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Aplicação da Lei Penal no Espaço - Resumo de Rogério Sanches

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Eficácia da Lei Penal no Espaço
1. Princípios Aplicáveis e Territorialidade
• Visa apurar as fronteiras de atuação da lei penal nacional
• 6 princípios trazem possíveis soluções:
→ Da territorialidade
→ Da nacionalidade ou personalidade ativa
→ Da nacionalidade ou personalidade passiva
→ Da defesa ou real
→ Da justiça penal universal ou da justiça cosmopolita
→ Da representação, do pavilhão, da substituição ou da bandeira
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no
espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil.
• Nosso ordenamento adotou a territorialidade temperada
→ Aplica-se a lei penal do local do crime
→ Não importa a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico
→ No Brasil, comporta exceções previstas em convenções, regras e tratados
• Admite-se a intraterritorialidade e extraterritorialidade
→ Aplicação de lei estrangeira a fato praticado em território brasileiro
→ Hipóteses em que a lei penal brasileira alcança condutas no estrangeiro (Art. 7º)
• Território nacional = Espaço físico/geográfico + Espaço jurídico
→ Físico: Espaço terrestre, marítimo ou aéreo sujeito à soberania do Estado
• Navios ou aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro
→ Sempre se aplica a nossa lei, independentemente de onde se encontram
• Navios ou aeronaves mercantes ou particulares brasileiras
→ Se aplica a nossa lei se estiverem em território nacional
• Navios ou aeronaves estrangeiras
→ Somente se aplica a nossa lei se for privada e estiver em território nacional
Questão: A embaixada é extensão do território que representa?
• Apesar de invioláveis, não são extensão do território do país que representam
→ Salvo convenção, tratado ou regra de direito internacional
→ A embaixada norte-americana no Brasil é território brasileiro
Questão: Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido a bordo de embarcação privada
estrangeira de passagem pelo mar territorial brasileiro?
• Não se aplica a lei brasileira, desde que:
→ O navio privado não tenha pretensão de atracar no nosso território
→ Realmente esteja havendo apenas a passagem para o real destino do navio
→ O crime não seja prejudicial à paz, boa ordem ou segurança do Brasil
• Lei 8.617/93, Art. 3º
Art. 3º É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem
inocente no mar territorial brasileiro.
§ 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa
ordem ou à segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida.
§ 2º A passagem inocente poderá compreender o parar e o fundear, mas apenas na
medida em que tais procedimentos constituam incidentes comuns de navegação ou sejam
impostos por motivos de força ou por dificuldade grave, ou tenham por fim prestar
auxílio a pessoas a navios ou aeronaves em perigo ou em dificuldade grave.
§ 3º Os navios estrangeiros no mar territorial brasileiro estarão sujeitos aos
regulamentos estabelecidos pelo Governo brasileiro.
2. Lugar do Crime
• Uma infração penal pode se desenvolver em lugares diversos
→ Então como saberíamos onde, realmente, foi praticado o crime
• Existem 3 teorias do lugar do crime:
→ Teoria da atividade: Onde foi desenvolvida a atividade criminosa
→ Teoria do resultado: Onde ocorreu o resultado
→ Teoria da ubiquidade, híbrida ou mista
Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no
todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
• Adotou-se, quanto ao locus commissi delicti, a teoria da ubiquidade
→ Sempre que o fato se deva considerar praticado tanto no território brasileiro
como no estrangeiro, aplica-se a lei brasileira
• Se ocorre no Brasil apenas o planejamento do crime, nosso direito não agirá
• Aplica-se este artigo aos crimes à distância e aos crimes em trânsito
→ À distância: Percorre territórios de dois estados soberanos
→ Em trânsito: Percorre territórios de mais de dois países soberanos
• Não se aplica este artigo aos crimes plurilocais, mas sim o Art. 70 do CPP
→ Percorre dois ou mais territórios do mesmo país soberano
3. Extraterritorialidade
• Nossa lei alcança crimes cometidos exclusivamente no estrangeiro
→ São casos excepcionais
Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
• Não se aplica este princípio às contravenções penais
• No crime de genocídio, há competência subsidiária do Tribunal Penal Internacional
a. Extraterritorialidade Incondicionada
§1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido
ou condenado no estrangeiro. 
• A lei brasileira se aplica sem o preenchimento de qualquer requisito
• Subordinada somente à condição de que o agente não tenha sido processado no
exterior
b. Extraterritorialidade Condicionada
§ 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.
• Para aplicar a nossa lei, é necessário que essas condições sejam preenchidas
→ a: Não é preciso que o agente aqui permaneça
→ b: Condição objetiva de punibilidade, sua ausência gera improcedência da ação
→ O ponto “a” é condição de procedibilidade, os demais objetivas de punibilidade
c. Extraterritorialidade Hipercondicionada
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
• São necessárias mais essas duas condições para aplicar a lei nacional
d. Aplicação
• Verificando a necessidade de extraterritorialidade da nossa lei, é preciso:
→ Apontar o órgão jurisdicional competente para a aplicação da lei penal brasileira
→ Identificar o território para o processo e julgamento
Questão: Caio, brasileiro, autor de homicídio executado em Portugal contra cidadão
português, foge e retorna ao território brasileiro antes do fim das investigações. A lei
brasileira alcança este fato?
• Sim, pois todas as condições foram preenchidas
Questão: Caio será processado e julgadono Brasil pela Justiça Federal ou Estadual?
• Pelo STJ, compete à Justiça Estadual a aplicação da nossa lei
Questão: Qual a comarca competente para o processo e julgamento?
• Esta resposta está no Código Processual Penal
Art.88 No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o
juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver
residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República. 
4. Pena Cumprida no Estrangeiro
Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo
crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. 
• Devem se considerar a quantidade e a qualidade das penas
→ Mesma qualidade: Da sanção aplicada no Brasil se abate o que foi cumprido fora
→ Qualidade diversa: O julgador deve atenuar a pena imposta no Brasil 
 - Baseando-se na pena cumprida no exterior
• É uma exceção ao princípio do non bis in idem
→ O país onde se deu o crime condena o agente e o Brasil também condena

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