Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SBCM II – Neurologia – Michelle Del Nery Neuropatia Periférica Paciente apresenta parestesia em um único território, mas com padrão migratório, característica de Neuropatia Periférica. Introdução As neuropatias periféricas, se referem às doenças que comprometem o sistema nervoso periférico (SNP) – o SNP é tudo aquilo vinculado ao sistema nervoso e que está fora da calota craniana ou fora da coluna vertebral. As neuropatias periféricas são síndrome (conjunto de sinais e sintomas) caracterizadas por disfunção dos nervos periféricos Acometem de 2 a 4% da população (idosos – 8%). Os idosos tem muito mais neuropatia pois tomam mais medicamentos, tem mais doenças autoimunes. É uma causa frequente de procura do neurologista, pois existe uma enorme gama de causas de neuropatia periférica como por exemplo a síndrome de guillan-barre, que pode ser causada por vírus, vacinas,. Também existem neuropatias genéticas, familiares, sensitivas, motoras, autonômicas. A mais comum é a neuropatia diabética. A neuropatia diabética está vinculada ao tempo de doença, e não ao controle da glicemia. Localização Os locais que podem ocorrer neuropatia periférica são: • Nervos cranianos (exceto o 1º par [olfatório] e o 2º par [óptico]) – são os únicos nervos cranianos que não saem da calota craniana. • Raízes nervosas sensitivas e motoras. • Plexos cervical / braquial / lombo sacral – são locais comum de lesões traumáticas. • Nervos espinais (31 pares, sendo 8C, 12T, 5L, 5S e 1C). • Sistema Nervoso Autônomo (SNA). Obs: os nervos após saírem da medula são considerados periféricos Classificação etiológica As polineuropatias podem ser adquiridas ou hereditárias. A maior parte das neuropatias é adquirida nos adultos. Sabe-se que, nas crianças, as hereditárias representam 85% (mais comum) e as adquiridas, 15% e nos adultos, tais dados se invertem. SBCM II – Neurologia – Michelle Del Nery Revisando: neuroanatomia A maior parte dos nervos periféricos são mistos: • Fibras motoras. • Fibras sensitivas. • Fibras autônomas (anterior + corno lateral). No corte transversal da medula é possível observar o famoso “H medular” olhando de cima para baixo. O H em si é formado por corpos de neurônios (substância cinzenta) e a substância branca é o que está nas extremidades (ao contrário do encéfalo, telencéfalo). • Corno anterior: fibras motoras. • Corno posterior: sensibilidade. • Corno lateral + anterior: sistema autônomo Classificação segundo a velocidade de instalação 1.Aguda < 4 semanas de evolução: Polirradiculoneurite Aguda – Sindrome de Guillain-Barré – SGB: Esta síndrome se caracteriza pela perda de força de caráter ascendente (primeiro nos membros inferiores, depois quadril, cintura escapular e membros superiores, sem seguida o paciente para de respirar) e de forma simétrica = processo desmielinizante na qual a condução elétrica do segundo neurônio fica prejudicado. A etiologia deste síndrome é idiopática, somente a clínica é igual para todos os pacientes, mas pode estar relacionada a infecções virais ou vacinas, devido a reação cruzada de anticorpos. Ocorre lesão da raiz e do trajeto do nervo = radiculoneurite!. Por isso, inicialmente o paciente começa a ter parestesia ascendente devido à desmielinização: ou seja, a parestesia pode ter inicio nos membros inferiores e ascender até sistema respiratório e afins. Para o tratamento usa imunoglobulina que impede a progressão da doença Neuropatia Difterica: Não é comum, hoje em dia são poucos os casos devido a vacinação contra a difteria. Neuropatia Porfirinica: Doença hematológica onde se tem deficiência na síntese do grupo heme da hemoglobina – é uma doença rara mas há tratamento. Paciente em dores abdominais intensas e mudança de coloração da urina. 2.Subaguda – 4 a 8 semanas de evolução: Neuropatia alcoolica: É muito comum devido à intoxicação ao álcool de maneira exagerada. Ocorre alteração da sensibilidade quando o quadro é subagudo. Neuropatia por deficiência de B12: É comum em pacientes que realizam gastrectomia, restrição dietética ou alguma alteração gastrointestinal, pois ocorre diminuição da absorção de B12 podendo apresentar uma neuropatia periférica subaguda. Neuropatia Tóxica (chumbo - saturnismo, arsênico e tálio): Ocorre a impregnação da substância no SNP. SBCM II – Neurologia – Michelle Del Nery Neuropatia medicamentosa (isoniazida e nitrofurantoína). 3.Crônica - > 8 semanas de evolução: Neuropatia diabética: Muito mais comum do que as outras alterações. Lembrar que o que faz haver neuropatia na DM não é a hiperglicemia e sim o tempo/duração da hiperglicemia. É impossível ter neuropatia diabética com um período menor de 2 meses de diagnóstico do DM. Neuropatia alcoolica – forma crônica: Há principalmente comprometimento do nervo radial. Ocorre alteração motora Neuropatia por deficiência de B12 (forma crônica): É comum em pacientes que fizeram gastrectomia (bariátrica) por exemplo = há comprometimento predominantemente da ponta posterior da medula (ataxia sensitiva – marcha talonante) Neuropatia angiopática (lúpus, artrite reumatoide, poliarterite nodosa e granulomatose de Wegener). 4.Outras da forma Cronica - >8 semanas: não são formas comuns de acometimento Forma Adquirida: Polirradiculoneurite Crônica: É um sinônimo da SGB que se tornou crônica, mas isso ocorre em apenas 20% dos casos. É a forma crônica da SGB Neuropatia Paraneoplásica Neuropatia Urêmica. Neuropatia por Doenças do Tecido Conjuntivo. Neurite Hansénica: Ocorre em pacientes com hanseníase, sendo sua principal característica é o espessamento do nervo, sendo o nervo ulnar o mais acometido. O paciente apresenta manchas que não possuem sensibilidade preservada devido a lesão provocada pelo bacilo. Neuropatia Amiloide: É uma doença de depósito da proteína amiloide no nervo e em outros locais, pois o paciente não consegue fazer o processo de degradação pela amiloidose. Não tem cura. Forma geneticamente determinada: Idiopática (Doença de Marie-Tooth – comprometimento dos membros inferiores em padrão de “garrafa de champanhe invertido”, o paciente apresenta marcha escavante e Polineuropatia de Roussy-Levy). Metabólica (Doença de Fabry e Doença de Refsum). Classificação segundo o padrão de comprometimento dos nervos - importante 1. Mononeuropatia: É uma lesão focal de um nervo periférico. Ocorre lesão apenas de um nervo, por exemplo a síndrome do túnel do carpo – comprometimento do nervo mediano levando à alteração de força e sensibilidade da mão. Ex: neuropatia compressiva – sd túnel do carpo, que ocorre pela compressão do nervo mediano no túnel do carpo. 2. Mononeuropatia múltipla: É um padrão de lesão multifocal – ocorre o comprometimento de vários nervos, mas não há simetria e nem bilateralidade. Lesão de um nervo só mas de forma espalhada!. Ou seja, são SBCM II – Neurologia – Michelle Del Nery lesões focais, mas que vão se instalando em tempos diferentes, primeiro uma, depois outra.. 3. Polineuropatia: Ocorre uma lesão nervosa de forma simétrica, de distal para proximal e bilateral. Lesão de diversos nervos = sistêmico. Há vários nervos comprometimentos ao mesmo tempo. Por exemplo a neuropatia diabética, que acomete os nervos de forma sistêmica Obs: se houver comprometimento de raízes espinais ou raízes e tronco dos nervos periféricoschama-se polirradiculopatia ou polirradiculoneuropatia (são sinônimos). É o que dá o diagnostico para o paciente. Etiologia Lesões dos Plexos Nervosos: Lesões dos nervos propriamente dito (lembrar de trauma e alterações morfológicas) = alteração na estrutura do nervo. ▪ Plexo Braquial: (trauma, Síndrome de Pancoast [comprometimento do plexo braquial secundário à um tumor de ápice de pulmão] e Neurinoma [tumor no próprio nervo do plexo]) ▪ Plexo Lombossacro: (hérnias discais, trauma, tuberculosa e tumor). Lesões dos Troncos Nervosos: ▪ Nervo mediano: (trauma, Síndrome do Túnel do Carpo e hanseníase) ▪ Nervo ulnar: (trauma, hanseníase). ▪ Nervo radial: (trauma, saturnismo e alcoolismo) Obs: a paciente do caso apresenta mononeuropatia múltipla, que se iniciou no nervo mediano. Obs: : sempre que houver lesão de plexo ou tronco deve-se pensar em trauma. Obs: Sintomas da síndrome do túnel do carpo: perda de força, parestesia/formigamento e sensação de aumento da mão. Síndromes Neurológicas Existem vários tipos de síndromes neurológicas: ➢ Síndrome do 1º Neurônio Motor ou Superior (ex: caso de AVC). ➢ Síndrome do 2º Neurônio Motor ou Inferior (ex: caso de deficiência de vit. B12). ➢ Neuropatia Periférica (ex: DM). ➢ Síndromes Medulares (ex: trauma medular). ➢ Síndrome de Hipertensão Intracraniana. ➢ Síndrome Cerebelar ➢ Síndrome Extra-Piramidal ➢ Síndrome Demencial. Neuropatia Periferica: Pode ser devido à: ➢ Síndrome do 2 neuronio Motor ou Inferior. ➢ Sindrome Sensitiva Periferica ➢ Sindrome Autonomica Periferica Obs: se o paciente apresenta mais alterações de motricidade do que outras alterações, eu classifico a síndrome dele como síndrome do 2º neurônio motor ou inferior = neuropatia periférica com predomínio motor. Para isto, avaliar o quadro clinico. Quadro Clinico: O paciente não precisa apresentar todas as alteração de cada grupo. 1. Alterações da motricidade (2º neurônio motor ou inferior): • Fraqueza Muscular: Paresia ou plegia (diminuição/ausência) iniciando em pés SBCM II – Neurologia – Michelle Del Nery e pernas principalmente, podendo causar marcha parética ou escavante. • Músculo hipotrófico ou atrófico (diminuição da massa muscular): Presente em quadros subagudos ou crônicos. • Perda dos reflexos profundos – reflexos osteoarticulares (hipo ou arreflexia). • Fasciculações e cãibras: As fasciculações são bem comuns, enquanto as cãibras podem existir mas são mais inespecíficas. Contração involuntária do músculo. 2. Alterações da sensibilidade: • Parestesia (queimação, formigamento ou dormência): Não é dor! o Sinal de compressão do nervo. • Hiperestesia (aumento da sensibilidade) ou disestesia (sensação desagradável não referida como dor) – ex.: quando dormimos em cima do braço. É a sensação de “agulhada” • Hipoestesia ou anestesia (nas polineuropatias podem ser “em bota” e “em luvas”), como nos diabéticos – as hipoestesias são mais comuns que as hiperestesias: Leva ao principal problema da neuropatia diabética – o paciente tem a sensibilidade diminuída, o que leva as lesões 3. Sindromes autonômicas: • Anidrose (ausência de sudorese) e hipotensão ortostática: Normalmente a nossa pressão em decúbito é menor que a nossa pressão em posição ortostática, e quando levantamos há compensação da gravidade com o aumento rápido da pressão. No caso de síndromes autonômicas é comum que quando levantarmos rápido haja dificuldade da nossa pressão em posição ortostática aumentar rapidamente e compensar a gravidade – o paciente com neuropatia periférica geralmente não tem só uma tontura por conta da hipotensão, ele pode desmaiar também. • Impotência sexual, incontinência urinária e fecal. • Ataxia sensitiva (comprometimento de fibras grossas). • Tremores (não é mais comum). Mnemonico para causas de neuropatias periféricas: N = nutricional (B12 – cianocobalamina / B6 – piridoxina). E = endócrino (DM). U = urêmica. R = reumatológica. O = oncológicas. P = porfiria. A = Amiloidose. T = trauma. I = infecciosa (hanseníase/HIV). A = alcoólica. S = síndrome de Guillain-Barré Diagnostico das Neuropatias Periféricas É essencialmente clinico, baseado em uma anamnese detalhada e minuciosa associada ao exame neurológico. Pode-se realizar exames complementares para esclarecer a causa: Exames Complementares: 1. Eletroneuromiografia (ENMG): ▪ Sempre para suspeitas de doença do SNP. ▪ A topografia é a sua principal função (doenças medulares, da SBCM II – Neurologia – Michelle Del Nery placa motora e dos músculos) = ajuda a identificar onde é o problema! ▪ Ajuda para a determinação do prognóstico. 2. Exames de sangue e urina: ▪ Glicemia de jejum e pós-prandial. ▪ Hemograma e vhs ▪ Função renal ▪ Dosagem de vitamina b12, homocisteína e ácido metilmalônico. ▪ Hormônios da tireoide. ▪ Pesquisa de HIV (vírus da imunodeficiência humana) ▪ Reação para doença de lyme ▪ Pesquisas de porfirinas e ou seus metabolitos. ▪ Níveis séricos de tiamina ▪ Pesquisa de anticorpos anti-hu, anti-pi, anti-gm1, anti-gq1d e outros. ▪ Duplicação do gene da proteína pmp 22 no cromossomo 17 – doença de charcot-marie-tooth ▪ Mutação na transtirretina (substituição da valina pela metionina na posição 30 da proteína) polineuropatia amiloidótica familiar. 3. Exame do líquido cefalorraquidiano (LCR): ▪ Importante nas PN desmielinizantes (hiperproteinorraquia). ▪ Se infecciosa pode sugerir com pleocitose. ▪ SGB (dissociação proteino- citológico) – importante na SGB! ▪ Polineuropatia Inflamatória Desmielinizante Crônica (PIDC) devida ao HIV pode haver pleocitose. ▪ PN pelo citomegalovírus (CMV) existem polimorfonucleares no LCR. 4. Biópsia do nervo: ▪ Realizada em nervo sensitivo superficial (o sural). ▪ Importante quando outros exames não invasivos não esclarecem o diagnóstico etiológico. ▪ Mandatória para o diagnóstico de vasculite, hanseníase e Amiloidose. ▪ Achados anatomopatológicos podem ajudar no prognóstico mostrando se a PN está evoluindo ou em processo de regeneração Diagnostico Diferencial Miopatias (doenças musculares): Também causam paresia/perda de força e o reflexo do martelinho também vai estar diminuído (hiporeflexia). o Fraqueza costuma ser proximal (existem miopatias de predominância distal – o que pode mimetizam polineuropatia). o Ausência de distúrbios sensitivos. o Reflexos profundos abolidos o Aumento de enzimas musculares séricas (por exemplo CPK) e o padrão da ENMG confirmam a natureza miopática. o Miopatias metabólicas paroxísticas e agudas (por exemplo, excesso ou deficiência de potássio). Mielopatias (doenças medulares): o Abolição de reflexos profundos (o que faz se pensar em neuropatia periférica). o Comumente com alterações da sensibilidade em nível (respeitando as linhas dos dermátomos). SBCM II – Neurologia – Michelle Del Nery o Comumente apresenta distúrbios esfincterianos. o Comumente NÃO há queixas dolorosas. A queixa mais comum é perda de sensibilidade, hipoestesia, agenesia. Precisa de exames complementares: RM de coluna e eletroneuromiografia. Lesões do tronco cerebral: o Tetraplegias flácidas agudas podem ocorrer por comprometimento vascular no tronco cerebral. o Preservação da consciência. o Comprometimento de múltiplos nervos cranianos. o Ressonância magnéticavisando o tronco cerebral corroboram o diagnóstico. Tonus, força, reflexo, sensibilidade superficial e profunda
Compartilhar