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TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 fonte: Manual de toxicologia clínica. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0042_29_08_2013.html TEMA: Intoxicação por metais pesados 1-CITAR E COMENTAR OS PRINCIPAIS METAIS PESADOS NOCIVOS AOS ORGANISMO RELACIONANDO SEUS EFEITOS À SAÚDE (CROMO, CHUMBO, MERCÚRIO, COBRE, CÁDMIO, ARSÊNIO, NÍQUEL, MANGANÊS E BÁRIO): Os “metais pesados” são um grupo de elementos químicos com relativa alta densidade e tóxicos em baixas doses. Os elementos químicos normalmente incluídos no grupo dos metais pesados são: arsênio, cádmio, cobre, estanho, antimônio, chumbo, bismuto, prata, mercúrio, molibdênio, índio, ósmio, paládio, ródio, rutênio, cromo, níquel e vanádio. Pode-se destacar o arsênio, o cádmio, o chumbo e o mercúrio devido sua elevada toxicidade. Os metais pesados diferem de outros agentes tóxicos porque não são sintetizados nem destruídos pelo homem. A presença de metais muitas vezes está associada à localização geográfica, seja na água ou no solo, e pode ser controlada, limitando o uso de produtos agrícolas e proibindo a produção de alimentos em solos contaminados com metais pesados. Podem ser classificados em: 1. Elementos essenciais: sódio, potássio, cálcio, ferro, zinco, cobre, níquel e magnésio; 2. Micro-contaminantes ambientais: Arsênico, chumbo, cádmio, mercúrio, alumínio, titânio, estanho e tungstênio; 3. Elementos essenciais e micro-contaminantes: Cromo, zinco, ferro, cobalto, manganês e níquel. ● CROMO: É um metal durável usado em galvanoplastia, pigmentos de tintas (cromo amarelo), primers e inibidores de corrosão, preservante da madeira, preservantes têxteis e agentes para tingimento de couros. A exposição ao cromo poderá ocorrer por inalação, ingestão ou exposição da pele. A maioria dos casos de exposições em humanos envolve um dos dois tipos: trivalente ou hexavalente. A toxicidade é mais comumente associada aos compostos hexavalentes; entretanto, foram observadas fatalidades após a ingestão de compostos de ambos os tipos, e a sensibilidade cutânea crônica provavelmente está relacionada com a forma trivalente. Compostos crômicos trivalentes são relativamente insolúveis e não corrosivos e menos propensos a serem absorvidos pela pele intacta. A toxicidade biológica é estimada como 10 a 100 vezes inferior à dos compostos hexavalentes. Compostos hexavalentes são poderosos agentes oxidantes e corrosivos a via aérea, pele, membranas mucosas e TGI. Hemólise aguda e necrose tubular renal também poderão ocorrer. A exposição ocupacional crônica a formas hexavalentes menos solúveis está associada a bronquite crônica, dermatite e câncer pulmonar. *O ácido crômico é um ácido forte, enquanto os sais de cromato são bases fortes! O limite de exposição permitido no local de trabalho (média de 8h) para o ácido crômico e compostos hexavalentes é de 0,05 mg/m³ (carcinógeno). No caso do cromo http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0042_29_08_2013.html https://www.ufsm.br/laboratorios/laqia/arsenio-arsenic/ https://www.ufsm.br/laboratorios/laqia/cadmio-cadmium/ https://www.ufsm.br/laboratorios/laqia/chumbo-lead/ https://www.ufsm.br/laboratorios/laqia/mercurio-mercury/ TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 bivalente e trivalente, o limite de exposição é de 0,5 mg/m³. Os sais de cromo podem causar queimaduras cutâneas, que poderão aumentar a absorção sistêmica, e a morte poderá ocorrer após 10% da área corporal ter sido afetada por queimaduras. Toxicidade fatal foi observada após a ingestão de apenas 500mg de cromo hexavalente. A dose letal estimada do ácido crômico é de 1 a 2g, e a de dicromato de potássio, de 6 a 8g. Os padrões da água potável para o cromo total foram estabelecidos em 50 microg/L (1 micromol/L). Clínica: - A inalação aguda pode causar irritação do trato respiratório, dificuldade respiratória e edema pulmonar não cardiogênico. - A exposição crônica aos compostos hexavalentes poderá levar a sensibilização pulmonar, asma e câncer. - O contato agudo com peles e olhos poderá causar lesão córnea grave, queimaduras cutâneas profundas e queimaduras orais e esofágicas. Poderá ocorrer dermatite de hipersensibilidade. Úlceras nasais também podem ocorrer após a exposição crônica. - A ingestão pode causar gastrenterite hemorrágica aguda; a consequente perda maciça de sangue e fluido pode causar choque e insuficiência renal oligúrica. - Hemólise, hepatite e edema cerebral foram observados. - Os cromatos são capazes de oxidar a hemoglobina, porém a metemoglobinemia (oxidação do Fe²+ para Fe³+, gerando diminuição da capacidade de transporte do oxigênio) clinicamente significativa é relativamente rara. O diagnóstico é geralmente obtido com base na história de ingestão e em manifestações clínicas, como queimaduras da membrana mucosa e da pele, gastrenterite, insuficiência renal e choque. Os níveis sanguíneos não são úteis no tratamento de emergência e não estão amplamente disponíveis. Deve-se fornecer oxigênio suplementar, tratar a respiração dificultosa e monitorar intimamente a vítima para o aparecimento tardio de edema pulmonar não cardiogênico. Tratar a gastrenterite hemorrágica com substituição agressiva de sangue e fluido. Considerar a endoscopia precoce para avaliar a extensão da lesão esofágica ou gástrica. Tratar a hemoglobinúria resultante da hemólise com diurese alcalina, como no caso da rabdomiólise. Tratar a metemoglobinemia caso ocorra. Após ingestão oral de compostos hexavalentes, o ácido ascórbico foi sugerido para auxiliar na conversão dos compostos hexavalentes em trivalentes menos tóxicos. Remover a vítima da exposição e as vestimentas contaminadas, lavar as áreas expostas imediatamente com quantidades copiosas de água e sabão. A pomada de EDTA a 10% poderá facilitar a remoção dos resíduos de cromato. Irrigar os olhos com água morna ou soro fisiológico e realizar exame de fluoresceína para descartar lesão córnea, caso persista a dor ou a irritação. Oferecer leite ou água para diluir os efeitos corrosivos. Não induzir o vômito devido ao potencial para causar lesão corrosiva. No caso de ingestões recentes maciças, realizar a lavagem gástrica. O carvão ativado não apresentou benefícios claros. Não fazer uso de quelantes, podem piorar a condição nefropática. TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ● CHUMBO: O chumbo (Pb), do latim plumbum, é um elemento de ocorrência natural, pesado, macio, maleável e mau condutor de eletricidade, abundante na crosta terrestre e geralmente encontrado na forma de outros minerais. É um metal tóxico, amplamente utilizado no meio industrial, doméstico, farmacêutico, em construção civil e em mineração, além de ter grande evidência no uso como manta protetora para as ondas eletromagnéticas de raio-X. A intoxicação humana pelo chumbo é denominada saturnismo ou plumbismo. É encontrado nas formas orgânica (principalmente como chumbo tetraetila e tetrametila, sendo o tetraetila antigamente adicionado à gasolina como agente antidetonante) e inorgânica (sais e óxidos de chumbo, utilizados em tintas, canos, munições, cerâmica, jóias, etc). Formas de exposição: - emissões vulcânicas e marítimas; - intemperismo geoquímico; - processos de extração, concentração e refino de minérios contendo chumbo; - fundição de chumbo, latão e bronze; - produção de cristais e cerâmicas; - operações com uso de maçarico em materiais de chumbo ou revestidos de tinta à base de chumbo; - reparo de radiadores de carro; - jateamento de tintas antigas à base de chumbo; - soldas à base de chumbo; - produção de pigmentos ou operações de lixamento/polimento de materiais contendo chumbo; - presença de projéteis de arma de fogo alojados no organismo; - ingestão acidental de água ou alimentos contaminados com chumbo, contato com solo contaminado com pesticidas contendo chumbo; - eliminações atmosféricas resultantes da combustão de gasolina; O chumbo age de três maneiras principais: - Ligação a diversas proteínas estruturais, enzimáticas e receptoras;- Interferência em diversas vias metabólicas, principalmente mitocondriais e de segundo-mensageiros que regulam o metabolismo de energia celular; - Efeitos mutagênicos in vitro e carcinogênicos em ratos; O chumbo tem a capacidade de mimetizar e competir com o cálcio alterando essas funções: - bloqueia a entrada de cálcio para os terminais nervosos, inibe as ATPases do cálcio, sódio e potássio, afetando o transporte de membrana; - inibe a utilização de cálcio pelas mitocôndrias diminuindo a produção de energia essencial às funções cerebrais; - interfere com os receptores do cálcio acoplados a segundos mensageiros. A sintomatologia apresenta índices variados, dependentes de fatores relacionados ao paciente (faixa etária, condições de saúde, tolerância), das características de exposição (intervalo de tempo, concentração, valores de referência regional), entre TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 outros fatores. A intoxicação aguda é rara, mas pode ocorrer morte 1 a 2 dias após a ingestão de 10 a 30g de chumbo. A exposição crônica pode causar efeitos cardiovasculares, hematológicos, neuropsiquiátricos, reprodutivos e renais, bem como efeitos sobre o crescimento e desenvolvimento. O chumbo não é biotransformado, e sim, complexado por biomoléculas, sendo diretamente absorvido, distribuído e excretado. Os compostos inorgânicos do chumbo são bem absorvidos por inalação. Os compostos orgânicos são lipossolúveis, podendo, assim, ser absorvidos por via cutânea e respiratória, e prevalecem os transtornos nervosos após sua absorção. A absorção gastrointestinal ocorre no intestino delgado e tanto a absorção quanto a deposição óssea é influenciada pela dieta do indivíduo exposto, tais como ingestão de cálcio (Ca), ferro (Fe), fósforo (P) e proteínas. Uma vez absorvido, o chumbo é distribuído para o sangue (com meia-vida de 37 dias, 90% nos glóbulos vermelhos), nos tecidos moles (principalmente no fígado e rins, com meia-vida de 40 dias) e nos tecidos mineralizados (ossos e dentes, com meia-vida de 27 anos). A distribuição do metal no organismo independe da via de absorção. Como o chumbo é qualitativamente um análogo biológico do cálcio, sua entrada e liberação do esqueleto são, em parte, controladas por muitos dos mecanismos que regulam a homeostase do mineral. A concentração do chumbo em SNC ocorre com maior intensidade em fetos do que em crianças no período pós-natal e tem predominância em cerebelo, hipocampo, córtex cerebral e medula. O chumbo inorgânico não é metabolizado, no entanto pode sofrer conjugação com a glutationa. A excreção do chumbo é extremamente lenta, o que favorece a sua acumulação no organismo. Depois da ingestão, aproximadamente 90% do chumbo que não é absorvido pela via gastrintestinal é excretado nas fezes. Os rins filtram o chumbo inalterado, sendo possível o transporte tubular ativo se houver altos níveis do metal absorvido. Ingestão aguda: Quando o chumbo é ingerido em grandes quantidades, pode haver dor abdominal, anemia hemolítica, hepatite e encefalopatia. Intoxicação subaguda ou crônica: - Efeitos Constitucionais: fadiga, mal-estar, irritabilidade, anorexia, insônia, perda de peso, redução da libido, artralgias e mialgias; - Efeitos Neurológicos: Encefalopatia pode ocorrer em crianças e adultos, tanto aguda como cronicamente, porém as crianças são mais suscetíveis. Em casos graves, pode ocorrer edema cerebral e aumento da pressão intracraniana. Pode resultar em morte de 1 a 2 dias após o início dos sintomas. A encefalopatia crônica pode ser residual ou resultante da exposição prolongada ao Pb. Podem ser afetadas as funções da memória e do aprendizado em todos os ciclos da vida. Quadros de intoxicação leve à moderada podem cursar com comprometimento cognitivo leve, cefaleia, fadiga, perda de memória, perda da concentração e atenção, alterações de humor - com irritabilidade, depressão, insônia ou sonolência excessiva. Em crianças ocorrem deficiência DNPM e no quociente de inteligência. Quadros de intoxicação grave podem cursar com distúrbios de comportamento evidentes (paranóia, delírios e alucinações), alterações da marcha, equilíbrio e agitação psicomotora. - Efeitos Renais: A exposição aguda ou crônica ocasiona dano reversível no túbulo proximal e uma lenta e progressiva insuficiência renal. Com contínua exposição TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ao chumbo a nefropatia aguda (reversível) pode evoluir para uma nefrite crônica. A nefropatia irreversível é caracterizada por esclerose vascular e glomerular, atrofia ou hiperplasia das células tubulares e fibrose intersticial progressiva. - Efeitos TGI: A cólica é um efeito inicial no quadro de intoxicação por chumbo em exposição ocupacional ou aguda em níveis elevados, e pode sugerir quadro de abdome agudo. Nos quadros agudos e sub-agudos as cólicas abdominais não respondem a antiespasmódicos. Podem haver náuseas, vômitos, constipação/diarréia, dispepsia, gastrite e anorexia. Vômitos intermitentes, anorexia e dor abdominal também podem ocorrer em quadros crônicos, além de queimação epigástrica. - Efeitos Osteomusculares: Em adultos, pode afetar o metabolismo no período da menopausa, contribuindo para o desenvolvimento da osteoporose. Em crianças pode ocorrer deficiência no crescimento ósseo e de estatura. Quadros de intoxicação leve à moderada podem cursar com mialgias e artralgias. Quadros crônicos podem evoluir com mialgia generalizada ou principalmente em panturrilhas. - Efeitos Hematológicos: Há diminuição nos níveis de hematócrito e hemoglobina; anemia normocítica e normocrômica (em crianças) - mesmo não associada à deficiência de ferro, pode ser leve a moderada em adultos e possivelmente grave em crianças, evidencia-se tardiamente e quando o nível de Pb-S perdura com aumento significativo. Há depósito de RNA basófilo nas hemácias. - Efeitos Reprodutivos: Quadros de intoxicação leve à moderada podem cursar com aborto espontâneo e anormalidades no esperma (morfologia e número de espermatozóides). Em casos crônicos pode haver perda da libido. - Efeitos Cardiovasculares: hipertensão. - Efeitos Endócrinos: hipotireoidismo. Para diagnóstico deve-se considerar intoxicação por chumbo em qualquer paciente com achados multissistêmicos como dor abdominal, cefaléia, anemia e, algumas vezes, neuropatia motora e insuficiência renal. A suspeita de encefalopatia pode ser realizada quando há delirium ou convulsões na presença de anemia. Sempre considerar os dados epidemiológicos. Na descontaminação em crianças, ocasionalmente, pode ser indicada irrigação intestinal. Considerar a remoção endoscópica ou cirúrgica de corpos estranhos contendo chumbo. Na exposição cutânea ou ocular deve-se remover roupas e objetos contaminados e lavar com água sabão. O tratamento com quelantes reduz as concentrações sanguíneas de chumbo e aumenta a sua excreção urinária. Com encefalopatia ou sintomas sugestivos de encefalopatia ou nível sérico de chumbo > 100 mcg/dL: Administrar BAL 4 mg/Kg IM a cada 4 horas por 5 dias. Para pacientes com sintomas leves ou nível sanguíneo de 70 a 100 mcg/dL: administrar DMSA Succimer 10 mg/Kg VO 3 X ao dia por 5 dias e após 2 x dia por 14 dias. Pacientes assintomáticos e com nível sanguíneo < que 70 mcg/dL, não indicada a quelação de rotina. Tratar convulsões com administração de benzodiazepínicos. Tratar hipertensão intracraniana com dexametasona e manitol IV. Todos os casos são de notificação compulsória! TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ● MERCÚRIO: É um metal pesado de coloração prateada. É o único metal líquido em temperatura ambiente, sendo altamente volátil, podendo permanecer na atmosfera por até um ano. É um metal usado para a extração de ouro e prata, em manômetros para medida e controle de pressão, em termômetros, em computadores eletrônicos, em lâmpadas fluorescentes e em restaurações de amálgama dental. Compostos químicos de mercúrio têm sido usados em baterias e em tintas, e também como medicamentos antissépticos, como reagentesde laboratório e como catalisadores. Os sais de mercúrio mais importantes são cloreto de mercúrio (HgCl2); cloreto mercuroso (Hg2Cl2), chamado calomelano, que foi empregado como purgativo e vermífugo. O fulminato de mercúrio Hg(CNO)2, utilizado como detonador em explosivos e o sulfeto de mercúrio (HgS), pigmento vermelho muito utilizado até meados do século. O mercúrio leva à inibição enzimática e a alterações das membranas celulares através da reação com grupos sulfidrila, carboxila, fosforila e amida. O principal órgão-alvo do vapor de mercúrio é o cérebro, mas também causa danos renais, imunológicos, endócrinos, musculares, gastrintestinais e cutâneos. A dose tóxica depende da forma do mercúrio e da via de exposição. Mercúrio elementar (metálico): a concentração de 10 mg/m³ no ar é considerada imediatamente perigosa à vida e pneumonite química pode ocorrer em níveis superiores a 1 mg/m³. O mercúrio metálico líquido é pouco absorvido pelo TGI e, portanto, tem baixa toxicidade por esta via de exposição. Sais de mercúrio inorgânico: a dose oral aguda letal é de 1 a 4g de cloreto de mercúrio. Mercúrio orgânico: a ingestão de 10 a 60 mg/Kg de metilmercúrio pode ser fatal, a dose diária crônica de 10 mcg/Kg pode estar associada a efeitos adversos neurológicos e reprodutivos. Cerca de 80% do vapor de mercúrio metálico é absorvido pelos pulmões através da inalação. A absorção gastrointestinal do mercúrio metálico é desprezível e considerada não tóxica em uma ingestão acidental de pequeno volume. O metilmercúrio é bem absorvido pelo intestino (90%). O mercúrio é lipofílico e, por isso, atravessa as barreiras hematoencefálica e placentária. Além do cérebro, ele se deposita na tireóide, mamas, coração, músculos, rins, adrenais, fígado e pâncreas, podendo estar associado à disfunção desses órgãos. A maior concentração de íons mercúrio é nos túbulos renais. A meia-vida do mercúrio TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 metálico e do mercúrio inorgânico é de 30 a 60 dias. O mercúrio orgânico é excretado predominantemente pelas fezes e sua meia-vida é de 70 dias. Intoxicação aguda: A inalação aguda de altas concentrações de vapor de mercúrio metálico causa pneumonite química e edema pulmonar. A ingestão aguda de sais de mercúrio inorgânico pode desencadear dor abdominal, gastroenterite hemorrágica e necrose tubular aguda com consequente insuficiência renal. Intoxicação crônica: A exposição crônica a doses clinicamente significativas de vapor de mercúrio geralmente produz uma tríade clássica caracterizada por distúrbios neuropsiquiátricos, tremores e gengivoestomatite. Em casos de exposições leves, sintomas inespecíficos como fraqueza, fadiga, anorexia, perda de peso, estomatite e distúrbios gastrointestinais têm sido descritos. Os estágios iniciais se caracterizam por tremores de extremidades e distúrbios de movimento. As manifestações psiquiátricas envolvem fadiga, anorexia, perda de memória, insônia e transtornos de humor. Pode ocorrer acrodinia, uma reação rara, caracterizada por dor em extremidades acompanhada por coloração rósea e descamação da pele ("doença rosa"), hipertensão, sudorese, irritabilidade e/ou apatia, exantema miliar, insônia e anorexia. Síndrome do chapeleiro maluco, relacionado com a intoxicação por exposição ao vapor de mercúrio! Os compostos de mercúrio orgânico, como o metilmercúrio, afetam primariamente o SNC, provocando ataxia, disartria, parestesia, comprometimento da audição e campos visuais. A exposição perinatal pode levar ao retardo mental e síndrome semelhante à paralisia cerebral no feto. A identificação de mercúrio no sangue, urina ou tecidos é necessária para confirmar o diagnóstico. O mercúrio não tem função na fisiologia humana, e valores tão baixos quanto 1 mcg/L em sangue e 0,5 mcg/L em urina são níveis relacionados com exposição anterior que não apresentam intoxicação aguda. As dosagens urinárias de mercúrio nas exposições ao mercúrio elementar e sais inorgânicos têm seu maior valor na confirmação da exposição e no controle da terapêutica quelante, quando indicada. Uma vez que o metilmercúrio se concentra nas hemácias, é possível correlacionar seus níveis totais no corpo, numa intoxicação aguda. *VR: Sangue total até 1,0 microg/L (<50 nmol/L); Urina de 24 horas < 20,0 mcg/L (<100 nmol/L); < 5 mcg/g creatinina (<25 nmol/g creatinina). O mercúrio metálico atravessa o trato intestinal com absorção mínima, e não há necessidade de ser feita a descontaminação do intestino após ingestões mínimas. O mercúrio inorgânico possui características cáusticas, não induzir vômitos. Deve-se realizar lavagem gástrica + carvão ativado. O mercúrio orgânico é o único em que se deve considerar a descontaminação, se houver ingestão conhecida de grandes quantidades devido ao risco de lesões irreversíveis e refratárias ao tratamento. Realizar lavagem gástrica. Administrar carvão ativado, que possui uma capacidade de adsorção muito elevada ao cloreto de mercúrio. Interromper imediatamente a amamentação, mas continuar a liberar e descartar o leite, pois alguns dados sugerem que esse procedimento possa acelerar a redução dos níveis sanguíneos de mercúrio. Em caso de intoxicação por via inalatória, remover o paciente do local de exposição. Na exposição cutânea, realizar descontaminação com água em abundância. Tratar broncoespasmo com beta-2 adrenérgicos e corticoides se necessário. Os pacientes com intoxicação crônica realizam tratamento sintomático usando drogas TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 antidepressivas, tranquilizantes e analgésicos. Todos os casos são de notificação compulsória! Pacientes sintomáticos após exposição aguda ou crônica são candidatos a terapia com quelante: - BAL (British Anti-Lewisite): 2,5 a 5 mg/kg IM de 4/4 horas nos dois primeiros dias; após, 2,5 mg/Kg a cada 6 horas por mais dois dias e de 12/12 horas até o décimo dia ou até que seja possível a administração de um quelante por VO; - DMSA-succímero: 10 mg/Kg VO três vezes ao dia por 5 dias; após, duas vezes ao dia por 14 dias; - D-penicilamina: Adultos: 250mg VO de 6/6 horas, antes das refeições, por 3 a 10 dias. Crianças: 20 a 40mg/kg/dia (dose máxima diária: 1g/dia), antes das refeições, por 3 a 10 dias. - Dimercaprol; ● MANGANÊS: A intoxicação por manganês geralmente é causada por exposição crônica. Fontes de exposição ao manganês orgânico incluem mineração, trabalho com metais, fundições e soldas. Um aditivo da gasolina de manganês orgânico, o metilciclopentadienil manganês tricarbonil (MMT) também é uma forma de exposição. Por fim, a exposição parenteral ao manganês inorgânico ocorreu pelo abuso de substâncias injetáveis adulteradas pelo permanganato de potássio e pela nutrição parenteral total contendo manganês. O SNC é o órgão-alvo, especialmente regiões nos gânglios basais. A via primária de exposição é a inalação, porém existem evidências de que a absorção para o SNC por meio do sistema olfatório pode desempenhar papel na toxicidade. A injeção IV também leva à liberação efetiva dessa toxina. O manganês inorgânico metálico é fracamente absorvido pelo TGI; a ingestão de permanganato de potássio, entretanto, pode causar toxicidade sistêmica. O MMT pode ser absorvido pela pele. O nível de manganês no ar considerado imediatamente perigoso à vida ou à saúde (IDLH) é de 500 mg/m³. A inalação aguda de altos níveis de manganês pode induzir uma pneumonite do tipo irritante, o que é raro. Normalmente, a toxicidade ocorre após a exposição crônica a baixos níveis durante meses ou anos. O paciente poderá se apresentar com distúrbio psiquiátrico que poderá ser diagnosticado erroneamente como esquizofrenia ou psicose atípica. Sinais orgânicos de toxicidade neurológica, como parkinsonismo e outros distúrbios extrapiramidais do movimento, em geral surgem mais tarde, até anos após qualquer apresentação psiquiátrica primária. A ingestão de permanganato de potássio pode causar toxicidade renal e hepática aguda grave e metemoglobinemia. Para o diagnóstico analisa-seas concentrações séricas de manganês, que são nos casos normais geralmente inferiores a 1,2 g/L, e elevadas quando atingem 2 g/L, confirmando a exposição aguda recente. As dosagens nos cabelos e nas unhas não são úteis. Outras análises laboratoriais úteis incluem gasometria arterial ou oximetria e radiografia torácica (após exposição por inalação sintomática, maciça e aguda, em caso de suspeita de lesão pulmonar aguda). A RM do cérebro poderá evidenciar achados sugestivos da deposição de manganês. Para descontaminação deve ser feita administração de oxigênio suplementar. Tratar broncoespasmo e edema pulmonar não cardiogênico, caso ocorram. Efeitos TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 psiquiátricos e neurológicos são tratados com os fármacos psiquiátricos e antiparkinsonianos usuais, mas geralmente a resposta não é boa. Deve-se remover a vítima da exposição e fornecer oxigênio suplementar quando disponível. Como o manganês metálico inorgânico é pouquíssimo absorvido pelo TGI, a descontaminação do intestino provavelmente não será necessária. Nos casos de ingestões maciças, particularmente de compostos orgânicos (Maneb e MMT) ou de permanganato de potássio, a descontaminação do intestino não foi estudada. ● COBRE: É amplamente utilizado em sua forma metálica elementar, em ligas metálicas e sob a forma de sais de cobre. O cobre metálico elementar é usado em fios elétricos e materiais de chumbo e representava antigamente o principal constituinte das moedas. Os sais de cobre, como o sulfato de cobre, óxido de cobre, cloreto de cobre, nitrato de cobre, cianeto de cobre e acetato de cobre, são usados como pesticidas e algicidas e em vários processos industriais. Devido à sua toxicidade, o sulfato de cobre não mais é usado como emético. Os níveis de cobre poderão estar elevados em indivíduos que bebem a partir de reservatórios de cobre ou usam encanamento de cobre. A acidez elevada de bebidas armazenadas em reservatórios de ligas de cobre (latão ou bronze) aumenta a difusão do cobre para o líquido. O cobre metálico elementar é pouco absorvido VO e não é essencialmente tóxico. Entretanto, a inalação da poeira do cobre ou de fumaças metálicas criadas quando as ligas metálicas são fundidas ou soldadas poderá causar pneumonite química ou uma síndrome semelhante à febre do fumo metálico. O sal de sulfato de cobre é altamente irritante, dependendo de sua concentração, e poderá produzir irritação da membrana mucosa e gastroenterite severa. A absorção sistêmica poderá levar a insuficiência hepática e do túbulo renal. A hemólise tem sido associada à exposição ao cobre a partir de equipamento de hemodiálise ou à absorção pela pele queimada. O cobre é um metal-traço essencial. A necessidade diária de um adulto de 2 mg é suprida por uma dieta normal. O limite recomendado no local de trabalho para os vapores de cobre é de 0,2 mg/m³; para poeiras e névoas, é de 1 mg/m³. O nível do ar considerado imediatamente perigoso à vida ou à saúde (IDLH) para poeiras ou vapores é de 100 mg/m³. Uma ingestão > 250 mg de sulfato de cobre poderá produzir vômito, e ingestões superiores produzirão potencialmente insuficiência renal e hepática. Estabelece-se como limite de segurança de 1,3 mg/L para a água potável. O valor sugerido pela OMS para a água potável é de 2 mg/L. A inalação de vapores ou de poeira de cobre produz inicialmente gosto metálico e irritação do trato respiratório superior (tosse seca, garganta inflamada e irritação nos olhos). Exposições maiores poderão causar tosse intensa, dispneia, febre, leucocitose e infiltrados pulmonares. A ingestão de sulfato de cobre ou de outros sais induz o aparecimento rápido de náuseas e vômito, de cor azul-esverdeada característica. Poderá ocorrer hemorragia TGI. A perda de fluido e sangue por gastrenterite poderá levar a hipotensão e oligúria. A hemólise intravascular poderá levar à necrose tubular aguda. Poderão ocorrer insuficiência multissistêmica, choque e morte. A exposição crônica à mistura de Bordeaux (sulfato de cobre com cal hidratada) poderá ocorrer em trabalhadores de vinhedos. A ingestão suicida de um fungicida de organocobre contendo primariamente cobre-8-hidroxiquinolato causou letargia, dispneia e TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 cianose, com 34% de metemoglobinemia. O ato de nadar em água contaminada com algicidas contendo cobre poderá tingir os cabelos de verde. As ocupações de risco incluem aquelas associadas aos manipuladores de algicidas, herbicidas, conservantes de madeira, pirotecnia, vernizes cerâmicos e fios elétricos, assim como os que realizam fusões e soldas de ligas de cobre. Em caso de suspeita de ingestão de sal de cobre, avaliar o nível sérico de cobre. Concentrações séricas normais de cobre são em média de 1 mg/L, duplicadas durante a gravidez. Níveis séricos de cobre superiores a 5 mg/L são considerados muito tóxicos. Fornecer oxigênio suplementar quando indicado por gasometria arterial ou oximetria e tratar o broncospasmo e a pneumonite química caso ocorram. Considerar endoscopia para descartar lesão corrosiva do esôfago ou estômago, dependendo da concentração da solução e dos sintomas do paciente. A transfusão sanguínea poderá ser necessária caso ocorra hemólise significativa ou hemorragia GI. Em caso de contaminação dos olhos deve-se irrigar copiosamente e tentar remover todo o cobre da superfície. Realizar a lavagem gástrica em caso de ingestão recente de uma grande quantidade de sais de cobre. Não existem benefícios comprovados para o uso do carvão ativado. Como antídotos têm-se: 1. BAL (dimercaprol) e penicilamina são agentes quelantes eficazes e deverão ser usados em pacientes gravemente doentes após ingestões amplas. 2. O trietil tetramina di-hidrocloreto (Trien ou Cuprid) é um quelante de cobre específico aprovado para uso na doença de Wilson (doença hereditária que cursa com acúmulo excessivo de cobre nos órgãos). 3. O unitiol (DMPS, ácido dimercaptopropanossulfônico) vem sendo usado, porém sua eficiência não está clara. ● CÁDMIO: O cádmio (Cd) é encontrado em minérios de sulfito, junto com o zinco e o chumbo. A exposição é comum durante a mineração e a fundição de zinco, cobre e chumbo. A forma metálica do Cd é usada na galvanoplastia devido às suas propriedades anticorrosivas, os sais metálicos são usados como pigmentos e estabilizadores de plásticos, e as ligas de Cd são usadas em soldagem e nas baterias de níquel-cádmio. As soldas de Cd nas pipas d’água e os pigmentos de Cd em olarias podem ser fontes de contaminação de água e alimentos ácidos. O Cd inalado é pelo menos 60 vezes mais tóxico do que sua forma ingerida. Fumaças e poeiras podem causar pneumonite química tardia e levar a edema pulmonar e hemorragia. O Cd ingerido é um irritante do TGI. Uma vez absorvido, o Cd liga-se à metalotioneína e é filtrado pelos rins, onde poderá ocorrer lesão do túbulo renal. O Cd é um conhecido carcinógeno humano. A exposição a 5 mg/m³ inalados durante 8 horas pode ser letal. O nível considerado imediatamente perigoso à vida ou à saúde (IDLH) para as poeiras ou fumaças de Cd é de 9 mg/m³. Os sais de Cd em soluções de concentrações > a 15 mg/L podem induzir vômito. A dose oral letal é > 150 mg. Estabeleceu-se um limite de segurança de 0,005 mg/L na água potável. O contato direto pode causar irritação ocular ou cutânea local. A inalação aguda pode causar tosse, dispneia, dor de cabeça, febre e, quando severa, pneumonite química e edema pulmonar não cardiogênico em 12 a 36 horas após a exposição. A inalação crônica pode levar a bronquite, enfisema e fibrose. A inalação crônica em altos níveis está TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 associada ao câncer de pulmão. A ingestão aguda de sais de Cd causa náuseas, vômito, cólicas abdominais e diarréia, algumas vezes sanguinolenta, em minutos após a exposição. Os óbitos após a ingestão oral resultam de choque ou insuficiência renal aguda. A ingestão crônica tem sido associada à lesão renal e aos efeitos sistêmicos esqueléticos.Lembrar da doença de Itai-itai (ai-ai)! O diagnóstico é obtido com base na história de exposição e na presença de queixas respiratórias (após inalação) ou de gastrenterite (após ingestão aguda). Os níveis de Cd no sangue total podem confirmar a exposição recente; níveis normais, em não fumantes não expostos, são < a 1 g/L. Muito pouco Cd é excretado pela urina até que sua ligação ao rim seja ultrapassada ou que ocorra comprometimento renal. Os valores urinários de Cd são normalmente inferiores a 1 microg/g de creatinina. Observar por pelo menos 6 a 8 horas e tratar a respiração ofegante e o edema pulmonar caso ocorram. Após exposição significativa, poderá ser necessário observar por 1 a 2 dias a possível ocorrência de edema pulmonar não cardiogênico de aparecimento tardio. Tratar a perda de fluido causada pela gastrenterite com fluidos cristaloides Deve-se remover a vítima da exposição e fornecer oxigênio suplementar quando disponível. Realizar lavagem gástrica após ingestão significativa. A eficácia do carvão ativado é desconhecida. Remover a roupa contaminada e lavar a pele exposta com água. Irrigar os olhos expostos com quantidades copiosas de água morna ou soro fisiológico. ● BÁRIO: A intoxicação por bário são raras e geralmente resultam de contaminação acidental de fontes alimentares, ingestão suicida ou exposição ocupacional por inalação. Intoxicação maciça acidental ocorreu devido à adição de carbonato de bário à farinha e à contaminação do sal de mesa. O bário é um metal alcalino terroso denso que existe na natureza como um cátion bivalente em combinação com outros elementos. Os sais de bário hidrossolúveis (acetato, carbonato, cloreto, fluoreto, hidróxido, nitrato e sulfeto) são altamente tóxicos. São encontrados em cremes depilatórios, fogos de artifício, vernizes cerâmicos e raticidas e também são usados na fabricação de vidro e em corantes têxteis. Enquanto o sal insolúvel, sulfato de bário, não é tóxico por ser fracamente absorvido. O bário também pode se difundir no ar durante os processos de mineração e refinamento, a queima de carvão e de gás e a produção de compostos de bário. As indústrias de óleo e gás usam compostos de bário para produzir graxa lubrificante, que lubrificam as máquinas que perfuram rochas. A intoxicação sistêmica por bário é caracterizada por hipopotassemia profunda, levando às paradas respiratória e cardíaca. O bário é um bloqueador competitivo dos canais de potássio, interferindo na saída de potássio intracelular para fora da célula (A célula não consegue ser repolarizada, fica em despolarização constante!). Os íons de bário também podem ser responsáveis por um efeito direto sobre o músculo esquelético ou sobre a transmissão neuromuscular. No TGI, o bário estimula a secreção de ácido e de histamina e o peristaltismo. A inalação de sais de bário inorgânicos insolúveis pode causar baritose, uma pneumoconiose benigna. Após a ingestão, sais de bário solúveis são rapidamente absorvidos pela mucosa digestiva. Uma fase de redistribuição rápida é seguida por uma lenta queda nos níveis de bário, com uma meia-vida entre 18 horas a 3,6 dias. O meio de eliminação predominante é pelas fezes, com a eliminação representando entre 10 a 28%. O bário é TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 irreversivelmente armazenado nos ossos. A dose tóxica oral mínima dos sais de bário solúveis é indeterminada, porém pode ser tão baixa quanto 200 mg. A intoxicação aguda manifesta-se de 10 a 60 minutos com uma variedade de sintomas incluindo vômito, desconforto epigástrico, diarreia aquosa severa, salivação e fraqueza. Esses sintomas são logo seguidos por hipopotassemia profunda e fraqueza do músculo esquelético, que progride para paralisia flácida dos membros e músculos respiratórios e arreflexia. O diagnóstico é obtido com base em uma história de exposição, acompanhada por hipopotassemia rapidamente progressiva e fraqueza muscular. Níveis superiores a 0,2 mg/L são considerados anormais. Administrar KCl para tratar hipopotassemia sintomática ou grave. Grandes doses de potássio poderão ser necessárias (doses de até 420 mEq por 24 horas). Usar fosfato de potássio em caso de o paciente apresentar hipofosfatemia. O carvão ativado não se liga ao bário e não é recomendado, a menos que se tenha suspeita ou certeza da ingestão de outros agentes. Sulfato de magnésio ou sulfato de sódio (adultos, 30 g; crianças, 250 mg/kg) poderão ser administrados VO para precipitar o bário ingerido como sal de sulfato insolúvel. ● ARSÊNIO: Os compostos arseniacais são encontrados em um grupo seleto de produtos industriais, comerciais e farmacêuticos. O uso de arsênio como conservante da madeira em aplicações industriais (deques marítimos e esteios utilitários) representam 2/3 do consumo doméstico. Compostos de fenilarsênio são usados como aditivos de alimentação para aves e suínos, e o dejeto de aves, usado como melhoramento do solo, pode conter baixos níveis de arsênio solúvel. O trióxido de arsênio administrado por via IV foi reintroduzido na farmacopeia norte-americana em 2000 e é usado como fármaco para a quimioterapia do câncer. O arsênio inorgânico é usado na produção de ligas não ferrosas, semicondutores e certos tipos de vidro. O arsênio inorgânico pode ser algumas vezes encontrado em remédios e tônicos populares, sobretudo os de origem asiática. A água de poços artesianos pode estar contaminada por arsênio inorgânico a partir de depósitos geológicos naturais, e níveis elevados de arsênio podem ser encontrados em resíduos e sedimentos de minas e cinzas de carvão. Os compostos arseniacais podem ser orgânicos ou inorgânicos e poderão conter o elemento na sua forma pentavalente (arsenato) ou trivalente (arsenito). Uma vez absorvidos, os arsênios exercem seus efeitos tóxicos por meio de múltiplos mecanismos, incluindo a inibição de reações enzimáticas vitais para o metabolismo celular, a indução de estresse oxidativo e a alteração da expressão gênica e da transdução de sinal celular. A poeira de arseniacais inorgânicos (trióxido de arsênio) pode exercer efeitos irritantes sobre a pele e as membranas mucosas. Dermatite de contato também tem sido observada. Embora a pele seja uma via de absorção minoritária para a maioria dos compostos arseniacais, a toxicidade sistêmica resultou de acidentes industriais envolvendo exposição percutânea a formulações líquidas altamente concentradas. Arsenato e arsenito são carcinógenos humanos conhecidos, tanto por ingestão quanto por inalação. A toxicidade dos compostos arseniacais varia consideravelmente de acordo com o estado da valência, a composição química e a solubilidade. Em geral, o arsênio trivalente (As3) é 2 a 10 vezes mais tóxico em termos agudos do que o arsênio pentavalente (As5). A ingestão aguda de apenas 100 a 300 mg de um composto arseniacal trivalente solúvel (arsenito de sódio) pode ser fatal. TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 A ingestão repetida de cerca de 0,04 mg/kg/dia pode levar ao desconforto GI e a efeitos hematológicos após semanas a meses e à neuropatia periférica após 6 meses a alguns anos. Exposições crônicas mais curtas, de aproximadamente 0,01 mg/kg/dia, podem levar às alterações cutâneas características após intervalos de 5 a 15 anos. O Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos (2001) estimou que a ingestão crônica de água contendo arsênio a uma concentração de 10 g/L pode estar associada a um altíssimo risco de câncer durante a vida. Em geral, compostos organoarseniacais pentavalentes são menos tóxicos do que os compostos organoarseniacais trivalentes ou do que os compostos arseniacais inorgânicos. Os arsenoaçúcares (derivados do dimetilarsinoil ribosídeo) estão presentes em alguns animais marinhos e de água doce (moluscos bivalves) e em algas marinhas. A exposição aguda ocorre mais comumente após intoxicação por ingestão acidental, suicida ou deliberada. Uma única dose maciça produz um conjunto de sinais e sintomas multissistêmicos que surgem ao longo de horas a semanas. 1. EfeitosTGI: Após um período de minutos a horas, a lesão capilar difusa leva à gastrenterite hemorrágica. Náuseas, vômito, dor abdominal e diarreia líquida são comuns. Embora os sintomas GI proeminentes possam desaparecer em 24 a 48 horas, efeitos multissistêmicos graves ainda poderão surgir. Odor característico de alho! 2. Efeitos cardiovasculares: Em casos graves, o grande aumento de fluidos no terceiro espaço combinado com a perda de fluido por gastrenterite podem levar a hipotensão, taquicardia, choque e morte. Acidose metabólica e rabdomiólise podem estar presentes. Após um período de 1 a 6 dias, poderá ocorrer uma segunda fase de cardiomiopatia congestiva, edema pulmonar cardiogênico ou não cardiogênico e arritmias cardíacas isoladas ou recorrentes. 3. Efeitos neurológicos: O estado mental poderá estar normal ou poderá ocorrer letargia, agitação ou delirium. O delirium ou a obtundação podem durar de 2 a 6 dias. Choques generalizados poderão ocorrer, porém são raros. A neuropatia periférica axonal sensório-motora simétrica poderá evoluir de 1 a 5 semanas após a ingestão aguda, tendo início com disestesias distais dolorosas, particularmente nos pés. 4. Efeitos hematológicos: Pancitopenia, sobretudo leucopenia e anemia, desenvolvem-se caracteristicamente em 1 a 2 semanas após a ingestão aguda. Uma eosinofilia relativa poderá estar presente e poderão ser observados pontilhamentos basofílicos das hemácias. 5. Efeitos dermatológicos: Achados que surgem ocasionalmente após um período de 1 a 6 semanas incluem descamação (particularmente envolvendo palmas e solas), exantema maculopapular difuso, edema periorbital e herpes-zóster ou herpes simples. Estrias brancas transversais nas unhas (linhas de Aldrich-Mees) podem aparecer meses após uma intoxicação aguda. A intoxicação crônica também está associada aos efeitos multissistêmicos, que poderão incluir fadiga e mal-estar, gastrenterite, leucopenia e anemia (ocasionalmente megaloblástica), neuropatia periférica sensorial predominante, elevação das transaminases hepáticas, hipertensão portal não cirrótica e insuficiência vascular periférica. Distúrbios e cânceres cutâneos poderão ocorrer. 1. Lesões cutâneas: Aparecem gradualmente em um período de 1 a 10 anos, iniciam com um padrão característico de pigmentações pontuais (“pingo de chuva”) no colo e em extremidades, seguidas após vários anos pelo desenvolvimento de alterações TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 hiperceratóticas de palmas e solas. Lesões cutâneas podem ocorrer após doses inferiores àquelas causadoras de neuropatia ou anemia. 2. Câncer: O câncer de pele relacionado ao arsênio, que inclui carcinoma de célula escamosa, doença de Bowen e carcinoma da célula basal, é caracteristicamente multicêntrico e ocorre em áreas não expostas ao sol. A inalação crônica eleva o risco de câncer de pulmão. A ingestão crônica representa uma causa estabelecida de cânceres de pulmão, bexiga e pele. Deve-se suspeitar de intoxicação aguda por arsênio em um paciente com aparecimento súbito de dor abdominal, náuseas, vômito, diarreia líquida e hipotensão, particularmente quando seguidos por um padrão crescente de disfunção cardíaca retardada, pancitopenia e neuropatia periférica. Acidose metabólica e CK elevada podem ocorrer no início do curso de casos graves. Alguns compostos arseniacais, particularmente aqueles de menor solubilidade, são radiopacos e podem ser visíveis em uma radiografia abdominal plana. A análise da amostra pontual da urina é normalmente suficiente para os propósitos diagnósticos. Os níveis sanguíneos são bastante variáveis e raramente contribuem para o diagnóstico da intoxicação por arsênio e para o tratamento de pacientes capazes de produzir urina. Embora o arsênio do sangue total, normalmente inferior a 5 g/L, possa estar elevado no início da intoxicação aguda, poderá voltar rapidamente ao nível normal, apesar da persistência da excreção urinária elevada e da continuação dos sintomas. Concentrações elevadas de arsênio nas unhas ou nos cabelos (normalmente 1 ppm) poderão ser detectadas em certas amostras segmentares durante meses após a normalização dos níveis da urina, mas deverão ser interpretadas com cuidado devido à possibilidade de contaminação externa. Deve-se tratar hipotensão e perda de fluido com o uso agressivo de soluções cristaloides IV, junto com agentes vasopressores quando necessários, para manter a pressão sanguínea e otimizar a saída da urina. Dar apoio e observação domiciliar prolongados são indicados para pacientes com intoxicação aguda significativa, pois as complicações cardiopulmonares e neurológicas podem ser retardadas por vários dias. Recomenda-se o monitoramento cardíaco contínuo além de 48 horas em pacientes com sintomas persistentes ou evidências de distúrbio cardiovascular relacionado à toxina, incluindo anormalidades no ECG ou qualquer grau de insuficiência cardíaca congestiva. Alguns quelantes podem ser úteis se administrados em algumas horas ou minutos: 1. O unitiol* (DMPS, Dimaval), um análogo hidrossolúvel do dimercaprol (BAL) que pode ser administrado por via IV, possui o perfil farmacológico mais favorável para o tratamento da intoxicação aguda por arsênio. 2. O dimercaprol (BAL) é o agente quelante de segunda escolha. A dose inicial é de 3 a 5 mg/kg por injeção IM profunda, a cada 4 a 6 horas. Queimaduras na pele e nos olhos por lewisita podem ser tratadas com injeções tópicas de dimercaprol. 3. Se o paciente estiver hemodinamicamente estável e os sintomas do TGI tenham desaparecido, a quelação parenteral pode ser substituída pela quelação oral com unitiol oral ou succímer* oral. TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ● NÍQUEL: É um metal de transição de coloração branco-prateada, condutor de eletricidade e calor, dúctil e maleável. É encontrado em diversos minerais, formando liga metálica com o ferro. Aproximadamente 65% do níquel consumido é empregado na fabricação de aço inoxidável e outros 12% em superligas de níquel. O restante é repartido na produção de outras ligas metálicas, baterias recarregáveis, reações de catálise, cunhagens de moedas, revestimentos metálicos e fundição. O níquel também tem papel biológico. As enzimas hidrogenases contém níquel, especialmente aquelas cuja função é oxidar o hidrogênio. O níquel também está presente na enzima metil CoM redutase e em bactérias metanogênicas. Os sais de níquel exercem sua ação tóxica principalmente por irritação gastrointestinal. Intoxicações, mesmo leves, por níquel podem causar sintomas como apatia, diarréia, febre, insônia e náuseas. Recomenda-se colher a urina ao final da jornada de trabalho 2- CONHECER AS FORMAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE INTOXICAÇÕES POR METAIS PESADOS; Em geral, os metais pesados podem contaminar solos e plantas, através de aplicações de fertilizantes inorgânicos, lodo de esgoto utilizado na adubação dos solos, irrigações com águas contaminadas ou via poluição do ar através de atividades mineradoras ou industriais. Outra fonte de contaminação dos solos e água bastante conhecida no Brasil é a atividade de garimpo, onde o mercúrio é utilizado como amalgamador do ouro. O Programa de Prevenção e Controle de Intoxicações (PMPCI) é sediado na Coordenadoria de Vigilância em Saúde (COVISA), administrado pela Secretaria Municipal de Saúde. Tem como objetivos: - Programar e planejar as ações e serviços, atividades de promoção, apoio à assistência, vigilância, seguimento e controle de populações expostas a substâncias químicas; - Fornecer atendimento especializado aos profissionais de saúde para apoio diagnóstico e tratamento; - Orientar a população sobre prevenção e primeiros socorros em casos de exposição a substâncias químicas; - Realizar análises toxicológicas para apoio diagnóstico à rede de saúde do MSP; - Monitorar as notificações diagnosticando a situação epidemiológica nos territórios como instrumento no planejamento de políticas públicas de saúde; - Capacitar os serviços de saúde para ampliar e consolidar os conhecimentos detoxicologia e da vigilância em saúde relacionada às substâncias químicas. O PMPCI é estruturalmente organizado em 4 áreas: 1. Assistência: O Centro de Controle de Intoxicações (CCI) fornece informação toxicológica a respeito do diagnóstico, tratamento e prognóstico de intoxicações, assim como sobre a toxicidade de produtos químicos e a prevenção dos agravos à saúde causados por substâncias químicas. 2. Laboratório de Análises Toxicológicas: Recebe amostras de serviços de saúde da rede pública e privada, durante 24 horas por dia, nos 7 dias da semana. TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 3. Vigilância das Intoxicações: tem objetivo conhecer o comportamento do agravo para que as medidas de intervenção pertinentes possam ser desencadeadas com oportunidade e eficácia. Suas principais atividades são: - coleta, processamento, análise e interpretação de dados; - recomendação das medidas de prevenção e controle apropriadas; - promoção das ações de prevenção e controle indicadas; - avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; - divulgação de informações pertinentes. 4. Educação continuada e pesquisa: O núcleo de ensino e pesquisa tem como objetivo difundir e aprimorar os conhecimentos na área de Toxicologia. As principais atividades realizadas são: - Sensibilizar e capacitar os profissionais de vigilância e assistência para o diagnóstico, tratamento e notificação do agravo, com reuniões, palestras e cursos realizados nos territórios das Coordenadorias Regionais de Saúde - CRS; - Produzir material gráfico e/ou eletrônico para apoio ao diagnóstico, tratamento e prevenção das Intoxicações; - Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, desenvolver atividades de prevenção das intoxicações no meio escolar; - Colaborar em cursos de graduação, pós-graduação, extensão, especialização, estágios e treinamentos com foco em toxicologia; - Elaborar, conduzir e avaliar os projetos de pesquisa e trabalhos desenvolvidos no PMPCI; - Promover reuniões científicas com o objetivo de atualização e aprimoramento dos conhecimentos da equipe de assistência e vigilância do PMPCI. 3- ENTENDER A LEGISLAÇÃO E OS ÓRGÃOS QUE REGULAMENTAM ESSES METAIS PESADOS; RESOLUÇÃO - RDC Nº 42, DE 29 DE AGOSTO DE 2013. - 1.3 Os níveis de contaminantes inorgânicos nos alimentos deverão ser os mais baixos possíveis, devendo prevenir-se a contaminação do alimento na fonte, aplicar a tecnologia mais apropriada na produção, manipulação, armazenamento, processamento e envase, de forma a evitar que um alimento contaminado seja comercializado ou consumido. - 1.9 Os produtos alimentícios que não atendam aos conteúdos máximos estabelecidos nas tabelas anexas não deverão ser utilizados como ingredientes alimentícios. - 2.1 O conteúdo máximo é aplicado depois de lavar as frutas ou as hortaliças e separar a parte comestível correspondente. No caso de batatas, o conteúdo máximo se aplica às batatas descascadas. A presença de metais pesados nos tecidos e produtos de origem animal pode resultar tanto da ocorrência natural desses elementos no solo, quanto dos processos de contaminação industrial. Visando um controle do nível de contaminantes metálicos nos produtos industrializados, a Inspeção Federal nos estabelecimentos de conservas, colhem TUTORIA 4 - UC 12 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 e remetem amostras aos laboratórios oficiais, para o monitoramento destes resíduos. Estas substâncias possuem um grau de toxicidade bastante diversificado. As análises têm como propósito obter informações sobre os níveis médios regionais, dados estes que nos permitirão localizar áreas de poluição ambiental. Na família destes elementos, temos compostos bastante ativos, como os arsenicais orgânicos, muito usados em avicultura (ração medicada) e na suinocultura (controle de enterites bacterianas), apesar da tendência de serem plenamente substituídos por outros compostos reconhecidamente mais eficientes. O programa de controle de resíduos em carne (PCRC) tem como função regulamentar básica, o controle e a vigilância. Suas ações estão direcionadas para se conhecer e evitar a violação dos níveis de segurança ou LMR's de substâncias autorizadas, bem como, a ocorrência de quaisquer níveis de resíduos de compostos químicos de uso proibido no País. Para isto são colhidas amostras de animais abatidos e vivos, de modo a cobrir as espécies de açougues abatidas sob Inspeção Federal. No pescado o mercúrio e seus compostos foram considerados de maior interesse. Pesquisas revelam que os peixes provavelmente contribuem com os maiores teores de mercúrio para a dieta humana, variando as concentrações entre espécies, e mesmo entre indivíduos da mesma população. O programa de controle de resíduos em pescado (PCRP) objetiva garantir a integridade e segurança do pescado e dos produtos da pesca no território nacional, em relação à contaminação por resíduos de substâncias nocivas destes alimentos, oriundos da aplicação de agroquímicos, drogas veterinárias e contaminantes ambientais. Para isto serão colhidas amostras de pescado, de modo a envolver as espécies destinadas ao consumo humano, manipuladas nos Estabelecimentos sob Inspeção Federal (SIF). Visando um controle do nível de contaminantes metálicos nos produtos de pescado enlatados, os Encarregados da Inspeção Federal nos Estabelecimentos de Conservas remeterão amostras desses produtos aos laboratórios oficiais ou credenciados, para pesquisa de resíduos de metais pesados.
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