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O Contexto Histórico da Psicoterapia Infantil A Psicoterapia Infantil teve seu contexto histórico alicerçado pelas observações de Sigmund Freud ao seu neto Ernest no brincar com um carretel. A criança por meio do brinquedo lançava (fort) o objeto e depois puxava (da) em sua direção, novamente. Havia nesse movimento a expressão do que se passava internamente com ela para o espaço externo, ou seja, a elaboração da ansiedade vivida pela angustia de separação do menino de sua mãe, era dada de forma passiva para forma ativa, por meio do lançamento do brinquedo. De forma simbólica, a mãe que partia (carretel lançado para longe) para a que retornava (puxar o brinquedo). Freud descreve o pequeno garoto brincando da seguinte maneira: Esse bom menino, contudo, tinha um hábito ocasional e perturbador de apanhar quaisquer objetos que pudesse agarrar e atirá-los longe, para um canto, sob a cama, de maneira que procurar seus brinquedos e apanhá-los quase sempre dava um bom trabalho. Enquanto procedia assim, emitia um longo e arrastado “o-o-o-”, acompanhado por expressão de interesse e satisfação (...) O que ele fazia era segurar o carretel pelo cordão e com muita perícia arremessá-lo por sobre a borda de sua caminha encortinada, de maneira que aquele desaparecia por entre as cortinas, ao mesmo tempo que o menino proferia seu expressivo “o-o-o-ó”. Puxava então o carretel para fora da cama novamente, por meio do cordão, e saudava o seu reaparecimento com um alegre “da” (ali). Essa, então, era a brincadeira completa: desaparecimento e retorno. (1976, p.10) Apesar da criança não chorar com a partida da mãe, seu avô percebeu que ela transformou sua experiência em jogo. Chamando mais tarde, essa forma da criança não sofrer pelo movimento da mãe, de renúncia da satisfação instintual, pois Ernest organizava seu mundo de forma que era capaz de suportar sua angustia, enfraquecendo aquela emoção pelo brincar. Dá-se origem a psicoterapia infantil, segundo Freud, isso constitui prova convincente de que, mesmo sob a dominância do princípio de prazer, há maneiras e meios suficientes para tornar o que em si mesmo é desagradável num tema a ser rememorado e elaborado na mente. (1976, p.12). Foi em 1909 a realização da intervenção psicoterapêutica com o pequeno Hans, um menino de 05 anos, conduzida pelo próprio pai e supervisionada pelo Freud. Este foi considerado o primeiro trabalho em psicoterapia infantil (Castro, 2004, p. 30). Nesta psicoterapia o desenvolvimento fora realizado acerca da fobia de cavalos da criança tendo seu desfecho na compreensão de uma angustia de Hans ter medo ser castrado. A restrição dada aos cavalos remetia a restrição de liberdade e assim sua aproximação com a mãe. O trabalho de Freud não foi desenvolvido com crianças, mas fora percebido em suas obras em seus estudos acerca da psicanálise. [...] a criança que grita (1895) permite a Freud situar o desamparo humano e a experiência de satisfação que o encontro com o outro proporciona; a criança que sonha (1900) possibilita-lhe consolidar, mais uma vez, que o sonho é realização de desejo; a criança que brinca (1907) porta-se como o adulto que fantasia; a criança que investiga e teoriza sobre sua origem (1908) aponta para Freud que o esforço de saber dela surge das pulsões que a governa e não de uma capacidade inata de pensar; a criança que se angustia (1909) apresenta-lhe o lugar que ela ocupa na economia subjetiva do outro; a criança que repete situações desagradáveis (1920) leva-o a formular que, através do jogo, ela repete o que lhe causou grande impressão na vida, transformando a passividade em atividade [...] (MENDONÇA, 2013, p.55) As sucessoras dentro do contexto histórico da psicoterapia infantil seguindo a psicanálise de Freud, Melanie Klein e sua filha Anna Freud. O primeiro caso de Klein foi do menino Fritz apresentado como seu primeiro trabalho em 1919 para Sociedade Psicanalítica de Budapeste. O garoto tinha 5 anos e ela pôde se dedicar à analise com muita facilidade por ele ser de sua vizinhança e os pais serem de sua família (1921, p.16). Klein começou a trabalhar com crianças em 1919 e logo observou que, ao brincar, as crianças expressavam suas ansiedades e fantasias, dando acesso à sexualidade infantil e à agressividade: em torno dessas fantasias podia se instaurar uma relação transferencial-contratransferência entre a criança e o analista. Guiou-se pelo método de interpretação dos sonhos de Freud, dando significado ao brinquedo da criança, aplicando o princípio básico da associação livre (Lindon,1981). Como atendeu crianças pequenas e pré-verbais, compreendeu a força das fantasias inconscientes primitivas da mente infantil, que aparecem nas sessões através das personificações nos jogos. A personificação e a distribuição de papéis no ato de brincar, baseada nos mecanismos de dissociação e projeção, são o lastro para as transferências (1929/1981). Porém, suas ideias divergiram de Anna Freud. Para Klein o tratamento ocorreria com a criança como fundamental para sua vida, pois todas elas passavam por uma neurose infantil que diferia para Anna que acreditava que somente o tratamento pudesse ocorrer caso houvesse a manifestação da neurose que resultasse em seguida em sintomas. O debate estendeu-se por anos, sendo criadas divisões partidárias conhecidas como “A Psicologia das Relações Objetais” do movimento kleiniano e “Psicologia do Ego” de annafreudiano. Posteriormente, entre o que era considerado não somente uma produção de conhecimento e conteúdo no campo teórico da psicanalise, surge outros teóricos como, por exemplo Donald Woods Winnicott. Klein teve uma grande influência para ele acerca do pensamento do tratamento dos aspectos pré-edípicos da personalidade da criança. Anna Freud atendeu crianças de 6 a 12 anos; para ela as crianças possuíam uma ligação com os pais que não lhe davam espaços para desenvolvimento de neuroses infantis ou qualquer tipo de transferência e associações livres. Anna Freud temia a deterioração das relações da criança com seus pais se fossem analisados seus sentimentos negativos a respeito deles; então tentava manter uma situação positiva. As situações negativas seriam resolvidas por métodos não-analíticos (Ferro, 1995). Todos os estudos produzidos nesta trajetória foram de suma importância para a realização de condições essenciais para a psicoterapia infantil. Desde a compreensão da linguagem que elas utilizam no brincar, nas suas relações familiares, com contos de fadas e relações objetais que facilitam o psicoterapeuta analisar e intervir clinicamente no mundo que elas vivem de forma simbólica tanto de forma passiva e ativa com ele. O processo psicoterapêutico com crianças pode passar por abordagens psicológicas nos mais variados contextos, integrando de forma psicanalítica, fenomenológica, humanista ou comportamental. Salientando que nesses contextos as crianças não são trabalhadas isoladamente, a contribuições dos pais e responsáveis, assim como exploração dos ambientes que vivem em consonância com todo o conteúdo produto dentro do contexto histórico possibilitará um tratamento importante para elas. Figura 1: Retrato de Melanie Klein e Anna Freud Fonte: https://pensamentoliquido.com.br/diferencas-teoricas-anna-freud-x-melanie-klein/ acessado em 30/08/2021 https://pensamentoliquido.com.br/diferencas-teoricas-anna-freud-x-melanie-klein/ Referências bibliográficas BREUER, J. & FREUD, S. (1893-1895) “Estudos sobre a Histeria”. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, 1977, vol. 2. CASTRO, M. G. K. Reflexões acerca da prática da psicoterapia com criança: uma ponte entre passado, presente e futuro. Trabalho apresentado no V Congresso latino Americano de Psicoterapia. maio de 2004. Porto Alegre. FERRO, A. A técnica da psicanálise infantil:a criança e o analista: da relação ao campo emocional. Rio de Janeiro: Imago, 1995 FREUD, S. (1900). A Interpretação de Sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 2001. FREUD, S. (1909). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 10. Rio de Janeiro: Imago, 1990, p. 11-154. FREUD, S. (1920). Além do Princípio de Prazer. In: FREUD, S. Escritos sobre a psicologia do inconsciente. v. 2. Rio de Janeiro: Imago, 2006 KLEIN, M. (1948). The development of a child. In M. Klein, Contributions to psycho– analysis. London: Hogart Press. (Trabalho original publicado em 1921) KLEIN, M. Contribuições à psicanálise. São Paulo: Mestre Jou, 1981. MENDONÇA, Leila Guimarães Lobos de. De que sofrem as crianças, hoje? Leila Guimarães Lobo de Mendonça- Curitiba, PR: CRV, 2013. Modelo da questão: Escolher um item. Contexto Histórico da P. Infantil Complementação Múltipla Questão 1 O contexto histórico da psicoterapia infantil possui em seu campo de origem a psicanálise, partindo de Freud, dirigindo seus estudos em outros estudos acerca da mente humana adulta e posteriormente observando a constituição do individuo também a partir de sua infância, observando inicialmente seu neto, Ernest. Abriu-se então portas para outros teóricos futuramente como Melanie Klein, Anna Freud e Donald W. Winnicott. Acerca do trabalho de Freud e sua abertura dos estudos e intervenções clínicas no processo psicoterapêutico infantil, pode-se afirmar que: a) Freud concluiu seu pensamento sobre o brincar de seu neto Ernest com o carretel, como elaboração de sua ansiedade e angustia de forma simbólica da renúncia da satisfação instintual do mundo interno do menino para não sofrer a ida e partida da mãe. b) Freud realizou sua primeira intervenção no que diz respeito a psicoterapia infantil com o seu neto. c) Foi pelos estudos com as crianças que Freud foi desenvolvendo seus primeiros estudos sobre as instâncias da mente e depois deu-se início a compreensão dos estudos com as histéricas e o desenvolvimento de suas técnicas que deram corpo a psicanálise. d) Freud só conseguiu concluir a compreensão da relação passiva do que ocorria no mundo interno de seu neto para a ação ativa com o brinquedo quando conheceu Melanie Klein após muitos anos quando as ideias dela e de sua filha Anna Freud estavam sendo divergentes. e) Freud concluiu que Ernest sofria de uma neurose infantil que necessitava ser investigada clinicamente em seu contexto familiar junto à sua mãe. Foi a partir da conclusão desta observação que a origem da psicoterapia infantil ocorreu. Justificativa: (A) É possível afirmar que foi pela observação realizada de seu neto Ernest que Freud conseguiu perceber que a criança diminua sua ansiedade e angustia pelas idas e partidas de sua mãe pela sua elaboração com o brinquedo ao jogá-lo e busca-lo, constituindo o pensamento de renúncia de satisfação instintual.
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