- mático não especificado (F09.-); �� Alcoolismo crônico (relacionado ao tra- balho) (F10.2); �� Episódios depressivos (F32.-); �� Estado de estresse pós-traumático (F43.1); �� Neurastenia (inclui síndrome de fadiga) (F48.0); �� Outros transtornos neuróticos espe- cificados (inclui neurose profissional) (F48.8); �� Transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não orgânicos (F51.2); �� Sensação de estar acabado (síndrome de burnout, síndrome do esgotamento profissional) (Z73.0). Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 A vulnerabilidade do sistema nervoso aos efeitos da exposição ocupacional e ambiental a uma gama de substâncias químicas, agentes físi- cos e fatores causais de adoecimento, decorren- tes da organização do trabalho, tem ficado cada vez mais evidente, traduzindo-se em episódios isolados ou epidêmicos de doença nos trabalha- dores. As manifestações neurológicas das intoxi- cações decorrentes da exposição ocupacional a metais pesados, aos agrotóxicos ou a solventes orgânicos, e de outras doenças do sistema nervoso relacionadas às condições de trabalho, costumam receber o primeiro atendimento na rede básica de serviços de saúde. Quando isso ocorre, é ne- cessário que os profissionais que atendem a es- ses trabalhadores estejam familiarizados com os principais agentes químicos, físicos, biológicos e os fatores decorrentes da organização do traba- lho, potencialmente causadores de doença, para que possam caracterizar a relação da doença com o trabalho, possibilitando o diagnóstico correto e o estabelecimento das condutas adequadas. Entre as formas de comprometimento neurológico que podem estar relacionadas ao trabalho estão, por exemplo, ataxia e tremores semelhantes aos observados em doenças dege- nerativas do cerebelo (ataxia de Friedreich), que podem resultar de exposições ao tolueno, mercú- rio e acrilamida. Lesões medulares, semelhantes às que ocorrem na neurossífilis, na deficiência de vitamina B12 e na esclerose múltipla, podem ser causadas pela intoxicação pelo triortocresilfosfa- to. Manifestações de espasticidade, impotência e retenção urinária, associadas à esclerose múltipla, podem decorrer da intoxicação pela dietilamino- proprionitrila. A doença de Parkinson secundária, um distúrbio de postura, com rigidez e tremor, pode resultar de efeitos tóxicos sobre os núcleos da base do cérebro, decorrentes da exposição ao monóxido de carbono, ao dissulfeto de carbono e ao dióxido de manganês. Manifestações de com- 2.5 Doenças do Sistema Nervoso Relacionadas ao Trabalho pressão nervosa, como na síndrome do túnel do carpo, podem estar relacionadas ao uso de deter- minadas ferramentas e posturas adotadas pelo trabalhador no desempenho de suas atividades. Para o diagnóstico diferencial, a história ocupa- cional e um exame neurológico acurado são fun- damentais. De acordo com o critério adotado na organização desta apostila, utilizando a taxono- mia proposta pela CID-10, estão incluídas, neste item, algumas doenças consideradas no grupo LER/DORT: transtornos do plexo braquial, mono- neuropatias dos membros superiores e mononeu- ropatias dos membros inferiores. Os interessados nesse grupo de doenças devem consultar, tam- bém, o item que trata das Doenças do Sistema Os- teomuscular e do Tecido Conjuntivo Relacionadas ao Trabalho. Neste item serão apresentadas as doenças neurológicas reconhecidas como relacionadas ao trabalho pela Portaria/MS nº 1.339/1999. São descritos, de modo resumido, manifestações de neurotoxicidade, aspectos epidemiológicos, pro- cedimentos propedêuticos básicos, diagnóstico diferencial e condutas a serem adotadas para com o paciente e aquelas de vigilância em saúde do trabalhador. Considerando a especificidade da utilização da ressonância magnética, da tomografia com- putadorizada, dos estudos eletromiográficos, dos testes neurocomportamentais, bem como de outras condutas, os métodos propedêuticos de- verão ser assumidos pelo especialista em níveis mais complexos de atenção do sistema de saúde e fogem dos objetivos desta apostila. Entretanto, isso não diminui a responsabilidade e a necessi- dade de que os profissionais da atenção básica estejam capacitados a fazer o primeiro atendi- mento ao trabalhador, a estabelecer o diagnósti- co, ainda que presuntivo, e a encaminhar as ações decorrentes, no âmbito da vigilância e prevenção. Muitas vezes, deverão assumir, também, o acom- panhamento posterior do paciente. José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 As ações de controle médico visam identi- ficar a doença em seu estado latente, ou inicial, quando algum tipo de intervenção pode rever- ter ou diminuir a velocidade de instalação e pro- gressão dos processos patológicos. Devem ser realizados exames admissional e periódicos dos trabalhadores expostos, com utilização de ques- tionários padronizados e exame físico comple- mentares direcionados para a avaliação do siste- ma nervoso. Quanto à avaliação de deficiências ou dis- funções provocadas pelas doenças do sistema nervoso, os critérios propostos pela Associação Médica Americana (AMA), em seus Guides to the Evaluation of Permanent Impairment (1995), po- dem ser úteis se adaptados à realidade brasileira. Os indicadores e parâmetros utilizados pela AMA definem nove categorias de disfunção ou defi- ciência resultantes de distúrbios neurológicos: �� distúrbios da consciência e da atenção; �� afasia ou distúrbios da comunicação; �� estado mental e anormalidades das funções de integração; �� distúrbios emocionais ou comporta- mentais; �� tipos especiais de preocupação ou ob- sessão; �� anormalidades sensoriais ou motoras importantes; �� distúrbios dos movimentos; �� distúrbios neurológicos episódicos; �� distúrbios do sono. Lista de Doenças do Sistema Nervoso Relacio- nadas ao Trabalho, de acordo com a Portaria/ MS nº 1.339/1999 �� Ataxia cerebelosa (G11.1); �� Parkinsonismo secundário devido a ou- tros agentes externos (G21.2); �� Outras formas especificadas de tremor (G25.2); �� Transtorno extrapiramidal do movi- mento não especificado (G25.9); �� Distúrbios do ciclo vigília-sono (G47.2); �� Transtornos do nervo trigêmeo (G50.-); �� Transtornos do nervo olfatório (inclui anosmia) (G52.0); �� Transtornos do plexo braquial (síndro- me da saída do tórax, síndrome do des- filadeiro torácico) (G54.0); �� Mononeuropatias dos membros supe- riores (G56.-): síndrome do túnel do car- po (G56.0); outras lesões do nervo me- diano: síndrome do pronador redondo (G56.1); síndrome do canal de Guyon (G56.2); lesão do nervo cubital (ulnar): síndrome do túnel cubital (G56.2); ou- tras mononeuropatias dos membros superiores: compressão do nervo su- praescapular (G56.8); �� Mononeuropatias do membro inferior (G57.-): lesão do nervo poplíteo lateral (G57.3); �� Outras polineuropatias (G62.-): polineu- ropatia devida a outros agentes tóxicos (G62.2) e polineuropatia induzida pela radiação (G62.8); �� Encefalopatia tóxica aguda (G92.1). Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 O aparelho visual é vulnerável à ação de inú- meros fatores de risco para a saúde presentes no trabalho, como, por exemplo, agentes mecânicos (corpos estranhos, ferimentos contusos e cortan- tes); agentes físicos (temperaturas extremas, ele- tricidade,radiações ionizantes e não ionizantes); agentes químicos; agentes biológicos (picadas de marimbondo e pelo de lagarta); e sobre-esforço que leva à astenopia induzida por algumas ativi- dades de monitoramento visual. Os efeitos de substâncias tóxicas sobre o aparelho visual têm sido reconhecidos como um importante problema de saúde ocupacional. Se- gundo dados disponíveis, mais da metade das substâncias que constam da lista preparada pela American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH) tem um efeito potencialmente lesivo sobre o olho e seus anexos. Na medida em que são introduzidas novas substâncias nos pro- cessos produtivos, esse número tende a aumen- tar. Os acidentes oculares são muito comuns, representando cerca de 12% de todos os aciden- tes ocupacionais na Finlândia, 4% na França e 3% das ocorrências nos Estados Unidos da América. Na Inglaterra, em estudo multicêntrico recente, foram analisados 5.671 casos de acidentes ocu- lares, dos quais 70% ocorreram no local de tra- balho, atingindo homens adultos jovens na fase produtiva da vida. Aproximadamente 2,4 milhões de acidentes oculares ocorrem anualmente nos Estados Unidos, estimando-se entre 20.000 e 68.000 lesões graves, capazes de ameaçar a visão, exigindo cuidados hospitalares mais complexos. As manifestações variam da sensação de dor, desconforto e alterações na estética até os transtornos graves da função visual, temporários ou permanentes. Os mecanismos de resposta ocular aos trau- mas ou às agressões de agentes físicos e químicos são complexos e sua descrição pode ser encon- trada na bibliografia complementar recomen- 2.6 Doenças dos Olhos e Anexos Relacionadas ao Trabalho dada. De modo sintético, a área oftalmológica de atuação abrange a órbita, os anexos oculares (sobrancelhas, pálpebras, conjuntivas e aparelho lacrimal), o globo ocular com suas estruturas dos segmentos anterior (córnea, câmara anterior e posterior, íris, cristalino, corpo ciliar e malha tra- becular) e posterior (vítreo, coroide, retina e disco óptico), as estruturas vasculares, glandulares e as vias visuais, papilares, motoras e sensitivas. Cada uma dessas estruturas tem seu próprio meio quí- mico e físico e responde às agressões de modo característico e particular. Apesar dessa comple- xidade, é possível identificar três tipos básicos de resposta ocular às agressões: �� resposta primária no local da agressão (exemplo: alterações na córnea, em consequência de uma queimadura ou abrasão); �� resposta ocular inflamatória, mais tar- dia e generalizada; �� resposta ocular específica, geralmente característica, causada por certas subs- tâncias ativas sistemicamente, como, por exemplo, a neurite óptica associada à ingestão de metanol. Um grande número de substâncias quími- cas, que atua sistemicamente, pode afetar o olho em decorrência do número de estruturas envolvi- das e coordenadas para permitir a visão normal. Os mecanismos fisiopatológicos são variados, in- cluindo a ação dos asfixiantes químicos e físicos, agentes bloqueadores neuromusculares e toxi- nas neuro-oftalmológicas específicas. José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 Lista de Doenças do Olho e Anexos Relaciona- das ao Trabalho, de acordo com a Portaria/MS nº 1.339/1999 �� Blefarite (H01.0); �� Conjuntivite (H10); �� Queratite e queratoconjuntivite (H16); �� Catarata (H28); �� Inflamação coriorretiniana (H30); �� Neurite óptica (H46); �� Distúrbios visuais subjetivos (H53.-). As doenças otorrinolaringológicas relacio- nadas ao trabalho são causadas por agentes ou mecanismos irritativos, alérgicos e/ou tóxicos. No ouvido interno, os danos decorrem da exposição a substâncias neurotóxicas e fatores de risco de natureza física, como ruído, pressão atmosférica, vibrações e radiações ionizantes. Os agentes bio- lógicos estão, frequentemente, associados às oti- tes externas, aos eventos de natureza traumática e à lesão do pavilhão auricular. A exposição ao ruído, pela frequência e por suas múltiplas consequências sobre o organismo humano, constitui um dos principais problemas de saúde ocupacional e ambiental na atualidade. A Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR) é um dos problemas de saúde relacionados ao trabalho mais frequentes em todo mundo. Com base nas médias de limiares auditivos medidos para as fre- quências de 100, 2.000 e 3.000 Hz em trabalhado- res, nos Estados Unidos, a Occupation Safety and Health Administration (OSHA) estimou que 17% dos trabalhadores de produção no setor indus- trial daquele país apresentam, no mínimo, algum dano auditivo leve. Na Itália, há cerca de 10 anos, a PAIR é a doença ocupacional mais registrada, re- presentando 53,7% das doenças relacionadas ao trabalho. Por outro lado, estudos têm demonstra- do que os efeitos extra-auditivos da exposição ao ruído devem merecer uma atenção especial dos profissionais de saúde, em decorrência do amplo espectro das repercussões observadas. A investigação, a orientação terapêutica e a caracterização dos danos ao aparelho auditivo provocados pelas situações de trabalho, que in- 2.7 Doenças do Ouvido Relacionadas ao Trabalho cluem a exposição ao ruído, devem ser realizadas em centros especializados. Entretanto, os profissionais da atenção bá- sica devem estar capacitados a reconhecer suas manifestações para o correto encaminhamento do paciente. A prevenção das doenças do ouvido rela- cionadas ao trabalho está baseada nos procedi- mentos de vigilância em saúde do trabalhador: vigilância epidemiológica de agravos e vigilância sanitária de ambientes de trabalho. A avaliação das disfunções ou deficiências da audição está baseada no exame audiométrico, abrangendo, no mínimo, as frequências de 500, 1.000, 2.000 e 3.000 Hertz, complementado ou não por outros exames mais aprofundados, a cri- tério do especialista. Vários têm sido os critérios adotados para interpretar o significado de perda auditiva, dependendo da finalidade do exame: se para detecção precoce para fins de vigilância em saúde dos expostos; diagnóstico médico de doença; reparação por disfunção ou deficiência; reparação civil por incapacidade genérica para a vida, o lazer; e reparação por incapacidade para o trabalho (ver critérios de estagiamento previstos no Decreto nº 3.048/1999). A avaliação das disfunções vestibulares ou do equilíbrio, de acordo com os critérios da AMA, está baseada em cinco níveis ou graus de disfun- ção, a saber: �� CLASSE 1: (a) sinais de desequilíbrio vestibular estão presentes sem achados objetivos consistentes com estes sinais; Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 e (b) as atividades usuais da vida diária podem ser realizadas sem assistência; �� CLASSE 2: (a) sinais de desequilíbrio estão presentes, com achados objeti- vos consistentes com os sinais; e (b) as atividades usuais da vida diária são rea- lizadas sem assistência, exceto as ativi- dades complexas, tais como andar de bicicleta, ou outras atividades especí- ficas requeridas no trabalho, tais como andar em andaimes, operar guindastes etc.; �� CLASSE 3: (a) sinais de desequilíbrio vestibular estão presentes com acha- dos objetivos consistentes; e (b) as ati- vidades usuais do paciente em sua vida diária não podem ser realizadas sem as- sistência, exceto atividades muito sim- ples, tais como autocuidado, atividades domésticas, caminhar, viajar em veículo a motor dirigido por outra pessoa etc.; �� CLASSE 4: (a) sinais de desequilíbrio vestibular estão presentes, com acha- dos objetivos consistentes; e (b) as ati- vidades da vida diária não podem ser realizadas sem assistência, exceto auto- cuidado; �� CLASSE 5: (a) sinais de desequilíbrio vestibular estão presentes, com acha- dos objetivos consistentes com os si- nais; (b) as atividades da vida diária não podem ser realizadas sem assistência, exceto autocuidado que não requeira deambulação; e (c) é necessário o con- finamentodo paciente em casa ou em outro estabelecimento. Lista de Doenças do Ouvido Relacionadas ao Trabalho, de acordo com a Portaria/MS nº 1.339/1999 �� Otite média não supurativa (barotrau- ma do ouvido médio) (H65.9); �� Perfuração da membrana do tímpano (H72 ou S09.2); �� Outras vertigens periféricas (H81.3); �� Labirintite (H83.0); �� Perda da audição provocada pelo ruído e trauma acústico (H83.3); �� Hipoacusia ototóxica (H91.0); �� Otalgia e secreção auditiva (H92.-); �� Outras percepções auditivas anormais: alteração temporária do limiar auditivo, comprometimento da discriminação auditiva e hiperacusia (H93.2); �� Otite barotraumática (T70.0); �� Sinusite barotraumática (T70.1); �� Síndrome devida ao deslocamento de ar de uma explosão (T70.8). Apesar da crescente valorização dos fatores pessoais, como sedentarismo, tabagismo e dieta, na determinação das doenças cardiovasculares, pouca atenção tem sido dada aos fatores de ris- co presentes na atividade ocupacional atual ou anterior dos pacientes. O aumento dramático da ocorrência de transtornos agudos e crônicos do sistema cardiocirculatório na população faz com que as relações das doenças com o trabalho me- reçam maior atenção. 2.8 Doenças do Sistema Circulatório Relacionadas ao Trabalho Observa-se, por exemplo, que a literatura médica e a mídia têm dado destaque às relações entre a ocorrência de infarto agudo do miocárdio, doença coronariana crônica e hipertensão arte- rial com situações de estresse e a condição de de- semprego, entre outras. Nos Estados Unidos, estima-se que de 1 a 3% das mortes por doença cardiovascular este- jam relacionadas ao trabalho. Tem sido registrada José Milton Quesada Federighi Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 a associação entre baixos níveis socioeconômi- cos e educacionais e o aumento da incidência de doenças isquêmicas coronarianas atribuídas aos fatores psicossociais de estresse e aos fatores de risco pessoal, mas também a uma maior exposi- ção a agentes químicos, como solventes e fumos metálicos. No Brasil, as doenças cardiovasculares re- presentam a primeira causa de óbito, correspon- dendo a cerca de um terço de todas as mortes. A participação das doenças cardiovasculares na mortalidade do país vem crescendo desde mea- dos do século XX. Em 1950, apenas 14,2% das mortes ocorridas nas capitais dos estados brasi- leiros eram atribuídas a moléstias circulatórias. Passaram a 21,5% em 1960, 24,8% em 1970 e 30,8% em 1980. Em 1990, as doenças cardiovas- culares contribuíram com cerca de 32% de todos os óbitos nas capitais dos estados brasileiros. Além de contribuírem de modo destacado para a mortalidade, as moléstias do aparelho cir- culatório são causas frequentes de morbidade, implicando 10,74 milhões de dias de internação pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e representan- do a principal causa de gastos em assistência mé- dica, 16,2% do total (LOTUFO; LOLIO, 1995). Entre as causas de aposentadoria por invali- dez, os estudos disponíveis mostram que a hiper- tensão arterial destaca-se em primeiro lugar, com 20,4% das aposentadorias, seguida dos transtor- nos mentais (15%), das doenças osteoarticulares (12%) e de outras doenças do aparelho cardiocir- culatório, com 10,7%. Assim, as doenças cardio- vasculares ocupam o primeiro e o quarto lugar de todas as causas de aposentadoria por invalidez e, juntas, representam quase um terço de todas as doenças que provocam incapacidade laborativa total e permanente (MEDINA, 1986). As intervenções sobre a organização do tra- balho são mais eficazes, porém mais complexas, pois geralmente entram em conflito com as exi- gências da produção. Os profissionais de saúde e os responsáveis pelo gerenciamento de recursos humanos nas empresas têm sido desafiados a re- duzir o estresse, por meio de mudanças na forma de organização e gestão do trabalho. Com tal sen- tido, propõe-se: �� propiciar maior autonomia aos traba- lhadores sobre as formas de trabalhar; �� diminuir as pressões de ritmo e exigên- cias de produtividade sobre os traba- lhadores, com introdução de pausas em ambientes adequados; �� estabelecer o rodízio e enriquecimento das tarefas nos trabalhos monótonos, isolados e repetitivos; �� reduzir e/ou adequar os esquemas de trabalho e turno; �� aumentar a participação dos trabalha- dores nos processos de decisão e ges- tão; �� melhorar as relações interpessoais de trabalho, substituindo a competição pela cooperação. Também são importantes os procedimen- tos visando à identificação precoce dos proble- mas ou danos à saúde decorrentes da exposição aos fatores de risco e o desenvolvimento de ações de promoção da saúde para a formação de hábi- tos de vida mais saudáveis. Na atualidade, parti- cularmente no âmbito das grandes corporações, têm sido implementados programas denomina- dos de Promoção da Saúde e Qualidade de Vida, que buscam atuar sobre os fatores de estresse re- lacionado ao trabalho. Lista de Doenças do Sistema Circulatório Rela- cionadas ao Trabalho, de acordo com a Porta- ria/MS nº 1.339/1999 �� Hipertensão arterial (I10.-) e doença re- nal hipertensiva ou nefrosclerose (I12); �� Angina pectoris (I20.-); �� Infarto agudo do miocárdio (I21); �� Cor pulmonale SOE ou doença cardio- pulmonar crônica (I27.9); �� Placas epicárdicas ou pericárdicas (I34.8); �� Parada cardíaca (I46); �� Arritmias cardíacas (I49.-); Doenças Ocupacionais Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 �� Aterosclerose (I70.-) e doença aterosclerótica do coração (I25.1); �� Síndrome de Raynaud (I73.0); �� Acrocianose e acroparestesia (I73.8). O sistema respiratório constitui uma inter- face importante do organismo humano com o meio ambiente, particularmente com o ar e seus constituintes, gases e aerossóis, sob a forma líqui- da ou sólida. A poluição do ar nos ambientes de trabalho associa-se a uma extensa gama de doen- ças do trato respiratório que acometem desde o nariz até o espaço pleural. Entre os fatores que influenciam os efeitos da exposição a esses agen- tes estão as propriedades químicas e físicas dos gases e aerossóis e as características próprias do indivíduo, como herança genética, doenças pree- xistentes e hábitos de vida, como tabagismo. O diagnóstico das doenças respiratórias rela- cionadas ao trabalho baseia-se em: �� história clínica-ocupacional completa, explorando os sintomas respiratórios, si- nais clínicos e exames complementares, o estabelecimento da relação temporal adequada entre o evento e as exposi- ções a que foi submetido o trabalhador. Considerando a latência de certas pato- logias, como, por exemplo, as neoplasias de pulmão e pleura, são importantes as informações sobre a história ocupacio- nal do indivíduo e de seus pais, como no caso da exposição pregressa ao as- besto trazido do local de trabalho nos uniformes profissionais, contaminando o ambiente familiar. Também devem ser consideradas a manipulação de resinas, epóxi, massas plásticas, solda, madeiras alergênicas em atividades de lazer, hob- bies ou trabalho extra por conta própria (bicos, biscates), que podem esclarecer certos achados que não se explicam pela história ocupacional; 2.9 Doenças do Sistema Respiratório Relacionadas ao Trabalho �� informações epidemiológicas existen- tes e estudo do conhecimento disponí- vel na literatura especializada; �� informações sobre o perfil profissiográ- fico do trabalhador e sobre as avalia- ções ambientais, fornecidas pelo em- pregador ou colhidas em inspeção da empresa/local de trabalho; �� propedêutica complementar. Os exames complementares mais utilizados são: �� radiografia do tórax; �� provas de função pulmonar (espirome- tria, volumes pulmonares, difusão de CO2); �� broncoscopia com lavado broncoalveo- lar; �� biópsia; �� testes cutâneos, gasometria arterial, he- mograma, entre outros. O exame radiológico do tórax, no caso da suspeita de uma pneumoconiose, deve ser reali- zado e interpretado segundo os padrões estabe-
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