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1 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 4°P MEDICINA UniRV 3M1 – Quelantes e Intoxicação com Metais Pesados Quelação: • Ligação do agente quelante com a molécula alvo a fim de evitar sua solubilização e absorção sistêmica • A formação de precipitados no TGI evita a absorção e facilita a depuração (tem que estar solúvel e não ionizado para absorver e distribuir). • Ex: uso de carvão ativado em casos de ingestão de toxicicantes como o aldicarb (princípio ativo) anticolinesterásico presente em inseticidas organofosforados. • O carvão ativado, obtido a partir da pirólise de material orgânico, possui partículas com alto poder adsorvente, ou seja, que têm a capacidade de se ligar a moléculas e íons e retê-los em sua superfície, desde que estejam dissolvidos em líquidos. • Toxicicantes na corrente sanguínea e de baixo volume aparente de distribuição (Vd) e que sofrem recirculação entero-hepática • Ex: fenobarbital – índice terapêutico baixo • OBS: intoxicações por ingestão oral: o uso tem que ser o mais rápido possível, pois, após 2h é praticamente ineficaz. Carvão ativado: • Na maioria dos casos no pronto-socorro • Dose única de carvão ativado • Múltiplas doses: é indica em casos de intoxicação por fenobarbital, ácido valproico, carbamazepina e teofilina, ou quando a quantidade ingerida for superior a um décimo da dose de carvão ativado. Segundo o Manual de Toxicologia Clínica, as doses devem ser as seguintes: • Dose única: 1g/kg (pode para adultos: 50 a 100 gramas; dose para crianças menores de 5 anos: 10 a 25 gramas) via oral ou via sonda orogástrica. Contudo, se a quantidade de toxina ingerida for conhecida, e igual a x gramas, deve ser administrada uma quantidade 10 vezes maior ao paciente, correspondente a 10x gramas de carvão ativado, respeitando-se o limite de 100gramas. • Doses múltiplas: a dose inicial deve ser 1g/kg (dose para adultos: 50 a 100 gramas; Crianças menores de 5 anos: 10 a 25 g) via oral ou via sonda orogástrica ou 10 vezes a quantidade da substância ingerida em gramas, respeitando-se o limite de 100 gramas. • As doses subsequentes devem ser de 0,2 a 0,5g/kg (variando entre 15 a 30 gramas) a cada 2 a 4 horas (Taxa média em adultos de 12,5 kg/h; taxa média em crianças de 0,2 g/kg/h) • OBS: cuidado com a redução da absorção de medicamentos, sem uso por via oral. • Náuseas e vômitos. • Cuidados com broncoaspiração em pacientes torporosos. • Substâncias que não são absorvidas pelo carvão, como álcool, metano, etilenoglicol, álcalis, cianeto, ferro, lítio e flúor. Para pesquisa e discussão : • Outros agentes quelantes • Terra de Fuller em intoxicações por defensivos agrícolas • Sulfato de magnésio I ntoxicações por meta is pesados: Histór ico : • Uso e manuseio de chumbo: evidências de 8000 a.C • Mulheres egípcias: uso do sulfeto de chumbo para escurecer os olhos • Mesopataneos utilizaram pratos de chumbo para registrar algumas das primeiras inscrições da humanidade • Chumbo para confecção de canos pelos romanos • Origem da representação simbólica Pb: plumbum em latim, ou tubo. • Romanos: acetato de chumbo ou “açúcar de saturno” em vinhos • Provável causa de demência e perversidade de imperadores • Chumbo em tintas de partituras e pinturas Mercúrio: • Simbolizado por Hg, uma redução da palavra grega “Hydrargyrus” • Hydrargyrum em latim significa prata líquida, forma como o mercúrio era conhecido na antiguidade. • A primeira prova escrita do uso de mercúrio é dada por Aristóteles, que se refere a esse composto como “prata fluida”. Outros relatos descrevem o seu uso em 133 a.C. Fontes/formas de intoxicação: • Importante durante o interrogatório anamnésico • Forte relação com as atividades ocupacionais em adultos • Alguns possuem relação com a magnificação trófica e o meio ambiente: mercúrio, chumbo, cobre... 2 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 4°P MEDICINA UniRV Fontes antropogênicas para o ambiente: re levância anamnésica? • Fertilizantes • Pesticidas • Água de irrigação contaminada • Combustão de carvão e óleo • Emissões veiculares • Incineração de resíduos urbanos e industriais • Mineração, fundição e refinamento Exposições ocupaciona is : • Fabricação e reforma de baterias elétricas • Fabricação de pisos, azulejos e cerâmicas • Fabricação de vidros e cristais • Funilaria de automóveis, soldas • Mineração de chumbo • Fabricação e uso de ligas • Compostos de chumbo: pigmentos, tintas, vernizes, esmaltes • Cerâmica • Gráficas Meta is pesados: característ icas gera is , fatores que inf luenciam na toxic idade : • Interação com elementos essenciais: ferro, proteínas, fósforo, cálcio, vitamina A, C e D • Formação de complexos de metais e proteínas • Idade e estágio de desenvolvimento • Hábitos: tabagismo, etilismo • Reações imunológicas: reações de hipersensibilidade, anafiláticas F is iopatolog ia : mecanismos ce lu lares: Efeitos no organismo: • Alterações em sistemas de neurotransmissão • Vasospasmo • Redução da atividade enzimática de diversas vias • Redução da síntese de heme resultando em anemia hiporregenerativa • Redução de espermogenese • Encefalopatias agudas, crônicas e vasculares • Arterioesclerose cerebral Toxicocinética: • Independente de sua via de entrada no organismo, o Pb absorvido forma complexos estáveis com outros elementos como oxigênio, fósforo, enxofre e nitrogênio. • Sua interação com enzimas e a interferência no funcionamento das membranas celulares representam a base dos processos tóxicos. Após contaminação – pr incipa is s istemas acometidos: Cardiovascular: • Sugestão de relação com hipertensão. • Estudos sugerem aumento da pressão arterial em pacientes com a plumbemia elevada Sistema geniturinário: • Ocorre outros metais pesados: efeito tóxico nos túbulos renais. • Retenção de ácido úrico gota • Plumbemia acima de 80ug/dl está diretamente associada à perda de função renal através da disfunção mitocondrial, isquemia e fibrose glomerular induzidas pelo metal. • Elevação de dez vezes dos níveis de Pb no sangue foi associada à redução do clearance de creatinina em 10 a 13 ml/minuto Aumento do conteúdo ósseo de chumbo: • Associado a uma elevação 17 vezes superior da creatinina sérica em pacientes diabéticos, quando comparados a não diabéticos. • 1.08mg/dl/10 anos no diabético versus 0.062 mg/dl/10 anos no não diabético; p < 0.01 Sistema nervoso central: • Associação entre o aumento da plumbemia (para os trabalhadores com exposição atual ou acúmulo ósseo/índice cumulativo de chumbo sanguíneo (exposição passada) e a piora das funções cognitivas. • Estudo longitudinal realizado durante dois anos com 803 trabalhadores coreanos expostos ao metal: associações consistentes entre os níveis séricos de Pb, níveis ósseos de Pb e declínio de habilidades de execução, destreza manual e percepção vibratória. 3 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 4°P MEDICINA UniRV • Estudo brasileiro comparou os níveis sanguíneos de 53 trabalhadores expostos ao chumbo e seus controles. • Os resultados mostraram que 34% dos expostos versus 7,5% do grupo-controle apresentavam níveis de hemoglobina abaixo de 13 g/dl F is iopatolog ia : mecanismos ce lu lares Tratamentos: abordagem farmacológ ica Tratamento: plumbismo e metais em geral Intoxicação leve: • Afastamento do trabalho • Hidratação oral Intoxicação moderada: • Afastamento do trabalho • Hidratação oral • Terapia quelante Intoxicação grave – função renal normal: • Afastamento do trabalho • Hidrataçao oral • Terapia quelante • Acompanhamento especializado Intoxicação grave – função renal comprometida: • Mesmas condutas + acompanhamento especializado (nefrologia) e definição de condutas específicas Fármacos usados na intoxicação por chumbo e outros meta is : • Dimercaprol• EDTA • Adentato dissódico de cálcio • Succímero • Cálcio dissódico • Penicilamina • Xarope de ipeca 4 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 4°P MEDICINA UniRV Dimercaprol (2,3-dimercaptopropanol) – BAL: • Sol. Inj. Cx. c/ 5 amp. De 1mL. Cada ampola contém: dimercaprol 100mg veículo q.s.p 1 ampola • Utilizado em conjunto com edetato dissódico de cálcio (chumbo) • Outras indicações: intoxicações por mercúrio, ouro e arsênico • Importante: contraindicado em pessoas com insuficiência hepática (Exceto nos casos de icterícia pós- arsenical, a qual requer redução da dose). • Dimercaprol: contraindicado nas intoxicações por ferro, cádmio, selênio, prata ou urânio: complexos desses metais com dimercaprol são mais tóxicos que os metais isoladamente e podem causar nefrotoxicidade. • Também está contraindicado em intoxicações por mercúrio orgânico (o dimercaprol aumenta a distribuição do mercúrio no cérebro) e em intoxicações por hidreto de arsênio (AsH) Em caso de insuficiência renal aguda durante o tratamento: • Interrupção ou usado com extremo cuidado • Pode induzir hemólise em pacientes com deficiência da glicose-6 fosfato desidrogenase • A alcalinização da urina pode proteger os rins durante o tratamento pela estabilização do complexo dimercaprol- metal. Posologia: • Administração somente via intramuscular profunda • Intoxicações leves por arsênio ou ouro: 2,5mg/kg 4 vezes ao dia durante 2 dias; duas vezes no terceiro dia e uma vez ao dia por 10 dias. • Intoxicações graves por arsênio ou ouro: 3mg/kg a cada 4 horas durante 2 dias; 4 vezes no terceiro dia e 2 vezes ao dia por 10 dias. • Intoxicação por mercúrio: 5mg/kg inicialmente, seguido por 2,5mg/kg, 1 ou 2 vezes ao dia durante 10 dias. Encefalopatia aguda causada por chumbo, administra-se uma dose de 4mg/kg de dimercaprol. • Após a primeira dose administra-se dimercaprol e edetato dissódico de cálcio em locais diferentes a intervalos de 4 horas. • Intoxicações menos severas, ajuste da dose para 3mg/kg após a primeira dose por 2 a 7 dias. • O sucesso do tratamento depende do seu rápido início, dose e intervalo de administrações adequados. Mecanismo de ação: Os grupos de sulfidrilo de dimercaprol formam complexos com determinados metais pesados prevenindo ou revertendo, assim, a ligação de enzimas contendo sulfidrilo metálico. O complexo é excretado na urina. EDTA: ácido etilenodiamino tetra-acético • Ligante polidentado, formando complexos muito estáveis com diversos íons metálicos • Obs: devido a isso é usado como preservante do sangue, pois inativa os íons de cálcio, que promovem a coagulação sanguínea. Ácido meso-2,3-dimercaptossuccínico (DMSA): • Conhecido como succimer • Derivado do dimercaptopropanol, ou seja, um análogo da estrutura química do BAL, constituído por dois grupos sulfidrilo (-SH) • Natureza hidrofílica: permite ser administrado por via oral, apresentando uma elevada absorção gastrointestinal, o que constitui uma vantagem sobre o BAL • Metabolização hepática com depuração renal, biliar e pulmonar • 95% do DMSA: ligado a proteínas (principalmente à albumina) • Vantagem do DMSA em relação aos outros quelantes com grupos ditiol assenta no fato de este apresentar uma janela terapêutica mais alargada • Considerado menos tóxico • Desvantagens: distribuição ser extracelular devido à sua baixa lipossolubilidade • Não é ser capaz de diminuir a neurotoxicidade do mercúrio 2,3-dimercaptopropano-1-sulfonato (DMPS) • Tal como o DMSA, o 2,3-dimercaptopropano-1- sulfonato (DMPS) é um agente quelante hidrossolúvel, derivado do BAL • A administração por via oral ou intramuscular e devido à sua natureza hidrofílica • Quando o DMPS é administrado na corrente sanguínea, cerca de 80% sofre oxidação em 15 minutos, e apenas 12% é encontrado no sangue sob a forma original. • A principal via de eliminação do DMPS é pela via renal sob a forma oxidada de di-sulfitos. • Vantagem em relação ao DMSA: não costuma permitir redistribuição dos metais para o cérebro. D-Penicilamina: 5 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 4°P MEDICINA UniRV • A D-penicilamina (DPA; B-B dimetilcisteina ou 3- mercapto-D-valina) é um aminoácido sulfidrilo, obtido de um produto de degradação da penicilina. • A DPA ostenta apenas um isômero com aplicação como agente quelante: o isômero D uma vez que o isômero L causa neutrite ótica. • Administração oral e é relativamente bem absorvida a nível gastrointestinal (cerca de 50%), atingindo uma concentração plasmática máxima entre uma a três horas. • Alimentos, antiácidos e o ferro diminuem a sua absorção • A via intravenosa é também uma alternativa de administração deste agente. • A DPA encontra-se maioritariamente ligada às proteínas (80%), particularmente à albumina, encontrando-se a fração restante na sua forma livre ou na forma metabolizada (dissulfuretos). • Depuração predominantemente renal. • Efeitos adversos possíveis: trombocitopenia, leucocitopenia, anorexia, náuseas e vômitos, distúrbios gastrintestinais, alopecia e proteinúria • Contraindicada em pacientes alérgicos à penicilina e em doentes com insuficiência renal IPECA na ingestão oral de toxicicante: Ipeca é um alcaloide derivado de plantas. Usado na indução de vomito. Não é quelante. • Possui dois alcaloides: emetina e cefalina • Condições especiais: contaminação oral • Apenas em pacientes lúcidos, orientados pelo risco de broncoaspiração do vômito
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