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O livro de Alberto Acosta tem um objetivo didático: explicar as principais características do Bem Viver, conceito que nasce da visão de mundo dos povos indígenas, mas vai muito além. É um princípio característico do século 21, quando os limites ecológicos do desenvolvimento capitalista entraram com força na agenda global. Ao incorporar o Buen Vivir à sua Constituição, o Equador saiu da jaula da dependência e do subdesenvolvimento político e ideológico: afi rmou-se como uma nação em pé de igualdade com as demais, decidida a compartilhar as causas pelas quais vale a pena lutar caso realmente haja futuro. A complexidade do Bem Viver atravessa todo o livro, e Acosta analisa suas propostas sob vários ângulos: como uma alternativa ao desenvolvimento; como uma dimensão dos Direitos da Natureza; como a matriz de uma nova economia solidária e plural de vocação pós-extrativista e pós-capitalista; e como uma semente que só germinará em um novo tipo de Estado, o Estado plurinacional, que é construído com a participação dos cidadãos, dos povos e das nacionalidades, por meio de diferentes formas de democracia – o que eu chamo “demodiver- sidade”. Acosta mostra ainda que o Bem Viver não é uma entidade exótica ou sem precedentes. Pelo contrário, é parte de uma problemática muito mais ampla, de uma conversa da Humanidade, em que estão participando intelectuais e movimentos sociais de Norte a Sul, do Ocidente ao Oriente. São questões controversas, que podem ser objeto de um debate muito enriquecedor. Aliás, o melhor que pode acontecer com este livro é justamente estimular discussões veementes e democráticas. Boaventura de Sousa Santos Um sistema com desigualdades gritantes sobrevive há séculos, com o apoio de milhões e a subordinação de bilhões. Agora, nos conduz ao suicídio coletivo. As promessas do progresso, feitas há mais de quinhentos anos, e as do desenvolvimento, que ganharam o mundo a partir da década de 1950, não se cumpriram. E não se cumprirão. Contra problemas cada vez mais evidentes, Alberto Acosta resgata o conceito de sumak kawsay, de origem kíchwa, e nos propõe uma ruptura civilizatória calcada na utopia do Bem Viver, tão necessária em tempos distópicos, e na urgência de se construir sociedades verdadeiramente solidárias e sustentáveis. Uma quebra de paradigmas para superar o fatalismo do desenvolvimento, reatar a comunhão entre Humanidade e Natureza e revalorizar diversidades culturais e modos de vida suprimidos pela homogeneização imposta pelo Ocidente. O Bem Viver foi escrito por um dos maiores responsáveis por colocar os Direitos da Natureza na Constituição do Equador, feito inédito no mundo. Não se trata de viver la dolce vita, de ser um bon vivant. O Bem Viver não se oferece como a enésima tentativa de um capitalismo menos desumano – nem deseja ser um socialismo do século 21. Muito pelo contrário: acusa a ambos sistemas, irmanados na exploração inclemente de recursos naturais. O Bem Viver é a superação do extrativismo, com ideias oriundas dos povos e nacionalidades indígenas, mas também de outras partes do mundo. O que fazer? Acosta oferece uma série de caminhos, mas também nos alerta: não há apenas uma maneira para começar a construir um novo modelo. A única certeza é de que a trajetória deve ser democrática desde o início, construída pela e para a sociedade. Os seres humanos são uma promessa, não uma ameaça.au t o n om i a l i t e r á r i a + e d i t o r a e l e f a n t e + IS B N 9 7 8 -8 5 -6 9 5 3 6 -0 2 -4 O B E M V IV E R A lb erto A co sta O mundo precisa de mudanças radicais. Necessitamos outras formas de organização social e práticas políticas. O Bem Viver é parte de uma longa busca de alternativas forjadas no calor das lutas indígenas e populares. São propostas invisibilizadas por muito tempo, que agora convidam a romper radicalmente com conceitos assumidos como indiscutíveis. São ideias surgidas de grupos marginalizados, excluídos, explorados e até mesmo dizimados. O Bem Viver se opõe ao desenvolvimento. Mais do que nunca é imprescindível construir modos de vida baseados nos Direitos Humanos e nos Direitos da Natureza, e que não sejam pautados pela acumulação do capital. Alberto Acosta uma oportunidade para imaginar outros mundos CAPA BEM VIVER 2a reimp ƒ2.indd 1 15/03/17 20:11 O B E M V I V E R O livro de Alberto Acosta tem um objetivo didático: explicar as principais características do Bem Viver, conceito que nasce da visão de mundo dos povos indígenas, mas vai muito além. É um princípio característico do século 21, quando os limites ecológicos do desenvolvimento capitalista entraram com força na agenda global. Ao incorporar o Buen Vivir à sua Constituição, o Equador saiu da jaula da dependência e do subdesenvolvimento político e ideológico: afi rmou-se como uma nação em pé de igualdade com as demais, decidida a compartilhar as causas pelas quais vale a pena lutar caso realmente haja futuro. A complexidade do Bem Viver atravessa todo o livro, e Acosta analisa suas propostas sob vários ângulos: como uma alternativa ao desenvolvimento; como uma dimensão dos Direitos da Natureza; como a matriz de uma nova economia solidária e plural de vocação pós-extrativista e pós-capitalista; e como uma semente que só germinará em um novo tipo de Estado, o Estado plurinacional, que é construído com a participação dos cidadãos, dos povos e das nacionalidades, por meio de diferentes formas de democracia – o que eu chamo “demodiver- sidade”. Acosta mostra ainda que o Bem Viver não é uma entidade exótica ou sem precedentes. Pelo contrário, é parte de uma problemática muito mais ampla, de uma conversa da Humanidade, em que estão participando intelectuais e movimentos sociais de Norte a Sul, do Ocidente ao Oriente. São questões controversas, que podem ser objeto de um debate muito enriquecedor. Aliás, o melhor que pode acontecer com este livro é justamente estimular discussões veementes e democráticas. Boaventura de Sousa Santos Um sistema com desigualdades gritantes sobrevive há séculos, com o apoio de milhões e a subordinação de bilhões. Agora, nos conduz ao suicídio coletivo. As promessas do progresso, feitas há mais de quinhentos anos, e as do desenvolvimento, que ganharam o mundo a partir da década de 1950, não se cumpriram. E não se cumprirão. Contra problemas cada vez mais evidentes, Alberto Acosta resgata o conceito de sumak kawsay, de origem kíchwa, e nos propõe uma ruptura civilizatória calcada na utopia do Bem Viver, tão necessária em tempos distópicos, e na urgência de se construir sociedades verdadeiramente solidárias e sustentáveis. Uma quebra de paradigmas para superar o fatalismo do desenvolvimento, reatar a comunhão entre Humanidade e Natureza e revalorizar diversidades culturais e modos de vida suprimidos pela homogeneização imposta pelo Ocidente. O Bem Viver foi escrito por um dos maiores responsáveis por colocar os Direitos da Natureza na Constituição do Equador, feito inédito no mundo. Não se trata de viver la dolce vita, de ser um bon vivant. O Bem Viver não se oferece como a enésima tentativa de um capitalismo menos desumano – nem deseja ser um socialismo do século 21. Muito pelo contrário: acusa a ambos sistemas, irmanados na exploração inclemente de recursos naturais. O Bem Viver é a superação do extrativismo, com ideias oriundas dos povos e nacionalidades indígenas, mas também de outras partes do mundo. O que fazer? Acosta oferece uma série de caminhos, mas também nos alerta: não há apenas uma maneira