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Hotel Unique Ruy Ohtake e a Arquitetura Fraterna O arquiteto Ruy Ohtake destaca a Arquitetura como o palco para as principaismanifestações humanas, a grande área de convivência social, em todos os seus aspectos. Ele assina muitos dos mais modernos edifícios corporativos que dão a moderna cara da metrópole paulista, alguns deles construídos em parceria com a Método Engenharia. O Hotel Unique, na região dos Jardins, é um destes frutos, e tornou-se ícone da cidade, lembrado ao lado dos seus principais monumentos históricos e pontos turísticos. O hotel assim como o Instituto Tomie Ohtake foram assimilados como referências de uma arquitetura paulista, ousada, de vanguarda, que traz em suas linhas a inspiração plantada por Oscar Niemeyer, de quem Ruy é discípulo. “A Arquitetura é uma representação da dignidade humana e social e as áreas de convivência são o grande desafio das grandes cidades hoje, como São Paulo”, diz o arquiteto. Grandes Construções – O Brasil está passando por uma modernização de sua infraestrutura. A Arquitetura Brasileira está sendo levada em conta nesse momento de transformação? Ruy Ohtake – A Arquitetura é uma expressão da cultura e, portanto, nós no Brasil, temos uma Arquitetura muito significativa, muito característica, que se destaca, se sobressai, se faz notar dentro de toda a Arquitetura mundial. Se nota pela sua beleza, pela sua sensualidade, pela procura da surpresa, e provavelmente é uma das Arquitetura mais fraternas do mundo. Eu faço muito esforço para que os meus projetos desenvolvam essa linha, que começou na fase contemporânea do Brasil, com Oscar Niemeyer, recentemente falecido. Ele deixou um conjunto de obras de importância não só para nós brasileiros, mas para o mundo todo e que dignificou muito a nossa cultura. E é nessa linha que eu pretendo sempre desenvolver os meus projetos. Grandes Construções – A cidade do Rio de Janeiro vem se sobressaindo nesse processo de reestruturação urbana. Como o senhor vê esse momento do País e essa presença destes profissionais. Ruy Ohtake – O Rio de Janeiro, pelo fato de ter sido a primeira capital federal do Brasil, foi uma cidade muito importante, sediando as elites cultural e financeira. Tudo isso contornado por uma beleza fortíssima, pois o Rio de Janeiro é uma das cidades mais lindas do mundo. Com a transferência da capital federal para Brasília, entretanto, o Rio de Janeiro ficou meio esquecido. E agora tendo em vista alguns eventos importantes, não só no campo esportivo, mas também no campo religioso, e também cultural, o Rio de Janeiro retoma aquele brilho que já teve. Com essas obras novas, como a recuperação da área do porto do Rio de Janeiro (Porto Maravilha), a cidade se torna de novo, um centro de atração econômica e turística, com novas condições que são muito importantes atualmente para uma cidade moderna se desenvolver. Grandes Construções – Com o senhor vê a cidade de São Paulo nesse cenário. Há um espaço aqui para a Arquitetura florescer? Ruy Ohtake – Eu diria que São Paulo enxerga de uma forma muito curta a linha cultural, a linha arquitetônica. Ao se tornar uma das maiores cidades do mundo, o mesmo não aconteceu com a qualidade da Arquitetura, a qualidade da cidade. Nós temos problemas, mas nada disso impediria que a cidade tivesse obras contemporâneas em maior quantidade, com representação melhor. E que a cidade também tivesse uma identidade mais bonita, mais forte. Alguns aspectos, que temos foram muito colocados em segundo plano, por exemplo, como a recuperação da paisagem, ao longo do Rio Tietê; o aproveitamento melhor das represas, e da própria Arquitetura da cidade. Grandes Construções – Uma pesquisa realizada por um site de viagens (TripAdvisor) divulgou uma lista com 124 pontos turísticos eleitos pelos internautas, para visitar na cidade. E o Hotel Unique aparece na 10ª posição, depois dos tradicionais pontos turísticos da cidade. Como se explica essa força do design do Unique. Ruy Ohtake: O Hotel Unique se destaca pela sua forma surpreendente, pela sua colocação e implantação dentro da cidade de São Paulo, e por ser uma obra muito forte, e que determina uma identificação. O hotel tem uma significação tanto para as pessoas de formação mais simples, como para os professores, intelectuais, etc. Essa gama é o que identifica uma obra como bela, e surpreendente ao mesmo tempo, uma forma que seja arrojada e contemporânea. São aspectos que fazem com que a Arquitetura venha representar um pouco o caráter da cidade. E no caso de São Paulo eu acho que o Hotel Unique tem uma identificação com aquilo que a gente fala do arrojo do paulista. Ou sensualidade do brasileiro. São ingredientes que a gente não pode esquecer na Arquitetura. São ingredientes que levam ao desafio da Arquitetura, ao processo de pensamento, de fazer e construir cada vez mais interessante. Grandes Construções – Esse projeto foi executado pela Método Engenharia, assim como o Instituto Cultural Tomie Ohtake e diversos edifícios corporativos. Como foi essa parceria ao longo de sua trajetória profissional? Ruy Ohtake - Eu aprecio muito o trabalho da Método pelo cuidado com que ela desenvolve a obra e pelo incentivo a pesquisa que ela permite nos seus projetos. Foi ela que construiu o hotel Unique e também o instituto Tomie Ohtake. São duas obras que considero muito significativas e a contribuição da Método foi fundamental no sentido de participar junto comigo para que a obra atingisse o nível que conseguimos. Isso porque a construtora tem assimilado dentro dela esse sentimento de construir com cuidado, com entusiasmo e fazendo com que a construção represente bem a Arquitetura e a técnica brasileira. Grandes Construções – Gostaria que falasse um pouco sobre seu trabalho na favela do Heliópolis? Ruy Ohtake - Foi um aprendizado mesmo. Eu aprendi muito ao elaborar esses projetos e conversar com a comunidade. E acho que eles aprenderam um pouco também comigo, e com as obras, que eu achei importante. Toda obra tem de ser feita com qualidade, procurando uma dignidade e uma cidadania. Foi essa característica que eu procurei dar, ao máximo, aos projetos do Heliópolis, tanto nas construções residenciais, que o povo chama carinhosamente de Redondinhos, por que são prédios circulares, quanto nos outros projetos. E eles são um grande orgulho para a população, algo que dá uma grande dignidade para a moradia. Aquele projeto pode ser feito tanto num bairro da classe média, ou até num bairro de poder aquisitivo maior. O importante é que haja Arquitetura, e uma dignidade para qualquer que seja o usuário morador. Grandes Construções – Quais são os seus projetos preferidos? Ruy Ohtake - Eu estou fazendo projetos dos quais eu gosto muito. Um é o Aquário do Pantanal, é uma obra que esta sendo construída pelo governo do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. Esse aquário resumirá as espécies de peixe do Pantanal além de ser um centro cultural importante para a cidade e região. Outro projeto que eu gosto muito será o novo edifício da Escola Politécnica da USP. Esse edifício será destinado ao laboratório de invenção, o Poli Inova. Será um lugar onde os estudantes de engenharia terão um incentivo à criatividade. Outro projeto é o novo prédio da USP Leste, que terá um centro de convivência que inclui teatro, áreas de cultura e preservação da memória. São dois projetos que estou fazendo com muito entusiasmo. São bonitos. A Arquitetura tem de ser bonita, ter uma dose de arrojo, de ousadia, e assim avançar e contribuir com a cultura brasileira. Arquiteto Ruy Ohtake Biografia: Filho primogênito da artista plástica Tomie Ohtake e do agrônomo Alberto Ohtake (falecido em 1961), Ruy estudou naFaculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde se formou em 1960.1 Ruy Ohtake foi casado com a atriz Célia Helena, falecida em 1997, com a qual teve sua primeira filha, Elisa, atriz. Depois, se casou com a arquiteta Sílvia Vaz e teve seu segundo filho, Rodrigo, também arquiteto. No ano de 1999, Ohtake foi convidado para fazer parte do 20.º Congressoda União Internacional de Arquitetos, emPequim, ao lado de Jean Nouvel e Tadao Ando. De acordo com Oscar Niemeyer, Ohtake é um dos mais legítimos representantes da arquitetura brasileira. Em Junho de 2012 Ohtake recebeu a Medalha de Anchieta e Diploma de Gratidão pela Câmara Municipal de São Paulo, através do político Chico Macena, como homenagem e reconhecimento por toda sua obra na Cidade de São Paulo, principalmente as obras voltadas para projetos sociais no bairro de Heliópolis. 2 3 4 5 6 É de Ohtake, por exemplo, entre outras obras, os hotéis Unique e Renaissance, o Parque Ecológico do Tietê, o sistema de transporte urbano Expresso Tiradentes e a sede social e cultural do São Paulo Futebol Clube. Em Brasília, o arquiteto assina o Royal Tulip Alvorada, o Estádio do Gama e o Brasília Shopping. No exterior, é ele o responsável pela Embaixada Brasileira em Tóquio, noJapão, e pelos jardins e pelo museu aberto da Organização dos Estados Americanos, nos Estados Unidos. Ohtake ainda assina o projeto de adequação do Estádio Cícero Pompeu de Toledo ou Morumbi para a Copa do Mundo de 2014 que foi realizada no Brasil. O arquiteto Ruy Ohtake é famoso por trabalhar primorosamente com o concreto. Sua marca registrada são as formas curvas e o uso de cores primárias. E como não poderia deixar de ser, ele abusou de todas as suas características nesta belíssima residência. Muitas curvas na fachada em concreto aparente e muitos painéis coloridos no interior. A escada curva recebeu uma posição de destaque logo na entrada da casa e recebe iluminação natural pelaabertura logo acima. Se você gosta desse visual do concreto aparente, você pode conseguir o mesmo efeito em sua casa ouapartamento com a linha Concretíssyma da Portobello. Dá só uma olhada: Como o acaso levou Ruy Ohtake a se unir à comunicade da maior favela de São Paulo e realizar projeto voluntário por moradia digna. Desde maio, duas das principais ruas de Heliópolis, a maior comunidade carente de São Paulo, passam por uma transformação. Todas as fachadas das habitações foram rebocadas e pintadas com cores vivas, que alegraram ainda mais a tradicional festa junina promovida todos os anos pelos moradores da região. As novas cores das fachadas das casas de Heliópolis não podem ser descritas como simples maquiagem dos problemas que envolvem a comunidade. Vibrantes, estão ali como símbolo da reivindicação por cidadania e inclusão social. Escolhidas pelos próprios moradores, foram trabalhadas numa composição criada pelo arquiteto Ruy Ohtake, que usou a fusão de tons para mostrar também a força da solidariedade entre os moradores. Com repercussão positiva na comunidade e na mídia, a aplicação do acabamento é o primeiro passo do trabalho de Identidade Cultural de Heliópolis. O envolvimento de Ruy Ohtake com Heliópolis foi uma daquelas coisas certas que resultam de linhas tortas. Literalmente. No final do ano passado, o arquiteto deu uma declaração a uma revista semanal e foi mal interpretado. "Publicaram uma fala minha dizendo que Heliópolis é o lugar mais feio de São Paulo", conta, ressalvando que não foi isso o que quis dizer. A frase infeliz foi a deixa, entretanto, para que os líderes comunitários se aproximassem do arquiteto. E eles não deixaram por menos. "Poderia nos ajudar a tornar Heliópolis mais bonita?", dispararam. A resposta foi positiva e, já na primeira visita, Ohtake conheceu várias áreas da favela, inclusive os pontos mais precários junto ao córrego Sacomã. Mas, acima de tudo, Ruy Ohtake ouviu a comunidade. Foi assim que surgiu o projeto Identidade Cultural de Heliópolis. Além do tratamento das fachadas, o projeto prevê a construção de uma biblioteca pública com mais de mil livros, um centro cultural com cinema e galeria de exposições, espaço para feira de produtos manufaturados pela comunidade, além de uma escola de arte. Esta última já está em funcionamento e atende cerca de 30 jovens. Ruy Ohtake concebeu e coordena os trabalhos de forma voluntária, com a colaboração da arquiteta Daniela Della Volpe. Os dois visitam Heliópolis toda semana para acompanhar as obras. Por causa de uma declaração mal interpretada, Ruy Ohtake foi convidado pela liderança comunitária de Heliópolis a tornar a favela mais bonita. O arquiteto concordou e começou a tarefa criando um estudo cromático para aplicar acabamento nas fachadas das casas. As cores fortes, segundo Ohtake, simbolizam a reivindicação e a solidariedade da comunidade Ohtake também buscou parcerias com empresas privadas e com profissionais conceituados para viabilizar a implantação do projeto. Os trabalhos estão em pleno andamento com o apoio da associação comunitária UNAS (União dos Núcleos e Associações de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco), a mais influente da região, que trabalha sem interferência do poder público ou de partidos políticos. "Em Heliópolis faltam opções de cultura e lazer", avalia Ruy Ohtake, "por isso, percebi que minha colaboração só poderia ser pelo lado cultural e social - infra-estrutura cabe à administração pública", pondera. O arquiteto conta que, no início de sua carreira, chegou a imaginar que as favelas seriam abrigos provisórios e que seus moradores conseguiriam se mudar para residências construídas em áreas com boa infra-estrutura. Porém, a realidade é outra. "Hoje, com as favelas consolidadas, é preciso saber incluí-las no espaço urbano, física e socialmente", defende, ressaltando que Heliópolis existe há mais de 30 anos. Formada inicialmente como abrigo provisório para 150 famílias, Heliópolis espalhou-se por uma área de quase um milhão de metros quadrados, com cerca de 100 mil habitantes. "Encontrei uma liderança muito boa, uma comunidade muito solidária. E esses fatores me envolveram desde o primeiro dia em que estive lá", diz Ohtake, entusiasmado. "Eu não dou um passo sem a participação deles", completa. João Miranda, presidente da UNAS e morador de Heliópolis há 24 anos, sabe dizer porque o projeto de Ohtake tem sucesso em Heliópolis. "É preciso discutir, entender como as pessoas vivem para que os projetos estejam de acordo com as necessidades sociais da população", explica. Afinal, o morador de baixa renda também é um cliente - e tão complexo quanto qualquer outro. Após as discussões iniciais, arquitetos e comunidade concluíram que Heliópolis precisava de mais elementos para criar uma identidade cultural além do tratamento das fachadas. Assim, foram previstos projetos de educação artística na forma de encontros e aulas, biblioteca, escola de computação e informática, cinema, galeria de exposições, centro cultural e uma feirinha. Para realizar essa empreitada, Ohtake propôs parcerias a empresas e profissionais que já o haviam acompanhado em outros trabalhos. Conseguiu apoio do Banco Panamericano e das empresas Basf-Suvinil, Matec Engenharia, Aquarela e ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) para o fornecimento de material, verba e mão-de-obra. Para orientar os trabalhos sociais, conquistou aliados ilustres do setor artístico e cultural de São Paulo. Foi assim que a socióloga Regina Barros passou a participar da concepção geral do projeto, o crítico de cinema Amir Labak orienta a programação do cinema e a artista e arte-educadora Helena Kavaliunas coordena o Ateliê de Arte, que trabalha inicialmente com 30 crianças e adolescentes e promete expansão, com consultoria da artista Stela Barbieri. Para conceber a biblioteca, o crítico de literatura Antonio Cândido e o presidente da biblioteca municipal Mário de Andrade, professor José Castilho, fizeram a proposta de implantação e a lista dos primeiros mil livros que devem compô-la. Finalmente, Ricardo Ohtake, diretor geral do Instituto Tomie Ohtake, organizará a programação da Galeria de Exposições de Heliópolis. "Não precisamos de burocracia ou contratos, bastou credibilidade, entusiasmo e a sensibilidade social dos parceiros. Por isso os trabalhos já estão em andamento", conta o arquiteto. A força e o apoio dado pela comunidade de Heliópolis contagioutambém a arquiteta Daniela Della Volpe, coordenadora do projeto. "É uma experiência única, muito gratificante. Os pintores ficam preocupados em executar tudo do jeito que o projeto pede. Aprendo bastante e estou cada vez mais envolvida", relata. Ruy Ohtake insiste em afirmar que somente consegue realizar esse projeto graças à participação da liderança comunitária, para obter a confiança dos moradores e evitar conflitos. "Podemos realizar melhorias com poucos recursos. Que esse projeto possa servir de inspiração para outras iniciativas pelo País", sugere. Questionado quanto ao futuro dos trabalhos, o arquiteto é realista. "Heliópolis é muito grande, se trabalharmos apenas com os patrocinadores atuais, que são importantíssimos, talvez demore muito tempo para levarmos essa experiência para outras ruas", avalia. Pouco disposto a esmorecer por falta de verba, Ohtake ambiciona conseguir mais empresas parceiras ou mesmo conquistar apoio do poder público. "Não posso deixar que esse trabalho acabe por falta de verba", diz. As cores das fachadas foram escolhidas pelos moradores e o arquiteto estabeleceu as composições. A aplicação do acabamento envolveu oitos profissionais, moradores de Heliópolis que estavam desempregados. A Basf-Suvinil doou o material e ainda realizou um curso de capacitação para os pintores. Três sobrados foram reformados para abrigar a Biblioteca de Heliópolis. O crítico literário Antônio Candido e o diretor da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, José Castilho Marques Neto, contribuíram para compor a lista dos mil primeiros livros do acervo. A obra e o funcionamento do estabelecimento foram assumidos pelo Banco Panamericano.